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A lfa b e tiz a çã o : fu n d a m e n to s, p ro ce ss o s e m é to d o s Veridiana AlmeidaVeridiana Almeida 1Capa.indd 1 7/7/2010 13:16:37 02 CONVALIDAÇÃO - 2 PROVA - 07/07/2010 APROVAÇÃO: NÃO ( ) SIM ( ) ____________ Alfab_fund_proces_metod.indd 6 8/6/2010 11:48:02 02 CONVALIDAÇÃO - 3 PROVA - 08/06/2010 - Page 6 of 80 APROVAÇÃO: NÃO ( ) SIM ( ) ____________ Alfabetização: fundamentos, processos e métodos Curitiba 2010 Veridiana Almeida Alfab_fund_proces_metod.indd 1 8/6/2010 11:48:02 02 CONVALIDAÇÃO - 3 PROVA - 08/06/2010 - Page 1 of 80 APROVAÇÃO: NÃO ( ) SIM ( ) ____________ &!%, $IRETORÕ!CAD¿MICO /SÂRISÕ-ANNEÕ"ASTOS $IRETORÕ!DMINISTRATIVO &INANCEIRO #¶SSIOÕDAÕ3ILVEIRAÕ#ARNEIRO #OORDENADORAÕDOÕ.ÏCLEOÕDEÕÕ %DUCA¼¸OÕAÕ$IST·NCIAÕ 6ÂVIANÕDEÕ#AMARGOÕ"ASTOSÕ #OORDENADORAÕDOÕ#URSOÕDEÕÕ 0EDAGOGIAÕ%A$ !NAÕ#RISTINAÕ'IPIELAÕ0IENTA 3ECRET¶RIAÕ'ERAL $IRLEIÕ7ERLEÕ&¶VARO 3)34%-!Õ%$5#!#)/.!,Õ%!$#/. $IRETORÕ%XECUTIVO *ULI¶NÕ2IZO $IRETORESÕ!DMINISTRATIVO &INANCEIROS !RMANDOÕ3AKATA *ÏLIOÕ#¾SARÕ!LGERI $IRETORAÕDEÕ/PERA¼ÊES #RISTIANEÕ!NDREAÕ3TRENSKE $IRETORÕDEÕ4) *UAREZÕ0OLETTO #OORDENADORAÕ'ERAL $INAMARAÕ0EREIRAÕ-ACHADO %$)4/2!Õ&!%, #OORDENADORÕ%DITORIAL 7ILLIAMÕ-ARLOSÕDAÕ#OSTA %DI¼¸O ,ISIANEÕ-ARCELEÕDOSÕ3ANTOS 0ROJETOÕ'R¶FICOÕEÕ#APA $ENISEÕ0IRESÕ0IERIN $IAGRAMA¼¸O 3ANDROÕ.IEMICZ )LUSTRA¼¸OÕDAÕ#APA #RISTIANÕ#RESCENCIO &ICHAÕ#ATALOGR¶FICAÕELABORADAÕPELAÕ&AEL�Õ"IBLIOTEC¶RIAÕoÕ#LEIDEÕ#AVALCANTIÕ!LBUQUERQUEÕ#2"������ !LMEIDA�Õ6ERIDIANA !���A !LFABETIZA¼¸O�Õ FUNDAMENTOS�Õ PROCESSOSÕ EÕ M¾TODOSÕ �Õ 6ERIDIANAÕ !LMEIDA�ÕoÕ#URITIBA�Õ%DITORAÕ&AEL�Õ����� ��ÕP��ÕIL� .OTA�ÕCONFORMEÕ.OVOÕ!CORDOÕ/RTOGR¶FICOÕDAÕ,ÂNGUAÕ0ORTUGUESA� ��Õ!LFABETIZA¼¸O�Õ)�Õ4ÂTULO� #$$Õ��� $IREITOSÕDESTAÕEDI¼¸OÕRESERVADOSÕµÕ&AEL� ÕPROIBIDAÕAÕREPRODU¼¸OÕTOTALÕOUÕPARCIALÕDESTAÕOBRAÕSEMÕAUTORIZA¼¸OÕEXPRESSAÕDAÕ&AEL� Alfab_fund_proces_metod.indd 2 8/6/2010 11:48:02 02 CONVALIDAÇÃO - 3 PROVA - 08/06/2010 - Page 2 of 80 APROVAÇÃO: NÃO ( ) SIM ( ) ____________ Capítulo 3 apresentação Falamos e escrevemos para expressar a vida, para comunicar o vivido com todas as forças, assim como para projetar possibilidades, fecundar o presente e gestar o futuro. Pensamos para falar e falamos para pensar. A linguagem é inseparável do pensamento, da história concreta dos nossos dias, da vida com o outro, da participação no mundo. No entanto, não é novidade que o Brasil enfrenta com persistência o problema da alfabe- tização, tanto de crianças como de jovens e adultos, que não tiveram a oportunidade de se apropriar do saber da escrita e da leitura. Durante muito tempo, a alfabetização foi entendida como mera sistematização do “B + A = BA”, isto é, como a aquisição de um códi- go fundado nas relações entre fonemas e grafemas. Em uma sociedade constituída boa parte por analfabetos e marcada por reduzidas práticas de leitura e escrita, a simples consciência fonológica que permite asso- ciar sons e letras para produzir e interpretar palavras parecia ser sufi- ciente para diferenciar o alfabetizado do não alfabetizado. Na década de 80 do século XX, os estudos acerca da psicogênese da língua escrita trouxeram aos educadores o entendimento de que a alfabetiza- ção, longe de ser a apropriação de um código, envolve um complexo processo de elaboração de hipóteses sobre a representação linguística. Nos anos que se seguiram, os estudos sobre letramento foram férteis na compreensão da dimensão sociocultural da língua escrita e de seu aprendizado. Esses movimentos romperam com as ideias de que o sujeito é quem aprende, o professor é quem ensina e a sala de aula é o único espaço de aprendizagem. Há entre o aluno e seus saberes inúmeros agentes mediadores da aprendizagem, reforçando os princípios de Vygotsky e Piaget de que esta se processa em uma relação interativa entre o sujeito e a cultura na qual ele está inserido. Atualmente, os apelos do mundo letrado são tão fortes que não basta às pessoas a capacidade de decifrar ou desenhar os códigos, é importante conhecer o funcionamento da escrita, porém mais importante apresentação Alfab_fund_proces_metod.indd 3 8/6/2010 11:48:02 02 CONVALIDAÇÃO - 3 PROVA - 08/06/2010 - Page 3 of 80 APROVAÇÃO: NÃO ( ) SIM ( ) ____________ é poder engajar-se em práticas sociais letradas, como por exemplo pedir uma refeição em um restaurante, utilizando-se de um cardápio; preen- cher um formulário de banco; assinar um contrato, etc. Com vistas a subsidiar professores alfabetizadores, alunos, pais e demais interessados, Veridiana Almeida, ilustre professora do Curso de Pedagogia, presencial e a distância, da FAEL, oferece esta obra − impor- tante referência − que analisa, de maneira clara e detida, alfabetização e letramento, demonstrando o domínio tanto da teoria como da prática sobre esse assunto que tanto aflige professores e afeta alunos. A autora propõe, neste livro, uma série de textos, experiências, propostas de ativi- dades, situações de leitura e escrita que vão reconhecendo e desvendan- do os mistérios da difícil tarefa de ser professor alfabetizador. A professora Veridiana demonstra alto compromisso com o ensino e com o cidadão, quando contribui para que os profissionais da educação se- jam capazes de atuar de forma consciente, com orientação segura, visando a ajudá-los a equacionar os principais problemas na aprendizagem da lín- gua e sua superação, pois a língua escrita na sociedade grafocên trica, além de ser uma questão pedagógica é também uma questão política, pelo que representa como investimento na formação humana. Na obra Gabriela, Cravo e Canela, há um momento em que a filha de um coronel diz à sua mãe que pretendia se casar com um professor, ao que a mãe retruca, em uma clássica lição de realismo político: “... e o que é um professor, na ordem das coisas? Que tem o ensino a ver com o poder? Como podem as palavras se comparar com as armas? Por acaso a linguagem já destruiu e já construiu mundo? ” Iara Scandelari Milczewski* * É mestranda em educação pela Universidade Tuiuti do Paraná, coordenadora adjunta e professora do curso de Pedagogia da Fael. apresentação apresentação sumário Alfab_fund_proces_metod.indd 4 8/6/2010 11:48:02 02 CONVALIDAÇÃO - 3 PROVA - 08/06/2010 - Page 4 of 80 APROVAÇÃO: NÃO ( ) SIM ( ) ____________ Capítulo Prefácio.......................................................................................7 1 Abordagem histórica da alfabetização.......................................9 2 Alfabetização no contexto educacional brasileiro ...................17 3 A função social da escrita em uma sociedade letrada ............27 4 Alfabetização e letramento: embates e interfaces ..................33 5 Alfabetização e letramento na sala de aula .............................39 6 Uso da cartilha no processo de leitura e escrita .....................45 7 Métodos de alfabetização: alternativas ...................................51 8 A psicogênese da língua escrita ..............................................57 9 A língua escrita e a língua falada .............................................65 10 Alfabetizar letrando: práticas de letramento ..........................71 Referências...............................................................................77 sumário sumário Alfab_fund_proces_metod.indd 5 8/6/2010 11:48:02 02 CONVALIDAÇÃO - 3 PROVA - 08/06/2010 - Page 5 of 80 APROVAÇÃO: NÃO ( ) SIM ( ) ____________ Alfab_fund_proces_metod.indd 6 8/6/2010 11:48:02 02 CONVALIDAÇÃO - 3 PROVA - 08/06/2010 - Page 6 of 80 APROVAÇÃO: NÃO ( ) SIM ( ) ____________ Capítulo 77 prefácio prefácio Há pessoas que sabem cantarou tocar “de ou- vido”, mas não sabem ler as pautas. Pelo con- trário, a maioria das pessoas que aprende a es- crita musical não consegue de início usá-la de modo a produzir uma melodia coerente; após terem aprendido a escrita, terão de aprender a construir uma coerência musical. Donald Schön O que é alfabetizar? O que é letrar? Existe diferença na con- ceituação de alfabetização e letramento? Como alfabetizar letrando? Como avaliar os níveis de letramento? Estas indagações são potencia- lizadas pelos profissionais da educação, preocupados em oferecer aos seus alunos uma educação séria, ética, crítica e democrática, para que os índices renitentes de pessoas analfabetas e analfabetas funcionais se- jam extintos, pois o saber ler e escrever tornou-se uma capacidade in- dispensável para que o indivíduo se adapte e se integre ao meio social. Assim, este livro está dividido em dez capítulos e pretende apro- fundar uma necessária reflexão sobre conceitos como alfabetização, analfabetismo, analfabetismo funcional e letramento, oferecendo referências e instrumentos para a ação pedagógica. Para a sua ela- boração, levei em conta as recentes produções científicas da área, tanto no momento da seleção de textos quanto no momento da sua exploração, como as obras de Magda Soares (2009), Roxane Rojo (2009), Mary Kato (2005), Luis Carlos Cagliari (1998), Maria da Graça Costa Val (2006), entre outras. Disso decorre que as considerações feitas aqui giram em torno da reflexão da linguagem como modo de ampliar o grau de letramento do Alfab_fund_proces_metod.indd 7 8/6/2010 11:48:02 02 CONVALIDAÇÃO - 3 PROVA - 08/06/2010 - Page 7 of 80 APROVAÇÃO: NÃO ( ) SIM ( ) ____________ 8 indivíduo, ou seja, aprimorar a sua competência linguística e, consequen- temente, o seu desenvolvimento cognitivo, social, cultural e político. Dessa forma, portanto, minha proposta objetiva na possibilida- de real do professor alfabetizador criar condições para que a sala de aula se constitua em um espaço efetivo de interação verbal, refletindo e retratando nossa sociedade. A autora.* * Veridiana Almeida é doutoranda em Teoria Literária pela Universidade Federal de Santa Catarina. Atualmente é professora titular da Fael para graduação e pós-graduação, nas modalidades presencial e a distância. prefácio prefácio Alfab_fund_proces_metod.indd 8 8/6/2010 11:48:02 02 CONVALIDAÇÃO - 3 PROVA - 08/06/2010 - Page 8 of 80 APROVAÇÃO: NÃO ( ) SIM ( ) ____________ 9 prefácio Neste capítulo, por meio de dados históricos, o leitor refletirá sobre o conceito alfabetização e sobre o que esse processo envolve. Com base em tais dados, a discussão parte para o debate sobre os processos de insucesso ou fracasso na escola brasileira do século XX e sua relação com a exclusão social: como enfrentar as dificuldades tanto das crianças em aprender a ler e a escrever quanto dos professores em lhes ensinar? Como enfrentar o grande problema do fracasso escolar e da educação no Brasil? Perguntas como essas são típicas de intelectuais de diferentes áreas de conhecimento, professores, educadores em processo de formação inicial e continuada, denotando a complexidade do problema brasi- leiro, cuja busca de respostas vem movendo a história da alfabetiza- ção. Certamente, as novas descobertas da linguística, do letramento, da cibernética têm contribuído de modo importante para possíveis soluções. Contudo, como nos ensinou Paulo Freire (2005, p. 23), a alfabeti zação e a escolarização não são práticas neutras, não se alimen- tam exclusivamente das técnicas – por melhores que sejam. São proble- mas estruturais, históricos, marcados pela exclusão continuada. Perspectiva histórica De acordo com José Juvêncio Barbosa (1991, p. 44), uma nova pro- posta pedagógica para desenvolver a aprendizagem da leitura e da escrita não nasce do nada, de um dia para o outro. Ela é sempre resultado de uma tentativa de ruptura com o já estabelecido e, ao mesmo tempo, a procura de uma continuidade, de uma ligação com o passado. Abordagem histórica da alfabetização 1 Alfab_fund_proces_metod.indd 9 8/6/2010 11:48:02 02 CONVALIDAÇÃO - 3 PROVA - 08/06/2010 - Page 9 of 80 APROVAÇÃO: NÃO ( ) SIM ( ) ____________ Alfabetização: fundamentos, processos e métodos FAEL 10 No entanto, é possível afirmar o fato de que muitas pessoas pos- suem tendência a acreditar que há alguns anos a educação era melhor, que as escolas alfabetizavam com sucesso, que os professores eram mais qualificados e os alunos eram mais dispostos a aprender. Grande enga- no, pois, com a evolução e o crescimento do mundo moderno, houve a necessidade da expansão do conceito de alfabetização e das expectativas da sociedade em relação a seus resultados. Ou seja, segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (2001, p. 150), a palavra “alfabetização” significa algo como “ato ou efeito de alfabetizar; de ensinar as primeiras letras”. Assim, uma pessoa alfabetizada é entendida como aquela que domina as “primeiras letras”, que domina as habilidades básicas ou iniciais de ler e escrever. Ao longo do século passado, porém, esse conceito de alfabetização foi sendo pro- gressivamente ampliado, em razão de necessidades sociais e políticas, a ponto de já não se considerar alfabetizado aquele que apenas domina as habilidades de codificação e decodificação, “mas aquele que sabe usar a leitura e a escrita para exercer uma prática social em que a escrita é necessária” (SOARES, 2003, p. 10). Leia o texto a seguir, de Magda Soares (1991, p. 10), sobre como os censos foram progressivamente ampliando o conceito de alfabetização. Até os anos 40 do século passado, os questionários do censo indagavam, simplesmente, se a pessoa sabia ler e escrever, servindo, como comprovação da resposta afirmativa ou negativa, a capacidade de assinatura do próprio nome. A partir dos anos 50 e até o último censo, os questionários passaram a indagar se a pessoa era capaz de “ler e escrever um bilhete simples”, o que já evidencia uma ampliação do conceito de alfabetização. Já não se considera alfabetizado aquele que apenas declara saber ler e escrever, genericamente, mas aquele que sabe usar a leitura e a escrita para exercer uma prática social em que a escrita é necessária. Essa ampliação do conceito se revela mais claramente em estudos censitá- rios desenvolvidos a partir da última década, em que são definidos índices de alfabetizados funcionais (e a adoção dessa terminologia já indica um novo conceito que se acrescenta ao de alfabetizado, simplesmente), tomando como Alfab_fund_proces_metod.indd 10 8/6/2010 14:58:48 02 CONVALIDAÇÃO - 4 PROVA - 08/06/2010 APROVAÇÃO: NÃO ( ) SIM ( ) ____________ Capítulo 1 Alfabetização: fundamentos, processos e métodos 11 critério o nível de escolaridade atingido ou a conclusão de um determinado número de anos de estudo ou de uma determinada série, o que traz implícita a ideia de que o acesso ao mundo da escrita exige habilidades para além do apenas aprender a ler e a escrever. Ou seja, a definição de índices de analfabe- tismo funcional utilizando-se como critério, anos de escolaridade, evidencia o reconhecimento dos limites de uma avaliação censitária baseada apenas no conceito de alfabetização como “saber ler e escrever” ou “saber ler um bilhete simples”, e a emergência de um novo conceito, que incorpora habilidades de uso da leitura e da escrita desenvolvidas durante alguns anos de escolarização. Dessa forma, percebe-se que há alguns anos bastava que o indiví- duo desenvolvesse apenas as habilidades de codificação e decodificação para ser considerado alfabetizado. Devido às transformações na socie- dade e exigências impostas por ela, desde a década de 80 do século pas- sado, concepções psicológicas,linguísticas e psicolinguísticas de leitura e escrita vêm mostrando que se o aprendizado das relações entre as letras e os sons da língua é uma condição do uso da língua escrita esse uso também é uma condição de alfabetização ou do aprendizado das relações entre as letras e os sons da língua. Esse modelo tradicional do ensino do código escrito, centrado na mecânica da leitura e da escrita, foi, em parte, responsável pelo surgi- mento do chamado analfabeto funcional, aqueles indivíduos incapazes de utilizar a língua escrita em práticas sociais, particularmente naquelas que se dão na própria escola, no ensino e no aprendizado de diferentes conteúdos e habilidades. Assim, esse modelo tradicional passa a ser crescentemente critica- do em função das mudanças ocorridas nas relações sociais, nas relações de trabalho, que passaram a exigir novos e mais complexos padrões para o exercício da cidadania, o que também envolveu os usos sociais da leitura e da escrita centrados na questão do significado subjacente ao texto lido ou produzido. Pode-se afirmar, dessa forma, que o modelo tradicional sobreviveu du- rante vários anos porque demonstrava sua utilidade em uma sociedade em que as relações eram menos complexas, com grau inferior de grafocentrismo, Alfab_fund_proces_metod.indd 11 8/6/2010 15:00:19 02 CONVALIDAÇÃO - 4 PROVA - 08/06/2010 APROVAÇÃO: NÃO ( ) SIM ( ) ____________ Alfabetização: fundamentos, processos e métodos FAEL 12 não sendo exigido, principalmente dos trabalhadores, muito mais que o domínio mecânico do código escrito. Esse fato implica a constatação dos avanços realizados envolvendo a utilização da língua escrita nas situações em que é necessária, lendo e produzindo textos. É para essa nova dimensão da entrada no mundo da escrita que se cunhou uma nova palavra: letra- mento. Ela serve para designar o conjunto necessário de conheci mentos, atitudes e capacidades para usar a língua em práticas sociais. Herança do analfabetismo Outro aspecto que caracteriza as dificuldades atuais na alfabetiza- ção, além da ampliação do seu conceito, está na herança do analfabe- tismo e das desigualdades sociais. Sabe-se que para a classe dominante sempre foram garantidas as condições para o desenvolvimento de ní- veis mais complexos de letramento. E, agora, estamos em meio a um processo de democratização efetiva das oportunidades educacionais, no qual “o país se propõe não só a oferecer o acesso à escola a todas as crianças em idade escolar, mas também acena para a possibilidade de uma educação prolongada para todos” (BARBOSA, 1991, p. 44). Contudo, foi somente no final da década passada que o país conseguiu universalizar o acesso à escola, embora em muitos estados persistam percentuais expressivos de crianças fora dela. Como ler e escrever eram privilégios das elites, estima-se que em 1872, quando é realizado o primeiro censo nacional, o índice de alfa- betizados é de apenas de 17,7% entre pessoas de cinco anos ou mais. A partir do século XX, esse índice vai sempre progredir, embora permane- ça, até 1960, inferior ao índice de analfabetos, que constituem 71,2% em 1920, 61,1% em 1940 e 57,1% em 1950. Em 1960, pela primeira vez, a proporção é invertida: conta-se com 46,7% de analfabetos. A partir de então, as taxas caem gradativamente. De 1970 a 2000, os índices registram 38,7%, 31,9%, 24,2% e 16,7%. Apesar de os dados registrarem um avanço, ainda estão longe de ser satisfatórios. Os dados do SAEB (Sistema de Avaliação da Educação Bási- ca) exemplificam: o fracasso na alfabetização é maior entre as crianças que vivem em regiões que possuem piores indicadores sociais e econômicos e entre as crianças que trabalham. Trata-se de um problema maior e de natu- reza política. É a desigualdade social, a injustiça social, a exclusão social. Alfab_fund_proces_metod.indd 12 8/6/2010 11:48:03 02 CONVALIDAÇÃO - 3 PROVA - 08/06/2010 - Page 12 of 80 APROVAÇÃO: NÃO ( ) SIM ( ) ____________ Capítulo 1 Alfabetização: fundamentos, processos e métodos 13 Um dos resultados de pesquisa mais desagradáveis a respeito da edu- cação brasileira foi comunicado em 2007, com a divulgação do Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional (INAF). Na pesquisa, apenas 28% da população são plenamente alfabetizados. A taxa de analfabe- tismo absoluto é de 7%, e os ní- veis rudimentar e básico estão em 25% e 40%, respectivamente. Assim, em cada momento histórico, a mudança exigiu (e continua exigindo) dos respon- sáveis pela educação, políticas públicas de diferenciação quali- tativa, mediante reconstituição sintética do passado, a fim de homogeneizá-lo e amenizar dife- renças, buscando o progresso. A história da alfabetização se caracteriza, portanto, como um movimento complexo, mar- cado pela recorrência discursiva da mudança, indicativa da tensão constante entre permanências e rup- turas, visando à instauração de novas práticas, concebidas a partir de novos referenciais. Da teoria para a prática Atualmente, de acordo com Bregunci (2006, p. 32), a organiza- ção das atividades em torno da alfabetização deverá levar em conta os aspectos a seguir. A progressão de níveis do trabalho pedagógico em fun-t� ção dos níveis de aprendizagem dos alunos e da nature- za das atividades envolvendo conceitos e procedimentos pertinentes aos diversos componentes do aprendizado da leitura escrita. Analfabetismo absoluto: o indivíduo não sabe ler, nem escrever nada, ou seja, não consegue realizar tarefas simples que envolvem decodifi- cação e codificação de palavras. Nível rudimentar: o indivíduo localiza informa- ções simples em enunciados de uma só frase. Por exemplo, identifica o título de uma revista ou, em um anúncio, localiza a data em que se inicia uma campanha de vacinação. Nível básico: o indivíduo localiza uma informa- ção em textos curtos ou médios. Nível pleno: o indivíduo localiza mais de um item de informação em textos mais longos, compara informação contida em diferentes textos, estabelece relações entre as informa- ções, realiza inferências e sínteses. Saiba mais Alfab_fund_proces_metod.indd 13 8/6/2010 11:48:03 02 CONVALIDAÇÃO - 3 PROVA - 08/06/2010 - Page 13 of 80 APROVAÇÃO: NÃO ( ) SIM ( ) ____________ Alfabetização: fundamentos, processos e métodos FAEL 14 A compreensão e a valorização da cultura escrita, a t� apropriação do sistema de escrita, a oralidade, a leitura e a produção de textos escritos. Dependendo do nível atingido pela classe, por grupos ou duplas de alunos, todo o planejamento poderá ser reorientado, em bus- ca de alternativas de métodos, de materiais didáticos e de reagrupamento de alunos, sempre tendo como meta mais ampla, sua progressiva autonomia em relação aos usos da língua escrita. A criação de um ambiente alfabetizador, ou de um con-t� texto de cultura escrita oferecido pelas formas de orga- nização da sala e de toda a escola, capaz de disponi bilizar aos alunos a familiarização com a escrita e a interação com diferentes tipos, gêneros, portadores e suportes, nas mais diversas formas de circulação social de textos. A exposição de livros, dicionários, revistas, rótulos, pu- blicidade, notícias do ambiente escolar, periódicos da comunidade ou do município, cartazes, relatórios, re- gistros de eleições e muitas outras possibilidades permi- tem a inserção dos alunos em práticas sociais de letra- mento, ultrapassando formas artificiais de etiquetagem ou de treinamento da escrita em contextos estrita- mente escolares. O estabelecimento de rotinas diárias e semanais, capazes t� de oferecer ao professor um princípio organizador de seu trabalho, desde que atenda a dois critérios essenciais: a variedade e a sistematização. Uma rotina necessita, em primeiro lugar, propiciardiversificação de experiências e ampliação de contextos de aplicação. Em segundo lugar, precisa oferecer um contexto de previsibilidade de ativi- dades, para que os próprios alunos se organizem, consoli- dem aprendizagens e avancem em seus espaços de autono- mia. Nesse sentido, pode ser bastante produtiva a previsão diária e semanal de atividades voltadas para os eixos da leitura, da escrita, da oralidade, das atividades lúdicas e especiali zadas, levando em conta o melhor momento de sua inserção (início, meio ou final do turno) e a melhor configuração grupal para sua realização (grupos que se familiarizam com determinados conteúdos, ou grupos que já se encontram em patamares mais consolidados de aprendizagem). Essa flexibilidade pode conferir maior po- tencial à proposição de rotinas, como elementos que aju- dam o professor a melhor conhecer seus alunos e a moni- torar as modificações necessárias para que o planejamento inicial não se desencaminhe das metas mais relevantes inicialmente projetadas. Alfab_fund_proces_metod.indd 14 8/6/2010 11:48:03 02 CONVALIDAÇÃO - 3 PROVA - 08/06/2010 - Page 14 of 80 APROVAÇÃO: NÃO ( ) SIM ( ) ____________ Capítulo 1 Alfabetização: fundamentos, processos e métodos 15 Síntese Considerando que a possibilidade de integração social, hoje, requer do cidadão muito mais do que o mero conhecimento das “primeiras le- tras”, como está na definição da palavra “alfabetização” no Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, procurou-se, neste texto, discutir a evo- lução desse conceito. As dificuldades encontradas tanto pelas crianças em aprender a ler e a escrever quanto pelos professores em lhes ensinar têm sido constatadas ao longo da história. Apesar do lento avanço em direção ao letramento, visando à diminuição de analfabetos e analfabe- tos funcionais, os dados que temos ainda estão longe de ser satisfatórios para a educação brasileira. Assim, nas breves reflexões esboçadas, observou-se que o fracasso escolar, ou seja, o problema de aprendizagem de instituições que não respondem às exigências do sistema educacional decorre de dois prin- cípios: o primeiro refere-se à herança do analfabetismo, que somente a elite teve condições propícias às atividades de ler e escrever; o segundo diz respeito à ampliação do conceito de alfabetização e das expectativas da sociedade em relação a seus resultados. Alfab_fund_proces_metod.indd 15 8/6/2010 11:48:03 02 CONVALIDAÇÃO - 3 PROVA - 08/06/2010 - Page 15 of 80 APROVAÇÃO: NÃO ( ) SIM ( ) ____________ Alfab_fund_proces_metod.indd 16 8/6/2010 11:48:03 02 CONVALIDAÇÃO - 3 PROVA - 08/06/2010 - Page 16 of 80 APROVAÇÃO: NÃO ( ) SIM ( ) ____________ 17 Conforme visto no capítulo anterior, na última década, o Brasil conseguiu garantir o acesso universal do ensino fundamental público para as crianças. Embora haja acesso acompanhado por outros progra- mas − como de universalização do acesso a livros (PNLD, PNLEM, PNBE)1, merenda escolar, bolsa família, que implica manutenção das crianças na escola, etc. – ainda há muito o que melhorar, no que diz res- peito à reprovação, evasão e parcos efeitos em termos de aprendizagem, conhecimentos e letramentos. Esses resultados altamente insuficientes do ensino impedem ou di- ficultam, muitas vezes, não somente o sucesso e a inclusão escolar, mas a cidadania protagonista, que é entendida como a capacidade do indi- víduo intervir na realidade em que vive. É disso que trataremos neste capítulo, em que, em um primeiro momento, discutiremos brevemente sobre os problemas enfrentamos na alfabetização hoje, como o índice que relata que há milhões de pessoas analfabetas, e também pessoas que foram de fato mal-alfabetizadas. Veremos ainda uma espécie de “luz no fim do túnel”, na qual constata-se que em decorrência do fracasso escolar, estudos têm sido realizados acerca da aprendizagem da leitura e da escrita – atividades acadêmicas que talvez tenham recebido mais atenção nos últimos tempos – pela importância que estas exercem na formação de cada indivíduo. 1 Programas governamentais responsáveis pela distribuição do livro escolar: PNLD – Pro- grama Nacional do Livro Didático, que distribui gratuitamente dicionários e manuais didá- ticos das disciplinas do ensino fundamental I e II a todos os alunos e escolas; PNLEM – Programa Nacional do Livro do Ensino Médio, correlato do PNLD para o nível médio; PNBE – Programa Nacional da Biblioteca Escolar, que distribui às bibliotecas das escolas livros paradidáticos, divulgação científica e obras literárias. Alfabetização no contexto educacional brasileiro 2 Alfab_fund_proces_metod.indd 17 8/6/2010 11:48:03 02 CONVALIDAÇÃO - 3 PROVA - 08/06/2010 - Page 17 of 80 APROVAÇÃO: NÃO ( ) SIM ( ) ____________ Alfabetização: fundamentos, processos e métodos FAEL 18 Alfabetização hoje Apesar de todas as interferências recentes no processo de alfabetiza- ção, o “entulho” − para usar a expressão de Cagliari (1998, p. 31) − que se acumulou com o tempo, enchendo a alfabetização de insignifican- tes exercícios de prontidão e coisas semelhantes, está sendo eliminado muito lentamente da prática escolar. Enquanto o ensino ficou preso à autoridade dos mestres, métodos e livros, que tinham todo o processo preparado de antemão, constatou-se que muitos alunos que não traba- lhavam segundo as expectativas impostas eram considerados incapazes e acabavam de fato não conseguindo se alfabetizar. O relato a seguir ilustra bem alguns comportamentos referentes à frustração e ao insucesso do desempenho escolar. Percebendo que cada indivíduo é único, é muito importante que não se rotule a criança como preguiçosa ou indisciplinada, pois será que o culpado de seu fra- casso escolar é a própria criança? [...] Lembro que eu chorava e ficava furiosa comigo mesma, porque simples- mente não conseguia aprender. Minha vontade era gritar para ela: “Estou tentando, droga, estou tentando! Será que você não vê que estou tentando? Me ajude, por favor!”. Enquanto eu crescia, ler e soletrar tornaram-se ainda mais difíceis para mim. Os professores, minha família e meus amigos provocavam-me o tempo todo. Os professores me culpavam por atrapalhar a turma. Assim, já que todos que- riam rir de mim ou me culpar pelas coisas, parei de tentar ler até mesmo sozi- nha ou em voz alta e me tornei a palhaça da escola; em casa ficava isolada. Quando cheguei no Ensino Médio, percebi o dano que já ocorrera, ir para a fa- culdade jamais me passara pela cabeça, ou o que eu queria da vida, ou que tipo de emprego poderia obter... Então me senti desapontada, não porque as pessoas das quais gostava ou os professores que supostamente deveriam me ensinar haviam me abandonado, mas porque eu própria desistira de lutar. Finalmen- te percebi que eu sempre encontraria pessoas que me considerariam estúpida, mas eu sabia, e realmente acreditava, que não era estúpida. Eu iria concluir o Ensino Médio sem a ajuda de ninguém, então eu sabia que não era estúpida. Alfab_fund_proces_metod.indd 18 8/6/2010 15:05:36 02 CONVALIDAÇÃO - 4 PROVA - 08/06/2010 APROVAÇÃO: NÃO ( ) SIM ( ) ____________ Capítulo 2 Alfabetização: fundamentos, processos e métodos 19 Assim, por que é que hoje, com 28 anos de idade, ainda tenho medo de ler e falar com as pessoas que conheço? Descubro que sou capaz de conversar apenas com as pessoas que não vão me provocar. Vou lhe dizer o porquê – é porque minha família e meus professores me fizeram pensar que todos com quem eu falo irão me provocar até o fim. Em outras palavras, cada ser huma- no na face da Terra é mais esperto que eu. E isto está errado. Nenhuma criança deveria jamais se sentir assim. Como é que alguém faz isso com uma criança que está dando tudo de si? Cada criança merece odireito de aprender e de falar com sinceridade sem que alguém a interrompa, fazendo-a sentir-se incapaz. (Extraído de SMITH; STRICK, 2001, p. 18.) Nesse depoimento, da aluna Cassandra, nota-se que a alfabetização que poderia (e deveria) ser um processo de construção de conhecimen- tos que se faz com certa facilidade, tornou-se um pesadelo. Segundo Cagliari (1998, p. 33), é possível afirmar a causa dessa frustração, uma vez que está ligada ao conhecimento de muitos aspectos da atuação do professor alfabetizador. A presença de um grande número de professo- res alfabetizadores que sequer são capazes de avaliar o que veem diante de seus olhos, que não sabem avaliar com precisão se um método é bom ou não acaba por estimular o fracasso escolar. Atualmente, não só exis- tem milhões de pessoas analfabetas, como também pessoas que foram de fato mal-alfabetizadas. Porém, é necessário salientar que nenhum método educacional garante bons resultados sempre e em qualquer lu- gar; isso só se obtém com a competência do professor. Por outro lado, as propostas de alfabetização que começaram a valori- zar a criança e seu trabalho procuraram criar uma atmosfera mais tranqui- la em sala de aula, uma melhor interação entre professor e aluno, propor- cionando condições mais saudáveis para que o processo de alfabetização se realize da melhor forma possível e, principalmente, seja facilitada. Além de a leitura e a escrita serem um instrumento de acesso às demais áreas do conhecimento, constituem-se em um meio de cultura pessoal, uma capacidade indispensável para que o indivíduo se adapte e se integre ao meio social. Por exemplo, aqueles que têm Alfab_fund_proces_metod.indd 19 8/6/2010 15:05:36 02 CONVALIDAÇÃO - 4 PROVA - 08/06/2010 APROVAÇÃO: NÃO ( ) SIM ( ) ____________ Alfabetização: fundamentos, processos e métodos FAEL 20 dificuldades ou não dominam essas funções (analfabetos ou analfa- betos funcionais, em maior ou menor grau) encontrarão problemas para pegar um ônibus ou metrô, para preencher formulários, para pedir uma refeição em um restaurante utilizando-se do cardápio, uti- lizar um caixa eletrônico de um banco, entre outras atividades que o mundo moderno exige. Dica de Filme Narradores de Javé Após descobrirem que a cidade será inundada para a construção de uma usina hidrelétrica, os moradores de Javé decidem salvá-la escrevendo um documento que conte a história do seu povo. Entretanto, como o livro será escrito se a população de Javé não é alfabetizada? É uma história que revela as dificuldades e conquistas do povo brasileiro. NARRADORES de Javé. Direção Eliane Caffé. Distribuidora Riofilme. 2003. 100 min. Drama. Dica de Filme Assim, justifica-se a preocupação que os educadores têm dispensa- do a esses níveis de linguagem. É relevante aqui comentar que os alunos da educação básica têm participado de diversos programas e sistemas de avaliação, sendo os mais importantes dentre eles o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e o Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB) – governamentais – e o estrangeiro Programa Internacional de Estudantes (PISA). Esses exames e processos de avaliação pretendem, com suas especificidades, medir os resultados da educação básica em termos de construção de capacidades e competências por parte dos alunos. Segundo Roxane Rojo (2009, p. 31), uma das competências centrais avaliadas diz respeito a um aspecto fundamental dos letramen- tos: as capacidades leitoras. O PISA tem uma concepção cognitiva de leitura como extração de informação e relação entre informações retiradas de textos em diferen- tes gêneros e linguagens, tais como folhetos, gráficos e mapas retirados Alfab_fund_proces_metod.indd 20 8/6/2010 11:48:03 02 CONVALIDAÇÃO - 3 PROVA - 08/06/2010 - Page 20 of 80 APROVAÇÃO: NÃO ( ) SIM ( ) ____________ Capítulo 2 Alfabetização: fundamentos, processos e métodos 21 de atlas, diagramas, os quais constituem práticas de leitura escolares e não escolares (ROJO, 2009, p. 31). O ENEM e o SAEB aproximam-se mais de uma concepção discursiva de leitura, na medida em que incorporam descritores ou habilidades e competências que dizem respeito não somente ao conteú- do e à materialidade linguística dos textos, mas também à sua situação de produção (ROJO, 2009, p. 31). Para finalizar essa discussão, é importante entender que os resulta- dos desses exames configuram grandes problemas. Só para situar o leitor nessa condição desfavorável, no relatório PISA 2000, que avaliou alunos de 15 anos de 32 países diferentes, os brasileiros foram os que obtiveram os piores resultados nas capacidades de leitura. Isso nos leva às seguintes reflexões: como os alunos de relativamente longa duração de escolarida- de puderam desenvolver capacidades leitoras tão limitadas? Que tipos de textos e gêneros foram trabalhados com esses alunos? Os alunos não eram incentivados a ler? O que fazer para melhorar esse quadro? Da teoria para a prática Para propormos uma análise das práticas e eventos de letramento de alunos e/ou de suas famílias, que pode ser trabalhada em sala de aula, selecionamos as questões a seguir para a elaboração de indicadores de letramento, retirados da obra Letramentos múltiplos, escola e inclusão social, de Roxane Rojo. 1. Dessas atividades, quais você (ou seus pais) costuma(m) fazer? (Pode assinalar mais de uma.) a) Consultar catálogo telefônico. b) Consultar guia de rua. c) Fazer listas de coisas que precisa fazer. d) Usar agenda para marcar compromissos. e) Deixar bilhetes com recados para alguém da casa. f ) Escrever cartas de amigos ou familiares. Alfab_fund_proces_metod.indd 21 8/6/2010 11:48:03 02 CONVALIDAÇÃO - 3 PROVA - 08/06/2010 - Page 21 of 80 APROVAÇÃO: NÃO ( ) SIM ( ) ____________ Alfabetização: fundamentos, processos e métodos FAEL 22 g) Ler cartas de amigos ou familiares. h) Ler correspondência impressa que chega à sua casa. i) Fazer listas de compras. j) Procurar ofertas ou promoções em folhetos e jornais. k) Verificar a data de vencimento dos produtos que compra. l) Comparar preços entre produtos antes de comprar. m) Fazer compras a prazo no crediário. n) Pagar contas em bancos ou casas lotéricas. o) Fazer depósitos ou saques em caixas eletrônicos. p) Ler manuais para instalar aparelhos domésticos. q) Reclamar por escrito sobre produtos ou serviços que adquiriu. r) Ler bulas de remédios. s) Copiar ou anotar receitas. t) Copiar ou anotar letras de música. u) Escrever histórias, poesias ou letras de música (de sua autoria). v) Escrever diário pessoal. 2. Qual(is) desses materiais (impressos) há em sua casa? (Pode assina- lar mais de um.) a) Álbuns de fotografia. b) Bíblia ou livros religiosos. c) Cartilhas ou livros escolares. d) Livros ou folhetos de literatura de cordel. e) Dicionários. f ) Enciclopédias. g) Folhetos, apostilas ou livretos de movimentos sociais, de par- tidos políticos ou grupos religiosos. h) Folhinha, calendários. Alfab_fund_proces_metod.indd 22 8/6/2010 11:48:03 02 CONVALIDAÇÃO - 3 PROVA - 08/06/2010 - Page 22 of 80 APROVAÇÃO: NÃO ( ) SIM ( ) ____________ Capítulo 2 Alfabetização: fundamentos, processos e métodos 23 i) Guias de ruas e serviços. j) Catálogos e listas telefônicas. k) Jornais. l) Livros de receitas. m) Livros de literatura. n) Livros didáticos ou apostilas escolares. o) Livros infantis. p) Livros técnicos ou especializados. q) Manuais de instrução. r) Revistas. s) Outros. Quais?____________________ t) Não tem nenhum desses materiais. 3. Quais das atividades a seguir você (ou seus pais) costuma(m) fazer no computador? (Pode assinalar mais de uma.) a) Escrever relatórios e outros textos. b) Escrever trabalhos escolares.c) Organizar agenda ou lista de tarefas. d) Digitar dados ou informações. e) Elaborar planilhas ou montar bancos de dados. f ) Consultar e pesquisar. g) Montar páginas ou fazer programas de computador. h) Fazer cursos a distância. i) Pagar contas e movimentar contas bancárias. j) Enviar e receber emails. k) Comprar pela internet. l) Jogar ou desenhar. m) Navegar por diversos sites. Alfab_fund_proces_metod.indd 23 8/6/2010 11:48:03 02 CONVALIDAÇÃO - 3 PROVA - 08/06/2010 - Page 23 of 80 APROVAÇÃO: NÃO ( ) SIM ( ) ____________ Alfabetização: fundamentos, processos e métodos FAEL 24 n) Copiar músicas em CD ou arquivo eletrônico. o) Entrar em sites de bate-papo e discussão (fórum). 4. Indique com que frequência você (ou seus pais) faz(em) cada uma destas atividades: Frequentemente Às vezes Raramente Nunca a) Ir ao cinema b) Ir ao teatro c) Ir a shows de música ou dança d) Ouvir noticiário no rádio e) Ouvir outros programas no rádio f) Assistir a ví- deos e DVD em casa g) Assistir a noticiários na TV h) Assistir a filmes na TV i) Assistir a outros programas na TV j) Ir a museus ou exposi- ções de arte Aplique esse pequeno questionário a pelo menos três alunos de ensino fundamental que você conhece para saber em que tipo de prá- ticas letradas eles se envolvem. Tabule os resultados e os envie às pro- fessoras desses alunos (se eles não forem seus alunos) (ROJO, 2009, p. 54-56). Alfab_fund_proces_metod.indd 24 8/6/2010 11:48:04 02 CONVALIDAÇÃO - 3 PROVA - 08/06/2010 - Page 24 of 80 APROVAÇÃO: NÃO ( ) SIM ( ) ____________ Capítulo 2 Alfabetização: fundamentos, processos e métodos 25 Síntese Este texto se concentrou na caracterização atual da alfabetização no Brasil, a partir de dados de programas e sistemas de avaliação, sen- do os mais importantes dentre eles o ENEM e o SAEB, que são go- vernamentais, e o estrangeiro PISA. Eles apontam lacunas existentes na educação, especialmente no que diz respeito à leitura em sala de aula, entendida não como mera decodificação, mas como capacidade de compreensão de mundo. A intenção precípua foi a de estimular uma reflexão em direção ao equilíbrio, à articulação e à integração de propostas metodológicas que possam dar conta da complexidade da alfabetização e das progressivas exigências em torno de seu ensino. Alfab_fund_proces_metod.indd 25 8/6/2010 11:48:04 02 CONVALIDAÇÃO - 3 PROVA - 08/06/2010 - Page 25 of 80 APROVAÇÃO: NÃO ( ) SIM ( ) ____________ Alfab_fund_proces_metod.indd 26 8/6/2010 11:48:04 02 CONVALIDAÇÃO - 3 PROVA - 08/06/2010 - Page 26 of 80 APROVAÇÃO: NÃO ( ) SIM ( ) ____________ 27 Neste capítulo, a ênfase é dada ao conceito de letramento e suas características, bem como ao estudo da função social da escrita em uma sociedade letrada, uma vez que no Brasil, os estudos sobre a temática ganharam vigor nos últimos anos. A palavra letramento apresenta flutuação de significado devido à complexidade do conceito que abriga estudos variados. No presente texto, ela é tomada como a competência linguística que os indivíduos precisam desenvolver para interagir na prática social, ou seja, o domí- nio da oralidade, leitura e escrita. O letramento permite aos sujeitos adquirirem um novo estado ou condição resultante das mudanças nos aspectos linguístico, cognitivo, social e político. Assim, os procedimentos metodológicos utilizados pelo professor devem orientar o aprimoramento linguístico do aluno pelo uso e reflexão da linguagem, fazendo com que ao longo da sua vida escolar, ele leia, escreva e fale com eficácia, sabendo assumir a palavra, produzir textos coerentes, adequados às diversas situações sociais e aos assuntos tratados. O que é letramento? Segundo Magda Soares (2009, p. 15), letramento é uma palavra recém-chegada ao vocabulário da educação e das ciências linguísticas; é na segunda metade dos anos 80 do século passado que ela surge no dis- curso dos especialistas dessas áreas. Vale ressaltar que uma das primeiras ocorrências está no livro de Mary Kato, de 1986, intitulado No mundo da escrita, uma perspectiva psicolinguística. No livro, a autora, logo nas A função social da escrita em uma sociedade letrada 3 Alfab_fund_proces_metod.indd 27 8/6/2010 11:48:04 02 CONVALIDAÇÃO - 3 PROVA - 08/06/2010 - Page 27 of 80 APROVAÇÃO: NÃO ( ) SIM ( ) ____________ Alfabetização: fundamentos, processos e métodos FAEL 28 primeiras páginas, diz acreditar que a língua falada culta é “consequên- cia do letramento”. Ainda de acordo com Soares (2009, p. 15), letramento trata-se da versão para o português da palavra inglesa literacy. Etimologicamente, a palavra literacy vem do latim littera (letra), com o sufixo –cy, que denota qualidade, condição, estado, fato de ser. Literacy é o estado ou condição que assume aquele que aprende a ler e escrever. Nesse conceito, está implícita a ideia de que a escrita traz consequências sociais, culturais, políticas, econômicas, cognitivas, linguísticas, quer para o grupo social em que seja introduzida, quer para o indivíduo que aprenda a usá-la. Esse é o sentido que tem a palavra letramento, traduzida do inglês literacy: letra, do latim littera, e o sufixo –mento, que, no caso, denota o resultado de uma ação (como por exemplo, em ferimento, resultado da ação de ferir). Letramento é, pois, o resultado da ação de ensinar ou de aprender a ler e escrever; é o estado ou a condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como consequência de ter-se apropriado da escrita (SOARES, 2009, p. 18). Letramento definido em um poema Uma estudante norte-americana, de origem asiática, Kate M. Chong, ao escrever sua história pessoal de letramento, define-o em um poema: O que é Letramento? Letramento não é um gancho em que se pendura cada som enunciado, não é treinamento repetitivo de uma habilidade, nem um martelo quebrando blocos de gramática. Letramento é diversão é leitura à luz de vela ou lá fora, à luz do sol. São notícias sobre o presidente O tempo, os artistas da TV e mesmo Mônica e Cebolinha Alfab_fund_proces_metod.indd 28 8/6/2010 15:07:17 02 CONVALIDAÇÃO - 4 PROVA - 08/06/2010 APROVAÇÃO: NÃO ( ) SIM ( ) ____________ Capítulo 3 Alfabetização: fundamentos, processos e métodos 29 nos jornais de domingo. É uma receita de biscoito, uma lista de compras, recados colados na geladeira, um bilhete de amor, telegramas de parabéns e cartas de velhos amigos. É viajar para países desconhecidos, sem deixar sua cama, é rir e chorar com personagens, heróis e grandes amigos... Através da leitura do poema, notamos que letramento é muito mais que o ensino das “primeiras letras”, que é mais que codificar e decodificar. É a interação com diferentes portadores de leitura e de escrita, com diversos gêneros e tipos de leitura e de escrita, com as variadas funções que estas modalidades desempenham na nossa vida. É buscar notícias e lazer nos jornais, é interagir com a imprensa diá- ria e fazer uso dela, divertir-se com as tiras de quadrinhos, conhecer lugares sem sair da cama onde estamos com o livro nas mãos, como nos mostram os versos. Enfim, letramento é não ficar perdido na sociedade e, ao mesmo tempo, descobrir a si mesmo pela leitura e pela escrita. Função social da escrita Vivemos num tipo de sociedade que costuma ser chamada de “gra- focêntrica”, porque, no dia a dia dos cidadãos, a escrita está presente em todos os espaços e a todo o momento, cumprindo diferentes funções. Para Maria da Graça Costa Val (2006, p. 20), fora da escola, esse saber é adquirido, em geral, quando as crianças têm acesso aos diversos suportes de escrita e participam de práticas de leitura e de escrita dosadultos. Esse conhecimento deve ser trabalhado didaticamente em sala de aula, oferecendo possibilidades para que os alunos observem e ma- nuseiem muitos textos pertencentes a gêneros diversificados e presentes em diferentes suportes. Simultaneamente, o trabalho deve orientar a exploração desse material, explicitando informações desconhecidas, mas sem deixar de Alfab_fund_proces_metod.indd 29 8/6/2010 11:48:04 02 CONVALIDAÇÃO - 3 PROVA - 08/06/2010 - Page 29 of 80 APROVAÇÃO: NÃO ( ) SIM ( ) ____________ Alfabetização: fundamentos, processos e métodos FAEL 30 valorizar os conhecimentos prévios das crianças e de favorecer deduções e descobertas. Essas práticas terão repercussão positiva no processo de apropria- ção do sistema de escrita e, principalmente, na leitura e na produção de textos escritos. Condições para o letramento Com base nas concepções teóricas de Magda Soares (2009, p. 58), relacionamos algumas condições para que ocorra o letramento. Uma primeira condição é que haja escolarização real e efetiva da população − só nos demos conta da necessidade de letramento quando o acesso à escolaridade se ampliou e tivemos mais pessoas sabendo ler e escrever, passando a aspirar a um pouco mais do que simplesmente aprender a ler e a escrever. Uma segunda condição é que haja disponibilidade de material de leitura. O que ocorre nos países do Terceiro Mundo é que se alfabeti- zam crianças e adultos, mas não lhes são dadas as condições para ler e escrever: não há material impresso posto à disposição, não há livrarias, o preço dos livros e até dos jornais e revistas é inacessível, há um núme- ro muito pequeno de bibliotecas. O professor deve tomar alguns cuidados para envolver o aluno no processo de construção da escrita, tais como: criar um ambiente letrado, em que a leitura e a escrita estejam presen-t� tes, mesmo antes que a criança saiba ler e escrever convencionalmente; considerar o conhecimento prévio das crianças, pois, embora pequenas, t� elas levam para a escola o conhecimento que advém da vida; participar com as crianças de práticas de letramento, ou seja, ler e escre-t� ver com função social; utilizar textos significativos, pois é mais interessante interagir com a t� escrita que possui um sentido, constitui um desafio e dá prazer; Alfab_fund_proces_metod.indd 30 8/6/2010 15:09:12 02 CONVALIDAÇÃO - 4 PROVA - 08/06/2010 APROVAÇÃO: NÃO ( ) SIM ( ) ____________ Capítulo 3 Alfabetização: fundamentos, processos e métodos 31 utilizar textos reais, que circulam na sociedade;t� utilizar a leitura e a escrita como forma de interação, por exemplo, para t� informar, convencer, solicitar ou emocionar (SANTOS, 2010). Da teoria para a prática Para trabalhar com o letramento em sala de aula, propomos uma atividade que pode ser desenvolvida para que os alunos sintam sua parti- cipação em eventos que pressupõem o letramento (ROJO, 2009, p. 54). Durante todo um dia, anote todos os eventos de letramento de que você participa, isto é, todas as atividades que desempenha que, de alguma maneira, envolvam o uso da escrita na leitura ou na produção de textos. Use, para isso, a tabela seguinte. EVENTO DE LETRAMENTO ESFERA DE ATIVIDADE FINALIDADE USO DE LEITURA E/OU ESCRITA 1. Retirar dinheiro no caixa eletrônico Cotidiana Abastecer-me de dinheiro para gastos cotidianos Leitura/escrita 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. ... Em seguida, escreva um parágrafo com uma reflexão sobre quais são os principais eventos de letramento com os quais você se envolve no dia a dia e com quais finalidades (de trabalho, estudo, tarefas coti- dianas, para se informar, no lazer, entre outras). Alfab_fund_proces_metod.indd 31 8/6/2010 15:11:31 02 CONVALIDAÇÃO - 4 PROVA - 08/06/2010 APROVAÇÃO: NÃO ( ) SIM ( ) ____________ Alfabetização: fundamentos, processos e métodos FAEL 32 Síntese Nesse texto, ancorado pelas ideias de Magda Soares, Roxane Rojo e Mary Kato, discutiu-se o conceito de letramento e suas principais ca- racterísticas. Trata-se de um processo que tem início quando a criança começa a conviver com as diferentes manifestações da escrita na socie- dade (placas, rótulos, embalagens comerciais, etc.) e se prolonga por toda a vida, com a crescente possibilidade de participação nas práticas sociais que envolvem a língua escrita, como a leitura e redação de con- tratos, de livros científicos, de obras literárias. Estima-se que a palavra letramento surgiu pela primeira vez em 1986, na obra No mundo da escrita: uma perspectiva psicolinguística, de Mary Kato, e decorre da versão para o português da palavra da língua inglesa literacy. Alfab_fund_proces_metod.indd 32 8/6/2010 11:48:04 02 CONVALIDAÇÃO - 3 PROVA - 08/06/2010 - Page 32 of 80 APROVAÇÃO: NÃO ( ) SIM ( ) ____________ 33 O termo letramento foi criado quando se passou a perceber que nas sociedades contemporâneas é insuficiente o mero aprendiza- do das “primeiras letras” e que se integrar socialmente, hoje, envolve também “saber utilizar a língua escrita nas situações em que esta é necessária, lendo e produzindo textos” (COSTA VAL, 2006, p. 19). Essa palavra surgiu para designar essa nova dimensão da entrada no mundo da escrita. Por isso, tem-se afirmado, segundo Costa Val (2006, p. 19), que alfabetização e letramento são processos diferentes, cada um com suas especificidades, mas complementares, inseparáveis e ambos indispensá- veis. Essa questão será vista neste capítulo, salientando o desafio, que hoje se coloca para os professores, de conciliar esses dois processos, de modo a assegurar aos alunos a apropriação do sistema alfabético/or- tográfico e a plena condição de uso da língua nas práticas sociais de leitura e escrita. Diferenças É importante a compreensão de que os dois processos – alfabetiza- ção e letramento – são complementares e não alternativos. Nas palavras de Costa Val (2006, p. 19), não se trata de escolher entre alfabetizar ou letrar, trata-se de alfabetizar letrando. Quando a ação pedagógica se orienta para o letramento não deve se deixar de lado ou abandonar o trabalho específico com o sistema de escrita. Do mesmo modo, não se deve pensar nos dois processos como sequenciais, como se o letramento fosse uma preparação para a alfabetização ou como se a alfabetização fosse condição indispensável para o letramento. Alfabetização e letramento: embates e interfaces 4 Alfab_fund_proces_metod.indd 33 8/6/2010 11:48:04 02 CONVALIDAÇÃO - 3 PROVA - 08/06/2010 - Page 33 of 80 APROVAÇÃO: NÃO ( ) SIM ( ) ____________ Alfabetização: fundamentos, processos e métodos FAEL 34 Magda Soares (2009, p. 31) define os termos alfabetizar, alfabeti- zação e letramento de modo a contribuir com nossas considerações: Alfabetizar ● é ensinar a ler e a escrever; é tornar o indivíduo capaz de ler e escrever. Alfabetização ● é a ação de alfabetizar. Letramento ● é o estado ou condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como consequência de ter-se apro- priado da escrita e de suas práticas sociais. Isso posto, entende-se que a ação pedagógica mais eficiente é aque- la que procura contemplar, de maneira articulada e simultânea, os dois processos. Ou seja, a aprendizagem torna-se significativa quando o aluno pode relacionar o conhecimento às suas práticas cotidianas. Essa questão é possível a partir do momento em que a vivência do educando – seu conhecimento prévio de mundo – é resgatado em sala de aula para servir como subsídio no processo de análise, fazendo parte dos temas de estudo. Dessa maneira, é oferecida ao aluno a oportunidade real de falar, ouvir, ler e escrever, identificando em sala de aula o que acontece fora dela. Outra questão importante para se compreenderdiz respeito ao fato de que um indivíduo que não sabe ler e escrever, isto é, analfabeto, pode ser letrado. Ou seja, de acordo com Magda Soares (2009, p. 24), um indivíduo pode ser analfabeto, mas viver em um meio em que a leitura e a escrita têm presença forte, caso se interesse em ouvir a leitura de jornais feita por um alfabetizado, por exemplo, se recebe cartas que outros leem para ele, se dita cartas para que um alfabetizado as escreva, como observamos no filme Central do Brasil, de Waltter Salles. Nesse filme, a personagem Dora (Fernanda Montenegro) é escriba e escreve cartas para pessoas analfabetas, porém com graus de letramento, já que os indivíduos usam a profissão de Dora para se envolver na prática da escrita, mesmo que indiretamente. Assista ao filme Central do Brasil que retrata a questão do analfabetismo de maneira peculiar. Dora (personagem de Fernanda Montenegro) vive a história de uma professora primária que escreve cartas para analfabetos Dica de Filme Alfab_fund_proces_metod.indd 34 8/6/2010 11:48:04 02 CONVALIDAÇÃO - 3 PROVA - 08/06/2010 - Page 34 of 80 APROVAÇÃO: NÃO ( ) SIM ( ) ____________ Capítulo 4 Alfabetização: fundamentos, processos e métodos 35 Dica de Filme (escriba), chegando a praticar pequenos golpes. Envolve-se com o garoto Josué e, desta forma, também acaba crescendo como figura humana ao in- teragir com as vidas de outras pessoas. Os eventos de letramento ocorrem em diversos espaços sociais que se realizam práticas letradas e demandam qualquer nível de familiaridade com a escrita. Assim, o filme não tem a função de introduzir formalmente os sujeitos no mundo da escrita, mas a partir da prática exercida por Dora não se perde o sentido, o entendimento do letramento por meio das noções de sujeito alfabetizado ou não alfabe- tizado, tidas como parâmetros nas práticas escolares e sociais que usam a escrita em contextos específicos, para objetivos específicos, mas nos faz pensar sobre o que é leitura e o papel da escola na formação do leitor, mo- dos significados e sentidos de aprender a ler. CENTRAL do Brasil. Direção Walter Salles. Videofilmes. 1998. 1h 52 min. Drama. Decodificação e compreensão Roxane Rojo, na sua obra Letramentos Múltiplos, escola e inclusão social, faz um apanhado sobre as características que envolvem o ato de ler na alfabetização, a decodificação do texto – portal importante para o acesso à leitura, mas insuficiente nas capacidades envolvidas no ato de ler, de compreender (ROJO, 2009, p. 79): São capacidades de decodificação: compreender diferenças entre escrita e outras formas gráficas ● (outros sistemas de representação); dominar as convenções ● gráficas; conhecer o alfabeto; ● compreender a nature- ● za alfabética do nosso sistema de escrita; Grafema: é a unidade formal mínima da escri- ta. É a representação gráfica dos sons da fala. Fonema: menor elemento sonoro capaz de estabelecer distinção de significado. Saiba mais Alfab_fund_proces_metod.indd 35 8/6/2010 11:48:04 02 CONVALIDAÇÃO - 3 PROVA - 08/06/2010 - Page 35 of 80 APROVAÇÃO: NÃO ( ) SIM ( ) ____________ Alfabetização: fundamentos, processos e métodos FAEL 36 dominar as relações entre grafemas e fonemas; ● saber decodificar palavras e textos escritos; ● saber ler reconhecendo globalmente as palavras; ● ampliar a sacada do olhar para porções maiores de texto, ● além de meras palavras, desenvolvendo assim fluência e rapi- dez de leitura. São capacidades de compreensão: ativação de conhecimentos de mundo ● – previamente à lei- tura ou durante o ato de ler, o leitor está colocando constan- temente em relação seu conhecimento amplo de mundo com aquele exigido e utilizado pelo autor do texto; antecipação ou predição de conteúdos ou de propriedades ● dos textos – o leitor não aborda o texto como uma folha em branco. A partir da situação de leitura, de suas finalidades, da esfera de comunicação, etc., o leitor levanta hipóteses tanto sobre o conteúdo como sobre a forma do texto ou do trecho seguinte de texto que estará lendo; checagem de hipóteses ● – ao longo da leitura, o leitor irá conferir constantemente suas hipóteses, confirmando-as ou refutando-as e, consequentemente, buscando novas hipóteses mais adequadas; localização e/ou retomada (cópia de informações) ● – em certas práticas de leitura, o leitor está constantemente buscan- do e localizando informações relevantes para armazená-las; comparação de informações ● – ao longo da leitura, o leitor está constantemente comparando informações de várias or- dens, advindas do texto, de outros textos, de seu conhecimen- to de mundo, de maneira a construir os sentidos do texto que está lendo; generalização ● – conclusões gerais sobre fato, fenômeno, situa- ção-problema, etc., após análise de informações pertinentes; produção de inferências locais ● – no caso de uma lacuna de compreensão, provocada, por exemplo, por um vocábulo ou Alfab_fund_proces_metod.indd 36 8/6/2010 15:12:27 02 CONVALIDAÇÃO - 4 PROVA - 08/06/2010 APROVAÇÃO: NÃO ( ) SIM ( ) ____________ Capítulo 4 Alfabetização: fundamentos, processos e métodos 37 uma estrutura desconhecida, exerceremos inferências, isto é, atribuimos, pelo contexto imediato do texto e pelo significa- do anteriormente construído, um significado para esse termo, até então desconhecido. produção de inferências globais ● – nem tudo está dito ou pos to no texto. Ele tem seus implícitos ou pressupostos que também têm de ser compreendidos numa leitura efetiva. Para fazê-lo, o leitor lança mão, ao mesmo tempo, de certas pistas que o autor deixa no texto, do conjunto da significação já construída e de seus conhecimentos de mundo, inclusive lógicos. Da teoria para a prática Uma sugestão de trabalho que envolve a alfabetização e letramen- to, simultaneamente, é a atividade intitulada caixinha de histórias, na qual a criança utiliza-se de imagens e da palavra impressa para construir ou reconstruir os sentidos de textos que ouve ou produz. Caixinha de histórias Material: gravuras, revistas, caixa de camisa ou sapato, etc. Modo de fazer: escolher gravuras e palavras de alguma revista; colar em fichas feita de cartolina; encapar a caixa e colocar as fichas dentro. Sugestão para utilização: fazer com as crianças um texto coletivo uti- lizando as figuras e as palavras da seguinte forma: um aluno retira sem olhar, uma gravura e uma palavra da caixa e forma uma frase combi- nando-as; o próximo faz o mesmo e continua a história começada. Este material contribui para: a) o emprego associativo da linguagem verbal (palavra) e não verbal (gravura); b) o trabalho de produção de textos; c) a organização de sequência lógica entre as ações de uma narrativa; d) a criatividade na combinação das palavras das imagens e na construção do texto; e) favorecer o letramento. Alfab_fund_proces_metod.indd 37 8/6/2010 15:13:07 02 CONVALIDAÇÃO - 4 PROVA - 08/06/2010 APROVAÇÃO: NÃO ( ) SIM ( ) ____________ Alfabetização: fundamentos, processos e métodos FAEL 38 Síntese Nesse texto, procuramos abordar as interfaces e embates dos pro- cessos de alfabetização e letramento. Salientou-se que são processos diferentes, cada um com suas especificidades, mas complementares, inseparáveis e ambos indispensáveis. Outro ponto foi entender que o processo de letramento pode pre- ceder à alfabetização. Os alunos, muito antes de adquirirem a habilidade para ler e escrever convencionalmente, já são capazes de produzir lingua- gem escrita e atribuir sentido aos textos ouvidos. Ou seja, podem ditar informações para uma pessoa alfabetizada fazer o papel de escriba. Por fim, foram mostradas as diferenças entre decodificação e com- preensão, a partir das ideias de RoxaneRojo. Alfab_fund_proces_metod.indd 38 8/6/2010 11:48:04 02 CONVALIDAÇÃO - 3 PROVA - 08/06/2010 - Page 38 of 80 APROVAÇÃO: NÃO ( ) SIM ( ) ____________ 39 Nesse capítulo, a reflexão sobre como integrar alfabetização e letramento em sala de aula está organizada em torno de três compo- nentes de aprendizagem que julgamos necessários: produção escrita, produção oral, trabalho com a leitura. De acordo com Costa Val (2006, p. 20), ter clareza quanto à di- versidade de usos e funções da escrita e às incontáveis possibilidades que ela abre é importante tanto do ponto de vista conceitual e proce- dimental, para que o aluno seja capaz de fazer escolhas adequadas ao participar das práticas sociais de leitura/escrita, quanto do ponto de vista comportamental, porque o interesse e a própria disposição posi- tiva para o aprendizado tendem a se acentuar com a compreensão da utilidade e relevância daquilo que se aprende. Produção escrita Na produção escrita, o aluno deve se cercar de complexos e diver- sos procedimentos, pois essa é uma tarefa para a qual se supõe que o autor assuma diferentes papéis (o de quem planeja, o de quem lê para revisar e o de quem corrige propriamente). Assim, devemos considerar as funções e o funcionamento da escrita, bem como as condições nas quais é produzida: o aluno deve ter o que dizer, para quem e para que, de modo a poder definir como dizer (GERALDI, 1991, p. 100). As propostas de escrita devem deixar clara, principalmente ao interlocutor, a finalidade do texto e suas características de gênero, a fim de facilitar a organização do aluno no momento do planejamento de escrita e de sua realização propriamente dita, além de tornar essa Alfabetização e letramento na sala de aula 5 Alfab_fund_proces_metod.indd 39 8/6/2010 11:48:05 02 CONVALIDAÇÃO - 3 PROVA - 08/06/2010 - Page 39 of 80 APROVAÇÃO: NÃO ( ) SIM ( ) ____________ Alfabetização: fundamentos, processos e métodos FAEL 40 atividade significativa. Com essas condições postas, o aluno terá o mo- mento para planejar, escrever, revisar e reescrever seus textos. Vale res- saltar que é de grande importância que o professor e/ou colegas façam intervenções na produção, questionando, sugerindo formas mais ade- quadas para contemplar aquilo que o autor pretendia dizer. Durante a atividade de revisão, os alunos e o professor devem debru- çar-se sobre o texto buscando melhorá-lo. Para tanto, deverão aprender a detectar os pontos nos quais o que está dito não é o que se pretendia, isto é, identificar os problemas e aplicar os conhecimentos sobre a língua para resolvê-los, acrescentando, retirando, deslocando ou substituindo porções do texto, com o objetivo de torná-lo coerente para o leitor. Além disso, precisam verificar se os elementos linguísticos empre- gados estão organizados de acordo com o gênero discursivo pretendido: coerência, recursos coesivos, pontuação, concordância, regência, para- grafação, emprego das maiúsculas, vocabulário adequado. Outro ponto importante é a revisão de texto, que exige que os professores selecionem em quais aspectos pretendem que os alunos se concentrem em cada produção, pois não é possível tratar de todos ao mesmo tempo. E, principalmente, devem dar maior importância aos acertos do aluno em detrimento dos erros, e não o contrário. Dessa forma, observa-se que na interação com os variados textos, pela ação do professor e pela atividade de ler e escrever, o aluno vai se apropriar das especificidades que caracterizam a modalidade escrita da linguagem. A produção oral As práticas de produção oral devem contemplar o aprimoramento da competência linguística, considerando que a conversação acontece na relação entre falantes e suas intenções em uma situação específica de comunicação. Deve-se mostrar, em relação à coerência dos discursos orais, que é um processo que ocorre na orientação temporal e, por isso, apresenta algumas diferenças funcionais, físicas e situacionais com relação à escrita, por ter interpretação mútua dos interlocutores, permitindo ao mesmo tempo a homogeneidade textual e heterogeneidade discursiva. Percebe-se, portan- to, que a língua oral é estruturada e apresenta características próprias: Alfab_fund_proces_metod.indd 40 8/6/2010 11:48:05 02 CONVALIDAÇÃO - 3 PROVA - 08/06/2010 - Page 40 of 80 APROVAÇÃO: NÃO ( ) SIM ( ) ____________ Capítulo 5 Alfabetização: fundamentos, processos e métodos 41 na oralidade existem repetições, hesitações, correção ime-t� diata, entre outros recursos para organizar o texto; o discurso oral é resultado da cooperação entre os inter-t� locutores; a fala sofrerá variação não só em decorrência do gênero t� discursivo, mas também em função da situação em que ela acontece; a produção oral ocorre com a presença dos interlocutores t� que contam com um tempo muito pequeno para organizar perfeitamente as suas ideias e selecionar a estrutura de seus textos (CHANOSKI-GUSSO; FINAU, 2002, p. 11). Desse modo, as práticas de oralidade devem oportunizar aos alu- nos diferentes situações de escuta e de fala, de modo a exercitar as regras instituídas para as situações interativas face a face: saber ouvir, respeitar o posicionamento do outro, mostrar polidez, saber analisar e interferir, selecionar informações para registrar, etc. Na sequência, o aluno perceberá que há uma diversidade nas produções orais, de- corrente da situação em que o discurso se realiza, até mesmo para a adequação do volume e velocidade da voz, postura, expressão facial, gestos, entre outros. Enfim, as propostas de produção oral devem ampliar a competên- cia do aluno em situações formais e também em situações informais, uma vez que sua produção deverá variar de acordo com o propósito a que se destina – informar, divertir, persuadir, etc. com o interlocutor e a situação. Trabalho com a leitura De acordo com Chanoski-Gusso e Finau (2002, p. 10), o ensi- no de língua, para poder dar resposta à sua tarefa de desenvolver nos alunos a competência de compreender e produzir textos em diversas situações de interação, ou seja, permitir-lhes a inserção no mundo le- trado, deve, necessariamente, oferecer incentivos e meios para que os aprendizes leiam. A leitura da literatura de ficção e não ficção, de revistas e jornais, enfim, dos diferentes textos que circulam na sociedade é um modo de a escola cumprir seu papel de favorecer condições para que os Alfab_fund_proces_metod.indd 41 8/6/2010 11:48:05 02 CONVALIDAÇÃO - 3 PROVA - 08/06/2010 - Page 41 of 80 APROVAÇÃO: NÃO ( ) SIM ( ) ____________ Alfabetização: fundamentos, processos e métodos FAEL 42 alunos, gradativamente, aumentem seus saberes e, em consequência, desenvolvam o raciocínio, o senso crítico, a compreensão do real, a curiosidade intelectual – essenciais para a construção de uma sociedade mais politizada. Nesse contexto, segundo Ezequiel Theodoro da Silva (2005, p. 22), o trabalho do professor merece maior destaque, porque, sem um professor que, além de se posicionar como um leitor assíduo, crí- tico e competente, entenda realmente a complexidade do ato de ler, as demais condições para a produção da leitura perderão em validade, potência e efeito. O professor é o intelectual que delimita todos os quadrantes do terreno da leitura escolar. Sem a sua presença atuan- te, sem o seu trabalho competente, o terreno dificilmente chegará a produzir o benefício que a sociedade espera e deseja, ou seja, leitura e leitores assíduos e maduros. Da teoria para a prática Como sugestão de trabalho, propomos o jogo de caça-palavras com revistas ou jornais. Neste jogo, há a possibilidade de o professor trabalhar a alfabetização e o letramento de maneira simultânea e, prin- cipalmente, lúdica. Jogo de caça-palavras com revistasou jornais Objetivo: levar a criança a desenvolver as habilidades na classifica- ção de palavras, bem como promover situações de contato com a escrita, favorecendo o letramento escolar. Procedimento a) Cada aluno escolhe um trecho de leitura de uma revista. b) A cada rodada é escolhido um tipo de classe de palavras para se encontrarem: substantivo, verbo e adjetivo. c) Cada criança irá procurar no trecho selecionado o tipo de pa- lavra que escolheu e marcará com lápis de cor todas as pala- vras que encontrar. Alfab_fund_proces_metod.indd 42 8/6/2010 15:13:48 02 CONVALIDAÇÃO - 4 PROVA - 08/06/2010 APROVAÇÃO: NÃO ( ) SIM ( ) ____________ Capítulo 5 Alfabetização: fundamentos, processos e métodos 43 d) No final, cada um lerá em voz alta, e será o vencedor quem conseguir o maior número de palavras. Este tipo de jogo aumenta o vocabulário da criança, levando-a a entrar em contato com vários tipos de palavras que às vezes ainda não conhece. Síntese Abordou-se, nesse texto, a reflexão acerca dos três componentes de aprendizagem, os quais necessitam de uma atenção especial em sala de aula: produção escrita, produção oral, trabalho com a leitura. Na produção escrita, constatou-se que os alunos devem receber orientações linguísticas adequadas no espaço da sala de aula, com con- dições pedagógicas favoráveis, a fim de desenvolverem sua competência como autores. Na produção oral, o objetivo é o de aprimorar o discurso oral do aluno, tornando-o capaz de verificar a coerência de sua posição, pois, além de compreender o discurso do outro, terá que rever a sua prática com a possibilidade de divulgar socialmente suas ideias. No trabalho com a leitura, observou-se que a prática da leitura dos mais diferentes textos que circulam em nossa sociedade é condi- ção imprescindível para que o aluno se constitua em leitor crítico, isto é, sujeito de que diante do texto, faça constatações, desvele o sentido primeiro do texto, coteje, reagindo, questionando, e aja sobre o conhe- cimento obtido. Alfab_fund_proces_metod.indd 43 8/6/2010 11:48:05 02 CONVALIDAÇÃO - 3 PROVA - 08/06/2010 - Page 43 of 80 APROVAÇÃO: NÃO ( ) SIM ( ) ____________ Alfab_fund_proces_metod.indd 44 8/6/2010 11:48:05 02 CONVALIDAÇÃO - 3 PROVA - 08/06/2010 - Page 44 of 80 APROVAÇÃO: NÃO ( ) SIM ( ) ____________ 45 As crianças, quando entram para a escola com o objetivo de aprender a ler e a escrever, o primeiro – e, na maioria das vezes, o único – modelo de texto escrito que recebem para “copiar” é a cartilha. Sa- bendo que estão na escola para aprender a lidar com a escrita (seja para ler ou para escrever) e levando muito a sério o que fazem, as crianças, ao receberem os textos contidos na cartilha como único modelo de escrita, posteriormente, apresentarão problemas sérios na sua aprendizagem. Assim, neste capítulo, observa-se, em vários contextos, que as cartilhas são úteis, porém quando não forem usadas como única fonte de informa- ção, pois o objetivo deve ser o de ampliar e não limitar; o importante não é só a seleção adequada do material, mas principalmente como ele é utilizado. Cartilha na escola De acordo com as considerações de Russo e Vian (2001, p. 22), a cartilha deixou de ser material fundamental e obrigatório na alfabetiza- ção. Uma vez que todo e qualquer material escrito pode ser considerado didático, a cartilha, propriamente dita, torna-se mais uma opção do que uma necessidade. É importante o professor perceber que essa opção pode servir de apoio para nortear seu trabalho. Em outras palavras, por melhor e mais especializado que seja um material, parte significativa de seu caráter didático decorre dos usos que professor e aluno, envolvidos numa situação de ensino e aprendiza- gem particular, fazem dele. A eficácia desses recursos resulta da correta formulação de uma equação entre o seu grau de especialização, o perfil dos sujeitos envolvidos e as características da situação. Uso da cartilha no processo de leitura e escrita 6 Alfab_fund_proces_metod.indd 45 8/6/2010 11:48:05 02 CONVALIDAÇÃO - 3 PROVA - 08/06/2010 - Page 45 of 80 APROVAÇÃO: NÃO ( ) SIM ( ) ____________ Alfabetização: fundamentos, processos e métodos FAEL 46 Para Rangel (2006, p. 103), alguns objetivos são necessários nessa situação de ensino e aprendizagem, a qual envolve o uso da cartilha: propiciar e orientar uma interação adequada entre o pro-t� fessor e o aluno, em torno do objeto a ser assimilado (a compreensão de um texto, um conceito, um tipo de ra- ciocínio, um modo de fazer, etc.); favorecer uma interlocução pedagogicamente eficaz entre t� os sujeitos envolvidos no processo, de forma que a apre- sentação, o reconhecimento e a assimilação do objeto pos- sa se dar por meio do diálogo, exatamente como no exem- plo da construção coletiva da noção de referente possível para uma determinada palavra; promover uma aproximação adequada dos sujeitos, e em t� especial do aprendiz, em relação ao objeto; permitir aos sujeitos uma representação ao mesmo tempo t� possível para o nível e o momento do processo de ensino e aprendizagem e que seja aceitável para os saberes de refe- rência socialmente legitimados. Da sua qualidade depen- de a correção conceitual do instrumento; colaborar significativamente para que os sujeitos envol-t� vidos atinjam os objetivos estabelecidos para a situação em questão. Caminho Suave: 1º Livro (Leitura Intermediária). Branca Alves de Lima. Ilustrações exe- cutadas por Flavius. Essa cartilha, cuja primeira edição é de 1948, parece ter sido um fenômeno de vendas no Brasil: calcula-se que todas as edições, até a década de 1990, venderam 40 milhões de exemplares. Há um exemplar de edição bem posterior, dos anos de 1980, quando a cartilha foi modificada e vários exercícios foram incluídos. Alfab_fund_proces_metod.indd 46 8/6/2010 11:57:16 02 CONVALIDAÇÃO - 3 PROVA - 08/06/2010 - Page 46 of 80 APROVAÇÃO: NÃO ( ) SIM ( ) ____________ Capítulo 6 Alfabetização: fundamentos, processos e métodos 47 A cartilha e as críticas É só fazer um apanhado de buscas em livros, artigos, internet, etc., sobre a temática o uso da cartilha, que logo teremos várias posições contra a sua aplicação. Autores como Regina Zilberman, Zizi Trevisan, Marisa Borba, Gladis Massini-Cagliari, Maria de Fátima Russo e Maria Inês Aguiar Vian, Bruno Bettelheim e Karen Zelan, entre outros, rela- cionam vários fatores problemáticos que influenciam negativamente no ensino-aprendizagem. Para Regina Zilberman (1991, p. 22), o livro didático (cartilhas) contribui para o avesso da leitura e, constituindo-se, de certa maneira, no arquétipo do livro em sala de aula, acaba por exercer um efeito que embacia a imagem que a prática da leitura almeja alcançar. A leitura se caracteriza por uma experiência do presente, com a qual se compromete o leitor, já que ele contribui com seu mundo íntimo, no processo de de- cifração da obra. O livro didático exclui a interpretação e, com isto, exila o leitor. Propondo-se como autossuficiente, simboliza uma autoridade em tudo contrária à natureza da obra de ficção que, mesmo na sua auto- nomia, não sobrevive sem o diálogo que mantém com seu destinatário. As reflexões de Zizi Trevisan vêm ao encontro das ideias de Regina Zilberman. Para Trevisan (1998, p. 55), através da observação dos pro- cedimentos metodológicos dos autores de livros didáticos (cartilhas), verifica-se que a metodologia do ensino de textos utilizada por eles vem se apoiando na simples organização sequencial de atividades, isto é, na sequência de passos para se chegar a um fim, entendido como o cumprimento do conteúdo programático. Dessa forma, a metodologia, entendida como organização conceptual do trabalho didático, não tem sido considerada
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