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ComuNiCAÇÃo E ExPrESSÃo Diretor-geral Valdir Carrenho Junior Diretor de Operações Paulo Pardo Coordenadora Verona Ferreira Professora Ellen Valotta Elias Borges Projeto gráfico, capa e editoração eletrônica Belaprosa Comunicação Corporativa e Educação Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Biblioteca da Faculdade Católica) Sumário UNIDADE 1 – ATO COMUNICATIVO E EFICÁCIA COMUNICATIVA iNTroDuÇÃo .................................................................9 1. Linguagem e Comunicação ...........................................9 1.1 o que é comunicar-se bem? ........................................9 1.2 A linguagem animal e a Linguagem Humana .............11 1.3 A linguagem não verbal .............................................11 2. Contrato Social x Escolha individual .............................13 2.1 Língua e Fala: o uso social e individual da linguagem ...13 2.2 A Variedade Linguística e os Grupos Sociais ................14 2.3 o Status da Língua ....................................................15 3. o Processo Comunicativo ............................................16 3.1 os elementos da comunicação ..................................16 3.2 Código e mensagem .................................................18 3.3 Emissor e receptor .....................................................19 4. Clareza e seleção vocabular: a eficiência da interação comunicativa ...............................................21 4.1 os Níveis de Linguagem ............................................21 4.2 Certo, Errado ou Adequado? .....................................24 4.3 As Variedades da Linguagem Popular ..........................26 5. Falhas na Comunicação ..............................................27 5.1 os ruídos da Comunicação ......................................27 5.2 o ruído Físico e os meios Tecnológicos ......................28 5.3 o ruído Semântico e a má organização das ideias ....29 CoNCLuSÃo ................................................................30 ELEmENToS ComPLEmENTArES ....................................31 rEFErÊNCiAS .................................................................32 UNIDADE 2 – TEXTUALIDADE iNTroDuÇÃo ...............................................................34 1. Conceito de Texto ........................................................34 1.1 o que é texto ............................................................34 1.2 Para que serve um texto .............................................36 1.3 o uso social do texto: tipologia e gêneros textuais .......36 2. Texto oral e Texto Escrito .............................................38 2.1 Fala e Escrita: duas modalidades diferentes da linguagem ...........................................................38 2.2 A influências da fala na escrita e vice-versa .................39 2.3 Exemplos de textos formais e informais ........................42 3. Texto oral – informalidade x Formalidade .....................44 3.1 A formalidade e informalidade da comunicação ..........44 no trabalho 3.2 Falar em público .......................................................45 3.3 Preparação e Técnicas da apresentação oral ...............48 4 Texto Escrito: a escrita padrão .......................................48 4.1 As dificuldades da norma culta ...................................51 4.2 o uso da vírgula .......................................................51 4.3 os pronomes e a colocação pronominal ....................54 5. Coerência e Coesão ..................................................56 5.1 A relação entre Coerência e Coesão ..........................58 5.2 Há coerência sem coesão? ........................................58 5.3 As conjunções: elementos coesivos .............................60 CoNCLuSÃo ................................................................62 ELEmENToS ComPLEmENTArES ....................................62 rEFErÊNCiAS .................................................................63 UNIDADE 3 – TIPOLOGIA E GÊNEROS TEXTUAIS: ESCRI- TA E LEITURA iNTroDuÇÃo ...............................................................66 1. Tipologia textual x Gêneros textuais ..............................66 1.1 os gêneros textuais ...................................................67 1.2 Tipologia textual ........................................................70 1.3 Tipologia e gêneros textuais: uma relação que se completa ..............................................................72 2. Texto Argumentativo ....................................................75 2.1 Tipos de Argumentos ...............................................756 2.2 Dedução ..................................................................76 2.3 indução ....................................................................76 3. Textos Técnicos............................................................78 3.1 Gêneros que circulam no contexto empresarial ............78 3.2 Carta comercial ........................................................80 3.3 Correio eletrônico .....................................................84 4. o processo de leitura: leitores passivos e ativos .............85 4.1 A leitura no seu sentido lato .......................................85 4.2 o papel do leitor na construção dos significados .........86 4.3 Tipos de leitores .......................................................87 5. Estratégias de Leitura ...................................................88 5.1 Tipos de estratégias ...................................................88 5.2 A prática das estratégias ............................................90 CoNCLuSÃo ................................................................90 ELEmENToS ComPLEmENTArES ....................................91 rEFErÊNCiAS .................................................................92 UNIDADE 4 – PROBLEMAS FREQUENTES NA PRODUÇÃO ESCRITA iNTroDuÇÃo ...............................................................94 1. Vícios de linguagem ....................................................94 1.1 o Barbarismo ...........................................................94 1.2 A Cacofonia .............................................................96 1.3 o Pleonasmo ......................................................................................97 2. ortografia ..................................................................99 2.1 Escrita do S e do Z ...................................................99 2.2 Parônimos e Homônimos .........................................102 2.3 Erros frequentes ......................................................107 3. Acentuação gráfica ...................................................108 3.1 A sílaba tônica: oxítona, paroxítona e proparoxítona ..108 3.2 Ditongos e Hiatos ....................................................111 3.3 A nova ortografia ....................................................112 4. Concordância / regência verbal e nominal .................114 4.1 Concordância nominal: gênero e número .................114 4.2 Concordância verbal: verbos haver, existir e fazer ......115 4.3 regência verbal: verbo ir .........................................117 CoNCLuSÃo ..............................................................119 ELEmENToS ComPLEmENTArES ..................................119 rEFErÊNCiAS ...............................................................120 Unidade 1 objetivos de aprendizagem da unidade • Conhecer os elementos que condicionam os processos de produção e recepção de textos bem como a eficácia dos processos de comunicação • Compreender as noçõesde variedade e unidade linguística, assim como as causas mais comuns da ineficácia dos processos de comunicação Professora mestre Ellen Vallota Elias Borges ATo ComuNiCATiVo E EFiCáCiA ComuNiCATiVA Unidade 1 Ato Comunicativo e eficácia comunicativa 9 iNTroDuÇÃo O homem é um ser social e não pode ser compreendido fora da sua realidade, ou seja, ele depende de trocas interacionais com o outro para viver em sociedade. Contudo, as relações entre as pessoas nem sempre são agradáveis. Tal fato acontece porque as palavras possuem significados diversos. A mesma palavra pode significar coisas diferentes se pronunciadas por sujeitos diferentes, em locais diferentes, em situações diferentes, de forma diferente, em épocas diferentes, dentro de grupos e contextos sociais diferentes. Vários autores mencionam que toda palavra pode ter faces, ou interpretações, distintas. Usadas na comunicação, podem ter sentidos diferentes, dependendo dos interlocutores ou do público a que se destinam. As pessoas convivem em sociedade e se comunicam por meio das palavras; contudo, o sujeito, antes de ser um leitor de textos escritos, é um leitor de mundo. O processo comunicativo utiliza diferentes tipos de linguagens e suportes informacionais. Há linguagens técnicas e profissionais, linguagens publicitárias, imagens, sons, cheiros, placas de trânsito, anúncios de jornais, músicas, receitas, cardápios, tabela de preços, quadro de avisos, etc. Estamos rodeados por informações de todos os tipos em todos os lugares diariamente. Por exemplo, os noticiários da televisão são transmitidos por emissores que não estão interagindo pessoalmente conosco. Entretanto, há trocas comunicativas ao recebermos informações que nos fazem pensar, refletir e agir. Outro exemplo são as leituras online cada vez mais frequentes na nossa vida. As interações por meio de equipamentos tecnológicos são utilizadas constantemente. Desta forma, podemos dizer que todas estas mudanças trazidas pela evolução tecnológica estão afetando e transformando as relações pessoais e influenciando de modo positivo e negativo as relações de comunicação de todas as esferas sociais. Diante deste fato, é muito importante refletir sobre o ato da comunicação dentro dos diferentes contextos sociais para compreender melhor as relações entre as pessoas. 1. LiNGuAGEm E ComuNiCAÇÃo 1.1. o que é comunicar-se bem? Comunicação Fonte: Pexels. Unidade 1Ato Comunicativo e eficácia comunicativa 10 Comunicar-se bem não significa apenas falar bonito, mas sim apresentar eficiência na transmissão das mensagens, isto é, que elas alcancem os objetivos propostos pelo emissor. Nesse sentido, comunicamos eficientemente quando o receptor compreende a mensagem segundo os objetivos daquele que a produz. Para tanto, é necessário ser o mais claro e objetivo dentro do processo comunicativo para que o receptor compreenda e responda aos objetivos do emissor de modo positivo. É por meio da linguagem que o homem se comunica em sociedade. Quando falamos em linguagem, não estamos falando apenas da linguagem escrita, dos códigos linguísticos e do português padrão, correto e formal. A comunicação utiliza vários tipos de linguagens, como, por exemplo, a linguagem corporal, os símbolos, as cores, etc. Além dos diferentes tipos de linguagens, devemos considerar a diversidade de contextos sociais e indivíduos culturais diferentes entre si. O diálogo realizado entre amigos no final da tarde em um happy hour não é o mesmo diálogo realizado pelos mesmos amigos dentro da empresa, no horário de trabalho, em uma reunião com a diretoria. Ainda que todos se conheçam, a linguagem utilizada em um local de trabalho precisa considerar elementos que não fazem parte de um contexto familiar e informal. Todos os lugares possuem suas regras próprias, inclusive os locais considerados informais. Ninguém chega à casa de um amigo e vai entrando no quarto sem pedir licença. Devemos considerar diferenças existentes nas aplicações das regras. Por exemplo, na casa de seu amigo você dá uma batidinha na porta e avisa que está entrando; na sua empresa é preciso pedir que a secretária comunique ao seu diretor que você precisa falar com ele. Somente após a autorização, você será encaminhado para a sala e, geralmente, só entrará após a porta ser aberta pela secretária. Vejamos que há regras nos dois lugares, porém, a aplicação delas é diferente. O mesmo acontece com a linguagem. De acordo com o contexto formal ou informal, devemos utilizar o português padrão, podemos realizar abreviações ou demonstrar certa intimidade em relação às perguntas e aos assuntos abordados. Omitir informações, saber identificar o momento certo de realizar determinados tipos de perguntas ou expor opinião acerca de uma situação são elementos que fazem toda a diferença para o desenvolvimento de uma comunicação eficaz. Em suma, reconhecer o poder de atuação da linguagem dentro de diferentes contextos sociais é um dos principais tópicos desta unidade. Comunicação é uma palavra derivada do termo latino “communicare”, que significa “partilhar, participar algo, tornar comum”. Por meio da comunicação, os seres humanos e os animais partilham diferentes informações entre si, tornando o ato de comunicar uma atividade essencial para a vida em sociedade. Fonte: https://www.significados.com.br/comunicacao Unidade 1 Ato Comunicativo e eficácia comunicativa 11 1.2. A Linguagem Animal e a Linguagem Humana Comunicação entre animais Fonte: Pixabay A comunicação não é um processo exclusivo da raça humana. Os animais também se comunicam entre si e, sendo assim, eles utilizam algum tipo de linguagem para realizar o processo comunicativo. Um texto famoso que aborda este tema é de autoria de Émile Benveniste. O autor aborda em seu texto as pesquisas realizadas por Karl von Fisch, professor de zoologia da Universidade de Munique. De acordo com os resultados da pesquisa, Fisch (1950 apud BENVENISTE, 1976, p.62) descobre que a abelha- obreira, ao encontrar uma fonte de alimento, comunica a informação às outras abelhas por meio da dança. Benveniste (1976) relata em seu texto “Comunicação animal e linguagem humana” a experiência das abelhas para fazer um contraste entre a linguagem animal e a linguagem humana. Ao contrastar as duas linguagens, Benveniste (1976, p. 66) verifi ca que “A mensagem das abelhas não se deixa analisar”. Além disso, foi possível identifi car diferenças consideráveis como, por exemplo, que as abelhas não conhecem o diálogo, que é a condição da linguagem humana. O autor explica as diferenças: O conjunto dessas observações faz surgir a diferença essencial entre os processos de comunicação descobertos entre as abelhas e a nossa linguagem. Essa diferença resume-se no termo que nos parece o mais apropriado para defi nir o modo de comunicação empregado pelas abelhas; não é uma linguagem, é um código de sinais. (BENVENISTE, 1976, p. 66-67). Em suma, pode-se afi rmar que, embora a linguagem das abelhas apresente algumas semelhanças com a linguagem humana, como, por exemplo, a capacidade de formular e de interpretar um signo, elas não possuem um aparelho vocal e não dialogam entre si. 1.3. A Linguagem não verbal Além da linguagem verbal, há a linguagem não verbal Fonte: Pixabay. Unidade 1Ato Comunicativo e eficácia comunicativa 12 As relações humanas acontecem por meio de vários tipos de comunicação. Além da comunicação verbal também existem outras formas de transmitir ideias e mensagens. Um olhar, um sinal, uma música, uma cor, um desenho, um gesto, etc., tudo possui uma carga afetiva de significados que somente fará sentido se considerarmos o contexto de transmissão das mensagens e os interlocutores responsáveis por esta interação. Em suma, dominar e possuiro mesmo código linguístico do emissor ou do receptor não garante a eficácia do ato comunicativo. Além da comunicação verbal, que acontece por meio da escrita ou da fala, é preciso considerar a comunicação não verbal (gestos, fisionomias) para alcançar a intenção comunicativa do emissor. A mesma mensagem pode possuir interpretações diferentes de acordo com a maneira que é pronunciada. Uma forma irônica, autoritária, gentil, sensível, amigável pode produzir diferentes significados e, consequentemente, receber diferentes respostas. Nesse sentido, pode-se dizer que a forma como uma palavra é pronunciada está acompanhada por todo um conjunto corporal de expressões que fala pela própria palavra. Um sorriso ou uma cara fechada, um olhar fixo ou um olhar desviado, etc.; tudo isso pode transmitir informações que estão além do sentido explicitado pela palavra. Por exemplo, um “não” pode representar um “sim” e vice-versa. Quantas vezes dizemos um “tudo bem” para sermos cordiais, mas, na verdade, estamos querendo dizer um “agora não”. Falar um “sim” e atuar com um “não” interior é um problema no desenvolvimento das relações comunicativas, ou seja, a palavra acaba expondo uma mensagem que não está explícita nos gestos. Tomaremos um exemplo para compreender o exposto. Em um evento social, cheio de comidas sofisticadas, alguém lhe oferece caviar e você diz que ama este prato. Contudo, ao colocá-lo na boca, sua face demonstra automaticamente uma desaprovação no sabor. Ou seja, apesar das palavras dizerem “sim”, seus gestos condenam sua afirmação e transmitem uma mensagem totalmente contrária. A linguagem é formada não apenas por códigos linguísticos, mas por todo uma linguagem corporal composta por gestos, olhares, sorrisos e indagações manifestadas pela forma como mexemos a boca, a testa, as bochechas, o queixo, a sobrancelha, etc. Além da mensagem verbal, uma importante forma de comunicação é a linguagem não verbal. No material indicado no link, você obterá maiores informações sobre como esse tipo de linguagem é estabelecida. O link é: <https://www.portaleducacao. com.br/conteudo/artigos/gestao-e-lideranca/elementos-da- comunicacao/36499>. “as palavras são o conteúdo da mensagem, e a postura, os gestos, a expressão e o tom de voz são o contexto no qual a mensagem está embutida. Juntos eles formam o significado da comunicação” (O’CONNOR; SEYMOUR, 1995, p. 35). Ainda, para estes autores, a comunicação corporal corresponde a 55% do total das formas como nos comunicamos, as palavras correspondem a 7% e o tom de voz 38%. Fonte: https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/gestao-e-lideranca/ elementos-da-comunicacao/36499) Unidade 1 Ato Comunicativo e eficácia comunicativa 13 2. CoNTrATo SoCiAL x ESCoLHA iNDiViDuAL 2.1 Língua e Fala: o uso social e individual da linguagem Uso social da linguagem Fonte: Pexels. Partimos do pressuposto de que a linguagem é um sistema complexo e sua existência depende de seu uso, que é realizado por interações sociais. Seu processo de aquisição é realizado individualmente, porém, seu uso é social. É assim que entendemos a construção do conhecimento por meio da linguagem: o conhecimento é individual, mas age e se transforma no coletivo. É importante reforçar que existem vários tipos de linguagens. Contudo, este tópico aborda a linguagem humana e apresenta a necessidade de expor a relação entre língua e fala. O que diferencia a linguagem humana de outras linguagens é o fato de ser duplamente articulada (nível fonológico e morfológico), ela possui um significado e um significante. Em outras palavras, o som /o/ representado pela letra “o” pode significar muitas coisas: pode ser um artigo masculino (o jornal), pode ser uma terminação verbal de primeira pessoa (Eu como), pode ser uma interjeição Ó mar salgado! Ou seja, um som saído de uma linguagem humana não é apenas um som, ele tem um significado que se relaciona com uma intenção comunicativa. Um grito, por exemplo, pode ser um pedido de ajuda, uma expressão de alegria, dor ou admiração. Para Saussure (2006), língua e fala são produtos da linguagem, a diferença está no fato da língua ser a parte social da linguagem, exterior ao indivíduo, enquanto a fala é individual. Em outras palavras, Unidade 1Ato Comunicativo e eficácia comunicativa 14 a língua não constitui uma função do falante, é o produto que o indivíduo registra passivamente. Ele utiliza o código da língua por meio da fala para exprimir seu pensamento pessoal. A língua é também comparável a uma folha de papel: o pensamento é o anverso e o som o verso; não se pode cortar um sem cortar, ao mesmo tempo, o outro; assim tampouco, na língua, se poderia isolar o som do pensamento, ou o pensamento do som; só se chegaria a isso por uma abstração cujo resultado seria fazer Psicologia pura ou Fonologia. (SAUSSURE, 2006, p.131). Em suma, a língua é uma estrutura social que o indivíduo utiliza de modo individual para atuar novamente dentro de um contexto social. Por exemplo, as crianças passam pelo processo de alfabetização para aprender a ler e escrever. Após o conhecimento da organização estrutural da língua, o sujeito precisa dominar o uso social da linguagem humana que pode ser realizado por meio da escrita, da fala, de interpretações de imagens, sons ou símbolos, etc. Porém, o domínio social da linguagem depende dos significados das palavras dentro de diferentes grupos sociais, pois a língua varia no tempo e no espaço. 2.2 A Variedade Linguística e os Grupos Sociais Considerando o grupo social do qual o sujeito faz parte, ele passa a dominar determinado tipo de vocabulário e expressões que não são compreendidos dentro de outro grupo social. É o caso dos diferentes jargões utilizados em discursos jurídicos, médicos, por presidiários, cantores, jogadores de futebol, chefes de cozinha, etc. Cada grupo específico possui palavras que são frequentemente utilizadas em seu dia a dia, mas, dificilmente, são compreendidas dentro de outro grupo social. Vejamos alguns casos de jargões e gírias. Como as pessoas se comunicam no dia-a-dia da sua região? Existem expressões que são comuns só onde você mora? Veja algumas expressões utilizadas no cotidiano das pessoas em nosso país: - Ô, véi: Nada mais do que chamar a atenção de alguém. - Vaza daqui: O mesmo que saia daqui. - Brou, brother: O mesmo que amigo ou companheiro. - Filé: Garota ou mulher bonita. - Mó comédia: Pessoa vista por descrédito diante de suas ações. - Larica: Sentir fome. - Bolacha: tapa na cara Para conhecer mais gírias, acesse o link: Fonte: https://minilua.com/girias-diferentes-regioes/ GÍRIA X JARGÃO A gíria teve sua origem na maneira de falar de grupos marginalizados que não queriam ser entendidos por quem não pertencesse ao grupo. Hoje, entende-se a gíria como uma linguagem específica de grupos específicos, como os jovens. Jargão é o modo de falar específico de um grupo, geralmente ligado à profissão. Existe, por exemplo, o jargão dos médicos, o jargão dos especialistas em informática, etc. Fonte: https://educacao.uol.com.br/disciplinas/portugues/giria-e-jargao-a-lingua-muda- conforme-situacao.htm Unidade 1 Ato Comunicativo e eficácia comunicativa 15 Considerando todos os exemplos apresentados, é importante levar em conta o ambiente e a situação em que estamos para saber utilizar a língua de modo adequado. Desta forma, é possível estabelecer uma comunicação eficaz, alcançando o objetivo por parte do emissor e, ao mesmo tempo, a compreensão por parte do receptor. É claro que cada pessoa e grupos sociais possuem uma maneira própria de falar, criando suas próprias marcas linguísticas. Tais marcas produzem uma variedade não apenas no âmbito geográfico, mas também no âmbito profissional. Em suma, a língua varia de acordo com os elementos regionais, socioculturaise contextuais. Também podemos dizer que há variações linguísticas segundo a norma culta, coloquial ou vulgar. Por exemplo, a linguagem utilizada em artigos científicos, jornais e trabalhos acadêmicos deve seguir a norma culta. A linguagem entre amigos, em situações informais e fora do ambiente de trabalho, frequentemente é a coloquial. Por fim, algumas situações específicas como, por exemplo, partidas de futebol, brigas de rua e de trânsito ou conversas realizadas por determinados grupos sociais utilizam, predominantemente, a linguagem vulgar. Para estes grupos é muito natural o uso de palavrões, gírias, omissões e trocas de letras na pronúncia das palavras, tornando a compreensão de suas mensagens limitada a grupos que convivem e utilizam diariamente este tipo de linguagem. 2.3 o Status da Língua Independentemente do contexto em que acontecem as variações, isto é, seja em regiões diferentes ou situações diferentes dentro de uma mesma região, a língua é utilizada de acordo com duas modalidades: a variedade culta ou língua padrão e a variedade popular, conhecida também como registro vulgar. É importante considerar que estas duas modalidades são utilizadas em todos os grupos sociais. Entretanto, o domínio da variedade culta é algo visto de forma positiva como status e posição de prestígio e poder. Por outro lado, aqueles que demonstram um predomínio pelo uso popular da língua sofrem frequentemente preconceito por parte daqueles que dominam a modalidade culta da língua. Falar de forma culta ou na linguagem dos “mano” é uma forma simples de verificar como o preconceito atua na sociedade. Você já ouviu alguém falando desta forma? Como as pessoas reagem a este tipo de vocabulário? Se você não conhece, dê uma olhada em algumas expressões da linguagem popular e tire suas próprias conclusões. Você conhece o “Dicionário dos Mano”? Aqui vão alguns exemplos: Mano não briga: arranja treta. Mano não cai: capota. Mano não entende: se liga. Mano não passeia: dá um rolê. Mano não come: ranga. Mano não fala: troca ideia. Mano não ouve música: curte um som. Fonte: https://educacao.uol.com.br/disciplinas/portugues/giria-e-jargao-a-lingua-muda- conforme-situacao.htm Unidade 1Ato Comunicativo e eficácia comunicativa 16 Em suma, podemos dizer que a língua é responsável por formar a identidade cultural de determinado grupo. Embora utilizemos um código comum, este código é convencionado e transformado pelos grupos segundo seus conhecimentos, necessidades e interesses. Em outras palavras, a língua é uma forma de atuação social que age por meio de interações, negociações e relações de poder. 3. o ProCESSo ComuNiCATiVo 3.1 os elementos da comunicação O telefone corresponde a um dos elementos da comunicação Fonte: Pexels. Teóricos de diferentes áreas abordam a comunicação como tema central ou secundário em seus trabalhos. Linguistas, psicólogos, médicos, professores, advogados, todos utilizam a linguagem como forma de interação social e o processo comunicativo é fundamental para tal realização. Por isso, antes de qualquer coisa, é fundamental que tenhamos conhecimento sobre os elementos que fazem parte do processo comunicativo. Toda mensagem procede de um emissor para alcançar um receptor. Este processo acontece dentro de um contexto específico. É este contexto que determinará a compreensão da mensagem pelo receptor de acordo com os objetivos do emissor. Entretanto, não é sempre assim que acontece e a intenção comunicativa nem sempre é alcançada de forma eficiente. Em outras palavras, não é raro observarmos o receptor não compreender a mensagem da forma como o emissor gostaria. Portanto, faz-se necessário considerar, além do emissor, receptor e mensagem, outros elementos que compõem o processo comunicativo, isto é, o código, o contexto e o canal. Vejamos de forma ilustrativa a composição dos elementos: Unidade 1 Ato Comunicativo e eficácia comunicativa 17 Elementos da comunicação Fonte: Pexels. EMISSOR Aquele que envia a mensagem. Pode ser uma pessoa, uma empresa, uma equipe, etc. Nem sempre é uma única pessoa a responsável pela transmissão de uma mensagem. MENSAGEM O conteúdo informativo enviado de um emissor para um receptor. RECEPTOR Aquele que recebe a mensagem enviada pelo emissor. CANAL DA COMUNICAÇÃO Meios pelos quais a mensagem é enviada: voz, telefone, celular, computador, livro, propaganda, outdoor, etc. CÓDIGO O código linguístico é a língua em que a mensagem é escrita ou falada. CONTEXTO A situação em que ocorre o processo comunicativo: fatores sociais, emocionais, situações de relacionamento, fatores culturais, religiosos, etc. Unidade 1Ato Comunicativo e eficácia comunicativa 18 3.2 Código e mensagem Código da mensagem precisa ser comum a emissor e a receptor Fonte: Pexels. A palavra código é uma palavra técnica para os estudiosos da linguagem. O código nada mais é que a língua ou o idioma em que a mensagem é produzida. Um fator muito importante que devemos considerar acerca deste elemento é: o fato do emissor e do receptor compreenderem e utilizarem o mesmo código não garante a compreensão da mensagem. É claro que o código é o primeiro ponto para que uma comunicação aconteça. Se não houver a compreensão da unidade do código linguístico dificilmente haverá uma comunicação, ou seja, não há interação comunicativa se o código do receptor e do destinatário não for o mesmo. Por exemplo, um russo e um japonês só conseguirão se comunicar se pelo menos um deles souber a língua do outro ou se eles dominarem outro código linguístico, como o inglês. Entretanto, nem sempre o conhecimento das palavras em outra língua pode dar conta de questões culturais. Desta forma, podemos dizer que ainda que o código seja compreendido entre emissor e receptor, há outros elementos que também fazem parte do processo comunicativo e interferem na compreensão e na produção de uma mensagem eficaz. O fato de um brasileiro compreender a língua espanhola não significa que ele não seja surpreendido por situações problemáticas causadas por diferenças culturais ou linguísticas. Um exemplo de interferência linguística é o uso dos falsos amigos, isto é, aquelas palavras que parecem significar algo, mas significam outra coisa completamente diferente. Por exemplo, dizer para seu professor de espanhol que ele é muito “engrasado” pode ser constrangedor ao verificar no final da aula que a palavra “engrasado” na língua espanhola significa engordurado na língua portuguesa. Unidade 1 Ato Comunicativo e eficácia comunicativa 19 VAMOS FAZER UM EXERCÍCIO JUNTOS? Primeiro, leia com atenção as frases abaixo, escritas em espanhol, e observe as palavras que estão em negrito: a) Me gusta mucho la salada de tomates. b) ¿Quieres comer pan con presunto y queso? c) La última cena de la telenovela fue emocionante. d) ¡Fecha la puerta de la casa! Depois de ler, responda com sinceridade. Você entendeu o significado das frases? A maioria das pessoas diria que sim! E, ainda, pensaria: a primeira frase fala sobre gostar de salada de tomates, a segunda, se eu quero comer pão com presunto e queijo, a outra, algo relacionado com a última cena da novela ter sido emocionante e, finalmente, um pedido para fechar a porta. Afinal, qual o mistério disso? Entendi tudo! Fonte: http://brasilescola.uol.com.br/espanhol/falso-amigo.htm Acesse o LINK indicado acima para encontrar o significado correto das palavras e conhecer outros falsos amigos. 3.3 Emissor e receptor FONTE: http://julyacomunica.blogspot.com.br/2014/05/mancjete-titulo-e-lead-elementos-de-uma.html O receptor de uma mensagem, seja escrita ou falada, precisa atuar como um leitor que busca interpretar aquilo que se apresenta para construir o significado daquilo que ele compreende. Este processo é complexo, pois a mesmapalavra ou mensagem pode ter significados diferentes de acordo Unidade 1Ato Comunicativo e eficácia comunicativa 20 com o contexto comunicativo. O leitor utiliza seus conhecimentos e experiências individuais para interpretar os significados das mensagens durante o processo de leitura e comunicação. A cada interpretação surgem descobertas que levam o leitor a concordar ou refutar as opiniões apresentadas pelas mensagens produzidas. A interpretação pode ser feita de distintas formas, dependendo da formação e do contexto de recepção daquele que a faz. Você já ouviu alguém dizer que parece que a outra pessoa está falando grego (porque não está entendendo nada do que ela está dizendo)? Isso acontece porque embora sejamos todos brasileiros, o que nos faz possuidores do mesmo código linguístico - o português - muitas vezes somos incapazes de compreendermos uns aos outros. Diferentes circunstâncias podem levar a isso: falta de vocabulário, cultura diferente, falta de domínio do assunto tratado, diferentes visões de mundo e muitas outras. Tal dificuldade de compreensão em geral se relaciona às diferentes formas de captar e interpretar os mesmos objetos, situações, pessoas, textos, informações, palavras etc. E não há nada de anormal em relação a isso. Há apenas que se ter cuidado para que tais diferenças não se transformem em conflitos irreconciliáveis, causando, assim, prejuízo à interação entre os envolvidos. Com base no que acabamos de afirmar, é possível perceber que é essencial para o estudo da linguagem considerar as relações entre emissor e receptor como elemento determinante para o sucesso da comunicação. Apesar de o código linguístico ser o mesmo, a compreensão de determinadas mensagens depende de elementos que estão além das palavras e bem próximos da formação cultural de cada um de nós. A utilização e conhecimento do mesmo código pelos sujeitos do processo comunicativo não é garantia de compreensão. HOMENS E MULHERES SE COMUNICAM DE FORMAS DIFERENTES? Diversas pesquisas confirmam as particularidades de cada gênero durante a comunicação. Confira quatro curiosidades sobre as diferenças da comunicação de homens e mulheres. Veja o que pesquisadores falam sobre o assunto: Fonte: http://noticias.universia.com.br/destaque/noticia/2012/04/17/924081/homens-e- mulheres-comunicam-formas-diferentes.html# Unidade 1 Ato Comunicativo e eficácia comunicativa 21 4. CLArEZA E SELEÇÃo VoCABuLAr: A EFiCiÊNCiA DA iNTErAÇÃo ComuNiCATiVA Não existem palavras certas ou erradas, mas sim adequadas Fonte: Pexels. 4.1 os Níveis de Linguagem A língua não é estática, suas modificações acontecem constantemente de acordo com seus sujeitos e contextos sociais. Desta forma, não existem palavras certas ou erradas, mas sim palavras adequadas dentro de determinados contextos sociais. Dizer palavras de baixo calão (palavrão) nem sempre produz o mesmo sentido. Por exemplo, seu uso pela mídia, em programas de humor, é uma forma de intensificar uma situação e provocar risos. Em uma discussão, seu uso é feito para ofender. Já em uma partida de futebol, seu uso é totalmente comum e realizado por grande parte do público, inclusive por mulheres. Esta diversidade de uso é o que chamamos de Níveis de linguagem. Segundo Moysés “[...] o português, como qualquer outra língua, não é estático e imutável. Assim sendo, podemos dizer que uma língua não é uma unidade homogênea e uniforme. Ela poderia ser definida como um conjunto de variedades.” Para o autor, é esta diversidade que faz surgir os níveis de linguagem que variam de acordo com o nível social, econômico, cultural e geográfico. No Brasil há uma grande variedade de pronúncia e vocabulário: “[...] há diferentes sotaques: o sotaque mineiro, o gaúcho, o nordestino, etc. Também no vocabulário observam-se diferenças entre regiões e também na fala de quem mora na capital e de quem vive na zona rural” (MOYSÉS, 2014, p. 1). Unidade 1Ato Comunicativo e eficácia comunicativa 22 A mídia, principalmente programas humorísticos, costuma se apropriar de modos e costumes sociais, fazendo sua criação sobre esse recorte da realidade. O quadro Pegadinhas do Mução, carro chefe do Programa do Mução, é um quadro humorístico no qual o radialista liga para uma pessoa e a faz perder a paciência (pegar ar) ao expor um apelido que este não gosta de ouvir. Fonte: http://omundodogrotesco.blogspot.com.br/2013/05/as-palavras-de-baixo-calao. html#.WcUdueWnHIU De acordo com os níveis de linguagem, podemos afirmar que falar palavrão não é algo proibido. O que estamos querendo dizer é que o uso deste tipo de palavra não é sempre condenável. O que precisa ser analisado é o contexto comunicativo para saber se o uso de determinadas expressões é adequado ou não. As palavras possuem sentidos diferentes se ditas por sujeitos diferentes em contextos diferentes. Como já foi dito, um programa de humor utiliza as palavras de baixo calão para causar risos. Entretanto, dentro de um contexto de trabalho formal, este tipo de uso é condenável e inaceitável. Dentro de uma oficina mecânica ou em um ambiente de construção de obras, talvez este uso não seja tão incomum. Vejamos as figuras abaixo. Em qual delas o uso deste tipo de palavra seria permitido? Contexto informal Fonte: www.shutterstock.com – ID da imagem: 637107283 Unidade 1 Ato Comunicativo e eficácia comunicativa 23 Contexto formal Fonte: www.shutterstock.com – ID da imagem: 567688420 É muito fácil identificar e reconhecer aquilo que é adequado ou não dizer em determinada situação. Na dúvida, use o bom senso. Em termos de palavras, não existe certo e errado, mas sim aquilo que é adequado. Em suma, a língua é um sistema dinâmico que está em constante modificação. Por isso, é preciso levar em conta vários aspectos no momento do ato comunicativo. Um dos aspectos principais que deve ser considerado é o contexto social em que a interação comunicativa está sendo produzida. Por exemplo, um contexto formal exige elementos que não precisam ser considerados em um contexto informal. Por outro lado, o uso de práticas informais dentro de um contexto formal pode causar estranheza e falta de educação. Chamar seu companheiro de trabalho de “parceiro” e pedir para ele pegar o “bagulho” que está no depósito, pode soar rude ser for dito para seu chefe durante uma reunião com diretores da empresa. Neste caso, seria necessária a modificação do vocabulário, além de acréscimos de outras palavras educadas, como, por favor, o senhor, etc. Diante de um contexto formal, não se chama o chefe de “parceiro”, mas sim de “senhor”. Também não é adequado utilizar a palavra “bagulho”. O uso desta palavra, além de soar deselegante, não atribui o nome específico do objeto, que seguramente deve ter uma palavra mais objetiva para sua designação. O “bagulho” possivelmente tem um nome: pode ser um pacote, um documento, um envelope, um objeto branco, azul, etc. O uso desta palavra não deve ser condenado em todas as situações, porém, a situação relatada não apresenta um contexto adequado para o uso da palavra “bagulho”. Da mesma forma, a palavra “parceiro” deve ser usada para fazer referência a um amigo e não a um chefe. A escolha lexical é determinante para alcançar a intenção comunicativa de forma eficaz. Unidade 1Ato Comunicativo e eficácia comunicativa 24 O QUE É LÉXICO? O conceito de léxico engloba vários significados que permitem que a palavra seja utilizada em diversos ramos de linguística. Léxico é o vocabulário de um idioma ou de uma região/comunidade, o dicionário de uma língua ou o conjunto de vocábulos utilizados por um autor. Por exemplo, “Este não é um léxico apropriado para uma menina de dez anos de idade” [...] Veja o texto completo: https://conceito.de/lexicoÉ importante selecionar as palavras adequadas durante uma reunião de trabalho ou uma entrevista de emprego. Este tipo de contexto exige o uso da norma culta porque é um modo de analisar a forma como o candidato se expressa por meio da linguagem padrão. Por isso, conhecer o receptor da mensagem e saber usar as palavras adequadas para apresentar suas ideias de modo claro e objetivo é a chave para o sucesso no mundo profissional. Consultores alertam sobre erros que reprovam candidatos em entrevistas Carmen Alonso, gerente de treinamento dá a seguinte recomendação: tome cuidado com as gírias. “Nas redes sociais, no MSN, ela pode tranquilamente usar uma linguagem mais informal, mas para um universo empresarial, a partir do momento que o funcionário representa a empresa, a exigência é muito alta”, alerta a gerente de treinamento. Para a leitura do texto inteiro acesse o endereço abaixo: Fonte: http://g1.globo.com/jornal-hoje/noticia/2011/01/consultores-alertam-sobre-erros-que- reprovam-candidatos-em-entrevistas.html 4.2 Certo, Errado ou Adequado? O sucesso da comunicação não depende apenas de saber utilizar os elementos do processo comunicativo. É preciso que o emissor considere, antes de qualquer coisa, quem é o seu público-alvo. Após estar ciente de quem receberá sua mensagem, o emissor deverá, então, adequar sua mensagem utilizando uma linguagem que atinja seu receptor da melhor forma. Para isso, é imprescindível levar em conta o contexto de comunicação, ou seja, se é um ambiente formal ou informal. Além disso, é importante compreender as expressões, gírias ou jargões específicos do público-alvo para que a comunicação flua da forma mais natural possível. Unidade 1 Ato Comunicativo e eficácia comunicativa 25 Diferentes situações de comunicação Uma mesma pessoa pode escolher uma forma de linguagem mais conservadora numa situação formal ou um linguajar mais informal, em situação mais descontraída. Quantas vezes isso não acontece conosco no cotidiano? Na família e com amigos falamos de uma forma, mas numa entrevista para procurar emprego é muito diferente. Veja mais em: Fonte: https://educacao.uol.com.br/disciplinas/portugues/giria-e-jargao-a-lingua-muda- conforme-situacao.htm?cmpid=copiaecola Por exemplo, as palavras “biscoito” e “bolacha” são palavras aparentemente simples e compreensíveis por toda a população brasileira. Será mesmo? Como já apresentado, vimos que a mesma palavra pode ter significados diferentes se produzida em contextos diferentes por pessoas diferentes. Em primeiro lugar, é importante considerar as regiões do Brasil. Há muita diferença lexical no nosso país. Por exemplo, no Rio de Janeiro, a palavra “bolacha” significa “tapa na cara”. No estado de São Paulo, as palavras “bolacha” e “biscoito” sofrem variações de uso dependendo do seu contexto. Dentro das empresas alimentícias, os funcionários são instruídos a dizer “biscoito” em vez de “bolacha”. Para este grupo profissional específico, há uma diferença entre aquilo que é ou não produzido industrialmente. Podemos dizer, então, que “biscoito” é um tipo de vocabulário técnico utilizado por eles. Sendo assim, o uso da palavra “bolacha” por funcionários de uma empresa de alimentos dentro do ambiente de trabalho é algo inapropriado e, provavelmente, cabível de uma advertência. Contudo, fora do contexto profissional o uso da mesma palavra soa diferente. Por exemplo, em um supermercado é muito comum escutar uma criança pedir para sua mãe comprar um pacote de “bolacha de chocolate” e um pacote de “biscoito de polvilho”. A produção e compreensão dos sig- nificados das palavras dependem dos seus interlocutores e a apropriação de seus usos depende não apenas dos sujeitos, mas também do contexto. Ou seja, a mesma pessoa, enquanto funcionária da em- presa, jamais deve se referir ao seu chefe de produção utilizando a palavra “bolacha”. Por outro lado, não há problema algum comprar o mesmo pacote de “biscoito” produzido por alguma empresa do setor alimentício e chamá-lo de pacote de “bolacha” durante um diálogo com o funcionário do caixa do supermercado. Unidade 1Ato Comunicativo e eficácia comunicativa 26 O que dizem as fabricantes Perguntamos às cinco maiores produtoras do Brasil como elas nomeiam seus produtos Nestlé –“A Nestlé entende os dois termos como corretos, porém utiliza “biscoito” em suas marcas por essa ser uma convenção da indústria brasileira”. Bauducco –“Não há um motivo específico para a nomenclatura “biscoito”, é uma convenção da categoria. Não existe um termo correto, tanto que a legislação utiliza o termo ‘biscoito ou bolacha’” M. Dias Branco -“O uso da nomenclatura é uma questão regional. A M. Dias Branco usa “biscoito” como padrão para definir seus produtos” Mondelez -“Na Mondelez Brasil, os produtos são denominados “biscoitos”. A justificativa para o uso do termo é que é o mesmo da entidade de classe Anib” Marilan -Procurada pela reportagem, a empresa não se pronunciou até o fechamento desta edição.) Fonte: https://mundoestranho.abril.com.br/alimentacao/o-certo-e-biscoito-ou-bolacha/ 4.3 As Variedades da Linguagem Popular Como vimos, além do português padrão, há outras variedades que são usadas em situações informais diversas e diferentes de acordo com o contexto e sujeitos do processo comunicativo. Elementos como escolaridade, nível social, idade, região, etc. são responsáveis por determinado tipo de linguajar que pode ser discriminado inclusive dentro de situações informais. Infelizmente, a língua é vista como um status social e há muito preconceito em relação às pessoas que não sabem utilizar a norma padrão e culta da língua portuguesa. Alfredina Nery apresenta algumas variedades presentes no linguajar informal: • Uso de “r” pelo “l” em final de sílaba e nos grupos consonantais: dizem pranta, broco ao invés de planta, bloco. • Alternância de “lh” e “i”: dizem muié, véio ao invés de mulher, velho. • Tendência a tornar paroxítonas as palavras proparoxítonas: dizem arve, figo ao invés de árvore, fígado. • Redução dos ditongos: dizem pexe, caxa ao invés de peixe, caixa. • Simplificação da concordância: dizem as menina ao invés de as meninas. • Ausência de concordância verbal quando o sujeito vem depois do verbo: dizem chegou duas moças ao invés de chegaram duas moças. • Uso de pronome pessoal tônico em função de objeto: dizem “Nós pegamos ele” ao invés de “Nós o pegamos”. • Assimilação do “ndo” em “no”: dizem falano ao invés de falando. Unidade 1 Ato Comunicativo e eficácia comunicativa 27 • Assimilação do “mb” em “m”: dizem tamém ao invés de também. • Desnasalização das vogais postônicas: dizem home ao invés de homem. • Redução do “o” e do “e” átonos: dizem ovu, bebi ao invés de ovo, bebe; • Redução do R do infinitivo ou de substantivos terminados em OR: dizem amá, amô ao invés de amar, amor. • Simplificação da conjugação verbal: dizem “nós ama, eles ama” ao invés de “nós amamos, eles amam”. Fonte: NERY (2007, online). 5. FALHAS NA ComuNiCAÇÃo 5.1 os ruídos da Comunicação O ruído é qualquer intervenção que atrapalha, impede ou prejudica a transmissão de uma mensagem. Quando falamos em ruído, geralmente as pessoas pensam em som alto, em barulho. Entretanto, existem outros tipos de ruídos além do sonoro. Tudo que impede a compreensão do sentido de uma mensagem pode ser considerado um ruído. Como já citado, as gírias e os jargões utilizados por determinados grupos sociais também podem ser considerados um tipo de ruído. Neste caso, estamos falando de um ruído semântico, pois está relacionado com a falta de compreensão dos significados de determinadas palavras ou expressões. Existem quatro tipos de ruídos de comunicação: Ruído Físico: É de origem externa. São os sons presentes em determinado lugar que acabamprejudicando a comunicação pela dificuldade de ouvir a mensagem. Exemplo: aparelho de som com o volume muito alto. Ruído Fisiológico: Nada mais é do que qualquer questão fisiológica que bloqueie a comunicação. Exemplos: elementos físicos que tornam difícil a fala do comunicador com seus ouvintes. Ruído Psicológico: É quando o indivíduo que está tentando dar atenção na mensagem propagada começa a deixar a mente vagar sobre outro assunto. É um ruído presente na cabeça da pessoa, que acaba impedindo o entendimento da mensagem. Ruído Semântico: Ocorre quando ouvimos algo que possui um significado diferente daquele que conhecemos, por exemplo, o uso de termos técnicos por profissionais de diferentes áreas. Fonte: https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/marketing/exemplos-de- ruidos-na-comunicacao/53332#ixzz3oB0qc1FR Unidade 1Ato Comunicativo e eficácia comunicativa 28 5.2 o ruído Físico e os meios Tecnológicos Elementos da comunicação Fonte: https://sites.google.com/site/eteevegra/a---fundamentos-de-comunicacao-verbal-e-nao-verbal A evolução tecnológica propicia um desenvolvimento constante dos meios de comunicação. Sendo assim, precisamos repensar as novas formas de interações comunicativas e de produção de mensagens. Sabemos que a linguagem falada e a escrita são modalidades diferentes que atuam de modo diferente. Dizer algo pessoalmente possibilita a interação e a visualização de gestos e elementos corporais que transmitem algumas informações durante a comunicação. Por outro lado, a conversa por telefone pode provocar ruídos pelo baixo volume do aparelho ou por problemas na linha. Também há o uso do whatsapp que faz muitas interações por meio de mensagens escritas. Quem nunca escreveu algo errado e depois precisou retificar o que havia escrito? Considerando estes problemas, é importante ter consciência da necessidade de revisar aquilo que foi escrito e confirmar o destinatário da mensagem. Não é nada conveniente enviar uma mensagem errada ao chefe da empresa, não é mesmo? A escrita inadequada de uma mensagem para um cliente novo também é algo problemático. O cuidado deve ser dobrado com as gravações de áudio também. Todas essas novas formas de interações estão causando vários tipos de ruídos no processo comunicativo. Certa vez, um engenheiro respondeu ao seu cliente de forma errada e este fato ocasionou alguns problemas dentro da empresa. Seu cliente mandou uma mensagem perguntando se podia construir uma “Porta” em determinado lugar. O engenheiro respondeu, por mensagem escrita, que naquele determinado lugar não podia construir nenhuma “Porra”. Ao digitar a palavra “Porta”, o engenheiro digitou duas vezes a letra R. A “Porta” virou “Porra”. Muitas vezes, a troca de letra não causa problemas graves. Às vezes, a falta de compreensão de alguma palavra é logo resolvida no decorrer da mensagem e do contexto. Porém, o caso apresentado, além de modificar a mensagem, responde a pergunta perfeitamente de uma forma rude e deselegante. Sendo assim, é sempre bom verificar uma mensagem escrita antes de enviá- la, principalmente quando se trata de questões relacionadas ao ambiente de trabalho. Caso contrário, a “Porta” pode ser lida como “Porra” e o seu emprego pode estar com os dias contados. Unidade 1 Ato Comunicativo e eficácia comunicativa 29 5.3 o ruído Semântico e a má organização das ideias Um dos grandes problemas causados pela má organização das ideias é a ambiguidade. Uma informação ambígua é aquela que pode ser interpretada de duas formas diferentes. O problema é quando a forma entendida pelo emissor é diferente da entendida pelo receptor. Tais problemas podem ser evitados pelo conhecimento de recursos linguísticos que deixam o texto mais claro e coerente. Porém, um texto bem escrito não é garantia de sucesso na comunicação. Se o texto for escrito em uma linguagem muito culta, técnica ou formal não será compreendido por pessoas que não fazem parte daquele grupo social. Da mesma forma, uma mensagem escrita com palavras simples também pode causar problemas de compreensão por falta de coesão, coerência e ambiguidade. Vejamos o seguinte exemplo: “O diretor disse ao coordenador que seu relatório estava incorreto”. A organização da mensagem não possibilita saber se o relatório incorreto é do coordenador ou do diretor. É importante reestruturar a mensagem para que não haja ambiguidade. Como? É possível dizer a mesma coisa de diversas maneiras. O importante é saber organizar os elementos de um texto para que ele seja o mais claro possível para aquele que vai ler ou escutar. Vejamos as opções propostas: O diretor disse que o relatório dado ao coordenador estava incorreto. O diretor disse estar incorreto o relatório que deu ao coordenador. O coordenador disse que o relatório por ele recebido estava incorreto. O coordenador disse estar incorreto o relatório que recebeu. O livro “Técnicas de Comunicação Escrita”, de Izidoro Blikstein (1986), apresenta os problemas de organização escrita. O capítulo 1 do livro, que se chama “Quem não escreve bem... perde o trem!”, conta a história de um bilhete escrito por um gerente de uma grande empresa à sua secretária. A confusão acontece porque a secretária entende de outra forma a mensagem escrita por seu chefe. Ao considerar a norma padrão, a secretária atua de forma diferente e, sendo assim, o gerente perdeu o trem. Veja o bilhete: Maria: devo ir ao Rio amanhã sem falta. Quero que você me rezerve, um lugar, à Noite, no trem das oito para o Rio. Maria foi, à noite, à estação ferroviária e reservou um lugar, para o dia seguinte, no trem das 8 da manhã. Entretanto, o gerente queria uma passagem para às 20h00. O problema não é apenas de Unidade 1Ato Comunicativo e eficácia comunicativa 30 ortografia. Ainda que o gerente tivesse escrito a palavra “rezerve”, cuja forma correta é “reserve”, o sentido da palavra continuaria o mesmo, ou seja, reservar é diferente de comprar. Maria não compra o bilhete, apenas faz uma reserva para o outro dia de manhã. Outro problema grave é a questão da ambiguidade em relação ao horário. Para evitar este tipo de problema, é importante diferenciar 8h00 de 20h00. A mensagem estava tão clara na cabeça do gerente que ele pensou que Maria entenderia da mesma forma. Após conversar com a secretária, ele compreende o que Maria havia entendido. Para a jovem secretária, o conhecimento das regras gramaticais e da norma culta fez com que ela entendesse totalmente diferente a mensagem escrita por um emissor que não conhecia e não considerou o uso dos elementos textuais de acordo com as regras gramaticais. Para Maria, reservar à noite significava ir à noite reservar a passagem. O uso da vírgula a fez pensar desta forma. O chefe quis dizer para reservar uma passagem noturna, ou seja, um lugar à noite. Veja como deveria ser um bilhete escrito de acordo com as normas gramaticais, sem ambiguidade e com escolhas de palavras adequadas: Maria: compre, para mim, uma passagem, em cabina com leito, no trem das 20h de amanhã (4.ª feira), para o Rio de Janeiro. Após verificar os problemas que uma mensagem pode causar, vale a pena pensar antes de escrever para não perder o trem. Muitas vezes estamos convencidos de que somos claros e objetivos em uma comunicação, quando, na verdade, percebemos que não alcançamos a intenção comunicativa. E sabe qual é o motivo? Se a resposta à nossa pergunta foi errada é porque a nossa pergunta foi formulada de forma errada para determinado receptor. Podemos dizer, então, que a resposta errada é consequência de uma pergunta errada, ou seja, mal formulada. CoNCLuSÃo Não há controle sobre as mensagens de uma comunicação. As palavras possuem significados variáveis de acordo com os contextos, com os interlocutores do processo, com as interferências regionais e culturaispresentes no código linguístico e, também, devido aos canais de produção da mensagem envolvidos no processo. Uma mensagem, seja ela escrita ou oral, com ou sem elementos visuais e sonoros, pode possibilitar diferentes leituras dentro de contextos diferentes. Surgem, assim, novas mensagens com significados incontroláveis diante do mundo da linguagem e da interpretação de seus significados por diferentes sujeitos sociais. A influência do contexto na produção de significados de uma mensagem é algo abordado por Bakhtin (2006, p.95): Enquanto uma forma linguística for apenas um sinal e for percebida pelo receptor somente como tal, ela não terá para ele nenhum valor linguístico. A pura ‘sinalidade’ não existe, mesmo nas primeiras fases da aquisição da linguagem. Até mesmo ali, a forma é orientada pelo contexto, já constitui um signo, embora o componente de ‘sinalidade’ e de identificação que lhe é correlata seja real. O homem, sendo um sujeito social, utiliza as palavras em diferentes contextos comunicativos, possibilitando diferentes interpretações. Quase sempre nos deparamos com um confronto entre as palavras e as ideias utilizadas em situações diferentes, por sujeitos diferentes. Dependendo do contexto, da situação e da realidade em que a palavra for dita e recebida, sua função social será diferente, ou seja, as palavras deixam de possuir um significado e passam a ser construídas a partir das experiências de uma comunidade sociocultural. Unidade 1 Ato Comunicativo e eficácia comunicativa 31 A construção do sentido de um texto ou de uma mensagem depende das relações estabelecidas entre os sujeitos do diálogo. Nem sempre há uma compreensão única entre a mensagem apresentada por uma pessoa e recebida por outra. Toda pessoa é um sujeito social que interage por meio da linguagem dentro de um contexto social. Para tanto, devemos considerar diversos elementos, além das palavras, na construção do significado de uma mensagem. O contexto é um dos elementos fundamentais para que uma pessoa compreenda aquilo que outra quis dizer. Por exemplo, um contexto familiar em que o avô chama a netinha de “neguinha”, como uma forma carinhosa utilizada por eles, é muito diferente de uma situação preconceituosa em que alguém aponta o dedo para se referir a uma pessoa negra que está em uma fila de banco e diz: “aquela neguinha ali”. Ou seja, ainda que a palavra “neguinha” seja a mesma, o uso dela foi realizado em contextos sociais diferentes, por pessoas e intenções diferentes. A questão de uma palavra ser positiva ou negativa não está na palavra em si, mas no tipo de uso que fazemos dela, como e onde fazemos e, principalmente, a quem estamos nos referindo. O trecho de Bakhtin (2006), apresentado anteriormente, nos faz refletir sobre a significação das palavras e o uso que fazemos delas em diferentes contextos. Para o autor, “a fala está indissoluvelmente ligada às condições da comunicação, que, por sua vez, estão sempre ligadas às estruturas sociais” (BAKHTIN, 2006, p.15). Nesse sentido, podemos dizer que as palavras não são apenas palavras isoladas. Elas possuem uma carga de sentido que depende de seu uso para liberar determinada significação positiva ou negativa. ELEmENToS ComPLEmENTArES #LIVRO# Título: Marxismo e filosofia da linguagem Autor: Mikhail Bakhtin Editora: Hucitec Sinopse: Publicado na Rússia em 1929, este livro se tornou um clássico. Nele, Bakhtin desenvolveu uma filosofia da linguagem de fundamento marxista, mas sem as limitações das ortodoxias oficiais da época. A natureza ideológica do signo linguístico, o dinamismo próprio de suas significações, a alteridade que lhe é constitutiva, o signo como arena da luta de classes, as críticas a Saussure são alguns de seus temas. Fonte: https://www.travessa.com.br/marxismo-e-filosofia-da- linguagem/artigo/6ea972a9-62a8-499e-8ccb-77ed2a05c62c Disponível em pdf: <http://fecra.edu.br/admin/arquivos/ MARXISMO_E_FILOSOFIA_DA_LINGUAGEM.pdf> Unidade 1Ato Comunicativo e eficácia comunicativa 32 #FILME# Título: Nell Ano: 1994 Direção: Michael Apted Sinopse: Uma jovem (Jodie Foster) é encontrada em uma casa na floresta, onde vivia com sua mãe eremita, mas o médico (Liam Neeson) que a encontra após a morte da mãe constata que ela se expressa em um dialeto próprio, evidenciando que até aquele momento ela não havia tido contado com outras pessoas. Intrigado com a descoberta e ao mesmo tempo encantado com a inocência e a pureza da moça, ele tenta ajudá-la a se integrar na sociedade. Fonte: http://www.adorocinema.com/filmes/filme-43375/ #WEB# “Sotaques do Brasil” desvenda as diferentes formas de falar do brasileiro JH viajou 16 mil quilômetros para mostrar a riqueza da língua portuguesa. Série foi feita a partir da elaboração do Atlas Linguístico do Brasil. Assista ao Vídeo: http://g1.globo.com/jornal-hoje/noticia/2014/08/sotaques-do-brasil- desvenda-diferentes-formas-de-falar-do-brasileiro.html rEFErÊNCiAS BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem. 12. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006. BENVENISTE, Émile. Comunicação animal e linguagem humana. In: ______. Problemas de linguística geral. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1976. P.60-67. BLIKSTEIN, Izidoro.Técnicas de comunicação escrita. São Paulo: Ática, 1998. Disponível em: <https://www.academia.edu/4489834/Tecnicas_de_comunicacao_escrita_Izidoro_Blikstein>. Acesso em: 28 set. 2017. FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 23. ed. São Paulo: Cortez, 1989. MOYSÉS, Carlos Alberto. Língua Portuguesa: atividades de leitura e produção de texto. São Paulo: Saraiva, 2014. O’CONNOR, Joseph; SEYMOUR, John. Introdução à programação neurolinguística: como entender e influenciar as pessoas. São Paulo: Summus, 1995. SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de linguística geral. 2. ed. São Paulo: Cultrix, 2006. SELLANES, Rosana Beatriz Garrasini. Los Falsos Amigos; Brasil Escola. Disponível em: <http:// brasilescola.uol.com.br/espanhol/falso-amigo.htm>. Acesso em: 22 set. 2017. Unidade 2 Objetivos de aprendizagem da unidade • Conhecer diferentes estratégias de comunicação e sua adequação à intenção comunicante, em diferentes ambientes e contextos • Conhecer, dominar e utilizar as estratégias de comunicação oral e escrita Professora mestre ellen Valotta elias Borges TexTUalIDaDe Unidade 2Textualidade 34 INTRODUÇÃO Prezados(as) alunos(as), nesta unidade trabalharemos temas muito pertinentes à formação de vocês: a) Fala e escrita: duas modalidades diferentes da linguagem; b) As influências da fala na escrita e vice-versa; e c) Exemplos de textos formais e informais. A palavra textualidade deriva de texto. Desta forma, não podemos deixar de fazer uma relação entre elas. Esta unidade abordará vários temas relacionados ao texto, desde seu conceito, sua organização e sua função social. Por isso é tão importante refletir sobre a questão da textualidade. Maria Costa Val (1994) aborda o tema em seu livro Redação e Textualidade. Segundo a autora, textualidade é um conjunto de características que fazem com que um texto seja um texto, e não apenas uma sequência de frases. Para tanto, a unidade trabalhará questões relativas à construção do sentido do texto por meio de elementos de coesão responsáveis pela construção da coerência. Faz-se necessário, assim, considerar a intencionalidade e a aceitabilidade do texto, ou seja, o desempenho do produtor do texto e a ação do recebedor em compreender o texto. Para que a relação entre intencionalidade e compreensão seja positiva, é importante também considerar a situcionalidade, que diz respeito aos elementos que compõem e produzem a relevância e sentido do texto dentro do contexto em que ocorre o ato comunicativo. 1. CONCeITO De TexTO 1.1. O que é texto? Livros Fonte:Pexels O texto é um objeto simbólico cuja função social depende da concretização de seu sentido, que ocorre pela interação do texto com o leitor. Em uma entrevista à Revista Letra Magna, Luiz Fiorin (2007) Unidade 2 Textualidade 35 [...] texto não é apenas manifestado verbalmente, isto é, por meio de uma língua natural, como o inglês, o francês, o árabe, o português. Na verdade, ele pode manifestar-se visualmente, como uma pintura, por meio da linguagem verbal, visual e musical, como o cinema, por meio da linguagem verbal e visual como nos quadrinhos. Assim, um romance é um texto; um trecho de um romance é um texto; uma poesia é um texto; uma escultura é um texto; uma ópera é um texto. José Luiz Fiorin é um renomado professor linguista brasileiro. É um dos maiores especialistas brasileiros em Pragmática, Semiótica e Análise do Discurso, com centenas de publicações nessas áreas. José Luiz Fiorin tem uma intensa atividade acadêmica, ocupando cargos importantes na USP e em diversas associações: foi chefe do Departamento de Linguística da FFLCH/USP, membro do Conselho Deliberativo da ANPPOLL (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Letras e Linguística) e consultor da FAPESP (Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo). Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Luiz_Fiorin Ingedore Villaça Koch, professora titular da Universidade Estadual de Campinas, pesquisadora e referência nacional em linguística aplicada no Brasil, aborda em seu livro “O texto e a construção dos sentidos” questões referentes à produção de sentidos criada por textos orais e escritos. Para a autora o texto é concebido como resultado parcial de nossa atividade comunicativa, realizada por processos, operações e estratégias que acontecem na nossa mente durante as interações sociais. Em outras palavras, a língua é um meio de interação social e o texto é a materialidade linguística. Koch (2007) mostra que a construção do texto falado ou escrito envolve diversas atividades sociocognitivas para a produção dos sentidos. Considerando as definições abordadas acima, podemos dizer que pensar acerca do que é um texto parece algo simples, mas não é. Muitas pessoas possuem uma visão restrita daquilo que seja um texto e acabam limitando sua existência a um conjunto de palavras e mensagens escritas. Sem dúvida, o texto escrito é um tipo de texto muito importante e utilizado por grande parte da população nas situações do cotidiano. Contudo, não podemos deixar de considerar a questão da textualidade e refletir que nem tudo que está escrito é um texto. Outro ponto fundamental é saber que além dos textos orais e escritos existem os textos não-verbais que incluem imagens, gráficos, obras de arte, etc. O que é texto? A pergunta parece óbvia, mas não é. Em linguística, a noção de texto é ampla e aberta, sem uma definição precisa. Seu estudo inclui textos verbais (orais e escritos) e não verbais (linguagem corporal ou gestualidade, imagens, gráficos, tabelas, cartazes, peças musicais etc.), além de permitir a interação de ambos, como numa história em quadrinhos, por exemplo, em que aparecem, ao mesmo tempo, desenhos e frases escritas. Podemos, em linhas gerais, considerar que texto é uma manifestação linguística das ideias de um autor, interpretadas pelo leitor, sempre de acordo com seus conhecimentos da língua e seu repertório cultural, que são determinados por fatores objetivos e subjetivos, como sua visão de mundo, sensibilidade, nível social, formação, escolaridade, idade, localização geográfica, lugares onde morou, profissão, entre outros. Fonte: http://enemnota100.blogspot.com.br/2008/04/o-que-texto.html Fonte: Pexels Unidade 2Textualidade 36 1.2. Para que serve um texto Como dito anteriormente, a noção de texto não deve ser limitada ao texto escrito. Portanto, o texto é algo presente em todos os tipos de contextos e é usado em todo processo comunicativo. Sendo assim, sua funcionalidade é bem diversa. O texto serve para informar, desinformar, formar opiniões, emocionar, manipular, motivar, persuadir, refletir, esclarecer e gerar dúvidas. O texto é o motor da vida. O homem é movido por relações sociais que são estabelecidas por interações entre sujeitos e textos. A relação entre língua e fala, abordada na unidade 1, fala justamente acerca da função social da linguagem. O texto, independentemente de sua forma, é algo produzido por alguém para explicitar alguma ideia e produzir interações sociais. É possível explicitar uma ideia por meio de uma única palavra? Depende da situação e do contexto. Uma palavra isolada pode não significar nada se não estiver relacionada a um contexto e, sendo assim, ela não serve para nada. Por exemplo, a palavra “ABERTO”, na porta de um estabelecimento comercial, serve para indicar que apesar da porta estar fechada, o estabelecimento está aberto. Entretanto, a mesma palavra escrita em uma placa perdida no chão de uma calçada não tem função social nenhuma, simplesmente indica uma informação deslocada de seu contexto original. Podemos concluir, assim, que o texto é uma mensagem que consegue transmitir um sentido completo, ainda que este sentido seja compreendido por uma única palavra. A utilidade do texto depende do sentido que ele produz, ou seja, o texto serve para produzir uma reação no seu receptor. Esta reação é o que chamamos de intencionalidade do texto. Por exemplo, uma palavra pode indicar um sinal de alerta, fazendo com que a utilidade do texto seja afastar a pessoa de determinado lugar com o objetivo de preservar sua vida. Em suma, um texto serve para muitas coisas, inclusive para salvar vidas. A doutoranda em Literatura brasileira pela UFRJ, Elaine Brito Souza, em seu texto “Revendo Conceitos” traz exemplos preciosos para o contexto que estamos estudando. Confira o artigo no seguinte link: http://educacao.globo.com/portugues/ assunto/estudo-do-texto/o-que-e-um-texto.html 1.3. O uso social do texto: tipologia e gêneros textuais O texto é uma produção de significados por meio da linguagem. Considerando que há várias formas de linguagens e diferentes formas de interpretações, é necessário considerar o contexto para a compreensão dos significados de um texto. Sendo assim, sabemos que a mesma palavra ou mensagem pode possuir uma intenção comunicativa diferente se produzida por sujeitos diferentes em contextos diferentes. Tudo isso exige uma estruturação específica para que o texto seja compreendido segundo determinadas regras. Por exemplo, uma receita possui uma estruturação diferente de um horóscopo. A formatação do texto e a organização visual de seus elementos nos fazem identificá-lo como uma receita, um ingresso ou uma bula de remédio. É muito fácil reconhecer uma manchete de jornal e uma capa de um livro. Unidade 2 Textualidade 37 Também não temos dúvidas ao ler determinada página e reconhecê-la como uma parte de um trecho bíblico ou parte de um manual de eletrodoméstico. A composição de seus elementos pelo uso de figuras, tabelas, determinados nomes, tipos e tamanhos de letras, localização de determinadas palavras no texto, uso de negrito, itálico, caixa alta, símbolos e imagens, tudo isso é fundamental para reconhecer o gênero textual e sua função social. Por exemplo, dentro de um contexto profissional utilizamos diferentes gêneros: cartas, relatórios, atas, ofícios, requerimentos, declarações, etc. Cada um desses textos possui uma forma específica de estruturação. Sendo assim, é importante tratar da eficácia comunicativa, o que exige reconhecer que alguns textos profissionais requerem mais formalidade que outros. Em alguns, é importante considerar o uso dos pronomes de tratamento, em outros é importante reconhecer a diferença de determinados termos técnicos, etc. Em suma, dentro do âmbito profissional é importante saber usar os elementostextuais adequados para a elaboração de um texto de acordo com o gênero textual exigido. Contudo, na linguagem popular é muito comum escutarmos falar sobre o tipo de texto. Entretanto, na linguagem técnica e nos estudos sobre a linguagem, há uma diferença entre tipologia e gênero textual. Luiz Antônio Marcuschi, professor renomado no estudo sobre texto e gêneros textuais apresenta a distinção citada. Para o autor, a expressão “tipo de texto” é muito usada de forma equivocada. Muitos livros didáticos apresentam a expressão “tipo de texto” para designar um gênero textual (MARCUSCHI, [2003]). O trecho abaixo apresenta as definições realizadas por Luiz Antônio Marcuschi em seu texto “Gêneros textuais: definição e funcionalidade” ([2003]). (a) Usamos a expressão tipo textual para designar uma espécie de construção teórica definida pela natureza linguística de sua composição {aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas}. Em geral, os tipos textuais abrangem cerca de meia dúzia de categorias conhecidas como: narração, argumentação, exposição, descrição, injunção. (b) Usamos a expressão gênero textual como uma noção propositalmente vaga para referir os textos materializados que encontramos em nossa vida diária e que apresentam características sociocomunicativas definidas por conteúdos, propriedades funcionais, estilo e composição característica. Se os tipos textuais são apenas meia dúzia, os gêneros são inúmeros. Alguns exemplos de gêneros textuais seriam: telefonema, sermão, carta comercial, carta pessoal, romance, bilhete, reportagem jornalística, aula expositiva, reunião de condomínio, notícia jornalística, horóscopo, receita culinária, bula de remédio, lista de compras, cardápio de restaurante, instruções de uso, outdoor, inquérito policial, resenha, edital de concurso, piada, conversação espontânea, conferência, carta eletrônica, bate-papo por computador, aulas virtuais e assim por diante. Para acessar o texto completo, acesse o link: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/133018/mod_resource/content/3/Art_ Marcuschi_G%C3%AAneros_textuais_defini%C3%A7%C3%B5es_funcionalidade.pdf Unidade 2Textualidade 38 2. TexTO ORal e TexTO esCRITO – INfORmalIDaDe x fORmalIDaDe 2.1 fala e escrita: duas modalidades diferentes da linguagem Reunião Fonte: Pexels. Partimos do pressuposto de que a linguagem é um sistema complexo e sua existência depende de seu uso, que é realizado por interações sociais. Essas interações podem acontecer por meio da fala ou da escrita. Segundo Nadólskis (2014, p.125) “Os recursos de expressividade são distintos. O sistema linguístico é o mesmo, mas a efetivação é diferente. Não se fala como se escreve nem se escreve como se fala”. A fala exige elementos para a boa compreensão da mensagem. É importante considerar a articulação adequada dos fonemas, falar com um ritmo compreensível que não seja muito rápido, é importante considerar também o volume da voz de acordo com o ambiente. Outros elementos importantes que ajudam a compreensão de uma mensagem falada é a expressividade corporal. Os gestos podem ajudar a reforçar uma ideia transmitida. Por isso, ainda que a mensagem seja falada, é necessário considerar o canal pelo qual a mensagem está sendo transmitida. Por exemplo, falar pessoalmente, por telefone, por chamada de vídeo ou pela divisão do muro do vizinho são situações diferentes que usam a linguagem falada. Algumas situações possibilitam a participação e interação pessoal entre os sujeitos, outras possibilitam apenas a imagem do sujeito por uma tela de celular ou Unidade 2 Textualidade 39 computador, outras permitem apenas o som da voz do emissor. Ou seja, ainda que todas as situações façam o uso da fala, a produção e compreensão da mensagem dependem de elementos diversificados. Por isso, a mensagem precisa estar adequada aos elementos do processo comunicativo e cabe ao emissor e ao receptor considerarem o meio pelo qual a mensagem é transmitida para dirigir e trabalhar mais sua atenção em determinado elemento. No caso da expressão escrita há uma maior necessidade de organização das ideias em relação à estrutura do texto. É importante considerar que o emissor não estará presente para justificar a má compreensão das ideias apresentadas ao receptor em um primeiro momento. Por isso, cabe ao emissor considerar os elementos contextuais e o gênero textual para a produção de seu texto. Escrever uma mensagem por e-mail, por whatsapp, um bilhete para o filho ou para o chefe são situações que exigem escritas diferentes. A análise do contexto e dos interlocutores do processo comunicativo são elementos que sempre deverão ser considerados para a eficácia de uma mensagem. 2.2 as influências da fala na escrita e vice versa Como vimos no tópico anterior, fala e escrita são formas diferentes de se expressar por meio da linguagem. Desta forma, cada uma delas possui características próprias. Também já foi abordada a questão da informalidade e formalidade dentro de diferentes contextos. Sendo assim, a linguagem falada também apresentará diferenças expressivas de acordo com a situação. O uso de determinado vocabulário, a preocupação com a norma culta, o cuidado com os vícios de linguagem, etc., são fatores que devem ser considerados tanto na fala quanto na escrita. Entretanto, há algumas marcas de oralidade que podem ser próprias do indivíduo ou da região que são utilizadas inclusive dentro de um contexto formal. Entretanto, a mesma ocorrência não deve ser reproduzida em um texto escrito. Vejamos alguns exemplos: FALA ESCRITA Vambora? Vamos embora? Xovê? Deixa eu ver? Ce taí? Você está ai? Ce vai querê? Você vai querer? Ceis vão lá? Vocês vão lá? Peraí Espera ai. Nun vô não Não vou não Prestenção Presta atenção Tô fazenu / precisanu / compranu Estou fazendo / precisando / comprando Vamu lá Vamos lá Por causa dessas diferenças, há muitos erros que ocorrem na modalidade escrita porque não há problemas na modalidade oral. Por exemplo, ao falarmos a palavra seção não é necessário identificar se a palavra é formada com S, C, Ç, SS. O próprio contexto já produz o sentido da palavra. Por exemplo, em um mercado, é claro que a pessoa está buscando a seção de algum produto. Em um a fila de cinema, estamos aguardando o horário da sessão. Veja que a forma ortográfica não influencia na produção do sentido oral, já que a pronúncia da palavra é a mesma. Porém, é necessário conhecer as diferenças entre os sentidos das palavras sessão, seção e cessão ao escrever algum texto que será utilizado para cumprir alguma intenção comunicativa. Unidade 2Textualidade 40 É muito comum os verbos adaptar, captar, optar, raptar, designar, estagnar, impugnar, impregnar, indignar, repugnar, resignar, serem pronunciados de forma errada, como se houvesse a letra “i” após a consoante “g” ou “p”. Para se pronunciar corretamente, é preciso não trocar a sílaba tônica (forte). Adaptar pronuncia-se adápto / adápta / adaptam Captar pronuncia-se cápto / cápta / cáptam Optar pronuncia-se ópto / ópta / óptam Fonte: http://professora-denisejean.blogspot.com.br/2017/05/a-pronuncia-de-impregnar.html O acento agudo apresentado no site é apenas para ilustrar a sílaba forte. Segundo a regra ortográfica, as palavras não possuem acento agudo. Veja a separação silábica das palavras e a escrita correta: A – DAP – TO / A – DAP – TA / A – DAP – TAM CAP – TO / CAP – TA / CAP – TAM OP – TO / OP – TA / OP – TAM Fonte: http://professora-denisejean.blogspot.com.br/2017/05/a-pronuncia-de-impregnar. html Podemos dizer que a escrita pode causar alguns tipos de problemas ou dúvidas que não surgem na fala. Quando um sujeito pronuncia uma palavra corretamente não significa que ela fará sua escrita de acordo com a norma culta. Veja alguns exemplos: Viajem / viagem Sessão / seção Pagaram
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