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R. C. Sproul - A onisciência de Deus

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A ONISCIÊNCIA DE DEUS
R. C. Sproul
Verdades essenciais da fé cristã; doutrinas básicas em linguagem simples e prática. v. 1 (São Paulo: Cultura Cristã, 1999), pp. 43-44.
Minha primeira experiência com o conceito de onisciência foi algo relacionado com meu entendimento infantil sobre o Papai Noel. Alguém me disse que ele "fazia uma lista e a conferia duas vezes". Eu também pensava que o coelho da Páscoa vivia no sótão da nossa casa (fora da época da Páscoa) de onde podia me vigiar sem ser visto.
A palavra onisciência significa "ter todo (omnis) conhecimento (ciência)". É um termo que só pode ser aplicado apropriadamente a Deus. Somente um ser infinito e eterno é capaz de conhecer todas as coisas. O conhecimento de uma criatura finita é sempre limitado por um ser finito.
Deus, sendo infinito, é capaz de reconhecer todas as coisas, entender todas as coisas e assimilar tudo. Ele nunca aprende algo ou adquire um novo conhecimento. O futuro, bem como o passado e o presente, são totalmente conhecidos por ele. Nada pode surpreendê-lo.
Devido ao fato de que o conhecimento de Deus excede imensamente o nosso (porque é muito mais elevado), alguns cristãos acreditam que o pensamento de Deus difere radicalmente em natureza do nosso. Por exemplo, tem-se tornado comum entre os cristãos a formação de que Deus opera numa lógica diferente de Deus. Podemos dizer: "Isso pode ser contraditório para nós, mas não na mente de Deus."
Tal raciocínio é fatal para o Cristianismo. Por quê? Se Deus de fato tem uma lógica diferente, ou seja, aquilo que é contraditório para nós é lógico para ele, então não temos razão para confiar numa única palavra da Bíblia. Qualquer coisa que a Bíblia nos diga então pode significar exatamente o oposto para Deus. Na mente de Deus, o bem e o mal podem não ser opostos e o Anticristo pode na verdade ser o Cristo.
O conhecimento superior de Deus lhe permite resolver mistérios que nos deixam perplexos. Isso, porém, aponta para uma diferença de grau no conhecimento de Deus, não para uma diferença do tipo de lógica que ele usa. Visto que Deus é racional, nem ele mesmo pode conciliar contradições.
A onisciência de Deus também emana da sua onipotência. Deus não é todo-ciente simplesmente por ele aplicar seu intelecto superior num estudo profundo do universo e todo o seu conteúdo. Ao contrário, Deus conhece tudo porque ele criou tudo e sua vontade prevalece sobre tudo. Como o governante soberano sobre o universo, Deus tem o controle do universo. Embora alguns teólogos tentem separar as duas coisas, é impossível para ele controlar tudo sem conhecer tudo. Como todos os atributos de Deus, a onisciência e a onipotência são interdependentes, duas partes necessárias do todo.
A onisciência de Deus, como sua onipotência e onipresença, também se relaciona ao tempo. O conhecimento de Deus é absoluto no sentido em que ele é eternamente consciente de todas as coisas. O intelecto de Deus é diferente do nosso no sentido em que ele não tem de "acessar" informações, como um computador tem de acessar um arquivo. Todo o conhecimento está sempre diretamente diante dele.
O conhecimento que Deus tem de todas as coisas é uma faca de dois gumes. Para o crente, essa idéia oferece segurança – Deus está no controle, ele entende. Deus não fica confuso diante dos problemas que nos confundem. Para o não-crente, entretanto, a doutrina destaca o fato de que a pessoa não pode esconder-se de Deus. Seus pecados estão expostos. Como Adão, eles tentam ocultar-se. Não existe, porém, nenhum lugar no universo em que o olhar de Deus, seja em amor ou em ira, não possa perscrutar.
A onisciência de Deus é também uma parte crucial da sua promessa de introduzir a justiça no mundo. Para que um juiz possa estabelecer um veredicto perfeitamente justo, primeiro tem de conhecer todos os fatos. Nenhuma evidência pode ser oculta do escrutínio de Deus. Ele conhece todas as circunstâncias atenuantes.

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