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aprendizagem, muitas vezes com uma ideia errada do que realmente essas dificuldades representam. Nesse trabalho compreendemos e que dificuldades de aprendizagem envolvem o processo de ensino-aprendizagem, explicitando um conjunto de movimentos que impedem que o sujeito desenvolva certas habilidades durante esse processo. Esses movimentos podem ser gerados por fatores orgânicos ou externos. Nesse sentido, a professora A, quando questionada quanto a sua concepção de dificuldades de aprendizagem respondeu, “[...] dificuldades de aprendizagem são de diversas ordens, elas são originadas de diversos fatores, então, não pode se rotular [...] elas não são dificuldades propriamente do individuo, ou seja, elas são provocadas por várias situações que vão se colocando na vida da pessoa, e não são [...] a maioria das dificuldades da aprendizagem elas não nascem com a pessoa né, a não ser que elas sejam problemas da ordem física, problemas orgânicos [...] é uma coisa tão abrangente que é difícil até de dizer o que é exatamente uma dificuldade, uma dificuldade é uma complicação, é uma limitação que a pessoa possui de aprender que se apresenta em determinado tempo, em determinada situação e aí, nós também temos dificuldades de aprendizagem. (professora A)”. 4262 Já a professora B, manifestou sua concepção dizendo que “a dificuldade de aprendizagem ela tem sido o viés de que tu vai superar que ela é momentânea... essas outras palavras que a gente usa do distúrbio, ela é uma causa orgânica.” Assim, evidenciamos que as professoras envolvidas na pesquisa seguem a mesma concepção sobre dificuldade de aprendizagem, no entanto, a professora A acredita que os problemas de ordem orgânica também são considerados dificuldades de aprendizagem e a professora B denomina esse problema como sendo um distúrbio. Logo, acreditamos que é preciso se ter conhecimento fundamentado e específico para a construção e reconstrução de concepções acerca da aprendizagem humana, buscando sempre acrescentar à trajetória do processo formativo de psicopedagogos. Concepções de leitura e escrita A nossa sociedade vê a da leitura e da escrita como sendo um ato meramente mecânico, que serve apenas como uma técnica que precisa de treinamento específico para sua aquisição. Nesse trabalho, a leitura e a escrita são vistas como a aquisição de habilidades que envolvem uma função social, que vai além de um ato mecânico, em que a criança precisa pensar e criar conflitos para a obtenção desse conhecimento. Nessa perspectiva, questionamos as professoras envolvidas sobre suas concepções de leitura e escrita. A professora A manifestou a sua concepção como sendo um processo em que se leva em conta o contexto social, “a leitura, ela pressupõe uma gama de interpretações do mundo, a leitura não é só a leitura da palavra, ela é a leitura do contexto todo... a leitura, não é a leitura do que ta escrito ali, é a leitura de tudo, o olhar, a mente ela se abre pra toda essa leitura.E a leitura do espaço, a leitura do contexto social, a leitura da...então a leitura vai abrangendo. Então a escrita, ela ta inserida aqui como uma forma de comunicação, então leitura e escrita são dois pólos que caminham juntos pra mim assim né, mas não necessariamente eu faço só leitura da escrita, eu leio muitas outras coisas. Agora eu escrevo também várias coisas de diferentes maneiras pra vários objetivos”. Já a concepção explicitada pela professora B sobre leitura e escrita foi, “[...] alfabetizar letrando, então eu não consigo conceber mais como termos distintos, pra mim eles se complementam... e a escrita a partir disso então, a alfabetização a gente sabe que não é apenas um processo de aquisição de uma habilidade cognitiva, ela vai além, são habilidades 4263 que tu vai adquirir de leitura e escrita e o letramento às vezes as pessoas conceituam que é conhecer e fazer uso da função social da escrita, por isso que eu tento atrelar essas duas... a informação obtida através da participação em atos sociais, onde então a gente tem envolvido ler e escrever, e esse último tipo de informação pra mim é o mais rico porque ta relacionado a indagação da função social da escrita”. Nas narrativas anteriores evidenciamos que as professoras participantes da pesquisa têm concepções semelhantes acerca do processo de leitura e escrita, tendo essa uma função social que deve ter valor não só como aprendizagem escolar, mas como ferramenta que sirva para que o sujeito possa interpretar, questionar e opinar sobre o que lê e o que escreve. Para Ferreiro (2002, p.13) “ler e escrever são construções sociais. Cada época e cada circunstância histórica atribuem novos sentidos a esses verbos”. Logo, o professor formador do professor alfabetizador precisa ter fundamentação teórica e experiência prática para encontrar soluções estratégicas adequadas para o ensino do processo da construção da leitura e escrita iniciais, na medida em que a aquisição desse processo constitui um marco na vida dos sujeitos que iniciarão sua escolarização. Considerações Finais A partir do estudo realizado pôde-se perceber a importância do professor formador do professor alfabetizador estar em constante formação, por ser o processo de construção da leitura e da escrita um processo complexo, que envolve muito mais que o simples ato mecânico e de treinamento. Dessa forma, acreditamos que a formação psicopedagógica é uma formação que pode auxiliar no processo formativo desses professores. Na análise do processo formativo dos docentes identificamos que a escolha pela profissão docente deu-se por uma opção pessoal, as professoras envolvidas na pesquisa tinham clareza da escolha dessa profissão. Logo, a procura pela especialização em psicopedagogia foi uma escolha consciente, que proporcionaria novas possibilidades de atuação e entendimento de novos conhecimentos. Evidenciamos que essa busca sempre foi vista como uma opção para que ambas continuassem a tecer seu processo formativo. Já que este envolve um processo dinâmico e contínuo de se constituir professor. Nas narrativas das professoras acerca das suas concepções sobre psicopedagogia verificou-se que ambas construíram seus conceitos levando em conta o processo de ensino- aprendizagem, no entanto, conceituam a psicopedagogia de forma diferente. 4264 Nesta direção percebemos a importância da compreensão acerca da aquisição da aprendizagem, pois cada ser cognoscente apreende um conhecimento de forma diferente que o outro e conceitua-o conforme seu entendimento, de acordo com o modo que internalizou as informações transmitidas. A partir da análise da concepção de dificuldades de aprendizagem das professoras observamos que ambas veem as dificuldades como algo que se apresenta no decorrer do processo de aprendizagem, ou seja, muitas vezes são provocadas por fatores externos ao sujeito. No entanto, diferem quanto ao considerar dificuldade ou não aquelas com características orgânicas, para uma das professoras os problemas de ordem orgânica caracterizam distúrbio. Quanto à concepção acerca da leitura e escrita, as professoras entrevistadas apresentaram o mesmo pensamento vendo a construção desse processo como uma ferramenta de caráter social, uma ferramenta para interpretação do que se lê e do que se escreve. Logo, tais concepções pressupõem uma reflexão sobre a aquisição do processo de leitura e escrita, esse processo precisa ser entendido não como um treinamento, uma manifestação mecânica de aprendizagem, mas sim, como um instrumento de busca pelo entendimento real de informações através da leitura crítica de mundo, questionando, pensando e compreendendo o que está sendo lido. Dessa forma, acreditamos que a formação em psicopedagogia de formadores de professores alfabetizadores, pode e precisa auxiliar no processo formativo desses formadores,