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depen- dem do Estado. Esses dois setores formam uma grande dicotomia. De um lado o universo é dividido em duas esferas, que englobam seus agentes e por outro lado, temos outras dicotomias convergindo para esses setores. Os dois setores são definidos independente um do outro, ou apenas um é defi- nido e o outro ganha conotação negativa. Por exemplo, defini-se o termo forte, Público e assim, o outro termo é fraco, Privado. Então temos: fraco=não forte, resultando em privado=não público. Ambos os setores são delimitados, a esfera pública chega até onde começa a esfera do privado e vice e versa. A discussão entre esses setores é secular, é geralmente complicada por juízos de valor contrapostos, pois acreditava-se que ao aumentar a esfera do privado diminui-se a do público. Essas dicotomias e divisões ocorrem em geral em grupos sociais, no qual, já ocorreu uma diferenciação entre o que é da coletividade e o que pertence aos sin- gulares. De modo geral, entre a sociedade global e grupos menores, como é o caso da família, por exemplo. As três principais dicotomias para Bobbio (1990) são: 1. Sociedade de iguais X Sociedade de desiguais. 2. Leis X Contrato. 3. Justiça Comutativa X Justiça Distributiva. Sendo o Direito um ordenamento de relações sociais, pode-se dividir em dois tipos de relações: entre iguais e entre desiguais. Os iguais, por exemplo, são os irmãos, parentes, amigos, hóspedes, e os desiguais é o Estado, a família, Deus ver- sus humanos. Na sociedade dos desiguais, o Estado é marcado pelas relações de subordinação entre os governantes e os governados, entre os detentores do poder e os destinatários do dever de obediência. Na sociedade de iguais, a sociedade de mercado dos economistas são relações iguais, chamadas de coordenação, por meio da elevação ao modelo do setor privado se contrapondo à esfera pública. Responsabilidade Ética da Administração Pública Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 27 RESPONSABILIDADE ÉTICA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA A ética profissional tem outro nome menos conhecido, a deontologia. Esse termo vem do grego déontos e foi criado pelo filósofo e jurista, Jeremy Bentham, um dos precursores do utilitarismo desenvolvido por Stuart Mill. Para esse teó- rico, a finalidade das ações públicas e das leis é o estabelecimento da felicidade humana. A sociedade é formada por indivíduos singulares, e as comunidades teriam características parecidas, buscando o aumento do prazer e a diminuição da dor. A utilidade é definida como: o objeto capaz de proporcionar o bem e a felicidade, sendo a felicidade a vantagem. Assim, utilidade coincide com a feli- cidade, o utilitarismo reconhece a busca pela felicidade. Agir eticamente, seria agir visando a maior utilidade para o maior número de pessoas. O responsável pela diminuição da dor deveria ser o Estado. A regra utilitária para alguns pode parecer fria, pois quer essa busca, mas desconsidera a justiça os vínculos etc. Por conta disso, o utilitarismo foi muito criticado, e considerado doutrina, e digno de “porcos”. Stuart Mill defende o utilitarismo. A utilidade não é exposta ao prazer, a concepção de que o útil é o agradável. Defendeu o utilitarismo, e estendeu a concepção de felicidade. Os indivíduos não se contentam a concepção de felicidade. A busca da feli- cidade não é só em âmbitos sensoriais, mas sim a algo mais elevado, prazer humano está ligado a valores morais. Os indivíduos preferem prazeres mais elevados, superiores, mais intelectual. No sentido de dignidade muito forte no ser humano, o ser digno o faz buscar e ser mais que o animal. Esse seria o princípio da felicidade. A ética e seus princípios são importantes para a administração pública? ÉTICA E RACIONALIDADE DO SETOR PÚBLICO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E28 Os humanos renunciam a felicidade, e isso seria fazer parte do humano, negar a feli- cidade pelo outro ou pelo público é algo válido. Não é o abandonar a felicidade sem algum propósito, mas sim negar o pra- zer em prol da sociedade e do outro, essa capacidade de renúncia traria felicidade também. Stuart Mill defendeu que a felici- dade máxima levaria o indivíduo a abrir mão da sua felicidade em prol do restante da comunidade. Para que o indivíduo abra a mão do seu prazer é necessário que haja uma relação entre o público e o privado. Ou seja, uma renúncia de si mesmo, teria um benefício, o bem público é o bem de todos. É necessário que os indivíduos tenham consciência de que abrir mão de algo, felicidade ou prazer, será em prol do público e de todos, e com isso terá retornos. Rapidamente, ao analisarmos as reflexões de Bobbio (1990) e Stuart Mill (2000), pode nos parecer utópico essa renúncia pela felicidade e pensar no público. Podemos pensar: como isso está ligado ao setor público e a ética na administração? A regra da ação em abrir mão de interesses individuais está ligada a construção de um olhar e de comportamentos que pensam no outro. Nos vários outros que existem na sociedade e serão afetados diretamente por decisões assumidas por políticos e burocratas. À vontade, a decisão e ação muitas vezes podem estar liga- das a ideia de recompensa, mas a ação tem caráter externo. No momento de uma decisão os indivíduos podem agir a partir de determinados valores, mas pos- teriormente esperar a recompensa. Entretanto nessa perspectiva teórica o que ocorre com o indivíduo tem um motivo próprio, singular. Muitos indivíduos em sua atuação no público podem tomar decisões e assumir posturas que não estão ligadas ao sentimento de dever, simplesmente cumprindo um cronograma, mas sim ações em prol do outro, com preocupação direcionada aos grupos e indiví- duos que serão afetados a partir das decisões tomadas. Umas das grandes questões diretamente relacionadas a administração pública está relacionada a ética. O Código de Ética Profissional do Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal, no capítulo I, retrata as seguintes regras deontológicas: Responsabilidade Ética da Administração Pública Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 29 I. A dignidade, o decoro, o zelo, a eficácia e a consciência dos princípios morais são primados maiores que devem nortear o servidor público, seja no exercício do cargo ou função, ou fora dele, já que refletirá o exer- cício da vocação do próprio poder estatal. Seus atos, comportamentos e atitudes serão direcionados para a preservação da honra e da tradi- ção dos serviços públicos. II. O servidor público não poderá jamais desprezar o elemento ético de sua conduta. Assim, não terá que decidir somente entre o legal e o ile- gal, o justo e o injusto, o conveniente e o inconveniente, o oportuno e o inoportuno, mas principalmente entre o honesto e o desonesto, conso- ante as regras contidas no art. 37, caput, e § 4o da Constituição Federal. III. A moralidade da Administração Pública não se limita à distinção entre o bem e o mal, devendo ser acrescida da ideia de que o fim é sempre o bem comum. O equilíbrio entre a legalidade e a finalidade, na con- duta do servidor público, é que poderá consolidar a moralidade do ato administrativo. IV. A remuneração do servidor público é custeada pelos tributos pagos direta ou indiretamente por todos, até por ele próprio, e por isso se exige, como contrapartida, que a moralidade administrativa se integre no Direito, como elemento indissociável de sua aplicação e de sua fina- lidade, erigindo-se, como conseqüência, em fator