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Economia brasil - aula 3

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O café no oeste paulista
Alguns fatores importantes contribuíram para o deslanche da produção de café no oeste paulista, com destaque para: 
1) a existência de solos de melhor qualidade que os do Vale do Paraíba e a possibilidade de utilização de técnicas mais modernas e adequadas para o plantio e o beneficiamento do café; 
2) o início de uma época em que as restrições ao uso da mão-de-obra escrava estavam cada vez mais evidentes, permitindo uma percepção mais clara do problema associado à inestimável escassez de escravos – e da necessidade de uma alternativa. 
3) a coincidência de sua expansão com um forte crescimento dos investimentos britânicos na América Latina, em particular na construção de ferrovias. Esses investimentos permitiram uma sensível redução dos custos de transporte dos produtos para exportação; 
4) o aumento da população dos Estados Unidos, provocado pela grande imigração que houve para esse país. Os norte americanos passaram a importar muito, incrementando significativamente o mercado para as exportações brasileiras. Os Estados Unidos chegaram a ser responsáveis por cerca de 60% das comprar internacionais do café brasileiro. 
5) a garantia, por parte do empreendimento cafeeiro concentrado nessa região, das condições básicas para o nascimento de uma nova classe, assentada em relações de produção tipicamente capitalistas e capazes de organizar com maior desembaraço seus interesses políticos e econômicos, cujo papel consolidou-se na República Velha. 
Abolição da Escravatura
Em 1888, foi abolida a escravidão no Brasil. As consequências econômicas deste ato logo se fizeram sentir na economia e na política nacional. 
A tentativa de intensificar a transferência interna de escravos, base do trabalho no Vale do Paraíba, se fazia cada vez mais difícil. A grande dispersão dos escravos era decorrente da própria estrutura sociopolítica brasileira, ou seja, de uma estrutura na qual não havia integração entre as várias regiões do país. 
Essa falta de integração acontecia tanto em aspectos físicos (dificuldade de trânsito entre as regiões) quanto sociais e políticos, tornando o recrutamento dos escravos uma tarefa complicada. 
A utilização desse tipo de mão-de-obra disponível nas áreas urbanas, por outro lado, encontrava obstáculos na reduzida capacidade de adaptação dos escravos aos métodos e à disciplina exigidas na lavoura agrícola. Essas dificuldades poderiam reduzir de maneira significativa sua expectativa de vida útil. 
A utilização da mão-de-obra imigrante foi a solução adotada por alguns fazendeiros do oeste paulista como forma alternativa de superar o problema da mão-de-obra.
A imigração anterior ao processo de independência havia sido realizada sem qualquer objetivo econômico, basicamente associada à ocupação de áreas importantes para a demarcação de fronteiras. 
A lavoura paulista de café inaugurou a inserção do imigrante na monocultura de exportação, permitindo a continuidade do forte ritmo de crescimento da cafeicultura no Brasil e importantes desdobramentos econômicos no decorrer do século XIX. 
“Dois conceitos históricos são entendidos por abolição da escravatura: o conjunto de manobras sociais e políticas empreendidas entre o período 1870 a 1888 em prol da libertação dos escravos e a própria promulgação da Lei Áurea, assinada pela Princesa Isabel em 13 de maio de 1888, promovendo a oficialização da abolição do regime escravista”. 
“(...) a mão-de-obra proveniente das novas correntes imigratórias passou a ser empregada. Os negros, por um lado libertos, não possuíam instrução educacional ou a especialização profissional que passou a ser exigida, decorrendo desses aspectos a permanência dos negros à margem da sociedade frente à falta de oportunidades a eles oferecidas. A liberdade dada aos negros, anteriormente escravizados é relativa: embora não mais escravizados, nenhuma estrutura que garantisse a ascensão social ou a cidadania dos negros foi oferecida”. 
A produção do café no oeste paulista apresentou duas formas bem marcadas de utilização da mão-de-obra imigrante. 
Primeiro aconteceu o sistema de parceria, marcando o chamado oeste velho paulista, momento inicial de inserção dos imigrantes. 
A segunda forma, o sistema de colonato, no oeste paulista, inaugurou a formação das bases de relações capitalistas de produção, de acordo com a interpretação de importantes na historiografia brasileira. 
O oeste velho paulista: o sistema de parceria
O ano de 1845 marca a primeira experiência de utilização da mão-de-obra de imigrantes na monocultura exportadora do café, na fazenda Ibicaba, do senador Nicolau Vergueiro, sob a forma de parceria. 
A princípio, o senador, exaltava as qualidades físicas e técnicas dos imigrantes como um fator-chave para sua importação da Europa, em um momento de crescentes dificuldades para a compra e utilização de escravos. 
Senador Nicolau Vergueiro nasceu em Portugal e veio para o Brasil com 25 anos, época que trabalhou como advogado. Tornou-se político e latifundiário, alguns anos depois dono de uma empresa que firmava contratos com estrangeiros para que eles viessem trabalhar no Brasil nas lavouras. Os imigrantes eram convencidos de que teriam para trabalhar a subsistência e lucros. 
O sistema de parceria consistia de uma proposta divulgada na Europa por agentes contratos de Vergueiro visando contratar trabalhadores dispostos ao serviço na lavoura, recebendo em troca lotes de pés de café adultos – preparados, portanto, para a produção. 
Metade do valor da colheita (cotas de pagamento) seria dos imigrantes, logicamente após a dedução dos custos do transporte, impostos e comissões – daí a definição de parceria. 
Ao trabalhador caberia ainda a exploração de lotes de subsistência – e, se houvesse excedentes, seriam também repartidos com o proprietário. 
Apesar do conceito de parceria, todo o processo de comercialização e contabilidade ficava a cargo do proprietário. 
No entanto, o que acontecia era uma situação completamente distinta da propaganda de Vergueiro na Europa à época do recrutamento. 
Começava pelas péssimas condições do traslado. Muitos imigrantes morreram antes de chegar ao Brasil, devido a falta de higiene, que proporcionava o desenvolvimento de uma série de doenças. 
Ao chegar, a primeira novidade para os “colonos” era a obrigação do pagamento de todo o custo de seu transporte, além do pagamento de juros de 6% ao ano pelo adiantamento oferecido pela manutenção dos trabalhadores durante o primeiro ano de sua chegada. 
Os imigrantes eram obrigados, por contrato, a permanecer pelo menos quatros na fazenda. Além disso, a família imigrante era responsável legal por cada um de seus membros, de maneira que, se algum morresse, os outros deveriam arcar com o pagamento de sua dívida. 
Apesar dessas condições extremamente desfavoráveis, incluindo as mortes e doenças decorrentes dos maus-tratos e da longa e contínua jornada de trabalho, as safras foram abundantes e os termos do contrato estavam sendo cumpridos. 
Ademais, como nem todos os imigrantes estavam integrados ao sistema agrícola em seus países de origem, a solução vislumbrada foi a importação desse tipo de mão-de-obra em maior escala – considerando sua baixa produtividade média. 
Outros fazendeiros vizinhos começaram a se interessar pelo método, principalmente com a proibição , ratificada em 1850 – e Vergueiro atuava como agente desses novos empreendedores. 
Não é difícil perceber, portanto, que esse sistema não apresentava condições de sobrevivência em longo prazo. As raízes do fim estavam fincadas nas próprias bases do processo. 
Sistema de parceria: a escravidão disfarçada e seus limites
O grande problema do sistema de parceria dizia respeito à relação fazendeiros/colonos, que era na verdade uma continuação das condições de escravidão nas bases do trabalho e do nível de vida. 
Não houve mudança ideológica por parte dos fazendeiros no que se refere ao trabalho: consideravam e tratavam os imigrantes
realmente como escravos. 
Para isso, utilizavam a má-fé nos contratos, já altamente desvantajosos para os imigrantes, de maneira que a insatisfação tornava-se crescente em ambos os lados. 
Da parte dos colonos, a insatisfação era óbvia. As cláusulas contratuais prendiam os imigrantes à fazenda eternamente, sob rigoroso controle e supervisão dos fazendeiros – como era a função dos capatazes para os escravos africanos. 
Diversos direitos do colono, mesmo previstos em contrato, eram suprimidos sem qualquer pudor. Como exemplo, sair da fazenda e receber visitas eram proibidas. A moradia dos imigrantes era, em geral, uma “adaptação” das antigas instalações das senzalas. 
Os fazendeiros impunham ainda rigorosas punições aos colonos, sob a argumentação de vadiagem, embriaguez e outras situações semelhantes. Tudo isso apoiado ao endividamento eterno dos imigrantes junto aos patrões fazendeiros. 
Pelo lado dos fazendeiros, havia uma insatisfação cultural e ideológica. Acostumados com o trabalho escravo, eu lhes caracterizava uma propriedade, não toleravam o aparecimento de questões trabalhistas, que causavam deserções e greves organizadas por camadas de imigrantes mais esclarecidos, principalmente os italianos. 
Somava-se a isso a queda da receita de exportação, determinada, sobretudo, pelo substancial aumento da produção no Brasil – maior exportador mundial do produto. 
Para os fazendeiros, os colonos representavam a ralé da população dos países de origem, gente desordeira e pouco afeita ao trabalho – como os escravos, mas agora disfarçados na pele branca. 
O oeste novo paulista e o sistema de colonato
Apesar dos conflitos internos do sistema de parceria e da impossibilidade de continuação daquele processo de recrutamento da mão-de-obra imigrante, a “falta de braços” para a expansão da lavoura agrícola cafeeira persistia. 
O problema residia no fato de que a imagem do Brasil como um possível espaço para realização de homens pobres europeus vinha sendo desfeita a passos largos. 
A divulgação na Europa dos maus-tratos conferidos aos imigrantes em São Paulo repercutia de maneira bastante negativa. 
Ao mesmo tempo, a empresa cafeeira ascendente começava a dar mais corpo político aos fazendeiros (os barões do café), cuja participação no processo de decisões tornava-se cada vez mais decisiva. 
A capacidade de vislumbrar com clareza o problema da escassez de mão-de-obra em um ambiente hostil para a imigração exigiu a definição de novas formas de atração dos estrangeiros. 
No entorno de 1870, o colonato aparecia como o novo formato encontrado para garantir os fluxos de imigração para a cafeicultura, trazendo mudanças no sistema de parceria. 
Além da criação de uma forma de pagamento direto ao colono, pelo menos em parte do total que era devido pelo seu trabalho na lavoura, o fazendeiro foi obrigado a arcar com despesas de viagens e do primeiro ano de trabalho. Também era concedida ao imigrante uma fatia de terra para o plantio de artigos de subsistência. 
Um passo fundamental para a dinamização do sistema de colonato foi a utilização do governo da província de São Paulo para custear o transporte até o Brasil, além da instalação dos estrangeiros. O governo paulista participava diretamente na contratação dos imigrantes, através da Sociedade Promotora de Imigração. 
Nesse período, o contingente mais importante da imigração era de italianos (cerca de 510.000, entre 1884 e 1893), vindos principalmente devido ao violento processo de unificação na Itália. 
Foram gastos pelo governo, a título de subsídios para a vinda destes imigrantes, aproximadamente 1.600.000 libras esterlinas.
Os resultados foram altamente satisfatórios. No último quartel do século XIX, algo em torno de 800 mil imigrantes entraram no Brasil para a produção de café, garantindo definitivamente as condições básicas do crescimento da sua produção.

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