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Medicina Legal

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Energias Físicas 
 As energias físicas são aquelas que, incidindo sobre um corpo, são capazes de modificar o seu estado físico e provocar lesões corporais ou a morte. Também podem ser chamados de agentes físicos, pois consistem em objetos, coisas ou fenômenos capazes de causar um trauma. As energias físicas também podem se materializar através de um instrumento criminoso (Ex: incêndio criminoso,armas de choque, etc.) Existem vários tipos de agentes físicos. Podemos classificar os agentes físicos em: Calor; Eletricidade; Frio; Pressão; Radioatividade. 
Agente Físico:
 Calor 
 O calor pode lesar o corpo humano de diversas formas, dependendo da maneira como atinge a pessoa. 
 • TERMONOSES: são resultantes da ação do calor difuso sobre a superfície corporal causando um desequilíbrio hidroeletrolítico (desidratação) e uma falha dos centros termorreguladores , causando uma elevação constante da temperatura do corpo, queda de pressão arterial , aceleração do pulso e da respiração , levando à perda da consciência e até a morte. 
• Insolação: é causada pela exposição à luz solar (calor solar) . Não se exige exposição direta, pode ser indireta também (mesmo ao abrigo do sol é possível a insolação através da canícula). Via de regra tem natureza acidental (alcoolismo, vestuário inadequado, etc.) 
• Intermação: o calor age sobre o corpo em espaços confinados (calor industrial) sem arejamento . Pode ser acidental ou, excepcionalmente criminosa (Ex: fornalhas, caldeiras, bronzeadores artificiais, etc. ) 
• QUEIMADURAS: são resultantes da ação direta do calor, em qualquer de suas formas, em contato com o corpo, atuando sobre a pele ou sobre o organismo. A queimadura pode ser produzida através de: chama, sólido aquecido (metal incandescente), líquido aquecido, gás aquecido, etc. As queimaduras podem ser classificadas quanto a profundidade e extensão . A temperatura e o tempo de exposição serão relevantes para a natureza da queimadura. 
 Classificação quanto à profundidade (intensidade): 
• Queimaduras de 1º Grau: a pele fica avermelhada por causa da vasodilatação dos vasos sanguíneos da derme. Não há formação de cicatrizes, pois a camada geradora da pele não é atingida. 
• Queimaduras de 2º Grau: há um acumulo de líquido abaixo da epiderme com formação de bolhas (flictenas). No ser vivo, as bolhas detém um líquido seroso (plasma). No caso da queimadura “post mortem” não existe este líquido seroso nas flictenas .
 • Queimaduras de 3º Grau: ocorre morte celular da pele e tecidos moles, por coagulação, com formação de placas chamadas “escaras”. Esses tecidos são substituídos por outros, chamados de tecidos de granulação, resultante da cicatrização por segunda intenção (de dentro para fora). As cicatrizes são retrateis e queloides. 
• Queimaduras de 4º Grau: é a mais grave de todas, ocorrendo a destruição dos tecidos moles e até dos ossos por ação direta do calor através da carbonização que pode ser local ou generalizada. Na carbonização generalizada há uma redução do volume do corpo por condensação dos tecidos .
 Esta redução pode ocorrer até a fração de um terço do corpo que fica em “posição de lutador” , em face da semiflexão dos membros superiores e dedos em garra. A pele se torna enegrecida e rígida, com exposição dos dentes. Pela ação do calor, pode ocorrer amputação de segmentos do corpo. 
 O tempo para o cadáver adulto ser reduzido a cinzas é de aproximadamente uma hora e meia, duas horas (crianças de cinquenta a setenta minutos). Existem outras classificações por profundidade, estabelecendo limites em até o sexto grau (Dupuytren), no entanto, essas são as mais tradicionalmente aceitas. 
• Obs I: Nas carbonizações totais, a primeira preocupação é com a identificação do corpo . Neste caso, a arcada dentária é um importante elemento de identificação, já que os dentes não são destruídos. 
• Obs. II: A perícia também deve esclarecer se a morte foi por causa do fogo (ex: durante o incêndio) ou se o indivíduo estava morto quando alcançado pelas chamas. Verifica-se se a vítima respirou durante o incêndio através da presença de monóxido de carbono no sangue e fuligem nas vias respiratórias. Este procedimento é chamado de Sinal de Montalti. Além disso, as “bolhas” (flictenas) também são analisadas, verificando se elas possuem o conteúdo seroso, que está ausente no corpo do cadáver e presente no ser humano vivo (sinais de Janesie- Jeliac). 
Queimaduras por extensão:
 As queimaduras também podem ser classificadas por extensão, dependendo do percentual de comprometimento do corpo, da área vital comprometida e da idade da vítima. Um idoso ou uma criança com 5% ou 10% da área corporal atingida podem ser considerados grandes queimados. Um adulto, o percentual é 20% ou mais. 
 • Regra dos Nove (Pulaski e Tennison): é uma técnica onde se divide o corpo em frações correspondente a 9%, permitindo-se calcular com boa aproximação o percentual do corpo atingido. 
Cabeça : 9% Tronco (face posterior e anterior): 18% Membros superiores: 9% Membros inferiores: 18% Genitália externa: 1% 
Agente Físico:
Eletricidade 
 A eletricidade é uma energia física capaz de se transformar em calor ao passar pelo corpo, produzindo queimaduras, podendo levar a óbito. Condições individuais, tais como espessura da pele, umidade, resistência à corrente elétrica vão determinar o grau das lesões. Se a pele estiver molhada, oferecerá menor resistência à passagem da corrente elétrica, com lesões externas de menor gravidade, no entanto, a corrente passará com maior facilidade para o interior do corpo, acarretando sérios danos fisiológicos, podendo levar à morte por parada cardíaca. 
 Os danos ocasionados pela eletricidade podem ser classificados da seguinte forma: 
• ELETROPLESSÃO: É o dano corporal, com ou sem morte, desencadeado pela eletricidade artificial, doméstica ou industrial. Tem natureza acidental. A corrente elétrica determina lesões esbranquiçadas no ponto onde penetra o corpo, denominadas “Marcas elétricas de Jellinek” . A morte por eletroplessão admite três teorias 
• Morte por lesão cerebral: quando há uma grande descarga elétrica (acima de 1.200 volts) ; Morte por asfixia: correntes entre 120 e 1.200 volts que podem levar a uma paralisação dos músculos respiratórios e consequente parada respiratória; Morte por parada cardíaca: ocorre uma fibrilação ventricular quando uma corrente elétrica, mesmo de 120 volts, cruza o eixo do coração, alterando sua condição elétrica normal. 
• FULMINAÇÃO: É determinada pela eletricidade cósmica (natural - raio) levando a óbito. O efeito da descarga elétrica atmosférica sobre o organismo humano é instantânea. Causa grandes traumatismos, amputações de membros, ruptura de vasos sanguíneos, etc. 
• FULGURAÇÃO: quando o resultado da eletricidade cósmica sobre o corpo humano causa lesões corporais. Tais lesões tem aspecto de “folhas de samambaias” decorrentes de fenômenos vasomotores, são também conhecidas como marcas de Lichtemberg. 
• ELETROCUSSÃO: É a execução judicial em cadeira elétrica, muito praticada ao longo de anos nos EUA e abolida em 2003, sendo substituída pela injeção letal por questões de humanidade. Obs: as lesões por eletricidade dependem da frequência de voltagem e do trajeto da corrente. As correntes de baixa tensão (até 250 volts) não oferecem tanto perigo, mas, dependendo do trajeto pode levar a óbito, como ocorre na fibrilação ventricular. Além da marca elétrica que é o sinal de entrada da corrente elétrica no corpo, é possível encontrar ferimentos de saída, indicando onde a descarga elétrica deixou o corpo. A maioria dessas lesões encontram-se nós pés. 
Agente Físico: 
Frio 
A temperatura corporal mínima é de 31 º C . As lesões pelo frio são mais comuns em outros países. No Brasil, os casos envolvem o frio industrial (artificial): câmaras frigoríficas, geladeiras, congeladores, etc. Via de regra em questões acidentais. As lesões produzidas pelo frio são chamadas de: “geladuras”e possuem aspecto pálido evoluindo para uma lesão mais grave, chegando até a necrose. Guardam certa semelhança com as lesões produzidas por calor. Alguns autores chamam de “queimaduras pelo frio”. O frio produz lesões locais e sistêmicas. A morte por congelamento se dá em consequência à exposição a temperaturas atmosféricas muito baixas. Pode ocorrer em situações naturais ou industrias. 
 Podem ser classificadas em três graus: 
• Eritema: primeiro grau (vermelhidão em razão da vasoconstrição da pele) 
• Flictenas: segundo grau (bolhas similares à queimadura) 
• Gangrena: terceiro grau (morte tecidual); A gangrena leva a necrose, que significa morte do tecido, principalmente nas extremidades corpóreas: nariz, orelha, dedos, etc. Pode destruir parte ou todo o segmento. Quando ocorre nos pés são chamados de “pés de trincheira” (em alusão aos soldados da primeira guerra mundial).
 Os efeitos sistêmicos são oriundos da queda do metabolismo e da insuficiência circulatória que se instala efeitos que são agravados pela fadiga, inanição, idade avançada, alcoolismo, etc. (ex: mendigos em regiões frias, alpinistas perdidos na neve. ) 
Agente Físico:
 Pressão 
 A pressão atmosférica normal é de 760 mm de HG (milímetros de mercúrio) (pressão ao nível do mar) .A pressão pode causar alteração do organismo do homem. O corpo precisa de um tempo para se adaptar à pressão, podendo ocorrer lesões ou até a morte. O organismo humano está adaptado a suportar a pressão de uma atmosfera dentro dos padrões normais. Quando ocorre variações intensas de pressão, sem a necessária adaptação, alguns fenômenos podem ocorrer. 
Esses fenômenos são chamados genericamente de “Baropatias”. São eles: 
• HIPERBARISMO: é o aumento acentuado da pressão, comum nos mergulhadores. É chamado de “mal dos caixões” ou “doença do escafandro”, indicando sintomas de intoxicação pelo oxigênio, nitrogênio e gás carbônico. Quando o mergulhador retorna muito rápido à superfície há uma descompressão brusca formando bolhas de ar no sangue por causa da oxigenação realizada pelo cilindro de ar, que injeta mais ar nos pulmões à medida que a pressão aumenta. A cada 10 metros de profundidade há uma pressão equivalente a uma atmosfera e o volume de ar no organismo do mergulhador reduz pela metade. O volume de ar inspirado pelo mergulhador deve ser expirado gradativamente durante a subida para se evitar as lesões, que são chamadas de “barotraumas”. Os barotraumas podem se manifestar através da perfuração do tímpano, rompimento de alvéolos, embolia gasosa e até fraturas de dentes.
 • HIPOBARISMO: é produzido pela refração de ar em grandes altitudes. À medida que a altura aumenta, o nível de oxigênio diminui. Para compensar o organismo produz mais glóbulos vermelhos. Pode também ocorrer vazamento de líquido para os pulmões, ocasionando a morte por asfixia. Quando não há tempo para adaptação, ocorre aumento dos batimentos cardíacos, náuseas, diarreia, vômitos, problemas hematológicos (epistaxe: diminuição das hemácias), desmaios e até morte. • Tais problemas ocorrem em altitudes entre 4.600 m e 6.100 m. Esta espécie de “barotrauma” é chamada de “mal das montanhas” ou “mal dos aviadores”. 
Agente Físico:
 Radioatividade 
 As radiações podem causar lesões e morte. As principais fontes de radiação, segundo Genival França são: raios X (ondas eletromagnéticas), o rádio (partículas beta) e a energia atômica (aniquilação de partículas). Os efeitos da radiação no organismo são: alterações genéticas; vários tipos de câncer; alterações de células do sangue, produzindo hemorragias, queimaduras podendo atingir o nível ósseo. As queimaduras produzidas pela radiação são chamadas tecnicamente de radiotermites e adquirem aspectos de eritemas (vermelhidão) ou, dependendo da intensidade, se manifestam através de úlceras, havendo uma necrose constante, sem cicatrização levando a alterações genéticas e reprodutivas através da multiplicação de células cancerosas. 
Energias Químicas 
 As energias químicas são aquelas que atuam nos tecidos vivos através de substâncias que provocam alterações de natureza corporal, fisiológica ou psíquica, causando danos à saúde ou à vida da pessoa. As energias químicas também podem ser chamadas de agentes de ordem química, e atuam no organismo humano através da destruição (cáusticos ou corrosivos) ou por alterações metabólicas (venenos ou tóxicos) .Os agentes químicos atuam através de ações acidentais (acidente de trabalho) ou por intermédio de ação criminosa (homicídio por envenenamento ). 
 Agente Químico :
 Cáusticos 
 Os cáusticos ou corrosivos são substâncias químicas que provocam profunda desorganização dos tecidos vivos, quer por desidratação (coagulantes) quer por dissolução (liquefacientes). Os cáusticos (do grego “kaustikos” – aquilo que queima) destroem os tecidos vivos causando escaras secas e endurecidas ou lesões úmidas pelo amolecimento (liquefação) dos tecidos. 
 São exemplos de cáusticos: a soda, o ácido clorídrico, o ácido sulfúrico, etc. O acido sulfúrico também é chamado de vitríolo, de onde deriva a expressão “vitriolagem” para caracterizar as lesões cutâneas por agentes cáusticos ou corrosivos. A atuação dos agentes químicos corrosivos pode estar relacionada com homicídio, suicídio ou acidente. O arremesso de ácido na face, pescoço ou tórax podem causar lesões deformantes (lesão gravíssima – art. 129, § 2º IV CP). É comum o suicídio por ingestão de soda cáustica.
 Venenos 
 Existem várias definições para venenos ou tóxicos. São substâncias de qualquer natureza que, uma vez introduzidas no organismo e por ele assimiladas e metabolizadas, podem levar a danos à saúde física e mental. Dependendo da natureza ou da quantidade, em um plano genérico, tudo pode fazer mal à saúde, inclusive alimentos ou a própria água. E o inverso também é verdadeiro, pois, as drogas (remédios), em doses específicas podem fazer “bem” ao organismo. Para alguns a substância é veneno quando a “ação tóxica” é seu o efeito habitual. Os venenos possuem uma dose tóxica, capaz de produzir um dano (intoxicação) ou uma dose letal, capaz de matar.
 São exemplos de venenos: inseticidas e raticidas domésticos, agrotóxicos, substâncias medicinais, produtos inflamáveis, alguns tipos de cosméticos, etc. 
 Os envenenamentos podem ter etiologia acidental, suicida ou criminosa. O exame de local e a perícia toxicológica serão fundamentais para a comprovação do caso. As vias de penetração do veneno incluem o trato gastrointestinal , pele, mucosas, trato respiratório e sangue. Para firmar o diagnóstico de morte por envenenamento, a perícia deverá isolar, identificar e dosar, no sangue colhido, na urina, nas vísceras ou no tecido as substâncias tóxicas suspeitas
 • Existem várias classificações de envenenamentos. A mais simples é a seguinte:
 - Envenenamento por medicamentos (psicotrópicos, ansiolíticos ingeridos em larga escala); 
- Por produtos químicos (Estricnina; monóxido de carbono; cianeto; arsênico; chumbo; etc.); 
- Por plantas tóxicas (cicuta, ricino da mamona vermelha, etc.); 
- Por venenos de animais peçonhentos (cobras , aranhas, escorpiões, peixes venenosos, etc
Agentes Físico-Químicos
 Sob o título de energias de ordem fisico-química iremos estudar a ASFIXIOLOGIA FORENSE, abordando o capítulo da medicina legal que estuda as asfixias. Asfixia, do grego, “asphuksia” significa “falta de pulso”, utilizado mais comumente para apontar a falta de respiração. A maioria da doutrina conceitua asfixia como “supressão da respiração” (privação de ar). Tecnicamente pode ser conceituada como “a insuficiência de oxigenação sistêmica ocorrendo a diminuição do teor de oxigênio no sangue e nos tecidos, causando danos e podendo levar à morte”. 
 O termo “asfixia” é extremamente abrangente e pode englobar várias causas de morte. Para a medicina legal, interessa três espécies de asfixias: Primitiva; Violenta e Mecânica. 
• ASFIXIA PRIMITIVA: aquela que é causa primária da morte, parte-se do critériotemporal, onde a asfixia se apresenta como causa direta da morte (Asfixia Pura) e não como consequência de algum fenômeno orgânico prévio (doença cardíaca ou pulmonar, etc.). 
• ASFIXIA VIOLENTA: é o modo como a morte por asfixia se concretizou, por consequência de uma ação violenta, não natural. 
• ASFIXIA MECÂNICA: é classificada quanto ao meio, tratando-se da asfixia em que “ocorre a privação de oxigênio ocasionada por um obstáculo mecânico à penetração do ar atmosférico e criando um déficit da ventilação pulmonar, incompatível com a sobrevivência” (Hofmann).
 Para que a respiração ocorra normalmente, é necessário um ambiente gasoso externo com teor de oxigênio em torno de 21% livre de gases tóxicos. Abaixo de 7% pode levar a graves alterações orgânicas e abaixo de 3% causa a morte. O indivíduo deve estar em condições normais de respiração, ou seja, sem nenhum tipo de impedimento orgânico (expansibilidade pulmonar, movimentação toracodiafragmática e circulação sanguínea compatível para transportar oxigênio até os tecidos) sob pena de iniciar-se um processo asfíxico. 
- Sinais externos da asfixia: face cianótica (máscara equimótica azulada); globos oculares proeminentes (hemorragia na conjuntiva ocular); língua projetada; cogumelo de espuma (bolhas de espuma que cobre a boca).
- Sinais internos: sangue escuro nas cavidades cardíacas e acúmulo de sangue no fígado e rins. 
 Nos casos de asfixia mecânica, os pulmões ficam com pequenas manchas avermelhadas (hemorrágicas) que decorrem da alta pressão arterial provocada pelo aumento da concentração de gás carbônico no sangue. Tais manchas são chamadas de “Manchas de Tardieu”. Esses sinais podem variar dependendo da espécie de asfixia. O número de movimentos respiratórios diminui com a idade, sendo de, aproximadamente, 40 a 45 por minutos em crianças e 16 (aproximadamente) em adultos. 
Quanto aos movimentos respiratórios, existem as seguintes classificações:
- Eupneia: respiração normal;
- Bradpneia ou oligopneia: número de movimentos respiratórios diminuídos;
-Polipneia ou Hiperpneia: número de movimentos respiratórios aumentados; 
- Dispneia: dificuldade para respirar ou respiração difícil (grau máximo é chamado de ortopneia); 
- Apneia: parada respiratória. 
 O tempo total de asfixia é de aproximadamente 07 sete minutos, dependendo da idade e da capacidade pulmonar da vítima. No afogamento o processo é mais rápido (04 a 05 minutos). No enforcamento pode durar até 10 minutos. 
 No Direito Penal, o homicídio praticado através da asfixia, qualifica o crime (art. 121 § 2º, III CP).
 Existem os seguintes tipos de asfixia mecânica:
Enforcamento
 O enforcamento consiste na espécie de asfixia mecânica em que ocorre a constrição do pescoço por intermédio de uma força aplicada pelo próprio corpo que pende sob o laço. Segundo Del Campo é a constrição do pescoço por baraço mecânico (corda ou outro objeto similar) tracionado pela força do peso do próprio corpo da vítima. A força ativa distende o laço com o peso do indivíduo. O laço pode ser de cordas, arames, fios elétricos, lençóis, camisetas, cortinas, gravatas, cintos, correntes, etc. O enforcamento é meio mais comum para a prática do “suicídio”, mas também pode ser acidental ou criminoso. A morte, pelo enforcamento, também é uma forma de execução da pena de morte em vários países. O sulco do pescoço é um elemento extremamente importante para o diagnóstico do enforcamento. 
 O “sulco” (depressão linear na pele – lesão ou marca da corda na pele) no enforcamento tem as seguintes características: oblíquo e descontínuo, apergaminhado, com profundidade desigual (a profundidade do sulco é maior na região oposta ao nó), sendo interrompido na altura do nó.. O tipo de nó, a natureza e a largura do laço (material áspero, material mole, etc.), o número de voltas, o peso do corpo e o tempo de suspensão podem interferir nas características do sulco. A permanência do sulco é proporcional a consistência do laço e ao tempo de suspensão do corpo 
Dependendo da posição do nó, caso este venha a existir, o enforcamento é chamado de: 
• Enforcamento típico: o nó está situado na região posterior do pescoço (nuca);
 •Enforcamento atípico: na região anterior do pescoço ou na lateral. Quando não há nó (meio constritivo que pressione o pescoço para interromper a circulação), o enforcamento também é chamado de atípico.
 As veias jugulares podem ser bloqueadas com uma compressão local de 02 Kg; as artérias carótidas com 05 Kg; a traqueia fecha-se com 15 Kg.
 Para que ocorra, no enforcamento, um processo asfíxico, é necessária a compressão completa da traqueia. É também possível o fechamento da glote pela fratura da faringe. Não é necessário que o corpo fique completamente suspenso para a ocorrência do enforcamento. Quando o corpo permanece absolutamente suspenso, o enforcamento é chamado de enforcamento por suspensão completa. A morte pode acontecer mesmo quando a vítima permanece com os pés apoiados ao solo. É chamado de enforcamento por suspensão incompleta. 
 A morte por enforcamento ocorre:
- Pela asfixia mecânica: quando a constrição do pescoço bloqueia as vias respiratórias, produzindo a morte;
- Por inibição: a constrição do pescoço lesa os nervos e a carótida, determinando uma parada cardiorrespiratória e a consequente morte;
- Por obstrução da circulação: a pressão exercida no pescoço interrompe a circulação sanguínea para o cérebro, ocasionando a morte. 
Estrangulamento
É a constrição do pescoço por corda ou outro mecanismo acionado por força estranha ao peso da pessoa.Caracteriza-se pela constrição através de um laço ou mecanismo similar acionado por qualquer força ativa (chave de braço, gravata, etc.), que não seja o peso do corpo da vítima, com obstrução da passagem de ar para os pulmões, interrupção da circulação cerebral e compressão dos nervos do pescoço. O estrangulamento é comum nos homicídios, mas é possível também no suicídio (auto estrangulamento através de um torniquete) e na execução por intermédio do “garrote vil”. 
 O sulco do estrangulamento é transversal e horizontal, contínuo (não há nó típico no enforcamento) e homogêneo em relação à profundidade (inexiste a ação do peso do corpo); Pode ter mais uma volta e também é apergaminhado (com lábios iguais). 
Esganadura 
 É a asfixia mecânica pela constrição do pescoço produzida pela ação direta das mãos do agente. O aperto do pescoço pelas mãos do agente impede a passagem de ar pelas vias aéreas. A esganadura é uma asfixia essencialmente homicida, via de regra existindo superioridade de forças. A esganadura é comum no infanticídio e nos estupros qualificados pela morte. A doutrina médica afasta o suicídio na esganadura. Não existe sulco na esganadura. No seu lugar existem os chamados “estigmas ungueais” que são as marcas das unhas no pescoço da vítima (região ântero-lateral). É possível também encontrar equimoses localizadas bilateralmente na região do pescoço, correspondendo a ação compressiva dos dedos das mãos do agressor. A morte decorre da compressão do pescoço (inibição vagal) e consequente asfixia, podendo ocorrer a fratura do osso hioide
Afogamento 
 O afogamento é a espécie de asfixia em que ocorre a penetração de um meio líquido (água) ou semilíquido (lama) nas vias aéreas da vítima, impedindo a passagem do ar até os pulmões. Não há necessidade de imersão total do corpo, bastando que as vias aéreas (orifícios respiratórios) estejam submersas, impedindo a respiração. A maioria dos afogamentos são acidentais, havendo casos de homicídio e de suicídio também. O crime de tortura pode ser praticado por intermédio do afogamento (ex.: caldo). Segundo a doutrina médica, existem dois tipos de afogados: o afogado azul (afogado real, que morreu em razão do afogamento, com sinais externos e internos típicos do afogamento) e o afogado branco (afogado falso, ou seja, consistente na hipótese em que o corpo foi atirado sem vida na água) .
 • FASES DO AFOGAMENTO: 
Segundo Hoffman, a morte por afogamento é constituída de trêsfases:
 1ª Fase de Defesa ou Resistência: a vítima tenta conter a respiração o máximo possível, ocorrendo a contenção e a pausa, ou suspensão da respiração (apneia);
 2ª Fase de Exaustão: ocorre atos respiratórios desordenados (respiração forçada e difícil), por reflexo, a vítima começa a inspirar líquido profundamente (dispneia); 
3ª Fase de Asfixia: a vítima perde a consciência, tem convulsões e morre.
 Outros autores estabelecem etapas diferentes do afogamento. Ponsold descreve cinco etapas:
 1ª Fase: ao cair na água, a primeira reação da pessoa é efetuar uma inspiração profunda, antes de afundar;
 2ª Fase: há uma pausa respiratória voluntária (apneia inicial) para impedir a entrada de líquido nas vias respiratórias;
 3ª Fase: o aumento de gás carbônico provoca irritação dos centros nervosos, obrigando a vítima a fazer uma respiração forçada (dispneia); 
4ª Fase: começam a ocorrer convulsões asfíxicas em razão da inspiração de líquidos e estímulo dos centros nervosos;
5ª Fase: há uma parada respiratória, a boca se abre e o corpo se encolhe, constituindo uma respiração agônica e anoxia cerebral irreversível, provocando a morte. 
 O processo de afogamento pode levar em torno de 05 a 10 minutos, dependendo da resistência individual da vítima e do tipo de líquido onde há a imersão. 
• SINAIS PRINCIPAIS DO AFOGAMENTO: 
Os achados necroscópicos frequentes no afogamento são: 
Sinais externos : Pele anserina (enrugamento da pele, comumente chamado de “pele de galinha” (sinal de Bernt); Maceração epidermica: a epiderme fica infiltrada de água, com aspecto esbranquiçado e rugosos (principalmente mãos e pés); Cianose da face: o rosto fica com coloração azulada /verde ou enegrecida (presente em todas as espécies de asfixias); Cristais e areias sob as unhas; Genitália externa aumentada de volume (genitália gigantoide); Lesões de arrasto: pelo embate do corpo no leito do curso da água (nos pés, joelhos, mãos e cabeça); Cogumelo de espuma: formação de espuma na boca em razão da secreção das vias aéreas; Lesões “post mortem” produzidas por peixes ou outros animais aquáticos.
 Sinais internos: Diluição do sangue (em razão da ingestão de grande quantidade de líquido); Presença de água no estômago; Enfisema hidroaéreo do pulmão; Manchas de “Paltauf” (hemorragias pleurais no pulmão); Presença de plâncton e água nas vias respiratórias (nariz e boca); Presença de líquido nos ouvidos. 
Sufocação 
 A sufocação é a asfixia mecânica decorrente do bloqueio direto ou indireto das vias respiratórias, impedindo a penetração do ar. 
• SUFOCAÇÃO DIRETA: é a obstrução dos orifícios externos respiratórios (nariz e boca), através das próprias mãos ou por intermédio de agentes moles (panos, travesseiros, almofadas, etc.) de origem homicida. Também pode ocorrer através da aspiração de corpos estranhos (obstrução acidental), tais como alimentos, brinquedos, moedas, pequenos objetos, etc. Neste caso, há oclusão das vias respiratórias internas (traquéia, bônquios, etc.) 
• SUFOCAÇÃO INDIRETA: ocorre através da compressão do tórax em grau suficiente para impedir os movimentos respiratórios e levando à asfixia. Pode ser acidental (sufocação por grandes multidões, acidentes de trabalho) ou criminosa. A sufocação tem como sinal a máscara equimótica (cianose); nos casos de sufocação direta acidental, o objeto estranho pode ser encontrado no interior das vias aéreas (ex: traqueia). Na indireta é possível lesões no esqueleto torácico e vísceras. 
Soterramento 
 Soterramento é a asfixia mecânica decorrente da obstrução das vias respiratórias por terra ou substâncias sólidas ou poeirentas (pó, cimento, areia, grãos, cascalho, etc.) Normalmente é acidental, mas pode ser homicida ou suicida. A situação mais frequente envolve desmoronamento ou o desabamento. Nos achados necroscópicos é possível encontrar substâncias sólidas no interior das vias respiratórias, na boca, no esôfago. Também estão presentes os sinais gerais da asfixia. No soterrado, também se encontram lesões traumáticas de várias espécies, principalmente nas hipóteses de desabamento e desmoronamento, onde, por vezes, tais lesões, por si só, já causam o óbito da vítima (traumas de crânio, lesões no tórax, etc.). 
Confinamento 
 Caracteriza-se pela permanência da pessoa em uma área restrita e fechada (ex. elevadores, celas, carros, caixas, etc.) sem haver renovação do ar ambiente, com consumo progressivo de oxigênio, aumento gradativo do gás carbônico, elevação da temperatura e saturação do ambiente, causando a asfixia da vítima. Na maioria das vezes o confinamento é acidental, mas também pode ser homicida ou suicida. Além dos sinais gerais da asfixia, podem ser vistas algumas lesões produzidas em ações desesperadas da vítima, como escoriações no pescoço, desgastes das unhas, ferimentos na face, etc. 
 Asfixia por monóxido de carbono 
 A ação do monóxido de carbono (CO) pode causar asfixia. Isto porque quando inalado demasiadamente se fixa na hemoglobina do sangue impedindo, criando a “carboxiemoglobina”, levando à hematose que causa a asfixia tecidual. Segundo a doutrina médica não é uma intoxicação, mas uma asfixia. É muito comum em suicídio (abertura do gás para morrer) mas também existem muitos casos acidentais. O diagnóstico deste tipo de asfixia se faz quando o sangue periciado da vítima apresenta uma taxa entre 75 a 90% de carboxiemoglobina. Assim, há necessidade de perícia hematológica para a confirmação do diagnóstico. 
 Os achados necroscópicos indicam: rigidez precoce; face rosada; sangue avermelhada em razão do monóxido de carbono; putrefação tardia. 
Energias Bioquímicas (Agentes mistos) 
 São aquelas que se manifestam de modo combinado, envolvendo fatores orgânicos e químicos. Alguns autores chamam de agentes mistos, pois incluem uma série de eventos que não são atribuíveis a somente uma causa. Há um fator relacionado com o excesso ou com a falta de alguma substância no organismo que interfere no estado de saúde da vítima, alterando sua capacidade de resistência. As energias bioquímicas podem atuar de forma negativa ou positiva, através da inanição ou das intoxicações. 
• INANIÇÃO: para sobreviver e ter um desenvolvimento completo e sadio, o ser humano precisa de uma alimentação balanceada, rica em nutrientes fundamentais: carboidratos, proteínas, gorduras, vitaminas, sais minerais e água. 
 A ausência prolongada destes nutrientes podem causar transtornos ao organismo. A fome se manifesta após 24 horas de alimentação (média). Uma pessoa normal consegue resistir de 07 até 10 dias ingerindo apenas água. A desidratação decorre das alterações da concentração dos líquidos corporais em consequência de perdas de água. A inanição é o enfraquecimento extremo por falta ou redução exagerada de alimentos imprescindíveis para a sobrevivência humana. Sua etiologia pode ser acidental, voluntária, econômica, criminosa, etc. 
• Inanição acidental pode ocorrer quando a pessoa fica presa por vários dias em algum lugar onde não tem acesso a alimentos ou água (quedas em buracos);
 •Inanição voluntária pode ocorrer em situações de protesto (greve de fome) ;
 •Inanição econômica é comum em países pobres onde predomina a miséria; 
• Inanição criminosas pode ser observada em situações em que crianças, velhos ou enfermos são abandonados sem alimentos (ex.: infanticídio, abandono material, etc.) 
 O grau máximo de inanição é chamado de “caqueixa”, que normalmente evolui para a morte. 
 INTOXICAÇÕES ALIMENTARES: as intoxicações alimentares ocorrem quando os alimentos ingeridos contém alguma substância ou microorganismo prejudicial à saúde. As intoxicações alimentares mais comuns são a salmonelose e o botulismo, que tem como sintomatologia o vômito, a diarreia, etc. A etiologia mais comem é a acidental, quando a vítima ingere alimentos contaminados. 
INFECÇÕES: são perturbações causadas por organismos patogênicos (bactérias, fungos, vírus, etc.) podendo causar inúmeros malefícios ao homem. As infecções são, via de regra, acidentais. No entanto, existemcrimes específicos descritos no Código Penal (art. 130 do CP perigo de contágio venéreo e art. 131 CP perigo de contágio de moléstia grave). 
FADIGA: é o conjunto de sintomas experimentados pelo organismo humano em razão de um regime de trabalho ou de um esforço que vai além da capacidade normal de resistência. Pode ser fadiga aguda ou crônica. Na fadiga aguda, a vítima realiza atividades físicas em excesso, de forma contínua, excedendo os limites orgânicos (ex: maratonas). Na fadiga crônica, a vítima não permite ao seu corpo o tempo de repouso e recuperação necessários, minando a resistência orgânica (estresse ou estafa). Os sintomas incluem a taquicardia, palpitações, depressão, insônia, diminuição da capacidade mental, etc. 
 DOENÇAS PARASITÁRIAS (agentes biológicos): existem dois tipos de parasitas, os ectoparasitas e os endoparasitas. Os ectoparasitas vivem na superfície do corpo do hospedeiro, incluindo as aberturas e as cavidades naturais do corpo humano (fossas nasais, ouvidos, boca, ânus, olhos, etc.)
 São exemplos: escabiose (sarna); miíases (conhecidas vulgarmente por bicheiras); infestações por carrapatos, piolhos, pulgas, etc. 
Os ectoparasitas podem levar o hospedeiro, dependendo do grau de infestação, a um desconforto crônico, ocasionando o estresse. 
 Os endoparasitas são aqueles que habitam órgãos ou sistemas de órgãos, ou o interior dos tecidos. Se dividem em dois grupos: os helmintos e os protozoários e são responsáveis por várias doenças, tais como a Doença de Chagas, a malária, a leishmaniose, a esquistossomose, infestações por tênia , etc. 
 Os ectoparasitas podem ser vetores de endoparasitas, como por exemplo a pulga do rato que transmite e peste bubônica
EMOÇÃO VIOLENTA E REPENTINA: a emoção pode causar uma morte mediata, ou seja, quando o trauma psíquico desencadeia uma doença subjacente, como o infarto. 
 SEVÍCIAS: são várias modalidades de agressões caracterizando energias de ordem mista. Envolvem, segundo a doutrina médica, três situações: a Síndrome da criança maltratada, a Síndrome do ancião maltratado e a tortura. Síndrome da criança maltratada: também é chamada de síndrome da criança espancada ou síndrome de Silverman. Compreende um conjunto de lesões externas e internas apresentados por crianças submetidas a espancamentos, prisão, queimadura e outras sevícias (maus-tratos). A tipificação está prevista no Código Penal (art. 136) e no Estatuto da Criança e Adolescente (Lei n 8069/90).
Em regra, os próprios pais ou alguém da família cometem as sevícias. Em geral, detém as seguintes características:
 • Atinge crianças na primeira infância (até os 04 anos);
 • Lesões variadas em múltiplas regiões do corpo; 
• Lesões produzidas em épocas diversas;
 • Abuso no meio de correção, castigos corporais, privação de alimentos, abuso emocional, abuso sexual, etc.
 - Fatores existentes: pobreza, deficiência física e mental da criança, dependência química dos pais, etc.
 • Síndrome do ancião maltratado: O idoso, pela sua condição física, torna-se presa fácil dos agressores. São comuns os maus-tratos, o abandono, agressões físicas e psicológicas. Também é uma espécie de violência familiar, sendo também observada com frequência em hospitais, casas de repouso, asilos, etc. (Estatuto do Idoso Lei 10.741/03). 
TORTURA
 A tortura, no Brasil, está tipificada no art. 1º da Lei 9.455/97. Em resumo, tortura significa constranger a vítima a suportar um intenso sofrimento físico e psicológico (suplícios e dor) com a finalidade de fazê- la confessar algo ou prestar alguma informação ou firmar uma declaração. A tortura também pode ter natureza discriminatória (racial, religiosa, social, etc.) Existem vários métodos de tortura (choques elétricos, submersão em água, extração de dentes, lesões sob a unha, etc.). 
 A perícia, na tortura, é sempre muito difícil, pois quase sempre é praticada com a preocupação de não deixar vestígios. Os torturadores são pessoas, por vezes, treinadas, com habilidade e técnicas para se torturar. Os sobreviventes da tortura, além de sequelas físicas, também ficam acometidos de consequências psicológicas, tais como a síndrome pós-tortura, caracterizada por imagens recorrentes dos suplícios aplicados (desorientação, irritabilidade, isolamento, tendências suicidas, etc.) Alguns métodos de tortura são empregados comumente: “pau-de-arara”, “pimentinha”, “afogamento”, “cadeira do dragão”, “telefone”, dentre vários outros. 
Ferimentos produzidos por projéteis de arma de fogo
Noções de Balística 
Quando nos referimos aos tipos de instrumentos que podem produzir lesões no homem, citamos os perfuro-contundentes, isto é, aqueles que perfuram e contundem simultaneamente, e demos como exemplo as lesões causadas pelas “armas de fogo”. 
 Agora trataremos das lesões perfurocontusas, ou seja, aquelas produzidas por arma de fogo, porém, trataremos da superficialmente da “Balística Forense” para interpretar com melhor propriedade alguns conceitos de medicina legal. 
Conceito de Balística 
Trata-se da disciplina que estuda basicamente as armas de fogo, as munições, os fenômenos e os efeitos de seus disparos, com finalidade de auxiliar o Poder Judiciário. Portanto, podemos dizer que a Balística: “é a parte do conhecimento criminalístico e médico-legal que tem por objeto especial o estudo das armas de fogo, da munição e dos fenômenos e efeitos próprios dos tiros dessas armas, no que tiverem de útil ao esclarecimento e à prova de questões de fato, no interesse da justiça”. (Eraldo Rabello) 
Armas de fogo
Conceitualmente, armas de fogo são engenhos mecânicos destinados a lançar projéteis no espaço pela ação da força expansiva dos gases oriundos da combustão da pólvora. Sua principal característica é a de aproveitar a grande quantidade de gases oriundos da reação química de combustão da pólvora (propelente), para obtenção de energia mecânica e consequente arremesso do projétil. (Del Campo)
 Revólver 
 O revolver pode ser definido como uma arma curta, de repetição, não automática. O comprimento do cano, o número de raias e sua direção, capacidade do tambor e o tipo de mecanismo, variam de arma para arma e são particularidades que servem para sua identificação. Na imagem acima observamos um típico revólver calibre 38, cuja característica principal é a de apresentar um único cano e várias câmaras de combustão (tambor). (Cristiano Arantes) 
O mecanismo de ação de um revólver ocorre da seguinte forma: o disparo ocorre quando o cão é liberado pela pressão ao gatilho e seu percussor atinge a espoleta na base do cartucho, iniciando o processo de disparo do projétil. Na sequência, para a realização de um segundo disparo, novamente é pressionado o gatilho que afasta o cão e ao mesmo tempo rotaciona o tambor, alinhando nova câmara de combustão (carregada com outro cartucho), e o processo se repete. 
Desta forma, os revólveres podem funcionar em ação simples ou dupla: a. Na ação simples o agente recua manualmente o cão até sua posição máxima posterior, engatilhando a arma, bastando leve pressão no atilho para que este (cão) se libere, o que irá produzir o disparo. b. Na ação dupla, o agente pela pressão ao gatilho faz com que o cão recue em um primeiro estágio, ao mesmo tempo em que o tambor é rotacionado, e em segundo momento libera o cão para o disparo, tudo em uma única sequência. Exemplo de revólveres: Calibre 22, 32, 38, Magnum 44, etc.
Revolver 
 2.2 Pistolas semiautomáticas
A pistola é uma arma de fogo portátil, leve, de cano curto, raiado e que se pode manejar com uma só mão. É uma arma pequena e de fácil manuseio, feita originalmente para uso pessoal (uso por uma pessoa) em ações de pequeno alcance. Definida também como arma curta, as pistolas apresentam as mesmas características dos revólveres, porém com diferença básica de não possuírem tambor e sim pente de alimentação da câmara de combustão única. Por essa característica são chamadas de semiautomáticas, em face de usarem os gases do disparo anterior para ejetar o cartucho disparado e recarregar um novoem sua câmara de combustão. (Cristiano Arantes)
No revólver esta força é perdida uma vez que a culatra é fixa e serve apenas para impedir que o estojo saia pela parte de trás, já as pistolas utilizam-se desta força, levando para trás o ferrolho, como dito, retiram e ejetam o cartucho velho e pela força da mola existente no pente posicionam novo projétil, em uma única e rápida sequência, deixando o cão em posição engatilhado. Bastando, desta forma leve pressão no gatilho para novo disparo. (Del Campo). Existem também alguns modelos totalmente automáticos, que podem disparar vários tiros enquanto se mantiver o gatilho pressionado. Exemplos de pistolas: Glock (Áustria); .40 (Smith & Wesson); 9mm (Mauser) 
 Obs: Existe uma espécie de classificação de armas que é pelo calibre da arma. Calibre é a medida utilizada para indicar o diâmetro interno do cano e a munição correspondente. Calibre nominal é o valor empregado comercialmente e Calibre real é a medida efetiva do diâmetro interno do cano. Existem vários sistemas, o mais conhecido é o americano (Ex: 22, 32, 38, 44 etc.) e o sistema métrico (ex: 9mm, 7.65 mm, etc.)
2.3 Escopeta e Espingarda 
 O termo escopeta é designado às armas de cano curto e grosso calibre e alma lisa, ou seja, cano sem raias (diferente dos revólveres e pistolas que os tem raiado), e segundo leciona Del Campo, o termo espingarda é para as de cano longo, alma lisa e calibres menores. Geralmente de uso militar ou bélico, possui normalmente um único barril de tiro e um recarregador externo que deve ser acionado manualmente para preparar o próximo disparo. Costuma-se referir às escopetas como a famosa “12”, uma alusão ao conhecido modelo PKS-12. 
O que no Brasil denomina-se espingarda recebe o nome de caçadeira em Portugal, lá, espingarda é o mesmo que fuzil para os brasileiros. Seu nome deriva do francês “espingarde”, que designa qualquer arma de cano longo e alma lisa. No Brasil a espingarda é uma arma longa, de cano não raiado, de nome popular “cartucheira”. Utiliza, em geral, munições carregadas com múltiplos “balins” esféricos de chumbo, mas, dependendo da finalidade, podem empregar também projétil singular (balote). 
Outras armas de fogo 
Carabina: origem italiana, é uma arma portátil e de repetição, com cano longo e de alma raiada. O cano mede entre 45 cm a 51 cm. Seu comprimento menor, o a faz diferente das espingardas e escopetas. A alimentação e o carregamento das carabinas são feitos pelo sistema de alavanca. 
 Rifle: são armas longas, portáteis, de carregamento manual (não automático) ou de repetição, cano longo e de alma raiada. O rifle é maior que a carabina (o cano tem aproximadamente 61 cm). O rifle possui dois canos e o sistema de carregamento é por alavanca e pode ser também semiautomático 
Fuzil: é uma arma longa, portátil e automática, com alma raiada, calibre potente e que tem, normalmente, uso militar. Tem uma cadência de tiro entre 650 a 750 disparos por minuto Ex: Ak 47 (Russo), Fal (Belga), AR15 - M16 (EUA).
3.Munição 
O termo munição é o que designa o cartucho como um todo considerado. Este é composto por: 1- Estojo; 2- Espoleta (com mistura iniciadora) 3- Pólvora (propelente) 4- Projétil (propriamente dito) 5- Embuchamento (casos de armas de alma lisa).Assim, munição é o conjunto de cartuchos necessários ou disponíveis para uma arma ou uma ação qualquer em que serão usadas arma de fogo. Cartucho é o conjunto do projétil e os componentes necessários para lançá-lo, no disparo.
3.1 Estojo
Trata-se de um componente indispensável às armas modernas. O estojo possibilita que todos os componentes necessários ao disparo fiquem unidos em uma peça facilitando o manejo da arma e acelera o intervalo em cada disparo. Atualmente, a maioria dos estojos são construídos em metais não-ferrosos, principalmente o latão (liga de Cobre e Zinco – CuZn), mas também são encontrados estojos construídos com diversos tipos de materiais como plásticos (munição de treinamento e de espingardas), papelão (espingardas) e outros. A forma do estojo é muito importante, pois as armas modernas são construídas de forma a aproveitar as suas características físicas.
 3.2 Espoleta (com mistura iniciadora) 
A espoleta é um recipiente que contém a mistura detonante e iniciadora. A mistura detonante, é um composto que queima com facilidade, bastando o atrito gerado pelo amassamento da espoleta contra a bigorna, provocada pelo percussor (cão). A queima dessa mistura gera calor, que passa para o propelente, através de pequenos furos no estojo, chamados eventos. 
 3.3 Pólvora (propelente) 
Propelente ou carga de projeção é a fonte de energia química capaz de arremessar o projétil a frente, imprimindo-lhe grande velocidade, aumentada pelos raios do cano que o faz girar sobre seu próprio eixo de forma a romper mais facilmente a resistência do ar. A energia é produzida pelos gases resultantes da queima do propelente, que possuem volume muito maior que o sólido original e seu rápido aumento de volume de matéria no interior do estojo gera grande pressão para impulsionar o projétil. A queima do propelente no interior do estojo, gera pressão suficiente para destacar o projétil e avançá-lo pelo cano, sem causar danos à arma. Atualmente, o propelente usado nos cartuchos é a pólvora química ou pólvora sem fumaça. Desenvolvida no final do século passado, substituiu com grande eficiência a pólvora negra, que hoje é usada apenas em velhas armas de caça e réplicas. Esse tipo de pólvora produz pouca fumaça e muito menos resíduos que sua precursora, além de ser capaz de gerar muito mais pressão, com pequenas quantidades. 
 Dois tipos de pólvoras sem fumaça são utilizadas atualmente em armas de defesa: 1. Pólvora de base simples: fabricada a base de nitrocelulose, gera menos calor durante a queima, aumentando a durabilidade da arma; e 2. Pólvora de base dupla: fabricada com nitrocelulose e nitroglicerina, que tem maior conteúdo energético. O uso de ambos tipos de pólvora é muito difundido e a munição de um mesmo calibre pode ser fabricada com um ou outro tipo. 
 3.4 Projétil 
 O projétil é o que conhecemos vulgarmente por “bala”. Os primeiros foram esféricos, hoje, os projéteis podem ser de inúmeros tipos: cilíndricos, cônicos, ogivais, etc.Projétil é qualquer objeto sólido que pode ser ou foi arremessado, lançado. No universo das armas de defesa, o projétil é a parte do cartucho que será lançada através do cano. 
 O projétil pode ser dividido em três partes: 
Ponta: parte superior do projétil, fica presa sempre exposta, fora do estojo;
 2- Base: parte inferior do projétil, fica presa no estojo e está sujeita à ação dos gases resultantes da queima da pólvora; 
3- Corpo: cilíndrico, geralmente contém canaletas destinadas a receber graxa ou para aumentar a fixação do projétil ao estojo. 
 3.4.1 Espécies de projéteis
 Os projéteis são geralmente de chumbo, mas existem projéteis especiais (encamisados) que podem ter outros materiais (ex: aço, cobre, zinco, etc.). Os projéteis podem ser, em princípio, múltiplos ou únicos. 
 • Projéteis múltiplos (balins): são utilizados em armas de alma lisa (ex: espingardas), sendo também conhecidos por “balins” ou vulgarmente por “cartucho de munição”. São compreendidos por chumbos de formato esférico e de tamanho variável, sendo identificado por números ou letras (Ex: Cartucho calibre 12). Os cartuchos de projéteis múltiplos possuem também buchas de plástico ou de papelão, o que é chamado de “embuchamento”, que tem função de impulsionar os projéteis pelo cano da arma e manter a carga de balins agrupada o maior tempo possível.
 • Projéteis únicos ou unitários: são aqueles utilizados em armas de alma raiada (ex: revólveres ou pistolas), onde o cartucho é constituído de um único projétil. Podem ter liga de chumbo, encamisados, de cobre, etc. Apresentam um formato cilíndrico, ogival, pontiagudo, etc. A 
 Mecanismo de expansão do projétil
Projéteis múltiplos 
 Projéteis antimotins: são aqueles que tem por finalidade demonstrar força em tumultos violentosatravés de munições que não causem ferimentos letais (ex: projétil de latex que é chamado de munição de elastômero).
3.4.2 Projéteis Especiais (encamisados ou jaquetados)
 São projéteis construídos por um núcleo recoberto por uma capa externa chamada camisa ou jaqueta. A camisa é normalmente fabricada com ligas metálicas como: Cobre e Níquel (CuNi), Cobre (Cu), Níquel e Zinco (NiZn); Cobre e Zinco (CuZn), Cobre, Zinco e Estanho (CuZnSn) ou Aço. O núcleo é constituído geralmente de Chumbo (Pb) praticamente puro, conferindo o peso necessário e um bom desempenho balístico. 
Os projéteis encamisados podem ter sua capa externa aberta na base e fechada na ponta (projéteis sólidos) ou fechada na base e aberta na ponta (projéteis expansivos). 
Os projéteis sólidos têm destinação militar, para defesa pessoal ou para competições esportivas. Destaca-se sua maior capacidade de penetração e alcance. 
 Os projéteis expansivos são aqueles conhecidos popularmente como “balas dum dum”, destinam-se à defesa pessoal, pois ao atingir um alvo humano é capaz de amassar-se e aumentar seu diâmetro, obtendo maior capacidade lesiva. Os projéteis expansivos podem ser classificados em totalmente encamisados (a camisa recobre todo o corpo do projétil) e semi-encamisados (a camisa recobre parcialmente o corpo), deixando sua parte posterior exposta. Esse tipo de projétil (expansivo) teve seu uso proibido para fins militares pela Convenção de Genebra.
Projéteis especiais
4. Lesões perfuro-contusas 
 Após as noções gerais de balística, vamos analisar as lesões causadas por instrumentos perfurocontundentes, isto é, aqueles que perfuram e contundem simultaneamente (lesões perfurocontusas); esses ferimentos apresentam bordas irregulares, com grande predomínio da profundidade sobre a superfície e caráter penetrante ou transfixante. 
 As lesões perfuro-contusas mais típicas são aquelas produzidas por projéteis acionadas por arma de fogo, estes, agindo por impulsão e rotação, determinam a formação de um orifício e de zonas de contorno junto a pele. A forma desse orifício e de suas zonas de contorno depende da incidência do tiro (oblíquo, perpendicular, tangencial) e de sua distância.
O verdadeiro agente vulnerante das lesões perfuro-contusas, no caso de armas de fogo, é o projétil (a bala ou os grãos de chumbo), sempre impulsionados pela carga, pela força expansiva dos gases, que ocorre no momento da deflagração, do disparo ou da detonação do tiro, da combustão da pólvora. 
O projétil de arma de fogo é um agente mecânico perfurocontundente, que determina uma lesão de natureza perfurocontusa. O estudo das lesões produzidas pela ação de projéteis de arma de fogo, sejam eles unitários ou múltiplos, apresenta relevância especial, primeiro porque constituem número expressivo de ocorrências, em grande número de etiologia criminosa. Além disso, pela multiplicidade de facetas e características, geralmente fornecem elementos preciosos à investigação, determinação da causa jurídica do evento ou ainda da possível autoria. 
 Na análise dos ferimentos produzidos por projéteis de arma de fogo, quatro são os pontos que devem merecer atenção: a) determinação e descrição dos ferimentos de entrada e saída; b) a trajetória do projétil no interior do corpo, bem como a descrição das lesões internas; c) a orientação do disparo em relação à posição do corpo; e d) a distância provável do disparo. 
 Ferimentos de entrada 
As características dos ferimentos de entrada produzidos por projéteis de arma de fogo dependem, basicamente, de três fatores principais, quais sejam: tipo de munição empregada (projétil unitário ou projéteis múltiplos), ângulo de incidência e distância de tiro. 
 projétil único
As características do - do tipo de munição empregada projéteis múltiplos
ferimento de entrada dependem - do ângulo de incidência da distância em que foi efetuado o disparo
Ferimentos de saída 
 Os ferimentos de saída somente existem, por óbvio, se o projétil transfixar o corpo. Não têm grande importância, salvo na determinação da trajetória, porque não possuem características próprias. Como regra, o ferimento de saída é irregular, maior que o de entrada, até porque o projétil frequentemente se deforma em sua passagem pelos tecidos orgânicos, e tem as bordas voltadas para fora. Alguns projéteis especiais, de alta energia, com velocidades superiores a 750 m/s, em razão das ondas de choque produzidas pelo seu deslocamento, costumam produzir ferimentos de saída de grandes proporções. 
 Ferimentos produzidos por projéteis múltiplos (balins) 
Nos disparos efetuados com cartuchos de munição de projéteis múltiplos (armas de alma lisa), o aspecto da lesão depende, basicamente, da distância em que foram realizados e da consequente abertura do cone de dispersão. Em tiros muito próximos ou encostados, os projéteis múltiplos causam grande destruição tecidual, muitas vezes acompanhada de significativa perda de substância.
Nos disparos efetuados a distância, o que observamos é a existência de lesões múltiplas, como se produzidas por vários disparos unitários, distribuídas ao redor de um ponto central, e que se afastam mais uma da outra quanto maior for a distância entre o atirador e o alvo. O ângulo de tiro irá determinar o formato da lesão única (se o tiro for a curta distância) ou do desenho formado pela distribuição das múltiplas lesões (nos tiros a distância), que poderá ser circular, nos disparos perpendiculares ao alvo, e elíptico ou cônico, quando a carga de projéteis incidir de maneira oblíqua sobre o alvo.
Ferimentos produzidos por projéteis unitários
 A lesão de entrada produzida por projétil de arma de fogo é geralmente circular, na dependência do ângulo de incidência e das linhas de tensão que atuam sobre a pele (Leis de Filhós e Langer). Excepcionalmente, podem ter formato de diverso, atípico, quando o projétil se deforma, ou perde sua trajetória, para penetrar no corpo com sua face lateral, cilíndrica, determinando, assim, um ferimento de entrada com formato de letra “D”. A lesão também terá conformação atípica quando o projétil atingir tangencialmente a pele, “de raspão”, hipótese em que o ferimento irá apresentar-se como uma escoriação de formato alongado. Nesse caso, é claro, não se pode falar em ferimento de entrada, pois o projétil não penetrou o corpo. 
Apesar de haver certa correspondência de forma entre a seção do projétil e o ferimento, não é possível determinar o calibre da arma pelo diâmetro da lesão, visto que, em razão da elasticidade da pele e das linhas de tensão, o orifício de entrada pode ser menor, maior ou igual ao diâmetro do projétil que lhe deu origem. O ferimento de entrada tem geralmente bordos invertidos, voltados para o interior do corpo, característica contrária à dos ferimentos de saída, que possuem as bordas evertidas, levantadas, indicando claramente o sentido de sua trajetória. Como exceção, temos a câmara de Hoffmann ou câmara de mina, observada nos tiros encostados em regiões que recobrem tábuas ósseas, em que o ferimento de entrada tem os bordos evertidos, voltados para fora. 
Além do aspecto morfológico, ao redor dos ferimentos de entrada produzidos por projéteis de arma de fogo, podemos observar algumas espécies de orlas (ou halos) e zonas, fenômenos que se apresentam de fundamental importância tanto para a caracterização da natureza do ferimento como para a determinação da distância em que foi realizado o disparo. As orlas (ou halos) são regiões circunscritas, regulares, que circundam o ferimento como pequenas auréolas, dando-lhe características especiais que permitem diferenciar as lesões produzidas por projétil de outras determinadas por instrumentos diversos. As zonas compreendem áreas maiores, irregulares, que podem ou não estar presentes e que terão importância fundamental na determinação da distânciado disparo.
 contusão
 Orlas ou halos escorição
Ferimento de entrada de projétil enxugo 
 Zonas tatuagem
 Esfumaçamento
 Chamuscamento 
Orlas ou halos de contusão, escoriação e enxugo 
 A pele é constituída por duas camadas distintas, a epiderme e a derme. A primeira é mais fina e menos elástica, rompendo-se de imediato pelo embate do projétil. A segunda, a derme, mais elástica, acompanha o projétil, encapsulando-o parcialmente antes de se romper, para depois voltar à posição original. 
- Orla de contusão 
Em que pese o projétil ser mais ou menos pontiagudo, para ele penetrar ao corpo, tem que forçar a pele, produzindo ali uma contusão, assim, a primeira orla produzida é a de contusão, que corresponde a “região equimótica” decorrente da lesão ocasionada pelo embate do projétil na pele. Trata-se de um halo (círculo) róseo que circunda o orifício de entrada e que é mais evidente nas pessoas de pele clara, sendo difícil de observar em peles de tonalidade mais escura. 
- Orla de escoriação 
Como a epiderme é menos elástica que a derme, após a passagem do projétil é possível observar uma pequena retração com consequente exposição da derme, como se tivéssemos dois anéis, um, de diâmetro maior, formado pela ruptura da epiderme (orla de contusão), e um outro, de diâmetro menor, formado pela exposição da derme. A esse anel (de exposição da derme) denominamos orla ou halo de escoriação. A orla de escoriação é originada durante a formação do túnel de penetração do projétil, quando pequenos vasos sanguíneos são tracionados e rompidos, formando escoriações em torno do ferimento. Esta orla, que consiste um túnel hemorrágico, permite determinar o trajeto do projétil. 
 OBS: os autores costumam agrupar as orlas de contusão e de escoriação como se formassem uma única, apresentando, também, como sinônimos os termos orla erosiva (Piedelièvre e Desoille) e anel ou orla de Fisch (Croce). 
Na verdade, a orla de escoriação corresponde à diminuta exposição da derme sobre a lesão causada na epiderme, em razão da diferença de elasticidade entre as camadas. A orla de contusão, por outro lado, indica uma área maior, que circunda o ferimento, e é formada pelo halo decorrente da lesão dos vasos capilares da área atingida pelo embate do projétil. 
 - Orla de enxugo
 Quando o projétil passa pelo cano da arma, ele “se suja” com as impurezas ali existentes, e ao atravessar a pele, “se lava e enxuga”, deixando na epiderme a sua marca. É caracterizada por uma aréola apergaminhada, milimétrica, que circunda a borda do orifício, resultante do impacto e da pressão rotatória feita pelo projétil contra a pele, antes de rompê-la, limpando-o da ferrugem, óleo ou fumaça que traz. E geralmente de cor escura, circular nos tiros perpendiculares e ovular ou elíptica nos tiros oblíquos. Assim, ao atravessar a derme, o projétil literalmente se enxuga. Limpa-se das sujeiras e impurezas trazidas do cano da arma, restos de pólvora e fuligem depositados em sua superfície, deixando na derme um anel enegrecido a que se convencionou chamar de orla de enxugo e que normalmente impede que observemos a orla de escoriação, que fica parcialmente sobreposta a ela. 
 - Zonas de chamuscamento, esfumaçamento e tatuagem 
 Quando uma arma é disparada, juntamente com o projétil são expelidos pela boca do cano um considerável volume de gases em alta temperatura e em combustão, certa quantidade de fumaça (que varia de acordo com o propelente utilizado) e pequenos grãos de pólvora (combustos, semicombustos ou em combustão), assim como micropartículas metálicas oriundas da abrasão do projétil no cano da arma. Esses componentes são impelidos juntamente com o projétil, mas, como têm massa infinitamente menor, não possuem energia cinética para ir além de uns poucos centímetros da boca do cano da arma, podendo não atingir o alvo. 
 - Zona de chamuscamento 
 Resulta da ação do calor e dos gases quentes que saem pelo cano da arma, queimando os pelos e a epiderme. Também é chamada de “zona de queimadura”. Se o disparo for efetuado muito próximo do alvo, algo em torno de 5 cm, poderemos ter a zona de chamuscamento, que nada mais é que uma região onde a pele é literalmente queimada pela chama que sai pela boca do cano da arma. 
 Zona de esfumaçamento
 Para uma distância maior, de até 30 cm, a fumaça decorrente do disparo poderá atingir o alvo e depositar-se ao redor do ferimento de entrada, produzindo a chamada zona de esfumaçamento. Finalmente, e exatamente porque têm massa maior que as partículas de fuligem, restam os grãos de pólvora e as partículas metálicas decorrentes da abrasão do projétil no cano da arma, que incidem sobre o alvo como verdadeiros projéteis secundários, por vezes incrustando-se na pele de tal maneira que formam verdadeiras tatuagens (zona de tatuagem). 
 Zona de tatuagem 
Finalmente, e exatamente porque têm massa maior que as partículas de fuligem, restam os grãos de pólvora e as partículas metálicas decorrentes da abrasão do projétil no cano da arma, que incidem sobre o alvo como verdadeiros projéteis secundários, por vezes incrustando-se na pele de tal maneira que formam verdadeiras tatuagens (zona de tatuagem). 
Os fenômenos aqui observados ocorrem porque o calor, a fumaça e os grânulos de pólvora combusta ou em combustão, além de outras impurezas que saem do cano da arma, alcançam a pele. São as hipóteses dos famosos “tiros à queima roupa” (curta distância).
 • Esta nuvem de elementos forma um cone com a base voltada para o alvo. Esta base será maior quanto mais afastado do alvo for disparado o projétil, tendendo a diminuir a medida que esta distância é reduzida. Logo, as características desse disparo dependem diretamente de fatores como a munição e o tipo de arma empregada, não podendo apresentar como regra uma distância categórica. 
• O ferimento, nesses casos, é rico em elementos característicos, sendo formado por um orifício de bordas invertidas com orla de contusão, escoriação e enxugo, e zona de esfumaçamento, chamuscamento e de tatuagem .
Nos casos de tiros à distância (além de cinquenta centímetros ) só o projétil alcança o alvo, formando um orifício de bordas invertidas com orla de contusão, escoriação e enxugo, sem as zonas de chamuscamento, esfumaçamento e de tatuagem. 
Disparos encostados 
 Nos disparos encostados temos de diferenciar duas situações distintas: os disparos que atingem unicamente tecidos moles e os que incidem sobre partes do corpo que recobrem ossos planos, por exemplo, os do crânio. Quando o disparo encostado atinge unicamente tecidos moles, além do projétil, todos os demais elementos penetram no ferimento, causando uma lesão interna de grande monta. As zonas de chamuscamento, esfumaçamento e tatuagem ficam todas no interior do corpo, mas o orifício de entrada permanece com sua configuração circular ou elíptica, com bordas invertidas. Por vezes, na dependência da força com que a arma foi pressionada sobre a região atingida, é possível evidenciar a marca do cano sobre a pele. Isso é chamado de “Sinal de Werkgaertner”. Esses ferimentos são frequentemente observados em suicídios. 
Neste tipo de disparo (tiro de encosto), o cano da arma fica intimamente encostado no alvo. O ferimento de entrada caracteriza-se por ser um orifício de bordas denteadas, desarranjadas e invertidas, sendo este último elemento decorrente da violenta força expansiva dos gases. A presença de pólvora na porção inicial do trajeto torna o orifício enegrecido.
Quando, logo abaixo da regiãoatingia, existe uma tábua óssea, o projétil pode (ou não) conseguir perfurá-la, mas os gases e as micropartículas certamente não. Nesses casos há um deslocamento dos tecidos e uma verdadeira explosão, no sentido inverso (de dentro para fora), pelo refluxo dos gases, formando um ferimento de conformação estrelada e de bordos evertidos (para fora), como se fosse uma “cratera”. Isto é denominado de câmara de mina ou câmara de Hoffmann.
Observação conclusivas 
Devemos ainda considerar o Trajeto, que é o caminho percorrido pelo projétil em seu efeito danoso. Uma variável a ser considerada em relação a direção do tiro, se ele, o projétil, “estourou” partes do corpo (ex. tiro na boca, balas Dum-Dum). Porém, geralmente é retilíneo e cilíndrico e quando transfixante, termina no orifício de saída. Nas necrópsias, no trajeto percorrido pelo projétil dentro do corpo, pode-se encontrar restos do cartucho, como pólvora incombusta, a bucha, ou, ainda, fragmentos de roupa, pele, pelos, esquírolas ósseas, etc. O Orifício de Saída, nas lições de Benedito Soares de Camargo Júnior, é único e apresenta bordos evertidos (virados para fora), é irregular ou em fenda, maior que o orifício de entrada e maior que o diâmetro do projétil. Comumente dá saída às matérias orgânicas: massa encefálica, ossos, muito sangue, etc. Não apresentam zonas de tatuagem, chamuscamento ou esfumaçamento. Comparação esquemática em relação aos achados no orifício de entrada em comparação com o de saída, que reproduzimos abaixo: 
	Entrada
	Saída
	Regular 
	1. Dilacerado 
	Invertido 
	2. Evertido 
	Proporcional ao projétil 
	 3. Desproporcional ao projétil
	Com orlas e zonas 
	 4. Sem orlas e zonas 
 
Obs: nem sempre as coisas são simples e esquemáticas. Se aparecer, na saída, uma orla de contusão e ocorrer proximidade de entrada, já não será tão fácil a diferenciação entre ambos (entrada e saída). Também, se o projétil antes de penetrar no organismo tiver sofrido “ricochete”, características da saída poderão estar presentes na entrada. 
A diferenciação, entretanto, tem grande importância, pois pode fornecer subsídios para o estudo da direção do disparo, de alta valia no estudo da natureza jurídica do evento letal. É imprescindível que o examinador (Médico-Legista), proceda a minuciosa descrição das características de ambos os orifícios (se existirem). 
 Insta salientar que várias são as questões periciais de interesse jurídico que se apresentam, dentre as quais destacamos: 
1. Natureza do fato: acidente, suicídio ou homicídio;
2. Distância do disparo, para estudo de autoria;
3. Identificação da arma, também visando o estabelecimento da autoria.

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