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Uma bacia hidrográfica tem seu relevo basicamente formando um per- fil topográfico com as seguintes partes: interflúvios, vertentes e leitos fluviais (CHRISTOFOLETTI, 1974). Interflúvios são as regiões mais elevadas de uma Bacia Hidrográfica, servindo de divisor entre uma bacia e outra. Também, são chamados de divisores topográ- ficos ou divisores de água, dependendo da análise. Nos interflúvios predominam os processos de erosão areolar (em círculos), realizadas pelo intemperismo físico e químico, que tendem a rebaixar o relevo normalmente, mas dependem do inter- flúvio e do clima para isso. Os sedimentos resultantes desses processos tendem a se deslocar em direção ao leito fluvial (canal do rio), caracterizando assim uma região fornecedora de material (CHRISTOFOLETTI, 1974). Vertente pode ser definida como superfícies inclinadas associada às áreas planas de uma bacia. Entretanto, as vertentes são mais do que superfícies; são consideradas as partes mais importantes de uma bacia, principalmente por estabelecerem conexão dinâmica entre os topos dos interflúvios e o fundo do vale, ou leito fluvial, e por comportarem, geralmente, a maior parte da vegeta- ção. Além de servirem de região de transporte e fornecimento de sedimentos, a inclinação das vertentes é fundamental na densidade de drenagem em uma bacia. Em vertentes muito inclinadas e sem a presença de vegetação nas suas encostas, o resultado em geral é rápido e desastroso, causando perda de solo FUNDAMENTOS AMBIENTAIS PARA PLANEJAMENTO URBANO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E98 (erosão) e voçorocas (grandes buracos). Os sedimentos são carreados em dire- ção ao fundo do vale, ocasionando o assoreamento do rio, tornando-se mais raso (CHRISTOFOLETTI, 1974). Partindo-se do princípio de que rampas de vertentes muito extensas podem proporcionar escoamentos com velocidades elevadas, pode-se afirmar que o com- primento de rampa influi diretamente na perda de solo em uma área (CURCIO, 2006). Existem vários tipos de rampas que geram comportamentos diferentes de formação de erosão, esses são detalhados e técnicos e não aprofundaremos, basta para o gestor entender que são importantes. O leito fluvial é denominado como sendo o canal de escoamento de um rio (CHRISTOFOLETTI, 1974). Analisando os aspectos apresentados temos que o modelamento do relevo e os processos morfogenéticos são responsáveis pelo grau de fragilidade do meio e é esse grau que deve ser vislumbrado e entendido para um bom manejo da bacia. O que recobre o relevo são rochas, mas em particular o solo. De acordo com a Embrapa (1999) os solos são coleções de corpos naturais constituídos por parte sólida, líquida e gasosa, tridimensionais, dinâmicos, formados por mate- riais minerais e orgânicos, que ocupam a maior parte do manto superficial das extensões continentais. Contém matéria viva e podem ser vegetados. É o solo, com suas frações minerais e orgânicas, ar e solução, o ancoradouro que torna as raízes capazes de fixarem as plantas e de funcionar como o reserva- tório para água e nutrientes. Assim, o sucesso das plantas depende da capacidade do solo, como meio, para que as raízes possam se desenvolver (KRAMER, 1975). Além disso, a textura e a porosidade são características altamente importantes, determinando, em grande parte, a disponibilidade dos nutrientes para as plantas e animais do solo. O solo é o resultante da interação de cinco fatores ambientais: material de origem, clima, relevo, organismos e tempo (ODUM, 1988). O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUD), através do GLSOD (Global Assessment of Soil Degradation – Projeto de Avaliação Mundial da Degradação do Solo), registrou que 15% dos solos do planeta (aproxima- damente 20 bilhões de hectares) uma área do tamanho dos Estados Unidos e Canadá junto, estão classificados como degradados devido às atividades huma- nas (OLDEMAN, 1994) Análise da Paisagem para Planejamento Urbano Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 99 Os solos das regiões ocupadas pelo homem estão se perdendo rapidamente e, por isso, deveriam ser considerados como um recurso natural não renovável e ter seu uso cercado de toda proteção e cuidado que tal situação exige (CREPANI et al. 2001). Portanto, para o planejamento do uso adequado do solo em paisagens fragmentadas, é fundamental a identificação dos tipos de solos, para obter o grau de fragilidade da área (Quadro 1). Somente assim, a definição de áreas a serem destinadas à conservação ou ao uso agropecuário terá uma fundamentação téc- nica que será determinante no êxito da implantação de projetos de recuperação ambiental. Atualmente, vários trabalhos de planejamento que visam à diminui- ção do impacto causado pelas ações antrópicas, têm utilizado como informação básica os solos, por meio dos mapas pedológicos (FIORIO et al., 2003). Quadro 1 - Classes de fragilidade para os tipos de solos classes de fragilidade CLASSES DE FRAGILIDADE TIPO DE SOLO Muito Fraca Latossolo Vermelho (Distroférrico e Eutrofér- rico), Latossolo Vermelho distrófico textura argilosa Fraca Latossolo Vermelho e Vermelho-Amarelo, textu-ra média/argilosa Média Latossolo Vermelho-Amarelo, Nitossolo Ver- melho distroférrico e eutroférrico, Nitossolo Háplico, Podzólico Vermelho-amarelo textura média/argilosa Alta Cambissolo Muito Alta Neossolos Litólicos e Neossolo Quartzarênico Fonte: adaptado de Crepani et al. (2001) Portanto, o processo de planejamento do uso do solo, em que serão definidos os destinos de cada zona de um município ou de uma região, somente poderá ser realizado com êxito se for considerado o solo como um dos elementos determi- nantes de áreas de fragilidade. Com base na classificação de solos da área e na determinação de suas vulnerabilidades é que poderá se planejar o ambiente de ©shutterstock FUNDAMENTOS AMBIENTAIS PARA PLANEJAMENTO URBANO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E100 forma a garantir a sua estabilidade. Para tanto, é necessário o conhecimento de seus atributos e variabilidade espacial, que só é possível quando são disponíveis levantamentos pedológicos em escalas compatíveis com os objetivos desejados (FIORIO et al., 2003). ASPECTOS DA VEGETAÇÃO (FATOR BIÓTICO) Cada bacia hidrográfica dependendo da região que se encontra no Brasil pode ter diferentes tipos de florestas e vegetação. Dentro de cada bioma do país existem várias tipologias vegetacionais que se espalham em diferentes bacias hidrográficas. As principais tipologias vegetacionais existentes no Brasil são: Floresta Ombrófila Densa (parte da Amazônia e das áreas florestais próximas ao oceano atlântico), Floresta Ombrófila Aberta (transição entre cerrado e floresta na região amazô- nica), Floresta Ombrófila Mista (conhecida como floresta com araucária), Floresta Estacional Semidecidual (tipo que tem em torno de 50% de espécies que perdem as folhas em período favorável), Floresta Estacional Decidual (tipo que prati- camente todas as espécies perdem folhas no período favorável), Campinarama (tipo de vegetação específico da região amazônica), Savana (vários tipos de cerrado englobados), Savana Estépica (região da caatinga com várias fitofisiono- mias englobada) e Estepes (áreas de campos naturais) (IBGE, 2012). O Brasil apresenta a maior riqueza de espécies da flora do mundo. Segundo a Lista de Espécies da Flora do Brasil (Reflora), o país conta com 46.096 espécies descritas, sendo 4.747 algas, 32.830 angiospermas, 1.524 de briófitas, 5.712 fungos, 30 gim- nospermas e 1.253 samambaias