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Pesquisa sobre a Reconvenção no Código de Processo Civil de 1973 Misael de Jesus Carvalho¹ 1. Análise Geral A reconvenção segundo Humberto Theodoro Jr. é tratada como "verdadeiro contra-ataque do réu ao autor, propondo dentro do mesmo processo uma ação diferente e em sentido contrário àquela iniciante deduzida em juízo". (2014, 423p.) A partir dessa assertiva, o autor expressa a possibilidade de o réu pedir dentro de uma lide, mesmo na posição passiva. Os nomes adquirem, nesta peça apartada, um novo “status”. O réu passa a ser chamado de reconvinte, enquanto o autor passa a ser tratado como reconvindo que terá a arguição do primeiro contra si. Nesta ceara, o assunto em lide são as de direito materiais e conexos aos direitos requeridos no pedido inicial. Neste ponto, é interessante assegurar as diferenças existentes entre esta possibilidade de ação e o pedido contraposto. Humberto Theodoro Jr. Analisa que “ao contrário da contestação, que é simples resistência à pretensão do autor, a reconvenção é um contra-ataque, uma verdadeira ação ajuizada pelo réu (reconvinte) contra o autor (reconvindo), nos mesmos autos.” (2014, 437p.) ¹ Aluno no 4º semestre de Direito da Faculdade Social da Bahia – FSBA. Desta forma parece que a diferença surge pelo ataque às pretensões do autor, pelo contrário, surge realmente uma duplicidade ou uma multiplicidade acionária no processo. A reconvenção, de acordo com o Código de Processo Civil – CPC de 1973, determina que a mesma esteja em petição apartada da contestação formando a reconventio – assim tratada na época romana. Por ser em petição separada, sua presença ou ausência não constrói ônus formal ao reconvinte. Ante a inexistência no processo como reconvenção, pode ainda ser induzida através de uma ação paralela perante o mesmo juiz após o prazo estabelecido. A partir da breve explicação sobre o tema, faz-se mister orientar que a reconvenção, assim como qualquer peça processual, possui alguns pressupostos para a sua validade. Eis aqui alguns deles inseridos nos pressupostos processuais e condições da ação: a) Capacidade de ser Parte: Assim como em uma petição inicial, haverá na reconvenção o réu como reconvinte e o autor como reconvindo na inversão de polos. Nesta peça, as relações jurídicas se alternam entre a peça principal e a secundária firmando uma duplicidade nos polos. Autor e Réu/Reconvinte e Reconvindo alternam entre passivo e ativo na lide; b) Órgão investido de Jurisdição: Neste caso, o Poder Judiciário. c) Demanda: A busca é pelo pedido, sendo este o núcleo da demanda. O que se pretende alcançar do órgão investido, neste caso, a condenação do autor por ferir seu direito; d) Competência: De acordo com o CPC, art. 109, eis o seguinte: Art. 109. O juiz da causa principal é também competente para a reconvenção, a ação declaratória incidente, as ações de garantia e outras que respeitam ao terceiro interveniente. (BRASIL, 1973) Dessa forma, fica claro que a competência é do juiz a qual a ação principal esta sendo tramitada; e) Imparcialidade: Requisito de validade dos atos do juiz no processo. Autoriza-o quando não há impedimento ou suspeição no seguimento da lide; f) Capacidade Processual: A aptidão para ser parte. Neste caso será preciso avaliar a condição de que o representante não poderá reconvir; g) Capacidade Postulatória: Como peça própria para o rito ordinário, a capacidade para responder em juízo será do advogado que deverá – não prioritariamente – a reconvenção no prazo de quinze dias, juntamente – ou não – com a contestação. Fica claro também que não deverá haver os Pressupostos Negativos de litispendência, perempção, coisa julgada material e cláusula arbitral. A partir desse ponto é que devem ser analisadas as condições da ação. a) Legitimidade: É importante inserir que deve haver a legitimidade específica para demandar (que impede representante de reconvir); b) Interesse de Agir: É preciso confirmar a utilidade e necessidade da reconvenção para atestar inclusive a boa- fé do reconvinte em solicitar a tutela jurídica da discussão em seu favor. c) Possibilidade Jurídica de Pedido: Após relacionar o direito pretendido na peça principal como próprio direito é necessário também arguir sobre a pretensão de direito material formulada e a ordem jurídica Estatal. Feita as devidas considerações, fica patente a existência de pressupostos específicos para complementar à reconvenção. Eis que no art. 315 temos um deles: Art. 315. O réu pode reconvir ao autor no mesmo processo, toda vez que a reconvenção seja conexa com a ação principal ou com o fundamento da defesa. (BRASIL, 1973) a) Conexão: Entre duas causas quando ocorre identidade de objeto (quando os pedidos visam o mesmo fim) ou de causa de pedir (quando se baseiam no mesmo ato jurídico). A conexão pode ocorrer entre a defesa do réu e o pedido reconvencional, quando o fato jurídico sirva para fundamentar ambos. (2014, 438 p.) b) Rito. O procedimento da ação principal deve ser o mesmo da ação reconvencional. Lembrando obviamente que se trata de peça própria para o rito ordinário. 2. Procedimentos para a Reconvenção. Embora elaborada para ser peticionada simultaneamente com a contestação, a reconvenção pode ser proposta em petição autônoma de acordo com o artigo 299: Art. 299. A contestação e a reconvenção serão oferecidas simultaneamente, em peças autônomas; a exceção será processada em apenso aos autos principais. (BRASIL, 1973) Uma vez entregue a reconvenção, a citação do autor reconvindo será apenas ao seu advogado constituído. A contestação será no prazo de 15 dias de acordo com o artigo 316: Art. 316. Oferecida a reconvenção, o autor reconvindo será intimado, na pessoa do seu procurador, para contestá-la no prazo de 15 (quinze) dias. (BRASIL, 1973) Como também deverão obedecer as regras da contestação presentes nos artigos 300 a 303 até a sentença da lide principal que deverá ter também a sentença da reconvenção: Art. 318. Julgar-se-ão na mesma sentença a ação e a reconvenção. (BRASIL, 1973) A inobservância desta norma acima citada produzirá em nulidade a sentença. Caso seja indeferida liminarmente, como preceitua os artigos 295 e 393 o recurso que será cabível é o agravo de instrumento em virtude de se tratar de decisão interlocutória. A sucumbência equivale-se da ação principal. Quando houver desistência da ação principal, ou até mesmo a existência de qualquer causa extintiva, não será interrompida a reconvenção como orienta o artigo 317: Art. 317. A desistência da ação, ou a existência de qualquer causa que a extinga, não obsta ao prosseguimento da reconvenção. (BRASIL, 1973) Dessa forma, a reconvenção é um exercício dos direitos a qual o réu pode alegar em seu favor. Como uma possibilidade de inverter, ou equiparar-se ao autor com pedidos que o colocam como agente ativo na demanda traz consigo o aproveito de além de resistir que possa também pleitear o assunto em lide. 3. Referências: BRASIL. Lei 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Código de Processo Civil. Diário Oficial da União, Brasília, 17 jan. 1973. THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 55 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014.
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