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A Reutilização do Concreto PAULO CÉSAR FERREIRA DIAS FILHO1 PALOMA COLMANA MARTINS DE FIGUEIREDO2 RESUMO Os impactos ambientais e sociais causados pela disposição irregular dos entulhos de construção civil são um dos problemas afrontados atualmente. A quantidade de entulho gerado nas construções gera um custo muito alto não só no aumento final da construção, como no custo de remoção desse entulho. E, como forma de amenizar esse custo, estudos foram feitos para a reutilização desse entulho, sobre tudo do concreto de entulho. São necessárias três etapas básicas no concreto de entulho para que se tenha produtos inertes possíveis de serem reutilizados, sendo elas, o processo de quebra inicial, trituração e mistura para reutilização. As vantagens ambientais do reaproveitamento estão em reduzir as matérias- primas bases dos materiais de construção, abater a quantidade de lixo em aterros sanitários e diminuir o volume de detritos e resíduos da construção. Palavras-chave: construção civil, concreto, reutilização. 1 Acadêmico de Engenharia Civil pela Universidade Estadual da Paraíba. 2 Acadêmica de Engenharia Civil pela Universidade Estadual da Paraíba. 1 INTRODUÇÃO À primórdios, no Brasil, os entulhos de construções eram abandonados em becos, buracos e ribanceiras. Somente no século XIX, quando o Brasil sofria grandes ataques de epidemias, que as autoridades estatais e municipais vieram a se preocupar com o lixo, inclusive com o entulho de construções civis, que é o conjunto de fragmentos ou restos de tijolo, concreto, argamassa, aço, e outros materiais provenientes da construção civil e obras de demolição em geral. Somente na década de 70 que empresas estatais, juntamente com empresas Municipais passaram a se preocupar com o Saneamento (água e esgoto) das cidades. No entanto, no que se dizia respeito a entulhos de construção civil a forma de despejo ainda continuava inadequada para a sociedade e o meio ambiente. Segundo GÜNTHER (1999) era fundamental programar a minimização e o gerenciamento ambientalmente adequado dos resíduos, com participação da sociedade na busca de soluções, visando à redução dos riscos sanitários e ambientais, à melhoria da qualidade de vida e da saúde das populações e ao desenvolvimento sustentável. Com o surgimento dos aterros sanitários os entulhos de construção passaram a ser direcionados para esses aterros. Mais tarde a criação de diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos provenientes da construção civil se tornou obrigatória com a publicação da Resolução CONAMA 307/2002. No dia 02 de agosto de 2012 entrou em vigor a lei n° 12305/201ª “POLÍTICA NACIONAL DE RESIDUOS SÓLIDOS – ESTABELECE DIRETRIZES PARA A GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS”. Sendo obrigatória para as empresas e administrações políticas a destinação apropriada dos resíduos sólidos, com riscos de multa para quem descumpri lá. Atualmente já se faz o reaproveitamento do concreto contido em entulhos. Esse reaproveitamento além de vantagens econômicas e ecológicas também trás beneficio técnico, podendo substituir até 25% dos agregados convencionais sem alterar as propriedades mecânicas. 2 RECICLAGEM E REUTILIZAÇÃO De acordo com algumas bibliografias, entende-se por reciclagem um processo de transformação utilizado em diversos materiais que permite os mesmos a voltarem ao seu estado original e daí transformarem-se novamente em produtos iguais com as mesmas propriedades; em outras palavras, é voltar novamente o ciclo de produção do material a partir do ponto zero até o produto final. Já o termo reutilização designa utilizar o material, já como produto, mais de uma vez sem que passe por alguma alteração ou processamento. Já esclarecido a distinção entre os dois termos pode-se exemplificar tais processos a partir de diferenças em suas aplicações como a “reciclagem” dos plásticos termoplásticos que quando aquecidos podem se fundir e quando resfriados podem se solidificar voltando a sua forma original: PVC, garrafas de refrigerante (PET), entre outros; têm-se por outro lado a “reutilização” dos plásticos do tipo termofixos que após o resfriamento e endurecimento mantêm o formato e não conseguem voltar a sua forma original mesmo que aquecidos novamente, dentre eles, embalagens plásticas metalizadas e alguns materiais utilizados na indústria eletrônica e na produção de alguns computadores, telefones e eletrodomésticos. No setor da construção civil no Brasil tem se falado muito sobre as obras sustentáveis e da valorização em alta da preservação do meio ambiente através da boa prática de reciclagem e reutilização da população e, para tanto, a reciclagem e a reutilização tornou-se uma estratégia de economia financeira. De acordo com CARELI (2010), a substituição de agregados reutilizados em vez da aplicação de agregados naturais, o preço de custo se reduz em uma média de 25 a 30 por cento. Segundo profissionais do ramo da construção, a grande sacada é que além de colaborar com o meio ambiente, a minimização de geração de resíduos ajuda também a minimizar despesas como transporte, destinação e perdas desses materiais que podem ser potencialmente reutilizados. 3 O CONCRETO De forma geral, frisando o entendimento de LARA (2010), “É o material de construção obtido pela mistura de um aglomerante, de agregados miúdos e graúdos e de água, ou seja, é a associação íntima entre um aglomerante mais um agregado miúdo, mais um agregado graúdo, mais água, além de ferragens quando armado”.3 Componente importante na obtenção do concreto o cimento Portland é o aglomerante mais utilizado. O cimento Portland é basicamente o produto da calcinação de uma mistura de calcário, composto predominantemente por CaCO3, e materiais argilosos, à base de SiO2, Al2 O3 e Fe2O3, onde também estão presentes outros constituintes secundários, como: óxido de magnésio, fosfatos, álcalis, etc. (ALVES, 1993, 194p.) Por causa dos fornos, o uso do concreto foi incipiente na década de 30 dos anos 1800. Ele foi usado principalmente em fundações. Mas, o termo concreto ficou estabelecido para designar uma massa sólida resultante da combinação de cimento, areia, água e pedras. Seu desenvolvimento ganhou impulso a partir da segunda metade do século XIX, principalmente na Alemanha, com avanços no projeto de fornos, que aumentaram a uniformidade do clínquer, e dos estudos sobre a melhor proporção da mistura para a obtenção de um clínquer mais duro. Quanto ao agregado, há duas subdivisões no qual ele pode ser classificado de acordo com o tamanho dos grãos: graúdo (pedra britada com diâmetro superior a 4,8mm) e miúdo (areias com diâmetro inferior a 4,8mm). Habitualmente é utilizada a inserção de aditivos que do ponto de vista de CALLISTER (2008) podem ser entendidas como substâncias diferentes, chamadas de aditivos, são introduzidas intencionalmente para melhorar ou modificar muitas das propriedades, e dessa forma tornar um concreto mais útil em serviço. Aditivos típicos incluem os plastificantes, retardadores, aceleradores, incorporadores de ar e surper-plastificantes. 3.1 TIPOS DE CONCRETO Em função da massa específica há três tipos de concreto, de acordo com sua mistura volumétrica, o concreto normal cuja massa específica está entre o intervalo 2000-2800kgf/m³ e é aplicado à todas obras em geral; concreto leve, massa específica menor que 1800kgf/m³, utilizado quando se deseja um boa relação resistência- peso próprio e por fim, ainda consta o 3 ASSIS, Renato Lara de. Traçosde argamassa e de concreto. Instituto federal goiano, 2012. concreto pesado que pesa em torno dos 3200khf/m³ e é utilizado em obras de blindagem de radiação. 4 RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL A resolução 307 do CONAMA – Conselho Nacional de Meio Ambiente – de 05/07/2002 define resíduos da construção civil como: “Materiais provenientes de construções, reformas, reparos e demolições de obras de construção civil e os resultantes da preparação e da escavação de terrenos, tais como: tijolos, blocos cerâmicos, concreto em geral, solo, rocha, madeira, forros, argamassa, gesso, telhas, pavimento asfáltico, vidros, plásticos, tubulações, fiação elétrica, etc., comumente chamados de entulhos de obras, caliça ou metralha”. Um exemplo próximo e conhecido da aparição de resíduos no passado são os restos das cidades destruídas na Europa no final da segunda guerra mundial, foi a primeira aparição da reutilização do concreto na reconstrução das cidades afetadas com o holocausto. Então a partir de 1946 teve-se o início da reutilização do entulho da construção civil. 4.1 TIPOS DE MATERIAIS REUTILIZADOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL O entulho de construção tem origem em três tipos de obras: construção, demolição, e reforma. Preleciona SILVA (2008) que “Nas construções o que se encontra na sua grande maioria são materiais que ainda não foram utilizados em qualquer processo da construção, normalmente em razão do desperdício resultante da própria característica artesanal da construção. Em demolições e reformas pode se encontrar os materiais já na sua forma final, tal como paredes de alvenaria e pisos revestidos, concreto armado, etc”. Tais materiais se apresentam na forma sólida, com características físicas variadas e dependem do seu processo gerador, podendo apresentar-se tanto em dimensões e geometrias já conhecidas dos materiais de construção, tanto em formato e dimensões irregulares, como pedaços de madeiras, argamassas, concretos, metais, plásticos, etc. (ZORDAN, 2001). 4.2 IMPACTOS NEGATIVOS DA MÁ DISPOSIÇÃO DOS RESÍDUOS A quantidade de resíduos da construção civil gerados atualmente no Brasil é reflexo do amplo aumento da participação do setor na economia nacional. Destacando a publicação do SindusCon – MG no que diz respeito à esse crescimento, a pesquisa revelou que o crescimento do setor na última década foi de 52,10% , o que representa um crescimento médio anual de 4,28%. Considerando os últimos 20 anos, o avanço médio anual foi de 2,82%. Entre 1994 e 2013, a construção civil brasileira cresceu 74,25%, sendo que o auge do desenvolvimento neste período foi registrado no ano de 2010, quando o PIB brasileiro da construção civil teve alta de 11,6%. Os impactos causados pela quantidade de resíduos são plenamente visíveis. O acúmulo de materiais inertes da construção civil produz impacto visual, compromete a qualidade do solo, aumenta o risco de proliferação de doenças servindo de abrigo para roedores e animais peçonhentos e, também, contaminação de lençóis freáticos. Há, ainda, o potencial poluidor de materiais tóxicos presentes nos entulhos e prejuízos na circulação de pessoas e veículos em vias e logradouros públicos. Foi consenso entre os especialistas a urgência de o estado adotar um sistema de manejo adequado dos resíduos, definindo uma política para a gestão que garanta a melhoria da qualidade de vida, promova as práticas recomendadas para a saúde pública e o saneamento ambiental. Há um conjunto de leis e políticas públicas, além de normas técnicas fundamentais na gestão dos resíduos da construção civil, contribuindo para minimizar os impactos ambientais, dentre algumas delas, Resolução CONAMA nº 307 – Gestão dos Resíduos da Construção Civil, de 5 de julho de 2002; Lei Federal nº 9605, dos Crimes Ambientais, de 12 de fevereiro de 1998; Legislações municipais referidas à Resolução CONAMA; Resíduos sólidos da construção civil e resíduos inertes - Aterros - Diretrizes para projeto, implantação e operação – NBR 15113:2004. A preocupação para a minimização de impactos gerados principalmente a partir do desperdício das obras de construção civil está expressa na Resolução CONAMA nº 307, pois se acredita que a questão do gerenciamento de resíduos está intimamente associada ao problema do desperdício de materiais e mão de obra na execução dos empreendimentos. Há importantes contribuições propiciadas por projetos e sistemas construtivos racionalizados e também por práticas de gestão da qualidade já consolidadas que ajudam a exercer a gestão do canteiro de obras. 5 APROVEITAMENTO DE RESÍDUOS DAS CONSTRUÇÕES De acordo com LEVY (1997), diversos autores alemães relatam que há notícias de obras executadas com agregados reutilizados já nas cidades do Império Romano. LEVY (1997) ainda relata que só a partir de 1928 começaram a ser desenvolvidas pesquisas de forma sistemática, para avaliar o efeito do consumo de cimento, da quantidade de água e da granulometria dos agregados. A quantidade de entulho gerada nas cidades brasileiras é muito significativa e pode servir como um indicador do desperdício de materiais. Os resíduos produzidos pela Indústria de Construção variam entre 41% e 70% da massa total de resíduos sólidos urbanos. PINTO (1987) acrescenta que “a quantidade de resíduos liberados pelas atividades construtivas nas cidades é de tal porte que, se previsto uma reutilização do material gerado, as necessidades de pavimentação de novas vias ou construção de habitações de interesse social, seriam totalmente satisfeitas”. A reutilização de materiais da construção civil trata de transformar os resíduos das obras, normalmente encarados como entulhos, em produtos comerciais que possam ser novamente utilizados. Com isso, criar oportunidades de reuso e reciclagem que se traduzam em sustentabilidade social e ambiental. Ao entendimento de SILVEIRA (2012), A reutilização de materiais é, na verdade, aproveitar resíduos de demolição, em novas edificações. Em geral, quase todas as atividades desenvolvidas na construção civil geram resíduos sólidos e isto se remete, novamente, ao alto índice de perdas durante o processo construtivo e da falta de hábito da população de reutilizar. A reutilização de blocos de concreto e demais materiais resultantes da reforma ou demolição é possível obter agregados com características semelhantes ao produto original. Afirma ainda LEVY (1997) que “a contribuição para o meio ambiente é grande, pois deixa de extrair recursos naturais, assim reduzindo o impacto ambiental”. 5.1 PROCESSO DE REUTILIZAÇÃO DO CONCRETO Para que o concreto de demolição ou reforma de algumas obras seja reutilizado é necessário, previamente, que se obedeça a uma ordenação de etapas a cumprir. São essas etapas que tornaram os blocos de concreto propícios para sua determinada finalidade também previamente definida. São necessárias três etapas básicas para que se tenha produtos inertes possíveis de serem reutilizados, à saber, processo de quebra inicial, trituração e mistura para reutilização. Na etapa da quebra inicial, o concreto é primeiramente quebrado através de técnicas tradicionais de demolição, incluindo britadeiras, bolas de demolição e explosivos. Ele é reduzido em pedaços que variam de 75 a 120 cm. Esses pedaços devem estar livres de contaminantes maiores como lixo, madeira, vidro e outros materiais. Este concreto já quebrado é levado às centrais de reciclagem em caminhões grandes ou até mesmo máquinas portáteis são trazidas à área de demolição para realizar o processo de reciclagem no local. Após passar pelo processo de quebra inicial o concreto passa por outro processo no qualos resíduos são triturados em um equipamento com várias lâminas, onde o resultado é uma mistura que parece com areia, mas é um pouco mais grossa, que será empregada na produção do um novo concreto. Nesta etapa, é utilizado um equipamento (triturador de entulho) sob medida, fabricado de acordo com a necessidade da empresa, que é uma solução sustentável, pois proporciona a eliminação de resíduo combinada com a reciclagem. O agregado de concreto reciclado é misturado com o agregado de concreto virgem, areia, água e cimento para fazer concreto fresco. O concreto com material reciclado é geralmente usado como camada de base para projetos de construção, contudo, não existem especificações dizendo onde o concreto reciclado pode ou não ser usado. O agregado de concreto reciclado é mais leve e forte do que o agregado virgem e ajuda a minimizar os custos e o impacto ambiental da construção. 5.2 BENEFÍCIOS DA REUTILIZAÇÃO Em algumas situações, os resultados alcançados pelos concretos reciclados chegaram até mesmo a superar os resultados obtidos pelo concreto convencional. Estudos dizem que o uso do entulho de concreto como agregado é perfeitamente viável, desde que ele passe por um processo de beneficiamento e seleção, para que seja retirada a parte não desejada, melhorando a qualidade do material. As vantagens ambientais do reaproveitamento estão em reduzir as matérias-primas bases dos materiais de construção, abater a quantidade de lixo em aterros sanitários e diminuir o volume de detritos e resíduos da construção. Estas ações, com certeza, diminuirão a poluição das cidades. 6 CONCIDERAÇÕES FINAIS Considerando os problemas sociais e ambientais gerados pelo gerenciamento inadequado do entulho, sobre tudo do concreto de entulho, se observa que a solução mais apropriada e sustentável para esse problema é a da reutilização desse concreto. A reutilização do concreto contribui para a preservação do meio ambiente e consequentemente para a melhoria da qualidade de vida da população, além de reduzir gastos públicos, entretanto, para que o processo de reutilização seja de total eficiência e eficácia, é necessário um acompanhamento no sistema de reutilização, buscando solucionar falhas e sendo feito estudos para a melhoria da utilização desse concreto. 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CALLISTER, Jr., WILLIAM, D. Ciência e engenharia de materiais: uma introdução. Rio de Janeiro: LTC, 2008. LEVY, S.M. Reciclagem do entulho da construção civil, para utilização com agregados para argamassa e concretos.147p. Dissertação (Mestrado)- Departamento de Engenharia de Construção Civil, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1997. PINTO, Tarcísio de Paula. Entulho de Construção: Problema Urbano que Pode Gerar Soluções. Construção, São Paulo, Ed. Pini , nº 2325, ago. 1992. ZORDAN, S. E. Entulho da indústria da construção civil. Texto técnico. Disponível em:<http://www.reciclagem.pcc.usp.br/entulhoindcivil.htm>, acesso em janeiro/2015.
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