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DEBATE EPISTEMOLÓGICO: História e Epistemologia da Física (2017-1) Prof. Diego Ricardo Sabka 2- 1 A VELOCIDADE DA LUZ E O ÉTER LUMINÍFERO : A EXPERIÊNCIA DE MICHELSON MORLEY THE SPEED OF LIGHT AND THE LUMINIFEROUS ETHER: THE EXPERIENCE OF MICHELSON MORLEY Kellen Cristine Caetano 1 ULBRA EAD/ Licenciatura em Física/Polo Cascavel/ kellencaetano@outlook.com Resumo Durante séculos a ideia de que o espaço era preenchido por um meio líquido esteve presente e determinou muitos passos da ciência. Diversos cientistas eram adeptos a este conceito e o usavam para explicar fenômenos ópticos, entre eles a propagação da luz. Para demonstrar a existência deste meio, chamado éter luninífero, Michelson e Morley desenvolveram um aparelho que deveria comprovar a existência deste meio. Mas não obtiveram resultados satisfatórios para suas teorias, mas abriram caminhos para o desenvolvimento e criação de novas teorias sobre o comportamento da luz. Palavras-chave: Éter luminífero; Luz; Ondulatória; Experimento Michelson-Morley; Abstract For centuries the idea that space was filled by a liquid medium was present and determined many steps of science." Several scientists were adept at this concept and used it to explain optical phenomena, including the propagation of light. Michelson and Morley developed an apparatus that should prove the existence of this medium, but did not obtain satisfactory results for their theories, but opened the way for the development and creation of new theories on the behavior of light Keywords: Luminiferous ether; Light; Ondulatory; Michelson-Morley Experiment A Ideia do Éter na História A história da física registra que a natureza da luz sempre foi um tema que esteve em debate. Alguns cientistas e defendem com natureza corpuscular, enquanto outros a defendem com forma ondulatória. A luz como onda foi a forma primordialmente adotada e diversas teorias se estabeleceram em torno desse conceito. Muitos se dedicaram a explicar como a luz em forma de onda conseguia se propagar pelo espaço. Neste contexto, no século XVII surge o cientista holandês Christiaan Huygens “que melhorou e ampliou a hipótese ondulatória da luz, proposta por Hook(...). O fio condutor do raciocínio de Huygens foi a analogia com o som.” (ROCHA et. al., 2002) Como o som era uma onda mecânica e necessita de um meio para se propagar, a luz também deveria se comportar da mesma forma. Então era necessário estabelecer um meio por onde a luz se propagaria. Para este meio estabeleceu-se a ideia do éter luminífero. A ideia de um meio (sutil e misterioso) que preencheria todo o espaço remonta à Grécia antiga. Para Aristóteles, o éter era um fluído puro e transparente que preenchia a chamada esfera celeste.( ROCHA, et. al. 2002) O éter foi um conceito que perdurou por muitos anos, e se consolidou com os trabalhos de Newton, Descartes e Huygens. Todos consideravam válida a teoria e que o éter DEBATE EPISTEMOLÓGICO: História e Epistemologia da Física (2017-1) Prof. Diego Ricardo Sabka 2- 2 realmente existia e ocupava todo o espaço, inclusive os espaços intracelulares. O conceito de éter também teve novas vertentes, por volta do século XVIII, onde o físico francês Augustin Fresnel o concebeu como um meio sólido mas elástico e não fluído como propusera Huygens. Como citado acima, a ideia do éter perdurou por muito tempo, sempre sendo aceito e inclusive ganhou um reforço com postulados de Maxwell sobre a luz como onda magnética. Maxwell escreveu: Em muitas partes desse tratado tentamos explicar fenômenos eletromagnéticos por meio de ação mecânica transmitida de um corpo a outro através de um meio ocupando um espaço entre eles. A teoria ondulatória da luz também supõe a existência de um meio. Agora mostraremos que as propriedades do meio eletromagnético são idênticas àquelas do meio luminífero. (ROCHA et. al. apud MAXWELL, 2002) Percebe-se que a ideia do éter preenchendo o espaço era uma convicção que muitos físicos da época tinham. Mesmo com teorias que poderiam refutar sua existência ele ainda era aceito e usado como parâmetro de comparação. A concepção do éter luminífero teve uma decaída após o experimento do físico alemão Albert A. Michelson em parceria com o físico norte-americano Edward Morley. Ambos criaram um aparelho com a finalidade de medir a velocidade da luz e como ela seria influenciada pelo “vento de éter”, ou seja, já que o universo era preenchido por uma substancia essa deveria promover um “vento” já que a Terra se movimenta e meio este líquido. Experiência de Michelson – Morley Com a finalidade de se comprovar a existência do éter Michelson e Morley desenvolveram um aparelho que seria capaz de trazer resultados que comprovassem essa teoria. O aparelho foi denominado de interferômetro e desempenhava a seguinte função: O interferómetro é composto por uma fonte de luz coerente, um separador de feixe, dois espelhos, e um detector de luz. Um feixe de luz é emitido contra o separador, que o divide em dois feixes, cada um dirigido a um espelho, com um ângulo de 90º em relação um ao outro. Esses feixes são então reflectidos, voltam para o separador, e são recombinados, produzindo um padrão de interferência construtiva ou destrutiva, enquanto são desviados para o detector. O padrão criado depende do tempo que a luz demorou a percorrer o espaço desde que se separaram os feixes, até se recombinarem. Se a Terra se está a mover no éter, o feixe paralelo ao "vento" do éter mover-se- ia mais lentamente do que o feixe perpendicular, e revelar-se-ia esse efeito na mudança da posição das franjas de interferência. (MARTINS, 2011) Para este experimento se esperava um desvio de 4%, mas o que se constatou foi apenas 2%. Este aparelho foi desenvolvido em 1881 e seis anos mais tarde, com a ajuda de Morley, Michelson desenvolveu outro interferômetro, composto por uma luz que pulsaria formando um círculo, onde em cada volta os pulsos ficariam por uma vez na mesma direção e por oura vez em direção contrária ao éter. Mas o que se teve como resultados foram dados ainda menos favoráveis a existência do éter; resultados tão pequenos que se aproximavam em 1/40 do esperado. Este episódio ficou conhecido como a mais famosa experiência falhada. (MARTINS, 2011) Apesar desta publicação não tão produtiva, ambos cientistas prosseguiram em desenvolver métodos afim de comprovar a existência do éter. Michelson ganhou o premio Nobel de física pelo aparelho desenvolvido, que tinha grande precisão em medir a velocidade da luz: “for his optical precision instruments and the spectroscopic and metrological investigations carried out with their aid²"(SILVEIRA, 2014) e ao contrário do que se pensa, essa teoria não tinha sido derruabada pelo fracasso neste experimento. DEBATE EPISTEMOLÓGICO: História e Epistemologia da Física (2017-1) Prof. Diego Ricardo Sabka 3 Ao se deparar com estes resultados a teoria do éter foi sendo declinada e os cientistas tiveram que se acostumar com a ideia da não existência deste fluído. A luz passou a ser encarada como uma onda que se auto- sustentava e, paulatinamente, as atenções dos cientistas se deslocaram do conceito de éter para o conceito de campo. ( ROCHA, 2002) Em 1905 ao elaborar suas teorias, Albert Einstein já não considerava a existência de um éter: “A introdução de um éter luminífero revelar-se-á supérflua visto que na teoria que vamos desenvolver não necessitaremos de introduzir um espaço em repouso absoluto” (ROCHA apud. EINSTEIN, 2002) Mas deve-se deixar claroque a ideia do éter ainda não foi abandonada por todo, ela ainda vem sendo considerada nas teses da Teoria da Relatividade Estendida. Epistemologia do Episódio Histórico Todas as formas de tentar compreender as características mecânicas do éter poderia ser descrito numa longa história. Uma construção mecânica significa, como sabemos, que a substância é edificada de partículascom forças atuando o longo de linhas ligando essas partículas e dependentes apenas da distância. A fim de construir o éter como uma substância mecânica semelhante a geléia, os físicos tiveram de fazer suposições altamente artificiais e antinaturais. (EINSTEIN & INFELD, 2008) Percebe-se que a necessidade de criar teorias e suposições para a comprovação do éter foram tão supérfluas que foi o suficiente para ser desacreditado do ponto de vista mecânico. A teoria do éter era de que os corpos o atravessavam sem haver interações entre suas partículas, visto que o fluído não interferia e não apresentava qualquer resistência ao movimento. Mas quando se tratava da luz, apreciava-se que o éter influenciava em sua velocidade. Aqui se depara com um paradoxo, como o éter pode interferir em fenômenos ópticos mas não em processos mecânicos? Com a tentativa de compreender os fenômenos da natureza de um ponto mecânico, foi necessário, (...), até o século XX, introduzir substâncias artificiais como fluídos elétricos e magnéticos, os corpúsculos de luz ou o éter. (...) Aqui, todas as tentativas de infrutíferas de construir um éter de algum modo simples, bem como as outras objeções, parecem indicar que a falha está na suposição fundamental de que seja possível explicar todos os acontecimentos da natureza de um ponto de vista mecânico. (EINSTEIN & INFIELD, 2008) Ao ser analisada de uma forma ampla, a história da física mostra que a aplicação das leis da mecânica não são eficientes para todos os fenômenos e hoje em dia os físicos atuais já não o consideram como um programa que será cumprido. A física moderna foi a que promoveu o desenvolvimento das incógnitas que ainda permaneciam e que eram inconsistentes com os padrões da mecânica. Albert Einstein teve papel importante na renovação das ideias da física e na implementação da física moderna, com a elaboração da Teoria da Relatividade Restrita. Ao se depararmos com esse marco na história da física, que foi o período em que se acreditava na existência de um meio fluido que abrangia todos os espaços, é possível perceber que estava vigente ideias do positivismo, onde o conhecimento era construído através do questionamento e busca de Leis que regiam os fenômenos. O método científico era regido por experimentos e comprovações através de equipamentos. Durante a validação da teoria do éter luminífero é importante destacar o uso de métodos com equipamentos a fim de comprovar sua existência, como é o caso do experimento de Michelson e Morley, visto que se dedicaram a construir um equipamento que comprovasse a existência deste éter. Seus conceitos eram formulados empiricamente e através desta formulação buscava-se a comprovação. A física clássica teve seu decaimento a partir das comprovações de suas inconsistências e a busca da verdade absoluta surge como uma DEBATE EPISTEMOLÓGICO: História e Epistemologia da Física (2017-1) Prof. Diego Ricardo Sabka 4 nova vertente de pensamento. Os pós- positivistas passam a se destacar com suas ideias e proposições sobre o método científico e história da ciência. O pós-positivismo defende que nenhum método científico é efetivamente e totalmente certeiro, há sempre uma margem suscetível ou erro, nesta vertente de pensamento até mesmo o papel do cientista é envolto em preconceitos e como obstáculo no trajeto do encontro da verdade absoluta. (SANTOS, 2017) 2- Por seus instrumentos de precisão óptica e as investigações espectroscópicas e metrológicas realizadas com a ajuda de Referências CMUP – Relatividae Restrita – Uma introdução. [S.I.] Disponível em: < http://cmup.fc.up.pt/cmup/relatividade/RR/node3. html > Acesso em 05 de junho de 2017. EINSTEIN, Albert. INFELD, Leopold. A evolução da Física. Tradução: Giasone Rebuá – Rio de Janeiro, Jorge Zahar Ed. 2008 ESPECIALMENTE. Experimento de Michelson- Morley. [S.I.] Disponível em: < http://especialmente.com.br/ciencia/astronomia/e xperimento-de-michelson-morley/> Acesso em 09 de junho de 2017. MARTINS, Raimundo. História da Física – A experiência de Michelson-Morley. 15 jun 2011. Disponível em: < http://historiadafisicauc.blogspot.com.br/2011/06/ nos-finais-do-seculo-xix-teoria.html > Acesso em 01 de junho de 2017. ROCHA, José Fernando M. (org). Origens e evolução das idéias da Física. Salvador, EDUFBA, 2002. 374p. SANTOS, Renato dos. P.12 – Pós-positivistas – Parte 1. In Física Interessante. 17 Apr. Disponível em: <http://www.fisica- interessante.com/aula-historia-e-epistemologia- da-ciencia-12-pos-positivistas-1.html> Acesso em 09 de junho de 2017. SANTOS, Renato dos. P.2 – Por que história e epistemologia da ciência? – Parte 2. In Física Interessante. 10 Jul 2014. Disponível em: < http://www.fisica-interessante.com/aula-historia- e-epistemologia-da-ciencia-2-porque-2.html> Acesso em 09 de junho de 2017. SILVEIRA, Fernando Lang da. Não é verdade que os experimentos de Michelson-Morley derrubaram a teoria do éter luminífero. UFRGS, 06 fev 2014. Disponível em: < https://www.if.ufrgs.br/cref/?area=questions&id=7 02> Acesso em 02 de junho de 2017
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