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Os Animais Sob a Visão Ética

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OS ANIMAIS SOB A VISÃO DA ÉTICA
Laerte Fernando Levai
4o Promotor de Justiça de São José dos Campos
 “O maior erro da ética é a crença de que ela
 só pode ser aplicada em relação aos homens”
 ALBERT SCHWETZER
 (Prêmio Nobel da Paz)
A) EXPOSIÇÃO DO PROBLEMA E SUA RELEVÃNCIA
 No paradigma jurídico tradicional os animais – embora ‘seres vivos 
dotados de sensibilidade e movimento próprio’ – não são considerados por sua natureza 
intrínseca, mas em função de um interesse humano subjacente. O direito positivo brasileiro, 
inspirado na doutrina romana clássica, trata os animais – em regra - sob a ótica privatista, o 
que se pode perceber facilmente pelas expressões “coisas”, “semoventes”, “propriedade”, 
“recursos” ou “bens”, terminologia essa que nada mais é do que uma confissão espontânea de 
nossa brutalidade e egoísmo. Em termos práticos, a Natureza deixou de ser um todo vivo 
(visão holística) para se tornar um conjunto de recursos (instrumentos). E o que acaba 
justificando a proteção da fauna, para o legislador ambiental, não é o direito à vida ou ao bem-
estar que cada animal deveria ter assegurado em face de sua individualidade, mas a garantia da 
manutenção daquilo que se denomina biodiversidade. Daí porque nosso sistema jurídico 
vinculou os animais antes ao utilitarismo em si (direito de propriedade) do que ao respeito que 
se deve nutrir pelos seres vivos (compaixão).
 Importante ressaltar, todavia, que embora condenados a trabalhos forçados, 
às prisões perpétuas, ao matadouro, às arenas públicas, ao extermínio sistemático, ao desprezo, 
ao abandono, aos obscuros centros de experimentação, dentre outras atrocidades cometidas 
pelo homem, os animais têm a capacidade de sentir e de sofrer. A ciência sabe que nossa 
diferença em relação a eles é apenas de grau, não de essência. Seus órgãos têm função similar 
à humana, tanto que os animais reagem aos estímulos dolorosos. O sistema límbico 
(responsável pelas emoções e sentimentos) é exatamente igual em todos os mamíferos, exceto 
que no homem o córtex cerebral (responsável pela reflexão) é muito mais desenvolvido. Essa 
‘supremacia humana’, porém, acaba sendo utilizada para a opressão e para auferir lucro. 
 Se a ética é a parte da filosofia que estuda os valores morais da conduta 
humana, por que aceitar esse estado de coisas? Se possui a ética – em sua atividade 
especulativa - uma irmandade com a própria justiça, por que sufocá-la? Onde a sua 
concretização no tocante aos animais escravizados ou subjugados, diante da dura realidade 
traduzida pelo binômio servidão e crueldade? Há, portanto, que se estudar a ética em suas 
relações com o direito, com a moral e, finalmente, com o direito natural, fonte primária da 
justiça. Porque os aspectos morais de uma lei nem sempre subsistem diante de determinados 
dogmas de ordem religiosa, cultural ou científica. Cultura e ciência não se ligam 
necessariamente à moral, como se pode constatar nas touradas (tidas como manifestações 
culturais) e na vivissecção (tida como método científico). 
 Propõe-se, portanto, um reflexão sobre esse sistema antropocêntrico que 
durante séculos vem legitimando a tirania humana sobre os animais, partindo dos dogmas da 
religião judaico-cristã e chegando até o tripé ideológico 
“capitalismo/racionalismo/cientificismo” que sustenta as bases da moderna civilização 
ocidental. Ao fazer a crítica ao dualismo legislativo surgido do confronto entre leis 
permissivas e leis proibitivas de comportamentos cruéis, é possível encontrar – em meio ao 
nosso mosaico jurídico – imperativos morais categóricos que permitem identificar uma 
preocupação ética em relação aos animais. É o que se depreende do artigo 225 § 1o, VII, da 
CF, com a manifesta vontade do legislador em vedar as práticas que submetam animais à 
crueldade. 
 Nesse particular, o espírito constitucional pôde ser insculpido no tipo penal 
do artigo 32 da Lei dos Crimes Ambientais, onde o verdadeiro bem jurídico tutelado é o 
respeito devido aos animais, assim guindados à condição de sujeitos passivos do delito. Mas, 
sendo eles incapazes de exprimir seu direito - posto que detém uma personalidade sui generis, 
própria à sua condição – surge o Ministério Público como a instituição legalmente habilitada 
ao exercício desse mister, atuando, portanto, como substituto processual dos animais. Essa 
função, independentemente de estar inserida na tutela da fauna enquanto bem ambiental, é 
justificada pelo interesse social e, mais que isso, inserida na tradição histórica do Parquet que, 
na busca de uma sociedade mais solidária, mais livre e mais justa, nunca mediu esforços para 
exercer a defesa do oprimidos. 
 
B) DESENVOLVIMENTO DA TESE
I - O estigma da servidão
O grande paradoxo que surge no tema relacionado à ética em face dos animais 
é que estes, ao longo da história da humanidade, passaram a viver sob o signo da servidão. 
Remontam à era paleolítica (entre 100.000 e 65.000 anos atrás) as inscrições ruprestes feitas 
pelo homem das cavernas (Neanderthal). Bem depois, no período neolítico, há cerca de 
10.000 anos, o Homo sapiens – com o desenvolvimento das primeiras técnicas de agricultura 
e o desenvolvimento da caça - iniciou seu domínio sobre os demais habitantes do planeta, e, 
desde então, tornou-se o mais temível dos animais. Tanto isso é verdade que, salvo raras 
exceções no mundo oriental, os animais nunca foram considerados em sua individualidade, 
como seres sensíveis capazes de experimentar dores e sofrimentos, mas em razão de um 
interesse humano subjacente. Expressões utilitárias do tipo “res”, “peças, “carcaças”, 
“matrizes”, “cabeças”, “modelos”, “semoventes”, ambíguas como “objeto material”, 
“cobaias”, “manejo”, “sacrifício”, ou então aquelas que evidenciam algum tipo de 
submissão, como animais “de corte”, “de guarda”, “de consumo”, “de companhia”, “de 
tração”, dentre outras tantas, incorporaram-se, sem maiores questionamentos éticos, ao 
costume dos povos. Uma das respostas para essa postura utilitarista - que despreza a natureza 
intrínseca dos animais - talvez resida no fato de a moral cristã pouco se importar com a 
supressão de uma vida não pertencente à espécie dominante. Da mesma forma, a tônica do 
discurso materialista, assentada no tripé ideológico capitalismo/racionalismo/cientificismo – 
contribuiu muito para firmar esse estado de coisas, onde a reflexão ética sobre o direito dos 
animais sempre esteve relegada a plano secundário. Afinal, nosso sistema social, pedagógico 
e jurídico, inclusive, herança do direito romano e impregnado de forte conotação 
antropocêntrica, parte da premissa de que os animais – à guisa de objetos de consumo ou de 
entretenimento - existem para servir ao homem. Contrariando o entendimento clássico do 
pensador grego Plutarco, no sentido de que todas as criaturas têm o mesmo direito à vida, o 
filósofo Emanuel Kant dizia que as relações jurídicas cuidam apenas dos interesses dos 
homens, porque os animais são meros objetos. A dogmática positivista tradicional, portanto,aceita como sujeito jurídico o ser humano portador de direitos e obrigações, referindo-se aos 
bichos como seres irracionais. 
Firmou-se, assim, a concepção antropocêntrica no modus vivendi ocidental.. Na 
Bíblia – como bem anotaram Giovanni Reale e Dario Antiseri – mais do que um momento do 
cosmos (visão helênica), o homem é tido como criatura privilegiada de Deus, feita à imagem e 
semelhança de seu criador e, portanto, centro do mundo. No Gênesis está escrito: “Deus disse: 
façamos o homem à nossa imagem, como nossa semelhança, e que eles dominem sobre os 
peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos, todas as feras e todos os répteis que 
rastejam sobre a terra”. E o Salmo 8, confirmando esse vaticínio, assim expressa seu canto: 
“Quando vejo o céu, obra dos teus dedos/ a lua e as estrelas que deixaste/ que é um mortal, 
para dele te lembrares/ e um filho de Adão, que venhas visitá-lo?/ E o fizeste pouco menos 
que um deus/ coroando-o de glória e beleza/ Para que domine as obras de tuas mãos/ sob 
seus pés tudo colocaste:/ ovelhas e bois, todos eles, e as feras do campo também, a ave do céu 
e os peixes do oceano/ que percorrem as sendas dos mares”. Desse modo, a Bíblia faz da 
devoção o instrumento de sua doutrina: assemelhar-se a Deus e santificar-se é “fazer a vontade 
do criador”. E foi exatamente essa capacidade de traduzir, em seus atos, a vontade divina, fez 
com que o homem se projetasse sobre todos os seres viventes. Ao contrário dos gregos, que 
tinham a lei moral como uma extensão da própria natureza (visão cosmocêntrica), a virtude 
religiosa se traduziu em obediência (pela fé) aos mandamentos do demiurgo.
Ao incorporar em seus dogmas a mensagem bíblica, na qual se deferiu ao 
homem a exploração incondicional das demais criaturas viventes, a doutrina cristã 
praticamente excluiu os animais de sua esfera moral. Inspirada nessa linha de pensamento, a 
filosofia de São Tomás de Aquino sintetiza como apanágios da moralidade o culto ao ser 
divino superior, o respeito ao próximo (ser humano) e, finalmente, a posse das coisas 
inferiores (onde se incluem os animais). Isso mostra a influência das religiões e das crenças 
sobrenaturais no espírito dos homens, assim como seus reflexos na civilização ocidental. Na 
antigüidade, ainda sem a condições de compreender os fenômenos naturais de ordem física e 
biológica, as pessoas recorriam à imaginação criadora de mitos e superstições, como forma 
de buscar respostas para suas angústias existenciais. Como diziam os filósofos, a maioria das 
religiões incorpora, em seus postulados, a busca da fé e a força dos preceitos míticos, 
buscando viabilizar, em um plano superior, a promessa do paraíso e a crença da vida eterna. 
Definida por Karl Marx como “ópio do povo”, porque apta a servir de instrumento de controle 
social, a religião – com todos os seus dogmas e rituais - acaba, bem ou mal, legitimando a 
prática de subjugação, como se os animais – destinados à exploração servil – não tivessem 
direitos a serem respeitados.
Assim sendo, a noção judaico-cristã de justiça concentrada na Bíblia - o Antigo 
Testamento (1300 a .C. até 100 d.C.) e Novo Testamento (século I d. C., assimilando a 
mensagem de Cristo) - fundamenta-se em leis morais que definem condutas e sanções, onde a 
ofensa a Deus (pecado) acarreta ao infiel uma pena (expiação). Os cinco livros de Moisés 
reunidos no Pentateuco (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deutetonômio), também são 
chamados Torá (livros que contém a lei). Dentre os mandamentos hebreus constantes da Torá 
incluem-se a matança ritual de animais antes de sua carne ser destinada à alimentação 
(“shehitá”). Se o animal, porém, for considerado impuro, haverá proibição em comê-lo, seja 
ele doméstico ou selvagem (Deuteronômio 14:7-8). Há, também, um procedimento culinário 
precedido da morte ritual de uma pássaro (“Meliká”), onde o executor, utilizando apenas a 
unha, deve cortar o pescoço, depois a laringe e, finalmente, o esôfago da ave, sem contudo 
degolá-la: “E destroncará sua cabeça pela nuca, porém não a separará do corpo” (Levítico 5:8). 
Igualmente macabro é o método “kasher” de abate, que determina a jugulação 
cruenta de bovinos para eliminar-lhes todo o sangue, antes do preparo da chamada ‘carne 
branca’. Magarefes israelenses, seguindo esse imperativo religioso, submetem os animais à 
sangria completa, sem prévia insensibilização, para então destiná-los ao esquartejamento. Vale 
observar, entretanto, que todos os rituais alimentares judaicos (leis de Kashrut) derivam de 
preceitos bíblicos apoiados na crença de que o animal é uma criatura feita por Deus para o 
benefício do homem e que, portanto, sua morte não pode ser considerada indigna; “farás da 
tua mesa um altar ao Senhor” (Talmud 55 a). A professora Florence Burgat, citando o livro 
“Lettre dún chien errant sur la protection des animaux”, de L. Moynier, denuncia o fanatismo 
religioso capaz de legitimar uma das mais hediondas torturas praticadas contra um ser vivo: 
“O animal é deitado de costas e dois homens o mantêm com a cabeça levantada, para que o 
magarefe lhe possa cortar o pescoço para deixá-lo sangrar, em lenta agonia, gota a gota, até a 
morte”.
Já a doutrina cristã, cuja filosofia se incorporou aos postulados da Igreja, não se 
limitou a examinar os fenômenos naturais ou a refletir sobre os seres vivos em função do 
mundo circundante, mas a extrair conclusões concretas partindo de dogmas religiosos sobre os 
quais fundava suas regras de conduta. Da mesma forma a teologia medieval, ao fundamentar 
seus ensinamentos na palavra divina e nas conjecturas de Ptolomeu, preconizava que a Terra é 
o centro do universo criado por Deus para uso e benefício humano. O antropocentrismo, 
portanto, liga-se umbilicalmente ao postulado cristão que busca essência divina nos homens 
(que seriam filhos de Deus), conceito esse que permitiu – do ponto de vista moral e jurídico – 
a perpétua exploração dos animais, conforme a fábula bíblica da criação. Assentando suas 
normas de conduta nos mandamentos divinos apresentados por Moisés, a virtude cristã seria 
um dos principais atributos do homem. Não se trata, porém, de uma justiça distributiva ou 
cumulativa, mas de um exercício de caridade. Santo Agostinho, ao conceber sua noção de 
justiça como sinônimo de misericórdia (Salmos, 39,19), trazia o conceito de justo indissolúvel 
da palavra de divina: Etiam nobis fit justitia cum ei cohaerendo juste vivimus. Isso talvez 
explique porque a idéia do direito esteja vinculada, desde o seu nascedouro, à moral judaico-
cristã. A mensagem bíblica, afinal, vincula a noção de justiça a Deus, ao próximo e aos bens 
materiais, de modo a sugerir o direito como um prolongamento da moral.. Resta, então, a 
crucial pergunta: como acreditar na magnitude misericordiosa da piedade e da compaixão, 
como virtudes morais, diante dos preceitos que autorizam a exploração, o desrespeito, o abuso, 
os sacrifícios, a escravidão e a crueldade em relação àqueles que não pertencem à espécie 
humana?
Já o materialismo, concepção segundo a qual a economia seria a única força do 
desenvolvimento social, sedimentou – em termos práticos – a ruptura da essência moral da 
ética em relação aos animais. A produção industrial tornou-se o fundamento da vida em 
sociedade, fazendo com que a consciência social – idéias políticas, concepções do direito e da 
arte, filosofia, educação e outras formas de ideologia – se perdesse em meio à perversidade do 
sistema econômico capitalista. Os próprios fenômenos da natureza, nesse contexto, passaram a 
ser explicados apenas em função da leis da mecânica. O direito natural sucumbediante das leis 
de mercado (oferta e procura). A sociedade industrial – como bem definiram os filósofos da 
Escola de Frankfurt – realizou perfidamente o homem como ser genérico e nulo, fazendo com 
que o indivíduo desaparecesse diante da máquina a que serve. Essa postura materialista, na 
qual se agrupam – desenfreadamente - o racionalismo, o cientificismo e a industrialização, fez 
com que a natureza e os animais se transformassem em simples objetos de exploração 
humana, desprovidos de qualquer possibilidade de valorização ética. 
II - Crítica da razão privatista
Os dogmas do positivismo legal, fundamentados nessas correntes religiosas e 
filosóficas, contém em si um viés utilitário inscrito em seu conceito de propriedade e 
facilmente perceptível no âmago nas relações contratuais. Afinal, segundo uma consagrada 
fórmula greco-romana, o direito visa não apenas à realização abstrata da justiça, mas a uma 
utilidade prática relacionada ao bem-estar dos homens, ao seu enriquecimento, à ordem, ao 
progresso e à justa divisão dos bens, resumindo-se no clássico aforisma “dar a cada um o que é 
seu”. Em meio a esse rol de objetos e valores materiais sujeitos à apropriação e à partilha 
incluem-se, assim por dizer, os animais. Tanto que a legislação brasileira, de raízes latinas 
(direito romano), contém dispositivos inequívocos nesse sentido: o artigo 47 da Código Civil 
considera os animais bens móveis suscetíveis de movimento próprio (semoventes), enquanto 
que o artigo 593 da mesma lei substantiva trata dos animais bravios como coisas sem dono 
(res nullius). No âmbito penal – mesmo atualmente - os animais que porventura sofram 
atentados à sua incolumidade corporal figuram não como vítimas do crime de abuso ou maus 
tratos previsto no artigo 32 da Lei 9.605/98 (para a doutrina tradicional a coletividade, nesses 
casos, é o sujeito passivo), mas simples objetos materiais da conduta humana ilícita. A 
objetividade jurídica no delito de crueldade, por sua vez, traduzir-se-ia no sentimento comum 
de humanidade em relação aos animais, qual seja. Os chamados ‘bons costumes’.
 Em termos ambientais, apesar dos significativos avanços alcançados pelo 
Brasil apenas nas últimas duas décadas, o legislador constitucional demonstrou maior 
preocupação com a função ecológica da fauna (vinculando-a em relação aos interesses do 
homem) do que, propriamente, com o respeito à individualidade dos animais como seres 
sensíveis. Exceção feita ao avançado artigo 225 §1o, VII, da CF, que, ao vedar a submissão de 
animais a atos de crueldade, sugere um tratamento ético para com eles - rompendo com a 
visão antropocêntrica do direito brasileiro - em quase a totalidade de nosso ordenamento 
jurídico faunístico preponderam interesses outros que não aqueles relacionados à compaixão 
que se deve nutrir pelas criaturas vivas. Isso porque, em regra, os textos legislativos 
brasileiros que se propõem – a priori - à tutela jurídica dos animais, não resistem a uma 
apurada análise crítica. Embora sob uma roupagem aparentemente protecionista ou 
humanitária, acabam eles se tornando leis permissivas de comportamentos cruéis, como se 
pode constatar a seguir.
 A Lei 5.197/67 (Lei de Proteção à Fauna), apesar da oportuna extensão de seu 
alcance protetivo aos “animais de quaisquer espécies, em qualquer fase de seu 
desenvolvimento e que vivem naturalmente fora do cativeiro, constituindo a fauna silvestre, 
bem como seus ninhos, abrigos ou criadouros naturais “ (art. 1o) e, a pretexto de proibir a caça 
profissional, descamba para uma série de subterfúgios e exceções que regulamentam práticas 
relacionadas ao exercício da caça amadora e científica, à utilização de espécies provenientes 
de criadouros, à destruição de animais silvestres considerados nocivos à agricultura e á saúde 
pública, a montagem de parques de caça, clubes e sociedades amadoristas de caça e de tiro ao 
vôo, à criação de animais silvestres para fins econômicos e industriais, a permissibilidade – a 
contrario sensu – no uso de armas de fogo e a distância de tiro deferida aos caçadores, a 
concessão de licença permanente para cientistas estrangeiros que estejam no Brasil coletando 
material para fins científicos e a distribuição final dos produtos de caça e pesca.
A Lei 6.638/79 (Vivissecção), que disciplina a utilização de animais em 
experimentação didática e científica, revela seu propósito logo no artigo 1o: “Fica permitida, 
em todo o território nacional, a vivissecção de animais, nos termos desta lei”. Desse modo, 
embora aparente alguma preocupação em estabelecer limites morais à atividade didático-
científica no campo da experimentação animal, esse diploma jurídico concedeu o necessário 
aval aos vivissectores para que continuassem a exercer, em paz, sua cruel atividade. Trata-se, 
portanto, de uma lei ineficaz, quase letra morta, tanto que, salvo um isolado precedente no 
Estado do Acre, não existe qualquer outro registro jurisprudencial relacionado à sua aplicação 
prática. E pensar que no Brasil, a cada dia, milhares de animais são martirizados nos obscuros 
laboratórios científicos, sem nenhum controle ético ou efetiva fiscalização.
Outra lei permissiva de comportamento cruel, embora camuflada em seus 
desígnios, é a que versa sobre Jardins Zoológicos (Lei 7.173/83). Visando a uma pretensa 
“finalidade sócio-cultural” e aos “objetivos científicos”, esse diploma trata de “coleção de 
animais” (art. 1o) e respectivo “manejo” (art. 7o), preconizando que os “exemplares da fauna” 
(leia-se animais) serão confinados em “alojamentos” (leia-se jaulas), cujo funcionamento 
dependerá do “habite-se” (!!!?) expedido pelo Ibama.
Não menos ruim é a lei estadual paulista n. 7.705/92, que, a pretexto de 
substituir o abate cruel pelo humanitário, erigiu seu discurso macabro em prol dos 
estabelecimentos que exploram – em ritmo alucinante – a indústria da carne, reduzindo os 
animais a simples produtos econômicos. Expressões como “métodos científicos de 
insensibilização”, “percussão mecânica”, “choque elétrico”, “tanque de escaldagem”, 
“corredor de abate” e “animais de consumo”, demonstram, sem rebuços, o verdadeiro espírito 
dessa lei. Tanto isso é verdade que o legislador não teve maiores dificuldades em excetuar, 
pela Lei 10.470/99, os animais destinados ao abate religioso (leia-se jugulação cruenta) da 
esfera de aplicação da lei do abate humanitário, em flagrante demonstração de imoralidade. Os 
interesses econômicos, mais uma vez, prevaleceram sobre a dignidade e o respeito á vida e, o 
que é mais grave, legitimando – por via indireta – a barbárie.
Mais um paradoxo legislativo pode ser encontrado na lei estadual catarinense n. 
11.365/00. Afrontando uma decisão do STF que reconhecera inconstitucional a hedionda 
prática da farra do boi (evento popular onde uma multidão de sádicos regozija-se em linchar, 
publicamente, bois e garrotes durante a Semana Santa), aquele texto aprovou a 
regulamentação da suposta “tradição açoriana”, desde que sua prática “não perturbe a ordem 
pública”. Ora, a farra do boi é uma das mais notórias e inequívocas demonstrações de 
brutalidade em relação aos animais, não se concebendo como pode ser considerada, segundo o 
referido diploma promulgado pela Assembléia Legislativa de Santa Catarina, uma 
manifestação sadia e pacífica da cultura popular.
A pedagogia da crueldade, ao que parece, está inserida – consciente ou 
inconscientemente – na cartilhasocial dos povos. Dos primeiros atos de sadismo contra 
insetos, passando pela matança ou pelo aprisionamento de passarinhos e chegando aos maus 
tratos contra animais domésticos, os meninos crescem em um mundo onde a violência faz 
parte do cenário urbano ou rural: zoológicos que expõem animais em prisões insalubres, circos 
que subvertem a natureza dos bichos silvestres, cavalos chicoteados para movimentar 
carroças, dentre outras práticas eticamente censuráveis, como as rinha de galo, os rodeios, as 
vaquejadas e a caça, incluindo-se os pesque-pagues e a gastronomia cruel. Nas atividades 
relacionadas àquilo que o jargão econômico denomina agronegócio, o destino dos animais não 
é menos triste. Galinhas, porcos, vacas, patos, carneiros, bois e bezerros, assim como outros 
tantos animais submetidos ao processo de criação intensiva, nascem em série, vivem 
oprimidos e morrem prematuramente. Cumprindo sua miserável existência em pequenos 
cubículos insalubres ou confinados em espaços onde se lhes amontoam entre si, submetidos a 
ação de hormônios e a procedimentos induzidos para acelerar a produção de carne, queijo ou 
ovos, não raras vezes esses animais encontram apenas na morte a libertação para tamanho 
padecimento.
Pode ser considerado ético esse tipo de procedimento? Por que o hábito 
alimentar humano, por si só, legitima a conduta cruel quando se trata de abater animais 
destinados ao consumo? Não poderia o Brasil, que disponibiliza em seu território 140 milhões 
de hectares de terra à criação industrial de animais, propiciar um mínimo de dignidade às 
criaturas vivas que o discurso utilitário transfigura, diante do argumento econômico, em 
simples “matéria-prima”? Haveria vontade política em salvar da morte a legião de cães 
errantes ( a maioria deles sadios ) destinada diariamente pelas prefeituras municipais à câmara 
de extermínio? Quem se importa com a sorte dos animais sacrificados, sem piedade, no altar 
cientificista da experimentação? E o tráfico de animais silvestres, terceiro lugar no ranking 
mundial da criminalidade, como fechar os olhos diante do fato? Essas e outras questões 
preeminentes demonstram o quanto a humanidade tem sido injusta, preconceituosa e 
desprovida de ética no trato aos animais, postura essa que se coaduna ao modelo 
antropocêntrico de viver e, pior ainda, à máxima maquiavélica de que “os fins justificam os 
meios”.
Nesse contexto soa oportuna a crítica feita por João Epifânio Régis Lima à 
ideologia alienante imposta pela mecanização da vida, pela tradição cultural ou pelo hábito, 
mais precisamente com relação aos estabelecimentos que se utilizam de animais em exibição 
pública - zoológicos e circos – como se a realidade neles apresentada fosse legítima: 
“Instituições desse tipo, que também representam e refletem uma determinada ordem cultural, 
de caráter essencialmente dominador, têm a peculiariedade de apresentá-la a seu público mais 
fiel, as crianças, em um contexto que elimina qualquer possibilidade de questionamento: essas 
crianças são levadas a esses lugares por seus pais (na maioria das vezes) ou por parentes e 
amigos e a experiência, geralmente agradável, como que pede, por si mesma, para ser repetida. 
Dessa forma dissimulada e tranqüila, e com o auxílio inadvertido de pessoas dignas (os pais, 
tios ou amigos queridos), a idéia ilusória do domínio humano sobre o restante da natureza vai 
sendo, desde cedo, introduzida e sedimentada. Não é necessário muito esforço para 
reconhecer, desde já, que esse tipo de propaganda ideológica – na qual contribuem as 
instituições familiar, escolar, religiosa e científica - desempenha papel importante na 
determinação das atitudes e opiniões das pessoas às voltas com animais”. Trata-se, portanto, 
de uma pequena amostra de como a noção de moral pode ser, conscientemente ou não, 
dissociada da noção ética, fenômeno esse que se pode observar, também, no cotejo crítico da 
terminologia “direito” e ”justiça”.
III - Estatuto ético dos animais
Para que se possa definir o campo de incidência da ética, especificamente no 
que se refere aos animais, mister examiná-la em função da moral, do direito e, acima de tudo, 
da própria idéia de justiça. Embora conceituados mestres não vislumbrem significativa 
diferença ontológica entre ‘ética’ e ‘ moral’, porque vocábulos equivalentes na essência, 
cabe aqui tecer algumas considerações sobre esse o significado desses conceitos. Para a 
cultura latina clássica, o estudo da ética diz respeito às relações humanas, porque estuda as 
normas e as regras de conduta dos homens em sociedade, observando-se determinados 
princípios universais. Se viver eticamente é viver conforme a justiça, a ordem jurídica justa 
depende das qualidades morais humanas. Daí porque, na reflexão comparativa de Aristóteles, 
“o homem, quando ético, é o melhor dos animais; mas, separado da lei e da justiça, é o pior de 
todos”. A moral, por sua vez, visa à realização in concreto da ética, servindo para expressar 
uma posição subjetiva perante os valores preponderantes do comportamento humano.
Essa distinção se faz mais clara na bela imagem poética de Olinto Pegoraro, no 
sentido de que “a ética é uma bússula que aponta o rumo de nossa navegação no mar da 
história”. De fato, o imperativo ético se situa em um plano superior à esfera de atuação da 
moral e do direito, ainda que – de uma forma ou de outra – a justiça seja, a princípio, sua 
finalidade última. Se para Aristóteles a justiça é virtude moral (ética da justiça), se para São 
Tomás de Aquino o decálogo bíblico concentra em si todas as virtudes morais (ética das 
virtudes) e se para Kant a vida é regulada pelo direito (ética das normas), pergunta-se: onde 
uma ética que admita e reconheça válidos os direitos dos animais, deferindo a estes - como 
seres vivos dotados de sensibilidade – o respeito, a dignidade ou, pelo menos, os nossos gestos 
de compaixão?
Apesar de certa unanimidade no meio acadêmico quanto à afirmativa de que o 
direito visa à realização da justiça, essa fórmula soa – em termos práticos - cada vez mais 
destituída de sentido. Kelsen, vale lembrar, chegou a excluir o justo da noção do direito. Isso 
porque a justiça não pode ficar limitada aos aspectos formais de determinada norma legal, 
devendo ir ao encontro da essência ética de nossas condutas. Há que se levar em consideração, 
para alcançar uma ordem jurídica verdadeiramente justa, as qualidades humanas de natureza 
afetiva, psicológica e moral. A piedade aos animais, independente de sua condição e do 
destino a eles imposto pela vontade dos homens, constitui uma virtude ética que, desafinando 
a opressão e a violência, deve nortear a busca do ideal de justiça.
Sabe-se, todavia, que todo direito positivo integra um sistema de normas de 
conduta que visa ao equilíbrio social, enquanto que a justiça possui a finalidade de 
restabelecer um equilíbrio ou, ao contrário, corrigir um desequilíbrio. Assim explicitado, o 
alcance da Justiça ultrapassa, e muito, o direito positivo (dogmático) e à própria moral 
(subjetiva e transitória), porque se coaduna aos imperativos éticos inseridos não apenas no 
terreno jurídico, mas no meio social e no campo metafísico. Apesar de manter estreitos 
vínculos com moralidade e os costumes, o direito não tem a função de impor determinado 
comportamento ou regular a conduta dos indivíduos. Esse papel incumbe, na verdade, à moral. 
Ainda que o artigo 32 da Lei Ambientaltipifique como crime submeter animais a atos de 
abuso ou maus tratos, esse dispositivo penal – malgrado seu componente pedagógico e 
repressivo – não se mostra, por si só, hábil a impedir a crueldade. A proibição está implícita 
na moral de cada cidadão, o qual poderá fica sujeito a reprimenda estatal.
Entre o direito e a moral, porque não dizer, existe um pequeno abismo. De fato, 
o que resta hoje da lei moral? Nós a vemos abandonada à consciência sentimental do 
indivíduo, como se fosse apenas uma ramificação do direito subjetivo. Sobre esse tema Ihering 
firmou sua posição: a moral ditaria sobretudo ao indivíduo deveres, enquanto que o direito 
conferia-lhe-ia poderes de agir, distinção essa acolhida pela escola de Direito Natural. A 
famosa Declaração dos Direitos do Homens proclamada pela Revolução Francesa, aliás, traz 
em si essa noção de direitos subjetivos naturais. Já o sistema filosófico proposto no contrato 
social, como o fez Thomas Hobbes, reduzia o direito ao texto da lei, afastando-o 
sistematicamente do direito natural. Mas o que se busca, em última análise, é a medida do 
justo, aquela que, acima do direito e da moral, se traduziria na ética.
Michel Villey, professor de filosofia da Universidade de Paris, questionou esse 
fato com a seguinte objeção: será que ainda precisamos entender o direito como sendo “aquilo 
que é justo” ou “proporcional”? Seremos míopes a ponto de não ver que essa filosofia e essa 
linguagem estão hoje ultrapassadas? Porque a nossa justiça se assemelha a uma espécie de 
administração pública, onde o direito remanesce como técnica de controle social e de 
salvaguarda aos interesses particulares do homem. Põe-se na programação do computador o 
modelo dogmático da prestação jurisdicional que, acrescido da descrição do fato e da 
qualificação das partes em conflito, produz – em um passe de mágica – a solução legal. 
Quantas e quantas vezes assim se declara o direito, mas sem verdadeiramente promover a 
justiça...
Essa matemática, impossível negar, é verdadeira. Desde que os romanos 
criaram a ciência do direito (jus redigere in artem), a justiça se prende a um sutil e ao mesmo 
tempo complexo sistema de regras legais e processuais (o positivismo jurídico). A lei, seja ela 
permissiva ou proibitiva, boa ou má, justa ou injusta, se tornou a principal fonte do direito, 
passível de efetiva aplicação pelo magistrado. Mas sua realização plena, que se confundiria 
com a própria idéia de justiça, não pode permanecer adstrita aos ditames legalistas, porque 
nem sempre o que está na lei corresponde à justa medida das coisas. Como se disse há pouco, 
a Lei de Proteção à Fauna compactua com a caça amadora, ao mesmo tempo que a Lei dos 
Zoológicos admite a prisão de animais silvestres e a Lei do Abate Humanitário legitima a 
barbárie. Afora a questão jurídica ora fundamentada em texto legal, o que não se discute aqui, 
permanecem em suspenso algumas questões éticas: por que determinados animais podem 
servir de alvo para um exercício lúdico dos homens? Que tipo de ensinamento pedagógico 
pode justificar o encarceramento de um animal cuja natureza é a vida em liberdade? A 
ditadura imposta pelo mercado da carne e dos produtos oriundos da exploração animal, não 
poderia ser questionada pelo consumidor? Daí porque Michel Villey dizia ser importante, 
diante da crise de paradigma ético e moral que se abateu sobre a civilização contemporânea, 
restabelecer a antiga noção de direito natural, cujo mérito maior foi o de distinguir a parte que 
cabe à lei (direito positivo) e a parte que cabe à solução de direito pela justiça (observação da 
natureza das coisas).
Conclui-se, nessa linha de pensamento, que o discurso ético em favor dos 
animais decorre não apenas da dogmática inserida neste ou naquele dispositivo legal protetivo, 
mas dos princípios morais que devem nortear a conduta humana. A solução de direito, 
concretizada no espírito da lei, depende mais da “excelência espiritual” de cada indivíduo do 
que, propriamente, da vontade do legislador ou do poder coercitivo externo. Isso explica 
porque a ética, situada acima da moral e do direito, aponta o caminho para se alcançar a 
verdadeira justiça e reconhecer, nela, sua essência moral. Os deveres humanos de piedade, 
benevolência e solicitude em relação às demais criaturas vivas, enfim, levam ao 
reconhecimento de uma modalidade ética que visa à realização do justo e que, talvez, se 
sobreponha a todas as outras: a ética da vida.
IV - Dos imperativos morais categóricos
Apesar do inegável caráter antropocêntrico, privatista e utilitário do 
ordenamento jurídico brasileiro, pode-se vislumbrar nele, no que se refere à postura e 
tratamento preconizado aos animais, lampejos legislativos que se assemelham a verdadeiros 
imperativos éticos. Ainda na época do império, 1886, o Código de Posturas do município de 
São Paulo proibia aos cocheiros, carroceiros e ferradores maltratar os animais com castigos 
bárbaros e imoderados (art. 220). Já nos primórdios da República, o Decreto-federal n. 
16.590/24 vedava corridas de touros, garrotes e novilhos, brigas de galo e canário e quaisquer 
outras diversões públicas que porventura causassem sofrimento aos animais. Pouco depois 
esse diploma legal foi revogado pelo Decreto n. 24.645/34, expedido pelo Governo Provisório, 
que estabeleceu medidas tutelares aos animais acompanhado de uma relação casuística 
definindo 31 formas de maus-tratos. Esse texto normativo - ainda em vigor - revela uma 
pioneira incursão não-antropocêntrica na perspectiva do direito positivo brasileiro, isso no 
tempo das carroças, dos carros de boi, das feiras de aves e dos mercados a céu aberto, quando 
ainda nada se falava sobre ambientalismo. Foi em meio a esse cenário propício ao sofrimento 
animal que o abolicionista José do Patrocínio escrevia, no dia 30 de janeiro de 1905, seu 
derradeiro artigo contra a escravidão: “Fala-se na organização definitiva duma Sociedade 
Protetora dos Animais. Eu tenho pelos animais um respeito egípcio. Penso que eles têm alma, 
ainda que rudimentar, e que eles sofrem conscientemente as revoltas contra a injustiça 
humana. Já vi um burro suspirar como um justo depois de brutalmente esbordeado por um 
carroceiro, que atestara a carroça com carga para uma quadriga e queria que o mísero animal a 
arrancasse dum atoleiro”. O apóstolo da abolição, entretanto, não conseguiu terminar seu 
último protesto contra a ignorância dos homens, porque ali mesmo tombaria morto. Vivas, 
contudo, permaneceriam suas idéias.
Ainda em meados do século surgiria a Lei das Contravenções Penais, cujo 
artigo 64 tratava da crueldade contra animais – de modo genérico – conduta essa transformada 
em crime pelo artigo 32 da Lei 9.605/98, cujo teor evidencia que o bem jurídico preponderante 
é o respeito devido aos animais: “Praticar ato de abuso, maus tratos, ferir ou mutilar animais 
silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos. Pena – detenção, de três meses a 
um não, e multa. § 1o – Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel 
em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos 
alternativos. § 2o – A pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre a morte do animal. 
Assim, mesmo que se possa argumentar que a intenção do legislador seria a de não ferir a 
suscetibilidade dos homens, moldando-lhes o caráter, impossível desvincular essa intenção da 
proposta ética voltadaao animal em si. Se a vivissecção ocorre, regra geral, entre quatro 
paredes e se o cientista exerce esse ofício sem maiores constrangimentos, como sustentar que 
o propósito da lei visa ao resguardo do próprio experimentador? O espírito de determinados 
textos legislativos que estabelecem medidas de proteção aos animais, portanto, precisam ser 
interpretado em função da prevalência de um interesse jurídico, que, na hipótese ora tratada, 
não é o dos homens.
Costuma-se dizer que a reflexão ética surge do conflito entre os direitos de uns 
e outros, da conduta individual em contraposição a um princípio de moralidade pública, do 
direito subjetivo frente ao direito natural. No que se refere aos animais, como criaturas da 
natureza que são, têm sua função interativa junto ao meio silvestre – onde o componente 
ecológico se faz presente (ecossistema) - e urbano, onde o convívio humano criou obrigações 
morais destes em relação àqueles, em face de ocuparem a mesma moradia (habitat). Assim 
sendo, esse direito à vida e à saúde faz parte da natureza das coisas e independe de qualquer 
norma legal que o reconheça como tal. Sem prescindir do componente ético ou moral, como 
aqueles preconizados nas cartas de princípios, o Direito Natural serve de fonte inesgotável 
para o reconhecimento do direito dos animais. Porque mantém íntima ligação com a essência 
ontológica do ser. Quando Garcia Morente indaga sobre o que é o ser, já sabe de antemão 
que esse pergunta jamais terá uma resposta satisfatória. Porque o espantoso fenômeno da 
existência, da vida, do movimento, em contraposição à ausência, à inércia e à morte, é o que 
existe de mais valioso para qualquer criatura. 
Neste exato ponto – o estatuto ético dos animais - a doutrina tradicional 
mereceria ser revista, porque um cachorro, um boi, um golfinho ou um papagaio – na sua 
essência vital – não são objetos ou meros recursos naturais. Afirmar que o sujeito passivo de 
um crime contra a fauna é tão somente a coletividade soa como desprezo à magnitude da vida 
e à natureza ontológica dos seres. Dizer, da mesma forma, que os animais figuram como 
objetos materiais do delito, é render infeliz homenagem a um sistema jurídico corroído pela 
ideologia privatista que relega tudo que não é humano ao plano da submissão ou do 
utilitarismo, transformando-lhes – em conseqüência – em mudos escravos, coisas sem dono 
ou, simplesmente, instrumentos do equilíbrio ecológico.
Uma mudança de valores e de atitudes, não apenas de comportamentos, é o que 
poderia acabar com a opressão e a tirania dos homens em relação à natureza e aos animais. 
Montaigne - a exemplo de Pitágoras, também vegetariano, que chegava a adquirir bichos em 
cativeiro para devolvê-los à liberdade – dizia que “os animais possuem leis naturais porque 
estão unidos pelo sentimento; mas não possuem leis positivas porque prescindem do nosso 
conhecimento”. Daí a excelência espiritual do nobre filósofo francês, ao pregar o respeito 
incondicional a tudo aquilo que contivesse vida e sentimento. Já Arthur Schopenhauer, em 
sua crítica à razão que produz monstros, buscava a decifração metafísica para o enigma da 
vida, ao mesmo tempo em que declarava amor à natureza e aos animais. Sua ética, partindo da 
premissa de que todas as coisas estão submetidas à lei da causalidade, é a da compaixão como 
fundamento da moral.
Há quem diga que o imperativo ético mais significativo referente aos animais é 
a famosa Declaração Universal dos Direitos dos Animais, que teria sido subscrita também 
pelo Brasil em Assembléia da Unesco, em Paris, em 1978. Apesar da aparente magnitude de 
seus postulados, observa-se que essa carta de intenções, embora tratando dos interesses dos 
animais como seres sensíveis e do respeito à vida, está impregnada do mesmo discurso 
humanista que conduz à subjugação, conforme relacionou David Olivier na crítica – a 
contrario sensu - de alguns de seus postulados: “a questão animal deve ser tratado do ponto 
de vista ecológico”, “quando um animal é maltratado, a vítima não é a Natureza e a dignidade 
dos homens”; “é lícito criar e abater os animais, assim como a experimentação científica, à 
medida em que isso for necessário”. Essa análise vai de encontro ao pensamento de Paula 
Brügger, que enxergou flagrantes ambigüidades em consagradas expressões ecológicas, como 
“meio ambiente ecologicamente equilibrado”, “desenvolvimento sustentável”, “sadia 
qualidade de vida” ou “garantia às presentes e futuras gerações”, todas elas permeadas pela 
visão antropocêntrica onde a natureza deixa de ser um todo vivo para se tornar um conjunto 
de recursos destinados a uma finalidade humana. 
Nosso legislador constitucional, entretanto, ao proclamar no artigo 225 §1o, VII, 
da Constituição Federal, que “Incumbe ao Poder Público proteger a fauna e a flora, vedadas, 
na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a 
extinção das espécies ou submetam os animais à crueldade”, não se restringiu apenas ao 
aspecto biocêntrico ou ecocêntrico da fauna. Foi além disso. Tratou dos animais também sob 
a perspectiva moral, desvinculando-o da natureza ou do contexto ecológico propriamente dito. 
Erigiu o dever jurídico de proteção aos animais à categoria de imperativo ético, permitindo 
uma nova interpretação jurídica acerca dos animais submetidos a crueldade. Reconheceu esse 
dispositivo constitucional, implicitamente, que os animais devem ser inseridos na esfera das 
preocupações morais humanas, o que abre margem para dizer que eles podem figurar não 
apenas como bens patrimoniais, ecológicos ou objetos materiais de crime (nos termos da 
concepção antropocêntrica), mas também como vítimas da crueldade e, porque não dizer, 
legítimos sujeitos jurídicos.
V – Animal-machine: o erro cientificista 
Até o século 16 acreditava-se que a Terra era um corpo celeste situado no 
centro do universo, girando em torno de si mesmo. O sistema heliocêntrico de Copérnico, 
todavia, desmistificou tal crença ao demonstrar que os planetas, inclusive o nosso, é que giram 
em volta do sol. Essa teoria científica abalou os dogmas religiosos preconizados no Gênesis, 
ensejando uma nova reflexão sobre nossas causas primeiras. Posteriormente Charles Darwin, 
em sua obra “A Origem das Espécies”, comprovaria que os animais e as plantas estão em 
contínuo processo evolutivo, contrariando, também, a fábula bíblica da criação. A teoria 
evolucionista permitiu que se reconhecesse a existência de uma similitude entre os seres vivos, 
com base em análises comparativas de suas estruturas corporais. O braço do homem e a asa 
do morcego, por exemplo, tem muito em comum no que se reporta à predisposição dos ossos. 
Também é verificado uma proximidade durante a fase embrionária dos mamíferos, quando se 
torna relativamente difícil diferenciar um feto humano de outro similar.
Um coelho e um homem, independentemente de suas diferenças morfológicas, 
possuem os mesmos órgãos vitais, a saber: pulmão, coração, fígado, estômago, bexiga, rim, 
etc. Têm membros, olhos, boca, orelhas, intestino, traquéia, pêlos e, ainda, um sistema 
nervoso composto de encéfalo, medula espinhal, cérebro e cerebelo. Reagem - cada qual à sua 
maneira - diante de estímulos nervosos provocados, gemendo, retraindo-se, atacando ou 
tentando fugir daquilo que lhes impinge dor ou sofrimento. Apresentam em comum sensações 
de medo, ira, fome, alegria, desconforto, afeto ou amizade, inclusive, características essas que 
não se confundem com meros movimentos instintivos. Essas observações haviam sido feitas 
pelopróprio Darwin no brilhante trabalho comparativo publicado sob o título “A expressão 
das emoções no homem e nos animais” (1872). Sustentando que muitas das expressões 
humanas são inatas, verificáveis em culturas diversas, esse livro – conforme se costuma dizer 
– foi além de seu objetivo primeiro, ultrapassando os aspectos da teoria evolucionista para 
inaugurar o estudo dos aspectos biológicos do comportamento, hoje uma das vertentes das 
neurociências. 
No século 17 o filósofo René Descartes defendia a teoria do animal machine, 
sugerindo que os bichos eram meros autômatos incapazes de raciocinar ou de sentir dor, eis 
que suas reações constituíam apenas reflexos a estímulos externos. Inspirado nesse princípio 
mecanicista adotado como modelo da ciência de então, o fisiologista Claude Bernard passou a 
difundir no meio acadêmico a insensível prática da vivissecção. Com suas experiências 
cruentas e seus atrozes aparelhos de contenção, Bernard submeteu centenas de animais a 
procedimentos macabros, sob a justificativa de simplesmente estudá-los, inaugurando a era do 
holocausto em relação aos animais martirizados em laboratórios (na atualidade milhões de 
animais padecem, a cada ano, para atender à demanda experimental). O discurso cartesiano 
de que os animais são seres irracionais que respondem reflexivamente às provocações 
externas, entretanto, não se mostrava unânime, conforme se percebe da oportuna réplica de 
Voltaire: “que ingenuidade, que pobreza de espírito afirmar que os animais são máquinas 
destituídas de inteligência e sentimento, que procedem sempre da mesma maneira, que nada 
aprendem, que nada aperfeiçoam... É preciso não ter nunca observado os animais para não 
distinguir neles as diferentes vozes da necessidade, da alegria, do medo, da cólera e de todos 
os afetos. Seria muito estranho que exprimissem tão bem o que não sentem” .
 Descartes – lembram Giovanni Reale e Dario Antiseri - nega aos organismos 
qualquer princípio vital autômato, tanto vegetativo quanto sensitório, convencido de que, se 
eles possuíssem alma, a teriam revelado através da palavra, que “é o único sinal e a única 
prova segura do pensamento oculto encerrado no corpo”. Assiste-se, então, uma mudança 
radical na concepção da natureza, onde i eixo da reflexão e da ação se desloca do ser para o 
pensamento, de Deus e do mundo para o homem, da revelação para a razão, novo fundamento 
da filosofia que, a partir daí, iria influenciar toda a cultura ocidental. A res cogitans, tal como 
Descartes a concebera, tinha um papel fundamental, onde razão se tornava o ponto crucial que 
permitiria ao homem dominar o mundo, atingindo sua plenitude racionalista. Tudo passou a 
ser subordinado à razão, diante da qual o mundo se tornou o mundo dos homens; Deus, o Deus 
do homem; e a religião, apenas dentro dos limites da razão pura, como pretendia Kant. Daí 
porque o racionalismo, como doutrina filosófica, acabou incorporando em si todos os aspectos 
da cultura, onde a estrutura última da realidade compreendia a natureza com um “significado 
funcional” , e Deus como o grande arquiteto ou relojeiro que teria construído todas as coisas 
more geométrico. Esse racionalismo – bem o disse Berd Bornheim – levou a um estreitamento 
do homem e dos valores humanos essenciais. O direito, a moral, a arte, assim como a ciência e 
a filosofia, passaram a ser explicadas a partir de um princípio único, a razão. Montesquieu, no 
“Espírito das Leis”, entrega-se a uma codificação semelhante no plano das ciências jurídicas, 
realizando assim a mathesis universalis idealizada por Descartes. 
 O tempo, todavia, serviu para mostrar a equivocada postura cartesiana em 
relação aos animais, seres sensíveis como todas as criaturas vivas. Sabe-se hoje que a 
diferença entre um homem e um animal é apenas de grau, não de essência. Conforme os 
ensinamentos de Irvênia Prada, livre-docente da USP e especialista em neuroanatomia animal, 
o sistema límbico (responsável pelas emoções e sentimentos) é exatamente igual em todos os 
mamíferos. O ser humano, que possui o cérebro mais desenvolvido do que qualquer outro 
animal, tem o sistema límbico proporcionalmente reduzido, enquanto a área pré-frontal 
(responsável pelas funções mentais reflexivas) encontra-se bem mais expandida. Fato esse 
sugestivo de que as espécies, todas elas, estão em permanente processo evolutivo, possuindo – 
de acordo com sua natureza intrínseca – uma forma peculiar de inteligência, o que torna 
equivocada a distinção conceitual – e preconceituosa, inclusive - entre seres racionais e 
irracionais. Com relação aos critérios de avaliação da ocorrência de dor e/ou sofrimento em 
animais, explicou ela que a organização morfológica e funcional dos animais, particularmente 
os mamíferos, segue o mesmo modelo:estruturas nervosas que conduzem os estímulos 
nociceptivos (causadores de dor) até determinadas regiões do cérebro, ocasionando o 
sofrimento. E conclui: “Acima de todos os aspectos, sejam científicos, econômicos ou legais, 
há que ser levada em conta a ética, única opção compatível com a dignidade que pretendemos 
merecer, como seres humanos”. 
Interessante, nesse contexto, o posicionamento de Jeremias Benthan (“The 
Principles of Morals and Legislation”), ao afirmar que a razão humana e suas formas 
sofisticadas de expressão não podem servir de fundamento para negar direito aos animais. 
Mesmo porque, a título ilustrativo, um cão adulto é mais racional do que uma criança de um 
dia, um mês ou um ano de idade, ou do que um deficiente mental em patamar irreversível, e 
nem por isso tais pessoa têm seus direitos negados pela lei. A questão, portanto, não se 
restringe à capacidade de pensar ou de falar, mas à capacidade de sofrer: se os animais podem 
sentir dor, se também experimentam sensações de pânico, estresse ou angústia, por que aceitar 
– indiferentemente – seu sofrimento?
Seguindo essa linha de raciocínio o filósofo Peter Singer, autor de “Animal 
Liberation” – livro que representou um autêntico divisor de águas na área de proteção animal 
– sustenta que os animais, como criaturas sensíveis, podem ser considerados sob a perspectiva 
ética, propondo, para tanto, o alargamento dos horizontes morais do homem: “Hábito. Essa é a 
barreira final que o movimento de libertação animal enfrenta. Hábitos não só de alimentação, 
mas também de pensamento e linguagem, devem ser desafiados e modificados. Hábitos de 
pensamento nos levam a considerar descrições de crueldade contra animais como algo 
emocional, ou então consideram o problema tão banal em comparação com os problemas dos 
seres humanos, que nenhuma pessoa sensata poderia gastar seu tempo e atenção com ele. Isso 
também é um preconceito – como poderia alguém saber que um problema é banal enquanto 
não empregar seu tempo para avaliar-lhe a extensão?”.
A obra de Singer teve o mérito de ensejar uma reflexão mais aprofundada do 
tema, ao revelar o que existe por trás das atitudes e dos comportamentos humanos em relação 
às criaturas subjugadas. Expôs a face oculta da experimentação animal, denunciando a tortura 
praticada impunemente entre quatro paredes, sob os auspícios da deusa-ciência. E com a 
coragem de dizer que, cessando de criar e matar animais para consumo, o homem poderia 
produzir tanta comida – trigo, cereais e verduras – que, devidamente distribuída, acabaria com 
a fome do planeta. Porque libertação animal , conclui ele, é libertação humana também. Sobre 
o sentimento interior que existe em cada ser vivo refletiutambém Rousseau, em visão 
igualmente oposta à concepção cartesiana e enciclopedista que enxergava a natureza algo de 
exterior, de objetivo, de matematizado e racional. A idéia mecânica e racionalista – disse o 
autor de “Emílio ou da Desigualdade entre os Homens” - constitui grande fonte de erro porque 
vê a natureza através dos olhos da ciência, ou seja, como um produto da cultura dominante. 
Volta-se Rousseau à natureza, mas à natureza que devia ser compreendida a partir da 
interioridade de cada ser, tal como ela transparece nas “Rêveries du promeneur solitaire”, 
antecipando uma perspectiva cósmica: “Da superfície da terra elevava as minhas idéias a todos 
os seres da natureza, ao sistema universal das coisas, à unidade incompreensível que envolve 
tudo. Então, perdido o espírito nesta imensidão, não pensava, não raciocinava, não filosofava. 
Integrava-me, simplesmente, ao universo”.
Outro importante livro em favor dos animais foi escrito pelo professor italiano 
Piero Martinetti, que rebateu com categoria todas as teorias que negavam alma, sentimento, 
sensibilidade e inteligência a essas criaturas, conforme transparece nas singelas páginas de 
“Pietá verso gli animali”: “O animal é dotado tanto de intelecto quanto de consciência e, por 
isso, o seu sofrimento deve suscitar no homem uma profunda piedade. Não somente a conduta 
dos animais, mas seus próprios comportamentos, gestos e fisionomia revelam neles a 
existência de uma vida interior: uma vida talvez diversa e distante da nossa, mas dotada de 
consciência, de modo que não pode ser reduzida a um simples mecanismo fisiológico”.
Seu predecessor nessa interessante linha de pensamento, o professor de filosofia 
do direito Cesare Goretti, publicou na Itália, em 1928, um primoroso artigo – L´animale quale 
soggeto dio dirittio” – cujo mérito maior foi o de questionar, de modo pioneiro, por que o 
animal - ser vivente capaz de sofrer - é relegado à condição de objeto puramente passivo na 
relação jurídica. Se o animal é um ser vivente capaz de sofrer; se pode conectar causa e efeito 
e demonstrar sentimentos, por que não admiti-lo como sujeito de direito? Concluindo sua 
notável argumentação filosófica, no sentido de que o homem possui, a um só tempo, um 
dever jurídico e também moral em relação às demais criaturas, Cesare Goretti projeta novas 
luzes sobre o tema relacionado ao tratamento ético dos animais: “A vida consciente do animal 
se baseia em mecanismos que a fisiologia comparada faz bem em estudar; porém, não 
podemos deixar de considerar que a vida consciente dos animais não é um mecanismo, nem 
um tropismo, nem um reflexo. Ela é a vida espontânea, igual a que se desenvolve em nós, e 
nesse sentido devemos interpretá-la”. Lembrando, ainda, que “o exercício do direito não é uma 
condição essencial para a sua existência, deixou ele bastante clara a idéia de que o ato de 
maltratar um animal ofende um direito que existe (bem jurídico), ainda que o animal não tenha 
condições de fazê-lo valer. Esse texto, em suma, possui uma fundamental importância na 
postura humana em relação aos animais, abrindo o caminho para o reconhecimento deles 
como sujeitos com capacidade jurídica, não simplesmente como “bens” ou “objetos”. 
Postas estas considerações todas – biológicas, jurídicas, psicológicas e 
filosóficas – como admitir que este gatinho que se aninha dengoso sobre os papéis em nossa 
mesa de trabalho, que o cão companheiro que nos saúda festivamente a cada reencontro, que o 
pássaro que alça vôo rumo ao infinito, que a vaca que rumina sua solidão, que os porcos e 
galinhas que seguem resignados para a morte, que a baleia que se perpetua em obscuro canto, 
que a aranha que arquiteta sua teia ou, então, que essa pequena crisálida que se transforma em 
borboleta, não possam suscitar nossa compaixão, nosso senso moral e nossa postura ética, 
enfim, diante do espantoso milagre de suas existências? 
VI – Tutela jurídica dos oprimidos
“Todo ser vivente quer viver”, diria aquele caboclo da Chapada dos Veadeiros 
oportunamente mencionado por Antônio Herman Benjamin na epígrafe de seu original 
ensaio sobre o tema ( “A Natureza no direito brasileiro: coisa, sujeito ou nada disso”). De fato, 
se no curso da história transformam-se os valores e as percepções sociais, como se pode 
constatar na memória ainda recente do país - a escravidão e os direitos da mulher, assim 
como o paradigma antropocêntrico em relação ao ecocêntrico – por que ainda insistir no 
paradigma jurídico tradicional, onde apenas os homens podem figurar como sujeitos jurídicos? 
A proibição legal da crueldade contra os animais, asseverou Benjamin, demonstra que “nem 
toda a proteção ambiental é explicável pela perspectiva utilitarista do ser humano”. O 
imperativo ético existente nesses dispositivos relacionados à proteção animal, divergindo até 
certo ponto da orientação normativa ecológica, sugere um tratamento ético também em 
relação aos seres vivos não-humanos.
 
Quando se argumenta em favor de um estatuto ético que reconheça os animais 
não apenas pelo contexto ambiental (preservacionista ou conservacionista, pouco importa) 
relacionado aos ecossistemas, mas como seres sensíveis e, portanto, inseridos na esfera das 
preocupações morais humanas, logo surge a crucial pergunta: a quem toca a representação 
deles perante a justiça e a administração pública? E a resposta, invariavelmente, tende a 
apontar para a instituição mais capacitada a exercer esse mister: o Ministério Público. Não 
apenas em razão dos fundamentos jurídicos – artigo 129 da CF, artigo 2o, § 3o do Decreto 
24645/34 e artigo da LOMP – mas também pelo perfil institucional do Parquet, voltado à 
defesa dos interesses sociais indisponíveis e, porque não dizer, dos oprimidos. Antônio 
Augusto Camargo de Mello Ferraz, em lúcida reflexão sobre o papel do Ministério Público na 
busca de uma sociedade mais justa e mais livre, assim se manifestou: “A atual disciplina 
constitucional da Instituição dela faz, inegavelmente, um órgão do Estado incumbido da 
defesa dos interesses da sociedade. Pelo que se extrai do texto constitucional, o Ministério 
Público estará, dentre os vários segmentos que compõem o mosaico social, jungido a 
privilegiar aqueles menos favorecidos, mais carentes de justiça". Afirmar, todavia, que o 
destinatário dessa tutela seria apenas o ser humano, seria restringir demais o conceito de ética. 
Porque, para se realizar em sua essência, o discurso ético – no contexto dos seres vivos - deve 
ser formulado em termos amplos. 
 Ainda que, de início, qualquer cidadão tenha o poder de agir diante de uma 
hipótese de agressão, abuso ou maus tratos de animais, essa faculdade – em contrapartida - 
transforma-se em dever à autoridade pública. Se determinado sujeito afronta um preceito 
moral relacionado aos chamados bons costumes da sociedade, matando ou torturando animais, 
surge a consciência individual ou coletiva a reprovar esse tipo de conduta, mesmo que o fato 
típico não seja apurado ou punido pela Justiça. Desse modo, a ética referente aos animais está 
compreendida na própria idéia de direito natural, algo que existe independentemente do 
contexto jurídico, centrando seus fundamentos na “excelência espiritual” a que se referia o 
legislador e poeta Sólon. Assim se expressou Gilda N. M. de Barros, tradutora da obra desse 
ilustre pensador grego: “Sólon acreditava que a saúde de um organismo depende não só das 
instituições que o integram, mas também de cada membro da comunidade. Por isso,ele 
encontra na formação do caráter um meio mais seguro de garantir a manutenção do equilíbrio 
social. Sua teoria política se desenvolve a partir da idéia básica de que há uma íntima relação 
entre a ordem social e a conduta do indivíduo. De fato, segundo a tese solônica, o mais 
importante é a excelência espiritual obtida por cidadãos cultivados, qualquer que seja sua 
classe social”. 
Em profunda análise filosófica do tema, o professor Alvino Moser escreveu 
que quando se fala em Ética dos animais não se entende que eles tenham obrigação para com 
os homens, mas que seus direitos exigem as obrigações dos homens para com eles. Esse tipo 
de reflexão, portanto, levaria às seguintes questões: a) tem o homem alguma obrigação ético 
para com os animais? b) por seu lado como se pode falar em ética aos animais, dado o fato 
de que nada podem reivindicar? Se é comum alegar que há tanto desrespeito com os homens, 
com os marginalizados e com as crianças de rua, por que se preocupar com os direitos dos 
animais? Moser explica que, ao se refletir sobre o estatuto ético dos animais, não se está 
negando o estatuto ético dos homens, Ao contrário, é aquele uma pedra de toque deste. 
Assim sendo, qualquer pessoa do povo pode agir em defesa dos animais 
oprimidos, o que não deixa de ser uma legítima manifestação de cidadania. Fazendo 
campanhas de natureza pedagógica, admoestando aqueles que se descuram do dever de , 
acionando as entidades de proteção animal, provocando a ação policial diante de uma 
ocorrência de crueldade, ou, até mesmo, limitando-se a pequenos gestos de compaixão e 
solidariedade, é possível encontrar meios hábeis para suprir a incapacidade postulatória dos 
animais, que, mesmo possuindo uma personalidade sui generis, não têm meios de exercer seu 
direito, advindo daí o modelo de substituição processual a ser exercido por um curador. A 
Lei n. 7.347/85, aliás, defere a exercício da ação civil pública de responsabilidade por danos 
causados ao meio ambiente não apenas ao Ministério Público, à União, aos Estados e aos 
Municípios, mas a qualquer autarquia, empresa pública, fundação, sociedade de economia 
mista ou associação legalmente constituída (art. 5o). O que se vê em termos práticos, 
entretanto, é que os problemas envolvendo os animais – quando não negligenciados pela 
sociedade – ficam à espera de soluções buscadas por particulares, ainda que entidades de 
proteção, junto ao poder público (em regra a Promotoria de Justiça, principalmente após o 
cancelamento da Súmula 91 do STJ).
Resta indagar como o Ministério Público, no exercício de sua tutela da fauna 
silvestre, doméstica ou domesticada, nativa ou exótica poderia exercer, a contento, essa nobre 
missão. Para isso há que se buscar a própria feição social do moderno Parquet , cujo projeto 
democrático se põe contrariamente a todo tipo de violência ou opressão. E a luta contra a 
tirania, importante dizer, não distingue vítimas, porque se alinha a qualquer outra relevante 
questão moral ou social. Ninguém melhor do que Marcelo Pedroso Goulart para apresentar 
esse novo perfil institucional, onde o promotor-ombudsman substitui a figura anacrônica do 
acusador implacável: ”O papel fundamental que está reservado ao Ministério Público 
brasileiro, enquanto instituição, deve ser entendido na inteireza de sua função política, como 
canal de demandas sociais, a alargar o acesso à ordem jurídica justa. Tal empreitada supõe a 
criação de uma concepção alternativa de mundo, uma nova ideologia. Supõe a educação para o 
exercício da cidadania”. Daí porque essa legitimação social permite ao Órgão atuar sob ampla 
perspectiva, tanto em favor das pessoas, do ambiente natural, como em defesa dos animais. 
Em suma, os valores éticos que norteiam a moral e o direito, diante de uma hipótese típica de 
violência contra animais, fazem emergir – no contexto social - o interesse de agir ao órgão 
incumbido de exercer a tutela jurídica da fauna, qual seja, o Ministério Público.
Essa ação, em termos práticos, pode se concretizar no âmbito administrativo 
( protocolados, inquéritos civis e termos de ajustamento de conduta) e no plano processual 
( procedimentos cautelares, ação civil pública e denúncia criminal). Vale citar, apenas como 
exemplo, a instauração de procedimentos pedagógicos com vistas a advertir os condutores de 
carroça no sentido de que maltratar animais é conduta criminosa, a celebração de TAC com a 
municipalidade a fim de impedir o extermínio de cães errantes sadios nos centros de controle 
do zoonose e o ajuizamento de ações cautelares visando à retirada de animais silvestres 
submetidos a crueldade em circos itinerantes. Nessas três hipóteses o objeto jurídico tutelado 
pela ação da promotoria não é o resguardo do animal como integrante da fauna urbana ou bem 
ambiental de uso comum do povo, mas o respeito que se deve demonstrar em relação a uma 
criatura viva, sensível, capaz de exprimir emoções e sentimentos, enfim, o respeito à vida.
Poder-se-ia sugerir, ao membros do Ministério Público – no exercício de sua 
função de curadores dos animais, outras ações que se aproximariam do ideal de justiça 
permeadas pela ética da vida, a saber: opor-se aos espetáculos que utilizam animais para fins 
de diversão (rodeios, rinhas, vaquejadas); estimular a utilização de métodos substitutivos à 
experimentação animal, evitando, assim, que os animais padeçam inumeráveis sofrimentos em 
nome da ciência; a combater a criação de animais pelo método de confinamento industrial; a 
lutar contra o abate religioso ou ritual, que submete o animal a grande sofrimento devido à 
ausência de prévia insensibilização; atuar contra a caça, o contrabando de animais e a indústria 
de peles; opor-se à ação de órgãos públicos que exterminam animais de forma indiscriminada 
em nome da saúde pública; resgatar, em suma, a individualidade dos animais. 
 O direito seria a único caminho para atingir esse ideal de justiça? Respondendo 
à questão, Vânia Rall Daró – com toda cultura e sensibilidade que lhe são peculiares – mostra 
como atingir uma verdadeira consciência ética: “O direito não tem a capacidade de mudar um 
estado de coisas. A verdadeira modificação de comportamentos e de mentalidades decorre da 
educação, e não da força da lei. Daí a importância da Filosofia e da Moral para conduzir 
nossas ações, pois a primeira nos liberta dos nossos medos e a segunda aprimora nossas 
atitudes”. Afinal, existiria melhor síntese da ética que não a própria justiça? 
 Nestes tempos de perplexidade, onde a competição se sobrepõe à 
solidariedade, onde o prazer do consumo vale mais do que a vida consumida e onde a vaidade 
e a ambição esmagam as utopias, é preciso, mais que nunca, elevar-se. Elevar-se para enxergar 
a essência das coisas, não apenas suas aparências. Ver os animais como seres vivos sensíveis, 
e não como simples componentes da fauna.. Esse parece o caminho para que se aprenda a 
respeitar, enfim, a vida e o milagre de existir. 
* * *
C) CONCLUSÕES ARTICULADAS:
1. A filosofia antropocêntrica, seja pela concepção religiosa judaico-cristã, seja pela vertente 
materialista assentada no tripé ideológico capitalismo/racionalismo/cientificismo, 
contribuiu decisivamente para gerar o estigma da servidão animal.
2. A legislação brasileira de natureza privatista, ao tratar os animais como coisas (âmbito 
civil), objeto material (âmbito penal) ou recursos naturais (diplomas ecológicos), ressente-
se de maior amplitude ética, porque discriminae permite seja subjugado tudo o que não é 
humano.
3. Para que possa atingir sua realização plena, a justiça não se deve ater apenas ao direito 
positivo, mas considerar os valores morais e éticos da sociedade e os princípios do direito 
natural.
4. O bem jurídico do artigo 32 da Lei 9.605/98 – “Praticar ato de abuso, maus tratos, ferir 
ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos” – é o 
respeito devido aos animais, que figuram, nessa hipótese, como sujeitos passivos do crime.
5. O artigo 225 § 1º VII da CF, ao vedar as práticas que submetam os animais à crueldade, 
traz em si um imperativo ético que reconhece o animal como ser vivente capaz de sofrer, e 
não como objeto ou recurso natural, permitindo-lhe assumir a condição de sujeito jurídico.
6. Não se deve tratar os animais apenas sob a perspectiva ambiental faunística, mas por sua 
individualidade, como seres sensíveis que podem experimentar emoções, dores e 
sofrimentos. Há que se respeitar, portanto, os animais e a natureza enquanto tais, 
independentemente do contexto ecológico.
7. A diferença entre homens e animais, segundo os estudos morfológicos de neuroanatomia 
comparada e metodologia da dor, é apenas de grau, não de essência. Capazes de conectar 
causa e efeito e de demonstrar sentimentos de afeição, solidariedade e companheirismo, 
percebe-se neles elementos de uma consciência individual, e não somente instinto.
8. Incumbe ao MP, com fundamento nos artigos 129, I e III e 225 caput da CF e nos artigos 
1o e 2o § 3o do Decreto 24.645/34, exercer – no âmbito penal, civil e administrativo – a 
tutela jurídica dos animais, suprindo-lhes a incapacidade processual em face de 
ocorrências envolvendo agressões, abusos ou maus-tratos.
9. Dos imperativos morais existentes em nossa legislação faunística que veda a crueldade, é 
possível extrair a noção de ética para com os animais, reconhecendo-os por sua natureza 
intrínseca, e não apenas sob o enfoque ambiental.
10. Todos os animais têm direito à vida.
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Estar Animal, Embu, 2000. 
	I - O estigma da servidão
	II - Crítica da razão privatista
	III - Estatuto ético dos animais
	IV - Dos imperativos morais categóricos
	V – Animal-machine: o erro cientificista

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