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Ingresso no ensino superior: Fatores e processos de escolha de jovens de classes menos favorecidas

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UNIVERSIDADE DE SÃO CAETANO DO SUL
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM DOCÊNCIA 
DO ENSINO SUPERIOR
INGRESSO NO ENSINO SUPERIOR: FATORES E PROCESSO DE ESCOLHA DE JOVENS DE CLASSES MENOS FAVORECIDAS
Vera Lúcia Salles
Orientador: Profa. Ms. Sandra Maria Tedeschi
Endereço para correspondência:
Av. Eng. Armando de Arruda Pereira, 1852 – Casa 3 
Jabaquara – São Paulo - SP
CEP 04308-001
verasalles@uol.com.br
São Caetano do Sul - SP
2015
Ingresso no ensino superior: Fatores e processos de escolha de jovens de classes menos favorecidas
Vera Lúcia Salles
Sandra Maria Tedeschi 
Universidade São Caetano do Sul
RESUMO
Este trabalho pretende mapear as informações disponíveis em resumos, artigos científicos, teses e dissertações, sobre os fatores que influenciam e direcionam a decisão de jovens com baixo poder aquisitivo, quando da escolha do curso a ser seguido no ensino superior. Verificam-se uma série de barreiras e dificuldades a serem transpostas por estes jovens, que mesmo depois de vencidas com muito esforço pessoal e dedicação, ainda serão afetados por sua condição social e econômica. Este estudo nos mostra a necessidade do desenvolvimento de políticas de inclusão social e de apoio para este grupo de jovens, evitando-se assim a perda de talentos.
Palavras-Chave: baixa renda; profissionalização; escolha; barreiras.
ABSTRACT
This paper aims to map the information available in abstracts , papers , theses and dissertations on the factors that influence and direct the youth decision with low purchasing power , when choosing the course to pursue higher education. A number of barriers and difficulties are found to be overcome by these young people, who even after won with much personal effort and dedication , will still be affected by their social and economic status . This study shows the need to develop social inclusion policies and support for this group of young people, thus avoiding the loss of talent.
Keywords: low income; professionalization; choice; barriers.
INTRODUÇÃO 
Nosso cotidiano é composto por escolhas, que no decorrer do tempo vão delinear a trajetória de nossas vidas. 
No início de nossa existência ingressamos na escola, ou não, por decisão de nossos pais ou do estado. Depois, seguimos para o fundamental e para o ensino médio, numa evolução lógica. Nesta fase, o que está sob nossa decisão é dedicar-se ou não aos estudos. Essa é uma decisão que, apesar de ainda não sabermos o motivo, irá marcar nosso futuro.
Ao chegarmos no ensino superior a situação muda e, teoricamente, a escolha está em nossas mãos. Alguns, ainda criança, se questionados sobre ‘o que querem ser quando crescer’, respondem sem sombras de dúvidas e perseguem este sonho até a idade adulta. A grande maioria porém, vai mudando suas expectativas e preferências a medida que aumenta seu autoconhecimento, sua bagagem educacional, informacional, cultural e sua interação social, o que lhe permite uma melhor percepção do mundo que o cerca (MORETTO, 2003, p. 16).
Com bases nessas reflexões este trabalho se propõe a, dentro do universo dos que chegam ao ensino superior público, analisar os caminhos, as decisões, as dificuldades e os processos que levam indivíduos oriundos de classes menos favorecidas, que até então estudaram predominantemente em escolas públicas, a decidir-se por esta ou aquela carreira e a disputar uma vaga numa instituição de ensino superior público. 
Ao analisarmos as dúvidas e dificuldades que permearam seu caminho até o ensino superior e como veem o presente e o futuro, podemos perceber a nítida separação entre sonho e realidade, entre o possível e o imaginável, na medida em que sua condição social, delineia e define suas aspirações.
O objetivo deste trabalho foi realizar uma revisão dos resumos, artigos científicos, teses e dissertações, publicados sobre o universo de jovens vindos de escolas públicas, com famílias de baixa renda, que não valorizam a educação formal e que ao final do ensino médio, precisam trabalhar para se sustentar.
REVISÃO DE LITERATURA
Ao analisarmos os dados divulgados pelo IBGE, através dos Resultados Gerais de Amostra do Censo 2010, constatamos que pouco mais da metade (58,5%) dos concluintes do ensino médio no Brasil, chegam a terminar também o ensino superior e que destes, apenas 10,7% pertencem a classes sociais menos favorecidas. Isso nos leva a questionar o porquê de percentuais tão baixos? O que acontece com estes jovens, para que deixem de evoluir nos seus estudos?
Ao buscarmos informações sobre o assunto, encontramos pesquisas na área da educação que nos mostram diferentes faces da questão, porém a literatura referente a esse tema, na maioria das vezes, não fornece uma visão unificada deste momento do estudante.
Assim, o objetivo do presente trabalho foi realizar uma revisão da produção científica nos trabalhos publicados, por meio de pesquisas em resumos e artigos científicos, teses e dissertações sobre o acesso de jovens de classes menos favorecidas ao ensino superior, buscando identificar as intervenções positivas e negativas neste processo de escolha da continuação ou não de seus estudos, bem como da escolha da carreira a seguir. A revisão da literatura visou mapear os estudos que têm sido feitos na área e buscou fornecer uma linha do tempo da jornada destes estudantes.
Definição de “classes menos favorecidas”
Conforme publicado no site do Centro de excelência em varejo da Fundação Getúlio Vargas (CEV FGV), no item “Programa de Baixa Renda - Artigos”, ainda não há um consenso quanto a definição de baixa renda. Para Prahalad e Hart (PRAHALAD; HART, 2002; PRAHALAD, 2005), “baixa renda” são pessoas que vivem com menos de US$2 por dia, enquanto para a UNDP (United Nations Development Programme) considera-se deste grupo quem vive com menos de US$8 por dia.
No Brasil, a corrente principal afirma que a baixa renda é composta pelas classes C, D e E, que de acordo com a ABEP (2015), Associação Brasileira de Empresas de Pesquisas, a renda média domiciliar estaria em até 3 salários mínimos mensais (R$ 2.409,01) e que representam 74% do total da população brasileira.
Importante ressaltar que definir baixa renda não depende apenas de determinar quanto dinheiro as pessoas ganham, mas também o estilo de vida que levam e os valores que atribuem a diferentes aspectos da vida. 
Nosso recorte trata de jovens vindos de escolas públicas, com famílias pertencentes a categoria “baixa renda”, que não reconhecem a educação formal como forma de melhoria da qualidade de vida, sem o hábito da leitura ou do estudo, e que, ao final do ensino médio, precisam trabalhar para se sustentar.
A pirâmide de Maslow e a teoria do capital humano
O ser humano é motivado por necessidades. São elas que nos fazem enfrentar desafios e superar quaisquer tipos e graus de dificuldades. As necessidades mais básicas são inatas, tendo evoluindo ao longo de milhares de anos, outras porém foram sendo criadas durante a evolução da civilização. 
A Hierarquia de Necessidades, criada dentro da Teoria das Necessidades de Abraham Maslow (1908-1970), é representada através de uma pirâmide com cinco níveis, que nos mostra os diferentes tipos de necessidades que impulsionam nossas vidas, sendo que as necessidades da base da pirâmide precisam ser satisfeitas antes das do topo. 
Figura 1 - CEDET – Centro de Desenvolvimento Profissional e Tecnológico, 2009
Na base da pirâmide estão as necessidades fisiológicas, relacionadas à sobrevivência do organismo, como alimentação, sono, abrigo, água, excreção e outros. Se não as satisfizermos, não conseguiremos nos manter vivos e saudáveis. 
A seguir, estão as ligadas a segurança, que englobam segurança e estabilidade, como proteção contra a violência, proteção para saúde, recursos financeiros e outros. A satisfação destas necessidades, faz com que vivamos com mais tranquilidade ao garantir a continuidade de satisfação das do nível anterior.
O próximo nível da pirâmide, nos apresenta as necessidadessociais, tais como a necessidades de manter relações humanas harmônicas, sentir-se parte de um grupo, receber carinho e afeto de familiares, amigos e parceiros. A realização destes objetivos é facilitada pela satisfação do nível anterior.
Depois vêm as necessidades de estima, que é o reconhecimento das nossas capacidades, de sentir-se digno, por nós mesmos e pelos outros, com prestígio e reconhecimento e finalmente, no topo, estão as de crescimento e de autorrealização, que incluem a realização, aproveitar todo o potencial próprio, ser aquilo que se pode ser, fazer o que a pessoa gosta e é capaz de conseguir, ter autonomia, a independência e o autocontrole, necessidade de influenciar nas decisões. Estes dois últimos níveis estão intimamente ligados ao estudo e a ascensão profissional (MASLOW, 1962).
O universo de jovens aqui analisados pertencem a classes sociais ainda preocupadas em garantir as necessidades de segurança, mas que almejam alcançar as satisfações dos níveis acima.
Conforme a teoria do capital humano, desenvolvida no final da década 50 por Theodore W. Schultz, as pessoas investem em si mesmas (estudo) como uma maneira de tornarem-se mais atraentes ao mercado de trabalho, o que é sinônimo de melhores salários e maiores oportunidades de trabalho (VIANA e LIMA, 2010 apud BECKER, 1993). 
Conforme ressalta Moretto (2002, p. 18), a educação passou a representar o “insumo vital” para o indivíduo e destaca ainda, que há uma relação direta entre educação e rendimentos percebidos, bem como uma menor taxa de desemprego (apud BECKER, 1983).
Com a expansão do ensino médio durante a década de 90, uma camada antes excluída da população passou a ser atendida, gerando a popularização do certificado de conclusão do ensino médio, que empurrou as barreiras seletivas da educação para o ensino superior (BACCHETTO, 2003, p. 17).
Ensino médio público x privado
Com relação ao ensino médio público, como define Krawczk ( 2011, p. 5): 
Para além dos desafios da universalização do acesso e da igualdade de oportunidades educacionais, também permanecem desafios referentes aos conteúdos a serem ensinados, à formação e remuneração dos professores, às condições de infraestrutura e gestão escolar, aos investimentos públicos realizados, entre outros. 
E complementa Vasconcelos e Lima (2004, p. 3):
Sabe-se que a qualidade do ensino médio nas escolas públicas brasileiras apresenta-se comprometido, devido a obstáculos de natureza diversa e altamente complexa. [...]. Tantos problemas reduzem a “competitividade” do aluno proveniente de escola pública em comparação a seu colega de escola particular.
Estudos do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB, 2014), disponibilizado no site do INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, mostra a distância entre a eficiência do ensino público e privado brasileiro, chega a 2,3 no ensino médio. 
Como coloca Alvarenga (et al. 2012, p. 57) :
[...] esta desigualdade, conforme as metas estipuladas para 2021, tende a continuar, na ordem de 2,2, o que significa que os alunos de ensino público brasileiro continuarão em condição de desvantagem perante seus concorrentes do ensino privado ao disputar uma vaga no vestibular. 
Fatores e processos de escolha
Ingressar em uma universidade, e sua consequente profissionalização, representa para muitos jovens, um grande passo para inserção no mercado de trabalho, cada vez mais competitivo, o que lhes permitirá escapar da pobreza, da baixa qualificação e da marginalização.
Oriundos de escolas públicas, com um déficit educacional significativo, muitos poderiam pensar que a grande dificuldade para entrar numa universidade pública seria o vestibular, onde a relação candidato-vaga chega a 55 por vaga (FUVEST 2015), mas ao mapear as informações disponíveis em resumos, artigos científicos, teses e dissertações verifica-se que esta é apenas uma das muitas barreiras que podem impedir um jovem de classe econômica menos favorecida, de chegar a uma universidade pública. 
Para facilitar a compreensão do processo, vamos numerar as barreiras pela ordem que elas vão se apresentando para o estudante. Assim, a primeira grande barreira, conforme nos aponta Alvarenga (et al. 2012) é a falta de informação e de perspectiva com relação ao futuro.
Basicamente explicam os autores, que os alunos de escola pública tem a cultura de que não é possível passar pelo vestibular, de que não adianta nem tentar disputar uma vaga nas universidades públicas e que estes jovens também não são incentivados aos estudos pela família, cujos membros provavelmente não passaram por uma universidade e que a escola pública por sua vez, não incentiva seus alunos a participarem de processos seletivos, nem procura despertar neles a motivação para tentar competir e não tem o hábito de alertá-los para os calendários dos vestibulares.
Alvarenga (et al., 2012, p. 3) coloca que, os principais benefícios dos alunos de escola particular são: 
a) o fato de estarem previamente decididos a se inscreverem nos vestibulares a fim de tentar o ingresso; 
b) o fato de estarem informados sobre os vestibulares de diferentes universidades; 
c) o fato da estrutura educacional pública básica não incentivar seus alunos a tentar o ingresso nas universidades; 
d) as vantagens econômicas e sociais, consequentes da desigualdade social, que estes alunos dispõem (ORTEGA, 2001).
A seguir, conforme nos indica Bacchetto (2003) temos a barreira financeira, pois por pertencerem a uma parcela da população mais carente de recursos, muitos não conseguem pagar um curso pré-vestibular, ou cursinho, para tentar compensar o déficit educacional que possuem. 
Uma alternativa, conforme Bacchetto (2003), são os cursinhos pré-vestibulares de caráter comunitários, criados na década 90, como um caminho para os jovens que não podem pagar por um reforço para chegar à universidade. Alguns destes cursinhos vieram de movimentos sociais urbanos, engajados no processo de luta pela igualdade social e ao acesso ao ensino superior no país. Uns são administrados por instituições sem fins lucrativos e outros são mantidos pelas próprias universidades públicas.
Além de ministrarem o cursinho em si, estas instituições entenderam que para atingir a igualdade no acesso ao Ensino Superior, não poderiam se restringir apenas ao nivelamento dos conhecimentos e apresentaram diversas propostas para superar os obstáculos detectados no caminho rumo à igualdade. Entre elas temos a isenção da taxa de inscrição nos vestibulares e Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), atualmente usado como processo seletivo por algumas universidades. Também defenderam o sistema de reserva de vagas (cotas) para estudantes que cursaram escolas públicas e afrodescendentes (BACCHETTO, 2003).
A barreira seguinte a ser vencida, conforme nos colocada por Bacchetto (2003) e Alvarenga (et al. 2012) é acompanhar o ritmo do cursinho. A maioria dos estudantes de cursinhos alternativos trabalha em período integral, fazendo o cursinho no período noturno. Apesar do cansaço, precisam aprender em um único ano, o que não foi aprendido, ou nem ensinado, em todo o ensino fundamental e médio. A velocidade com que a informação é passada e o grau de exigência, é muito diferente do que está acostumado em uma escola pública, pedindo uma adaptação muito grande e rápida do estudante.
Relatórios do INEP que avaliam o desempenho de estudantes do ensino médio, baseados em dados do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB), apontam que o perfil dos alunos classificados como com desempenho “crítico” ou “muito crítico” em português e matemática: “76% estão matriculados no ensino noturno, 48% conciliam trabalho e estudo, 84% estão acima da idade considerada ideal e, mais importante, 96% estudam em escolas públicas” (ALVARENGA, et al. 2012, p.9). 
Sendo português e matemática a base da aquisição de conhecimentos, são as ciências que abrem as portas para o entendimento das demais, vemos que estes alunos tem um grande desafio a vencer no ano docursinho. 
Vencida as barreiras anteriores, vem a decisão sobre para qual carreira prestar o vestibular. Ao analisar as notas de corte do ano anterior, muitos destes estudantes não se arriscam a prestar para as carreiras de maior prestígio social, para as quais a concorrência para o ingresso é ainda mais alta que as demais.
Segundo Braga (et al. 2001, p. 1), para argumentar: 
[...] uma nítida seletividade social associada à escolha da carreira: alguns cursos, de elevado prestígio social, para os quais a aprovação exige notas maiores, são preferidos pelos candidatos da classe média alta, enquanto os pertencentes aos estratos sociais menos favorecidos optam geralmente por outros cursos nos quais a aprovação pode ser alcançada com desempenho mediano.
Outros fatores decisórios, como cita Alvarenga (et al. 2012), é a disponibilidade do curso desejado no período noturno e o tempo de duração, considerando que muitos destes jovens trabalham em período integral e participam da renda familiar, bem como a urgência em se profissionalizar, para escaparem da pobreza, baixa qualificação e marginalização.
Finalmente, chegando ao vestibular propriamente dito, conforme publicado pela Assessoria de Imprensa da USP (2014) o número de ingressantes vindos de escolas públicas cresceu quatro pontos percentuais em relação ao ano anterior, passando de 28,5% para 32,3%. Neste mesmo vestibular, dos inscritos 39,4% declararam que estudaram em escolas públicas e 27,8% declararam renda familiar inferior a 3 salários mínimos mensais. Os dados disponíveis não nos permite afirmar quantos destes estudantes com renda familiar inferior a 3 salários mínimos vem de escola pública. 
Notamos, que vencidas todas as barreiras citadas, os alunos de escola pública que chegam ao vestibular, tem um desempenho pouco inferior aos vindos de escolas particulares (39% de inscritos, para 32% aprovados), mas vale lembrar que estamos comparando grupos com características pessoais totalmente distintas. 
Comparamos um estudante comum da rede privada, com estudantes excepcionais da rede pública, extremamente motivados e dedicados, que venceram diversas barreiras associadas a sua condição social e econômica. 
Uma vez dentro da Universidade uma nova dificuldade se apresenta: a de acompanhar os colegas e se formar. A permanência desses estudantes dentro da instituição ainda parece ser um dos grandes desafios, visto que os cursinhos, tanto alternativos como particulares, preparam o aluno para o vestibular, usando métodos de associação de palavras chaves (músicas, versos, frases), exaustiva repetição de testes (simulados) e decorar conteúdos, com o objetivo especifico de que o aluno passe no vestibular.
 Conforme coloca Bacchetto (2003, p. 11): “Os cursinhos consistem em organizações específicas de treinamento para o exame de acesso ao Ensino Superior [...]”, o que contrasta com a definição de aprendizagem, pois ainda que o educador utilize de todos os recursos de transmissão de informações disponíveis, aulas, exercícios, livros e apostilas, se o aluno não contextualizar o novo conhecimento, não o associar a conhecimentos anteriores, se não promover uma mudança de comportamento, de como o aluno vê e entende o mundo, então não houve a aprendizagem. Isso nem sempre acontece com as informações passadas pelos cursinhos. 
Os cálculos matemáticos, leitura e escrita são as atividades de maior dificuldade de aprendizado e envolvem conteúdos básicos (conceituais, procedimentais e atitudinais) que deveriam ser ensinados em todo o ensino médio, provavelmente vistos pelos estudantes de escola privada e omitidas pelo ensino público (ALVARENGA, et al. 2012, p. 14). 
As matérias iniciais do curso são as que exigem o conteúdo do ensino médio, e neste momento de introdução, o aluno proveniente de escola pública terá de ter uma dedicação maior para compensar seu déficit educacional. Vencido este período, e como falamos de alunos altamente motivados, comprometidos e dedicados, as diferenças tendem a desaparecer. 
Veja na tabela abaixo, por exemplo, a média dos coeficientes de rendimento acadêmico dos alunos da UFLA no período de 2005 a 2010.
	
	Agronomia
	Engenharia Florestal
	Medicina Veterinária
	Engenharia de Alimentos
	Ciência da Computação
	Público
	68,8
	70,6
	72,3
	72,0
	67,0
	Privado
	63,5
	68,6
	70,1
	74,2
	64,7
	
	Administração
	Ciências Biológicas
	Química
	Engenharia Agrícola
	Zootecnia
	Público
	74,5
	73,9
	70,4
	63,4
	62,5
	Privado
	75,5
	74,2
	66,7
	60,8
	61,1
Tabela 1 - Fonte: Desafios do ensino superior para estudantes de escola pública: um estudo na UFLA (Alvarenga, et al., 2012, p. 7)
CONCLUSÃO
Nosso ponto de partida foi o jovem, concluinte do ensino médio regular, pertencente a classes sócias denominadas D e E, que tem um sonho: Cursar o ensino superior numa universidade pública.
Como este sonho nem sempre é compartilhado pela família ou pelos amigos, cabe a ele uma série de desafios, ou barreiras, a serem superados, mas não é impossível, porém exigem muitas renúncias e uma dedicação impar. 
A revisão apontou a necessidade de um maior acompanhamento e estudos desta parte importante da população estudantil, que por suas características de automotivação, senso de responsabilidade e força pessoal, formam uma promessa de excelente capital humano para o pais. 
É importante ressaltar que a descoberta de que alunos de escola pública e privada apresentam coeficientes de rendimentos acadêmicos semelhantes não deve nos levar a concluir que os estudantes do ensino público não encontram dificuldades após seu ingresso na universidade. Nesse sentido, perguntamos se estes resultados são obtidos a partir dos mesmos esforços e práticas e, quais outros desafios podem permear a trajetória desses estudantes.
Como nos coloca Nascimento (2009, apud JEOLAS, 2002, p.60):
Esses jovens não deixaram de sonhar, de fazer projetos para o futuro e criar expectativas de trabalhar naquilo que gostam, mas, na incerteza de poder realizá-lo, tentam adaptar-se a realidade, aprendendo a gostar do que fazem.
Neste contexto, surge a necessidade de se fazerem mais pesquisas sobre a vida deste jovem após a conclusão do ensino superior. Quais serão os novos desafios que se apresentaram? Como competirão dentro das organizações, por uma ascensão na carreira onde, por exemplo, experiências no exterior e fluência em outros idiomas são altamente valorizadas?
REFERÊNCIAS
ALVARENGA, C. F., et al. Desafios do Ensino Superior para Estudantes de Escola Pública: Um estudo na UFLA. Revista Pensamento Contemporâneo em Administração, Rio de Janeiro, v.6*n.1, p. 55-71, jan.-mar./2012.
BACCHETTO, J. G. Cursinhos Pré-Vestibulares Alternativos no Município de São Paulo (1991-2000): A Luta pela Igualdade no Acesso ao Ensino Superior. 2003, 170 p. Dissertação (Mestrado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo.
BRAGA, M. M., et al. Tendências da Demanda pelo Ensino Superior: Estudo de Caso da UFMG. Scielo Cadernos de Pesquisa, Minas Gerais, n. 113, p. 129-152, jul./2001.
KRAWCZYK, N. Reflexão sobre alguns desafios do ensino médio no Brasil hoje. Scielo Cadernos de Pesquisa, São Paulo, vol.41 no.144, set.-dez./2011.
MASLOW, A. Introdução à psicologia do ser, Rio de Janeiro, Eldorado, 1962.
MORETTO, C. F. Ensino Superior, Escolha e Racionalidade: Os processos de Decisão dos Universitários do Município de São Paulo. 2003, 201 p. Tese (Doutorado em Teoria Economica) – Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Universidade de São Paulo, São Paulo.
NASCIMENTO, E. P. Jovens e Educação Superior: As aspirações de Estudantes de cursos pré-vestibulares populares. 2009, 150 p. Dissertação (Mestrado em Sociologia da Educação) - Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo.
PRAHALAD, C.K. A riqueza na base da pirâmide: erradicando a pobreza com o lucro. Porto Alegre: Bookman, 2005.
VASCONCELOS, S. D.; LIMA, K. E. C. Inclusão social e acesso às Universidades Públicas: oprograma Professores do Terceiro Milênio. Fundação Carlos Chagas, Estudos em Avaliação Educacional, São Paulo, n. 29, p. 67-86, jan.-jun./ 2004.
VIANA, G., LIMA, J. F. Capital humano e crescimento econômico. Scielo Interações (Campo Grande), Campo Grande, vol.11 n.2, p. 137-148, jul.-dez./2010.
A Hierarquia das Necessidades de Maslow – Pirâmide de Maslow, disponível em < http://www.cedet.com.br/index.php?/Tutoriais/Gestao-da-Qualidade/a-hierarquia-das-necessidades-de-maslow-piramide-de-maslow.html >, acesso em: 23 mar.2015.
IBGE - Resultados Gerais da Amostra do Censo 2010, disponível em <ftp://ftp.ibge.gov.br/Censos/Censo_Demografico_2010/Resultados_Gerais_da_Amostra/tab5.pdf> e < http://censo2010.ibge.gov.br/noticias-censo?id=1&idnoticia=2296&t=censo-2010-mulheres-sao-mais-instruidas-que-homens-ampliam-nivel-ocupacao&view=noticia>, acesso em: 09 mai.2015.
Projeções para o BRASIL – IDEB Resultados e Metas, disponível em <http://ideb.inep.gov.br/resultado/resultado/resultadoBrasil.seam?cid=9837064>, acesso em: 23 mar.2015.
Vestibular FUVEST 2014 – Estatísticas, disponível em <http://www.fuvest.br/estat/qase.html?anofuv=2014>, acesso em: 23 mar.2015.
Critério Brasil 2015, disponível em <http://www.abep.org/, acesso em: 23 mar.2015.
Termo de Autorização para Publicação Eletrônica em Biblioteca Digital
Na qualidade de titular dos direitos de autor da publicação, autorizo a Universidade Municipal de São Caetano do Sul – USCS, a disponibilizar gratuitamente, sem ressarcimento dos direitos autorais, conforme permissões assinadas do documento, em meio eletrônico, na Rede Mundial de Computadores, no formato especificado¹, para fins de leitura, impressão e/ou download pela Internet, a título de divulgação da produção científica gerada pela Universidade, a partir desta data.
Identificação do material bibliográfico: [ ] Tese [ ] Dissertação [ ] Monografia [X] TCC (artigo)
2. Identificação do documento/autor:
Título do Trabalho: Ingresso no ensino superior: Fatores e processos de escolha de jovens de classes menos favorecidas
Palavra-chave:
Autor:
RG: 6.880.458-1 CPF: 882.492.048-91 e-mail: verasalles@uol.com.br
Orientador: Prof.ª Ms. Sandra Maria Tedeschi
Nº de páginas: 19
Data de entrega do arquivo: 04/03/2015
3. Informações de acesso ao documento:
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