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O Nacional e o Internacional na América Latina Contemporânea

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Textos para
discussão
Programa de Estudos Pós-Graduados em Economia Política - PEPGEP
Departamento de Economia da Faculdade de Economia, Administração,
Contabilidade e Atuária
PUCSP
Textos para Discussão 04/2005
O Nacional e o Internacional na
América Latina Contemporânea
Regina Maria A. F. Gadelha
NACI/PUCSP
PP
EE
PP
GG
EE
PP
 
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
 
FEA/DEPARTAMENTO DE ECONOMIA 
 
 
PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM ECONOMIA POLÍTICA 
 
 
TEXTOS PARA DISCUSSÃO 
 
Publicação do Programa de Estudos Pós-Graduados em Economia Política e do Departamento 
de Economia da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da Pontifícia 
Universidade Católica de São Paulo, para divulgação, em versão preliminar, da produção 
acadêmica de professores e alunos, bem como de pesquisadores e convidados de outras 
instituições. 
 
 
 
 
 
COMISSÃO DE PUBLICAÇÕES: 
Antonio Carlos de Moraes 
Carlos Eduardo Carvalho 
César Roberto Leite da Silva 
Nelson Carvalheiro 
Rosa Maria Marques 
Rosa Maria Vieira 
 
 
ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA: 
R. Ministro de Godói, 969 – 4º andar – sala 4E-17 
05015-000 – São Paulo – SP 
Tel.: (011) 3670.8400 – Tel./Fax: (011) 3670.8516 
URL: http://www.pucsp.br/pos/ecopol 
E-mail: ecopol@pucsp.br 
É permitida a reprodução deste texto e dos dados nele contidos, para fins acadêmicos, desde que citada a fonte. 
O NACIONAL E O INTERNACIONAL NA AMÉRICA LATINA 
CONTEMPORÂNEA 
 Profa. Dra. Regina Maria A. F. Gadelha∗ 
 
 
 Não é a primeira vez que trato desta temática na PUC/SP. Em 1995 quando 
organizamos o I Seminário de Economia Política, nos reunimos nesta sala com a 
participação do Professor Lúcio Flávio de Almeida para pensar a problemática da 
globalização e as conseqüências das políticas neoliberais sobre a América Latina 
e, em especial, sobre o Brasil, Tínhamos esperança de despertar a comunidade 
sobre as conseqüências e seqüelas da devastação implantada pelas políticas 
neoliberais.1. 
Durante mais de 10 anos assistimos à destruição sistemática de nossas 
riquezas e dos ideais da construção de uma democracia para todos – desiderato 
da nação e dos que lutaram contra o regime militar de 1964 e legisladores de 
1988. Entretanto, a incompreensão do significado da globalização mascarava o 
verdadeiro sentido da ascensão do neoliberalismo, em tanto que processo de 
dominação imperialista do capital internacional financeiro em expansão, 
impulsionado na era Tatcher/Reagan.2. De fato, a expansão imperialista oculta ser 
o capital financeiro a raiz da essência do sistema capitalista, que para se manter e 
reproduzir nutre-se da riqueza criada pelos investimentos na esfera da produção e 
da força do trabalho (mais-valia socializada) realizada em múltiplos níveis de 
especialização. 
 Quando se analisa o fenômeno da globalização, duas constatações 
chamam a atenção dos analistas: 
 
∗ Palestra na Semana América Latina em Movimento-PUC/SP-2 e 3/setembro/2004, organizada pelo 
NIELS/NACI/APROPUC/AFAPUC. 
1 As palestras e debates, aqui realizados, estão publicadas In: Gadelha, Regina Maria A. Fonseca. Org. 
Globalização, Metropolização e Políticas Neoliberais. São Paulo: Educ, 1997. 
2 Também, GADELHA, Regina Maria A. F. “Economia e poder. Um enfoque interdisciplinar da visão de 
poder”. Revista Brasileira de Direito Constitucional. São Paulo: Edit. Método/ESDC, 2: 307-14. Julho/Dez. 
2003. 
Gadelha, R. M. A. F. – O Nacional e o Internacional na América Latina Contemporânea 
 
2
1. A reconfiguração do Imperialismo e a intensificação de sua dominação em 
escala mundial, o que significa reconcentração do controle mundial do 
capital sobre os recursos naturais e a produção. 
2. Em decorrência, intensifica-se a exploração sobre o trabalho e os 
trabalhadores em escala nunca antes conhecida, bem como os níveis de 
polarização social que se abate sobre a população mundial.3. 
 
A estas constatações, chamamos a atenção para mais um aspecto: na 
periferia do sistema, governos e governantes deixam de serem controlados pela 
população que os elegeu, para se tornarem administradores/gestores dos 
interesses do capital financeiro internacional e de seus associados, processo 
conduzido através das políticas de privatização dos haveres dos Estados e sua 
conseqüente desnacionalização, desindustrialização, desemprego e seqüelas de 
exclusão. Para que isso ocorresse, entretanto, os governos tiveram de atingir a 
própria essência das instituições e sua prática democrática. 
Podemos resumir estes pontos em cinco aspectos, cujos conceitos já foram 
abordados por outros analistas, entre os quais o sociólogo peruano Aníbal 
Quijano: Imperialismo, Hegemonia, Dominação, Exploração, Colonialidade do 
Poder.4. Nesse sentido, queremos situar a nossa exposição em dois eixos: 
1. O capitalismo, como padrão de dominação internacional (A. Quijano), 
salientando dentro dele o Imperialismo (A. Borón)5, em tanto que 
forma inalienável à existência do sistema capitalista. 
2. A democracia (democracia parcial atual) e o Estado, como expressão 
da coletividade e forma de controle (soberania) da autoridade da 
nação. 
Interessa-nos, entretanto, observar o Brasil e o espaço sul-americano, pois 
no nível local nacional e no regional é que se reproduzem as formas de vida 
 
3 Chossudovsky, Michel. “Pobreza global no final do século 20”. Revista PUCVIVA. São Paulo: APROPUC, 
4 (13): 40-8. Julho/Set. 2001. 
4 Sobre o conceito ‘Colonialidade do Poder’, forjado e desenvolvido por A. Quijano, vide seu artigo, 
“Colonialidad del poder, Eurocentrismo y América Latina”. In: Edgardo Lander. Comp. Colonialidad del 
Saber, Eurocentrismo y Ciencias Sociales. Buenos-Aires: UNESCO/CLACSO, 2000. 
5 Borón, Atílio. Império & Imperialismo. Uma leitura crítica de Michel Hardt e Antonio Negri. Buenos Aires: 
CLACSO, 2002. 
Programa de Estudos Pós-Graduados em Economia Política – Textos para Discussão 04/05 
 
3
econômicas e sociais, sendo o espaço nacional o lócus legítimo de elaboração 
das políticas mediáticas que permitem o exercício do poder de dominação do 
Estado institucional regulador sobre os cidadãos. 
 Alguns dados, publicados pelo Banco Mundial, permitem ilustrar o que 
afirmamos, ou seja: a aceleração deste processo, ao mesmo tempo em que 
concentra a riqueza, gera exclusão, acelerando o domínio do capital sobre as 
nações.6. Em 1800, 74% da população, seja 944 milhões de habitantes, tinha 
acesso a 56% do produto da riqueza mundial. Em 1995, somente 20% da 
população, seja 5,716 milhões de pessoas, concentrava 80% do produto mundial 
bruto (PNB), os 20% da riqueza restante sendo repartida entre 80% da população 
do planeta. A diferença de ingressos distribuídos entre ricos e pobres, existente no 
início do século XIX, e que era de 9 x 1, atingia, em 1995, 60 x 1. Em 1996, o 
faturamento do poderoso General Motors atingiu US$ 168 bilhões, cifra superior 
ao do PIB reunido de todos os países da América Central, mais o Peru, o 
Equador, o Paraguai e o Uruguai, cujo montante não atingia US$ 159 bilhões. 
Apenas na última década, entre 6 bilhões de pessoas, que forma a 
população mundial, 800 milhões não tem emprego algum. Nos EUA, o número de 
pobres saltou de 25 para 35 milhões de habitantes e a distância, na América 
Latina, entre os 20% mais ricos, em relação aos pobres, é de 16 x 1. No mundo, 
as 3 pessoas mais ricas do planeta têm fortuna superior ao PIB de 48 dos países 
mais pobres.7. 
 Os dados também indicam que os países que mais cederam ao modelo 
neoliberal são aqueles que atualmentemais sofrem os impactos da 
desestruturação e das crises do sistema mundial. Porém, não vou me estender 
sobre esta problemática, por mim já tratada em outras palestras e artigos. 
Interessa-nos as suas conseqüências, a fim de compreendermos melhor a 
atuação dos movimentos sociais que incendeiam as populações oprimidas da 
América Latina. Aqui, a crise não se revela não somente através do endividamento 
 
6 Para esta análise, remetemos ao nosso artigo: “Economia e poder...". Loc. cit. Os dados estatísticos são do 
Banco Mundial. Developing World 1999/2000. Washington, D.C., 2000. 
7 Estes dados In: Quijano, A. “El nuevo imaginario anticapitalista”. América Latina en movimiento. Quito, 
Ecuador: ALAI, 351: 14-21. Abril 2002. 
Gadelha, R. M. A. F. – O Nacional e o Internacional na América Latina Contemporânea 
 
4
externo e interno maior dos países, mas também através da perda acelerada da 
autonomia do poder de gestão e decisão dos governantes (soberania dos 
estados), e que se traduz no desmonte dos aparelhos administrativos, legislativos 
e judiciários, enfraquecendo ainda mais as nossas frágeis instituições 
democráticas. A prova disso é que, já no final da chamada ‘década perdida’ dos 
anos 80, a crise era das mais graves, atingindo sobretudo as classes 
trabalhadoras e revelando seu efeito perverso através da verdadeira situação de 
calamidade em que viviam (e vivem) as populações mais pobres, os que perderam 
seu trabalho e meios de existência ao longo dos anos 80 e 90. Nos dias atuais, 
porém, ela atinge os indivíduos em quase todos os extratos das camadas médias 
empobrecidas, enquanto se miserabiliza os mais pobres, os excluídos lançados à 
marginalidade da sociedade. 
É o que mostra o exemplo das populações dos países andinos e, mesmo, 
paises de economia maiores como a Argentina, ou o exemplo paradigmático do 
Brasil, único país de toda a América Latina que atingira, nos anos 70, o mais 
completo e moderno parque industrial do continente – incluindo a produção de 
bens de capital e bens intermediários – possuindo território e reservas de 
minerais, água e clima propício para o desenvolvimento, mais do que em qualquer 
outra parte do planeta. Porém, sua economia também já se encontra igualmente 
estrangulada e dominada pelo capital financeiro internacional, em estreita 
associação estrutural com o capital nacional, os bancos e empresas dos países 
centrais. Portanto, deterioram-se as nossas democracias através da cooptação 
extrema e perda de autonomia do poder de decisão dos governantes, em 
questões fundamentais e assuntos relativos às esferas de governança interna de 
seus países. 
O círculo é perverso e vicioso: somente este ano o Governo Lula deverá 
transferir US$ 126 bilhões dos ganhos nacionais para pagamento do serviço de 
dívidas para com o FMI e outros bancos. A aceitação deste compromisso foi o 
preço pago por ele para alcançar o cargo supremo da nação, traindo a todos que 
acreditaram na chegada de novo tempo. Por isso, não é surpreendente que venha 
administrando a nação em atendimento aos interesses do capital financeiro e seus 
Programa de Estudos Pós-Graduados em Economia Política – Textos para Discussão 04/05 
 
5
mecanismos de especulação. Enquanto, na Argentina, reflete-se o exemplo do 
governo isolado do presidente Kirchner, resistindo ao FMI e cujo diretor geral (o 
espanhol Rodrigo Rato) acaba de ser recebido na última semana de agosto de 
2004, com pedras e apupos de piqueteros revoltados, que cercaram o seu hotel 
em Buenos Aires. Também, no extremo norte, na Venezuela, o povo venezuelano 
dá o exemplo, ao reiterar por maioria absoluta de votos sua confiança na 
permanência de Hugo Chávez à frente da nação, apesar da campanha contrária 
pelo NÃO, realizada em conjunto pelas oligarquias e as mídias pactuadas com o 
capital internacional.8. 
Esta e outras submissões dos governantes, que uma vez no poder se 
esquecem de que foram eleitos pelo voto popular, os levam a ignorar os 
compromissos assumidos quando em campanha eleitoral, provocando corrosão 
nos alicerces mesmo da democracia. O impacto destas políticas encontram eco 
em setores internos interessados na manutenção de privilégios – e não se trata 
somente da classe dos antigos ou de novos latifundiários. Nesse sentido, não 
podemos perder de vista o avanço tecnológico atingido pelas relações capitalistas, 
que dominam todas as esferas da produção, inclusive o domínio tecnológico do 
conhecimento e da informação - conhecimento de novas descobertas, mas 
também apreensão e controle cada vez maior dos antigos saberes de 
comunidades locais. 
 Sem dúvida, o novo que ocorre nos dias atuais, e que impacta sobre os 
centros de domínio do pensamento burguês, do qual fazem parte os membros das 
camadas médias e superiores da sociedade, intelectuais e as Universidades, em 
tanto que universo institucional conservador, reacionário e que se quer 
mantenedor da ordem e do saber, é a organização espontânea, ainda mais ou 
menos difusa, de setores populares, grupos que fogem ao controle de mídias, 
igrejas e estado. Assim, a busca pela sobrevivência termina por encontrar formas 
coletivas de organização, cooperação e manifestação, através das quais se vão 
configurando novos atores sociais, com reivindicações, discurso e mobilização que 
 
8 O Governo Lula perde, assim, excelente oportunidade para a abertura de um caminho alternativo para o 
Brasil e a América do Sul, reforçando as posições nacionalistas de Nestor Kirchner, ao sul, e de Hugo 
Chávez, ao norte do continente. 
Gadelha, R. M. A. F. – O Nacional e o Internacional na América Latina Contemporânea 
 
6
escapam ao controle das elites e, inclusive, criam novos caminhos levando os 
intelectuais a reboque, em seu processo de atuação. Como exemplo 
paradigmático deste processo, não podemos ignorar o apoio e a participação das 
comunidades as FARCS, na Colômbia, mesmo se discordarmos de sua forma de 
atuação; o movimento zapatista, em Chiapas – a região mais pobre do México; o 
MST, atuante em todas as regiões do Brasil em suas reivindicações pela terra; os 
movimentos de comunidades indígenas e/ou camponesas, que se organizam 
desde o Alaska, no hemisfério norte, até a Terra do Fogo, na Argentina, e que na 
América Latina têm suas sedes no México, Guatemala, Nicarágua, El Salvador e, 
na América do Sul, em quase todos os países andinos (Equador, Peru, Bolívia), 
além de sedes importantes e que já conquistaram áreas de populações indígenas, 
em toda a bacia amazônica. Tal movimento toma sentido apenas se 
compreendermos o quase total abandono destas populações, que perderam suas 
esperanças em políticos e no próprio Estado e governos. 
 Estes movimentos, inclusive no Brasil, passam a abrigar cada vez mais a 
massa de centenas de milhares de desempregados, tanto dos setores rurais como 
ainda dos setores urbanos industriais, ex-operários tantas vezes traídos também 
por seus dirigentes sindicais, cooptados pelas benesses do grande capital, 
moradores de rua, mendigos, catadores, comunidades de bairros da periferia, 
sem-tetos etc. Estes movimentos espontâneos revelam-se e se ampliam, apesar 
da repressão a que estão submetidos pelos Estados, que jogam contra eles todo o 
aparato policial e repressor de que dispõem, e se expressam por toda parte: 
movimentos que vão desde a organização espontânea de trabalhadores que 
assumem a administração de fábricas falidas; grupos de famílias que se 
organizam em núcleos locais de produção e artesanato, e que vão desde 
cooperativas até formas diversas de reciprocidade, na gestão coletiva de fábricase engenhos, da pesca às atividades extrativistas, do artesanato às cooperativas 
agrícolas. Também nos primeiros anos deste século XXI, toma expressão o 
movimento de protesto espontâneo de piqueteros, na Argentina, fenômeno 
relativamente novo por sua duração, ou movimentos populares como os que 
derrubaram governantes neoliberais no Equador e Bolívia ou, ainda, 
Programa de Estudos Pós-Graduados em Economia Política – Textos para Discussão 04/05 
 
7
manifestações e consciência dos que lutam por suas velhas e novas conquistas, 
apoiando governos como Chávez, na Venezuela. 
Entretanto, ainda que de forma vaga e inconstante, também há mais de 
uma década às revoltas difusas e pouco organizadas das populações mais 
pobres, como bem demonstram os acontecimentos dos primeiros anos de nosso 
lustre no Equador, no Peru, Colômbia, Bolívia, Argentina, Paraguai, Venezuela e 
outras partes, em que vem somar-se o apoio cada vez maior de setores das 
camadas médias, estudantes e outras parcelas sociais às reivindicações de 
desempregados e camponeses, apoio às comunidades indígenas ou que se 
querem tais, cujas reivindicações iniciais, acolhidas por missionários e setores das 
várias igrejas que atuam nestas comunidades, hoje se estendem do Alasca à 
Patagônia e, na América Latina se expressam no México, Equador, Bolívia, 
Paraguai, Brasil, em regiões, aldeias e locais abrangendo a bacia amazônica e daí 
ao nordeste do Brasil e regiões centrais da América do Sul - bacias do Paraná-
Uruguai, Pantanal e sul de Mato-Grosso; estados do sudeste-sul do Brasil, regiões 
do Chaco paraguaio e argentino, entre outras. 
Desde sua origem, os valores das sociedades latino-americanas têm 
correspondido aos valores racionais do mundo ocidental, centro do controle, 
padrão de dominação e de poder imposto com os descobrimentos, as conquistas 
e a ocupação dos territórios americanos. (A. Quijano). Nesse sentido, preocupa-
me a problemática da cidadania e possibilidades de formação de sua consciência 
e expressão na América Latina, problema indissoluvelmente ligado à concepção 
moderna de exercício da democracia. Pois o pressuposto da existência do Estado 
democrático, dotado de estrutura funcional e de poder, é a cidadania, o 
reconhecimento da igualdade jurídica e política, ao menos igualdade formal de 
todos os indivíduos (cidadãos) que nascem e habitam um mesmo espaço físico, 
juridicamente formado e estipulado por interditos de tratados e fronteiras 
universalmente reconhecidas, a que chamamos de país.9. A este conjunto de 
território, com seus cidadãos, nós denominamos ’a nação’. Entretanto, note-se 
 
9 Desenvolvemos este tema no artigo “Economia e poder...”, Op. cit. e, ainda, “Federalismo, regionalismo e 
governabilidade”. Cenários. Revista do GEICD. Araraquara: UNESP, 2: 165-88. 2000, e em Revista CESLA. 
Varsóvia: Centro de Estúdios Latinoamericanos, 1: 85-100. 2000. 
Gadelha, R. M. A. F. – O Nacional e o Internacional na América Latina Contemporânea 
 
8
que, por toda parte, as camadas médias, quando não se opõem aos movimentos 
populares, somente os apóiam em caso extremo, como exemplifica o colapso 
conjuntural da Argentina, ocorrido em 2002. 
De fato, as camadas médias, incluindo as universidades e seus 
universitários, mesmo os que estudam a pobreza, apóiam em geral tão somente 
as oligarquias e suas práticas e, ao longo dos anos, continuam agindo contra os 
seus próprios interesses, dando respaldo aos que os oprimem, perseguem, 
torturam e matam trabalhadores e excluídos.10 Não poderia, por isso, terminar sem 
expressar o meu repúdio para denunciar o recente seqüestro e possível 
assassinato ocorrido em 22 de agosto de 2004 do líder indígena dos Nasa, 
Arquimedes Vitonas Noscue, Alcaide do município de Toríbio, na turbulenta região 
do sul de Cauca (Colômbia). Vitonas, ex-Presidente da Assembléia regional de 
Cauca, recebeu recentemente o prêmio ‘Mestre do Saber’, concedido pela 
UNESCO, pelo trabalho que desenvolvia em sua comunidade. 
Os Nasa, segundo Comunicado divulgado pelo Serviço de Informação da 
ALAI-AMLATINA, por INTERNET do dia 25 de agosto último, acreditam que o 
silêncio mantido pelo governo colombiano acerca do desaparecimento do seu líder 
e companheiros que o acompanhavam no automóvel que os conduzia, significa 
terem sido vítimas da ação dos “grupos não identificados”, ligados às Forças 
Armadas colombianas. O desaparecimento, só anunciado oficialmente pelo vice-
Alcaide de Toríbio às autoridades no dia 24 de agosto, ocorreu pouco depois de 
um comício em que Vitonas anunciara a convocação para a realização de uma 
grande marcha de protesto contra as reformas constitucionais realizadas para 
garantir a reeleição do Presidente Álvaro Uribe, possibilitando-o concorrer a novo 
mandato presidencial e contra o fechamento de novo acordo de Tratado de 
Comércio (TLC-ALCA) do governo da Colombia com os EUA, colocando em risco 
a autonomia, a segurança, a soberania e os direitos das comunidades indígenas 
camponesas colombianas. 
 
10 Desde o mês de agosto, a cidade de São Paulo, maior centro financeiro da América Latina, vem assistindo 
ao assassinato quase diário de mendigos e moradores de rua que dormem no centro desta capital, sem que a 
polícia tenha encontrado pista alguma, fatos estes denunciados pelos maiores periódicos do país, tais os 
tradicionais e conceituados jornais Estado de São Paulo e Folha de São Paulo. Várias edições – 
agosto/setembro 2004. 
Programa de Estudos Pós-Graduados em Economia Política – Textos para Discussão 04/05 
 
9
Quero frisar que acontecimentos como estes não se dão à margem da 
história, mas sim dentro de um padrão de dominação global, do qual têm tido 
importante participação e responsabilidade as mídias, que utilizam as novas 
tecnologias de comunicação e que servem de suporte para o desenvolvimento da 
dominação e da exploração da grande maioria da população mundial, 
influenciando as idéias e alienando as consciências, impedindo que este padrão 
de poder, como o denomina A. Quijano, possa ser democratizado e mesmo 
humanizado11 – utopia alimentada por inúmeros intelectuais que atuam em nossas 
sociedades – sem ser primeiramente destruído e superado por via revolucionária. 
 
11 Não acreditamos em utopias ‘humanizadoras’ (de direita ou de esquerda) que preserve o atual padrão de 
poder e dominação, pois qualquer mudança incluiria uma mudança radical inclusive na forma de se pensar o 
direito às diferenças intrínsecas a todos e a cada indivíduo: direito a pensar, a se expressar, a viver. O que 
incluiria o direito e o respeito à vida sob qualquer de suas formas, incluindo a preservação de meios de vida 
socializados e dos diversos habitats ambientais. 
 
 
 
 
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO 
PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS–GRADUADOS 
EM ECONOMIA POLÍTICA 
2005 
 
01/05 Monetary Policy and Debt Dynamics in Brazil: A Proposal 
 Carlos Kawall Leal Ferreira, Murilo Robotton Filho e Adriana Beltrão Dupita – NMC/PUCSP 
02/05 El Estructuralismo Latino Americano y la Filosofía de la Historia: Nuestro Pensamiento en 
Relaciones Internacionales 
 Raúl Bernal-Meza – NACI/PUCSP 
03/05 Planos Privados e Assistência à Saúde do Idoso no Brasil 
 Samuel Kilsztajn, Gustavo Toshiaki Lopes Sugahara e Erika de Souza Lopes – LES/PUCSP 
04/05 O Nacional e o Internacional na América Latina Contemporânea 
 Regina Maria A. F. Gadelha – NACI/PUCSP 
 
 
 
2004 
 
01/04 Concentração e Distribuição do Rendimento por Raça no Brasil 
Samuel Kilsztajn, Manuela Santos Nunes do Carmo, Gustavo,Toshiaki Lopes Sugahara, Erika de Souza 
Lopes e Sonia Santos Petrohilos – LES/PUCSP 
02/04 O Governo Lula, Triunfo Espetacular do Neoliberalismo 
 Carlos Eduardo Carvalho – NMC/PUCSP 
03/04 Segmentação Ocupacional dos Trabalhadores Brasileiros Segundo Raça 
 Anita Kon – EITT/PUCSP 
04/04 Doutrinas e Teorias Econômicas: Façam as suas Escolhas 
 Saulo de Tarso e Sousa – Departamento de Atuária e Métodos Quantitativos/FEA/PUCSP 
05/04 Brasil: grau-investimento? 
 Adriana Beltrão Dupita (Departamento de Economia/UNIP) e Carlos Kawall Leal Ferreira (NMC/PUCSP) 
06/04 O Componente "Custo de Oportunidade" do Spread Bancário no Brasil: Uma Abordagem Pós-
keynesiana 
 Giuliano Contento de Oliveira e Carlos Eduardo Carvalho – NMC/PUCSP 
07/04 Crises Cambiais, Finanças Públicas e Estabilidade Financeira na América Latina: Algumas Lições da 
Experiência Recente 
 Carlos Eduardo Carvalho – NMC/PUCSP 
Textos para 
discussão 
08/04 Infrastructure Services in Brazil: The Role of Public-Private Partnership (PPP) in the Water & 
Sewerage Sector 
 Frederico Araujo Turolla, Tomas Anker e Ricardo Meirelles de Faria – EESP/FGV 
09/04 Política Monetária e Alongamento da Dívida Pública: Uma Proposta para Discussão 
 Carlos Kawall Leal Ferreira, Murilo Robotton Filho e Adriana Beltrão Dupita – NMC/PUCSP 
10/04 Evolução do Comércio Agrícola Brasileiro Segundo o Valor Adicionado 
César Roberto Leite da Silva – LES/PUCSP 
11/04 Aluguel e Rendimento Domiciliar – Brasil, 2001 
 Samuel Kilsztajn, Anacláudia Rossbach, Manuela Santos Nunes do Carmo, Gustavo Toshiaki Lopes 
Sugahara e Erika de Souza Lopes – LES/PUCSP

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