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ÉTICA, PROCESSOS DECISÓRIOS E NEGOCIAÇÃO APLICADOS A GESTÃO PÚBLICA Professora Esp. Beatriz Elena Barud Silva Professora Rosimery Medeiros de Mello GRADUAÇÃO Unicesumar C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; SILVA, Beatriz Elena Barud; MELLO, Rosimery Medeiros. Ética, Processos Decisórios e Negociação Aplicados a Gestão Pública. Beatriz Elena Barud Silva; Rosimery Medeiros de Mello. Maringá-Pr.: UniCesumar, 2019. 136 p. “Graduação - EaD”. 1. Ética. 2. Negociação. 3. Gestão pública. 4. EaD. I. Título. ISBN 978-85-459-1664-2 CDD - 22 ed. 174 CIP - NBR 12899 - AACR/2 Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828 Impresso por: Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi NEAD - Núcleo de Educação a Distância Diretoria Executiva Chrystiano Minco� James Prestes Tiago Stachon Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia Coelho Diretoria de Permanência Leonardo Spaine Diretoria de Design Educacional Débora Leite Head de Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho Head de Curadoria e Inovação Jorge Luiz Vargas Prudencio de Barros Pires Gerência de Produção de Conteúdo Diogo Ribeiro Garcia Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey Gerência de Processos Acadêmicos Taessa Penha Shiraishi Vieira Gerência de Curadoria Giovana Costa Alfredo Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila Toledo Supervisão Operacional de Ensino Luiz Arthur Sanglard Coordenador de Conteúdo Marcia de Souza Designer Educacional Amanda Peçanha Dos Santos Projeto Gráfico Jaime de Marchi Junior José Jhonny Coelho Arte Capa Arthur Cantareli Silva Ilustração Capa Bruno Pardinho Editoração Victor Augusto Thomazini Qualidade Textual Felipe Veiga da Fonseca Ilustração Marta Sayuri Kakitani Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos com princípios éticos e profissionalismo, não so- mente para oferecer uma educação de qualidade, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão in- tegral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emocional e espiritual. Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares por ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos educacionais do Brasil. A rapidez do mundo moderno exige dos educa- dores soluções inteligentes para as necessidades de todos. Para continuar relevante, a instituição de educação precisa ter pelo menos três virtudes: inovação, coragem e compromisso com a quali- dade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia, metodologias ativas, as quais visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância. Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária. Vamos juntos! Pró-Reitor de Ensino de EAD Diretoria de Graduação e Pós-graduação Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequentemente, transformamos também a sociedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportu- nidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à proposta pedagógica, con- tribuindo no processo educacional, complementando sua formação profissional, desenvolvendo competên- cias e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessá- rios para a sua formação pessoal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de cresci- mento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das dis- cussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranqui- lidade e segurança sua trajetória acadêmica. CU RR ÍC U LO Professora Esp. Beatriz Elena Barud Silva Pós Graduada (lato-sensu) em Filosofia e Direitos Humanos pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (2017). Possui graduação em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (2015). Mestranda em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Maringá (Início em 2017). Para informações mais detalhadas sobre sua atuação profissional, pesquisas e publicações, acesse seu currículo disponível no seguinte endereço <http:// lattes.cnpq.br/1753821129989616>. Professora Rosimery Medeiros de Mello Graduada em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Maringá (2016). Mestranda no Programa de pós graduação em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Maringá (2017). Desenvolve pesquisa na área de antropologia, com ênfase nos temas: natureza e cultura, ciência e tecnologia, Áreas de Proteção Ambiental, reservas ambientais, populações e saberes tradicionais. Além disso é integrante do Laboratório de Pesquisa em Antropologia (LAPA) e do Laboratório de Estudos Evolutivos Humanos (LEEH). Para informações mais detalhadas sobre sua atuação profissional, pesquisas e publicações, acesse seu currículo disponível no seguinte endereço <http:// lattes.cnpq.br/7239746351391105>. SEJA BEM-VINDO(A)! Caro (a) aluno (a), o presente livro é destinado à você e sua missão é auxiliar na apren- dizagem da disciplina de Ética, processos decisórios e negociação aplicados à gestão pública. O material está dividido em cinco unidades que trazem conteúdos essenciais para o dia a dia do gestor público, além de atividades e reflexões que ajudam a fixar o conteúdo estudado. Na Unidade I, definiremos as dimensões da Ética que subsidiam as decisões no setor público. Está análise nos fará ter uma visão sobre as dimensões dos diversos atores do setor público e nos proporcionará conhecimentos sobre responsabilidade ética. Ações éticas no setor público são fundamentais para uma atuação responsável em prol de me- lhorias na sociedade. Para que você aprenda melhor sobre o universo que compreende a sua atuação como gestor (a), na Unidade II você aprenderá a Estrutura do Estado a partir da perspectiva dos diferentes contextos políticos, que são: regime liberal; regime absolutistae regime socialista até que você chegue a compreensão da democracia e do Estado democrático. Após aprender sobre os contextos políticos, você encontrará leituras sobre os diferentes conceitos de política que serão importantes para ajudar na aprendizagem sobre Admi- nistração Pública, negociação e disputa de poder, conceitos chave para você gestor (a). Com toda essa bagagem, ao fim dessa unidade você terá compreendido o que caracte- riza cada contexto político; quais são os conceitos de política e como isso repercute nas negociações no âmbito da Administração Pública. Na Unidade III, abordaremos a formação do Estado brasileiro, demonstrando que é nes- se campo que ocorrem as tomadas de decisões e disputas. Analisaremos o papel dos sistemas políticos sobre os rumos da sociedade, no estabelecimento de leis e normas. Demonstraremos a construção histórica do Estado brasileiro e da Constituição de 1988. Você gestor (a) irá atuar em qualquer tipo de organização pública, sabendo disso, na Unidade IV você aprenderá especificamente sobre Administração Pública e o Estado brasileiro, seu futuro campo de atuação. No final desta unidade você saberá manejar as ferramentas da gestão pública nos espaços de disputa política, ou seja, saberá analisar o fluxo das políticas públicas e tomará as decisões mais acertadas. Finalmente na Unidade V, trataremos sobre a resolução dos problemas públicos. Apre- sentando as dimensões da administração pública e do Estado brasileiro na busca por soluções. Sendo uma das opções adotadas a governança em rede. Além de te apoiar no estudo, o livro se preocupa em formar um(a) gestor(a) público(a) capacitado a atuar nas três esferas federativas: nacional; estadual e municipal com res- ponsabilidade e eficácia. Os conceitos aqui trabalhados são essenciais para o dia a dia e, ao final do livro você será o(a) gestor(a) que as organizações públicas precisam. APRESENTAÇÃO ÉTICA, PROCESSOS DECISÓRIOS E NEGOCIAÇÃO APLICADOS A GESTÃO PÚBLICA SUMÁRIO 09 UNIDADE I ÉTICA E RACIONALIDADE DO SETOR PÚBLICO 15 Introdução 16 Ética - Origens e Conceitos 18 Estado e Administração Pública 24 Diferença Entre os Setores Privado e Público - Racionalidades 27 Responsabilidade Ética da Administração Pública 30 Considerações Finais 37 Referências 38 Gabarito UNIDADE II ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E CONCEITOS INTRODUTÓRIOS 41 Introdução 42 Estrutura de Estado 44 Estado Democrático de Direito e o Sistema de Controle 46 Os Diferentes Conceitos de Política 49 A Estrutura Federalista no Estado Democrático de Direito 52 Administração Pública, Negociação e Disputa de Poder 55 Considerações Finais 62 Referências 63 Gabarito SUMÁRIO 10 UNIDADE III ESTRUTURA INSTITUCIONAL DO ESTADO BRASILEIRO COMO CAMPO DE NEGOCIAÇÃO E DISPUTA 67 Introdução 68 Formação Histórica e Cultural do Estado Brasileiro 72 Instituições Públicas Brasileiras 75 O Sistema Eleitoral e Partidário Brasileiro 77 Considerações Finais 83 Referências 84 Gabarito UNIDADE IV A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E O GOVERNO BRASILEIRO 87 Introdução 88 Reformas Administrativas do Estado Brasileiro 93 Ferramentas de Gestão Pública no Estado Brasileiro 98 O Policy Process do Estado Brasileiro 102 O Processo de Policy Learning e o Processo de Tomada de Decisão Para a Gestão Pública 104 Considerações Finais 110 Referências 111 Gabarito SUMÁRIO 11 UNIDADE V RESOLVENDO PROBLEMAS PÚBLICOS 115 Introdução 116 A Administração Pública Societal 119 O Estado Brasileiro na Busca por Solução de Problemas 122 Governança Democrática em Rede 124 Considerações Finais 131 Referências 132 Gabarito 133 CONCLUSÃO 134 ANOTAÇÕES U N ID A D E I Professora Rosimery Medeiros de Mello ÉTICA E RACIONALIDADE DO SETOR PÚBLICO Objetivos de Aprendizagem ■ Apresentar e discutir os conceitos de ética que subsidiarão as decisões do setor público. ■ Apresentar conceitos teóricos de Estado, de Administração e de Administração pública. ■ Descrever as principais diferenças entre os setores público e privado, bem como as racionalidades de mercado e de Estado. ■ Apresentar os diferentes atores do setor público (políticos, burocratas e sociedade), seus espaços de discricionariedades e responsabilidades. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ Ética – origens e conceitos ■ Estado e administração pública ■ Diferença entre os setores privado e o público – racionalidades ■ Responsabilidade ética da administração pública INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a), seja bem-vindo! Iniciaremos nossa primeira unidade dessa disciplina. Foi com grande motivação e satisfação que escrevemos para você! Nesta primeira unidade, temos o grande desafio de elaborar e reelaborar nossos conhecimentos referente à ética no setor público. Imagino que, para alguns, esse conceito seja algo bem conhecido. Porém, falar em ética no Estado e na admi- nistração pública é um grande desafio. Nesta unidade, veremos que a ética possui uma dimensão ampla e que desde os tempos dos gregos existiam esforços e preocupações para com a ética. Desde esse período a ética foi pensada como elemento fundamental para as tomadas de decisões no âmbito público. No entanto, para aqui compreendermos a ética aplicada a gestão pública, vamos contextualizar os conceitos de ética e como isso subsidia as decisões do setor público. A fim de compreender o Estado e a administração pública, na qual o gestor público atuará. Evidenciaremos as diferenças entre os setores privados e públicos que são pautados em tipos distintos de racionalidade de mercado e de Estado. Isso permitirá que os gestores públicos construam um conhecimento para iden- tificar os interesses de ambos os setores. A presente reflexão combina com a recente profissionalização do profissio- nal de gestão pública que cada vez mais atua em diversos setores na sociedade contemporânea. Estamos construindo um conhecimento que instrumentalize os gestores na administração pública, partindo da responsabilidade ética para a atuação nos processos de decisão e de negociação. Na qual, diferentes atores compõem esse cenário e as disputas e convergências estarão presentes no coti- diano desse profissional. Convidamos vocês alunos para esse desafio de aprendizagem, esperamos contribuir para esse momento de crescimento intelectual e de desenvolvimento da sua atuação na gestão pública. Desejo a vocês bons estudos e boas descobertas! Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 15 ÉTICA E RACIONALIDADE DO SETOR PÚBLICO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E16 ÉTICA - ORIGENS E CONCEITOS O conceito de ética começou a ser pensado e refletido há muito tempo na histó- ria da humanidade. Desde o período dos gregos, existe uma preocupação com as dimensões da ética e os suas influências sobre os indivíduos. A principal pre- ocupação estava relacionada com a ética no exercício das atividades públicas, observando sua importância nos comportamentos e ações éticas na dimensão pública. Os gregos de acordo com a historiografia desprenderam grande esforço intelectual para definir o conceito de ética. A palavra ética vem do grego ethos e seu significado é caráter, ou seja, quali- dade do ser, morada do ser. Para o filósofo Sócrates, a ética era responsável por constituir o conhecimento que conduziria os indivíduos à felicidade. Para Platão, a ética é o saber que dirige a conduta dos indivíduosà justiça. No pensamento de Aristóteles encontramos que ética caracteriza o conhecimento que proporciona aos indivíduos o alcance da virtude cardeal, tendo ação justa, com prudência e cora- gem. De modo geral, podemos afirmar que a ética é o conhecimento que oferece aos indivíduos critérios para a escolha da melhor conduta, levando em considera- ção o interesse de toda a comunidade humana (BORTOLETO; MÜLLER, 2016). Os comportamentos que manifestam à ética são identificados em ações que exprimem determinados características: Para que haja conduta ética é preciso que exista o agente consciente, isto é, aquele que conhece a diferença entre bem e mal, certo e errado, per- mitido e proibido, virtude e vício. A consciência moral não só conhece tais diferenças, mas também reconhece-se como capaz de julgar o va- lor dos atos e das condutas e de agir em conformidade com os valores morais, sendo por isso responsável por suas ações e seus sentimentos e pelas conseqüências do que faz e sente. Consciência e responsabilidade são condições indispensáveis da vida ética (CHAUÍ, 2000, p. 433). Ética - Origens e Conceitos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 17 Nessa perspectiva, os indivíduos que possuem ética nas suas ações cotidianas realizam ações que envolvem ter a dimensão do outro, da sociedade, do público. Sendo a ética confiada ao indivíduo, quando este a prática para si mesmo, a justiça torna-se tema secundário, pois sua realização é con- seqüência natural do agir ético de cada indivíduo. Ser ético significa conhecer e cumprir o ‘dever’; a ética é a condição que possibilita o co- nhecimento do dever. O ‘dever’ repousa, antes de qualquer coisa, no re- conhecimento da necessidade de respeitar a todos como fins em si mes- mos e não como meios para qualquer outro objetivo. Tratar todos os homens como fins em si mesmos é o que lhes confere dignidade e não preço: como bem nos legou Immanuel Kant o que distingue os homens das coisas é o valor que se lhes atribui; enquanto o valor das coisas é o preço, o valor dos homens é a dignidade. Assim, coisas têm preço, homens têm dignidade (BORTOLETO & MÜLLER, 2016, p. 13-14). A ética deve ser elemento constitutivo da atuação no setor público. É ela que dará suporte às decisões no setor público. Decisões que envolvam pensar na sociedade em geral e não em interesses ou benefícios individuais. De acordo com Chauí (2000): o campo ético é, assim, constituído pelos valores e pelas obrigações que formam o conteúdo das condutas morais, isto é, as virtudes. O sujeito ético ou moral, isto é, a pessoa, só pode existir se preencher as seguintes condições: - ser consciente de si e dos outros, isto é, ser capaz de refle- xão e de reconhecer a existência dos outros como sujeitos éticos iguais a ele; - ser dotado de vontade, isto é, de capacidade para controlar e orientar desejos, impulsos, tendências, sentimentos (para que estejam em conformidade com a consciência) e de capacidade para deliberar e decidir entre várias alternativas possíveis; - ser responsável, isto é, reconhecer-se como autor da ação, avaliar os efeitos e conseqüências dela sobre si e sobre os outros, assumi-Ia bem como às suas conseqüên- cias, respondendo por elas; - ser livre, isto é, ser capaz de oferecer-se como causa interna de seus sentimentos atitudes e ações, por não estar submetido a poderes externos que o forcem e o constranjam a sentir, a querer e a fazer alguma coisa (CHAUÍ, 2000, p. 434). Após discutirmos o surgimento dos primeiros debates sobre a ética e defini-la, vamos explorar alguns conceitos relacionados a ética e ao setor público. Primeiro conceito está relacionado ao Estado e a administração pública. Você já ouviu falar em códigos de ética profissional, com certeza, saberia me citar vários exemplos. Mas você sabe qual é o código de ética da administração pública? ÉTICA E RACIONALIDADE DO SETOR PÚBLICO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E18 ESTADO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA O Estado brasileiro no decorrer das décadas passou por grandes transformações até a redemocratização do país. Uma das principais mudanças nesse sentido foi a Constituição de 1988, que estabeleceu as bases para as instituições democráticas, incluindo o processo de transparência e o controle da gestão pública, tanto em ter- mos de novos setores, como no tamanho da proteção social, algo inédito na história do Brasil. Esse modelo de Estado foi implantado paulatinamente e na medida que foi sendo colocado em prática, observou-se a complexidade das questões envolvidas. Nas sociedades mais complexas, os conflitos de interação social tendem a ser maiores, devido à diversidade de ideias e cultura em um mesmo local. As socieda- des se tornam mais heterogêneas e mescladas, formam-se maiores “constelações de interesses” (RODRIGUES, 2007, p. 63). Esse aumento da complexidade social gera conflitos, que tendem a ser administrados por regras formadas em um apa- rato de domínio designado: Estado Moderno. O Estado estabelece leis que regem a sociedade. Quanto maior a racionalização e a formação de estruturas adminis- trativas, mais o indivíduo estará subordinado a esse aparato burocrático. Para Max Weber, o Estado Moderno e o capitalismo forjam um novo homem, um indivíduo que é obediente ao direito racional, as regras estabelecidas pelo Estado. Portanto, sob a ótica weberiana vivemos no império da lei e da razão. A educação também está emaranhada nessas concepções de racionalização e buro- cratização do Estado moderno. Segundo as concepções weberianas sobre educação: Educar num mundo assim, certamente não é o mesmo que educar antes des- sa grande transformação provocada pelo advento do capitalismo moderno. Ela passa a ser, na medida em que a sociedade se racionaliza, historicamen- te, um fator de estratificação social, um meio de distinção, de obtenção de honras, de prebendas, de poder e de dinheiro (RODRIGUES, 2007, p. 66). Será que a ética só pode se manifestar a partir de conduta que envolve res- ponsabilidade para com o outro? Estado e Administração Pública Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 19 Portanto, para Weber, a sociedade moderna inaugura um novo modo de viver em sociedade, muito diferente das sociedades tradicionais. Para entendermos a sociedade moderna burocratizada baseada na dominação legal, primeiramente falaremos da sociedade tradicional. Nas sociedades antigas a influência da tradição era um importante meca- nismo de dominação social. A dominação era a probabilidade dos indivíduos obedecerem às regras. No caso da dominação tradicional as regras eram com- partilhadas pelas tradições e obedecidas baseadas nas crenças cotidianas na santidade das tradições e também pela dignidade pessoal que lhe atribuía à tra- dição (RODRIGUES, 2007). Vamos a dois exemplos que representam bem esta dinâmica de ação social: ■ A crença baseada na santidade das tradições religiosas: as ações dos alu- nos da educação no campo ou de comunidades tradicionais tendem a ser guiadas por valores tradicionais, como a influência familiar, a influência religiosa, ou seja, qualquer tipo de valores locais fundados e protegidos pela tradição. Um exemplo é a oração realizada antes dos alunos entra- rem em sala. Ação está partilhada e legitimada por todos, inclusive pelos professores locais que também se orientam pela tradição. Baseia-se em um tipo de dominação tradicional. ■ A crença baseada na dignidade pessoal atribuída pela tradição:no processo educativo vivenciado por nossos pais, os professores e pedagogos (os agen- tes da educação) eram legitimados pela dignidade pessoal. Por exemplo, se perguntássemos as pessoas mais velhas como funcionava as regras escolares, possivelmente os relatos ouvidos demonstrariam que os alunos respeitavam o hino nacional como um sinal de respeito e patriotismo. Também poderí- amos ouvir que os professores eram mais “respeitados”. Ouvir relatos que demonstram que os alunos na presença do professor se levantavam de suas cadeiras quando um professor ou um pedagogo adentrava a sala de aula. Grande parte dessas atitudes de interação foram estabelecidas por uma domina- ção tradicional. Isso fez com que essas regras fossem mantidas muito mais pela força da tradição do que pela força legal. Porém, a força, que sustenta a sociedade moderna e o processo educacional, está hoje muito mais alicerçada nas leis do que no peso das relações tradicionais. Para entendermos a sociedade moderna e a dominação legal, precisamos falar da racionalização e da burocratização. ÉTICA E RACIONALIDADE DO SETOR PÚBLICO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E20 De acordo com Rodrigues (2007), para Weber, a racionalização e a buro- cratização mudaram o sistema educacional na sociedade moderna ocidental. O Estado educa para fins de racionalizar o indivíduo, criando um meio de dife- renciação entre estes. O autor analisa que o processo de racionalização conduz a mudança do comportamento dos indivíduos, que não agem mais embasados nas crenças e costumes tradicionais, mas sim, estabelecem relações orientadas para certos fins, ou seja, para fins utilitários. O Estado, para Max Weber (1864-1920) é marcado por um tipo de poder e tipos de autoridade. Dentro dessa dimensão sua característica marcante é a Burocracia. A Burocracia é a forma de organização humana que é baseada na racionalidade, ou seja, sempre pautada em adequar os meios aos objetivos que se pretende atingir, tendo como finalidade garantir o máximo de eficiência. O poder está relacionado a autoridade, a capacidade de impor a própria vontade sobre uma pessoa dentro de uma relação social, independente da resistência. A legitimidade é uma das características do Estado, esse é o motivo pelo qual a sociedade obedece as ordens de quem está no poder. A legitimação é a justifi- cativa do poder. A autoridade de quem está no poder só será legítima quando aceita pela população. Caso contrário, não havendo reconhecimento da popu- lação aquele representante poderá ser retirado do poder. A dominação envolve a relação de poder, ou seja, o governante acredita ter direito de exercer o poder sobre o povo e os governados aceitam cumprir ordens (PEREIRA, 2012). As principais características da Burocracia de acordo com José Martins PEREIRA (2012) são: ■ Caráter legal das normas e regulamentos. ■ Caráter formal das comunicações. ■ Caráter racional e divisão de trabalho. ■ Impessoalidade nas relações. ■ Hierarquia de autoridade. ■ Rotinas e procedimentos estandardizados. ■ Competência técnica e mérito. Estado e Administração Pública Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 21 ■ Especialização da Administração. ■ Profissionalização dos participantes. ■ Completa previsibilidade do funcionamento. A burocracia também apresenta determinadas vantagens, dentre elas, PEREIRA (2012) pontua: ■ Racionalidade em relação ao alcance dos objetivos. ■ Precisão na definição do cargo e operação. ■ Rapidez: constância das decisões. ■ Univocidade de interpretação. ■ Uniformidade de rotinas e procedimentos redução custos e erros. ■ Continuidade da organização substituição do pessoal. ■ Redução do atrito entre as pessoas conhecimento dos limites. ■ Subordinação dos mais novos aos mais antigos. ■ Confiabilidade, existem benefícios sob o prisma das pessoas na organização. Nesse sentido, Pereira (2012), pontua que a burocracia dentro da sociologia das organizações é entendida como um sistema ordenado em: 1) autoridades; 2) cargos públicos; 3) tendo uma delimitação demarcada; 4) a coordenação de ati- vidade, de cargos e funções, definidas em competências e responsabilidades; 5) seleção de funcionários de acordo com sua qualificação; 6) ascensão nas carrei- ras; 7) salário fixo; 8) registrar tudo por escrito mediante atas e coletas de dados. Ao definirmos as funções do Estado e o seu papel na sociedade, automatica- mente pensamos na administração pública. Esse tipo de administração é marcado pela burocracia. A burocracia foi impulsionadora e responsável por instituir a igualdade a universalidade dos serviços e também uma regularidade e estabi- lidade na prestação dos serviços públicos. Sabemos que com o passar dos anos as demandas sociais cresceram, exigindo do Estado e da administração pública ações que dêem conta não apenas de atender satisfatoriamente a sociedade, mas que fossem de forma mais eficiente possível. ÉTICA E RACIONALIDADE DO SETOR PÚBLICO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E22 O Estado e os seus órgãos, baseados na burocracia estabelecem códigos de ética e comissões de ética, com o objetivo de elaborar regras e processos legais que punem os indivíduos que violarem, “de modo que visam justamente inibir o mau proceder daqueles que não escolheram, para si, a prática voluntária da ética” (BORTOLETO & MÜLLER, 2016, p. 15). Assim, ao analisarmos os códi- gos de ética vemos que eles têm como finalidade orientar a prática profissional. Esses códigos são responsáveis para adestrar os indivíduos, a fim de levá-lo a escolher comportamentos que não sejam pautados em valores e interesses pes- soais, mas da vontade e do bem estar da sociedade. O comportamento ético dentro do Estado e na administração pública deveria ser aquele que toma deci- sões que são justas, visam o bom e o correto, independente de prescrições de caráter legal, como é o caso dos códigos de ética, isso deveria ocorrer da consci- ência própria dos indivíduos de forma autônoma. Vejamos um exemplo disso: Se o Servidor Público recebe com cortesia o usuário do serviço pú- blico e soluciona com rapidez a demanda do cidadão por medo de sofrer punição disciplinar, já que o Código de Ética no Serviço Pú- blico determina que o servidor seja cortês e ágil na prestação do ser- viço ao cidadão, então seu comportamento não seria ético em sua essência, embora seja bom e correto. Ético seria o servidor que, in- dependentemente do que determina o Código de Ética, atuasse com cortesia e presteza, não por medo de punição, mas por consciência livre e autônoma de que isto é o correto a ser feito (BORTOLETO & MULLER, 2016, p.15). Dessa maneira, podemos constatar que a legislação, que contém conteúdo ético, busca reproduzir a moral e tipos de princípios que são desejados coletivamente, impondo-se a todos e até aos que não escolheram voluntariamente agir eticamente. A administração está relacionada às atividades de planejamento, controle e organização. O conceito de administração está relacionado a uma governabi- lidade ou gestão de uma empresa. De acordo com Montana e Charnov (2003), o ato de administrar é trabalhar com outros indivíduos na busca de realizar os objetivos da organização e dos seus membros. As principais características da administração são: 1) um circuito de atividades que são interligadas; 2) busca pela obtenção de resultados; 3) proporcionar que os recursos físicos e materiais sejam utilizados; 4) desenvolver atividades de planejamento; 5) organização; 6) direção e controle das atividadese dos indivíduos. Estado e Administração Pública Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 23 Planejar consiste em definir os objetivos para o estabelecimento de metas, identificando as fraquezas e as forças e também as oportunidades e ameaças. Um bom planejamento eficiente envolve estudo e análise profunda, antes de qual- quer decisão ou implantação, é preciso que se conheçam as reais necessidades. Para que se consiga chegar aos resultados esperados no planejamento, é neces- sário se organizar e liderar com foco no resultado. O conceito de administração pública está relacionado a um conjunto de organi- zações, ou seja, de associações que configuram os poderes públicos a partir de uma direção governamental. Quando pensamos em administração pública, é necessário ter claro que existe uma pluralidade de administrações. No Brasil, a administração pública está submetida ao controle do Poder Judiciário. Tendo como princípios: a legalidade, a moralidade, a impessoalidade, a finalidade pública entre outros. A administração pública, além do controle do Poder Judiciário, também está sujeita ao controle do Poder legislativo. Tendo mecanismos próprios e internos que exerce controle sobre a ação dos indivíduos da administração (PEREIRA, 2012). O quadro abaixo demonstra as mudanças da administração pública no Brasil com o decorrer das décadas Quadro 1 - Trajetória da Administração Pública no Brasil PERÍODO CONTEXTO INSTITUCIONAL PARADIGMAS FASES CARACTERÍSTICAS DO CAMPO DE AP 1900-29 Estado Regulador-Liberal Administração Pública como Ciência Jurídica • Legalismo 1930-79 1. Estado Administrativo 2. Administração para o Desenvolvimento 3. Estado Intervencionista Administração Pública como Ciência Administrativa 1930-45 • Racionalização 1946-64 • Desenvolvimento 1965-79 • Racionalidade e Com- petências Técnicas 1980-89 Mobilização Social Administração Pública como Ciência Política • Democratização • Conflito de Interesses • Recursos Escassos 1990-... Redefinição do Papel do Estado Administração Pública como Administração Pública • Capacidade Política aliada à Competên- cia Técnica Fonte: Keinert (2000). ÉTICA E RACIONALIDADE DO SETOR PÚBLICO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E24 DIFERENÇA ENTRE OS SETORES PRIVADO E PÚBLICO - RACIONALIDADES Agora que discutimos os conceitos de Estado, administração e administração pública, podemos apresentar as diferenças entre o setor público e o setor pri- vado. Você já deve ter ouvido muitas críticas contra o setor público e a defesa do setor privado, certo? Quando falamos em Estado, setor público e adminis- tração pública, é comum as pessoas identificarem como instituições idênticas, porém não são. O conceito de Estado será trabalhado na unidade II deste livro. Refletir sobre as diferenças entre setor público e privado não é tarefa fácil. De acordo com Eulálio (2010), as discussões do público e do privado é bastante rica, desde os teóricos como Jean Jacques Rousseau e Jurgen Habermas. Para Rousseau (1978), o setor público, a coisa pública deve representar o interesse do povo, do coletivo, sendo o Estado uma das manifestações da coletividade, tendo a tarefa de intermediar os diferentes interesses que aparecem entre público e pri- vado. Segundo Eulálio (2010), Rousseau encarou que a esfera pública precisa de todo um aparato, ou seja, um corpo político e institucionalizado juridicamente. Já “para Habermas, também, a existência dos políticos é de suma importância para tentar fazer a intermediação entre os interesses do público e do privado” (BOECHAT e ALVES, 2016, p. 20-21). A construção do Estado moderno e contemporâneo ocorreu por meio de um processo de amplas transformações econômicas e sociais no decorrer dos séculos. Filósofos e estudiosos como Thomas Hobbes, John Locke e Jean Jacques Rousseau Devemos atentar para o fato de que a Administração deve pautar seus atos pelos princípios elencados na Constituição Federal, em seu art. 37 que prevê: “A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (...)”. Fonte: Gonçalves (2011). Diferença Entre os Setores Privado e Público - Racionalidades Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 25 – em que pese às singularidades epistemológicas de cada abordagem desenvol- vida pelos teóricos – associaram a definição de “direitos” ligados ao conceito de “Estado”. De acordo com Rousseau (1978), por meio do contrato social os indi- víduos abrem mão de sua liberdade individual e depositam sua confiança em um poder de autoridade representada na figura do Estado democrático. Esse Estado seria a instância responsável por garantir os direitos, a segurança e o bem-estar da vida em sociedade. Ao mesmo tempo, o pacto social envolveria abrir mão da vontade individual em prol da vontade geral. A aplicabilidade deste contrato em termos práticos se dá a partir da necessi- dade dos indivíduos de almejar segurança e suas necessidades básicas garantidas por instância maior, isso representado é assegurado por meio da figura do Estado. Para compreendermos essa relação, podemos partir do seguinte exemplo: nós, indivíduos que partilhamos nossas vidas na coletividade, partimos de trajetórias distintas. Entretanto os nossos objetivos em questões relacionadas ao cresci- mento individual e a ocupar um lugar social na sociedade se aproximam quando pensamos que queremos ter acesso às oportunidades para ter uma vida digna. Sabemos que nossa vida é regida por leis e que para alcançarmos essas opor- tunidades, precisamos da existência da sociedade, pois é nela que as “coisas” acontecem. A escola, o mercado trabalho e todas as formas de existência, sobre- vivência e crescimento se dão por meio das correlações estabelecidas entre os indivíduos nas relações sociais e mediadas pelas instituições sociais. Entretanto é fundamental e de grande importante pontuarmos que sem a existência das polí- ticas públicas para assegurar aos indivíduos esse acesso aos direitos básicos se torna impossível a ampliação e ocupação da população em determinadas posi- ções sociais na sociedade. Assim, nós compartilhamos necessidades que não são exclusivamente individuais, mas sim coletivas. Nas palavras de Candau (2008): a problemática dos direitos humanos, muitas vezes entendidos como direitos exclusivamente individuais e fundamentalmente civis e polí- ticos, amplia-se e cada vez mais, afirma-se a importância dos direitos coletivos, culturais e ambientais (CANDAU, 2008, p.46). As políticas públicas são resultados dos diálogos e articulações entre a sociedade civil e o Estado e ocorrem no plano da coletividade. Partindo disso, é funda- mental a existência do Estado e a elaboração de políticas públicas para garantir ÉTICA E RACIONALIDADE DO SETOR PÚBLICO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E26 os direitos de interesse geral da sociedade civil, sendo esse o órgão responsável pela garantia e disseminação da igualdade, do respeito e da inclusão das múlti- plas realidades para a inclusão das diferenças nos âmbitos públicos. O setor público é a esfera na qual o Estado é o centro, por outro lado o setor privado é composto por um conjunto de iniciativas econômicas que nãodepen- dem do Estado. Esses dois setores formam uma grande dicotomia. De um lado o universo é dividido em duas esferas, que englobam seus agentes e por outro lado, temos outras dicotomias convergindo para esses setores. Os dois setores são definidos independente um do outro, ou apenas um é defi- nido e o outro ganha conotação negativa. Por exemplo, defini-se o termo forte, Público e assim, o outro termo é fraco, Privado. Então temos: fraco=não forte, resultando em privado=não público. Ambos os setores são delimitados, a esfera pública chega até onde começa a esfera do privado e vice e versa. A discussão entre esses setores é secular, é geralmente complicada por juízos de valor contrapostos, pois acreditava-se que ao aumentar a esfera do privado diminui-se a do público. Essas dicotomias e divisões ocorrem em geral em grupos sociais, no qual, já ocorreu uma diferenciação entre o que é da coletividade e o que pertence aos sin- gulares. De modo geral, entre a sociedade global e grupos menores, como é o caso da família, por exemplo. As três principais dicotomias para Bobbio (1990) são: 1. Sociedade de iguais X Sociedade de desiguais. 2. Leis X Contrato. 3. Justiça Comutativa X Justiça Distributiva. Sendo o Direito um ordenamento de relações sociais, pode-se dividir em dois tipos de relações: entre iguais e entre desiguais. Os iguais, por exemplo, são os irmãos, parentes, amigos, hóspedes, e os desiguais é o Estado, a família, Deus ver- sus humanos. Na sociedade dos desiguais, o Estado é marcado pelas relações de subordinação entre os governantes e os governados, entre os detentores do poder e os destinatários do dever de obediência. Na sociedade de iguais, a sociedade de mercado dos economistas são relações iguais, chamadas de coordenação, por meio da elevação ao modelo do setor privado se contrapondo à esfera pública. Responsabilidade Ética da Administração Pública Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 27 RESPONSABILIDADE ÉTICA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA A ética profissional tem outro nome menos conhecido, a deontologia. Esse termo vem do grego déontos e foi criado pelo filósofo e jurista, Jeremy Bentham, um dos precursores do utilitarismo desenvolvido por Stuart Mill. Para esse teó- rico, a finalidade das ações públicas e das leis é o estabelecimento da felicidade humana. A sociedade é formada por indivíduos singulares, e as comunidades teriam características parecidas, buscando o aumento do prazer e a diminuição da dor. A utilidade é definida como: o objeto capaz de proporcionar o bem e a felicidade, sendo a felicidade a vantagem. Assim, utilidade coincide com a feli- cidade, o utilitarismo reconhece a busca pela felicidade. Agir eticamente, seria agir visando a maior utilidade para o maior número de pessoas. O responsável pela diminuição da dor deveria ser o Estado. A regra utilitária para alguns pode parecer fria, pois quer essa busca, mas desconsidera a justiça os vínculos etc. Por conta disso, o utilitarismo foi muito criticado, e considerado doutrina, e digno de “porcos”. Stuart Mill defende o utilitarismo. A utilidade não é exposta ao prazer, a concepção de que o útil é o agradável. Defendeu o utilitarismo, e estendeu a concepção de felicidade. Os indivíduos não se contentam a concepção de felicidade. A busca da feli- cidade não é só em âmbitos sensoriais, mas sim a algo mais elevado, prazer humano está ligado a valores morais. Os indivíduos preferem prazeres mais elevados, superiores, mais intelectual. No sentido de dignidade muito forte no ser humano, o ser digno o faz buscar e ser mais que o animal. Esse seria o princípio da felicidade. A ética e seus princípios são importantes para a administração pública? ÉTICA E RACIONALIDADE DO SETOR PÚBLICO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E28 Os humanos renunciam a felicidade, e isso seria fazer parte do humano, negar a feli- cidade pelo outro ou pelo público é algo válido. Não é o abandonar a felicidade sem algum propósito, mas sim negar o pra- zer em prol da sociedade e do outro, essa capacidade de renúncia traria felicidade também. Stuart Mill defendeu que a felici- dade máxima levaria o indivíduo a abrir mão da sua felicidade em prol do restante da comunidade. Para que o indivíduo abra a mão do seu prazer é necessário que haja uma relação entre o público e o privado. Ou seja, uma renúncia de si mesmo, teria um benefício, o bem público é o bem de todos. É necessário que os indivíduos tenham consciência de que abrir mão de algo, felicidade ou prazer, será em prol do público e de todos, e com isso terá retornos. Rapidamente, ao analisarmos as reflexões de Bobbio (1990) e Stuart Mill (2000), pode nos parecer utópico essa renúncia pela felicidade e pensar no público. Podemos pensar: como isso está ligado ao setor público e a ética na administração? A regra da ação em abrir mão de interesses individuais está ligada a construção de um olhar e de comportamentos que pensam no outro. Nos vários outros que existem na sociedade e serão afetados diretamente por decisões assumidas por políticos e burocratas. À vontade, a decisão e ação muitas vezes podem estar liga- das a ideia de recompensa, mas a ação tem caráter externo. No momento de uma decisão os indivíduos podem agir a partir de determinados valores, mas pos- teriormente esperar a recompensa. Entretanto nessa perspectiva teórica o que ocorre com o indivíduo tem um motivo próprio, singular. Muitos indivíduos em sua atuação no público podem tomar decisões e assumir posturas que não estão ligadas ao sentimento de dever, simplesmente cumprindo um cronograma, mas sim ações em prol do outro, com preocupação direcionada aos grupos e indiví- duos que serão afetados a partir das decisões tomadas. Umas das grandes questões diretamente relacionadas a administração pública está relacionada a ética. O Código de Ética Profissional do Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal, no capítulo I, retrata as seguintes regras deontológicas: Responsabilidade Ética da Administração Pública Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 29 I. A dignidade, o decoro, o zelo, a eficácia e a consciência dos princípios morais são primados maiores que devem nortear o servidor público, seja no exercício do cargo ou função, ou fora dele, já que refletirá o exer- cício da vocação do próprio poder estatal. Seus atos, comportamentos e atitudes serão direcionados para a preservação da honra e da tradi- ção dos serviços públicos. II. O servidor público não poderá jamais desprezar o elemento ético de sua conduta. Assim, não terá que decidir somente entre o legal e o ile- gal, o justo e o injusto, o conveniente e o inconveniente, o oportuno e o inoportuno, mas principalmente entre o honesto e o desonesto, conso- ante as regras contidas no art. 37, caput, e § 4o da Constituição Federal. III. A moralidade da Administração Pública não se limita à distinção entre o bem e o mal, devendo ser acrescida da ideia de que o fim é sempre o bem comum. O equilíbrio entre a legalidade e a finalidade, na con- duta do servidor público, é que poderá consolidar a moralidade do ato administrativo. IV. A remuneração do servidor público é custeada pelos tributos pagos direta ou indiretamente por todos, até por ele próprio, e por isso se exige, como contrapartida, que a moralidade administrativa se integre no Direito, como elemento indissociável de sua aplicação e de sua fina- lidade, erigindo-se, como conseqüência, em fatorde legalidade. V. O trabalho desenvolvido pelo servidor público perante a comunidade deve ser entendido como acréscimo ao seu próprio bem-estar, já que, como cidadão, integrante da sociedade, o êxito desse trabalho pode ser considerado como seu maior patrimônio. VI. A função pública deve ser tida como exercício profissional e, portanto, se integra na vida particular de cada servidor público. Assim, os fatos e atos verificados na conduta do dia a dia em sua vida privada poderão acrescer ou diminuir o seu bom conceito na vida funcional. VII. Salvo os casos de segurança nacional, investigações policiais ou interesse superior do Estado e da Administração Pública, a serem preservados em processo previamente declarado sigiloso, nos termos da lei, a publi- cidade de qualquer ato administrativo constitui requisito de eficácia e moralidade, ensejando sua omissão comprometimento ético contra o bem comum, imputável a quem a negar. ÉTICA E RACIONALIDADE DO SETOR PÚBLICO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E30 CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta unidade, procuramos apresentar a você, aluno(a), as dimensões da ética no setor público. Entender o conceito de ética e como ela é acionada pelos ato- res sociais nos setores público e privado é fundamental para a compreensão da atuação ética. Para atingir esse objetivo, primeiro definimos o que é ética e qual a sua relação com o setor público. Vimos que essa preocupação com a atuação ética vem desde os tempos dos gregos. A ética possui uma relação direta com o setor público, pois é ela que dará a base para que as ações e decisões sejam tomadas levando em consideração questões da coletividade. Ou seja, a ética perpassa ques- tões além dos interesses individuais, envolve pensar no outro no momento das tomadas de decisões. As ações tomadas pelos atores da administração pública, necessariamente, precisam dos conhecimentos sobre ética, para que no campo de atuação possam tomar decisões embasadas em racionalidade e imparcialidade. No segundo momento, vimos às definições de Estado e de administra- ção pública. Lembramos a relação entre o Estado e a burocracia. Enfatizando a importância da administração para o planejamento e organização para o desenvolvimento das atividades desse setor. Em seguida, refletimos sobre o setor público e o setor privado e observamos que o setor público possui o Estado como o centro, e o setor privado é composto por um conjunto de iniciativas econômicas que não dependem do Estado. Essas reflexões são importantes para a compreensão da distinção entre as diferenças desses setores. Esperamos que as discussões propostas nesta unidade possam contribuir na construção do seu conhecimento e colaborar com o seu caminho na gestão pública, e que você esteja curioso para conhecer mais sobre este tema e outros que serão apresentados nas próximas unidades. Bons estudos! 31 1. O conceito de ética é uma preocupação que percorreu séculos, sabemos por meio da história que os primeiros preocupados com a definição e a impor- tância da ética foram os gregos. Levando em considerando essas informações podemos afirmar que a palavra ética vem do grego ethos seu significado está relacionado com: a) Questões morais e de pessoalidade. b) Caráter, qualidade do ser. c) Privacidade e virtude. d) Honestidade e juízos de valor. e) Interesses individuais. 2. Para o filósofo Sócrates, a ética era responsável por constituir o conhecimento que conduziria os indivíduos à felicidade. Para Platão, a ética é o saber que dirige a conduta dos indivíduos à justiça. No pensamento de Aristóteles encon- tramos que ética caracteriza o conhecimento que proporciona aos indivíduos o alcance da virtude cardeal, tendo ação justa, com prudência e coragem. I. Esses pensadores gregos foram responsáveis pelo estabelecimento das pri- meiras reflexões sobre ética. II. A ética pode ser pensada de maneira geral como sendo responsável por oferecer aos indivíduos critérios para a escolha da melhor conduta. III. A ética possui como principal característica questões conectadas a valores pessoais, ao certo e o errado de acordo com a experiência pessoal. IV. Após a era dos gregos, a ética deixou de ter lugar central nas reflexões sobre o público. Assinale a alternativa correta: a) Apenas I e II estão corretas. b) Apenas II e III estão corretas. c) Apenas I está correta. d) Apenas II, III e IV estão corretas. e) Nenhuma das alternativas está correta. 32 3. Sabemos que a construção do Estado moderno e contemporâneo ocorreu por meio de um processo de amplas transformações econômicas e sociais no de- correr dos séculos. Para a compreensão das mudanças ocorridas muitas obras foram publicadas com o intuito dessas explicações. Com base nessas informa- ções, podemos afirmar que os principais estudiosos que relacionam o conceito de direitos ao de Estado foram: a) Stuart Mill, Thomas Hobbes e Nicolau Maquiavel. b) John Locke, Stuart Mill e Napoleão Bonaparte. c) Thomas Hobbes, John Locke e Jean Jacques Rousseau. d) Nicolau Maquiavel, John Locke, Thomas Hobbes. e) Thomas Hobbes e Jean Jacques Rousseau. 4. De acordo com Rousseau (1978), por meio do contrato social os indivíduos abrem mão de sua liberdade individual e depositam sua confiança em um po- der de autoridade representada na figura do Estado democrático. Assim, o Es- tado teria algumas responsabilidades para com a sociedade. Levando em con- sideração essas informações, analise as afirmações abaixo e marque (V) para verdadeira e (F) para falsa: ( ) Nessa perspectiva de Rousseau a responsabilidade do Estado é garantir exclusivamente liberdade aos indivíduos. ( ) Esse Estado seria a instância responsável por garantir os direitos, a segu- rança e o bem-estar da vida em sociedade. ( ) Essas premissas nos permitem afirmar que o Estado até os dias atuais não cumpriu totalmente o seu papel, pois não garante bem estar a toda sociedade. ( ) O Estado é responsável por questões emergentes e que afetam de modo geral a população. Isso justifica a ausência do Estado brasileiro nas de- mandas de grupos minoritários. Assinale a alternativa correta: a) F, V, V, F. b) V, V, V, F. c) F, F, V, V. d) F, V, F, V. e) V, F, F, V. 33 5. Constantemente ao ligarmos a televisão encontramos reportagens destacan- do as atuações do setor público e do setor privado. Nessas falas, é comum en- contrar defesa a um dos setores em decorrência do outro. A atuação desses dois setores perpassa amplas questões da nossa sociedade, como educação, saúde, transporte, economia etc. Pensando a importância da compreensão desses setores, elabore uma resposta dissertativa diferenciando o setor públi- co e o setor privado. 34 “Desde os anos 1980, as administrações públicas em todo o mundo realizaram mudan- ças substanciais nas políticas de gestão pública (PGPs) e no desenho de organizações programáticas (DOPs). Essas reformas administrativas consolidam novos discursos e práticas derivadas do setor privado e os usam como benchmarks para organizações pú- blicas em todas as esferas de governo. Hays e Plagens (2002:327) dão uma noção da magnitude dessas reformas: “estratégias aclamadas de reforma têm vindo diretamente do setor privado numa onda que talvez possa ser considerada a mais profunda redefini- ção da administração pública desde que esta emergiu como uma área de especialidade identificável”. O modelo burocrático tornou-se o alvo das mais ásperas críticas. O modelo burocrático weberiano foi considerado inadequado para o contexto institucional contemporâneo por sua presumida ineficiência, morosidade, estilo autorreferencial, e descolamento das necessidades dos cidadãos (Barzelay, 1992; Osborne e Gaebler, 1992; Hood, 1995; Pollitte Bouckaert, 2002a). Dois modelos organizacionais e um paradigma relacional foram apresentados como alternativas ao modelo burocrático. A administração pública ge- rencial (AGP) e o governo empreendedor (GE) são modelos organizacionais que incor- poram prescrições para a melhora da efetividade da gestão das organizações públicas. O movimento da governança pública (GP) se traduz em um modelo relacional porque oferece uma abordagem diferenciada de conexão entre o sistema governamental e o ambiente que circunda o governo. No longo prazo, esses modelos para reformas têm potencial para mudar o modo que as organizações públicas se administram e se relacio- nam. Também é importante frisar que, não raras vezes, reformas da administração públi- ca são empunhadas com meros propósitos retóricos. Outras vezes, têm poucos efeitos ou fracassam completamente. Reforma da administração pública é o conjunto de inovações em políticas públicas de gestão e no desenho de organizações programáticas, e está baseada em um con- junto razoavelmente coerente de justificativas e retórica. Reformas da administração pública são geralmente alinhadas a valores de eficiência, accountability e flexibilida- de (Hood e Jackson, 1991). Uma reforma na administração pública acontece quando uma organização pública progressivamente muda suas práticas de gestão, modelo de relacionamento e retórica. Reformas da administração pública ocorrem em modelos organizacionais diferentes contextos espaciais e temporais, sob a guarda de diferen- tes escopos e valores. No fim do século XIX nos Estados Unidos, e durante a década de 1930 no Brasil, reformas administrativas se espalharam pelas organizações públi- cas, marcando a transição de modelos pré-burocráticos para o modelo burocrático de administração pública (Bresser-Pereira, 1996, 2004). A mesma transição foi verificada em outros contextos e em outros períodos. Nas últimas três décadas, o modelo bu- rocrático weberiano foi desafiado por novos modelos organizacionais e de relaciona- mento como a APG, o GE e a GP, e essa transição recente tem sido considerada uma nova onda global de reformas da administração pública (Kettl, 2005). É importante lembrar que a presumida “mágica” das reformas administrativas deve ser cautelosa. 35 Este artigo mostrou que novos modelos organizacionais compartilham algumas carac- terísticas com o modelo burocrático weberiano: continuam a colocar ênfase na função controle e não se apresentam como modelos de ruptura. Outro cuidado que deve ser tomado é que as reformas da administração pública podem tornar-se facilmente políti- cas simbólicas de mero valor retórico (Gustaffson, 1983; March e Olsen, 1983; Battistelli, 2002). Políticos, funcionários de carreira e empreendedores políticos em geral tentam manipular a percepção coletiva a respeito das organizações públicas usando as refor- mas administrativas como argumento para isso. Não são raros os esforços de reforma da administração pública que avançam mais em autopromoção e retórica do que em fatos concretos. Por fim, qualquer verificação empírica sobre reformas da administração pública deve estar atenta aos aspectos incrementais de mudança organizacional. Ao invés de falar em ascensão, predomínio e declínio de modelos organizacionais, talvez seja mais frutífero falar em um processo cumulativo de mudanças nas práticas e valores. Analiticamente um pesquisador pode encontrar fragmentos de burocracia, APG, GE e GP dentro de uma mesma organização. Até mesmo o patrimonialismo pré-burocrático ainda sobrevive por meio das evidências de nepotismo, gerontocracia, corrupção e nos sistemas de designação de cargos públicos baseados na lealdade política. Ademais, en- tre organizações e dentro de uma mesma organização, o pesquisador pode encontrar ainda diferentes graus de penetração dos diversos modelos organizacionais. A pesquisa sobre a adoção de modelos organizacionais deve verificar continuidades e desconti- nuidades dos modelos em diferentes unidades organizacionais, níveis hierárquicos e regiões geográficas. Questões de pesquisa que parecem longe de estar respondidas na realidade brasileira são: até que ponto reformas da administração pública foram efetiva- das empiricamente? Em quais níveis organizacionais e de decisão o aclamado aumento da discricionariedade gerencial vem acontecendo? Para que tipo de decisão os gestores intermediários gozam de liberdade (discricionariedade em como fazer ou discriciona- riedade no que fazer)? Existe realmente uma transição de mecanismos de controle em favor de mecanismos ex post, a despeito de controles de processo?” Fonte: (Secchi, 2009, p. 348-366) MATERIAL COMPLEMENTAR A Firma Ano: 1993 Sinopse: Mitch McDeere (Tom Cruise) é um jovem advogado vai trabalhar com um alto salário e diversas vantagens em uma fi rma em Memphis. Entretanto logo descobre que a empresa onde trabalha está envolvida com lavagem de dinheiro da Máfi a e que todos os advogados que saíram ou tentaram sair da fi rma morreram precocemente, de forma misteriosa. O fi lme questiona o código de ética, que mantêm em sigilo da relação do advogado com o cliente, que proíbe por toda a vida que um crime cometido por um cliente seja revelado por seu advogado. REFERÊNCIAS 37 REFERÊNCIAS BOBBIO, N. Estado, Governo, Sociedade - Para uma Teoria Geral da Política. 13. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2007. BOBBIO, N. Liberalismo e democracia. Trad de Marco Aurélio Nogueira 3 ed. São Paulo: Brasilienses, 1990. BOECHAT, A. M. F; ALVES, Y. B. Políticas Públicas e Sociais. Maringá, 2016. BORTOLETO, L.; MÜLLER, P. Noções de Ética no Serviço Público. Bahia: Juspodivm, 2016. CANDAU, V. M. Direitos humanos, educação e interculturalidade: as tensões en- tre igualdade e diferença. Revista Brasileira de Educação v. 13 n. 37 jan./abr. 2008. CHAUÍ, M. Convite à Filosofia. São Paulo: Ed. Ática, 2000. EULÁLIO, M.M. A significação do público e do privado. A concepção clássica de Rou- sseau e concepção moderna Habermas. Reflexão: Revista Interdisciplinar NOVA FAPI, Teresina, v.3, n.1, p.43-48, jan-fev-mar. 2010. KEINERT, T. M. M. Administração pública no Brasil: crises e mudanças de paradig- mas. São Paulo: Annablume Fapesp, 2000. GONÇALVES, M. D. A. P. Ética na Administração Pública: algumas considerações. E-GOV, UFSC, 2011. MONTANA, P. J.; CHARNOV, B. H. Administração. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. MATIAS-PEREIRA, J. Manual de Gestão Pública Contemporânea. 4. ed. São Paulo: 2012. MASSELLA, A. B. Introdução. In Mill, John Stuart. O utilitarismo. Trad. de A.B. Mas- sella. São Paulo: iluminuras 2000, p.9-20. RODRIGUES, A. T. Sociologia da educação. Editora Lamparina, 2007. ROUSSEAU, J. J. Do Contrato Social. 2. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1978. SECCHI, L. Modelos organizacionais e reformas da administração pública. RAP — Rio de Janeiro mar./abr. 2009. GABARITOGABARITO 1. B. 2. A. 3. C. 4. A. 5. Refletir sobre as diferenças entre setor público e privado não é tarefa fácil. De acordo com Eulálio (2010), as discussões do público e do privado é bastante rica, desde os teóricos como Jean Jacques Rousseau e Jurgen Habbermas. Para Rousseau, o setor público, a coisa pública deve representar o interesse do povo, do coletivo, sendo o Estado uma das manifestações da coletividade, tendo a ta- refa de intermediar os diferentes interesses que aparecem entre público e priva- do. Segundo Eulálio (2010), Rousseau encarou que a esfera pública precisa de todo um aparato, ou seja, um corpo político e institucionalizado juridicamente. Já “para Habermas, também, a existência dos políticos é de suma importância para tentar fazer a intermediação entre os interesses do público e do privado” (BOECHAT e ALVES, 2016, p. 20-21). U N ID A D E II Professora Esp. Beatriz Elena Barud Silva ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E CONCEITOSINTRODUTÓRIOS Objetivos de Aprendizagem ■ Contextualizar historicamente os regimes liberal; absolutista e socialista. ■ Apresentar o Estado Democrático de Direito e o sistema de controle “freios e contrapesos”. ■ Discutir os três conceitos internacionais de política: policy; polity e politic. ■ Discutir as principais regras e mecanismos institucionais que caracterizam o federalismo no Estado Democrático de Direito. ■ Apresentar os conceitos de negociação e disputa de poder no processo da Administração Pública. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ Estrutura de Estado ■ Estado Democrático de Direito e o sistema de controle ■ Os diferentes conceitos de política ■ A estrutura federalista no Estado Democrático de Direito ■ Administração Pública, negociação e disputa de poder Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 41 INTRODUÇÃO Nesta unidade apresentaremos à você os principais conceitos introdutórios acerca da Administração Pública. É uma unidade importante, pois você apren- derá sobre os contextos políticos, principalmente o democrático e os diferentes conceitos de política, que o ajudarão nos espaços de negociação. Para que isso seja possível, iniciaremos a unidade com uma contextualização histórica dos regimes na estrutura do Estado até chegarmos ao regime democrá- tico, momento em que você será apresentado ao sistema de “freios e contrapesos”, que ajudará você a entender a divisão dos três poderes que existem no Estado Democrático de Direito. Pensando na sua atuação, nesta unidade você aprenderá os diferentes con- ceitos de política e pode estar se perguntando: “mas existe tudo isso?” Sim! E conhecer os conceitos internacionais ajudará na sua capacitação como gestor(a) e te ajudará a abrir os horizontes e perceber que a política não é uma só. Saber os contextos históricos dos diferentes regimes políticos, inclusive do regime democrático não é o suficiente, é preciso que você conheça o Estado Democrático de Direito em suas particularidades, afinal, este será o seu espaço de atuação. Portanto, será importante conhecer os mecanismos que caracteri- zam esse Estado, bem como suas principais regras, para que o seu agir seja com responsabilidade, afinal, você lidará com a coisa pública. E então, de posse de todos estes conceito, chegou a hora de colocá-los em prática, ao final da unidade você aprenderá sobre a Administração Pública, da qual, já dissemos no começo, você gestor(a) fará parte, junto com os serviços públicos, outros agentes públicos, regras e normas de administração pública, entre outros elementos e neste vasto universo, os conceitos aqui apresentados ajudarão na negociação e disputa de poder. Assim sendo, vamos aprendê-los? ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E CONCEITOS INTRODUTÓRIOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E42 ESTRUTURA DE ESTADO O conceito de Estado apareceu primeiro na obra de Maquiavel, “O Príncipe” e expressava uma situação permanente de convivência.Existem duas teorias que ajudam a explicar o surgimento do Estado. A primeira nos remete a uma for- mação natural, segundo a qual o Estado se formou naturalmente; a segunda diz respeito a formação contratual do Estado, indicando que ele teria surgido da vontade de alguns homens (DALLARI, 2011). O ciclo da história permitiu que diferentes formas de estado surgissem: Estados em que o domínio está concentrado num único indivíduo ou num estrato social restrito e, Estado com uma participação relativamente forte de todo o povo na formação da vontade do Estado; Estados em que o po- der se encontra reunido numa determinada classe, e Estados com míni- mas diferenças entre as classes ou com uma divisão pluralista dos poderes sociais; Estados totalitários com tendência para uma intervenção regula- dora, e Estados liberais que respeitam, numa medida relativamente ampla, uma esfera da liberdade de cada indivíduo (ZIPPELIUS, 1994. p. 201). A cada momento da história, podemos perceber uma forma diferente de ges- tão do Estado, que queremos crer, se aperfeiçoava a vontade e necessidade dos cidadão. Neste estudo, iremos contextualizar em uma introdução, três regimes: o liberal, o absolutista e o socialista. ■ Absolutista: quando pensamos em absolutismo estamos nos referindo a uma forma de estado monárquica, ou seja, uma monarquia que pos- sui como característica: “a supremacia das competência se encontra nas mãos de um só indivíduo” (ZIPPELIUS, 1994). O perigo de monar- quias absolutistas é que o sujeito que detém o poder, pode não respeitar a decisão de um órgão do estado (Op cit, 1994) e não haverá ninguém, Estrutura de Estado Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 43 tampouco outro poder, que poderá exigir uma conduta diversa. Como exemplo temos a monarquia de Luís XIV (Op cit, 1994), que inclusive cunhou uma famosa expressão L’État c’est moi - o estado sou eu, em uma livre tradução nossa. ■ Liberal: essa forma de organização do Estado é a que se opõe ao totalita- rismo, no qual o estado que se apoderar da maior número de setores da vida. No liberalismo, a ação do estado é limitada, ele não cuida da mora- lidade, não decide sobre a crença do povo, ele apenas garante a segurança e a propriedade, mas a economia se regula sozinha (ZIPPELIUS, 1994). O risco de um sistema liberal reside na exploração desumana: “a benção de uma economia que se desenvolvesse sem intervenções nem restrições por parte do Estado revelou-se, para milhares de operários, como um sis- tema de exploração desumana” (Op cit, 1994). Outra famosa expressão francesa remete a essa forma de organização: Laissez faire, laissez passer, le monde va de lui-même, ou seja, deixe fazer, deixe passar que o mundo vai por ele mesmo (tradução nossa). ■ Socialismo: o movimento socialista surgiu no século XIX e não se pre- tendia desenvolver um estado socialista, pois a visão que se tinha do estado era que ele própria mantinha os privilégios de algumas classes. “A liberdade não tinha chegado até àqueles que só possuíam sua força de trabalho. A liberdade contratual, tinha como consequência o ofere- cimento de salários miseráveis” (DALLARI, 1995. p. 240). A ideia que permeou o socialismo era então, a destruição do Estado e a redistribui- ção de riquezas. Grande precursor do socialismo e de sua teoria é Karl Marx, que em 1848 redigiu o Manifesto Comunista junto com Engels, documento que mais tarde exerceria grande influência sobre a classe operária (Op cit, 1995). É do manifesto a emblemática frase: Proletários do mundo todo, uni-vos! Contextualizar as diferentes formas de estado e regimes políticos ao longo da história, nos permite compreender a importância de impulsionarmos boas mudanças na sociedade. Adiante, neste nosso livro, você aprenderá sobre as características da democracia, e sabendo as principais características de alguns regimes, você poderá refletir sobre a conquista que foi e é a manutenção de um regime democrático. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E CONCEITOS INTRODUTÓRIOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E44 ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO E O SISTEMA DE CONTROLE A ideia de um Estado Democrático nos remete ao século XVIII e implica a um conjunto de valores fundamentais em torno dos quais o Estado deve se organizar, de modo que a base de um estado democrático é o governo do povo (DALLARI,2011). Nossa Constituição Federal ensina: Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indisso- lúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político. Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constitui- ção (BRASIL,1988). Logo no primeiro artigo da Constituição encontramos os fundamentos do nosso Estado, bem como a indicação de que todo poder emana do povo, o que nos coloca como cumpridos da principal característica da democracia, um governo do povo. Contudo, a noção de governo do povo não veio com a democracia, ela remonta ao período dos gregos que entendiam que o governo poderia ser de um só indivíduo, de um grupo ou de um povo todo (DALLARI, 2011). Fato importante é que o Estado democrático surgiu da insatisfação e da luta contra estado absolutistas, e alguns movimentos históricos como a Revolução Inglesa, Estado Democrático de Direito e o Sistema de Controle Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 45 a Revolução Americana e a Revolução Francesa foram expressões importantes que ajudaram na formação dos Estados Democráticos (Op cit, 2011). Assim, o surgimento do Estado democrático não é algo isolado, mas acompanha o movi- mento natural do homem na luta por direito. Em síntese, nos Estado democrático, alguns princípios devem ser observa- dos, como já percebemos no Art.1º de nossa Constituição Federal, e eles querem indicar que a supremacia que prevalece é a do povo, a liberdade deve ser pre- servada e os direitos devem ser iguais (DALLARI, 2011), com estes elementos, teremos uma democracia. Em um país extenso como o nosso, como controlar as ideias distintas que podem existir? Para entender o sistema de controle, é preciso retornar a teoria de Montesquieu sobre a separação de poderes segundo a qual, ao separar os poderes se garante uma maior eficiência do Estado, pois são distribuídas atribuições entre os órgãos espe- cializados.Tal separação não acaba com a soberania do Estado, mas enfraquece a existência de tiranias (DALLARI, 2011). Nossa Constituição Federal deter- mina essa separação: “Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário” (BRASIL, 1988). Aqui no Brasil temos então os três poderes, que são harmônicos entre si, mas são independen- tes; além desta divisão, você aprenderá mais pra frente nessa unidade sobre a Estrutura Federalista do Estado e perceberá que a separação entre União - Estados - Municípios também é harmoniosa e visa a melhor gestão da coisa pública. A separação dos poderes é característica da democracia, e para obter o con- trole harmônico, desenvolveu-se primeiro no plano teórico a ideia do sistema de freios e contrapesos. Por essa teoria, o Estado pode praticar atos gerais, princi- palmente por meio do legislativo que tem a incumbência de emitir regras gerais e abstratas, ou seja, para todos, sem favorecer ninguém em particular; pode ainda o Estado praticar atos especiais, principalmente o executivo, que após ter o fundamento geral (que advém dos atos gerais), poderá praticar ações segundo as regras gerais. Essa teoria se tornou um dogma, uma verdade, da democra- cia (DALLARI, 2011), mas devemos ter o olhar atento para não acreditar que tudo está em ordem. Você aluno (a) agora que sabe a origem do estado demo- crático e do sistema de freio e contrapesos, está munido de elementos que te permitem construir uma visão crítica. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E CONCEITOS INTRODUTÓRIOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E46 OS DIFERENTES CONCEITOS DE POLÍTICA Até aqui você já enfrentou uma viagem histórica sobre os regimes políticos e também aprendeu sobre o sistema de freio e contrapesos e agora chegou a hora de aprender sobre os diferentes conceitos de política. Esse tópico é importante para que você tenha uma dimensão global dos processos decisórios que encon- trará no seu dia a dia como gestor (a). O tópico três está dividido em duas partes. Na primeira parte abordaremos as diferenças entre os conceitos de política que são: policy, polity e politic e como essas abordagens surgiram nos estudos. Na segunda parte faremos uma breve reflexão sobre qual conceito de política você gestor (a) irá escolher. Vamos lá? APRENDENDO CONCEITOS O primeiro conceito que vamos aprender é o de Politic compreendido como a atividade que o homem realiza para obter, manter e exercer o poder sobre outro homem (SECCHI, 2016). Esse conceito é o que está mais próximo do que conhe- cemos por política. Vamos refletir: a maioria de nós conhecemos alguém que diz: “eu não gosto de política” e quem afirma isso, possivelmente, compreende a política exclusivamente como a atividade dos políticos, de modo que, quando escândalos acontecem, a primeira reação é negar qualquer interesse. Por isso que você gestor(a) precisa compreender que a política tem uma dimensão mais ampla. Vamos ao segundo conceito. Será que essa divisão ainda existe em nosso país? Os Diferentes Conceitos de Política Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 47 Policy é um termo que vem da língua inglesa e representa uma dimensão mais concreta da política, ou seja, quando pensamos em policy podemos relacio- ná-lo com as palavras: decisão e ação. Leonardo Secchi ensina para nós: Em organizações públicas [...] o termo ‘política’ está presente em frases do tipo “nossa política de compra é consultar ao menos três fornecedo- res (SECCHI, 2016, p. 1). Vemos que essa segunda dimensão da política é mais relacionada a prática de alguma atividade. Será que você gestor(a) terá que escolher entre uma das dimensões? Para refletirmos sobre isso, vamos conhecer a terceira definição de política. O termo Polity faz referência a sociedade política e as instituições que pensam políticas públicas. Portanto, para entender esse conceito é importante entender- mos o que é política pública. Há um termo public policy que está relacionado ao segundo conceito que apresentamos aqui (policy) e que indica uma ação, pois uma política pública é entendida como uma ação que o Governo resolveu tomar para enfrentar um problema público. Aqui nos deparamos com outro conceito: problema público e para que o processo de aprendizagem se torne completo é preciso entendê-lo. Problema público, portanto, é a “diferença entre a situação atual e a situação ideal possível de ser alcançada” (SECCHI, 2016. p. 10). O con- ceito de política pública será melhor abordado na Unidade IV, tópico 3 no qual estudaremos o policy process. Você pode estar se perguntando: se existem estes três conceitos, por quê resumimos tudo como política? Essa atitude está errada? A resposta para a primeira pergunta é bem simples. Utilizamos o termo política para estas três dimensões, pois nossa língua materna não faz distin- ções, diferente da língua inglesa que cunhou duas palavras diferentes - policy e politic - para o mesmo fenômeno (SECCHI, 2016). Essa atitude não está errada, pelo contrário, ela demonstra que é preciso ampliar o campo do conhecimento e compreender que a política é mais do que a atitude dos políticos, a política está presente nas instituições, a política pode estar atrelada a participação
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