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1 Introdução à Ciência e Tecnologia dos Materiais Difusão Cursos de Graduação em Engenharia de Produção e Engenharia Mecânica Por que estudar? � Muitas reações e processos que são importantes no tratamento de materiais dependem da difusão. � Definição: a difusão consiste no fenômeno de transporte de material pelo movimento dos átomos, em nível microscópico. � Ocorre no interior dos sólidos, líquidos ou gases. 2 Aplicações � Filtros para purificação de gases � Homogeneização de ligas com segregação � Modificação superficial de peças � Dopagem de semicondutores � Processadores de microcomputadores Aplicações: Cementação Engrenagem de aço que foi endurecida superficialmente. A camada mais externa da superfície foi endurecida seletivamente por tratamento térmico a alta temperatura, durante o qual o carbono da atmosfera circundante difundiu-se para o interior da superfície. 3 Aplicações: Coalescimento Efeito da temperatura de recozimento no tamanho de grão no latão: (a) 400 ºC (b) 650 ºC (c) 800 ºC. Um par de difusão cobre-níquel antes de ser submetido a um tratamento térmico a temperatura elevada. Representações esquemáticas das localizações dos átomos de Cu (círculos à esquerda) e Ni (círculos à direita) no interior do par de difusão. Gráfico das concentrações do Cu e do Ni em função da posição ao longo do par de difusão. A linha vermelha representa a concentração do Cu e a linha azul a do Ni. 4 Um par de difusão cobre-níquel após ser submetido a um tratamento térmico a temperatura elevada (T<Tfusão), mostrando a zona de difusão com formação de liga. Representações esquemáticas das localizações dos átomos de Cu (círculos vermelhos) e Ni (círculos azuis) no interior do par de difusão. Concentrações de cobre e níquel em função da posição ao longo do par de difusão. � Interdifusão: envolve a difusão dos átomos de um metal para o interior de um outro. � Movimento da região de maior concentração para a região de baixa concentração. Introdução 5 � Autodifusão: em metais puros, onde os átomos que mudam de posição são do mesmo tipo. Não pode ser acompanhada por mudanças na composição. Introdução Mecanismos de Difusão � De uma perspectiva atômica, a difusão é a migração passo a passo dos átomos de determinadas posições do reticulado cristalino para outras. � Para que isto ocorra: (1) Deve existir um sítio adjacente vazio; (2) O átomo deve possuir energia suficiente para quebrar as ligações atômicas com seus átomos vizinhos e causar distorção na rede durante o seu deslocamento. Essa energia é de natureza vibracional. ↑temperatura ↑energia vibracional 6 Mecanismos de Difusão � Existem dois mecanismos básicos de difusão de átomos em um sólido cristalino e ambos envolvem defeitos pontuais: - Mecanismo de difusão por lacunas (ou substitucional); - Mecanismo de difusão intersticial. Mecanismos de Difusão � Difusão por Lacunas: troca de um átomo de uma posição normal na rede para um sítio adjacente vago (lacuna). � A taxa de difusão depende do número de vazios e da energia de ativação para troca de posição; � O aumento da temperatura aumenta exponencialmente o número de lacunas e eleva a energia térmica disponível. Ou seja, a taxa de difusão aumenta com a temperatura. 7 Mecanismos de Difusão � Difusão por lacunas A movimentação do átomo ocorre em uma direção e a de lacunas ocorre na direção contrária. Mecanismos de Difusão � Difusão Intersticial: envolve átomos que migram de uma posição intersticial para uma posição intersticial vizinha que se encontra vazia. - Envolve átomos de impurezas (pequenos: H, C, N, O); - Mais rápida que a difusão por lacunas (átomos intersticiais são mais móveis e há mais interstícios); Exemplo: No caso do Fe-α a 500°C, a difusão dos átomos carbono é quase 109 vezes mais rápida do que a autodifusão dos átomos de ferro. 8 Mecanismos de Difusão � Difusão intersticial Não há deslocamento dos átomos da matriz. Mecanismos de Difusão En e rg ia Intersticial Lacunas 9 Fluxo de difusão � Difusão é um processo dependente do tempo. � O fluxo de difusão (J) é usado para determinar a velocidade com que a difusão ocorre. Corresponde à massa (ou, de forma equivalente, o número de átomos) M que se difunde por unidade de tempo (t) através de uma área unitária (A) perpendicular à direção do movimento da massa. ou - M: massa (kg ou número de átomos); - A: área da secção transversal (m2); - t: tempo (s). Difusão em regime estacionário � Fluxo de difusão não varia ao longo do tempo. Exemplo: difusão de um gás através de uma placa metálica para a qual as concentrações (ou pressões) do componente em difusão sobre ambas as superfícies da placa são iguais. Área Unitária 10 Difusão em regime estacionário � Quando a concentração (C) é plotada em função da posição (x) no interior do sólido, a curva resultante é denominada perfil de concentração. � A inclinação dessa curva corresponde ao gradiente de concentração, que indica a variação da composição do material com a distância (x). Gradiente de concentração = Difusão em regime estacionário e constante Placa fina de metal Gás à pressão PA Gás à pressão PB Direção de difusão dos gases c o n c e n tr a ç ã o posição Perfil linear de concentração 11 Difusão em regime estacionário Difusão em regime estacionário � Para processos de difusão em estado estacionário, a equação que correlaciona o fluxo de difusão J com o gradiente de concentração dC/dx é chamada de PRIMEIRA LEI DE FICK: � D: coeficiente de difusão (m²/s). Indica a taxa segundo a qual os átomos de difundem. � O sinal negativo indica que o fluxo ocorre na direção contrária ao aumento da concentração (da concentração mais alta para a mais baixa). � Força motriz (força que induz a ocorrência de uma reação): gradiente de concentração. 12 Exemplo 5.1 – Cálculo do fluxo de difusão � Uma placa de ferro está exposta a 700ºC a uma atmosfera carbonetante (rica em carbono) em um de seus lados e a uma atmosfera descarbonetante (deficiente em carbono) no outro lado. Se uma condição de regime estacionário é atingida, calcule o fluxo de difusão do carbono através da placa, dado que as concentrações de carbono nas posições a 5 e a 10 mm abaixo da superfície carbonetante são 1,2 e 0,8 kg/m3, respectivamente. Considere um coeficiente de difusão de 3x10-11 m2/s nessa temperatura. Exercício 5.6 – Purificação do gás hidrogênio � Calcule o número de quilogramas de hidrogênio que passa a cada hora através de uma lâmina de paládio com 6 mm de espessura, que possui uma área de 0,25 m2 e está a 600ºC. Considere um coeficiente de difusão de 1,7x10-8 m2/s, concentrações de hidrogênio à alta e à baixa pressão de 2,0 e 0,4 kg de hidrogênio por metro cúbico de paládio e que as condições de regime estacionário foram atingidas. 13 Exercício 5.7 � Uma chapa de aço com 2,5 mm de espessura está sob uma temperatura de 900ºC e sob uma atmosfera de nitrogênio em ambos os lados. Deixou-se atingir uma condição de difusão em regime estacionário. O coeficiente de difusão para o nitrogênio no aço a essa temperatura é de 1,2x10-10 m2/s e o fluxo de difusão foi determinado como de 1,0x10-7 kg/m2.s. Sabe-se também que a concentração de nitrogênio no aço, na superfície sob alta pressão é de 2 kg/m3. A que profundidade da chapa, a partir desse lado com pressão elevada, a concentração será de 0,5 kg/m3? Considere um perfilde concentração linear. Difusão em regime não-estacionário � A maioria das situações práticas envolvendo difusão ocorre em condições de ESTADO NÃO- ESTACIONÁRIO. � Na difusão em estado não-estacionário tanto o fluxo de difusão, quanto o gradiente de concentração, numa dada posição (x), variam com o tempo (t). Como resultado, ocorre um acúmulo ou esgotamento do componente que se encontra em difusão. 14 Difusão em regime não-estacionário Perfis de concentração em três instantes de tempo diferentes do processo de difusão. Difusão em regime não-estacionário � O fluxo de difusão e o gradiente de concentração em um ponto específico no sólido variam com o tempo. 15 Difusão em regime não-estacionário � Condições de contorno utilizadas na obtenção da solução apresentada no slide anterior: (1) Considera-se um sólido semi-infinito (nenhum dos átomos em difusão é capaz de atingir a extremidade oposta da barra durante o tempo do processo de difusão). (2) Antes da difusão, todos os átomos do soluto estão uniformemente distribuídos com uma concentração C0. (3) O valor de x na superfície é zero e aumenta com a distância no interior do sólido. (4) O tempo zero é tomado como o instante imediatamente anterior ao início do processo de difusão. Difusão em regime não-estacionário Tabulação de valores para a função Erro 16 Difusão em regime não-estacionário Exemplo 5.2 � Para algumas aplicações, torna-se necessário endurecer a superfície do aço a níveis superiores aos que existem em seu interior. Uma das maneiras de se conseguir isso é através de um aumento na concentração de carbono na superfície do material, através do processo denominado carbonetação. A peça de aço é exposta, sob uma temperatura elevada, a uma atmosfera rica em um hidrocarboneto gasoso, tal como o metano (CH4). 17 Exemplo 5.2 � Considere uma dessas ligas contendo uma concentração inicial uniforme de carbono de 0,25%p e que deve ser tratada a 950ºC. Se a concentração de carbono na superfície for repentinamente elevada e mantida em 1,20%p, quanto tempo será necessário para atingir um teor de carbono de 0,80%p em uma posição localizada a 0,5 mm abaixo da superfície? O coeficiente de difusão para o carbono no ferro sob essa temperatura é de 1,6x10-11 m2/s; considere a peça de aço como semi-infinita. Exercício 5.11 � Determine o tempo de carbonetação necessário para atingir uma concentração de carbono de 0,30%p em uma posição a 4 mm da superfície de uma liga ferro-carbono contendo inicialmente 0,10%p C. A concentração na superfície deve ser mantida em 0,90%p C e o tratamento conduzido a 1100ºC. Utilize os dados de difusão para o Fe-γ da Tabela 5.2. 18 Exercício 5.12 � Uma liga ferro-carbono CFC contendo inicialmente 0,55%p C está exposta a uma atmosfera rica em oxigênio e virtualmente isenta de carbono, à temperatura de 1325 K. Sob essas circunstâncias, o carbono se difunde da liga e reage na superfície com o oxigênio da atmosfera, ou seja, a concentração de carbono na superfície é mantida essencialmente 0%p C. Em qual posição a concentração de carbono será de 0,25%p C após um tratamento com 10 horas de duração? O valor de D, a 1325 K, é de 4,3x10-11 m2/s. Exercício 5.13 � O nitrogênio de uma fase gasosa deve se difundir para o interior de um ferro puro a 675ºC. Se a concentração superficial for mantida em 0,2%p N, qual será a concentração a 2 mm da superfície após 25 horas? O coeficiente de difusão para o nitrogênio no ferro, a 675ºC é de 1,9x10-11 m2/s. 19 Fatores que influenciam a difusão � Espécie em difusão Fatores que influenciam a difusão � Microestrutura Energias de ativação são geralmente menores para átomos difundindo através de estruturas cristalinas menos empacotadas (menor número de coordenação). C 32,9 kcal/mol N 34,6 kcal/mol H 10,3 kcal/mol C 20,9 kcal/mol N 18,3 kcal/mol H 3,6 kcal/mol CFC CCC Feγ α 20 Fatores que influenciam a difusão � Microestrutura � Geralmente a difusão ocorre mais facilmente em regiões estruturais menos restritivas. � A difusão ocorre mais rapidamente em materiais policristalinos do que em monocristais, devido à presença de contornos de grão e discordâncias nos primeiros. A presença desses defeitos facilita a difusão. Fatores que influenciam a difusão � Temperatura 21 Fatores que influenciam a difusão � Temperatura Fatores que influenciam a difusão � A energia de ativação pode ser considerada como a energia necessária para produzir o movimento difusivo de 1 mol de átomos. � Uma alta energia de ativação resulta em um coeficiente de difusão relativamente pequeno. 22 Energias de ativação para a autodifusão de alguns metais puros. Fatores que influenciam a difusão Quanto maior for a temperatura de fusão (maior energia de ligação), maior será a energia de ativação. Exercício 5.19 � A constante pré-exponencial e a energia de ativação para a difusão do cromo no níquel são de 1,1x10-4 m2/s e 272000 J/mol, respectivamente. Em qual temperatura o coeficiente de difusão irá possuir um valor de 1,2x10-14 m2/s? 23 Referências � Callister Jr, W.D. (2008) Ciência e Engenharia de Materiais: Uma Introdução. 7a ed. Rio de Janeiro. LTC Editora. 705 p. � Van Vlack, Lawrence H. Princípios de ciência dos materiais. Tradução de Luiz Paulo Camargo Ferrão. São Paulo: Edgard Blücher, 2004. 427p.
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