Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
http://www.cartaforense.com.br/conteudo/artigos/aspectos-civis-da-nova--lei-do- divorcio/12987 CIVIL Aspectos Civis da Nova Lei do Divórcio 04/02/2014 por Inacio de Carvalho Neto Desde a promulgação da Emenda Constitucional nº. 66, em julho de 2010, a doutrina e a jurisprudência vêm se debatendo com questões básicas suscitadas por ela, dentre as quais a principal, sem dúvida, é esta: existe ainda a separação judicial no Brasil? Este e outros tantos questionamentos têm sido frequentemente colocados, e só por meio de uma regulamentação legal poderão ser definitivamente resolvidos, tendo em vista a extrema laconicidade da citada Emenda, que se limitou a alterar a redação do § 6º. do art. 226 da Constituição Federal, nestes termos simples: “O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio”. Urge, portanto, a edição de uma nova Lei do Divórcio, para adaptar o texto legal à nova ordem constitucional inaugurada pela Emenda 66/2010, regulando as diversas questões por ela suscitadas e respondendo aos questionamentos frequentes a respeito dessas novas questões. Foi por isso que propusemos ao Excelentíssimo Deputado Federal pelo PSC/PR Hidekazu Takayama o texto adiante comentado, que foi por ele proposto na Câmara dos Deputados como Projeto de Lei nº. 5.432/13. Neste simples artigo, propomo-nos a fazer uma brevíssima análise do texto do Projeto de Lei que pretende se tornar a Nova Lei do Divórcio, regulamentando a disposição lacônica introduzida pela Emenda Constitucional nº. 66/2010, em substituição à Lei nº. 6.515, de 26 de dezembro de 1977, Projeto dos então Senadores Nelson Carneiro e Accioly Filho, que foi aprovada logo após a Emenda nº. 9, de 28 de junho de 1977, que introduziu o divórcio no Brasil. Limitamo-nos, aqui, a comentar as disposições de ordem material (direito civil), deixando as questões processuais para um texto futuro. Ao contrário do que se fez naquela época, contudo, aqui não se pretende revogar o Código Civil para tratar do assunto em lei à parte, opção esta que foi bastante criticada pela doutrina da época. Entendemos mais correto e louvável a inserção da matéria dentro do próprio Código Civil, mantendo a higidez da obra de Miguel Reale, alterando apenas a redação dos artigos que precisam ser alterados para nele figurarem a matéria do novo divórcio, à luz do que determina a nova norma constitucional. É neste sentido que se pretende alterar os arts. 1571 a 1577 e revogar o inciso III do art. 1.571, o § 3º. do art. 1.572, o parágrafo único do art. 1.573, o parágrafo único do art. 1.576, o parágrafo único do art. 1.577, e os arts. 1.578, 1.580, 1.581 e 1.582. Em suma, pretende-se dar nova estrutura a todo o capítulo do Código Civil que trata da dissolução do casamento (a começar pelo seu próprio título, agora impróprio), para adaptá-lo à nova norma constitucional do divórcio. No capítulo da dissolução da sociedade conjugal (que passa a se chamar de “dissolução do vínculo conjugal”), com a redação projetada, o art. 1.571 continua enunciando as causas de dissolução, excluída a separação judicial e alterada a regulação da questão do nome dos cônjuges, para restaurar a regra, introduzida pela Lei nº. 8.560/92, da perda do nome no divórcio. O art. 1.572 passa a tratar do divórcio litigioso culposo, que só será admitido em hipóteses excepcionais; o art. 1.573 tratará do pedido unilateral de divórcio, que será a regra, ao lado do divórcio consensual, tratado no art. 1.574. O art. 1.575 regulará os efeitos do divórcio, seguido da questão da legitimação, regulada no art. 1.576. O último destes dispositivos tratará de deixar clara a impossibilidade de reconciliação após o divórcio. A reconciliação das pessoas atualmente separadas judicialmente continua sendo possível, nos termos da disposição transitória inserta no art. 7º. do Projeto, enquanto não convertida a separação em divórcio. A conversão fica também regulada em regra transitória (art. 8º. do Projeto). Já no capítulo seguinte, que trata da proteção da pessoa dos filhos e que foi alterado pela Lei nº. 11.698/08, que introduziu a regulação da guarda compartilhada, a única pretendida alteração se dá no art. 1.584, exclusivamente para excluir a referência à separação judicial. Faz-se necessário alterar, também, a redação dos arts. 1.695, 1.700, 1.701, 1.702, 1.703, 1.707 e 1.708, todos do Código Civil, que tratam dos alimentos, também com o objetivo de adaptá-los ao novo tratamento do divórcio. No art. 1.695, apenas se acresce um parágrafo único, para esclarecer a inaplicabilidade de seu caput à pensão em favor de filhos menores. No art. 1.700, pretende-se restaurar a doutrina da intransmissibilidade da obrigação alimentar, que foi indevidamente abandonada pela velha Lei do Divórcio e pelo Código Civil de 2002. No art. 1.701, acrescem-se dois parágrafos, para tratarem da forma de prestação dos alimentos, matéria que já constava da velha Lei do Divórcio. No art. 1.702, substitui-se a regulação dos alimentos na separação judicial culposa para o divórcio litigioso culposo. No art. 1.703, apenas se substitui a referência a cônjuges separados por cônjuges divorciados. No art. 1.707, acresce-se um parágrafo único para deixar clara a possibilidade da renúncia dos alimentos entre ex-cônjuges, matéria assente na doutrina. Por fim, no art. 1.708, substitui-se a polêmica referência ao procedimento indigno do cônjuge credor como causa de extinção da obrigação alimentar pela menção às demais causas de extinção da obrigação alimentar (renúncia ou implemento de condição ou termo). Aproveita-se o ensejo para projetar a alteração do art. 1.601, para restaurar a boa doutrina do Código Civil de 1916 que estabelecia prazo decadencial para a ação de impugnação de paternidade e a exclusividade da ação pelo marido da mãe; e o art. 1.723, § 1º., do Código Civil, retirando dele a referência à separação de fato como permissivo para a caracterização da união estável, já que esse dispositivo, além de inconstitucional (por ferir o princípio constitucional de proteção à família monogâmica), cria uma grande disparidade entre a união estável e o casamento, conferindo àquela direitos não permitidos a este, o que também contraria a norma do art. 226, § 3º.,in fine, da Constituição Federal. E, por fim, também se pretende a revogação do art. 1.520 do Código Civil, que permite a dispensa da idade núbil para o casamento, a uma, porque este dispositivo já está em parte sem eficácia, ante a revogação dos incisos VII e VIII do art. 107 do Código Penal pela Lei nº. 11.106/05; e a duas, porque, mesmo na parte em que ele ainda tem eficácia, é absolutamente injustificável a autorização para casamento antes de 16 anos, ainda que haja gravidez.
Compartilhar