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Desenvolvimento Humano e Social Livro

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Desenvolvimento 
Humano e Social
1ª edição
2017
Desenvolvimento 
Humano e Social
Presidente do Grupo Splice
Reitor
Diretor Administrativo Financeiro
Diretora da Educação a Distância
Gestor do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas 
Gestora do Instituto da Área da Saúde
Gestora do Instituto de Ciências Exatas
Autoria
Parecerista Validador
Antônio Roberto Beldi
João Paulo Barros Beldi
Claudio Geraldo Amorim de Souza 
Jucimara Roesler
Henry Julio Kupty
Marcela Unes Pereira Renno
Regiane Burger
Fábio Stabelini
Karen Freme Duarte Sturzenegger
Rangel Max Lima Vidal
Vanessa de Souza
Homero Nunes Pereira
*Todos os gráficos, tabelas e esquemas são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência.
Informamos que é de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. Nenhuma parte 
desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. A violação dos 
direitos autorais é crime estabelecido pela Lei n.º 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
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Sumário
Unidade 1
Cultura ............................................................................7
Unidade 2
Antropologia Cultural .................................................24
Unidade 3
Choques Culturais ......................................................42
Unidade 4
Globalização, Cultura de Massa e 
Indústria Cultural .........................................................59
Unidade 5
Indivíduo, Sociedade e Direito ...................................74
Unidade 6
Classe Social, Estratificação Social e Pobreza ..........89
Unidade 7
Movimentos Sociais ...................................................104
Unidade 8
Formação do povo brasileiro e crítica à sociedade 
contemporânea .........................................................121
Desenvolvimento 
Humano e Social
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Palavras do professor
Caro aluno (a)! Seja bem-vindo (a) à disciplina de Desenvolvimento 
Humano e Social. 
Ao escolher uma profissão, estamos necessariamente atuando em socie-
dade. Logo, precisamos compreendê-la para poder intervir e nos relacio-
narmos de forma cada vez mais tolerante e respeitosa, sobretudo con-
siderando que falar em sociedade é falar em complexidade.A disciplina 
Desenvolvimento Humano e Social trata exatamente dessa complexi-
dade, pois, quando nascemos, imediatamente nos inserimos em um 
espaço social marcado pela cultura. Mas, afinal, o que é cultura? Qual a 
importância dessa disciplina para a sua atuação cotidiana e profissional?
O estudo desse tema está dividido em oito unidades de aprendizagem, ao 
longo das quais refletiremos sobre a cultura e as formas de conceituá-la 
e interpretá-la. Dentro do terreno de estudos da Antropologia Cultural, 
que nasce voltada para explicar a diferença entre as sociedades humanas, 
os choques culturais entre perfis mais inovadores e outros mais conser-
vadores, teremos a oportunidade de demonstrar como essas caracterís-
ticas compõem a vida social. Falaremos, ainda, das diferentes matrizes 
religiosas, da indústria cultural, especificamente da mídia, da cultura e da 
comunicação de massa e da perspectiva crítica a essas matrizes.
Discutiremos cientificamente, ainda nessa perspectiva, em que consis-
tem o indivíduo, a organização social e os mecanismos de controle social, 
tanto os informais quanto os formais, como as leis. Isso porque, para com-
preender uma cultura, entendemos que é preciso olhar para a formação 
social de um povo, das classes sociais e de suas hierarquizações.
Por fim, daremos atenção aos movimentos sociais e a uma análise crítica 
das sociedades contemporâneas. O caminho é longo, mas o percorrere-
mos juntos.Bom estudo!
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Unidade 1
Cultura
Para iniciar seus estudos
Você está iniciando o estudo sobre o desenvolvimento humano e social. 
Está se sentindo preparado para as questões e reflexões sobre o curioso 
mundo cultural? Esta unidade trata da apresentação do conceito de cul-
tura, de como ele surgiu, qual o impacto da cultura no desenvolvimento 
da vida social e quando exatamente marcamos a nossa passagem de um 
estado de natureza para um estado de cultura. Essa reflexão é muito ins-
tigante. Vamos descobrir as respostas?
Objetivos de Aprendizagem
• Descrever o conceito e a importância da cultura, relatando suas 
nuances, características e como ela impacta a comunidade em 
que se encontra, bem como a regulação da convivência entre as 
pessoas que aí convivem. 
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Desenvolvimento Humano e Social | Unidade 1 - Cultura
1.1 Como nos tornamos sujeitos de cultura? 
A discussão mais técnica quanto ao conceito de cultura é discutida na Antropologia, disciplina fundada no final 
do século XIX. A Antropologia, como matéria específica, buscou e ainda busca compreender e explicar as diferen-
ças culturais existentes entre as sociedades e os homens.Nesse sentido, pode-se dizer que ela é o estudo calcado 
em dois pilares: a alteridade e a diferença.
Antropologia: consiste em um nível comparativo amplo de vários aspectos da vida social. 
Glossário
Os estudos antropológicos demonstram que as sociedades não são entes naturais, mas sim que emergem da 
cultura e, portanto, são construídas por vários núcleos sociais e em inúmeras sociedades. Podemos também 
definí-la enquanto hábitos sociais. Edward Tylor (1832-1917), em 1871, utilizou o termo cultura pela primeira 
vez e a definiu como todo comportamento aprendido, isto é, tudo aquilo que independe de transmissão gené-
tica. De forma mais precisa, para Tylor (1975):
A cultura da civilização tem um sentido etnográfico amplo, e um complexo conhecimento das 
crenças, da arte, da moral, do direito, dos costumes e qualquer outros hábitos e capacidades 
adquiridas pelo homem enquanto membro da sociedade. (TYLOR, 1975, p. 29)
Edward Tylor estruturou suas pesquisas a partir do relato dos viajantes e buscou “similaridades” para comparar 
povos com o mesmo grau de “civilização” nas descrições realizadas por esses viajantes. O segundo passo reali-
zado por ele foi classificar essas sociedades, inspirado no sistema de classificação de animais e plantas das ciên-
cias naturais. Nesse aspecto, seu pensamento foi desenvolvido na dicotomia entre cultura e natureza.
Sabemos que a natureza não dá saltos e, a partir de suas observações, Tylor (1975) procurou descrever e aproximar 
traços culturais de sociedades simples. Considera-se, nesse cenário, que a história da espécie humana é uma parte 
da história e da natureza, sendo que nossas vontades e ações se ajustam a leis concretas como as que a determi-
nam. Nesse sentido, o progresso, a degradação, a sobrevivência e as modificações que ocorrem são “modos de 
conexão” que unem a complexa civilização. Para o autor, somos os criadores e os transmissores da cultura.
Com a estruturação do conhecimento e das pesquisas, passamos a observar a cultura como fatos historicamente 
ordenados e como fruto da organização social. O mais importante dessa perspectiva é que, se os comportamen-
tos são culturalmente apreendidos, podem também ser culturalmente modificados.
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Desenvolvimento Humano e Social | Unidade 1 - Cultura
Figura 1.1 – Simbolização das diferentes culturas.
Legenda: A figura expressa as diferentes culturas, simbolizando as escolhas que fazemos enquanto sociedade.
Fonte: Plataforma Deduca (2018).
Os viajantes, ainda no século XIV, foram os primeiros a praticar a alteridade ao entrarem em contato com diferentes 
culturas e as descreverem. Eles perceberam que somos todos humanos, cada qual com práticas culturais diferencia-
das, e essa diferença exerceu grande fascínio na Europa, tanto em uma perspectiva positiva, que é a de conhecer o 
“outro”, como na de dominação e de imposição da sua cultura ou da sua forma de vida – o chamado etnocentrismo. 
Essa discussão, muitopresente na literatura antropológica e histórica, incide em duas vertentes conflitantes:
• uma fascinação com os “selvagens”;
• o repúdio ao “estranho”.
Etnocentrismo: ocorre quando um grupo, população ou sociedade observa o mundo a par-
tir do seu ponto de vista e o coloca como a principal referência, consiste em se colocar no 
centro de tudo, entendendo que o que não está organizado de acordo com os seus valores é 
menor, e, portanto, é inferior culturalmente. É exatamente ao contrário da ALTERIDADE que 
é o exercício de se aprender com a diferença. 
Glossário
É exatamente sobre essa dicotomia que a cultura se desenvolveu e a Antropologia nasceu, sendo queé impor-
tante que todos esses aspectos despertem nossa reflexão acerca da nossa própria cultura.
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Desenvolvimento Humano e Social | Unidade 1 - Cultura
Frank Lestringant (2006, p. 516) diz: “[...]A imagem da terra jamais havia exibido tal insta-
bilidade[...]. Já não há mais um único continente, envolvendo o Mediterrâneo central, útero 
confortável onde se abrigavam as certezas dos antigos, mas uma poeira de ilhotas, arquipé-
lagos, lascas de terra, que vogam à deriva num oceano desmesuradamente ampliado [...]”.
Você concorda que essa citação cumpre o papel de nos retirar de uma zona de conforto? 
O homem, no sentido de humanidade, possui uma tendência inconsciente à religiosidade e também à autoafirma-
ção, o que nos leva, enquanto indivíduos, a acreditar e a defender que o nosso modo de vida é mais desenvolvido do 
que o dos outros.Essa ação é um exercício etnológico que aprimorou as sociedades, a partir do qual se pode enten-
der que a cultura é apreendida, ou seja, que ela não é natural e sim socialmente construída em cada sociedade.
Etnologia: compara a vida social dos povos, demonstra que seus fundamentos são unifor-
mes e verifica a existência de leis. 
Glossário
1.2 A passagem de um estado de natureza para um estado 
de cultura
A passagem de um estado de natureza para um estado de cultura é uma das discussões mais presentes e deba-
tidas na Antropologia e, por isso, é tão fascinante. O filósofo francês Michel de Montaigne (1533-1592) já nos 
ensinava que perceber o “selvagem” deveria ser um exercício. O intuito, por sua vez, não deveria ser de classificá-
-lo como superior ou inferior e sim como diferente, isso constituindo a alteridade. E, quando falamos em alteri-
dade, falamos de cultura.
Ao usarmos a palavra “selvagens”, algumas imagens nos chegam à mente, imagens essas também socialmente 
construídas. Mas, a questão é: em que momento da história a humanidade saiu de um estado de natureza e pas-
sou a um estado de cultura? Pois bem, resposta complexa para uma pergunta também complexa. Cumpre notar 
que, no entanto, não há uma resposta precisa e sim profunda, pois não há um marco histórico nesse sentido, 
uma data ou um século. O grande antropólogo Claude Lévi-Strauss (1908-2009) nos dá a resposta. Segundo ele, 
a passagem desse estado de natureza para um estado de cultura foi uma mudança de paradigma que não foi 
histórica e, sim lógica, pois o cultivo de hábitos e a sua reprodução levaram à construção de sociedades desde as 
mais simples às mais complexas. Genial, não? 
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Desenvolvimento Humano e Social | Unidade 1 - Cultura
Nessa lógica, a diversidade de processos históricos é o lócus privilegiado da cultura, que é formada a partir de 
inúmeras existências e resistências de cuja dialética emergem as sociedades.Um exemplo seria o homem quando 
passa a estabelecer relacionamentos.Isso pode ser entendido como algo natural, pois somos seres sociais e, 
quando estabelecemos uma sociabilidade, ela produz cultura, sendo que a própria relação humana é uma deri-
vação dessa cultura. Assim, a cultura é um ambiente artificial criado pelo homem, em que ele é produtor e pro-
duto dessa cultura. Interessante, não?
Figura 1.2 – Simbolização das diferentes culturas.
Legenda: A figura expressa as diferentes culturas, simbolizando as escolhas que 
fazemos, como estilo de óculos, corte e cores de cabelo e maquiagem.
Fonte: Plataforma Deduca (2018).
Sabemos que os homens (no sentido de humanidade) são seres biológicos, e, por isso, vêm da natureza. Mas, 
paralelamente, o indivíduo social é desenvolvido, formado e criado dentro de cada sociedade, e, portanto, de 
uma cultura, na medida em que o homem utiliza a vida e a transforma imprimindo novos ritmos, sabores, gostos 
e comportamentos. E é nisso que está a sua marca, a sua cultura.
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Desenvolvimento Humano e Social | Unidade 1 - Cultura
Moda é cultura“[...] Georg Simmel (1859-1918), em 1904, [afirmou que] a moda era neces-
sariamente uma expressão das classes superiores, que buscava ser copiada pelas classes 
inferiores formando, nesse movimento de distinção e imitação, aquilo que se conhece hoje 
como “moda”, com suas mudanças cíclicas. É a emulação, o desejo de superar ou igualar a 
outrem, que cria a dinâmica da moda [...]” (GUIMARÃES, 2008, p. 2). 
Uma das maiores expressões da cultura é a moda. Zygmunt Bauman (1905-2017) analisa a moda dentro de uma 
perspectiva crítica, que ele denomina de modernidade líquida. A moda é considerada um fenômeno social que 
vende signos sociais, uma vez que ela apresenta diferença, desigualdades, fragilidades e também discrimina-
ções. Mas, ao mesmo tempo, pode ser libertadora.Ela é um fenômeno tão intenso de consumo, que se renova 
duas vezes ao ano seguindo as estações da primavera, verão, inverno e outono.
Nessa perspectiva, a cultura é estudada por aqueles que a pesquisam por meio da observação dos indivíduos se 
comportando em face de outros indivíduos e em relação à natureza. Por exemplo, as pessoas falam umas com as 
outras, gesticulam, realizam determinados movimentos, ocupam determinados espaços e evitam outros. Trocam 
com seus parceiros e participam de conflitos, desenvolvem atividades sexuais e de subsistência.
No nosso dia a dia, operamos basicamente com os códigos da nossa própria cultura. Nesse sentido, o exemplo da 
moda é perfeito. Nominamos as coisas com base em nossa realidade e convivência social e, nas sociedades ociden-
tais, coincide o que entendemos por ser uma roupa feminina, um tênis infantil, uma roupa esportiva, um terno, uma 
gravata ou uma sandália. A definição e o uso dessas peças são, portanto, códigos da nossa própria cultura.
Figura 1.3 – Simbolização da cultura por meio da moda.
Legenda: A figura expressa que nada é mais cultural do que a moda. 
Fonte: Plataforma Deduca (2018).
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Desenvolvimento Humano e Social | Unidade 1 - Cultura
 Essa abordagem é um ensaio da complexa compreensão sobre cultura, cuja significação está em toda a parte, 
em todas as nossas ações, na esfera do trabalho, das relações conjugais, da produção econômica e artística, do 
sexo, da religião, das formas de dominação e de solidariedade. Absolutamente tudo nas sociedades humanas é 
constituído segundo os códigos e as convenções simbólicas que denominamos de cultura. 
1.3 O que é cultura? 
Uma das formas de cultura é a linguagem verbal, que expressamos por meio dos mitos, dos cantos, das atividades 
de caça, de pesca, da lavoura, dos jogos, das cerimônias e, inclusive, da guerra. Essa é uma compreensão geral, 
mas, agora, para definir cultura em uma perspectiva mais contemporânea e crítica, nos apoiaremos nos estudos 
do sociólogo polonês Zigmunt Bauman, que parte, em suas reflexões, dos escritos de Pierre Bourdieu (1930-
2002), especialmente sobre os seus estudos de distinção social. 
Uma das ponderações presentes diz respeito ao fato de que a cultura, ao invés de criar uma “condição humana 
universal”, passou a utilizá-la como mecanismo de separação e não de integração entre os diferentes povos 
e tribos sociais urbanas.Um exemplo é a construção social do “bom” gosto como oposição ao “mau” gosto, o 
“refinado” em relação ao “vulgar”. Aqui não é difícil perceberque a cultura tanto pode integrar como segregar. 
Vejamos a citação de Bauman (2011):
A elite cultural está viva e alerta; é mais ativa e ávida hoje do que jamais foi. Porém, está preo-
cupada demais em seguir os sucessos e outros eventos festejados que se relacionam à cultura 
para ter tempo de formular cânones de fé ou a eles converter outras pessoas. Além do princípio 
de “Não seja Enjoado”, “Não seja exigente” e “Consuma Mais”, essa ideologia nada tem a dizer a 
multidão unívora situada na base da hierarquia cultural. (BAUMAN, 2011, p. 6)
Bauman (2011) caracteriza como onívoro o indivíduo dos dias de hoje, pós-moderno, que 
consome de tudo, para atingir satisfação e felicidade. UNÍVORO: nos séculos passados, o 
consumo era caracterizado por uma escolha pormenorizada do que consumir, ao contrário 
do que acontece atualmente. 
Glossário
A cultura, em Pierre Bourdieu, já aparecia como um dispositivo útil utilizado de forma consciente para marcar 
essas diferenças de classe e preservá-las com o intuito de proteger e manter as hierarquias sociais. Como exem-
plo, nomear o que é belo ou feio é uma forma de impor essas categorias. A própria expressão artística funciona 
como uma distinção de classe quandoa arte se destina a um consumo estético que garante a segregação. No 
entanto, as transformações socioculturais criaram outro cenário em que surgiu o que Zygmunt Bauman deno-
minou de modernidade líquida. 
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Desenvolvimento Humano e Social | Unidade 1 - Cultura
Figura 1.4 – Simbolização da modernidade líquida.
Legenda: A figura expressa que a modernidade escorre entre nossos dedos, é o futuro imbricado com o passado.
Fonte: Plataforma Deduca (2018).
Na cultura líquida descrita por Bauman (2011), o objetivo predominante é conquistar consumidores. Esse pensa-
mento fica muito claro quando ele discute o que é modernidade e a sua fluidez, principalmente nessa relação da 
construção dos valores culturais e do consumo vinculado a uma perspectiva estética.
Cabe compreender exatamente a abordagem de Bauman (2011) sobre o caráter líquido da 
modernidade: a“[...]‘modernização’, compulsiva e obsessiva, capaz de impulsionar e inten-
sificar a si mesma, em consequência do que, como ocorre com os líquidos, nenhuma das 
formas consecutivas de vida social é capaz de manter seu aspecto por muito tempo. ‘Dissol-
ver tudo que é sólido’ tem sido a característica inata e definidora da forma de vida moderna 
desde o princípio [...]” (Bauman, 2011, p. 16). 
Nessa linha, qual é o papel do belo e do feio? Já vimos que tanto uma categoria como outra são constructos 
sociais, mas cabe aprofundar essa discussão observando a pós-modernidade. Bauman (2011), em um debate 
utilizando os escritos de Sigmund Freud (1856-1939), apresenta a seguinte questão: qual a função do belo em 
nossa sociedade? Ele afirma que não poderíamos existir enquanto civilização sem esse conceito, pois, ainda que 
o belo não tenha uma utilidade óbvia, ele existe. E, embora não seja uma necessidade cultural, ele é uma necessi-
dade social, pois os binômios feio x bonito, elegante x deselegante e pobre x rico são estruturantes da vida social, 
organizam o mundo, afastam o requintado do Zé-ninguém. 
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Desenvolvimento Humano e Social | Unidade 1 - Cultura
Isso é muito interessante e ao mesmo tempo perturbador, você concorda? Cabe ainda apresentar a sucinta defi-
nição de cultura apresentada pelo autor. Para ele, cultura “[...] é um conjunto de preferências sugerido, recomen-
dado e imposto em função da sua correção, excelência ou beleza [...]” (BAUMAN, 2011, p. 7). O conceito também 
é muito fluido, mas suficientemente abrangente para nos dar apoio para refletir sobre o funcionamento das 
sociedades ocidentais. 
Uma sociedade pode ser tanto inclusiva e excludente ao mesmo tempo, na medida em que ela pode oferecer 
bilhetes para a arte, mas, ao mesmo tempo em que há oferta ampla, nem todos poderem acessá-la. Você com-
preende? Essa contradição é a marca da nossa sociedade e nem sempre é fácil perceber e tampouco explicar 
dicotomias como essa, que dão base àvida social.
De acordo com Bourdieu, principal referencial de Bauman, houve, no decorrer dos anos, uma ruptura com o con-
ceito iluminista de cultura, que visava modificar o status quo e não o edificar, a título de uma busca pela condição 
humana universal (BAUMAN, 2011). Assim, o objetivo não era codificar, inventariar e escrever a vida comum 
social, mas sim apontar uma direção no futuro. O nome cultura foi, ainda, planejado para educar as massas e 
refinar os seus costumes e então aproximar o povo (a base social) da elite (aqueles que estão no topo). Ela seria, 
nesse viés, a luz que perpassava o que poderíamos chamar de dois mundos.
Figura 1.5 – Simbolização da aproximação do povo da elite.
Legenda: A figura expressa que o projeto iluminista, ao criar a categoria cultura, tinha por 
objetivo aproximar dois mundos tidos como distintos, o da elite e o do povo.
Fonte: Plataforma Deduca (2018).
A intenção assumida e declarada dessa elite era educar, esclarecer, elevar e enobrecer o povo, levando as pessoas 
ao status recente de cidadãos no também novo conceito de Estado-Nação. Nada mais ocorreu do que a tentativa 
de unir o Estado a uma Nação, sendo o primeiro guardião daquela condição– sabemos que uma Nação não é 
capaz de ser formada sem cidadãos e a cultura, nesse espaço, figura como o tempero dessa junção.
Todavia, houve um problema com o projeto: nem todos os indivíduos se encaixavam naquele modelo e, dessa 
forma, sobraram pessoas, as chamadas franjas sociais, que não se enquadravam no almejado Estado-Nação. Em 
decorrência disso, efeitos indesejáveis ocorreram. Com a criação da ideia de que o “homem branco” teria uma 
missão, a de salvar aqueles que se encontravam em um estado de barbárie, percebemos deturpações da função 
da cultura, pois foi criada para ser inclusiva, mas, para gerar a inclusão, ela precisou excluir. Essa foi a justificativa 
utilizada. Você concorda com isso? Ou consegue visualizar um gap entre os objetivos e os meios para conquistá-
-los? Será que, para causar o equilíbrio social, primeiramente a sociedade tem que passar por desequilíbrios? 
Continuaremos esse assunto no próximo tópico.
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Desenvolvimento Humano e Social | Unidade 1 - Cultura
1.4 Conceituando: a cultura como construção social
No tópico anterior, em algumas passagens, apresentamos conceitos de cultura apresentados por Zygmunt Bauman 
e Pierre Bourdieu, bem como outrosdos mais aceitos no ambiente acadêmico pelos especialistas no tema, isto é, os 
antropólogos. Neste momento, nosso objetivo é “amarrar” esses conceitos e essas abordagens sobre cultura.
Embora existam divergências conceituais quanto ao que se entende por cultura, o que sabemos é que todas são 
complexas. Um dos caminhos é considerar cada cultura como uma unidade e um processo histórico individual, 
atentando para que as feições culturais não são compreensíveis quando separadas do conjunto da sociedade, ou 
seja, o indivíduo deve ser compreendido como um ser que vive na sua cultura. 
Mas a cultura também passou por grandes transformações, como já vimos. A modernidade passou de sua fase 
“sólida” para uma fase “líquida”, de forma que Bauman (2011) rebatizou o conceito de modernidade por “moder-
nidade líquida” denominada por outros autores como “pós-modernidade”, “modernidade tardia”, “segunda 
modernidade”, ou ainda, “hipermodernidade”. Mas qual é o impacto de atribuir novo conceito para explicar os 
fenômenos sociais?O próprio autor explica:
O que torna “líquida” a modernidade, e assim justifica a escolha do nome, é sua “modernização” 
compulsiva e obsessiva, capaz de impulsionar e intensificar a si mesma, em consequência do que, 
como ocorre com os líquidos, nenhuma das formas consecutiva de vida social é capaz de manter 
seu aspecto por muito tempo. “Dissolver tudo o que é sólido” tem sidoa característica inata e 
definidora da forma de vida moderna desde o princípio; mas hoje, ao contrário de ontem, as for-
mas dissolvidas não devem ser substituídas (e não o são) por outras formas sólidas – consideradas 
“aperfeiçoadas”, no sentido de serem até mais sólidas e “permanentes” que as anteriores, e, por-
tanto, até mais resistentes à liquefação. (BAUMAN, 2011, p. 11)
Percebemos que essa sociedade se torno mais fluida. Pensem você: existe como controlar a água que jorra de 
uma mangueira ligada a uma torneira? Podemos, com as mãos, controlá-la? Ou com um jarro? Tarefa impossível, 
pois a água se esgueira e foge por tudo onde toca. Essa é a descrição feita por Bauman (2011). 
A cultura na modernidade líquida descrita pelo sociólogo é repleta de ofertas, propostas e nunca de normas, pois 
nada a retém. A cultura quer estimular o consumo, tentar seduzir, produzir desejos e criar necessidades, e nunca 
cumprir deveres. Ocorre um apelo à mudança constante, diferentemente da época do Iluminismo, em que se 
tinha um norte.Hoje, não há norte, não há caminho, não há direção, o que existe é um mercado de consumo cuja 
a única orientação é a rotatividade e a fluidez.
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Desenvolvimento Humano e Social | Unidade 1 - Cultura
Figura 1.6 – Simbolização da busca desenfreada pelo consumo.
Legenda: A figura expressa que o objetivo das pessoas é consumir sem ter um caminho claro a ser seguido.
Fonte: Plataforma Deduca (2018).
Somos uma sociedade de consumidores, em que os diversos artigos competem pela atenção, implicando em 
certa incapacidade de prender o foco dada a diversidade e o grande volume dessa competição. 
Todas essas interpretações e explicações de Bauman (2011) sobre a modernidade líquida deixam claro que a 
cultura é uma construção social. Cremos que, em relação a isso, não temos mais dúvidas, mas, para finalizar essa 
abordagem, é preciso compreender para explicar. 
Como afirma Bauman (2011), “[...] hoje, o [...] sinal de pertencimento a uma elite cultural é 
o máximo de tolerância e o mínimo de seletividade. O esnobismo cultural consiste agora na 
ostentosa negação do esnobismo. O princípio do elitismo cultural é onívoro – está à vontade 
em qualquer ambiente cultural, sem considerar nenhum deles seu lar, muito menos o único 
lar” (Bauman, 2011, p. 13). 
Nesse sentido, vamos recordar que o conceito de cultura surgiu na França com Edward Tylor, e, conforme descre-
vemos, com o intuito de refinar o povo, aperfeiçoar e instruir, sendo essa vocação tomada por ações do próprio 
Estado após a Revolução, com a queda da Monarquia. No entanto, esse olhar se perdeu com a institucionalização 
de um Ministério da Cultura, que, ao invés de se preocupar em refinamento, em um caminho inverso, passou a 
investir nos próprios artistas e no aprofundamento de suas expressões individuais e isoladas. Dessa forma, houve 
um descolamento do pensamento originaliluminista eoEstado passou a tutelar os artistas.
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Desenvolvimento Humano e Social | Unidade 1 - Cultura
Você consegue perceber a mudança no foco de atuação e as consequências que derivam na construção de uma 
sociedade do consumo? Houve um encapsulamento dos artistas e da arte, o quese tornou uma ação voltada de 
artistas para artistas e do Estado para os artistas e não para o povo naquele sentido original. O revolucionário, 
aqui, é transformar ideias em dominação, mecanismo discutido pelos autores da chamada Escola de Frankfurt.
Da Escola de Frankfurt emerge uma teoria social criada por estudiosos componentes da Uni-
versidade de Frankfurt, formada por cientistas sociais marxistas que entendiam que as ideias 
marxistas ortodoxas não davam conta de explicar a sociedade capitalista. Considerando isso, 
criaram uma visão alternativa para o desenvolvimento da sociedade, e, para explicá-la, cria-
ram concepções alternativas que partiam das concepções marxistas, que, por meio de um 
processo de refinamento, culminaram na denominada Teoria Crítica. 
Dentro dessa discussão, qual seria a função da arte? A função da arte é mudar o mundo – questão que foi profun-
damente debatida pelos autores da Escola de Frankfurt. No entanto, seguiremos como olhar de Bauman (2011), 
que identificou um conflito entre os administradores da arte e os artistas, dialética dentro da qual se construiu 
esse mundo da modernidade líquida. Ambos não discordam quanto à necessidade constante de mudanças e 
ajustes, mas há conflito quanto ao objeto dessas mudanças. Haja vista que a cultura vai além da satisfação da 
necessidade o incentivo ao consumo como necessidade corrompe a cultura criando um ciclo vicioso de consumo 
e de inserção social por esses mecanismos. Voltamos, com isso, àquela primeira discussão do indivíduo como 
onívoro e unívoro, e porque nos tornamos onívoros, e as implicações dessa mudança do ponto de vista de uma 
cultura de consumo.
As culturas estão em um processo contínuo de modificação e isso quer dizer que a cultura não é algo estático, 
pois nós mudamos frequentemente. Podemos considerar que temos dois fluxos de mudança: um interno e um 
fruto do contato. O primeiro é resultado da própria dinâmica do sistema cultural. É uma mudança, em geral, 
lenta, mas que pode ser alterada por eventos históricos. Por exemplo, a inovação tecnológica causou grande 
impacto na sociabilidade, vide o papel das redes sociais como o Facebook, dentre outras.
O segundo fluxo de mudanças emerge do contato de um sistema cultural com outro sistema cultural. O melhor 
exemplo é a aculturação, fenômeno amplamente divulgado e estudado em relação aos índios brasileiros em 
seu contato com os portugueses que aportaram no Brasil. Outro exemplo que vale a pena ser apresentado foi o 
forte impacto cultural da pílula anticoncepcional para as mulheres, para os casais, para as famílias, pela grande 
revolução sexual que causou.
Certamente, em termos acadêmicos, esse segundo modelo é o mais estudado, tendo em conta o forte impacto 
na cultura e, por consequência, nas relações sociais. É possível perceber, a partir desses exemplos, o quanto a cul-
tura é dinâmica, não estática, o tempo todo alimentada por informações sociais que estão em constante trans-
formação, algumas mais lentas e outras mais intensas e revolucionárias.
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Desenvolvimento Humano e Social | Unidade 1 - Cultura
Figura 1.7 – Simbolização do processo de aculturação.
Legenda: A figura expressa a cultura dos índios no Brasil, que confrontou 
fortemente com a cultura do homem branco europeu.
Fonte: Plataforma Deduca (2018).
Nessa abordagem, percebemos que somos sujeitos de cultura e somos afetados tanto internamente como 
externamente. Normalmente, os grandes impactos são mais amplamente estudados, mas ambos são muito 
importantes. Pare e pense! Lembre-se das roupas utilizadas pelos homens e mulheres da elite no final do século 
XVIII. Mulheres: vestidos compridos, pesados, fechados, cabelos longos e amarrados. Homens: cartola, bengala 
e ternos. E, hoje, calças jeans rasgadas propositalmente, decotes, camisetas e transparências. Foi uma mudança 
lenta, mas que ocorreu a partir da quebra de paradigmas entre os relacionamentos sociais.
Por fim, a mensagem que fica é a de que somos sujeitos culturais. Sendo assim, a sociedade e a cultura são cons-
truções sociais que variam de acordo com o desenvolvimento da sociedade em seus mais variados aspectos. 
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Considerações finais
Nesta unidade, tivemos acesso a muitas informações e conteúdos impor-
tantes em termos da formação da cultura, da cultura efetivamente como 
uma construção social e de todas as transformações que impactam em 
nosso comportamento social.Vamos retomar os pontos principais estu-
dados até aqui?
• A Antropologia é o estudo da cultura e tem como pilar a alteri-
dade e a diferença. As sociedades não são naturais, elas são entes 
de cultura, que é a expressão de comportamentos apreendidos. O 
estudo da culturarequer a análise dos hábitos morais, religiosos, 
comportamentais e políticos do modo de vida dos seres humanos.
• A cultura sempre teve como marco a passagem de um estado de 
natureza para um estado de cultura. Isso porque a Antropologia 
nasce fortemente influenciada pelas ciências naturais. As socie-
dades criam e transmitem cultura e, uma importante reflexão 
nesse sentido, é a de que, se criamos a cultura, também podemos 
transformá-la. 
• Não existe uma data no calendário da humanidade que marque 
quando saímos do estado natural e passamos para o estado cul-
tural. Essa passagem não é histórica e sim lógica, no que reside 
a complexidade de se estudar os fenômenos culturais. A cultura 
é um fenômeno artificial criado pelo homem, que imprime seu 
ritmo sobre aquela, reforçando a ideia de que a cultura é um cons-
tructo social.
• A moda é uma grande expressão da cultura e a sua volatilidade 
demonstra o quão sujeitos estamos aos fenômenos da cultura. O 
que comemos, vestimos, contamos, cantamos etc. revela muito da 
nossa identidade cultural. Além disso, a cultura é uma demons-
tração da nossa reação aos fenômenos da natureza.
• Em termos de classes sociais, a criação do gosto é uma expres-
são da cultura. Vimos como o impacto do consumo impulsiona 
o funcionamento dessa sociedade. Descrevemos a mudança de 
paradigma detectado por Zygmunt Bauman e Pierre Bourdieau 
em relação a uma sociedade que se preocupava em educar o povo 
e que, na modernidade líquida, se preocupa em transformá-lo em 
simples consumidores. 
21
• Cada cultura é única e teve o seu próprio caminho de formação, 
sendo cada uma é fruto de uma construção social.
• O que constitui a cultura da modernidade líquida são as ofertas, 
as propostas e a criação da necessidade pelo consumo, nunca as 
normas ou os limites. Esta não é retida por nada. A cultura esti-
mula o consumo, tenta, seduz, produz desejos e cria necessidades 
e nunca estimula o cumprimento de deveres ou de limites.
• A cultura não é estática, mas sim está em constante modifica-
ção e retroalimentação, especialmente por meio do estímulo ao 
consumo hoje em dia. A cultura é tanto reflexo de transforma-
ções lentas e contínuas quanto de grandes mudanças que cau-
sam impactos mais significativos e extensivos no comportamento 
humano. Podemos citar como exemplo a grande revolução cultu-
ral causada pela integração da pílula anticoncepcional, que teve 
impacto na sociedade como um todo e mudou hábitos. 
• A cultura fica comprovada como uma construção social muito 
particular de cada sociedade, havendo um movimento interno e 
externo de alimentação desses modos de vida.
Referências bibliográficas
22
BAUMAN, Z. A Cultura no Mundo Líquido Moderno. Rio de Janeiro: Jorge 
Zahar Editor, 2011.
GUIMARÃES, M. E. A. Moda, cultura e identidades. IV ENECULT –- Encon-
tro de Estudos Multidisciplinares em Cultura, 28 a 30 de maio de 
2008. Faculdade de Comunicação/UFBa, Salvador-Bahia-Brasil. MODA, 
CULTURA E IDENTIDADES. Disponível em: <http://www.cult.ufba.br/ene-
cult2008/14326.pdf>. Acesso em: 03 jan. /01/2018.
LESTRINGANT, F. O Brasil de Montaigne. Revista de. Antropologia. [on-
-line], .São Paulo, 2006, vol. 49, n. 2, pp. 515-556. ISSN 0034-7701.  Dis-
ponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0034-77012006000200001>. 
Acesso em: 03 jan. 2018. 03/01/2018.
TYLOR, E. La ciência de la cultura. Barcelona: Anagrama, 1975.
24
2Unidade 2
Antropologia Cultural
Para iniciar seus estudos
Caro(a) aluno(a), esta unidade é importante para sua formação porque 
introduz os principais modelos e critérios pelos quais as culturas foram 
compreendidas. A partir da definição conceitual de cultura construída na 
primeira unidade, já nos encontramos preparados para estudar e apro-
fundar tal temática. Esse conhecimento certamente será um grande dife-
rencial em sua formação profissional.
Objetivos de Aprendizagem
• Refletir a Antropologia Cultural como uma das quatro áreas 
da Antropologia em que se estuda heterogeneidade cultural 
humana, bem como as sociedades humanas no aspecto cultural.
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Desenvolvimento Humano e Social | Unidade 2 - Antropologia Cultural
2 Antropologia Cultural
Nesta unidade, vamos promover uma reflexão sobre as manifestações culturais seguindo os passos da Antro-
pologia, uma região do saber científico que entende, como objeto privilegiado de análise, a diversidade de tais 
manifestações. Sem pressa, vamos começar devagar...
Observe as seguintes frases:
Frase 1: “Nós todos sabemos que as pessoas precisam de cultura neste país. Um povo sem educação é um povo 
condenado”.
Frase 2: “A cultura brasileira é riquíssima. Vejam só nossa música, nossa culinária, nossas festas!”
As duas frases citadas apresentam o termo cultura com conotações diferentes, sendo que apenas uma delas 
possui sentido antropológico. Tal sentido do conceito de cultura está expresso na frase dois, uma vez que ele 
engloba as características sociais como um todo, a partir da junção dos aspectos material e simbólico destas 
construções sociais, definindo as formas de pensar, agir, sentir e interagir próprias de cada grupo social.
Figura 2.1 – Cultura étnica
Legenda: Elementos étnicos.
Fonte: Plataforma Deduca (2018).
Muitas vezes, mesmo sabendo que cultura não pode ser confundida com nível educacional, ela, não estando 
bem definida, vincula-se a uma ideia de “o todo mais complexo” que estaria além das nossas capacidades sensí-
veis de imaginá-lo. A primeira tentativa de compreender as manifestações culturais aconteceu junto à empresa 
neocolonial: a Antropologia surge no contexto do neocolonialismo europeu do final do século XIX, uma vez que o 
contato dos europeus com a diversidade cultural representada pelos nativos africanos e asiáticos fez necessária 
uma ciência que buscasse compreender o funcionamento destas sociedades e que justificasse o domínio sobre 
esses povos (MARCONI; PRESOTTO, 2013).
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Desenvolvimento Humano e Social | Unidade 2 - Antropologia Cultural
Quem definiu a cultura pela primeira vez foi o antropólogo inglês Edward Tylor (1832-1917), entendendo-a com 
“um todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade 
ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade” (TYLOR, 1871, p. 1). Assim, a cultura, para 
o autor, seria o modo pelo qual o indivíduo constrói seus símbolos e interpretações do mundo através de um 
processo de aprendizado e de convivência em determinado grupo social. 
No entanto, apesar de depender da subjetividade e da interpretação do indivíduo, a cultura não é algo essencial-
mente individual, porque mostra a maneira pela qual as pessoas se relacionam entre si. Cultura, na Antropologia, 
se associa ao conceito de alteridade, isto é, à relação entre eu e o outro, a convivência com a diversidade, com o 
diferente, estando ele em uma sociedade longínqua ou sendo nosso vizinho.
Como pensar e lidar com o outro e as implicações sociais, éticas e políticas que isso pode trazer para a convivên-
cia em um mundo em comum é a grande questão da Antropologia. Ainda que haja, entre os antropólogos, um 
consenso e uma definição mais geral da cultura como capacidade de simbolizar e interpretar o mundo, veremos 
que há diferentes perspectivas, usos e implicações do conceito, o que traz, por sua vez, diferentes maneiras de 
ver e lidar com as diferenças.
Em Antropologia, o conceito de cultura se desdobra em outros conceitos, como o de alteridade, etnocentrismo, 
relativismo e identidade, o que permite complexificar o debate, ao mostrar como situações sociais cotidianas não 
se esgotam em soluções fáceis (BAUMAN, 2011). Na sequência, vamos conhecer mais sobre o evolucionismo e 
o relativismo.
2.1 Evolucionismo e Relativismo
Para iniciar nossa imersão pela temática da cultura, abordaremos, nesta seção,as duas principais correntes de 
pensamento que promoveram a investigação científica acerca das manifestações socioculturais, a saber: o Evo-
lucionismo e o Relativismo Cultural.
2.1.1 Evolucionismo
O evolucionismo cultural é uma corrente da teoria social que se tornou expressiva no final do século XIX e iní-
cio do XX. Ela olha para a cultura e para a sociedade como se elas sempre “evoluíssem” para algo melhor, mais 
desenvolvido, como se todas as expressões humanas passassem pelas mesmas etapas, se desenvolvendo a partir 
de instituições mais simples para as mais complexas. Tal corrente do pensamento social foi inspirada pelas ideias 
do naturalista britânico Charles Darwin (1809-1882).
Essa corrente antropológica, denominada Evolucionismo, surge a partir de uma necessidade específica da socie-
dade europeia: a de compreender as culturas dos outros. O Evolucionismo, dessa maneira, nasce de uma postura 
etnocêntrica, isto é, o privilégio de uma cultura, no caso a europeia, serve como parâmetro para compreender o 
grau de evolução desta e de outras culturas e sociedades. Tal visão etnocêntrica considera todas as expressões 
humanas a partir de um único ponto de vista, que é o seu próprio (ROCHA, 1988).
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Desenvolvimento Humano e Social | Unidade 2 - Antropologia Cultural
Figura 2.2 – Evolucionismo.
Legenda: Representação da evolução humana e tecnológica.
Fonte: Plataforma Deduca (2018).
O evolucionismo cultural representa uma hierarquização das sociedades a partir da distinção entre bárbaros e 
civilizados, justificando a dominação entre os povos. A condição de civilizado era exclusividade da sociedade 
ocidental europeia, tida como o modelo a ser seguido por todas as outras expressões humanas e sociais que, 
relegadas à condição de barbárie, precisavam da “ajuda” civilizada para subir os degraus da evolução técnica 
rumo às sociedades industriais.
Podemos entender essa postura de uma maneira bastante simples: o posicionamento evolucionista baseava-se 
em classificar os outros povos de acordo com as características culturais dos observadores europeus, hierar-
quizando as sociedades como melhores ou piores. A cultura, assim, era vista como uma sucessão de inovações 
tecnológicas e científicas.
2.1.2 Relativismo
O Relativismo é uma corrente do pensamento antropológico que faz uma crítica ao Evolucionismo ao negar a 
possibilidade de hierarquização entre as culturas, buscando compreendê-las dentro de seus próprios contornos. 
O que isso quer dizer? O relativismo cultural é uma perspectiva antropológica que propõe que as outras culturas 
devem ser compreendidas a partir de seus próprios valores e conhecimentos. Ou seja, uma determinada cultura 
deve ser observada e compreendida a partir das suas próprias formas de pensar e agir e não a partir dos conceitos 
de quem a observa (LANGDON; WIIK, 2010). 
O relativismo cultural postula que o quê é próprio de outro povo deve ser compreendido a partir dos seus concei-
tos e não a partir dos nossos próprios conceitos. Nesse sentido, é importante assumirmos uma postura em que 
nos esforcemos para compreender as outras formas de pensamento, crenças e valores a partir de seus próprios 
sistemas culturais. Porém, esse exercício de tentar compreender o que é distinto e diferente de nós não é algo tão 
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Desenvolvimento Humano e Social | Unidade 2 - Antropologia Cultural
simples, considerando que exige conhecer de forma mais aprofundada o ponto de vista de outra população, o 
que requer diálogo e convivência.
Relativizar, portanto, é tentar deslocar-se em direção a outros pontos de vista. Se olhamos para os diferentes 
povos a partir de nossos próprios conceitos e concepções, estaremos praticando o que, na Antropologia, se 
chama etnocentrismo. O etnocentrismo pode ser considerado como o contrário do relativismo cultural.
2.2 Funcionalismo, Estruturalismo e Hermenêutica
Nesta seção, abordaremos as principais escolas do pensamento antropológico que se consolidaram através de 
propostas metodologicamente distintas para a compreensão das manifestações socioculturais. Veremos como 
os antropólogos compreenderam a cultura a partir de diferentes pontos de vista, além do alcance e dos limites de 
cada uma dessas perspectivas. Trataremos do Funcionalismo de Malinowski e Radcliffe-Brown, do Estruturalismo 
de Lévi-Strauss e, por último, da Hermenêutica de Geertz.
2.2.1 Funcionalismo
O Funcionalismo é uma escola da teoria social que vê a sociedade como um conjunto de instituições sociais que 
desempenham funções específicas de modo a garantir a integração, a coesão e a continuidade do todo social. 
Por exemplo, podemos utilizar a metáfora do corpo humano para pensar as instituições sociais como partes do 
corpo, como se fossem órgãos que precisam funcionar e interagir bem.
Ela tem como principais representantes na Antropologia dois grandes pesquisadores: o britânico Aldred Radcli-
ffe-Brown (1881-1955) e o polonês Bronislaw Malinowski (1884-1942). As instituições (como família, escola, 
igrejas, polícia e Estado) são centrais em suas teorias, sendo que elas precisam funcionar bem e de forma inte-
grada para que a sociedade se mantenha sem conflitos. 
Os funcionalistas acreditam que a cultura serve à satisfação de funções primárias das pessoas, que criam as 
regras sociais para satisfazer suas próprias necessidades. Por exemplo, conhecer e classificar os alimentos como 
conhecimento para saciar a fome. Ou seja, as pessoas só passaram a conhecer as espécies de plantas e animais 
na medida em que esses são comestíveis, prestam-se a uma função. 
Todo o conhecimento estaria, assim, vinculado diretamente à utilidade, na medida em que só se conhece e só é 
possível conhecer aquilo que é útil. A cultura seria, dessa forma, um modo eficiente de satisfazer os desejos bio-
lógicos primários do ser humano, desejos como alimentação, abrigo e afeto. Dentro dessa perspectiva, a cultura 
estabeleceria um código pragmático sobre a relação do ser humano com o mundo material, permitindo que 
certos esquemas para classificar a natureza estejam a serviço da satisfação de necessidades. 
Na perspectiva funcionalista, o estudo científico das sociedades deve privilegiar a análise da organização social 
no presente ou em um tempo claramente delimitado. Empreende-se, dessa forma, uma crítica acirrada à visão 
evolucionista, argumentando que ela se baseia em conjecturas sobre o passado histórico da humanidade que 
dificilmente poderiam ser comprovadas.
29
Desenvolvimento Humano e Social | Unidade 2 - Antropologia Cultural
2.2.2 Estruturalismo
O interesse principal da escola estruturalista é desvendar estruturas que se assemelham e que são subjacentes a 
fenômenos aparentemente muito diferentes entre si. Ou seja, seu foco recai sobre o que é comum e constante 
em todas as sociedades, mesmo que a maneira de aplicar essas invariantes ou essas regras sociais seja distinta 
em cada uma delas. 
Claude Lévi-Strauss (1908-2009), considerado o maior representante dessa perspectiva, promoveu um rigoroso 
estudo sobre os mitos em diversas sociedades e buscou, para além das variações nas estórias e nos modos de 
contar, os elementos que se repetiam em todas elas, montando, com isso, uma estrutura em comum. 
Enquanto a natureza é compreendida por regras universais, a cultura destaca-se pela par-
ticularidade e diversidade de suas manifestações. O interesse do Estruturalismo recai exa-
tamente sobre essa passagem da natureza para a cultura, do universal ao particular, movi-
mento sensível da humanidade em quaisquer das suas expressões. 
A primeira regra cultural, para Lévi-Strauss (1989), é a proibição do incesto, ou seja, a regra que proíbe relações 
sexuais ou de casamento entre pessoas com parentesco. Trata-se de um tabu que funciona como fundamento 
da vida social que impede o fechamento das famílias nelas mesmas: ao obrigar o casamento fora dogrupo fami-
liar, o tabu do incesto inaugura trocas entre as famílias, promovendo a circulação de pessoas, bens e símbolos 
entre grupos. Eis o que caracteriza a passagem da natureza à cultura. Se existe isso em todas as sociedades 
humanas conhecidas, é universal. Mas, ao mesmo tempo, é particular, uma vez que a maneira pela qual a família 
e os laços de parentesco são concebidos varia bastante.
As espécies de plantas e animais, aqui, não seriam classificadas porque são boas para comer, mas sobretudo 
porque são boas para pensar. Isso quer dizer que são entendidas pelo conhecimento em si e não meramente por 
uma função utilitária do intelecto. Portanto, os aspectos materiais e as necessidades biológicas são deixados em 
segundo plano. Em crítica ao Funcionalismo, a perspectiva estruturalista não relaciona diretamente a cultura 
com satisfação das necessidades, isso porque classificar as espécies antecede qual utilidade que a mesma irá 
adquirir a partir de sua classificação. Trata-se, pelo contrário, de satisfação do intelecto: primeiro se conhece para 
depois introduzir um princípio de ordenador no universo. 
Segundo Lévi-Strauss (1989), o ser humano faz o que faz não apenas para satisfazer suas necessidades, mas para 
reconhecer-se e afirmar-se enquanto tal, diferenciando-se dos outros animais. A cultura não está, portanto, a 
serviço da utilidade: no Estruturalismo, tal conceito amplia suas possibilidades de se relacionar com o meio. Para 
o autor, a cultura é um sistema simbólico em que estão localizadas a ciência, a religião, o parentesco, a linguagem 
e a arte. 
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Desenvolvimento Humano e Social | Unidade 2 - Antropologia Cultural
Figura 2.3 – Pintura rupestre.
Legenda: Representação de arte rupestre.
Fonte: Plataforma Deduca (2018).
Lévi-Strauss (1989) também faz uma crítica ao Evolucionismo ao mostrar que, apesar de haver diferentes mani-
festações culturais, tais manifestações repousam em uma estrutura em comum para toda a humanidade, que, 
para o autor, é o pensamento lógico. Dessa maneira, pessoas das mais diversas sociedades, indígenas e não indí-
genas, possuem a mesma capacidade técnica e intelectual, ainda que suas expressões sejam distintas. 
Não pode existir, a partir dessa concepção, um pensamento caracterizado como irracional, ou pré-lógico, ideia 
que era comum entre evolucionistas. O conhecimento tradicional e o pensamento mágico não são, por exemplo, 
uma fase inicial do pensamento técnico-científico; antes, fazem parte de um sistema independente articulado e 
coerente como a ciência ocidental.
2.2.3 Hermenêutica
Segundo essa escola antropológica, cultura é um conceito semiótico, ou seja, a cultura é como um texto que 
precisa ser interpretado, não havendo uma explicação única e universal, mas a possibilidade de diferentes inter-
pretações de acordo com aquele que produz e aquele que o lê (GEERTZ, 1989). 
A cultura como texto e contexto significa que o mais importante não é tanto o que as pessoas fazem, mas os sig-
nificados que elas atribuem ao que fazem, e são esses sentidos que os antropólogos devem buscar. Essa prática 
científica ficou conhecida como uma Antropologia Interpretativa ou Hermenêutica. 
31
Desenvolvimento Humano e Social | Unidade 2 - Antropologia Cultural
Hermenêutica é a área do saber dedicada ao problema de como conferir significado a um 
produto ou artefato cultural, que pode ser desde um utensílio doméstico até uma obra de 
arte ou um texto literário. 
Glossário
Em “Uma descrição densa: por uma teoria interpretativa da cultura”, Geertz (1989) inicia um debate sobre o con-
ceito de cultura, na intenção de torná-lo mais limitado, especializado e teoricamente mais poderoso. Lança essa 
ideia a fim de desvincular a noção de cultura do “todo mais complexo”. As culturas, enquanto teias de significado, 
ou o comportamento humano orientado pela ação simbólica não podem ser explicados através da aplicação 
universal de conceitos para diversos fenômenos sociais. Sendo a cultura essas teias e sua análise, seu estudo não 
é uma ciência experimental em busca de leis gerais, mas uma ciência interpretativa à procura dos significados. L
O conceito de cultura, portanto, é essencialmente semiótico. Isso quer dizer que não faria sentido, para uma 
disciplina que se interroga sobre a cultura, admitir um estatuto objetivo ou subjetivo. A vocação da Antropologia 
Interpretativa seria, à vista disso, colocar à disposição as respostas que outros deram, incluindo-as no registro de 
consultas do que o homem falou, tendo como principal objetivo o alargamento do universo do discurso humano. 
A prática etnográfica seria o método mais adequado para essa antropologia proposta. Para além do reconheci-
mento de algumas rotinas comuns a essa prática, tais como levantar genealogias, selecionar informantes e man-
ter um diário, o que define a Etnografia seria um esforço intelectual ou um risco elaborado para uma descrição 
densa. Deveria, como afirma Geertz (1989), textualizar o fluxo do discurso social e fixá-lo em suportes pesquisá-
veis, em uma análise microscópica. Assim, através da circunstancialidade do contexto, poderiam ser acessados 
grandes temas. 
Fazer etnografia é realizar uma leitura de um manuscrito estranho, desbotado, cheio de incoerências e emendas 
suspeitas. Esse empreendimento deve ser entendido como uma construção, e mais: como uma construção das 
construções de outras pessoas. 
O texto antropológico como conhecimento científico consiste em formular a base na qual se imagina, ainda que 
excessivamente, estar situado. Antropologia estaria atenta ao exótico, às formas não usuais do comportamento 
humano, procurando pelo comum entre elas. Esse artifício para deslocar seu senso de familiaridade e a gene-
ralização dos padrões comportamentais revelariam o grau no qual os seus significados variam de acordo com o 
modo de vida através do qual ele é informado. Desse modo, o distanciamento entre o eu (pesquisador) e o outro 
(objeto de estudo) é constitutivo da prática antropológica. 
Como sistemas entrelaçados de signos interpretáveis, a cultura não é um poder, algo a que 
podem ser atribuídos casualmente os acontecimentos sociais. Ela é um contexto, algo den-
tro do qual os acontecimentos podem ser descritos de forma inteligível – para Geertz (1989), 
descritos com densidade. 
32
Desenvolvimento Humano e Social | Unidade 2 - Antropologia Cultural
Em suma, Geertz (1989) propõe uma renovação da antropologia contemporânea, lançando novas bases para a 
constituição do saber científico antropológico, aprofundando debates epistemológicos acerca do conceito de cul-
tura e da prática etnográfica. De fato, o comprometimento com um conceito semiótico de cultura e uma aborda-
gem interpretativa de seu estudo é o comprometimento com uma visão da afirmativa etnográfica como “essencial-
mente contestável”: não existem conclusões a serem apresentadas, apenas discussões a serem sustentadas.
2.3 A crítica pós-moderna e as reviravoltas da cultura
Nesta seção, trataremos dos desdobramentos contemporâneos e da polêmica antropológica que orbitam o con-
ceito de cultura. Nosso foco se volta para a discussão empreendida pela Antropologia nas últimas três décadas 
acerca das possibilidades de tradução cultural e do modo de escrita que caracterizou tal disciplina acadêmica 
desde sua emancipação.
2.3.1 Contra a cultura
Em contraposição às ideias de Clifford Geertz, Lila Abu-Lughod (1952-), em “Writing against culture” (“Escrevendo 
contra a cultura”, em tradução livre), faz uma crítica radical ao conceito de cultura, alertando para alguns de seus 
excessos, como em sua coerência, atemporalidade e discrição. A Antropologia baseada no conceito de cultura esta-
ria tomando as comunidades por limitadas: diversas experiências e fatos são selecionados e reunidos independen-
temente de suas ocasiões temporais originais e valores duradouros sãoatribuídos a esse novo arranjo. 
A partir dessa crítica, Abu-Lughod (1991) mostra como a cultura pode funcionar como ferramenta antropológica 
para fabricar o outro, permanecendo situada, dessa forma, dentro do aspecto mais fundamental dessa disciplina 
até então. A vantagem da cultura, em relação ao seu antepassado-raça, é que ela tira as diferenças do reino 
animal e inato. Porém, com essa nova roupagem, a cultura não faria mais do que dar continuidade à separação 
fundamental do pensamento ocidental, entre o eu antropológico ocidental e o outro não ocidental confinado: 
um operador hierárquico da distinção.
Essa tendência estaria, então, a serviço dos critérios estabelecidos, já que conduz a pensar “eus” e “outros” como 
dados. Vista dessa maneira, a cultura seria cúmplice do encarceramento dos povos não ocidentais no tempo e no 
espaço, os quais tendem a ter sua história negada. Os antropólogos devem, então, tratar com suspeita a “cultura” e as 
“culturas” como termos-chave em um discurso no qual alteridade e diferença passaram a ter a qualidade de talismã. A 
autora apresenta estratégias etnográficas para escrever textos contra a cultura. Cabe apontar que tanto Geertz (1989) 
quanto Abu-Lughod (1991) concordam que o exercício antropológico é a produção do texto etnográfico.
33
Desenvolvimento Humano e Social | Unidade 2 - Antropologia Cultural
Figura 2.4 – Cultura da escravidão.
Legenda: Escravos sendo conduzidos.
Fonte: Plataforma Deduca (2018).
Abu-Lughod (1991) propõe questões sobre o uso dos termos de discurso e prática, que sinalizam uma mudança 
no conceito antropológico de cultura, enquanto que, por conexões histórico-espaciais, a Antropologia se vira 
para a história, traçando essas conexões entre passado e presente de comunidades específicas. O desenvolvi-
mento dessas estratégias favoreceria, pois, a produção de textos acadêmicos escritos contra a cultura – ou contra 
as generalizações. 
A autora aponta para o caráter das etnografias do particular como uma maneira de escrever sobre a vida de modo 
a constituir “outros” como menos outros, sendo que o modo de funcionamento e o estilo característico da escrita 
social já não pode ser considerado como neutro. Ao recusar as generalizações, Abu-Lughod (1989) destaca a quali-
dade dessas tipificações construídas e tão regularmente utilizadas e reproduzidas pelos discursos científico-sociais 
convencionais. A proposta da autora é focalizar, de perto, os indivíduos particulares e suas relações em mudança 
para subverter as conotações problemáticas da cultura: excesso de coerência, atemporalidade e discrição. 
Abu-Lughod (1991) faz uma crítica à Antropologia Interpretativa afirmando que, apesar de ela contestar a busca 
de leis gerais para uma ciência social positivista, o resultado tem sido o de substituir generalizações de significado 
por generalizações de comportamento. Com isso, um reino de objetos teoricamente construídos é criado, libe-
rando o discurso de seu solo, da vida real dos indivíduos e liberando também as investigações sociológicas para 
pastar em um campo de entidades conceituais (ABU-LUGHOD, 1991). 
A autora afirma que, ao reconstruir os argumentos, as justificativas e as interpretações das pessoas sobre o que 
elas e os outros estão fazendo explicaria como caminha a vida social. Seria mostrar que, embora os termos de 
seus discursos possam ser definidos dentro desses limites, as pessoas contestam interpretações, criam estraté-
gias, sentem dores e vivem suas vidas. Os efeitos do local e os processos de longo prazo só se manifestam local-
mente e especificamente, produzidos nas ações dos indivíduos vivendo suas vidas particulares, inscritos em seus 
corpos e palavras. Tendo em vista esses aspectos, Abu-lughod (1991) defende uma forma de escrita que poderia 
transmitir melhor isso.
34
Desenvolvimento Humano e Social | Unidade 2 - Antropologia Cultural
2.3.2 A defesa da cultura e seu uso político
Para Sahlins (1997), o conceito de cultura não deve ser abandonado, sob pena de deixarmos de compreender o 
fenômeno único que ele nomeia e distingue: a organização da experiência e ação humanas por meios simbóli-
cos. Essa ordenação e reordenação do mundo em termos simbólicos, essa cultura, seria a capacidade singular da 
espécie humana.
Seu texto “O Pessimismo Sentimental” é uma resposta a duas críticas que apontariam para uma suposta “crise 
da Antropologia”. A primeira, argumenta que o conceito de cultura, enquanto demarcador de diferença, esta-
ria assentado em um pressuposto discriminatório fruto de um nascimento enraizado no colonialismo. Desse 
modo, o conceito legitimaria múltiplas desigualdades, cabendo ao antropólogo a tarefa de fugir desse estigma 
da dominação. A segunda argumenta que a cultura, o objeto de interesse antropológico, estaria em vias de extin-
ção, devido ao fato que, ao mesmo tempo em que se desenvolviam e proliferavam-se os estudos, as sociedades 
as quais pretendiam estudar iam desaparecendo frente às novas consolidações globais do capitalismo e da hege-
monia ocidental. 
O desafio encontrado é que, ao se opor qualquer autonomia cultural ou intencionalidade histórica à alteridade 
indígena, as antropologias do sistema mundial passam a ser semelhantes ao colonialismo que, antes, era con-
denado por elas. A concepção de cultura, para a crítica pós-moderna, estaria, dessa forma, assentada em uma 
noção monológica e determinista. No entanto, diversas etnografias têm demonstrado as transformações das 
culturas, suas inter-relações e a capacidade dos povos em integrar culturalmente as forças do sistema mundial. 
O argumento de Sahlins (1997) é que o contato com o ocidente e a integração com o mercado promoveram um 
enriquecimento das culturas locais através da apropriação e reelaboração dos novos elementos vinculadas aos 
significados tradicionais, no sentido de organizar as novas possibilidades através da própria cultura. Não é um 
otimismo sentimental, que ignoraria o sofrimento de povos inteiros. Trata-se, aqui, ao contrário, de uma reflexão 
sobre a complexidade desse sofrimento, causado por doenças, violência, escravidão e outras misérias dissemi-
nadas pela sociedade ocidental.
As novas problemáticas que o autor coloca, tanto para a Antropologia quanto para a pesquisa de campo, reme-
teriam à dinâmica das relações entre o local e o global. Ao invés da grande narrativa da dominação ocidental, 
portanto, um outro modo de lidar com a constatação antropológica usual de que outros povos não perdem sua 
cultura tão facilmente, seria reconhecer o desenvolvimento simultâneo de uma integração global e uma diferen-
ciação local: justamente por participarem de um processo global de aculturação, os povos locais continuam a se 
distinguir entre si pelos modos específicos como o fazem. 
O autor apresenta etnografias atuais que abordam esse processo. Por exemplo, a noção de 
developman entre os Mendi e o caso das sociedades transculturais, ou culturas translocais, 
espalhadas pelo mundo, que se orientam para um uso reflexivo da cultura. 
Obrigada, assim, a encontrar explicações racionais para práticas cujas razões são desconhecidas, a consciência 
da cultura não é uma mera racionalização, mas uma quase tradução consistente com os saberes, narrativas e 
interesses da sociedade. Sahlins (1997) salienta para o fenômeno da “indigenização da modernidade”. A cultura 
como ferramenta política segue, nesse sentido, sua orientação original de Kulture, em alemão, quando, na época, 
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Desenvolvimento Humano e Social | Unidade 2 - Antropologia Cultural
o imperialismo de França e Inglaterra ameaçavam sua autonomia. Desse modo, o autor indicaria possibilidades 
nas quais a ordem cosmológica englobaria a ordem mundial, com a Antropologia ainda se encontrando em ter-
reno fértil, no qual culturas estariam muito ativas, vibrantes, proliferando em todas as direções.
Seguindo as implicaçõespropostas pelo antropólogo, Manuela Carneiro da Cunha (1967-) busca fazer a distin-
ção entre cultura (a cultura “em si”, isto é, enquanto esquemas interiorizados que organizariam a percepção e 
a ação das pessoas e que garantiriam certo grau de comunicação entre grupos sociais) e “cultura” (uma cultura 
“para si”, o que remeteria a metalinguagem ou noção reflexiva a respeito da cultura em si). A partir das impli-
cações da apropriação do conceito de cultura por parte dos povos indígenas, a autora aponta como categorias 
antropológicas foram assimiladas por estes, se tornando argumento político central em debates na luta pelos 
seus direitos, como em demarcação de terras e direitos de propriedade intelectual sobre conhecimentos tradi-
cionais, assumindo um papel proeminente na luta de resistência contra o ocidente.
Dessa maneira, enquanto a Antropologia contemporânea tenta se desfazer da noção de cultura, diversos povos 
estão mais do que nunca celebrando sua cultura e utilizando-a discursivamente com sucesso. Na visão da autora, 
isso indicaria um descompasso da política acadêmica e da política étnica (CUNHA, 2009).
Figura 2.5 – Cultura indígena.
Legenda: Indígenas e suas práticas.
Fonte: Plataforma Deduca (2018).
Estabelecendo o foco na discussão acerca dos direitos intelectuais sobre itens culturais, a pesquisa antropoló-
gica, para Cunha (2009), traria questões implicadas nesse ajuste/tradução da categoria cultura importada por 
esses povos: menos a categoria analítica antropológica e mais os usos locais dessa categoria, e ainda, a coexis-
tência e relação entre ambas.
Também, na questão dos recursos genéticos, almejando a participação em eventuais benefícios, os movimentos 
indígenas formulam reinvindicações nos termos de uma linguagem de direito dominante. Essa é uma oportu-
nidade para povos tradicionais se posicionarem perante Estados-nacionais e organizações internacionais, com 
a possibilidade de que aqueles tenham instituições outras em uma escala mais ampla de que nossa ontologia 
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Desenvolvimento Humano e Social | Unidade 2 - Antropologia Cultural
política pode perceber. A “cultura” auxilia, portanto, no processo de construção de novas formas de representa-
ção legal e legítima, pois, afinal de contas, é possível haver um entendimento pragmático acerca de diferenças 
aparentemente irreconciliáveis.
A coexistência entre essa “cultura” e a cultura, enquanto teia invisível na qual estamos suspensos, geraria efeitos 
específicos, possibilitando, na investigação desses efeitos, um novo campo para a tarefa etnográfica. A “indigeni-
zação da cultura” remeteria, assim, aos movimentos de reorganização que se dão no confronto entre cultura em 
si e cultura para si. Para esses povos, o uso deliberado de termos oriundos de empréstimos linguísticos remeteria 
a uma escolha que não é trivial, mas que se situa em um ímpeto político e registro específico. Para enriquecer o 
debate em torno da “invenção da cultura”, expoente na Antropologia a partir dos anos 1960, a autora coloca que 
falar sobre cultura é, antes, falar sobre “cultura”, um metadiscurso reflexivo sobre a cultura, tão em voga nos dias 
atuais, usado como recurso para afirmação da identidade, dignidade e poder diante da comunidade internacio-
nal (CUNHA, 2009).
2.3.3 Fluxos culturais que brotam do chão
Ingold (2011) apresenta uma crítica ao conceito semiótico de cultura, apontando para o erro da premissa na qual 
existiria uma correspondência entre um mundo exterior e uma representação interior. Além disso, a produção 
de sentidos como fruto exclusivo da espécie humana perde força no axioma de que esta não estaria necessaria-
mente ligada a uma mediação da cultura, mas sim a conjugações imediatas da percepção na ação. A partir disso, 
o autor sustenta que não se trata de apropriar-se do ambiente pela mediação da cultura, incorporando-o a uma 
teia, mas de reconhecer a singularidade das perspectivas dos diversos materiais que habitam o mundo.
Desse modo, o ele propõe alternativas ao distanciamento epistemológico operado pelas ciências modernas. O 
pesquisador é mais que um observador de um mundo de objetos fixos, é um participante imerso com a totalidade 
de seu ser no curso de um mundo em criação. Nesse viés, a Antropologia seria, antes de tudo, o estudo das possi-
bilidades da vida, o que põe em cheque as teorias sobre transmissão da cultura. A vocação dessa área de estudos 
como um saber interessado nos fluxos e percursos da vida, o interesse pela vida como objeto de uma Antropolo-
gia sem adjetivação, sustentaria o que Ingold (2011) apresenta como uma Antropologia da vida. 
Através desse empreendimento seria possível desfazer as fronteiras entre natureza e cul-
tura, ciências humanas e ciências biológicas, apontando no sentido de um novo empreen-
dimento epistemológico. 
Em “Percepções do ambiente”, Ingold (2011) pretende apresentar um roteiro de pesquisa para restaurar o lugar 
do tato no equilíbrio dos sentidos. Principalmente o tato dos pés, limitado pelo uso de calçados, oferece algu-
mas questões para o autor, tais como: como seria o toque manual e o toque pedestre para o cego? O aparelho 
auditivo, incluindo a orelha, parece ter alguma relação com o equilíbrio bípede, enquanto que relatos de surdos 
demonstram sua capacidade de ouvir com os pés, em superfícies que conduzem vibração. Para uma antropologia 
interessada em estudos da atividade perceptiva, o ponto de partida, para o autor, seria a locomoção, ao invés da 
cognição. Assim, todo um campo de pesquisa é aberto sobre as maneiras como a nossa percepção do ambiente 
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Desenvolvimento Humano e Social | Unidade 2 - Antropologia Cultural
é alterada por técnicas de trabalho com os pés ou mesmo com as mãos, a fim de melhorar sua eficácia específicas 
em determinadas tarefas e condições. 
Em “História da tecnologia”, ele contesta a visão de Marx de que os homens fizeram história com as mãos, domi-
naram a natureza e trouxeram-na sob seu controle. A natureza controlada inclui o pé, cada vez mais regulado e 
disciplinado pelos sapatos e botas feitos a mão, no curso da tecnologia. Ingold (2011) argumenta que, ao invés 
de supor que a mão transforma a natureza, prefere dizer que ambos, mãos e pés, munidos por ferramentas, luvas 
e calçados, mediam um compromisso histórico do ser humano, em sua totalidade, com o mundo ao seu redor. 
Assim, seria na própria sintonia do movimento, em resposta às mutáveis condições para o desdobramento de 
uma tarefa, que a habilidade de qualquer técnica corporal reside.
Em “A formação da paisagem”, Ingold (2011) sugere que essas formas tomadas por ele como paisagens – como 
as identidades e as capacidades de seus habitantes humanos – não são impostas sobre um substrato material, 
mas emergem como condensações e cristalizações de atividades dentro de um campo relacional, não como 
formas à espera da inscrição da cultura. Os seres humanos vivem dentro do mundo, e não sobre o mundo, e as 
transformações históricas que eles trazem são parte importante da transformação do mundo em si mesmos. 
Nessa perspectiva, a produção de conhecimento é indissociável do engajamento do sujeito no mundo, ou seja, 
a objetividade do conhecimento e o distanciamento do sujeito em relação aos objetos operado historicamente, 
indicariam a incomensurabilidade que se estabeleceu na modernidade entre noções como a de natureza e a de 
cultura, uma espécie de herança antropocêntrica que negaria o fluxo da vida. 
As indicações de Ingold (2011) sugerem um roteiro para os textos antropológicos. Ajustadas as percepções do 
ambiente com as histórias das tecnologias específicas e munidos do engajamento no mundo, os antropólogos 
evitariam as grandes conceitualizações ocidentais, enquanto promoveriam o aparecimento de novas paisagens 
que, sem o intermédio da cultura, emergiriam como superfícies repletas de fluxos combinados, movimentos da 
atividade intencional.38
Considerações finais
Nesta unidade, apresentamos as principais correntes e escolas do pensa-
mento antropológico, bem como um panorama sobre a discussão atual 
em torno do conceito de cultura. Quanto a esse último aspecto da apren-
dizagem, pudemos acompanhar e efervescência da movimentação teó-
rica a respeito do tema. Dessa maneira, foram contemplados:
• Os procedimentos e posturas Evolucionista e Relativista, apresen-
tados como diametralmente opostos;
• As escolas antropológicas representadas pelas correntes Funcio-
nalista, Estruturalista e Hermenêutica;
• O intenso debate atual acerca da validade e da idoneidade do 
conceito de cultura, que vem animando profundas discussões 
metodológicas e teóricas na antropologia mundial.
Referências bibliográficas
39
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ring Anthropology: working in the present. Santa Fe: School of American 
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1970. 
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40
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SAHLINS, Marshall. O “Pessimismo Sentimental” e a Experiência 
Etnográfica: por que a cultura não é um “objeto” em via de extinção 
(parte I).  Mana  [online], Rio de Janeiro, 1997, v. 3, n. 1, pp. 41-73. Dis-
ponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi
d=S0104-93131997000100002>. Acesso em: 20 jan. 2018.
TYLOR, Edward. Primitive Culture. Londres: John Murray & Co, 1871.
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3Unidade 3
Choques Culturais 
Para iniciar seus estudos
Você está iniciando o estudo de mais uma unidade da disciplina Desen-
volvimento Humano e Social. Vamos a mais questões, apontamentos e 
reflexões? Esta unidade trata da compreensão dos choques culturais e 
de que, a partir das diferentes culturas, percebemos as diferenças sociais, 
políticas e religiosas entre as pessoas. O desafio que se coloca é entender 
essas diferenças culturais que fazem parte da visão sobre o ser humano, 
seu comportamento, sua cultura e sua religiosidade. Vamos começar?
Objetivos de Aprendizagem
• Retratar as diferenças sociais, políticas e religiosas entre pessoas 
que possuem uma determinada cultura e estilo de vida e que, por 
motivos diversos, têm de adaptar-se a uma nova sociedade com 
novas mentalidades e formas de vidas diferentes daquilo a que 
estavam habituadas.
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Desenvolvimento Humano e Social | Unidade 3 - Choques Culturais 
3.1 Conservadores e inovadores
A cultura é um fenômeno gerado pelo ser humano. Ele não é herdado geneticamente, é coletivo e construído 
por uma sociedade, fazendo com que, em cada lugar e em cada tempo na história da humanidade, exista uma 
diversidade de regras e formas de viver coletivamente. A partir disso, temos uma diversidade cultural. Nesta uni-
dade, vamos explorar as diferenças sociais, os choques que diferentes culturas podem ter umas sobre as outras, a 
influência religiosa em nossa cultura e como os processos migratórios se relacionam na formação cultural.
Cada povo desenvolve formas diferentes de pensar e agir, e, com isso, busca as mais diversas soluções e julgamen-
tos de valores para determinadas situações. O resultado é a formação de uma cultura desse determinado povo. 
Figura 3.1 – Cultura de um povo.
 
Legenda: A imagem apresenta duas crianças com trajes específicos de uma cultura, representa sua religião
Fonte: Plataforma Deduca (2018).
Quando falamos de cultura, uma das primeiras coisas que vem em nosso pensamento é a cultura ocidental e, 
em contraste, a oriental. Mas, cumpre atentarmos, a cultura não está restrita apenas em ocidental ou oriental: 
ela pode mudar de região em região dentro de um mesmo país e é só olharmos para o nosso próprio país para 
visualizarmos isso. 
O Brasil, com seu tamanho continental, é fruto de uma colonização europeia, de povos nativos indígenas, da 
escravidão e da imigração. Cada região sofreu maior ou menor influência de cada um desses grupos, depen-
dendo do povo que aqui se estabeleceu. Assim, notamos diferenças culturais, por exemplo, entre a região Nor-
deste e a região Sul. 
Independentemente da região ou do país, quando a cultura de um povo muda, muda-se também a forma como o 
homem interfere em seu meio ambiente, na utilização de seus recursos, nas suas prioridades e nas suas atitudes. 
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Desenvolvimento Humano e Social | Unidade 3 - Choques Culturais 
Figura 3.2 - Grande composição de fast-food.
 
Legenda: A imagem apresenta um vendedor de cachorro-quente 
representando uma cultura norte-americana que se expandiu pelo mundo.
Fonte: Plataforma Deduca (2018).
Temos, no Brasil e no mundo todo, uma forte influência da cultura norte-americana (EUA), com os fast-foods, 
hot-dogs, hambúrgueres e batatas fritas, que se tornaram um hábito cotidiano em nossas vidas, alterando nossa 
cultura alimentar. Hoje, não há um bairro ou esquina nas grandes cidades em que você não encontre uma grande 
lanchonete ou uma barraquinha de hot-dog.
Se você quiser aprofundar mais sobre a cultura dos fast-foods, sugerimos a leitura da 
obra “Fast-food: um aspecto da modernidade alimentar”, de Nilce de Oliveira e Maria 
do Carmo Soares de Freitas, disponível em <http://books.scielo.org/id/9q/pdf/frei-
tas-9788523209148-14.pdf>. 
A cultura é um conceito com diversos significados, sendo extremamente complexo determinar uma única defi-
nição. Antropologicamente, a cultura foi conceituada por Edward Burnett Tylor (1832-1917) em 1871 como um 
conjunto de conhecimentos que envolve crenças, arte, moral, lei, costumes e diferentes capacidades e hábitos que 
são adquiridos pelo homem enquanto membro de uma sociedade. Dessa forma, a cultura faz parte de nosso dia a 
dia e é intrínseca à forma em como nós tratamos uns aos outros e de como reagimos em determinadas situações. 
Na Antropologia, a cultura é um dos cernes de estudo, pois é ela que possibilita ter uma visão mais profunda 
sobre a condição humana, as relações das pessoas entre si e com o meio ambiente, seus conceitos e preconcei-
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Desenvolvimento Humano e Social | Unidade 3 - Choques Culturais 
tos, que podem definir a motivação de uma pessoa a ter determinadas reações, comportamentos e ideais. Além 
disso, é através do estudo e reflexão sobre a cultura que podemos confrontar e ultrapassar as barreiras e limites 
provocados pelo preconceito a que o senso comum pode nos conduzir. 
Em cada cultura, o homem desenvolve respostas e soluções novas e diferentes na sua vida social, transformando 
esses valores em um senso comum. Sabemos que a diversidade cultural gera consequências na humanidade e 
que, quando diferentes culturas entram em contato,

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