Buscar

Genero+e+pobreza+no+Brasil+-+CEPAL-SPM

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 47 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 47 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 47 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Gênero 
e 
Pobreza 
no 
Brasil 
 
Relatório Final do Projeto Governabilidad Democratica de Género 
en America Latina y el Caribe 
 
 
 
 
Convênio:Comissão Econômica para América Latina e Caribe (CEPAL) 
Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM) 
 
 
 
 
Dra. Hildete Pereira de Melo ∗ 
Docente da Faculdade de Economia 
da Universidade Federal Fluminense 
 
 
 
 
 
 
 
CEPAL 
SPM 
Brasília 
2005 
 
∗ Marcelo Nicoll, mestrando da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (ENCE/IBGE), foi responsável pela 
programação dos microdados da PNAD/IBGE. 
2 
 
Sumário 
 
Resumo, 03 
 
1. Introdução, 04 
 
2. Os Significados da Pobreza, 06 
2.1 Um Diálogo com a Literatura 
2.2 Uma Proposta de Linha de Pobreza 
 
3. A Pobreza numa Perspectiva de Gênero, 14 
3.1 Mulheres e Homens na Sociedade Brasileira: Uma Síntese 
3.2 Sozinhas e Pobres? 
3.3 Um Retrato da Pobreza no Brasil: 2001 
 
4 Gênero e Perfil da Pobreza, 23 
4.1 Raça/Cor 
4.2 Razão de Dependência 
4.3 Escolaridade 
4.4 Onde Estão as Mulheres no Mundo do Trabalho 
4.5 Gênero e Rendimentos: Renda Média e Mediana 
 
5 Bem-Estar e Pobreza, 39 
 
À Guisa de Conclusões, 42 
 
Referências Bibliográficas, 45
3 
 
Resumo 
 
Este trabalho a partir de uma breve resenha bibliográfica sobre pobreza na literatura sócio-econômica 
elabora de forma pioneira uma análise da pobreza no Brasil, com um enfoque de gênero. O estudo da 
situação de pobreza das mulheres e homens foi feito a partir dos microdados da Pesquisa Nacional de 
Amostra de Domicílios (PNAD) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para o ano de 
2001. A hipótese explorada no trabalho foi que existem fatores de gênero que incidem com maior peso 
na vida das mulheres que as tornam mais vulneráveis com a relação à pobreza. Conclui que apesar do 
progresso na redução das desigualdades de gênero ainda permanecem substanciais diferenças entre os 
sexos que além disso, é agravada pela questão racial, fazendo com que a pobreza brasileira tenha um 
rosto feminino negro. 
 
Palavras-Chave: gênero, medição da pobreza, distribuição de renda, mercado de trabalho. 
4 
 
1 - Introdução 
 
Nos últimos cinqüenta anos um dos fatos mais marcantes ocorrido na sociedade brasileira foi à 
inserção crescente das mulheres na força de trabalho. Esse contínuo crescimento da participação 
feminina é explicado por uma combinação de fatores econômicos e culturais. Primeiro, o avanço da 
industrialização transformou a estrutura produtiva, a continuidade do processo de urbanização, a 
queda das taxas de fecundidade proporcionaram um aumento das possibilidades das mulheres 
encontrarem postos de trabalho na sociedade. Segundo, a rebelião feminina do final dos anos 1960, 
nos Estados Unidos e Europa, como uma onda chegou nas nossas terras, em plenos anos de chumbo; 
apesar disso, produziu o ressurgimento do movimento feminista nacional fazendo crescer a visibilidade 
política das mulheres na sociedade brasileira. 
Este sucesso influenciou o comportamento e os valores sociais das mulheres, porque 
proporcionou alterações na formação da identidade feminina, coadjuvado pela separação entre a 
sexualidade e a reprodução, proveniente da difusão da pílula anticoncepcional. Esta redefinição dos 
papéis femininos aconteceu em todas as classes sociais e elevou a taxa de participação feminina no 
mundo do trabalho e da política. 
É preciso assinalar que esta nova mulher mantém uma interdependência entre vida familiar e 
vida do trabalho, que se fundem numa mesma dinâmica para o sexo feminino. Esta evidência remete à 
denúncia pelo movimento de mulheres da invisibilidade do trabalho feminino e as desigualdades que 
qualificam sua inserção produtiva (rendimentos inferiores, direitos previdenciários negados, obstáculos 
aos planos de ascensão a cargos e chefia). O tema da invisibilidade é sem dúvida o mais antigo das 
reivindicações feministas e refere-se, na verdade, à tentativa de uma nova interpretação do trabalho 
doméstico num debate com a Economia Política.1 
O avanço da industrialização e do seu corolário – a urbanização – separaram a mulher e sua 
família da esfera produtiva, tornando-a mera dona-de-casa. Esta uma figura criada pela sociedade 
moderna ao deslocá-la das antigas funções econômicas exercidas pelas famílias. O invisível é 
desvendado no plano simbólico quando se caracterizam os afazeres domésticos como trabalho 
complementar, acessório, de ajuda. O paradigma, da “naturalidade” da divisão sexual do trabalho, 
impõe às mulheres a responsabilidade pelo espaço doméstico, com um ônus alto pelo conjunto das 
funções reprodutivas. Mesmo o aumento de sua participação no mercado de trabalho não levou a uma 
maior distribuição das tarefas domésticas entre os membros da família, e tampouco gerou, ainda, uma 
ruptura total na estrutura patriarcal da família. 
 
1Ver sobre o assunto Melo & Serrano, 1997. 
5 
 
Ao lado das transformações ocorridas, devido à luta anônima de milhares e milhares de 
mulheres que modificaram o cotidiano feminino, essas mudanças também se refletiram no espaço 
acadêmico. Assim, nas últimas décadas rompeu-se o paradigma biológico relativo às diferenças entre 
os sexos, para analisar o tema “mulher” e um novo conceito emergiu - gênero. Segundo este, as 
diferenças que se observam nas relações entre homens e mulheres não são de origem biológica, mas de 
caráter social e cultural (Oakley, A, 1972, Soihet, R, 1997). Este enfoque conduz a uma nova 
abordagem das relações sociais assimétricas existentes entre mulheres e homens. Atribuída a 
distribuição desigual do poder entre ambos os sexos. Evidencia-se a reiterada ausência das mulheres do 
exercício do poder, tanto no setor público como no privado, e das esferas de representação política, 
onde são tomadas decisões de caráter coletivo que interferem na dinâmica social. Decisões que 
reafirmam os padrões históricos que determinam os papéis entre os sexos. 
O uso do conceito gênero trata, assim de dar conta dessa vivência diferenciada das mulheres e 
homens na vida econômica e social e particularmente como assinala os estudos recentes da CEPAL 2 
enriquece a análise do fenômeno da pobreza, porque permite entendê-lo como um processo. Desta 
forma a hipótese explorada neste estudo é de que existem fatores de gênero que incidem como maior 
ou menor peso na vida das mulheres e homens, mas que para as mulheres este fardo é mais pesado, 
pois, elas reúnem duas fragilidades: ser mulher e ser pobre. Este trabalho tem como objetivo 
dimensionar a pobreza num enfoque de gênero, reconhecendo que tanto um como o outro, são 
conceitos historicamente tratados com bastante autonomia na literatura mundial e na brasileira. Além 
do mais na literatura nacional estes conceitos em sua maioria referem-se à pobreza de forma 
assexuada, 3 desta forma, este trabalho representa uma contribuição pioneira sobre o assunto, na 
medida que trata o tema sob o prisma de gênero. 
Para cumprir seu objetivo este trabalho está estruturado da seguinte forma: primeiro faz uma 
discussão das diversas acepções de pobreza, fazendo uma síntese das diferentes metodologias 
existentes para mensurar a pobreza e expondo sua escolha pelo enfoque monetário para analisar a 
pobreza sob o prisma de gênero. Segundo discute a trajetória feminina e masculina brasileira na última 
década e faz a aplicação da linha da pobreza para avaliar a distribuição de renda no país. Para 
complementar a análise foram construídos outros indicadores sócio-econômicosque possibilitam 
apreender outros aspectos da realidade da pobreza no Brasil. 
 
 
2 Durante o ano de 2003 a Unidad Mujer y Desarrollo – Comissão Econômica para América Latina e Caribe (CEPAL) realizou diversas reuniões com 
especialistas sócio-econômicos latino-americanos para debater a questão de gênero e pobreza. As duas últimas reuniões foram em Santiago do Chile (12 e 
13 de agosto de 2003) e em La Paz (22, 23 e 24 de setembro de 2003), particularmente ver o Arriagada, Irmã & Torres, Carmen (1998). Ver também o 
livro “A questão de gênero no Brasil”, editado pelo Banco Mundial e CEPIA, 2003. 
3 Há uma vasta literatura brasileira sobre o papel feminino no mercado de trabalho e sobre os diferenciais de rendimentos, no entanto, em relacão com 
pobreza e gênero a literatura é bastante escassa. A título de exemplo, podemos observar esta lacuna, através, do exame da produção acadêmica de dois 
dos mais importantes pesquisadores do tema: Sonia Rocha e Rodolfo Hoffmann; os trabalhos de ambos tratam o tema de forma assexuada. 
6 
 
 
2 - Os significados de pobreza? 
2.1 – Um diálogo com a literatura 
O debate sobre pobreza e as tentativas de mensuração são antigas, na literatura sócio-
econômica. No século XVIII surgiram as primeiras elaborações, David Ricardo (1982, edição brasileira) 
no prefácio do seu livro Princípios de Economia Política e Tributação, publicado em 1817 afirmar que a 
principal questão da Economia Política é determinar as leis que regulam a distribuição do produto 
(renda, lucro e salários) entre proprietários de terra, de capital e trabalhadores. Mas, sobretudo com o 
avanço da estatística, ao longo do século XIX, que apareceram os primeiros estudos sobre esta questão 
(Lavinas, L.,2003 e Salama & Destremau, 1999). Estes buscavam quantificar, bem como avaliar a 
natureza dos problemas sociais engendrados pela sociedade capitalista, ao longo do seu 
desenvolvimento no século XX. Embora, seja diferente a questão da distribuição funcional da renda da 
distribuição pessoal da renda, isto é, a distribuição das pessoas conforme seu rendimento, ou a 
distribuição das famílias conforme seu rendimento familiar como privilegia a abordagem de pobreza 
quando se dispõe apenas de informações sobre a renda das pessoas (Hoffmann, 1998). Medeiros 
(2003) confirma esta visão quando afirma que os estudos atuais sobre distribuição de renda no Brasil, 
na sua maioria referem-se a uma dimensão pessoal, obtida a partir das rendas do trabalho. As outras 
dimensões, tais como, a parcela salarial no produto e sua relação com os preços relativos e as margens 
de lucro são raramente analisadas na literatura contemporânea. 
A natureza polêmica dos estudos sobre a pobreza levou as instituições internacionais a propor 
que estes trabalhos baseassem suas comparações e propostas de políticas públicas a partir da definição 
de linhas de pobreza relacionadas ao consumo e a renda. Particularmente fixaram um limiar de US$ 
1/dia por pessoa, baseado na paridade do poder de compra de 1985. Todavia, muitos estudiosos 
contestam as medidas baseadas na renda como insuficientes para explicar um fenômeno complexo 
como a pobreza. Nos anos 1990, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) 
apresentou um índice para mensurar as condições de vida nos diferentes países, este ficou conhecido 
como índice de desenvolvimento humano – IDH – divulgado pela primeira vez em 1990. 4 Este índice 
não permite mensurar a incidência da pobreza nos diferentes países e em 1997 o próprio PNUD propõe 
um novo índice sintético – índice de pobreza humana (IPH) que agrega o percentual de pessoas com 
esperança de vida inferior a 40 anos, a proporção de adultos analfabetos, mas a proporção da 
população sem acesso à água tratada e a de crianças menores de cinco anos com peso insuficiente. 
 
4 O IDH é um indicador baseado na média aritmética simples de três indicadores relativos a aspectos da condição de vida – esperança de vida ao nascer, 
educação e Produto Interno Bruto (PIB) per capita. 
7 
 
Nota-se que o debate mundial sobre a questão da pobreza cresceu na última década e foram 
desenvolvidas inúmeras formas de mensurar o problema. Há um consenso de que o acesso à saúde e à 
educação, bem como no futuro se deverá incluir também o apoderamento 5 e a participação na vida 
cidadã como elementos significantes para dimensionar a real extensão do problema na sociedade 
mundial. 
A Comissão Econômica para América Latina e o Caribe (CEPAL) tem produzido uma vasta 
literatura sobre a questão da pobreza e definiu um enfoque intermediário para fazer suas estimativas 
sobre a realidade da pobreza no continente latino-americano. Suas estimativas são feitas com base em 
cestas básicas alimentares nacionais e multiplicadas pelo coeficiente de Orshansky, para desta maneira 
obter linhas de pobreza regionais (CEPAL 2000) que permitam harmonizar hábitos nacionais com 
critérios de comparabilidade internacionais. O fortalecimento do movimento internacional de mulheres 
fez surgir uma forte produção acadêmica sobre a situação da mulher e essa inquietação refletiu-se nas 
linhas de pesquisa dos organismos internacionais. Na CEPAL não foi diferente e a criação da Unidad 
Mujer y Desarrollo provavelmente foi uma resposta a esta luta. Inserida neste contexto esta instituição 
desenvolve uma produção acadêmica abundante sobre o tema, privilegiando este enfoque, 
particularmente no ano de 2003 foram promovidos uma série de seminários para discutir pobreza sob o 
prisma de gênero e assim, contribui para a promoção de políticas públicas de combate à pobreza no 
continente. A instituição entende a pobreza como um fenômeno multidimensional, que associa 
subconsumo, desnutrição, condições precárias de vida, baixa escolaridade, inserção instável no 
mercado de trabalho e pouca participação política e social. A pobreza é o resultado de um processo 
social e econômico de exclusão social, cultural e política. 
Nos últimos anos houve uma evolução das concepções de pobreza para além da carência de 
renda, na direção de conceitos mais abrangentes tais como: desigualdade, exclusão social e 
vulnerabilidade. A desigualdade proveniente da estrutura econômica contínua sendo primeira razão 
da pobreza. Desigualdade de renda, desigualdade de acesso, desigualdade de meios, desigualdade na 
detenção de ativos. Segundo a CEPAL [2000 (a),35] na década de 1990, em cada 10 domicílios 
urbanos pobres, 7 são porque auferem rendimentos muito baixos, dois porque alguns membros estão 
desempregados e um apenas por causa da alta razão de dependência. A grande maioria da população 
pobre é assim constituída por trabalhadores mal remunerados, que ocupam postos pouco qualificados e 
carecem de um patamar constante e decente de proteção social. A insegurança no mercado de 
trabalho, a insegurança no emprego, a insegurança de renda continuam a alimentar a pobreza e a 
remodelar as formas de exclusão que geram por sua vez tensão social e desgoverno. Desta maneira, 
emergiu nos últimos vinte anos uma outra categoria analítica – exclusão – para analisar esta questão. 
 
5 Este vocábulo tenta traduzir a palavra inglesa empowerment ainda sem uma correspondência exata em português. Atualmente tem sido traduzido como 
empoderamento, no entanto esta palavra não consta dos dicionários brasileiros, por isso prefiro utilizar o verbo apoderar como sua legítima tradução. 
8 
 
Lavinas (2003) resenhando o surgimento da categoria exclusão nos anos 1970 na França 
afirma que este conceito implica em considerar aspectos subjetivos, relativos às condições de vida dosindivíduos. Os pobres não conseguem apropriar-se dos frutos do crescimento econômico e isto vai além 
dos critérios objetivos de falta de renda, de moradia e pouca escolaridade. Excluídos são rejeitados 
socialmente, sofrem perda de identidade, com falência de laços comunitários e sociais. 
A exclusão aparece menos como um estado de carência do que como uma trajetória ao longo 
da qual, a insuficiência de renda e a falta de recursos diversos somam-se às desvantagens acumuladas 
pelas pessoas no seu cotidiano miserável. São processos de rupturas, situações de desvalorização 
social, advindas da perda de status social e da redução drástica das oportunidades. Substituir o 
enfoque de pobreza pelo de exclusão é levar em consideração a vivência de insegurança, o excluído 
não controla seu futuro. Esta tem conotação negativa, significa má integração, seja pelo lado do 
sistema produtivo, seja pelo lado do padrão de consumo. A tônica da exclusão é dada pelo 
empobrecimento das relações sociais e das redes de solidariedade. 
A vulnerabilidade por sua vez permite mostrar como determinados processos sociais 
conduzem a um evento potencialmente adverso, uma incapacidade de resposta e uma inadequada 
adaptação das pessoas para a nova situação. Por exemplo, a perda do emprego pode acarretar para 
uma pessoa ou família em uma perda de status ou a vivenciar uma situação de carências, desde a 
alimentar até a cultural. A noção de vulnerabilidade é particularmente útil porque exprime várias 
situações: identificar grupos que estão em situação de risco social, grupos que devido a padrões 
comuns de conduta tem probabilidade de sofrer algum evento danoso, identifica grupos que 
compartilham algum atributo comum e por isso são mais propensos a problemas similares. Assim, a 
análise social difundiu o uso deste conceito na literatura que trata do problema da pobreza, devido a 
que a medição de linhas de pobreza proporciona uma visão estática do fenômeno, quando no fundo 
este é dinâmico; uma família devido ao desemprego teve seus rendimentos drasticamente afetados e se 
encontra em condições de vulnerabilidade ante a pobreza. 
Observa-se, desta forma que toda esta efervescência intelectual no debate da questão da 
pobreza tem produzido uma vasta literatura internacional sobre seu significado que incorpora outras 
dimensões, que vão além da definição do fenômeno e dos métodos de avaliação da extensão do 
problema. Como renda e consumo são variáveis cuja medição é problemática Salama & Destremau 
(1999,18) colocam que a pobreza é ao mesmo tempo, um fato e um sentimento. Com esta afirmação 
os autores querem alertar que reduzir a pobreza aos seus aspectos monetários ou à percepção de 
exclusão da cidadania, isto é, seja considerar um ou outro aspecto, é uma forma reducionista de 
analisar o problema. Isto é, medir pobreza sublinhando a falta de recursos que mulheres e homens têm 
para atender suas necessidades básicas e quais são as implicações desta mensuração; quaisquer dos 
métodos usados apresentam problemas para o desenho das políticas públicas, porque a taxa de 
9 
 
participação dos pobres na sociedade é profundamente afetada pela escolha dos parâmetros de 
mensuração. 
O mais difundido método para relacionar pobreza e gênero tem sido o indicador das mulheres 
chefes de família; este é habitualmente utilizado como medida da feminilização da pobreza. Uma das 
razões para essa associação relaciona-se aos menores rendimentos femininos no mercado de trabalho: 
assim, as famílias chefiadas por mulheres deveriam ser as mais pobres entre os mais pobres. 
Atualmente, este conceito tem sofrido críticas que vão dos aspectos sociais relativos a que estas 
famílias incorporam um universo muito variado de situações familiares, ou que esta categoria é muito 
heterogênea. Pois, individualmente estas famílias percebem rendimentos inferiores, mas na década de 
1990 houve um aumento proporcional das famílias chefiadas por mulheres entre os pobres e os não 
pobres. Todavia, as famílias chefiadas por mulheres ainda continuam sendo uma proxy da pobreza das 
mulheres, embora não haja evidências para todos os tipos de situação. Nas discussões feitas pela 
CEPAL no ano de 2003 algumas mudanças foram propostas para esta categoria, tais como, desagregar 
a chefia por famílias, tamanho e grupos etários. 
Esta discussão da pobreza sob o prisma de gênero levanta questões específicas da vida das 
mulheres, que os dados estatísticos nem sempre revelam ou mesmo ocultam como o trabalho não 
remunerado.6 Este constitui um conceito central na lógica feminista para analisar a pobreza numa 
perspectiva de gênero. É óbvio que este não responde ao enfoque monetário, mas sua realização 
permite reproduzir a vida e desta forma o movimento de mulheres internacional tem tentado colocar 
sua medição na agenda política mundial. A questão se refere à forma de imputar valor monetário aos 
afazeres domésticos e incorporar esta mensuração aos valores das Contas Nacionais de cada país. É 
fundamental fazer esta imputação porque isso desvenda a importância do trabalho doméstico no 
cuidado do domicílio e das crianças, idosos e enfermos que são majoritariamente realizados pelas 
mulheres. A questão é que estas atividades não são intermediadas pelo dinheiro, seu locus é fora do 
circuito mercantil, portanto, este é um trabalho invisível e as pessoas que se ocupam destas tarefas são 
desvalorizadas socialmente. Ora, estas são atribuições do sexo feminino no seu papel tradicional e 
como o dia tem 24 horas, as longas jornadas de trabalho das mulheres tendem a ser menos intensas no 
mercado de trabalho, comparativamente àquelas realizadas pelos homens. Essa constatação é usada 
para explicar os diferenciais de rendimentos entre os sexos. Uma pesquisa recente de Deddeca (2004) 
mostra que 50% dos homens ocupados no Brasil, em média realizam afazeres domésticos, enquanto 
90% das mulheres na mesma situação os fazem. As mulheres gastam nestas tarefas, em média 25 
horas semanais, enquanto os homens destinam 10 horas. Há, portanto uma diferença substantiva entre 
os sexos. Todavia, as mulheres não são iguais na realização destas tarefas. A intensidade deste 
 
6 A Unidad Mujer y Desarrolo da CEPAL faz um esforço para definir alguns indicadores que permitam responder a esta questão. 
10 
 
trabalho é maior entre as mulheres de menores rendimentos, conclui o citado estudo. Analisar estes 
aspectos do trabalho feminino é importante para o estudo da pobreza, porque nas famílias pobres e 
indigentes sua realização implica em mais trabalho e sofrimento para as mulheres. 7 
Um outro aspecto relevante para esta análise se refere à ocupação sem remuneração que vai 
além do trabalho para auto-consumo e engloba o exercício de atividades produtivas no âmbito familiar 
ou não, mas cuja característica são que as pessoas que as realizam não recebem remuneração. A 
proporção de mulheres ocupadas sem remuneração é superior a dos homens em todos os setores 
econômicos e sobretudo, na agropecuária esse fenômeno se manifesta de forma mais aguda. Portanto, 
devemos ressaltar esse aspecto dessa questão devido ao peso que o problema da ocupação sem 
remuneração tem para a discussão da pobreza e sua prevalência no âmbito das atividades rurais, mas 
infelizmente este aspecto não será tratado nesta pesquisa (Melo & Sabbato, 2000). 
 
2.2 – Uma proposta de linha de pobreza 
Devido às limitações das fontes de dados este estudo privilegia o enfoque monetário como 
método de cálculo para identificação de quem é pobre; este método tem como base um indicador 
fixado arbitrariamente, sejam as pessoas com renda per capita inferior a meio salário mínimo, seja esta 
renda 2/3 da renda medianadisponível, o que importa é que este parâmetro define o público-alvo dos 
programas assistenciais. Portanto, a metodologia empregada apóia-se na elaboração de linhas de 
pobreza que separa os pobres dos não pobres, baseado no critério renda. Utilizar somente a renda 
implica em assumir que se pode estar cometendo deliberadamente um erro. Primeiro, porque as 
pessoas pobres têm renda errática, segundo como as pesquisas domiciliares são auto-declaratórias, há 
seguramente uma subestimação das rendas pessoais, sobretudo das rendas mais elevadas 
(Lluch,1982), terceiro as transferências governamentais como vale transporte e ticket refeição são 
provavelmente subdeclaradas ou omitidas. Nota-se que há inúmeras restrições ao uso da variável 
renda, como instrumento para medir o bem-estar da sociedade, mas este corte analítico é muito 
difundido para este tipo de estudo, devido a que os demais métodos 8 são dispendiosos e as 
informações são precárias para sua realização, sobretudo devido às dificuldades de mensuração do 
patrimônio das pessoas e estratégias de sobrevivência. 
Com este quadro teórico este trabalho elabora indicadores de rendimentos cruzados com as 
variáveis de sexo, idade, escolaridade, posição na família, setores da atividade para analisar a pobreza 
de mulheres e homens brasileiros e assim contribui para a gestão de políticas públicas anti pobreza 
num viés de gênero. Sabe-se que o desenho das políticas públicas anti pobreza tem três desafios: (a) – 
 
7 Este aspecto não foi analisado neste trabalho. 
11 
 
impedir que as pessoas morram de fome; (b) - possibilitar oportunidades para que os pobres saiam da 
pobreza, seja via programas de geração de renda, microcrédito e/ou desenvolvimento sustentado local, 
tais como a agricultura familiar; (c) – Impedir através de uma política social que se caia na pobreza, 
seja via pensões, seguro-desemprego. 
 Reconhecendo a importância destes desafios, este trabalho traça um perfil da pobreza 
brasileira, distinguindo na população total, as mulheres e homens, que de acordo com sua renda são 
pobres ou indigentes. O ponto de partida é o critério de renda, especificamente a renda familiar. 
Entende-se que a família é uma unidade de consumo e de rendimento. Nesta pesquisa se usa os 
múltiplos do salário mínimo, como os valores de definição para a população pobre.9 A base de dados 
utilizada é os microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do Instituto 
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), para o ano de 2001. Também foram usados dados 
censitários produzidos pelo referido instituto para discutir as questões de gênero. A PNAD é uma 
pesquisa amostral anual, tendo como referência a situação da população em 30 de setembro de cada 
ano, exceto os anos em que são realizados o Censo Demográfico. Cobre todo o território nacional, com 
exceção das áreas rurais de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará e Amapá, entrevista 100.000 
domicílios. 
 
Metodologia para a construção de linha de pobreza e indigência: esta questão está intimamente 
associada com a distribuição pessoal da renda conforme seu rendimento, ou a distribuição das famílias 
conforme seu rendimento familiar, usando os seguintes dados: 
 
Número de Pessoas: É o número total de pessoas. 
 
Família: Esta é definida pela metodologia do IBGE, fazem parte da família a pessoa de referência 
(denominado anteriormente como: chefe de família), o seu cônjuge, os filhos, outros parentes, e aqui 
também se considerou na família os agregados. Estão excluídos da família moradores de pensão, 
empregado doméstico ou parente do empregado doméstico. 
 
Número de Famílias: O número total de famílias foi calculado a partir da contagem das pessoas de 
referência na situação familiar. Toda família tem uma, e somente uma, pessoa de referência, 
necessariamente. Para o órgão de estatística nacional (IBGE) o número de família não se confunde com 
o de domicílio (hogar), neste pode coabitar mais de uma família (IBGE, 1998). 
 
8 A pesquisa “Padrões de Orçamentos Familiares – POF” do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) faz uma análise do consumo dos 
brasileiros, foi a campo em 1997. No dia 5 de janeiro de 2004 foram divulgados resultados preliminares da POF para o biênio 2002/2003. 
12 
 
 
Renda Familiar Per Capita: Foi calculada a partir da soma dos rendimentos mensais dos componentes 
da família, exclusive daquelas pessoas cuja condição na família fosse morador de pensão, empregado 
doméstico ou parente do empregado doméstico, este somatório foi dividido pelo número de 
componentes da família. 
 
Famílias Pobres e Indigentes: Foram consideradas como famílias pobres aquelas com renda familiar 
per capita menor ou igual a metade do salário mínimo vigente no mês de referência, setembro de 
2001, que era de R$ 180,00 (cento e oitenta reais) e acima de um quarto do salário mínimo vigente no 
mês de referência: R$ 45,00 (quarenta e cinco reais). E famílias indigentes aquelas com renda familiar 
per capita menor ou igual a um quarto do salário mínimo vigente no mês de referência. Ou seja, 
auferiam R$ 45,00 (quarenta e cinco reais) ou menos. É interessante notar que da maneira como foram 
construídas as variáveis, o conjunto das famílias pobres e indigentes não possui intercessão. Em 
complemento a estes conjuntos, foram criados mais dois grupos para que o total contemplasse todos 
os tipos de famílias: famílias não pobres e não indigentes, esta é composta pelas famílias com renda 
familiar per capita superior a R$ 90,00 (noventa reais) no mês de referência, isto é, setembro de 2001; 
e os não classificados foram aquelas famílias sem declaração de renda familiar per capita. 
 
Renda Média de Todas as Fontes de Trabalho: Foi calculada para os chefes de família a partir do 
somatório de todos os rendimentos provenientes do trabalho, seja ele principal ou secundário de todos 
os chefes de família e divido pelo total de chefes de família. 
A pobreza no Brasil tem uma dimensão importante, se estima que são 49 milhões as pessoas 
que vivem na pobreza e na indigência, o que equivale a 29% da população nacional (PNAD/IBGE, 
2001). No Brasil, há diversos estudos e metodologias para estimar o tamanho da pobreza no país. Os 
dados estatísticos publicados pelo governo Fernando Henrique (1995/2002) mostram que após uma 
redução dos níveis de pobreza e indigência 10 entre 1993/95, houve uma estabilidade entre 1996/98 e 
ligeiro crescimento a partir de 1999. Um estudo relevante foi feito por Monteiro (1995) a partir de 
informações vinculadas à área de saúde. Calculando o Índice de Massa Corporal (IMC), 11 este autor 
concluiu que no Brasil há uma prevalência de deficit energético leve, pois encontrou 4,9% da 
população (com 25 anos ou mais) brasileira abaixo do valor limite (18,5 kg/m). A taxa de participação 
 
9 Salama & Destremau (1999, 19) sublinham as vantagens do uso da metade do salário nédio ou 40%, 60% deste, o aspecto relativo da pobreza fica 
enfatizado e utiliza a distribuição dos salários para definir pobreza. 
10 Esta linha foi estabelecida pelo cálculo de uma renda necessária para adquirir o valor de uma cesta de alimentos (Programa Fome Zero, 2001). 
11 Este índice avaliar a incidência de fome da população, entendida como falta de ingestão calórica (quantitativa). Calcula-se o IMC dividindo-se opeso de 
uma pessoa pelo quadrado de sua altura. O valor limite é 18,5 kg/m , é medido apenas para os adultos acima de 24 anos. Para a Organização Mundial da 
Saúde é normal que haja em um país, cerca de 3 a 5% de pessoas com IMC menor que 18,5 kg (Monteiro, 1995). 
13 
 
da população rural com deficit energético foi praticamente o dobro da encontrada para a população 
urbana. 
A maioria dos estudos nacionais define pobreza como uma situação na qual as necessidades 
não são atendidas, depende basicamente do padrão de vida e da forma como estas diferentes carências 
podem ser satisfeitas num contexto socioeconômico, estuda principalmente a renda como variável 
básica na discussão da pobreza, fugindo da associação de pobreza à fome. O Programa Fome Zero do 
governo federal, o Instituto de Pesquisas Econômicas e Aplicadas (IPEA) do Ministério do Planejamento 
estimam pobres e indigentes a partir dos dados de renda e a pesquisadora Rocha (2003) também. 
Indigentes e pobres são aqueles cuja renda familiar per capita é insuficiente para aquisição de uma 
alimentação adequada, mas eles não são necessariamente subnutridos. Desta forma a autora conclui 
que a utilizar a linha de pobreza e de indigência para delimitar a população que passa fome significa, 
felizmente, superestimar o tamanho da pobreza (Rocha, 2003, 174). Aliando o parâmetro monetário 
vinculado ao custo do atendimento das necessidades básicas e os aspectos da condição de vida, estes 
vinculadas à moradia, acesso a serviços públicos para qualificação da população que se situa abaixo da 
linha de pobreza, isto é, pobre do ponto de vista da renda. Com relação a esta abordagem há um certo 
consenso nos estudos brasileiros quanto à análise do problema da pobreza e este trabalho segue este 
fio condutor. 
 
14 
 
3. A pobreza numa perspectiva de gênero 
3.1 - Mulheres e Homens na Sociedade Brasileira: uma síntese 
Na perspectiva cepalina pobreza e exclusão são fenômenos que atingem de forma diferenciada 
os sexos. Para as mulheres esta realidade de carências é mais aguda, uma vez que elas realizam uma 
gama enorme de atividades não remuneradas, seja no âmbito mercantil, seja no seio da família, pela 
dedicação às atividades do lar que as fazem serem majoritariamente dependentes da provisão 
masculina para o sustento de suas famílias. Como dentro das famílias há um intenso processo de 
redistribuição de renda e como há uma variação das necessidades de consumo com a idade das 
pessoas e as “economias de escala” nas despesas familiares que penalizam as mulheres, responsáveis 
pelo bem-estar familiar. 
No mercado de trabalho, apesar da diminuição da desigualdade de gênero acontecida na 
década de 1990, não foram superados os obstáculos de acesso a cargos de chefia, bem como 
permanecem ainda diferenciais de rendimentos entre os dois sexos. Há uma nítida relação entre a 
divisão do trabalho e a pobreza das mulheres; a inserção feminina aconteceu em paralelo com o 
crescimento das atividades informais, das atividades sem remuneração e aumento das taxas de 
desemprego. Assim, as mulheres continuam ainda concentradas em segmentos menos organizados da 
atividade econômica, são mais submetidas a contratos informais e tem menor presença sindical e desta 
maneira encontram-se mais expostas ao desemprego (Melo & Barros, 2000). Para melhor vislumbrar o 
problema da pobreza, este trabalho primeiro faz uma síntese das transformações do papel feminino na 
sociedade brasileira na última década e em seguida analisa a distribuição por gênero das famílias, seu 
perfil e os rendimentos dos seus membros na ótica da linha de pobreza. 
Para ilustrar as transformações em curso no papel feminino vamos fazer uma breve síntese da 
sociedade brasileira nos anos 1990. Um dos fatos mais notáveis foi o enorme crescimento da 
escolaridade feminina e o aumento da sua esperança de vida, como mostram as tabelas 1 e 2. Os 
efeitos das práticas anticonceptivas difundidas nas últimas décadas expressam-se na baixa taxa de 
crescimento da população residente brasileira, que caiu para 1,63% ao ano, sendo que na região Norte 
e Nordeste ainda apresentam taxas de fecundidade mais altas que a média nacional. Na realidade as 
diferenças entre as taxas de fecundidade refletem a escolaridade feminina e representam um indicador 
de desigualdade social: as mulheres com menos de quatro anos de estudos têm uma taxa de 
fecundidade de 3,2 contra 1,6 das mais educadas (IBGE, 2003, 26). Quanto à esperança de vida esta 
cresceu cerca de três anos para ambos os sexos, mas as mulheres vivem quase oito anos a mais do que 
os homens como mostra a tabela 2, isto explica a sobre-presença de mulheres no país. 
 
15 
 
Tabela 1 – População residente segundo o sexo – Brasil – 1991/2000 
 
Ano Total Homens Mulheres 
1991 146.825.475 72.485.12
2 
74.340.35
3 
2000 169.799.170 83.576.01
5 
86.223.15
5 
Fonte: IBGE, Censos Demográficos de 1991 e 2000. 
 
Tabela 2 – Esperança de vida ao nascer (em anos) segundo o sexo – Brasil – 1991/2000 
 
Ano Total Homens Mulheres 
1991 66,0 62,6 69,8 
2000 68,6 64,8 72,6 
Fonte: IBGE, Censos Demográficos, 1991 e 2000. 
 
Tabela 3 – Taxa de alfabetização e de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais de Idade, 
segundo o sexo – Brasil – 1991/2000 
 
Ano Total Homens Mulheres 
Taxa de alfabetização % 
1991 79,93 80,15 79,72
2000 86,37 86,23 86,50
Taxa de analfabetismo % 
1991 20,07 19,85 20,28
2000 13,63 13,77 13,50
Fonte: IBGE, Censos Demográficos, 1991 e 2000. 
 
Com relação ao aumento da escolaridade feminina, sabemos que esta foi uma conquista das 
mulheres. Ao longo de todo o século XX, estas se empenharam para ter acesso às escolas e 
universidades nacionais. Assim, na última década do século vinte observamos a redução significativa do 
analfabetismo feminino, embora ainda em 1991, a participação relativa de mulheres analfabetas com 
mais de 15 anos fosse maior do que o de homens, como mostra a tabela 3. Na verdade, a sociedade 
brasileira fez um grande esforço conjunto para vencer o analfabetismo, de modo a que, entre 1991 e 
2000, a taxa de analfabetismo na população brasileira passasse de 20,07% para 13,63%, chegando as 
mulheres a uma posição um pouco melhor que a masculina. 
 
16 
 
No plano macroeconômico, na década de 1990 a economia brasileira alternou períodos curtos 
de expansão com retração, sendo que, de 1991 a 2001, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu a uma 
taxa média de 2,7% ao ano. Além do baixo crescimento da economia, a década foi marcada pela 
abertura do mercado doméstico ao comércio internacional, e pela implantação de políticas de controle 
da inflação. Em 1991, o PIB per capita passou para US$ 2.574 e, em 2000, para US$ 2.916. Olhando 
para a população feminina, os anos 1990 representaram um significativo aumento da participação das 
mulheres no mercado de trabalho, que saíram de uma taxa de participação de 32,5%, em 1991, para 
40%, em 2000. Assim, o PIB per capita feminino, em 1991, foi de US$ 1.362 e passou para US$ 
1.731, em 2000 (tabela 4), apresentando um crescimento, no período, de 27%, enquanto que o 
masculino cresceu 8,59%.12 É certo que houve uma melhora dos rendimentos femininos, mas eles 
ainda estão muito aquém dos masculinos (ver nota 12), o que significa que as mulheres continuam sendo 
mais pobres que os homens. 
 
Tabela 4 – PIB per capita (em dólares) – Brasil – 1991/2000 
 
Ano PIB per capita – População 
total 
PIB per capita – População 
feminina 
1991 2.574 1.362 
2000 2.916 1.731 
Fonte: Censos Demográficos, 1991 e 2000 e IPEAData. Obs.: Série deflacionada pelo deflator implícito do 
PIB nominal, taxa de câmbio R$/US$ comercial venda médiade 2001. 
 
O quadro econômico traçado acima permite concluir que as mulheres vivem mais e são bem 
mais pobres que os homens. No entanto, a estruturação do mercado de trabalho mudou a sua 
condição de atividade: a taxa de atividade feminina passou de uma média em torno de 20% da 
população economicamente ativa (PEA) entre os anos de 1920 a 1960 para 40% em 2000 (Censos 
Demográficos/IBGE), considerando apenas a taxa de participação feminina no Brasil metropolitano, 
esta passou de 43,3%, em 1994 para 43,9% em 2001 (IBGE/PME). Este crescimento da taxa de 
atividade feminina deve ser interpretado como resultante da queda da fecundidade, da expansão da 
escolaridade, aumento do número de famílias chefiadas por mulheres e mudanças nos valores relativos 
ao papel social feminino, nesta década, cada vez mais voltado ao trabalho fora de casa. 
 
Esse aumento das mulheres trabalhadoras no mercado de trabalho não superou os obstáculos 
de acesso a cargos de chefia e diferenças salariais; estes, embora tenham diminuído nos anos 1990, 
 
12 O PIB per capita masculino teve os seguintes valores: 1991, US$ 3.806 e 2000, US$ 4.133. A fórmula para o cálculo do PIB per capita feminino foi 
baseada na metodologia da ONU para o cálculo do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). 
17 
 
ainda permanecem e simplesmente significam que as mulheres aceitaram postos de trabalhos 
miseráveis, para sobreviver com sua família, já que as taxas de desemprego feminino são 
significativamente maiores do que da população masculina. As trabalhadoras brasileiras concentram-se 
nas atividades do setor serviço; 80% delas estão ocupadas como professoras, serviços de saúde, 
comerciarias, cabeleireiras, manicures, funcionárias públicas, mas o contingente feminino mais 
importante está concentrado no serviço doméstico remunerado, primeira ocupação das mulheres 
brasileiras. São negras cerca de 56% das domésticas e usufruem ainda os menores rendimentos da 
sociedade (Melo, 1998). 
 
Todavia, há uma notícia alvissareira, pois estudos recentes (Lavinas, 2001 e Barros, 2003) 
mostram que houve uma diminuição dos diferenciais de rendimento por gênero e que a inserção das 
mulheres no mercado de trabalho foi acompanhada de ganhos de rendimentos mais elevados para a 
parcela feminina ocupada. Para comprovar esta afirmação Barros (2003) estimou o Índice de Gini para 
todas as categorias sócio-ocupacionais, cujos trabalhadores obtiveram rendimento; desagregando estes 
dados por sexo o cálculo revelou que em 2001 houve uma melhora na distribuição de renda das 
mulheres ocupadas e que diminuiu a desigualdade entre as mulheres, sendo um pouco menor que 
entre os homens. Os valores estimados por Barros para o índice de Gini feminino foram de 0,540 
(1992) para 0,532 (2001) e para o masculino 0,532 (1992) e 0,537 (2001), enquanto que a 
desigualdade para toda a população aumentou na década de 0,549 para 0,554 respectivamente. 
 
Por outro lado, as mulheres brasileiras vivem uma transformação no âmbito da família, nesta 
ainda predomina a chefia masculina, mas dos domicílios com a tradicional dona-de-casa, surgem novas 
famílias cuja pessoa de referência, agora, são mulheres. Vejamos os dados: segundo o Censo 
Demográfico de 2000, havia no Brasil um contingente de 86.223.155 mulheres (tabela 1); destas, 
69.994.104 acima de dez anos de idade (tabela 5). As condições de atividades destas mulheres eram 
as seguintes: 44% delas pertenciam à população economicamente ativa e 56% não eram 
economicamente ativas. Da população inativa feminina, separando as meninas moças de dez a 
dezenove anos de idade (45%), que provavelmente são estudantes na sua maioria, os 55% restantes 
destas mulheres são com certeza donas-de-casa (casadas, viúvas, divorciadas) e aposentadas. As 
donas-de-casa, com exceção das proprietárias de bens, vivem dos rendimentos do marido, pensões ou 
são sustentadas pelos filhos. Portanto, seu bem-estar é determinado por transferências de rendas de 
outros membros da família, o que as coloca em situação de relativa penúria. 
 
18 
 
Tabela 5 – Brasil, pessoas de 10 anos ou mais de idade, por sexo e condições de atividade, 
2000. 
 
Condições de Atividade Sexo 
Mulheres 69.994.104 100%Total 
Homens 66.433.106 100%
Mulheres 30.530.361 44%Economicamente Ativa 
Homens 45.628.169 70%
Mulheres 38.767.586 56%Não Economicamente Ativa 
 Homens 20.120.108 30%
Fonte: IBGE/Censo Demográfico, 2000. 
 
3.2 - Sozinhas e Pobres ? 13 
As transformações no papel da família que engendraram estas novas formas de organização 
doméstica foram desde a redução do tamanho da família até o crescimento da proporção de famílias, 
cujas pessoas responsáveis são mulheres. Para comprovar tem-se que em 2000, havia 11.160.635 de 
mulheres responsáveis por domicílios no Brasil; isto corresponde a uma taxa de participação de 12,9%, 
num total de 44.795.101 domicílios. Portanto, 24,9% destes tinham mulheres como responsáveis 
(tabela 6). Esta feminilização é um fenômeno tipicamente urbano, pois 91,4% destes domicílios estão 
localizados nas cidades, sobretudo nos estados e capitais das Regiões Nordeste e Sudeste. É um 
fenômeno urbano. A zona rural permanece ainda mantendo a família tradicional e apenas 8,6% dos 
domicílios rurais são chefiados por mulheres. Apesar da distribuição regional refletir a distribuição 
geográfica da população, o caso nordestino deve ser considerado, porque nesta região se concentra a 
maior taxa de domicílios (25,9%) com responsáveis mulheres. Esta solidão é em parte explicada pela 
intensidade da migração nordestina masculina, aliada as mudanças culturais que exarcebaram o 
fenômeno. Em contraste, tem-se o tradicional domicílio com responsável masculino, este tem uma 
distribuição urbano-rural menos desigual. 
 
Tabela 6 – Brasil, Pessoas responsáveis pelos domicílios, por sexo, 2000 
 
Total Homens Mulheres 
44.795.101 33.634.466 11.160.635 
Fonte: IBGE/Censo Demográfico, 2000. 
 
19 
 
Trabalhadoras ou donas-de-casa estas mulheres responsáveis por domicílios são mais velhas: 
um terço delas tem mais de 60 anos, isto é, 53,3% dos domicílios sob responsabilidade feminina são 
predominantemente chefiados por viúvas. Na faixa etária de 30 a 50 anos são mulheres separadas ou 
divorciadas, pois são nestas faixas etárias que acontecem a maioria das dissoluções dos casamentos. 
No entanto, há um número expressivo de lares comandados por mulheres jovens, mães solteiras, 
principalmente nas periferias das grandes cidades, estas mulheres são a principal clientela dos 
programas de combate à pobreza. É preciso chamar atenção para o grupo etário feminino de 15 a 19 
anos que tem uma taxa de participação expressiva em relação aos outros grupos etários do conjunto 
das mulheres responsáveis por domicílios, são 27,4% que vivem nas área mais carentes das periferias 
urbanas de todo o país (IBGE, 2002, 17). 
 
 Destes domicílios comandados por mulheres, em 68,6% deles há filhos, mas estes são mais 
velhos do que aqueles em domicílios de responsabilidade masculina. Todavia, isto não pode velar o fato 
de que em 2000, no conjunto das crianças brasileiras de zero a seis anos de idade, 18% viviam em 
domicílios cujos responsáveis eram mulheres. Esta proporção é bem superior no Distrito Federal e nas 
cidades de Salvador, Recife e Belém; esses em geral são domicílios mais pobres, pois em 60% deles o 
rendimento médio não ultrapassa a dois salários mínimos. 
 
Isto é importante, porque os dados dos censos anteriores comprovam que há um peso 
importante dos rendimentos do responsável pela família (70%) no orçamento familiar. Como no caso 
dos domicílios cujos responsáveis são mulheres,estas na sua maioria não têm cônjuge, é provável que 
esta percentagem seja maior (ver as tabelas seguintes). O Censo Demográfico de 2000 mostra que o 
rendimento médio das mulheres responsáveis pelo domicílio corresponde a 3,9 salários mínimos (Preços 
de 2000) e o rendimento mediano não ultrapassava a 1,8 salário mínimo. Comparando esta situação 
com a masculina observa-se que as mulheres auferem 71,5% do valor do rendimento dos homens; esta 
situação melhorou na década, porque em 1991 esta diferença era um pouco maior: cerca de 63,1%. 
 
No universo dos domicílios cujos responsáveis são mulheres há 1.995.138 habitados por 
apenas um morador (unipessoais), correspondendo a 17,9% do total. Esta situação é muito diferente 
dos domicílios unipessoais masculinos, que são apenas 6,2% do total. Como as mulheres vivem mais e 
são habituadas a realizarem tarefas domésticas, ficar sozinha não as amedronta, seja pela viuvez, 
separação ou abandono. 
 
 
13 Informações baseadas na publicação “Perfil das Mulheres Responsáveis pelos Domicílios no Brasil, 2000”, Rio de Janeiro, IBGE, 2002. 
20 
 
3.3 – Um retrato da pobreza no Brasil: 2001 
 
De forma ainda preliminar, no Brasil em 2001, havia um pouco mais de 50 milhões de famílias 
no Brasil e o número médio de pessoas destas foi de 3,34 pessoas. Este número demonstra uma queda 
na taxa de fecundidade da população brasileira, que objetivamente reduziu o número de componentes 
do núcleo familiar. No ano de 1980, o número médio de pessoas neste núcleo era de 4,5 pessoas 
(IBGE, 2002); nota-se que em vinte anos há uma transição demográfica em curso no país, também se 
observa um ligeiro crescimento da taxa de participação feminina na população total (tabela 7). A 
distribuição da população segundo a raça/cor e sexo mostra a seguinte distribuição: 53% branca, 46% 
negra (preto e parda) 14 e são asiáticos e indígenas o restante. A população feminina é maioria, mas 
não para as mulheres pretas, estas são um contingente menor que o masculino (tabela 8). Embora, as 
pesquisas ainda sejam insuficientes, este deficit de mulheres pretas provavelmente indica uma 
mortalidade precoce destas e o pequeno superávit de mulheres pardas confirma essa hipótese.15 
 
Tabela 7 - Brasil – 2001 
Número de famílias 50.465.099
Número de pessoas 169.369.557
Número médio de pessoas na família 3,34
Distribuição das Pessoas por Sexo 
 Absoluto % 
Masculino 82.456.030 48,68% 
Feminino 86.913.527 51,32% 
Total de Pessoas 169.369.557 100,00% 
Fonte: PNAD/IBGE, 2001, Tabulações Especiais Melo & Nicoll, 2003. 
 
Tabela 8 – BRASIL – 2001, segundo sexo e raça 
Raça/Cor Masculino Feminino Total 
Branca 43.151.613 47.246.668 90.398.281
Preta 4.832.390 4.720.758 9.553.148
Parda 33.962.097 34.431.333 68.393.430
Outras 501.197 501.902 1.003.099
Ignorado 8.733 12.866 21.599
 
14 Neste trabalho a raça/cor negra refere-se a população preta e parda. 
15 Em depoimento, numa audiência pública da Secretaria Especial de Políticas Para as Mulheres com o Ministro da Previdência e da Seguridade Social, em 
agosto de 2003, uma liderança do movimento de mulheres negras fez essa denuncia, de que as negras não chegavam a se aposentar devido à morte 
precoce. 
21 
 
Total 82.456.030 86.913.527 169.369.557
Fonte: PNAD/IBGE, 2001, Tabulações Especiais Melo & Nicoll , 2003. 
 
Tabela 9 - BRASIL - 2001 Distribuição da População segundo Regiões e Raça 
 Branca Preta Parda Outras Total 
Norte 1,6% 0,2% 3,9% 0,02% 5,7%
Nordes
te 
8,4% 1,7% 18,4% 0,1% 28,6%
Sudest
e 
27,6% 2,9% 12,6% 0,3% 43,5%
Sul 12,7% 0,5% 1,8% 0,1% 15,1%
Centro
-Oeste 
3,1% 0,3% 3,6% 0,1% 7,0%
Total 90.398.28
1 
9.553.14
8 
68.393.43
0
1.003.09
9
169.347.9
58
Fonte: PNAD/IBGE, 2001, Tabulações Especiais Melo & Nicoll , 2003. 
 
A tabela 9 mostra a distribuição racial da população brasileira pelas diversas regiões do país, 
constata-se que no Nordeste há um maior peso da população negra, pois cerca de 70% desta são 
pretos e pardos. O Sul é branco com 84% da sua população de descendência européia e o Sudeste 
apresenta a distribuição racial reversa da encontrada para o Nordeste. Vejam, a taxa de participação 
dos brancos é de 63% e a dos pretos e pardos de 36%, o que mostra o peso da imigração européia no 
Sudeste, em detrimento do forte afluxo dos nordestinos nos anos 1940/60 para região. Estes dados são 
interessantes, por que mostram que a concentração da pobreza segue de perto a concentração da 
população negra, embora o estado de Santa Catarina (Sul) tem a menor proporção de brancos pobres 
do país, mas tem uma proporção de negros pobres duas vezes maior (Rede Feminista de Saúde, Dossiê, 
2003, 9), isso significa que a pobreza tem cor, estas questões ficam explícitas nos demais itens do 
trabalho. 
 
A tabela 10 mostra a distribuição dos membros da família, desagregada por sexo, apesar desta 
tabela ser uma fotografia para o ano de 2001, pode-se afirmar que houve uma mudança nos padrões 
de organização da família brasileira com o aumento relativo das famílias cujas pessoas de referência 
são mulheres. Esta classificação substituiu a antiga nomenclatura “chefe de família” que representava 
uma compreensão tradicional dos papéis socialmente reservados aos homens e mulheres na sociedade 
conjugal. Nota-se que as mulheres são a referência do domicílio em cerca de 16 % das famílias 
22 
 
brasileiras, mas 78% permanecem nos papéis de cônjuges e filhas, enquanto estes papéis são exercidos 
por 50% dos homens. 16 
 
Tabela 10 - Brasil – 2001 
Distribuição das Pessoas por Situação na Família e Sexo 
 Masculino Feminino Total 
Pessoa de 
referência (Chefe) 
44% 16% 30%
Cônjuge 1% 38% 20%
Filho 48% 40% 44%
Outro parente 5% 6% 6%
Outra situação 0,5% 1% 1%
Total de Pessoas 82.456.030 86.913.527 169.369.55
7
Fonte: PNAD/IBGE, 2001, Tabulações Especiais Melo & Nicoll , 2003. 
 
 
 
16 A figura do empregado doméstico refere-se aqueles trabalhadores que não possuem um domicílio próprio, mesmo que fosse para passar o domingo e 
feriados. Isto é, dividem o domicílio do patrão. 
23 
 
4. - Gênero e perfil da pobreza 
 
Explicitada a realidade sócio-econômica brasileira fez-se o corte da linha de pobreza e 
indigência, segundo a metodologia definida acima, os resultados aparecem nas tabelas abaixo. 
Queremos chamar atenção para os problemas que o estabelecimento destas linhas acarretam. O 
primeiro, refere-se a que os dados usados para fazer a separação foi a variável renda, portanto, só 
foram considerados os rendimentos monetários. Todavia, há outras formas de sobrevivência que os 
dados não captam, tais como, redes de solidariedade familiares/comunitárias e bens patrimoniais. 
Desta forma, os números apresentados neste trabalho provavelmente superestimam a pobreza 
brasileira. Por este corte - variável renda, é imenso o problema da pobreza na sociedade brasileira. 
Vejam: 29% das pessoas no Brasil de 2001 vivem situação de miséria e pobreza, isso representa 23% 
das famílias brasileiras na penúria (tabela 11). 
 
Acreditando que talvez haja uma certa superestima neste número, sabemos que perambulando 
pelas grandes metrópoles brasileiras e interior do Nordeste somos esmagados pela presença da 
pobreza, mas o que questionamos é o tamanho dela que estes números expressam. Que ela existe, 
existe, mas a sua real dimensão talvez não seja exatamente esta.De concreto temos estes números 
explicitados abaixo, constata-se que as famílias pobres e indigentes sejam menos numerosas do que as 
não pobres (tabela 11) e de forma interessante a repartição entre os sexos mantenha o perfil 
demográfico nacional (tabela 12). 
 
Um país continental e com diferenciações regionais tão marcantes de desenvolvimento 
econômico, como é o caso brasileiro, isso implica em situações de pobreza e miséria mais fortes entre 
as regiões brasileiras. É preciso deixar claro que esta análise da pobreza sobre o ângulo regional padece 
do problema, de que a metodologia de construção da linha de pobreza não levou em conta os 
diferenciais de custo de vida para os pobres, que se observa em função das necessidades diversas de 
consumo básico e de preços ao consumidor nas diversas regiões do país. O objetivo foi delimitar a 
população pobre, a partir de um patamar de rendimentos definido como um patamar mínimo, como foi 
estabelecido na definição da linha de pobreza. Relativamente à região nordestina concentra o maior 
contingente de pobres e indigentes do país (tabela 13), pois agregando se as duas populações a 
participação destes na população total do Nordeste a taxa de participação é maior que as pessoas não 
pobres. 
24 
 
Olhando para posição das mulheres no seio da família, temos os dados da tabela 14, esta 
ressalta a importância da chefia familiar feminina, para esta pesquisa esta é uma informação 
significante porque estas famílias são mais vulneráveis à pobreza, seja devido às dificuldades das 
mulheres de conciliarem trabalho fora de casa com as tarefas de cuidar dos filhos (ver Barros & Fox & 
Mendonça, 1993), seja pelos menores rendimentos auferidos por elas. De qualquer maneira não há 
uma discrepância entre a média nacional de famílias chefiadas por mulheres (26%, IBGE, 2002) com a 
taxa de participação mostrada pela tabela 14, isto é, 27% para as famílias pobres e 25% para as 
famílias indigentes. 
 
Tabela 11 - Brasil – 2001 
 
 Total das Famílias Famílias Pobres Famílias Indigentes 
 Absoluto % Absoluto % Absoluto % 
Nºfamílias 50.465.099 100 7.408.689 14,68 4.152.718 8,23 
Nºpessoas 169.369.557 100 29.165.246 17,22 19.782.440 11,68 
Nºmédio 
pessoas na 
família 
3,34 3,94 4,76 
Fonte: PNAD/IBGE, 2001, Tabulações Especiais Melo & Nicoll, 2003. 
 
Tabela 12 - Brasil – 2001 
 
Distribuição das 
Pessoas por Sexo 
Famílias Pobres Famílias Indigentes 
 Absoluto % Absoluto % 
Masculino 14.130.507 48,4 9.734.508 49,2 
Feminino 15.034.739 51,6 10.047.932 50,8 
Total de Pessoas 29.165.246 100 19.782.440 100 
Fonte: PNAD/IBGE, 2001, Tabulações Especiais Melo & Nicoll , 2003. 
25 
 
Tabela 13 - BRASIL - 2001 Distribuição da População segundo Regiões 
 INDIGENTES POBRES NÃO POBRES TOTAL 
Norte 0,7% 1,3% 3,4% 5,7%
Nordeste 7,2% 7,3% 13,1% 28,6%
Sudeste 2,4% 5,4% 34,5% 43,5%
Sul 0,9% 2,0% 11,9% 15,1%
Centro-Oeste 0,5% 1,2% 5,1% 7,0%
Total 19.782.440 29.165.246 115.261.553 169.369.557
Fonte: PNAD/IBGE, 2001, Tabulações Especiais Melo & Nicoll , 2003. 
 
Tabela 14 - Brasil – 2001 
Posição na Família Famílias Pobres Famílias Indigentes 
 Masc. Fem. Total Masc. Fem. Total 
Chefe 5.385.115 2.023.574 7.408.689 3.101.831 1.050.887 4.152.718 
Cônjuge 143.515 5.095.111 5.238.626 60.653 2.997.147 3.057.800 
Filhos 7.716.331 6.944.538 14.660.869 6.126.461 5.596.195 11.722.656 
Outros 885.546 971.516 1.857.062 427.636 383.507 811.143 
Total de 
Pessoas 
14.130.507 15.034.739 29.165.246 9.716.581 10.027.736 19.744.317 
Fonte: PNAD/IBGE, 2001, Tabulações Especiais Melo & Nicoll , 2003. 
 
4.1 – Raça/cor 
 
O Brasil é um país multirracial, onde brancos e negros representam 99% da população total, 
mas a distribuição da riqueza não acompanha esta partição racial. A raiz escravocrata permanece como 
uma chaga, e os dados mostram a extrema desigualdade da distribuição dos rendimentos quando se 
desagregam os dados por cor/raça na sociedade brasileira no início do novo milênio. A auto-
representação da sociedade brasileira de que somos uma democracia racial cai por terra diante das 
disparidades das desigualdades entre brancos e negros.17 
Vejamos os números para 2001: A população acima das linhas de pobreza e indigência é 
composta por 62% de brancos e 37,5% por pretos e pardos, portanto já não temos a mesma 
distribuição demográfica racial. Considerando os pobres e indigentes a questão fica mais explicitada. 
Os pobres são 61% negros e estes enquanto indigentes alcançam a extraordinária taxa de participação 
de 71% como mostram as tabelas 15, 16 e 17. A desagregação dos dados por sexo mostra que a 
 
17 Sobre a questão racial no Brasil, entre outros, ver numa perspectiva histórica ver Melo & Araújo & Marques (2003), Hasenbalg (1979), Grossi, Mauro & 
Graziano, José, & Tabaki, Maya, (2001) e diversos trabalhos de Paixão, Marcelo, com destaque para o artigo (2003, 57/70). 
26 
 
distribuição das mulheres e homens pelos diversos tipos de famílias: pobres, indigentes e não pobres 
seguem uma determinada taxa de participação que é de certa maneira similar às proporções da divisão 
entre os sexos, isto é, como temos um saldo a mais de mulheres na população brasileira e estas são 
relativamente mais numerosas em todas as raças, com exceção das mulheres pretas. É importante 
assinalar que particularmente neste caso a taxa de participação é idêntica, o que talvez sugira uma 
maior representação das mulheres pretas entre pobres e indigentes. Famílias pobres, indigentes e não 
pobres, por sexo se distribuem de forma idêntica na sociedade brasileira e evidencia a concentração de 
negras(os) e de pobres no Norte e Nordeste (ver tabela 18). 
 
Tabela 15 - BRASIL - 2001 Distribuição das Pessoas em Famílias 
 
NÃO POBRES NEM INDIGENTES 
Segundo Raça e Sexo 
 Masculino Feminino Total
Branca 29,6% 32,2% 62%
Preta 2,6% 2,4% 5%
Parda 16,4% 16,1% 32%
Outras 1% 1% 1%
Ignorada 0,0% 0,0% 0,0%
Total 56.422.375 58.839.178 115.261.553
Fonte: PNAD/IBGE, 2001, Tabulações Especiais Melo & Nicoll , 2003. 
 
Tabela 16 
BRASIL - 2001 Distribuição das Pessoas em Famílias 
POBRES 
Sexo 
Raça 
 
 Masculino Feminino Total 
Branca 18,1% 20,5% 38,6% 
Preta 3,4% 3,5% 6,9% 
Parda 26,8% 27,4% 54,2% 
Outras 0,1 0,2% 0,3% 
Ignorada 0,00% 0,00% 0,00% 
Total 14.130.507 15.034.739 29.165.246 
Fonte: PNAD/IBGE, 2001, Tabulações Especiais Melo & Nicoll , 2003. 
 
27 
 
Tabela 17 
BRASIL - 2001 Distribuição das Pessoas em Famílias 
INDIGENTES 
Sexo 
Raça 
 
 Masculino Feminino Total 
Branca 14,2% 15,0% 29,2%
Preta 3,4% 3,4% 6,8%
Parda 31,5% 32,2% 63,7%
Outras 0,2% 0,1% 0,3%
Ignorada 0,00% 0,01% 0,00%
Total 56.422.375 58.839.178 115.261.553
Fonte: PNAD/IBGE, 2001, Tabulações Especiais Melo & Nicoll , 2003. 
 
Tabela 18 - BRASIL – 2001 
Distribuição das Pessoas nas Regiões Segundo Tipo de Família, Sexo e Raça
Masculino Feminino Masculino Feminino Masculino Feminino Masculino Feminino
Norte Brancos 20,6% 22,8% 19,2% 20,4% 30,1% 33,2% 26,3% 28,8%
Pretos 3,3% 2,8% 3,5% 3,4% 4,1% 3,0% 3,9% 3,0%
Pardos 76,1% 74,2% 77,0% 75,8% 65,4% 63,5% 69,5% 67,9%
Outros 0,1% 0,2% 0,2% 0,4% 0,4% 0,4% 0,3% 0,3%
Total 1.087.013 1.143.867 621.539 632.799 2.933.527 2.909.237 4.801.308 4.922.520 
Nordeste Brancos 24,1% 26,7% 21,6% 23,0% 34,1% 37,3% 28,1% 30,8%
Pretos 6,5% 6,2% 6,1% 6,1% 6,3% 5,4% 6,3% 5,8%
Pardos 69,1% 66,7% 71,8% 70,7% 59,3% 56,9% 65,2% 63,1%
Outros 0,3% 0,3% 0,4% 0,2% 0,3% 0,3% 0,3% 0,3%
Total 6.087.251 6.314.210 6.021.981 6.152.345 10.776.819 11.328.138 23.619.275 24.837.375 
Sudeste Brancos 47,4% 49,1% 39,2% 37,6%66,8% 69,1% 62,6% 64,2%
Pretos 10,4% 10,1% 10,6% 10,4% 6,2% 5,6% 7,0% 6,5%
Pardos 41,8% 40,6% 49,9% 51,9% 26,0% 24,4% 29,6% 28,5%
Outros 0,4% 0,2% 0,2% 0,2% 0,9% 0,9% 0,8% 0,8%
Total 4.292.137 4.787.829 1.937.994 2.083.577 28.446.903 30.034.907 35.588.777 38.127.867 
Sul Brancos 74,2% 75,6% 69,7% 70,5% 85,9% 87,6% 83,2% 84,7%
Pretos 3,8% 4,8% 6,0% 6,1% 3,1% 2,8% 3,4% 3,3%
Pardos 21,5% 19,1% 24,2% 23,4% 10,4% 9,0% 12,9% 11,4%
Outros 0,5% 0,5% 0,2% 0,1% 0,6% 0,5% 0,5% 0,5%
Total 1.672.237 1.708.168 733.638 734.196 9.956.297 10.201.161 12.578.160 12.935.372 
Centro-Oeste Brancos 33,1% 34,8% 26,9% 28,9% 46,5% 49,7% 42,5% 45,1%
Pretos 3,6% 3,4% 5,4% 4,2% 4,1% 3,0% 4,1% 3,2%
Pardos 62,8% 61,1% 67,5% 66,5% 48,6% 46,5% 52,6% 50,8%
Outros 0,5% 0,7% 0,3% 0,4% 0,7% 0,8% 0,8% 0,9%
Total 989.900 1.077.051 418.177 441.741 4.303.244 4.362.019 5.859.777 6.077.527 
Total Brasil Brancos 37,5% 39,7% 28,8% 29,6% 60,5% 63,0% 52,3% 54,4%
Pretos 6,9% 6,8% 6,8% 6,7% 5,4% 4,8% 5,9% 5,4%
Pardos 55,3% 53,2% 64,0% 63,5% 33,4% 31,6% 41,2% 39,6%
Outros 0,3% 0,3% 0,3% 0,2% 0,7% 0,7% 0,6% 0,6%
Total 14.128.538 15.031.125 9.733.329 10.044.658 56.416.790 58.835.462 82.447.297 86.900.661 
POBRES INDIGENTES NÃO POBRES TOTAL
 
Fonte: PNAD/IBGE, 2001, Tabulações Especiais Melo & Nicoll , 2003. 
 
28 
 
4.2 - Razão de Dependência 
 
A razão de dependência na família consiste na proporção de pessoas com 15 anos ou menos 
de idade e pessoas com 60 anos ou mais, considerados dependentes, sobre aqueles com idade entre 
16 e 59 anos completos, considerados não dependentes. Esta razão é nula quando a família é 
constituída apenas por pessoas classificadas como dependentes ou naquelas famílias em que todos os 
membros são classificados como não dependentes. Esta medida permite apresentar mais uma 
característica para analisar as famílias brasileiras, pois possibilita avaliar o grau de vulnerabilidade das 
famílias pobres para a formação da renda. Os estudos sociológicos mostram que as famílias brasileiras 
são na grande maioria nucleares (pai, mãe, filhos), estas famílias tem grande participação entre os 
pobres. 18 A razão de dependência por idade,19 é mais elevada nas famílias com crianças menores que 
exigem maiores cuidados e não permitem, muitas vezes, que as mães se inseriram no mercado de 
trabalho. O cálculo da razão de dependência média foi feito de duas maneiras: excluindo aquelas 
famílias onde a dependência é nula, e considerando todas as famílias. Alternativamente, optou-se por 
uma categorização da variável razão de dependência separando as famílias com razão nula, das com 
razão de até 0,5, famílias com razão de 0,5 até 1, de 1 até 2 e famílias com razão de dependência 
acima de 2. Os resultados estão expressos nas tabelas 19 e 20, estas mostram a dependência por 
renda e confirmam os resultados já mostrados por Rocha (2003). 
 
Tabela 19 
BRASIL – 2001 Distribuição das Famílias Segundo classes de Razão de Dependência 
Familiar 
Com relação ao Total por Tipo de Família 
 TOTAL INDIGENTES POBRES NPNI NC 
Razão Nula 35,52% 33,30% 34,13% 36,12% 34,19% 
Até 0,5 25,02% 24,17% 24,71% 25,16% 25,34% 
Maior que 0,5 até 
1 inclusive 
25,23% 25,85% 25,61% 25,10% 24,92% 
Maior que 1 até 2 
inclusive 
11,63% 13,25% 12,16% 11,29% 12,75% 
Maior que 2 2,59% 3,43% 3,39% 2,33% 2,80% 
 
18 Rocha (2003, 153) analisando os dados da PNAD/IBGE de 1999 encontrou uma taxa de participação de 60,2% de famílias nucleares entre as famílias 
pobres, enquanto esta categoria de família correspondia a uma taxa de 52,6% para as famílias não pobres. 
19 A taxa de dependência por idade foi definida como o número de pessoas de menos de 15 anos e mais de 60 anos em relação ao número total de 
pessoas na família. A taxa de dependência por renda é a relação entre o número de pessoas sem rendimento na família e o número total de pessoas na 
família. 
29 
 
Total de Famílias 
(absoluto) 
50.465.099 4.152.718 7.408.689 37.011.045 1.892.647 
Fonte: PNAD/IBGE, 2001. Tabulações especiais da Melo & Nicoll, 2003. 
NPNI – Famílias não pobres e nem indigentes; NC – Famílias sem declaração de renda per capita. 
 
Tabela 20 - BRASIL - 2001 Distribuição das Famílias segundo classes de Razão de 
Dependência Familiar (Com relação ao total de famílias) - % 
 
 TOTAL INDIGENTES POBRES NPNI NC 
Razão Nula 100% 7,71% 14,10% 74,57% 3,61%
Até 0,5 100% 7,95% 14,50% 73,76% 3,80%
Maior que 0,5 até 1 inclusive 100% 8,43% 14,90% 72,96% 3,70%
Maior que 1 até 2 inclusive 100% 9,37% 15,35% 71,17% 4,11%
Maior que 2 100% 10,89% 19,21% 65,86% 4,04%
Total de Famílias 100% 8,23% 14,68% 73,34% 3,75%
Fonte: PNAD/IBGE, 2001. Tabulações especiais da Melo & Nicoll, 2003. 
NPNI – Famílias não pobres e nem indigentes; NC – Famílias sem declaração de renda per capita. 
 
Para complementar esta análise da razão de dependência a tabela 21 mostra a distribuição das pessoas 
por faixa etária, regiões e tipos de família e observa-se que no Brasil há uma maior concentração de 
crianças nas famílias pobres e indigentes, e nas famílias não pobres, ao contrário há uma maior 
taxa de participação de idosos. Há, portanto, uma maior fecundidade nas famílias pobres, mas em 
contrapartida não se fica velho nelas, os pobres morrem mais cedo. Este padrão repete-se em todas as 
regiões brasileiras. Esta informação é extremamente importante por que permite fazer um desenho de 
políticas públicas que privilegie as famílias pobres e indigentes para efeito de transferências de rendas. 
30 
 
 
Tabela 21 
 
Fonte: PNAD/IBGE, 2001. Tabulações especiais da Melo & Nicoll, 2003. 
 
Complementando a análise da razão de dependência, foi feita uma avaliação da possibilidade 
de que os(as) filhos(as) possam também contribuir para geração de renda na família. Como no interior 
da família há uma esfera de poder que passa pela contribuição de cada membro a esta geração de 
rendimentos, este trabalho pretende verificar se nas famílias mais pobres há uma maior participação 
das jovens gerações neste processo. Essa é uma informação importante porque seu resultado pode 
mudar as políticas de combate à pobreza, pois, sua negação evidencia a vulnerabilidade das famílias 
indigentes e pobres. 
31 
 
 
 Como mostrou a tabela 21, cerca de 19% da população brasileira tem até nove anos de idade 
e aproximadamente 10% da população tem 60 anos ou mais. São quase 30% da população que 
teoricamente é dependente da geração de renda da população adulta, como foi visto nas tabelas 19 e 
20. Para conhecer melhor essa contribuição cruzou-se com grau de instrução os dados dos filhos(as) 
ocupados(as) nas idades de 15/19 anos e 20/24 anos e todos(as) os filhos(as) com idade acima de 10 
anos até 60 anos que têm uma ocupação e vivem com suas famílias. A tabela 22 mostra o resultado 
dessa análise estatística. A primeira observação se relaciona ao fato que há uma prevalência do sexo 
masculino em todos os tipos de família, provavelmente as mulheres nessas faixas etárias já constituíram 
uma outra família. Segundo, não há grande discrepância nas taxas de participação da escolaridade e as 
famílias indigentes, pobres e não pobres, isto é, o maior peso se concentra na faixa de escolaridade de 
5/8 anos de estudos que exprime a média brasileira para os(as) jovens de 15/19 anos e numa 
escolaridade mais baixa (1/4 anos de estudos) para os de 20/24 anos. 
 
Tabela 22 
DISTRIBUIÇÃO DAS PESSOAS OCUPADAS E NA CONDIÇÃO DE FILHO NA FAMÍLIA - Brasil 2001
Segundo Faixa Etária, Anos de Estudo, Sexo e Tipo de Família
Masculino Feminino Total Masculino Feminino Total Masculino Feminino Total
FAMÍLIAS POBRES
sem instrução 8% 2%6% 15% 2% 11% 10% 2% 8%
1 a 4 anos de estudo 36% 24% 32% 37% 20% 32% 43% 32% 40%
5 a 8 anos de estudo 44% 48% 45% 30% 30% 30% 35% 42% 37%
9 a 12 anos de estudo 10% 25% 15% 17% 45% 24% 10% 23% 14%
13 ou mais anos de estudo 0,1% 1% 0,5% 0,04% 0,3% 0,1%
não determinado 2% 2% 2% 1% 2% 1% 1% 1% 1%
total 631.714 296.338 928.052 369.846 133.580 503.426 1.307.582 585.104 1.892.686
FAMÍLIAS INDIGENTES
sem instrução 11% 6% 10% 24% 10% 21% 14% 8% 12%
1 a 4 anos de estudo 47% 37% 44% 43% 26% 39% 56% 49% 54%
5 a 8 anos de estudo 36% 46% 39% 22% 30% 24% 25% 35% 28%
9 a 12 anos de estudo 5% 9% 6% 10% 31% 14% 4% 8% 5%
13 ou mais anos de estudo
não determinado 1% 2% 1% 1% 3% 2% 1% 1% 1%
total 522.554 204.917 727.471 183.845 55.204 239.049 1.150.013 458.906 1.608.919
FAMÍLIAS NÃO POBRES NEM INDIGENTES
sem instrução 10% 3% 8% 18% 4% 14% 12% 5% 10%
1 a 4 anos de estudo 41% 29% 37% 39% 22% 34% 49% 39% 46%
5 a 8 anos de estudo 40% 48% 42% 27% 30% 28% 30% 39% 33%
9 a 12 anos de estudo 8% 18% 11% 15% 41% 21% 7% 16% 10%
13 ou mais anos de estudo 0,1% 1% 0,3% 0,02% 0,2% 0,1%
não determinado 1% 2% 2% 1% 2% 2% 1% 1% 1%
total 1.163.865 502.593 1.666.458 556.522 189.520 746.042 2.477.968 1.046.654 3.524.622
Fonte: PNAD/IBGE, 2001, Tabulações Especiais Melo & Nicoll , 2003.
* Total referente à todas as idades.
Total*De 15 a 19 anos De 20 a 24 anos
 
 
4.3 - Escolaridade 
 
Há uma grande popularidade no campo da literatura sócio-econômica a respeito da teoria do 
capital humano na explicação da distribuição de renda. Esta teoria focaliza notadamente as 
características das pessoas para explicar os diferenciais de rendimentos destas e das famílias, devido ao 
32 
 
grau de instrução. Isto é, a educação e o treinamento são responsáveis pela diversidade da capacidade 
produtiva das pessoas, pois, pressupondo um mercado de trabalho competitivo e funcionando em 
perfeito equilíbrio as pessoas com as mesmas características obteriam rendimentos semelhantes. Este 
trabalho não pretende aprofundar esta questão, apenas indicar que a existência do debate sobre a 
correlação entre educação e rendimentos. No entanto, pesquisas empíricas constatam uma forte 
associação estatística entre instrução e rendimentos, embora isso não implique numa relação de causa 
e efeito (Santos, 2002, IV). 
 
 Hoffmann (2000) estimou que a contribuição marginal da variável educação nas equações de 
rendimentos para os dados da PNAD de 1997 é de 21,8% e que o coeficiente da escolaridade na 
equação geral, mostra que o rendimento esperado cresce 11% para cada ano a mais de estudo. Com 
este resultado o autor conclui que o capital humano continua sendo na análise de regressão, o maior 
determinante do rendimento das pessoas, embora haja uma grande possibilidade de que este 
coeficiente da educação esteja superestimado pela exclusão da variável valor do capital.20 Admitindo 
que o grau de instrução pode ser um elemento de barreira no mercado de trabalho, esta pesquisa faz 
um corte nas famílias desagregando-as segundo os rendimentos e a escolaridade. Para complementar 
foi feita uma abertura, segundo sexo, para a pessoa de referência da família (chefe) para testar a 
vulnerabilidade das mulheres. Os resultados estão apresentados nas tabelas 23, 24 e 25. 
 
A primeira constatação é que nas famílias mais pobres concentram-se relativamente mais 
pessoas sem instrução, isto é, o analfabetismo é um problema dos pobres. Na tabela 23 os 
indigentes analfabetos e com até quatro anos de estudos representam 81% dos indigentes e esta taxa 
de participação atinge 70% dos pobres, enquanto que para as pessoas não pobres esta taxa é de 44%. 
A faixa mais instruída, com curso superior incompleto e completo (13 ou mais anos de estudos) tem 
uma taxa de 7,8% dos não pobres para traços estatísticos nos pobres e indigentes. Nada mais perverso 
que estes números, sobre a relação entre renda e instrução. 
 
A segunda constatação refere-se ao corte entre as mulheres e os homens chefes com relação 
ao grau de instrução, observa-se que se mantém de maneira geral a mesma distribuição da tabela 23. 
Deve ser ressaltado que os analfabetos e com pouca instrução do sexo masculino apresentam taxas de 
participação mais alta do que as verificadas para as mulheres (tabela 24). No entanto, ambos os sexos 
apresentam taxas de participação maiores nos níveis de escolaridade mais baixas, tanto nas famílias 
pobres, como nas indigentes. Como se trata de pessoas com pesadas responsabilidades familiares, são 
 
20 Ney & Hoffmann (2003) citando um estudo de Hoffmann de 2000 que calculou estimativas para taxas de retorno diferenciadas por ano de estudo para 
cada setor de atividade, encontrou os seguintes valores: 7,6% na agricultura, 10,4% na indústria e 11,5% nos serviços. 
33 
 
chefes de família, isso se traduz numa vida de penúria para toda a família (tabelas 24 e 25). É 
interessante notar que as mulheres chefes têm uma maior taxa de participação em relação aos homens 
chefes, na faixa de escolaridade mais alta e tanto para elas como para eles esta taxa é superior em 
relação à tabela 23. 
 
Tabela 23 
Brasil – 2001 Distribuição das Pessoas segundo Anos de Estudo e Tipo de Família 
 INDIGENTES POBRES NÃO POBRES 
sem instrução 45,0% 35,1% 19,4% 
1 a 4 anos de estudo 36,2% 35,1% 25,0% 
5 a 8 anos de estudo 15,1% 21,9% 24,5% 
9 a 12 anos de estudo 3,2% 7,1% 22,8% 
13 ou mais anos de estudo 0,1% 0,2% 7,8% 
não determinado 0,5% 0,6% 0,6% 
Total 100,0% 100,0% 100,0% 
 Fonte: PNAD/IBGE, 2001, tabulações especiais, Melo & Nicoll, 2003. 
 
Tabela 24 - BRASIL - 2001 Distribuição de Anos de Estudos das Mulheres Chefes de Família 
 
Segundo Tipo de Família 
 INDIGENTES POBRES NÃO POBRES 
Sem Instrução 28,4% 29,4% 18,3% 
1 a 4 anos de estudo 35,3% 32,2% 27,6% 
5 a 8 anos de estudo 26,5% 23,5% 20,2% 
9 a 12 anos de estudo 8,3% 13,4% 21,7% 
13 ou mais anos de estudo 0,3% 0,6% 11,5% 
Não determinado 1,2% 0,9% 0,6% 
Total 100,0% 100,0% 100,0% 
Fonte: PNAD/IBGE, 2001, tabulações especiais, Melo & Nicoll, 2003. 
 
Tabela 25 - BRASIL - 2001 Distribuição de Anos de Estudos dos Homens Chefes de Família 
 
Segundo Tipo de Família 
 INDIGENTES POBRES NÃO POBRES 
Sem Instrução 39,7% 27,7% 12,3% 
1 a 4 anos de estudo 40,9% 40,4% 28,8% 
34 
 
5 a 8 anos de estudo 15,4% 24,1% 25,0% 
9 a 12 anos de estudo 3,5% 7,1% 22,7% 
13 ou mais anos de estudo 0,1% 0,2% 10,7% 
Não determinado 0,4% 0,5% 0,6% 
Total 100,0% 100,0% 100,0% 
Fonte: PNAD/IBGE, 2001, tabulações especiais, Melo & Nicoll, 2003. 
 
4.4 - Onde estão as mulheres no mundo do trabalho? 
 
Diante das limitações da análise da pobreza derivada do enfoque monetário este trabalho traz 
outras variáveis para sua avaliação e assim dispor de outros aspectos que forneçam novos elementos 
ao estudo em tela. O mercado de trabalho brasileiro possui algumas características que são importantes 
para o fenômeno da pobreza, tais como: reduzida remuneração, elevada jornada de trabalho, pouca 
qualificação e baixa proteção social que são mais sofridos pelas mulheres trabalhadoras. Para cumprir 
com o objetivo desta pesquisa, foi feita uma classificação dos setores de atividade em grandes grupos 
ocupacionais como explicita a tabela 26, e aplicou-se o recorte da linha da pobreza para conhecer a 
realidade da ocupação feminina e masculina. 
 
As diferenças entre os sexos iniciam-se na distribuição da população ocupada, porque as 
mulheres estão concentradas em atividades econômicas menos organizadas, com contratos informais, 
menor presença sindical e mais expostas ao desemprego. Uma outra questão importante refere-se ao 
peso da execução de trabalho não remunerado, cuja participação

Outros materiais