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Desafios Contemporâneos 4

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08/12/2018 Desafios Contemporâneos
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DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS
CAPÍTULO 4 – QUAIS OS DESAFIOS DA
SOCIEDADE MODERNA?
Maicon Costa Borba Macedo
 
INICIAR
Introdução
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O século XXI trouxe imensos desafios para as sociedades. A maioria, entretanto, é
consequência de acontecimentos históricos vivenciados ao longo do século XX e
que continuam a influenciar os dias atuais. A Guerra Fria é um bom exemplo. Com
o fim da Segunda Guerra Mundial, iniciou-se um período de tensão, que dividiu o
cenário internacional em dois blocos: um liderado pelos Estados Unidos, e outro
pela União Soviética. Esse conflito reestruturou a geopolítica mundial, tendo
como vencedor os Estados Unidos e seu modelo econômico. Além da vitória
americana, ao longo da segunda metade do século XX, tem início uma nova forma
de integração mundial, chamada de globalização, que vem reconfigurando o
capitalismo internacional. Outra característica marcante do fim do século passado
e início do XXI são as novas ondas migratórias, que desafiam, sobretudo, os países
de destino dos migrantes. Completando o panorama, verificamos o risco do
terrorismo em diversos países.
A verdade é que o cenário atual é marcado por grandes incertezas. Por isso se faz
necessário identificar as principais características deste momento, buscando
compreendê-lo dentro de um contexto histórico, construído desde a Segunda
Guerra Mundial e intensificado durante e após a Guerra Fria. Nesse sentido, são
pertinentes as seguintes indagações: quais as consequências do fim do mundo
socialista para a economia mundial? Como a globalização está interferindo na
sociedade, principalmente sobre o Estado e a política? E qual o perfil das
migrações e do terrorismo nesse início de século? Com isso, poderíamos refletir,
ainda, quais seriam os desafios para a construção de sociedades mais justas.
Deveriam as sociedades e suas organizações adotar medidas de responsabilidade
social? Ao estudar essas questões, aprendemos um pouco mais sobre os
contornos que a sociedade moderna vem tomando e podemos nos preparar
melhor para as transformações que ainda virão.
Acompanhe a leitura e bons estudos! 
4.1 As tendências sociopolíticas do
mundo global
Para compreender as tendências atuais do mundo globalizado, é necessário fazer
um recuo histórico até a Guerra Fria, pois foi neste período, nas décadas de 1950 a
1980, que se intensificou as disputas ideológicas permitindo o rearranjo do
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capitalismo verificado no presente. Mas o que foi a Guerra Fria? Quais suas
principais características? E, finalmente, quais fatores contribuíram para o seu fim?
4.1.1 Guerra Fria: capitalismo X comunismo 
Com o fim da Segunda Guerra, duas potências mundiais emergiram: os Estados
Unidos da América (EUA) e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
De acordo com Miranda e Faria (2003), países como Alemanha, França, Inglaterra e
Japão, que eram as potências tradicionais, ao fim da guerra encontravam-se com
grandes dificuldades econômicas devido às perdas materiais e humanas durante
os confrontos. Esse fato, dentre outros, abriu caminho para que os Estados Unidos
e a União Soviética passassem a desempenhar o papel de líderes, disputando
assim a hegemonia mundial. Aliados durante a Segunda Guerra, a
incompatibilidade de seus interesses logo ficou evidente e os dois países travaram
uma batalha ideológica, sempre na iminência de uma guerra. Devido ao fato de a
guerra militar nunca ter ocorrido entre os dois países, recebeu o nome de Guerra
Fria (BIAGI, 2001; MIRANDA; FARIA, 2003).
Figura 1 - Ao longo da Guerra Fria, a tensão devido ao desencadeamento de uma guerra “quente”, ou
seja, com conflito bélico, esteve sempre presente. Fonte: Scanrail1, Shutterstock, 2018.
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Durante a Guerra Fria, os Estados Unidos e a União Soviética estenderam suas
influências a diversos países, muitas vezes de forma violenta. Além disso, os dois
países patrocinaram uma série de episódios que viriam a intensificar as tensões
mundiais, com a constante iminência de conflitos militares. Como pano de fundo
dessa disputa de poder, estava a ideologia comunista ou socialista, por parte da
União Soviética, e a ideologia capitalista, pelo lado dos Estados Unidos. O modelo
comunista caracterizava-se pela economia fortemente controlada pelo Estado e
fechada ao livre comércio global, ao passo que a ideologia capitalista apregoava o
livre comércio, sem intervenção estatal (MIRANDA; FARIA, 2003).
Um dos acontecimentos mais marcantes do período foi a construção de um muro
dividindo a cidade de Berlim, capital da Alemanha, representando a separação do
mundo em dois blocos, o comunista e o capitalista. O muro de Berlim passou a ser
o símbolo da Guerra Fria (MIRANDA; FARIA, 2003). Com o passar do tempo,
entretanto, a União Soviética foi perdendo forças. Com a economia estagnada e o
desenvolvimento comprometido, era evidente que os comunistas estavam
perdendo a corrida do desenvolvimento econômico e tecnológico. São apontadas
como causas do fim da União Soviética, dentre vários fatores, a sua defasagem
tecnológica, os custos para manter sua defesa, a falta de democracia e liberdade, e
o isolamento dos países comunistas, além das grandes transformações
tecnológicas e sociais que estavam ocorrendo no ocidente (RODRIGUES, 2006).
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A queda do muro de Berlim, que reunificou a Alemanha em 1989, simbolizou o fim
da Guerra Fria. A União Soviética desapareceu logo depois, em 1991. O fim da
Guerra Fria e a dissolução da União Soviética representaram a ascensão do
sistema capitalista mundial, que a partir de então prevalece sem que nenhum
modelo econômico alternativo o ameace.
4.1.2 Mundo globalizado
 Figura 2 - A queda
do muro de Berlim, em 1989, representou o fim da Guerra Fria travada entre Estados Unidos e União
Soviética desde o final da Segunda Guerra Mundial. Fonte: ne�ali, Shutterstock, 2018.
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O fim da Guerra Fria prenunciou um novo modelo de organização social.
Contribuíram significativamente para isso os avanços tecnológicos que
começaram a ser desenvolvidos a partir da segunda metade do século XX. As
novas tecnologias de informação e comunicação, as TICs, aproximaram o mundo,
intensificando o chamado processo de globalização (CASTELLS, 1999). Com o fim
da União Soviética e a ascensão da ideologia capitalista, o fluxo de capitais entre
os países passou a ser cada vez mais intenso (OLIVEIRA; COSTA, 2016).
O fenômeno da globalização atinge, desde então, todos os países, mas em graus
diferentes, variando de acordo com sua abertura comercial. Uma das principais
características do modelo de globalização é o seu caráter liberal, ou seja, a
liberalização econômica extrema. Consequentemente, instituições financeiras
internacionais passaram a exercer influência crescente na política econômica dos
países, sobretudo, nos subdesenvolvidos. Exemplos destas instituições são o
Fundo MonetárioInternacional (FMI), a Organização Mundial do Comércio (OMC) e
o Banco Mundial (BIRD). As orientações das instituições aos países podem ser
resumidas nos seguintes pontos principais: redução da interferência do Estado na
economia; privatização de empresas Estatais; e livre comércio, sem barreiras
alfandegárias e sem proteção às empresas nacionais (OLIVEIRA; COSTA, 2016).
O livro A Globalização e seus malefícios (STIGLITZ, 2002) do economista estadunidense e vencedor do
Prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz é um relato provocativo e contundente do cenário da
política econômica mundial. O autor demonstra como a expectativa das nações mais pobres por maior
participação na riqueza global não é satisfeita pela globalização, mas que observa o efeito contrário:
países ricos tornam-se cada vez mais ricos, enquanto países pobres toram-se cada vez mais pobres.
Joseph Stiglitz (2002) argumenta que a globalização possui muitos aspectos
positivos, uma vez que reduziu o isolamento de alguns países, propiciando seu
desenvolvimento econômico e também colaborou em campanhas globais, como
as de combate a AIDS. Entretanto, o autor também salienta que para muitos países
a globalização foi um desastre, porque as políticas de cunho neoliberal geraram
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desemprego e pobreza. Uma das causas foi que os países ricos não seguiram as
orientações que eles próprios recomendavam aos países pobres, ou seja,
enquanto orientavam maior abertura econômica aos países periféricos, eles
protegiam setores da sua própria economia. Dessa forma, os países
subdesenvolvidos tiveram suas economias enfraquecidas (STIGLITZ, 2002). A
globalização tem implicações nas mais diversas esferas da vida social como, por
exemplo, na questão da imigração e as consequências que esse fenômeno traz,
tema do nosso próximo tópico de estudo.  
4.2 Terrorismo e deslocamentos
populacionais
Impulsionada pela revolução nas tecnologias da comunicação nas últimas
décadas, especialmente a partir da década de 1980, a globalização impacta a
economia, a política, a cultura, a organização social e a questão ambiental. Suas
consequências se fazem sentir também nos movimentos da população em torno
do globo: com as possibilidades em termos de comunicação e transporte
oferecidas pelo mundo globalizado, ao mesmo tempo em que se observa o
aprofundamento das desigualdades sociais e a eclosão de guerras, uma grande
massa populacional vislumbra na imigração uma nova oportunidade de vida. Tais
projetos de vida, não raro, esbarram no protecionismo e nas barreiras impostas
pelos países desenvolvidos para a imigração, barreiras estas que, cada vez mais,
encontram no medo do terrorismo o argumento para promoção de políticas
racistas e xenófobas. Mas antes de entrar na questão da relação imigração e
terrorismo, é preciso abordar as características da globalização, o que vamos fazer
a seguir. 
4.2.1. As características políticas da globalização
Desde a queda do Muro de Berlim e o avanço da liberalização econômica e da livre
iniciativa de mercado, as consequências da globalização na economia se fazem
sentir em todos os países do globo, o que reflete na organização política. O filósofo
e sociólogo Jürgen Habermas (2002) tem chamado atenção para duas
consequências políticas: por um lado, a desestruturação do Estado de bem-estar
social (Welfare State), pois a globalização acarretaria uma diminuição da
autonomia política dos países, e, por outro lado, o estabelecimento e a
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consolidação de blocos de países com enorme poder político e econômico ao
mesmo tempo em que as desigualdades entre as nações se aprofundam (DANNER,
2014).  O processo de acumulação econômica do capitalismo globalizado é avesso
ao controle político das nações e, neste sentido, as funções regulatórias de
promoção de parâmetros equitativos e de justiça social, derivados de diretivas
políticas, seriam dificultadas (DANNER, 2014). Assim, uma das principais
características da dimensão política da globalização é a crise do Estado Nacional e
a perda da soberania diante de grandes conglomerados econômicos globais. O
Estado, portanto, tem perdido a autonomia para gerir a economia por suas
próprias determinações políticas. 
Se por um lado a expansão global de grandes empresas para países periféricos
reflete em investimentos, circulação da economia e geração de empregos, é
inevitável observar que – em sua saga expansionista – as grandes empresas
buscam a maximização de seus lucros por meio de um rol de concessões que
garantam mão de obra e matéria-prima mais baratas, menor carga tributária e
Figura 3 - O mercado econômico e a especulação financeira governam a economia mundial e
impactam todos os países do globo. Fonte: JMiks, Shutterstock, 2018.
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menor regulação estatal sobre a força de trabalho. Bauman (2012) observa que a
fragmentação das demandas sociais, a limitação da ação política tradicional e a
desilusão com as alternativas ao capitalismo, após a queda do muro de Berlim,
contribuem para a fragilização do poder político nos dias de hoje. O esvaziamento
do Estado como espaço de ação coletiva de construção de um projeto de
sociedade abre espaço para o crescimento do poder da economia globalizada e
para a ideologia de mercado, que é por si mesma individualista e sem
preocupações éticas. Sendo assim, quais as consequências dessa ideologia para a
sociedade?   
4.2.2. As consequências sociais da globalização
Para Bauman (2012), as grandes corporações são, em termos econômicos, os
maiores beneficiários da globalização. O que caracteriza as grandes corporações
nesse período de mercado global é a sua não localidade, ou seja, estão presentes
no mundo inteiro, mas os donos das empresas, os investidores, são estrangeiros.
Sendo estrangeiros, eles visam, via de regra, o lucro de seus empreendimentos e
não partilham do conhecimento da realidade e das condições de vida dos
trabalhadores de suas empresas localizadas em outros países. Além disso,
enquanto a empresa é global, isto é, pode se movimentar pelo globo de acordo
com seus interesses e oportunidades, os trabalhadores são locais, estão presos ao
seu espaço geográfico – cidade, país – e sofrem as consequências das decisões
tomadas pelas grandes corporações (BAUMAN, 2012).
Ao se sujeitar às regras do mercado global, os Estados-Nação – especialmente os
países periféricos – ficam à mercê dos interesses da especulação financeira e da
barganha de vantagens promovidas pelas empresas em troca de alguns poucos
empregos e investimentos no país. Além disso, ficam obrigados a seguir regras que
mantenham a estabilidade financeira e econômica mesmo que seja em
detrimento de investimentos sociais. Bauman (2012) denuncia que a propalada
igualdade social advinda do desenvolvimento econômico e do livre comércio tem
se mostrado uma falácia. O que se verifica na realidade é um aumento do acumulo
da riqueza entre os mais ricos e uma queda vertiginosa das condições de vida dos
mais pobres. Ao contrário das maravilhas sonhadas pelos crentes no poder da
ciência e da tecnologia em tornar o mundo menos injusto, a distribuição real das
riquezas na era da globalização tem se mostrado extremamente desigual
(BAUMAN, 2012).
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Se a lógica da globalização ampliaos processos de pobreza e desigualdade social,
especialmente nos países periféricos, é necessário pensar em formas de
subordinar a economia global a valores éticos e humanos. Em 1999, a Organização
das Nações Unidas (ONU) publica o relatório “Globalização com uma face
humana”, que denunciava a sobreposição de interesses financeiros e materiais aos
interesses da nação e de seu povo. O relatório é um desdobramento de
publicações e reuniões anteriores, como o primeiro Relatório do Desenvolvimento
Humano, publicado em 1990, no qual a ONU defendia que “o objetivo do
desenvolvimento é a criação de um ambiente que permita às pessoas desfrutarem
de uma vida longa, saudável e criativa” (PNUD, 1999, apud RAMOS, 2002, p. 106). 
Portanto, para uma versão mais humana do processo de globalização é necessário
o estabelecimento de parâmetros éticos para o livre mercado e sua atuação local.
Ramos (2002) sugere tratar a globalização em termos de política internacional de
modo que haja uma ética nas comunicações, na economia, na política e na
cultura, ética esta presidida pelas noções de justiça e solidariedade, valores
universalmente presentes. A partir desse panorama sobre os impactos da
Figura 4 - No mundo globalizado, a desigualdade social, especialmente em países periféricos, tem se
aprofundado cada vez mais. Fonte: Fred Cardoso, Shutterstock, 2018.
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globalização na economia e política, vamos agora para a questão dos
deslocamentos populacionais e as novas configurações que o processo traz para
as sociedades. 
4.2.3. A migração na era da globalização e os impactos do
terrorismo internacional
As migrações internacionais no século XXI são profundamente marcadas pela
globalização. A diminuição de distâncias e o amplo acesso à informação colocam
no horizonte do aspirante à migração não apenas o espaço geográfico mais
próximo – outra cidade, outro estado – mas o mundo inteiro. Por outro lado, as
possibilidades migratórias se apresentam de formas distintas em função do perfil
do migrante. Enquanto o capital financeiro flui livremente à revelia das fronteiras
entre os países, a mobilidade dos trabalhadores é fortemente controlada por
barreiras impostas pelos países desenvolvidos.  
O livro Americanah (ADICHIE, 2014) da escritora nigeriana Chimamanda Ngozie Adichie conta a história
de dois nigerianos que precisam fugir do Regime Militar de seu país e descobrem-se exilados nos
Estados Unidos e na Inglaterra. As trajetórias dos protagonistas são marcadas, a partir de então, por
questões culturais e raciais, pois são vistos sempre como “o outro”, o não branco, o não europeu, o não
americano.
O aumento do fluxo de informações acerca das oportunidades em países mais
desenvolvidos seduz uma grande massa de trabalhadores de países periféricos,
que partem em busca de melhores condições de vida. Mas se o acesso a
informações e a facilidade de deslocamento, representada atualmente pelos
meios de transportes globais e baratos, estimula o desejo de migração, as
oportunidades para os migrantes ainda são muito restritas.  Países desenvolvidos
tendem a fechar suas fronteiras devido ao temor de receber enormes massas de
migrantes sem estrutura e reais oportunidades para fixá-los. Porém, estudiosos do
tema têm apontado uma série de possíveis vantagens da migração, considerando
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os ganhos dos lugares de destino: barateamento dos custos e da qualidade de vida
da população, uma vez que migrantes realizam trabalhos que os nativos não têm
interesse em fazer, e por custos mais baixos; a revitalização de sociedades
envelhecidas, a partir da migração de pessoas jovens; o acesso a recursos
humanos qualificados, cujos custos de qualificação foram assumidos por outros
países; o aumento da produtividade; e o aumento de consumidores e
contribuintes (MARTINE, 2005).
A apreciação das vantagens da imigração esbarra, porém, em movimentos sociais
cada vez mais numerosos no mundo e caracterizados por seu viés antimigrantes,
racistas e xenófobos. Após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, tais
movimentos ganharam força e a identificação do outro – especialmente se o
“outro” for de uma etnia, religião, idioma ou aparência diferente dos nativos locais
– com o “inimigo” ou com o “terrorismo” vem aumentando a rejeição aos
migrantes por parte das populações de países desenvolvidos (MARTINE, 2005).
CASO
A tendência da grande maioria dos países desenvolvidos atualmente é de
fechar suas fronteiras para a imigração, tanto em decorrência da crise
econômica que o mundo vem enfrentando, quanto pela pressão de grupos
de extrema direita que alegam o receio de ações terroristas em seu
território. Na contramão dessa tendência, países como o Canadá têm
facilitado e incentivado o fluxo de imigrantes ao seu território, acolhendo,
inclusive, refugiados de guerras como as que acontecem no Oriente Médio.
Quais as razões que levam o Canadá a adotar essa postura diante do atual
fluxo migratório global? Além das causas humanitárias em relação a
refugiados de guerra e a postura enfática contra os crescentes movimentos
xenófobos e racistas que eclodem no mundo, o governo canadense tem
apostado nos fatores positivos da imigração: com uma população
envelhecida, necessita de pessoas jovens para movimentar a economia e
suprir o setor de serviços. Mas como colocar em prática essa postura? O
sucesso do empreendimento repousa no planejamento e na criação de
políticas que visem auxiliar e acompanhar a adaptação e  inserção dos
migrantes na sociedade canadense.
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A eclosão de guerras em vários locais do globo, especialmente no Oriente Médio,
tem deslocado um grande volume de pessoas que precisam fugir por questões de
sobrevivência. A resistência dos países desenvolvidos em recebê-las encontra
argumento nas precauções contra o terrorismo. Martine (2005) ressalta, porém,
que a relação entre migração e terrorismo é complexa, mas o que desencadeia
ações terroristas não é a imigração, mas a crescente desigualdade entre os países.
Uma maior abertura poderia, inclusive, reduzir o terrorismo, na medida em que
reduz a desinformação e desconfiança entre os povos. 
As grandes ondas migratórias que assistimos atualmente são reflexo da condição
de mundo globalizado: por um lado, a facilidade tecnológica em acessar
informações e deslocar-se pelo globo; de outro, o protecionismo de países
desenvolvidos e as barreiras à livre circulação dos trabalhadores, fenômeno  que
se retroalimenta do medo xenofóbico ao imigrante, identificado como inimigo da
pátria e potencial terrorista. A livre circulação do capital e o liberalismo econômico
Figura 5 - Dados da ONU apontam que, atualmente, 65,3 milhões de pessoas estão na condição de
refugiadas de seus países. Fonte: Sadik Gulec, Shutterstock, 2018.
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acarretam consequências drásticas à autonomia dos Estados-Nação: em nome da
economia global, impõe-se a economias periféricas uma série de obrigações que
as obrigam a deixar em segundo plano as políticas de desenvolvimento social e
distribuição de renda. Como consequência, observamos um aprofundamento das
desigualdades sociais e aumento da pobreza, enquanto poucos conglomerados
econômicos acentuam sua acumulaçãoeconômica. Vamos continuar nosso
estudo sobre os desafios da sociedade moderna com o tema da responsabilidade
social. 
4.3. Responsabilidade Social
Atualmente, tanto a atuação das empresas quanto a dos indivíduos tem se
pautado cada vez mais por um viés sustentável, ético, e que considere a
responsabilidade social junto à sociedade e ao meio ambiente. Quando pensamos
em desenvolvimento sustentável, nos remetemos a um equilíbrio entre os
objetivos de desenvolvimento econômico, desenvolvimento social e conservação
ambiental. A responsabilidade social corporativa vem atraindo olhares da
sociedade e de estudiosos sobre o tema, especialmente em uma época de
acentuamento das desigualdades sociais e do aprofundamento da degradação do
meio ambiente. Mas quais são os fundamentos da responsabilidade social? E
como ela se aplica na atuação das empresas e corporações?
4.3.1. Os fundamentos da responsabilidade social
O conceito de responsabilidade social tornou-se central a partir da emergência da
discussão sobre a necessidade de um desenvolvimento sustentável, que leve em
consideração a preservação do meio ambiente e a utilização consciente de
recursos naturais. Mas a ideia de não é recente. Iniciativas empresariais que visam
à atuação das corporações na sociedade de modo mais amplo, extrapolando seu
objetivo imediato, que é a obtenção de lucro, existem desde o final do século XIX e
início do século XX. Porém, nesse período, as ações das empresas orientavam-se
por um viés mais filantrópico e assistencialista na sua atuação junto à sociedade.
Atualmente, a utilização do termo “filantropia”, quando se trata de ações de
responsabilidade social, é visto de forma pejorativa, pois remete a ações que não
buscam a transformação da sociedade. 
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A noção de responsabilidade social só ganhou forma a partir das décadas de 1960
e 1970, coincidindo com grandes transformações sociais, políticas e culturais do
mundo, especialmente a crescente crítica às guerras e ao uso de armas químicas e
nocivas à sociedade e ao meio ambiente. Já a partir da década de 1980 e a crise no
Estado de bem-estar social nos países centrais do capitalismo, como Estados
Unidos e da Europa, a participação das empresas e das corporações na
manutenção dos níveis de emprego foi sendo cada vez mais valorizada
(ALENCASTRO, 2012).
No Brasil, a consolidação do termo “responsabilidade social” se deu a partir dos
anos 1990, principalmente em função do crescimento de movimentos sociais que
pressionavam setores da sociedade – como governo e iniciativa privada – pela
diminuição da pobreza e da fome, bem como da desigualdade social.  A criação do
Figura 6 - Diante dos desafios sociais e ambientais de nossa época, o conceito de responsabilidade
social está cada vez mais presente na atuação empresarial. Fonte: wk1003mike, Shutterstock, 2018.
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Instituto Ethos, em 1998, e a atuação do sociólogo Herbert de Souza na campanha
contra a fome, foram grandes molas propulsoras da discussão sobre
responsabilidade social nas empresas (ALENCASTRO, 2012).
Herbert de Souza, o Betinho, foi sociólogo mineiro que se notabilizou pela criação da Campanha contra
a Fome, a Miséria e Pela Vida e notabilizou a discussão sobre a miséria e a desigualdade no país. Sua
atuação em prol da dignidade humana lhe rendeu uma indicação ao prêmio Nobel da Paz em 1993.
Hemofílico e soropositivo, Betinho faleceu em 1997, vítima de Hepatite B.  
É do Instituto Ethos, que tem como objetivo orientar e incentivar empresas acerca
de sua responsabilidade socioambiental, umas das definições mais corrente para
o conceito de responsabilidade social: 
Responsabilidade social empresarial é a forma de gestão que se define pela relação
ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela se
relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais que impulsionem o
desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e
culturais para as gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a
redução das desigualdades sociais (INSTITUTO ETHOS, apud ALENCASTRO, 2012, p.
134).
O sociólogo John Elkington formulou o conceito de triple bottom line, ou tripé da
sustentabilidade, isto é, para o autor, uma empresa é sustentável quando respeita
três princípios básicos: ser financeiramente viável, ser socialmente justo e ser
ambientalmente responsável (ALENCASTRO, 2012). Mas como podemos pensar a
atuação da empresa dentro do paradigma da responsabilidade social e do tripé da
sustentabilidade? 
4.3.2. A responsabilidade social na atuação empresarial
VOCÊ O CONHECE?
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Dentro das empresas, o conceito de responsabilidade social refere-se, segundo
Alencastro (2012), ao oferecimento de produtos socialmente corretos, ao
estabelecimento de um relacionamento ético com clientes, fornecedores e
funcionários, bem como a preocupação com o passivo ambiental gerado pela
atividade da empresa. A prática da responsabilidade social deve alcançar tanto o
público interno, tais como os funcionários e seus familiares, quanto o público
externo, a comunidade na qual se insere o meio ambiente. Na prática, a
responsabilidade social refere-se a liderar e apoiar, dentro dos limites de recursos
da corporação, ações de interesse social. 
O documentário Uma Empresa Decente, a Decent Factory em inglês, (BALMÈS, 2004) apresenta o dilema
de uma grande empresa de telecomunicações entre guiar-se pelo lucro ou obedecer a princípios
morais. A reflexão do filme centra-se na questão sobre o que significa ser uma empresa correta em uma
época que se valoriza a responsabilidade social. 
No Brasil, o Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (IPEA) realizou, em 2006, a
pesquisa “Ação Social das Empresas”, que demonstrou as principais áreas e ações
de responsabilidade social no país, bem como os públicos-alvo. Ações relativas à
segurança alimentar, assistência social, saúde, educação e lazer e recreação
formam os principais focos da responsabilidade social (IPEA, 2006).
Empresas podem se guiar também por normas e indicadores de responsabilidade
social, que estão na pauta da discussão pelo estabelecimento de referências e
parâmetros para este tema. A ONG internacional Social Accountability International
(SAI) propôs nove itens de verificação no que se refere ao público endógeno da
empresa (ALENCASTRO, 2012): 
 
1) não emprego de trabalho infantil; 
2) não emprego de trabalho forçado; 
3) garantia de saúde e segurança no local de trabalho; 
VOCÊ QUER VER?
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4) garantia de liberdade de associação e negociação coletiva aos funcionários; 
5) não discriminação de qualquer natureza; 
6) proibição de práticas disciplinares; 
7) respeito à lei quanto à jornada de trabalho; 
8) remuneração digna; e 
9) garantia de que todos os requisitos da norma sejam aplicados corretamente.
VOCÊ SABIA?
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) divulgou dados que mostram que
mais de 40 milhões de pessoas em todo o mundo foram vítimas de trabalho
escravo em 2016. Estimativas apontam que as mulheres são as mais afetadas pelas
modalidades modernas de escravidão, representando quase 29 milhões de
meninas e mulheres, inclusive vítimas de trabalho forçado na indústria do sexo
(CAZARRÉ,2017). Leia mais em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-
humanos/noticia/2017-09/com-40-milhoes-de-escravos-no-mundo-oit-pede-mais-
empenho-dos (http://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2017-
09/com-40-milhoes-de-escravos-no-mundo-oit-pede-mais-empenho-dos)>.
Aliar a responsabilidade social aos objetivos de produtividade e competitividade
das corporações não é uma tarefa simples. Para obter maiores chances de êxito, é
necessário que o compromisso com a responsabilidade socioambiental esteja
presente já no planejamento estratégico das empresas, de modo a ser fator
constitutivo de sua atuação desde a concepção do negócio.
Antes de ser um entrave para os objetivos financeiros - que são legítimos em
qualquer empresa privada - a responsabilidade social pode ser uma aliada e deve
ser encarada como um investimento em médio e longo prazo. Os ganhos para a
imagem da empresa, a identificação com setores progressistas da sociedade, cada
vez mais preocupados com o impacto socioambiental das corporações, bem como
o reconhecimento social e estatal, que pode reverter-se em futuros incentivos
fiscais, são algumas das vantagens para enquadrar-se no paradigma cada vez mais
presente no mundo corporativo: de atuação responsável e ética junto à sociedade
e o meio ambiente. Em nosso próximo item, vamos abordar quais são os desafios
para se chegar a uma sociedade justa e igualitária.   
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4.4. Os desafios para a construção de
uma sociedade justa
Diante do cenário globalizado e regido pela lógica mercantil que caracteriza nosso
tempo, as sociedades e nações, especialmente das economias periféricas,
enfrentam grandes desafios para alcançar níveis de desenvolvimento social e
econômico satisfatório em termos de igualdade, equidade e justiça social para sua
população. Mas o que significa justiça social? Qual a sua relação com os desafios
que marcam nossa época? Como dar materialidade à justiça social? 
4.4.1. O conceito de justiça social
Com o advento da globalização e o agravamento das desigualdades sociais em
grande parte dos países do mundo, a discussão acerca do que é uma sociedade
justa e de como alcançá-la tornou-se uma questão de grande relevância. Nesse
contexto, o conceito de justiça social é central e refere-se, de forma sucinta, ao
problema de como uma sociedade deve, eticamente, distribuir os bens por ela
produzida (SANTA HELENA, 2008).
A construção de uma sociedade que se pretende justa não pode prescindir de dois
princípios fundamentais: a igualdade e a equidade. A necessidade da construção
de políticas públicas que leve em conta tais princípios é especialmente forte nas
sociedades expostas ao sabor do livre mercado. Como vimos ao longo deste
capítulo, o liberalismo econômico vem aprofundando as diferenças sociais,
especialmente nos países periféricos, o que deve ser contrabalançado com
políticas sociais que tenham como foco a redistribuição dos bens. 
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Dessa forma, é na justiça distributiva que se ancora atualmente a discussão sobre
justiça social. O conceito moderno de justiça distributiva, de acordo com
Fleischacker (2006), tem no Estado o agente garantidor de que os bens sejam
distribuídos na sociedade de modo a suprir necessidades e direitos básicos para a
condição da cidadania. Já o filósofo John Rawls, em sua obra “Uma teoria da
Justiça”, expõe as bases da teoria de justiça como equidade. Para o autor (2002),
alcançar a equidade, condição da justiça social, são necessários três pontos
fundamentais:
 
a garantia de liberdades fundamentais: refere-se ao direito de cada pessoa a
um conjunto de liberdades básicas, que seja compatível com o conjunto de
liberdades de toda a população, tais como a liberdade política, de
associação, de palavra, de consciência e de direito à propriedade.
a igualdade de oportunidades;
Figura 7 - Em contextos de grande desigualdade, cabe ao Estado a aplicação de políticas e programas
que zelem pela igualdade e equidade social. Fonte: maxim ibragimov, Shutterstock, 2018.
Deslize sobre a imagem para Zoom
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a garantia de que as pessoas menos favorecidas na sociedade recebam
benefícios que os alcem a condição de cidadania. 
 
A ênfase do conceito de justiça social no acesso aos direitos básicos da cidadania a
toda população, o que demanda esforços distributivos por parte do Estado, é
especialmente importante em países periféricos do capitalismo, nos quais a
globalização impacta mais fortemente em suas características negativas. Políticas
de compensação e distribuição de renda para pessoas em desvantagem social são
fundamentais para que se alcance uma condição mínima de justiça social. E o que
vem a ser justiça social? Aliás, justiça e direito tem o mesmo significado? Estes
serão alguns dos assuntos tratados no tópico a seguir.  
4.4.2. As interfaces da Justiça
Embora as noções de Direito e Justiça pareçam sinônimos, é possível observar, ao
longo da história, períodos de maior ou menor afastamento entre os dois
conceitos. Na consciência coletiva, porém, essas noções se entrelaçam a ponto de
ser considerada uma coisa só. Mas na prática, é possível afirmar que nem tudo o
que direito é justo, do mesmo modo que nem tudo o que é justo, é direito
(CAVALIERI FILHO, 2002).  
Enquanto a noção de justiça se refere a valores que são inerentes ao ser humano,
como a liberdade e a igualdade, dignidade, equidade etc., que se relacionam com
valores morais da sociedade, a noção de direito refere-se a um instrumento criado
para a realização da justiça. Conforme Cavalieri Filho (2002), como a justiça é um
sistema de valores em constante transformação, nem sempre o Direito é capaz de
satisfazer as necessidades da Justiça. Isso pode se dar por diversos motivos:
dificuldade do direito em acompanhar as mudanças sociais, dificuldades na
própria concepção das regras do direito, falta de disposição política para
implementá-lo, dentre outros. 
VOCÊ QUER VER?
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O documentário Justiça (RAMOS, 2004) retrata a rotina do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro,
expondo a necessidade de mudanças drásticas no sistema judicial do país. A justiça é retratada em
toda sua burocracia, desigualdade e injustiça, na qual setores marginalizados da sociedade são
duplamente culpabilizados: por seus supostos delitos e pelo lugar que ocupam na escala social. 
O direito, assim, torna-se um direito injusto. Para o autor, a finalidade do direito é
a realização da justiça. Já a finalidade da justiça, é a transformação social, ou seja,
a condução de uma sociedade à justiça social. Se o direito deve ser um
instrumento para alcançar a justiça, o alcance da verdade é finalidade do direto
para obter uma decisão justa (LUNARDI; DIMOULIS, 2007).
A discussão sobre a realização da justiça por meio da aplicação do direito evoca
também outra faceta: a distinção entre justiça universal e justiça particular. Esta
questão vem de Aristóteles e está intrinsecamente ligada ao debate sobre justiça
como equidade (RAWLS, 2002). A justiça universal relaciona-se à legalidade, ou
seja, remete ao todo da sociedade. A lei e a justiça aplicam-se a todos e a todas as
situações, de forma abstrata, genérica e universal.
Porém, existem casos particulares e específicos cuja justiça universal pode não
alcançar critériosde justiça, mas ao contrário, provocar injustiça. Nestes casos,
entra em cena a justiça particular. Essa segunda forma de justiça relaciona-se à
igualdade (ARISTÓTELES, 1979). Isso quer dizer que, casos em que a justiça
universal não satisfaça os critérios de equidade de um indivíduo ou um grupo em
particular, devendo então a justiça guiar-se, não pela lei genérica, aplicável a
todos, mas por critérios particulares que atendam a uma decisão justa e
equitativa. A seguir, vamos tratar dos desafios enfrentados pela justiça social. 
4.4.3. Os desafios da Justiça Social
O desenvolvimento econômico sem preocupação com o bem-estar coletivo
favorece a concentração de renda nas mãos de poucas pessoas e, por
consequência, a desigualdade social. O resultado disso são países que, mesmo
com índices econômicos em ascensão, não conseguem traduzir esse crescimento
em melhoria na condição de vida da população. O fato é que o mercado não é
capaz de gerar justiça social e acesso à cidadania. É necessário que ações partam
do Estado, tanto em termos de regulação da economia, quanto em termos de
programas e ações que visem garantir a toda população diretos básicos e
condições de vida dignas.
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No Brasil, a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 3º, contempla aspectos
referentes à diminuição da desigualdade social e promoção de uma sociedade
justa: 
Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: i) construir
uma sociedade livre, justa e solidária; ii) garantir o desenvolvimento nacional; iii)
erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e
regionais; e iv) promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo,
cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (BRASIL, 2002, p. 13).
A aplicação dos desígnios da Constituição na prática, porém, é tarefa árdua e
complexa. Ao longo de sua história, o Brasil sempre se estruturou como uma
sociedade desigual, cujos interesses de uma parcela pequena da população
prevaleciam sobre os interesses – e direitos – da grande maioria. Desde os
primeiros anos do século XXI, observamos alguns avanços no sentido de
universalizar o acesso a direitos básicos da população: programas de distribuição
de renda, aumento do acesso de pessoas de baixa renda à educação superior,
programas de segurança alimentar, regulamentação de profissões historicamente
marginalizadas, como o caso do emprego doméstico, dentre outros. 
VOCÊ SABIA?
O Programa Bolsa Família, criado em 2003 pelo Governo Federal, tornou-se um
programa de referencia mundial em distribuição de renda. Estudos sobre o
impacto do programa mostram que, com um baixo custo aos cofres públicos, o
Bolsa Família contribui para o aquecimento da economia; superação da extrema
pobreza; melhorias na saúde e na educação da população de baixa renda; redução
do trabalho infantil; e empoderamento das mulheres (CAMPELO; NERI, 2013).  
Os esforços, porém, são frágeis diante do abismo social vivenciado no país:
segundo ranking de desigualdade social da ONU, o Brasil é o décimo país mais
desigual do mundo (PNUD, 2016). John Rawls (2002), a partir de sua teoria da
justiça como equidade, busca estabelecer princípios e instituições  necessários
para que se alcance a justiça social. Em primeiro lugar, aponta que o sistema
educacional deva ser subsidiado pelo governo, de modo a garantir liberdade de
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consciência e igual acesso à educação para todos os cidadãos. Em segundo lugar,
o governo deve garantir uma renda mínima a todas as famílias, de modo que os
direitos básicos sejam garantidos. Rawls (2002) defende também que as
instituições governamentais devam comportar programas de apoio para, por um
lado, garantir a eficiência da economia do mercado, mantendo o sistema de
preços em patamar competitivo e garantindo níveis de emprego; e por outro,
garantir a equidade social por meio de impostos sobre herança e consumo e por
políticas de transferência de renda para os setores mais fragilizados da população.
Como vimos, os desafios da justiça social em tempos de globalização e livre
circulação do capital econômico são imensos. Para que os países logrem sucesso,
é necessário atentar para o fortalecimento de políticas do Estado frente às
demandas e exigências do mercado. Além disso, ações de inclusão social e
diminuição da desigualdade - em curto, médio e longo prazo - devem ser
pensadas envolvendo todos os setores – sociedade civil, mercado e Governo. 
Síntese
Chegamos ao final do capítulo e pudemos refletir sobre as principais tendências
sociopolíticas do mundo pós-socialista, ou seja, do mundo globalizado.
Estudamos os problemas contemporâneos relacionados às migrações, à
responsabilidade social e à noção de justiça social.
Neste capítulo, você teve a oportunidade de:
estudar a Guerra Fria e suas consequências para as sociedades
contemporâneas, bem como identificar as características e tendências da
globalização; 
conhecer os dilemas ensejados pelos deslocamentos populacionais, seus
motivos e consequências, e  desafios frente à globalização e à
reestruturação econômica das últimas décadas; 
compreender a responsabilidade social como questão importante da
sociedade contemporânea, sobretudo, quando se trata da atuação das
empresas; 
entender o conceito de justiça social e pensar sobre os desafios para a
construção de uma sociedade com mais igualdade social.
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