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DIREITO CIVIL – BENS JURÍDICOS BENS DE FAMÍLIA BENS DE FAMÍLIA O QUE TODOS DEVEM SABER SELTON FRANCO 1 SUMÁRIO NOTAS DO AUTOR...................................................................... 2 1. NOÇÕES DE BENS JURÍDICOS - CONCEITO........ 3 1.1. CARACTERISTICAS.......................................................... 4 2. DOS BENS DE FAMÍLIA BRASILEIRO...................... 5 2.1. DUPLA PROTEÇÃO DO BEM DE FAMÍLIA............................ 7 2 NOTAS DO AUTOR O presente trabalho - não se tratando de um Artigo Científico - não tem apenas o objetivo de adquirir um conhecimento mais abrangente sobre o tema: bens de família, ou a simples obtenção de pontos para a matéria de Direito Civil, àquele e esse tão necessários, cada um contendo suas importâncias para minha formação acadêmica. O seguinte trabalho tem, principalmente, o escopo social. Antes de discorrer sobre o tema, fiz uma espécie de pesquisa de campo, abordei um número pequeno, mas relativo de pessoas de outras áreas do conhecimento, diferente do minha. Todos estudantes. Gastronomia, Comunicação Social, Arquitetura e Urbanismo, Fisioterapia, Matemática, áreas diversas, diferentes do Direito. A abordagem foi feita por um aplicativo de mensagens, com isso foi possível contatar pessoas de outras regiões como São Paulo – Capital, Fortaleza – CE, Maringá - PR, não me prendendo apenas ao meu município (Presidente Prudente – SP). As respostas foram quase que unanimes: “não faço ideia!”, “não consigo dizer!”. Inclusive, para essas pessoas que escreveram está última resposta, indico a prática da leitura, ela aumenta nosso vocabulário, com ela conseguimos externar nossos pensamentos com mais clareza, objetivo, e coerência, mas isso trata-se de outro assunto. E por fim, as respostas quase que certeiras: “são bens materiais!? Tipo casa, carro?!!”. Para estes últimos, veremos com este trabalho que o conceito de bens não se priva apenas aos itens tangíveis, ou seja, não se tratando apenas dos bens materiais, móveis ou imóveis. Aos que não sabem, espero que tenham uma base melhor do que é, que saibam que eles existem e que nós não estamos nenhum pouco distante deles. Para que atinja um nível maior de leitores, este trabalho estará disponível no site https://www.passeidireto.com/ onde será possível baixa-lo gratuitamente. 3 1. NOÇÕES DE BENS JURÍDICOS - CONCEITO Para um melhor entendimento do assunto que será discorrido, é imprescindível que o leitor - para assimilar novos conhecimentos - já tenha um saber a priori sobre o tema abordado, para isso, inicialmente farei uma suma sobre o que caracteriza- se como bem jurídico. O jurista, filósofo, historiador e literato CLÓVIS BEVILÁQUA afirma que, sob o prisma filosófico, “bem, é tudo quanto corresponde à solicitação de nossos desejos”1, ou seja, cada indivíduo tem as suas próprias aspirações, desejam bens para ter sob o domínio, sejam eles materiais ou não. Uma amizade é um exemplo de um bem, porém não se trata de um bem juridicamente tutelado. Um bem jurídico é algo que precisa haver uma relação de direito, pois não são todas as coisas que interessam ao mundo jurídico, por isso, é necessário que haja uma fragmentação de certos bens, geralmente são coisas imprescindíveis para a existência do homem, uma existência digna, dando primazia ao princípio supremo da nossa Constituição Federal de 1988, o Princípio da Dignidade da Humana. Não obstante, não basta que seja algo imprescindível, pois sendo assim, o Sol e o ar atmosférico seriam bens jurídicos, precisa haver interesse econômico. Portanto, os bens são coisas, porém nem todas as coisas são bens. As coisas são o gênero do qual os bens são espécies2. As coisas são tudo aqui presente no espaço em que vivemos, exceto a pessoa humana, bens são coisas que proporcionam ao homem uma utilidade. Compreende-se bens não apenas as coisas materiais, as imateriais também contam, as criações intelectuais por exemplo: obras literárias, científicas, artísticas, são bens jurídicos. 1 Clóvis Beviláqua, Teoria Geral do Direito Civil, Campinas: RED Livros, 1999, p. 213. 2 Scuto, Istituzioni di dirittoprivato; parte generale, v. 1, p. 291; Pablo S. Gagliano e Rodolfo Pamplona F2, Novo curso, cit., v. 1, p. 257-94; Renan Lotufo, Código Civil comentado, cit., v. 1, p. 196-260. 4 1.1. CARACTERISTICAS Para que o bem seja objeto de uma relação jurídica privada (aquela que necessita do animus subjetivo para ser realizada) é preciso que ele apresente os seguintes caracteres essenciais: 1°) Idoneidade para satisfazer um interesse econômico, excluindo-se, então, da noção de bem os elementos morais da personalidade, inapreciá- veis economicamente, como a vida, a honra, o nome, a liberdade, a defesa etc. Estes bens não econômicos são prolongamentos da personalidade que não entram na formação do patrimônio, embora sejam valores preciosos para o homem3. 2°) Gestão econômica autônoma, pois o bem deve possuir uma autonomia econômica, constituindo uma entidade econômica distinta. P. ex., se for um objeto corpóreo, esta individualidade resulta de sua delimitação no espaço, de modo a apresentar-se a coisa como um corpo único e individual. É preciso distinguir a energia inseparável do bem que a produz daquela que, não obstante produzida por certo bem, assume uma autonomia própria que permite uma utilização e um valor econômico, como se dá com o gás e a eletricidade, considerados pelo Código Penal como coisas móveis4. 3°) Subordinação jurídica ao seu titular, pois na lição de Ferrara5 só é bem jurídico aquele dotado de uma existência autônoma, capaz de ser subordinado ao domínio do homem. Assim o ar, as estrelas, o sol, o mar são coisas, mas que estão fora da seara jurídica, por serem insuscetíveis de apropriação6. 3 Serpa Lopes, op. cit., v. 1, p. 355; Silvio Rodrigues, op. cit., v. 1, p. 124; W. Barros Monteiro, Curso de direito civil, São Paulo, Saraiva, 1966, v. 1, p. 143. 4 Serpa Lopes, op. cit., v. 1, p. 356; Ferrara, Trattato di diritto civile, v. 1, p. 733; Barassi, / diritti reali nel nuovo Codice Civile, p. 118. 5 Ferrara, op. cit., v. 1, p. 735. 6 Seipa Lopes, op. cit., v. 1, p. 356; Marcelo Junqueira Calixto, Dos bens, A parte geral, cit., p. 149-75; Amauri Mascaro Nascimento, Os bens, O novo Código Civil, cit., p. 101-15. 5 2. DOS BENS DE FAMÍLIA BRASILEIRO O Direito Romano, este que considerava a família, nas palavras de PABLO STOLZE “um núcleo político, econômico e religioso, que dispensava solene respeito aos seus antepassados”, considerava a alienação dons bens de família, um vilipendio, uma verdadeira desonra às famílias romanas. Seguindo essa concepção de bens de família, tirada do Direito Romano, não se torna muito diferente com o Direito brasileiro, este tendo forte influência no Direito Romano. Os Bens de Família brasileiro, é a proteção conferida pelo ordenamento jurídico ao mínimo de patrimônio que a pessoa tenha. Todos nós temos um mínimo de obrigações iguais, p. ex.: pagar impostos, com as leis. Mas também, nós nos diferimos em relação a quantidade das obrigações, o mínimo é igual – ex.acima - mas nada impede de contrairmos mais obrigações que outros, p. ex.: contrair uma dívida e não ter dinheiro para poder quita-la, poderá o credor ir à Juízo exigir a execução dessa dívida, sendo um direito dele receber e obrigação do devedor pagar. Na execução da dívida, irá se buscar os bens do devedor para a quitação da mesma. - Como saber quais os bens poderão ser pegos do patrimônio? O legislador entende que deverá ser protegido o mínimo de patrimônio (totalidade de bens), ou seguindo o pensamento do ministro do STF, Edson Fachin, em que defende na sua tese: Estatuto Jurídico do Patrimônio Mínimo – “Todo ser humano, na proteção da dignidade humana, ele deverá ter, pelo menos, a proteção de um mínimo existencial. ” Código Civil Art. 1712. O bem de família consistirá em prédio residencial urbano ou rural, com suas pertenças e acessórios, destinando- se em ambos os casos a domicílio familiar, e poderá abranger valores mobiliários, cuja renda será aplicada na conservação do imóvel e no sustento da família. No nosso Código Civil de 2002 (atual CC. vigente), não trata o assunto de forma geral, deixando a cargo de uma lei especial. Em 29 de março de 1990, entra em vigência a Lei n° 8.009/90, do senador Nelson Carneiro, tal lei dispõe sobre a impenhorabilidade do bem de família. 6 Uma lei esparsa que confere exatamente essa mínima proteção de certos bens que são necessários à família. LEI N° 8.009/90 Art. 1º. O imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar, é impenhorável e não responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus proprietários e nele residam, salvo nas hipóteses previstas nesta lei. Parágrafo único. A impenhorabilidade compreende o imóvel sobre o qual se assentam a construção, as plantações, as benfeitorias de qualquer natureza e todos os equipamentos, inclusive os de uso profissional, ou móveis que guarnecem a casa, desde que quitados. A lei é a essência do Direito, sendo a lei, a positivação dos costumes de um determinado povo. Em 1990, ano em que foi publicada a Lei n° 8.009/90, os costumes eram outros, a concepção de família era outra. Haviam três classificações de famílias: Família formal: casamento. Família informal: união estável. Monoparental: ocorre quando apenas um dos pais de uma criança arca com as responsabilidades de criar o filho ou os filhos. Dentre todas essas classificações, eram consideradas apenas a união entre o homem e a mulher - com ou sem filhos – uma família. Os tempos mudaram e os indivíduos mudaram, foram contestando certos dogmas e o Direito teve que acompanhar essa mudança, a concepção de família mudou, hoje há a presença de uma pluralidade bem mais ampla nas classificações das famílias, p. ex.: as famílias homoafetivas – um neologismo criado pela desembargadora Maria Berenice Dias – TJRS, que altera a palavra “homossexual”, por questões etimológicas - famílias recasadas, famílias ampliadas e as famílias não convencionais. Essas novas concepções de família não retiram a existência da família tradicional – relação entre o homem e a mulher. 7 O Direito precisa acompanhar a mudança existente de fato na sociedade, é mister para que haja a coexistência entre o Direito e a Justiça. Para acompanhar as mudanças, os magistrados sentem a necessidade de adaptar as leis aos atuais costumes, enquanto as mesmas não são feitas pelo Poder Legislativo, para isso criam a jurisprudências, ou súmulas - ambas são palavras sinônimas, sendo elas uma síntese das decisões tomadas nos julgamentos de casos reiterados - para acompanhar a evolução dos julgamentos. STJ - Súmula 364: O conceito de impenhorabilidade de bem de família abrange também o imóvel pertencente a pessoas solteiras, separadas e viúvas. Podemos chegar à conclusão de que o bem de família, não é o bem da família, em suas múltiplas faces, mas sim é o ser humano, é o indivíduo, não importando sua condição, mas é necessário que seja assegurado a sua dignidade. 2.1. DUPLA PROTEÇÃO DO BEM DE FAMÍLIA Lei n° 8.009/90 Dispõe sobre a impenhorabilidade do bem de família – bem de família legal ou involuntário: se aplica a toda e qualquer pessoa, de forma automática, não precisa o indivíduo exteriorizar sua vontade, através de escritura pública ou testamento. Código Civil de 2002, arts. 1.711 ao 1.734 – bem de família voluntario: código civil traz uma concepção do bem de família voluntaria, ou seja, precisa haver a vontade do indivíduo em definir o que deve ser considerado o seu bem de família, através de escritura pública ou testamento. - Se há duas leis, que tratam do mesmo assunto, uma delas não seria revogada aplicando o princípio “lex posteriori derrogat lex anterior” (lei posterior revoga lei anterior)? Lei n° 8.009/90 Art. 5º. Para os efeitos de impenhorabilidade, de que trata esta lei, considera-se residência um único imóvel utilizado pelo casal ou pela entidade familiar para moradia permanente. 8 Parágrafo único. Na hipótese de o casal, ou entidade familiar, ser possuidor de vários imóveis utilizados como residência, a IMPENHORABILIDADE recairá sobre o de menor valor, salvo se outro tiver sido registrado, para esse fim, no Registro de Imóveis e na forma do art. 70 do Código Civil. Código Civil Art. 1711. Podem os cônjuges, ou a entidade familiar, mediante escritura pública ou testamento, destinar parte de seu patrimônio para instituir bem de família, desde que não ultrapasse um terço do patrimônio líquido existente ao tempo da instituição, mantidas as regras sobre a impenhorabilidade do imóvel residencial estabelecida em lei especial. Podemos concluir que, o texto do art. 1711, CC, prescreve que há a possibilidade de se escolher o que é considerado bem de família, p. ex.: um indivíduo é intimado a pagar sua dívida com a penhora de seu patrimônio, levando em conta que os bens de famílias são IMPENHORAVEIS, caso tal indivíduo não tenha realizado em escritura pública o que são os seus bens de família, irá se aplicar a Lei n° 8.009/90, caso isso ocorra, seguindo o que prescreve o art. 5° parágrafo único da mesma lei, serão penhorados os seus bens de maior valor. É imprescindível o esclarecimento de que a penhora dos bens de família dar-se-á aos objetos suntuosos, p. ex.: Obras de arte, objetos de aformoseamento do lar, uma determinada família que tem duas geladeiras, mas só tem um filho, aplicando a lei especial (Lei n° 8.009/90) seria penhorado a geladeira de maior valor, ou caso a família tenha feito o registro da Escritura Pública (CC, art. 1711) do que vem a ser os seus bens de família e tenham colocado a geladeira de maior valor, sendo assim, a penhora seria efetuada na geladeira de menor valor. Caso uma família tenha dez filhos e duas geladeiras, a penhora dar-se-á pela avaliação subjetiva do Juiz ao caso concreto. As duas geladeiras são necessárias para a mantença da família em condições dignas? Note que é preciso a análise do magistrado o caso concreto, sendo as normas, por mais especiais que algumas possam ser, nunca conseguirão abarcar todas as possibilidades existentes. NOTA: Fiador não podem alegar bem de família. 9 Referências Bibliográficas: DINIZ, Maria Helena. Compêndio de Introdução à Ciência do Direito. 20. ed., São Paulo: Saraiva, 2009. GAGLIANO, Pablo Stolze; FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo curso de direito civil,volume 1: parte geral. 14. ed. rev., atual e ampl. — São Paulo : Saraiva, 2012. DISCENTE: Selton Franco. Curso – Direito, 1° termo A. DOCENTE: Prof.ª Raquel Rosan Christino Gitahy - Direito Civil.
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