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SERVIÇO SOCIAL E TERCEIRO SETOR: Relações Reais e Relações Possíveis

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1 
Petrópolis 
2010 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ROBERTO NOVAES XAVIER DE LIMA 
 
 
 
 
A obra Serviço Social e Terceiro Setor de Roberto Novaes Xavier de Lima foi licenciada com 
uma LicençaCreative Commons - Atribuição - Obras Derivadas Proibidas 3.0 Não Adaptada. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SISTEMA DE ENSINO PRESENCIAL CONECTADO 
SERVIÇO SOCIAL 
SERVIÇO SOCIAL E TERCEIRO SETOR: 
Relações Reais e Relações Possíveis 
 
 2 
Petrópolis 
2010 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SERVIÇO SOCIAL E TERCEIRO SETOR: 
Relações Reais e Relações Possíveis 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à 
Universidade Norte do Paraná - UNOPAR, como 
requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel 
em Serviço Social. 
 
Orientadora: Professora Amanda Boza Gonçalves. 
 
ROBERTO NOVAES XAVIER DE LIMA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 3 
 
Londrina, _____de ___________de 20___. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho à memória de meu pai. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 4 
AGRADECIMENTOS 
À minha esposa, Maria da Paz e meus filhos, Gabriel e Daniel, por 
não me deixarem esquecer a raiz dos meus porquês; 
À minha mãe, Barbara e seu namorido André, pelo apoio e 
motivação constantes e pela rica diversidade de métodos proporcionada; 
À minha irmã, Carol e seu marido Alexandre, por tudo, mas, em 
especial, pelo carinho incondicional comigo e com os meus; 
À Tia Zó e Tio Zé, aos primos Chico e André, pelo apreço à Filosofia, 
além do carinho com os budingas; 
Aos meus amigos, colegas, profissionais e professores (não dá mais 
pra saber quem é o quê): Marcelo Prata, Monica Duriez, Érika Rangel, Andrea 
Teixeira, Deborah Soares, Mirene Abreu, Tamires Ferreira, Marisa Gonçalves e 
Adriana Montenegro, pela mais genuína, frutífera e prazerosa relação de troca de 
saberes e experiências; 
À Seu Júlio e Sandra, Zenilda, Deuza, Ritinha, Dona Maria dos 
Remédios, Dona Tininha, Seu Serranu e toda a Família Serranu, exemplos de 
militância social legítima, fé no trabalho e no ser humano. Amigos e companheiros, 
portanto. O jogo vai virar! 
Às instituições estudadas, aqui representadas por atores de seus 
contextos, sejam usuários, colaboradores, profissionais e estagiários, financiadores 
e dirigentes, atuais e passados que, involuntariamente ou corajosamente, prestaram 
valiosas informações, sem as quais, este trabalho não passaria de coletânea de 
considerações unilaterais inúteis aos seus propósitos; 
A uma instituição, o particular agradecimento pela oportunidade do 
mais duro (e rico) método de ensino-aprendizagem; pelo tenso, constante, invasivo e 
conflituoso ambiente de trabalho proporcionado ao longo de nove anos de trabalho 
voluntário e outros três anos de atuação profissional; 
Aos Professores Sérgio Barboza, João Vicente Ferreira, Edna 
Braun, Francielle Bogado, Maria Ângela Santini, Daniela Sikorski, Silmeri Rossi, 
Adarly Goes e demais profissionais da Unopar, em Londrina, pela excelência em 
 5 
suas atuações e compromisso com a formação acadêmica. 
Em especial, à Professora Amanda Boza Gonçalves, pela paciência 
e perspicácia nas orientações. 
 6 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Estamos nos construindo na luta para florescer 
amanhã como uma nova civilização, mestiça e 
tropical, orgulhosa de si mesma. Mais alegre, 
porque mais sofrida. Melhor, porque incorpora 
em si mais humanidades. Mais generosa, 
porque aberta à convivência com todas as 
raças e todas as culturas e porque assentada 
na mais bela província da Terra. 
 
 
Darcy Ribeiro 
 
 
 
 
 
 7 
NOVAES XAVIER DE LIMA, Roberto. Serviço social e terceiro setor: relações 
reais e relações possíveis. 2010. 51 páginas. Trabalho de Conclusão de Curso 
(Graduação em Serviço Social) – Centro de Ciências Empresariais e Sociais 
Aplicadas, Universidade Norte do Paraná, Petrópolis, 2010. 
RESUMO 
O presente estudo tem por objetivo geral, refletir sobre as relações presentes e as 
relações possíveis entre o Serviço Social e o Terceiro Setor, com ênfase nas 
funções gerenciais, a partir de pesquisa realizada sobre a atuação de três 
instituições da Baixada Fluminense e Região Serrana do estado do Rio. A análise foi 
construída a partir de pesquisas bibliográficas de diversos autores, além de 
relatórios de atividades de algumas instituições e da legislação pertinente. 
Concomitantemente, este estudo realizou entrevistas, compostas de questionário 
aberto, com dirigentes, colaboradores e usuários dos serviços prestados pelas três 
entidades avaliadas, mantendo inclusive os solecismos originais, além de pesquisa 
empírica, de caráter qualitativo e apreensões tomadas a partir das vivências do 
campo de estágio, além de observações e análises construídas durante três anos de 
atuação profissional em uma destas instituições. A reflexão, presente em todo o 
processo de construção deste esforço, se efetivou, com maior relevância sobre 
aspectos pertinentes à formação acadêmica e qualificação profissional, caráter 
autoritário do poder institucional, desempenho geral das entidades, novas 
alternativas de configuração do trabalho do assistente social, além de reflexões 
sobre as relações entre os saberes acadêmicos e populares, construídos a partir de 
diálogos horizontais. 
 
Palavras-chave: Assistente Social. Terceiro Setor. Gestão social. 
 
 
 
 
 
 
 
 8 
NOVAES XAVIER DE LIMA, Roberto. Social service and nonprofit sector: real 
relations and possible relations. 2010. 51 pages. Completion of course work 
(Bachelor's Degree in Social Work) - Centre for Applied Business and Social 
Sciences, University of Northern Parana, Petropolis, 2010. 
ABSTRACT 
This study aims to generally reflect on the present relationship and the possible 
relationships between Social Work and the Third Sector, with emphasis on 
managerial functions, from research conducted on the performance of three 
institutions in the Baixada Fluminense and mountainous region of the state Rio's 
analysis was constructed from literature searches of several authors, as well as 
reports of activities of some institutions and the relevant legislation. Concomitantly, 
this study conducted interviews, questionnaire composed of open, managers, 
developers and users of services provided by the three bodies found, including 
keeping the original solecisms, and empirical research, qualitative and seizures made 
from the experiences of the field stage, as well as observations and analysis built 
during three years of practice in one of these institutions. The thinking in this whole 
process of construction of this effort came to fruition, with greater emphasis on 
aspects relevant to the academic and professional qualification, authoritarian 
character of institutional power overall performance of the entities, new alternative 
configuration of the work of social workers, and reflections on the relationship 
between academic and popular knowledge, built from horizontal dialogues. 
Key-words: Social Worker. Nonprofit sector. Social management. 
 
 
 
 
 
 9 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
ABONG Associação Brasileira de Organizações Não-Governamentais 
BPC Benefício de Prestação Continuada 
CIEE Centro de Integração Empresa-Escola 
FASFIL Fundações e Associações Sem Fins Lucrativos 
FHC Fernando Henrique CardosoGIFE Grupo de Institutos, Fundações e Empresas 
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 
INSS Instituto Nacional da Seguridade Social 
IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada 
MP Ministério Público 
MTE Ministério do Trabalho e Emprego 
ONG Organização Não Governamental 
OSCIP Organização da Sociedade Civil de Interesse Público 
PNE Portadores de Necessidades Especiais 
SESI Serviço Social da Indústria 
SENAI Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial 
SESC Serviço Social do Comércio 
SENAC Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial 
TCE Tribunal de Contas do Estado 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 10 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 11 
2 O TERCEIRO SETOR: SIGNIFICADOS ADOTADOS ...................................... 16 
3 SERVIÇO SOCIAL: ELUCIDAÇÕES AOS MEIOS EXTRA-ACADÊMICOS .... 25 
4 O TERCEIRO SETOR ENQUANTO ESPAÇO SÓCIO-OCUPACIONAL DO 
ASSISTENTE SOCIAL ............................................................................................. 32 
5 O TERCEIRO SETOR: ANÁLISE DAS INSTITUIÇÕES PESQUISADAS ........ 37 
5.1 ENTIDADE A ...................................................................................................... 37 
5.2 ENTIDADE B ...................................................................................................... 46 
5.3 ENTIDADE C ..................................................................................................... 51 
6 LIMITAÇÕES DO ESTUDO ............................................................................... 60 
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 62 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 69 
SITES CONSULTADOS ........................................................................................... 73 
ANEXOS ................................................................................................................... 74 
ANEXO A – Questionários ...................................................................................... 75 
 
 
 
 
 
 11 
1 INTRODUÇÃO 
O conceito dominante sobre o Terceiro Setor o situa entre o Estado 
(Primeiro Setor) e o Mercado (Segundo Setor) e abarca um variado número de 
iniciativas que oportunizam bens e serviços públicos sem gerar lucros. De modo 
geral, podemos citar como exemplos, igrejas, clubes, associações de moradores, 
sindicatos, fundações, ONGs / OSCIPs, entre muitos outros. 
Nosso objeto, no entanto, trata especificamente de instituições do 
terceiro setor que atuam, minimamente em seus estatutos, na efetivação de direitos 
e na promoção de cidadania. 
Conceituar e situar o Terceiro Setor não é tarefa simples, contudo, e 
tem sido fonte de polêmica entre seus principais teóricos. De toda forma, objetivando 
dar ao termo um significado particular e bem delimitado, trataremos melhor disto no 
Capítulo 2 – O Terceiro Setor: Significados adotados. 
Igualmente, escolhemos um capítulo à parte para tratar do Serviço 
Social, especialmente para atender a um de nossos objetivos, fazendo deste 
trabalho matéria útil também fora dos muros acadêmicos, onde certa dose de 
confusão se verifica na compreensão dos conceitos de Serviço Social, Assistente 
Social e Assistência Social. 
O presente estudo tem por objetivo geral refletir acerca das relações 
entre o Serviço Social e o Terceiro Setor. 
Por objetivos específicos, pretendemos: 
Debater a respeito da atuação profissional dos assistentes sociais no 
terceiro setor, especialmente sobre o caráter de alienação verificado nas 
aproximações com as instituições pesquisadas. 
Aprofundar o conhecimento quanto às práticas institucionais, 
especificamente em relação às distâncias verificadas entre a missão estatutária e a 
atuação efetiva destas entidades. 
Compor parte dos subsídios teóricos para o desenvolvimento 
institucional das entidades pesquisadas, sob a perspectiva da participação de todos 
os sujeitos. 
Costa (2006) observa que: 
[...] o gerenciamento da maioria dessas organizações ainda está atrelado às 
 12 
formas tradicionais; a gestão ainda é centralizada e exercida por pessoas 
não especializadas; a preocupação com a sustentabilidade financeira é 
predominante entre os gestores; e não há a percepção de que a gestão 
implica a visão da totalidade institucional em que a participação e o plano 
gestor ocupam papéis estratégicos. 
Ainda segundo Costa (2006), este quadro: 
[...] impede a existência de projetos setoriais que propiciem a formação 
continuada dos recursos humanos envolvidos em todos os setores; 
forneçam atendimento de qualidade social às famílias; gerem captação de 
recursos a partir de uma perspectiva de investimento social e não de 
caridade e filantropia; e possibilitem a avaliação contínua do trabalho 
realizado. 
A atuação destas instituições, entretanto, abrange grande parcela da 
população e carece de estudos mais específicos, construídos a partir de suas 
particularidades. 
Destacamos que este estudo não desconsidera, em absoluto, o 
terceiro setor organizado, aqui entendido como universo de iniciativas que primam 
pela excelência em seu desempenho sem abrir mão do debate / embate Trabalho x 
Capital. Todavia, é o outro lado da moeda que retém nossa atenção, conforme se 
verifica ao longo do esforço. 
O recorte micro regional deste trabalho, portanto, elegendo três 
entidades de pequeno e médio porte, objetiva um estudo mais profundo sobre os 
meandros do aparelho institucional do terceiro setor, capaz de contribuir na 
construção de projetos de intervenção profissional objetiva, sem perder de vista que 
“história é sempre a história mundial e as histórias particulares vivem só no quadro 
da história mundial.” (Semeraro, 1999, p. 264). 
É intenção deste esforço, ainda, identificar os possíveis espaços 
para a atuação profissional do assistente social no terceiro setor, em especial, nas 
funções de gestão ou assessoria aos gestores. Ainda que estes espaços estejam 
camuflados sob o conservadorismo de muitas instituições, há uma absoluta 
compatibilidade entre as demandas institucionais e as habilidades profissionais. Esta 
compatibilidade vem à tona, se abertos os espaços, conforme verificado na pesquisa 
de Silva (2008, p. 148): 
Percebemos que o trabalho do assistente social perpassa quase todos os 
campos da entidade, ele é um profissional que desempenha um papel 
importante, colabora para a coesão da equipe, auxilia na formação dos 
profissionais que não são de nível superior, assessora a direção e outros 
 13 
profissionais. Assim, podemos concluir que esses assistentes sociais 
compreendem a importância do trabalho em equipe no desenvolvimento de 
projetos e buscam agregar à sua prática o conhecimento de outras áreas. 
Alguns profissionais ainda sentem dificuldades nesse trabalho: Não há troca 
de conhecimentos e os profissionais trabalham paralelamente. 
Motivação relevante à confecção desta análise constitui-se da 
importância pela produção intelectual acerca dos espaços profissionais do assistente 
social, conforme identificado por Iamamoto (2008, p. 200): 
Nos diferentes espaços ocupacionais do assistente social é de suma 
importância impulsionar pesquisas e projetos que favoreçam o 
conhecimento do modo de vida e de trabalho – e correspondentes 
expressões culturais – dos segmentos populacionais atendidos, criando um 
acervo de dados sobre os sujeitos e as expressões da questão social que 
as vivenciam [...]. 
Desde a promulgação da Constituição de 1988, criou-se o ambiente 
favorável ao processode fortalecimento dos vínculos entre o Estado e a sociedade 
civil, co-responsáveis por garantir a efetividade dos direitos ali assegurados. 
Há teóricos que qualificam tal ambiente como mecanismo de 
desresponsabilização do Estado nas Políticas Sociais, parte das ações neoliberais 
pelo Estado mínimo, como Montaño (1997); Visão que Falconer (1999) considera 
simplista e ingênua. 
Não pretendemos ter tendência exclusiva a uma ou a outra 
orientação, senão, apropriar-nos de variados aspectos de ambas, tomando como 
pressuposto inicial o caráter de irrefreável desestatização das políticas sociais, 
reconhecendo as potencialidades, ainda que ocultas, do terceiro setor, compatíveis 
com o projeto profissional do Serviço Social. 
O campo empírico da pesquisa se constitui de três entidades do 
terceiro setor no estado do Rio de Janeiro, mais especificamente, nos municípios de 
Petrópolis, Duque de Caxias e Magé, nas áreas temáticas de Desenvolvimento 
Comunitário e Organização Popular, Educação Integral e Portadores de 
Necessidades Especiais. 
A metodologia foi aplicada a partir de pesquisas bibliográficas além 
de relatórios de atividades das instituições pesquisadas e da legislação pertinente. 
Concomitante à pesquisa bibliográfica, desenvolvemos uma pesquisa qualitativa, por 
meio de entrevistas de posse de um instrumento de pesquisa semi-estruturado, com 
questões abertas. Os sujeitos da pesquisa foram os dirigentes, colaboradores e 
 14 
usuários dos serviços prestados pelas três entidades avaliadas, mantendo inclusive 
os solecismos originais. Alguns dados coletados apresentaram a necessidade da 
construção de novas questões, especialmente para a interlocução com dirigentes. 
Os questionários encontram-se no Anexo I. 
Elegemos a pesquisa qualitativa como instrumento mais adequado 
aos nossos propósitos, uma vez que, segundo Neves (1996, p. 2): 
Enquanto estudos quantitativos geralmente procuram seguir com rigor um 
plano previamente estabelecido [...] a pesquisa qualitativa costuma ser 
direcionada ao longo de seu desenvolvimento. [...] Dela faz parte a 
obtenção de dados descritivos mediante contato direto e interativo do 
pesquisador com a situação objeto de estudo. Nas pesquisas qualitativas, é 
freqüente que o pesquisador procure entender os fenômenos, segundo a 
perspectiva dos participantes da situação estudada, e a partir daí, situe sua 
interpretação dos fenômenos estudados. 
Nos apropriamos, ainda, das observações tomadas a partir de oito 
anos de trabalho voluntário e outros três anos de atuação profissional junto a uma 
destas instituições. 
Como afirmamos, anteriormente, no Capítulo 2 – Terceiro Setor: 
Significados adotados – pretendemos apresentar e analisar os principais conceitos 
verificados sobre o terceiro setor, além de estabelecer (e justificar) a escolha pelo 
significado adotado neste trabalho. 
No Capítulo 3 – Serviço Social: Elucidações ao universo extra-
acadêmico – apresentamos alguns esclarecimentos a respeito do Serviço Social, da 
Assistência Social e do Assistente Social. Embora redundantes aos meios 
científicos, tais elucidações se fazem necessárias, especialmente a fim de 
potencializar o alcance de nosso terceiro objetivo específico, de conferir utilidade 
prática a este esforço, fora do universo acadêmico. 
No Capítulo 4 – O Terceiro Setor Enquanto Espaço Sócio-
ocupacional do Assistente Social – refletimos sobre a compatibilidade entre as 
questões gerenciais e operacionais das instituições e as habilidades inerentes ao 
assistente social. 
No Capítulo 5 – O Terceiro Setor: Análise das Instituições 
Pesquisadas – apresentamos as realidades verificadas durante as pesquisas feitas 
junto às três instituições, através das falas de alguns atores, do relato das 
observações diretas e das análises pertinentes. 
 15 
No Capítulo 6 – Limitações do Estudo – expomos as principais 
dificuldades verificadas na construção deste trabalho. 
No Capítulo 7 – Considerações Finais – analisamos os objetivos 
propostos e buscamos destacar algumas reflexões relevantes à compreensão da 
pesquisa e das questões identificadas. 
 
 
 
 
 
 
 
 16 
2 O TERCEIRO SETOR: SIGNIFICADOS ADOTADOS 
Neste capítulo, apresentamos os principais conceitos acerca do 
Terceiro Setor, em que pese o único consenso verificado, sua heterogeneidade. 
O conceito presente em Fernandes (1994, p.21) tem sido eleito 
como identificação oficial do terceiro setor e, ao menos ao início de nosso esforço, 
cumpre parte da missão: 
[...] um conjunto de organizações e iniciativas privadas que visam a 
produção de bens e serviços públicos. Este é o sentido positivo da 
expressão. "Bens e serviços públicos", nesse caso implicam uma dupla 
qualificação: não geram lucros e respondem a necessidades coletivas. 
O suposto potencial sintetizador do conceito desenvolvido por 
Fernandes, no entanto, não é aspecto suficiente a garantir sua hegemonia nos 
debates a respeito do terceiro setor, para o que, o apoio dos meios de comunicação 
de massas tem sido determinante. A fim de evitar a mistificação faz-se necessário 
que esse conceito seja apreendido como conceito introdutório aos estudos e não 
conclusivos, como verificamos. 
Segundo a Rede Brasileira do Terceiro Setor (REBRATES): 
O Terceiro Setor corresponde às instituições com preocupações e práticas 
sociais, sem fins lucrativos, que geram bens e serviços de caráter público, 
tais como: ONGs, instituições religiosas, clubes de serviços, entidades 
beneficentes, centros sociais, organizações de voluntariado etc. 
O que caracteriza cada setor em face dos recursos financeiros é o seguinte: 
Primeiro Setor: dinheiro público para fins públicos; 
Segundo Setor: dinheiro privado para fins privados; 
Terceiro Setor: dinheiro privado para fins públicos (nada impede, todavia, 
que o poder público destine verbas para o Terceiro Setor, pois é seu dever 
promover a solidariedade social). 
Neste sentido, nos apropriamos de outros conceitos acerca da 
sociedade civil organizada. O terceiro setor, por si só, é tema absolutamente rico e 
diverso, como sustenta Semeraro (1999, p. 259): 
As teorias do “terceiro setor” se apresentam com a pretensão de ser um 
corretivo das visões liberais tradicionais, cujos princípios originários, 
acentuando a excessiva autonomia do mercado e a burocratização do poder 
Estatal, geram distanciamento perigoso da vida real. Procuram, com isso, 
valorizar as forças da sociedade civil para controlar os sistemas dominados 
pela “razão estratégica” e incrementar relações interativas provenientes do 
“agir comunicativo”. Mas há uma outra corrente que hoje se dirige à 
 17 
sociedade civil com um discurso que visa recuperar as relações humanas e 
incentiva a integração social das pessoas, distanciando-se de qualquer 
concepção liberal, abstrata e universalista: o comunitarismo (ou 
neocomunitarismo). 
O comunitarismo, grosso modo, trata de resolver os problemas do 
mundo por etapas, a partir do enfrentamento de questões regionais; algo como 
respostas locais para problemas globais, cujo potencial de resolubilidade está 
diretamente relacionado à capacidade de cada iniciativa regional em articular-se ao 
contexto global. 
Ao que acrescentamos que – pelas apreensões tomadas em nosso 
campo empírico – as propostas declaradamente comunitaristas do terceiro setor 
nem sempre se transpõem dos estatutos institucionais para as práticas institucionais, 
consideradas as peculiaridades de cada realidade. 
Situando o terceiro setor, Wieczynski e Ronconi (200-, p. 02) 
contribuem de forma mais adequada à apreensão da sociedade civil: 
Embora entre o mercado e o Estado, para nós a sociedade civil não é 
autônoma e independente. Distintos teóricae metodologicamente, Estado, 
mercado e sociedade civil são inseparáveis na prática; formam, portanto, 
uma mesma realidade. Ao analisarmos a sociedade civil, devemos percebê-
la numa relação dialética com o Estado e o mercado; não devem ser 
compreendidos como bloco monolítico sem contradições sociopolíticas. 
Numerosos e variados aspectos caracterizam o terceiro setor, no 
entanto. Mantendo uma ótica mais simplista, ONGs, igrejas, associações de 
moradores, de produtores rurais, de trabalhadores, fundações, cooperativas e muitas 
outras formas associativas se inserem no conceito de terceiro setor, e se diferenciam 
pelas consistências de seus aspectos mais ou menos conservadoras ou 
progressistas. 
Coutinho (2008, p. 5) conceitua ONGs conservadoras e 
progressistas: 
Como uma forma de diferenciação entre elas, costuma-se classificá-las 
grosso modo ONGs “progressistas” e “conservadoras”. As primeiras seriam 
aquelas oriundas da década de 1970/1980 (ou fundada segundo essa 
concepção), vinculadas direta ou indiretamente aos movimentos sociais; as 
segundas, criadas já no auge da implementação das políticas neoliberais, 
teriam um forte cunho assistencialista. Ou seja, a maioria delas. Essa 
classificação na verdade não revela a realidade dessas organizações. 
Mesmo as consideradas “progressistas”, é bom frisar que assim como o 
termo “sociedade civil” toma uma significação durante os regimes 
autoritários na América Latina, a mesma proporção tem o termo 
 18 
“progressista”. Ou seja, todos aqueles que se opunham aos regimes 
autoritários, fossem a favor da “redemocratização” da sociedade, da 
liberdade de expressão, eram imediatamente considerados do campo 
progressista. O projeto político, as diferenças ideológicas eram pouco 
sublinhadas. Com a abertura política, essas diferenças vão ficando mais 
nítidas, e a linha que separa as organizações consideradas progressistas 
das conservadoras é cada vez mais tênue porque ambas estão amarradas 
ao financiamento que recebem. Claro que há diferenças na sua forma de 
atuação, e aqui, cabe ressalvar que muitas dessas organizações têm cada 
vez mais dificuldades de conseguirem se manter enquanto tais. 
É importante destacar que, apesar de nos apropriarmos de alguns 
aspectos conservadores das análises do terceiro setor – especialmente pelas 
afinidades de ordem econômica, presentes em seus financiamentos – nosso 
compromisso é, principalmente, com a classe trabalhadora, com os movimentos 
sociais e com os indivíduos socialmente excluídos, sujeitos de protagonismo nos 
processos de enfrentamento das questões sociais. 
A fim de contextualizar mais apropriadamente o terceiro setor – ao 
menos para os nossos propósitos – é importante, desde já e ainda que de forma 
generalista, separar o joio do trigo entre instituições supostamente progressistas e 
aquelas minimamente de potencial progressista e verdadeiramente comprometidas 
com causas populares. 
A idéia hegemônica (e mistificada) sobre o Terceiro Setor o 
apresenta como um conjunto de iniciativas, legalmente constituídas, que prestam 
serviços públicos com recursos privados – ou privatizados, se observarmos que 
diversas instituições privadas recebem recursos públicos através de convênios e 
parcerias. O argumento central que ampara, intelectualmente, esta relação, expõe 
um ambiente de bem e mal entre a sociedade civil e o Estado, onde este é 
endemonizado como corrupto, lento e ineficiente e aquela é santificada como ágil, 
ética e eficaz. 
Segundo Silva (2008, p. 53), o que se convencionou chamar 
parceria, não o é, pois: 
[...] o Estado apenas repassa uma determinada verba às instituições, mas 
são elas que prestam serviço à população, não existe um acompanhamento 
ou uma sistemática avaliação desses serviços. Fica claro que o próprio 
Estado procura minimizar suas responsabilidades, justamente por isso não 
podemos acreditar na idéia de parceria, porque vemos que na realidade o 
que existe no lugar das chamadas parcerias é a substituição da 
responsabilidade estatal pela responsabilidade civil. 
Considerando que o conceito hegemônico de Terceiro Setor – com 
 19 
suas debilidades – ganha consistência através de quase a totalidade dos meios de 
comunicação de massa, sua desconstrução promoveria mais confusão do que 
esclarecimentos. Aos nossos propósitos, como já afirmamos, basta separar o joio do 
trigo. De acordo com Montaño (2007, p. 264): 
[...]. Justamente, a questão recai em que o cerne do debate dominante 
sobre o “terceiro setor” (e sua própria denominação conceitual trabalha para 
isso) concebe as atividades (“sociais”) desenvolvidas pela sociedade civil 
como um todo orgânico, relativamente homogêneo, dirigido ao mesmo fim: o 
bem comum, a participação cidadã – isto é, o SESI, a Fundação Roberto 
Marinho, a Igreja Universal do Reino de Deus, a Fundação Augusto 
Pinochet, todos eles de formas diferentes seguindo supostamente o mesmo 
rumo que a CUT, o Movimento Feminista, a OAB, o MST, as Farcs. 
Pretendemos nos apropriar das contribuições sobre o terceiro setor, 
especialmente as de Ronconi e Wieczinsky (2010) e de Montaño (2007), por aliarem 
tanto a crítica realista como a perspectiva de alternativas à atuação profissional. 
Observamos o ideário burguês, camuflado de solidariedade, 
presente no terceiro setor. Porém, também observamos as alternativas que se 
apresentam aos assistentes sociais comprometidos com o projeto ético-político 
profissional, no sentido de se apropriarem das oportunidades presentes, constituindo 
o terceiro setor num espaço de efetivação de direitos e promoção de cidadania, 
como afirmam Ronconi e Wieczinsky (2010, p. 7): 
A sociedade civil brasileira tem reinventado uma nova maneira de fazer 
política e viver em sociedade, caminhando no sentido de se tornar 
autoorganizada ao mesmo tempo em que desenvolve em relação ao Estado 
uma posição de fiscalização, cobrança e denúncia; e não substituidora do 
desenvolvimento de ações sociais. 
Todavia, não pretendemos nos aprofundar sobre as debilidades 
presentes nas teorias sobre o Terceiro Setor; tal empreitada é, por si só, tema 
suficiente para outros esforços. Nossa preocupação maior consiste em seus 
aspectos enquanto espaço sócio-ocupacional do assistente social, e nas 
contribuições que o Serviço Social pode trazer ao setor, conforme abordamos no 
Capítulo 4. 
Costa (2005, p. 5) sintetiza as principais características comuns das 
instituições do terceiro setor: 
 20 
Atuam em uma diversidade e variedade de questões que afetam a 
sociedade na área da assistência social, da saúde, do meio ambiente, da 
cultura, educação, lazer, esporte, etc.; 
Nas áreas da assistência social, educação e saúde, geralmente, prestam 
atendimento a pessoas e famílias que estão à margem do processo 
produtivo ou fora do mercado de trabalho; 
Trabalham na defesa e garantia dos direitos dessa população; 
São de caráter privado, mas desenvolvem um trabalho de interesse público; 
Não têm finalidade de lucro no sentido mercantil da palavra; 
Não são estatais, embora mantenham vínculos com o poder público, 
Contam com o trabalho de um corpo de voluntariado. 
Destarte, o terceiro setor, mesmo denominado por um termo 
controverso, refere-se a uma imensa variedade de instituições legalmente 
constituídas, de direito privado e que atuam na produção de bens e serviços 
voltados à coletividade. 
No entanto, o terceiro setor se refere a um conjunto de iniciativas 
absolutamente diversas em seus objetivos e métodos. Por exemplo, muitas 
instituições se constituíram no contexto da Ditadura Militar e, com a abertura política, 
redefiniram seus papéis na sociedade, com o propósito de evitar seu próprio 
desmantelamento. 
Segundo a ABONG (2005), as controvérsias presentesnos debates 
sobre o terceiro setor são ocorrências naturais: 
A expressão “terceiro setor”, também constantemente utilizada para referir-
se às organizações da sociedade civil sem fins lucrativos de uma forma 
geral, abriga, além das ONGs, outros segmentos com identidades diversas, 
como entidades filantrópicas e institutos empresariais. 
A idéia de um setor social, ao lado do Estado e de um setor empresarial, 
começou a ser utilizada no Brasil há poucos anos. Em torno dessa 
expressão, trajetórias históricas concretas de vários segmentos da 
sociedade civil brasileira, que sempre atuaram com base em diferentes 
valores, perspectivas e alianças, são re-significadas e tendem a se diluir em 
um conceito homogeneizador. 
A expressão terceiro setor nos traz uma idéia de indiferenciação, unidade, 
convergência, consenso. Contudo, sabemos que, na realidade, a sociedade 
civil no Brasil é extremamente diversa, plural e heterogênea, construída ao 
longo de séculos e marcada por processos brutais de exclusão, 
 21 
concentração de renda e violação de direitos. As organizações naturalmente 
expressam os conflitos e contradições existentes em nossa sociedade. 
Alguns dados contribuem para a apreensão das proporções do 
terceiro setor. Em relação a estes números, segundo a ABONG (2005): 
O estudo mais recente sobre o universo associativo brasileiro, do qual as 
ONGs fazem parte, foi lançado em dezembro de 2004, pelo Instituto de 
Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e o Instituto Brasileiro de Geografia e 
Estatística (IBGE), em parceria com a Associação Brasileira de 
Organizações Não Governamentais (ABONG) e o Grupo de Institutos, 
Fundações e Empresas (GIFE). 
O estudo revela que, em 2002, havia 276 mil fundações e associações sem 
fins lucrativos (FASFIL) no país, empregando 1,5 milhão de pessoas. 
Contudo, os dados da pesquisa apontam para uma imensa pluralidade e 
heterogeneidade dessas organizações sem fins lucrativos: igrejas, hospitais, 
escolas, universidades, associações patronais e profissionais, entidades de 
cultura e recreação, meio ambiente, de desenvolvimento e defesa de 
direitos, etc. 
De modo geral, o conjunto das associações e fundações brasileiras é 
formado por milhares de organizações muito pequenas e por uma minoria 
que concentra a maior parte dos/as empregados/as das organizações. 
Cerca de 77% delas não têm sequer um/a empregado/a e, por outro lado, 
cerca de 2.500 entidades (1% do total) absorvem quase um milhão de 
trabalhadores/as. Esse pequeno universo é formado por grandes hospitais e 
universidades pretensamente sem fins lucrativos, na sua maioria, entidades 
filantrópicas (portadoras do Certificado de Entidade Beneficente de 
Assistência Social, que possibilita a isenção da cota patronal, devida em 
razão da contratação de funcionários e prestadores de serviços). 
Ainda no sentido de contextualizar o terceiro setor, a pesquisa de 
Silva (2008) traz contribuições à compreensão de alguns aspectos relevantes do 
terceiro setor. Segundo a autora, a maioria da ONGs brasileiras foi fundada entre os 
anos 80 (46,8%) e 90 (34,8%), respectivamente, períodos de abertura política e 
constituição do ambiente legal ao financiamento público das iniciativas privadas sem 
finalidades lucrativas. 
Quanto à origem do financiamento, a mesma pesquisa apurou certa 
paridade entre financiamentos públicos (24,8%) e privados (23,2%), mas não avaliou 
se este financiamento privado é motivado ou não, por leis de incentivo fiscal, o que 
implica diretamente – senão legalmente, moralmente – na classificação adequada 
dos recursos em públicos ou privados. 
Outros recursos apurados são originados em doações espontâneas 
de indivíduos e empresas (21%) e, ainda, contribuições associativas e 
 22 
comercialização de produtos e serviços (18,5%). 
O aspecto do financiamento das atividades carece de análise mais 
próxima e crítica, uma vez que, se considerarmos o potencial de isenção fiscal 
embutido em doações individuais, de empresas e financiamento privado, podemos 
chegar a índices mais significativos de aportes financeiros públicos – ainda que 
indiretos – algo em torno de 69%. 
Segundo a pesquisa de perfil das associadas da ABONG (2004), em 
relação às certificações: 26,7% não possuem quaisquer certificações ou títulos; 
51,98% das entidades associadas possuem Título de Utilidade Pública Municipal; 
Apenas 37% possuem registros no CNAS – Conselho Nacional de Serviço Social. 
Pelo que observamos nas instituições de nossa pesquisa, a 
ausência de certificações e titulações se deve, grosso modo, ao desconhecimento 
dos atores institucionais em relação aos trâmites burocráticos necessários à sua 
obtenção ou, ainda, ao não-observância dos órgãos financiadores (mesmo da 
administração pública) pela exigibilidade dos mesmos ao financiamento. 
Há, em Ribeiro (1995, p. 7), contribuição que motiva boa parte de 
nossas escolhas: 
Mas não se equivoque comigo. Nenhum escritor é inocente, eu também 
não... [...]. Os brasileiros vêm sendo tão massacrados pela indoutrinação 
direitista, difundida por toda a mídia, que já não há onde alguém possa 
informar-se realmente como viemos a ser o que somos, sobre como se 
implantou a crise em que estamos afundados e sobre as alternativas 
políticas que se abrem para nós. [...]. 
Aqui reconhecemos que nossa pesquisa não é isenta, 
absolutamente; abraçamos, primordialmente, o compromisso com a classe 
trabalhadora e destituída de poder decisório e acesso aos debates pertinentes. 
Cremos que esta escolha não representa, ao rigor científico, prejuízos capazes de 
comprometer os propósitos deste trabalho, mas, ao contrário, reforça nosso 
compromisso com o projeto ético-político do Serviço Social. 
O terceiro setor, conforme o tratamos aqui, não se refere ao conjunto 
total de iniciativas da sociedade civil organizada, ainda que nossos esforços também 
lhes possam ser úteis. Refere-se mais àquelas instituições constituídas a partir da 
articulação de esforços não-estatais a fim de responder a problemas coletivos. Tais 
esforços, ainda que tenham sido originados fora do âmbito estatal, não estão 
desvinculados deste. A mesma sociedade civil que se organiza e tenta responder 
 23 
questões públicas, é que constitui e legitima o Estado, mesmo que irrefletidamente. 
Assim como o Estado, o mercado também é constituído e legitimado 
pela mesma sociedade civil, a fim de cumprir funções específicas na produção de 
bens e serviços, bem como no fortalecimento da economia e, sob uma perspectiva 
menos conservadora, gerar trabalho e impulsionar o desenvolvimento social e 
econômico. 
Na perspectiva neoliberal, enquanto o mercado impulsiona a 
economia, o Estado se responsabiliza pela assistência aos trabalhadores excluídos 
dos processos produtivos, a fim de evitar convulsões sociais que possam 
comprometer o ambiente favorável ao capitalismo e à manutenção da hegemonia 
burguesa no poder. 
Nossa perspectiva é de que o terceiro setor constitui-se de iniciativas 
privadas, instituídas a partir da sociedade civil, a fim de suprir a ausência do Estado 
no enfrentamento de questões sociais dos mais variados aspectos. 
Entretanto, creches comunitárias, associações de moradores, de 
portadores de deficiências, de aposentados, entre outras formas associativas, não 
substituem o Estado, mas, ao contrário, o pressionam a cumprir suas obrigações. 
Mesmo quando o terceiro setor promove ações de obrigação estatal, o fazem como 
mecanismo estratégico, no sentido de atrair as atenções da sociedade civil, 
organizar forças políticas capazes de exigir que o Estado amplie, efetivamente, suas 
responsabilidades. 
Mesmo quando o Estado se reconhece ausente de determinada 
região – e esta se encontra assistida pela sociedadecivil organizada – as 
discussões centrais recaem sobre as formas pelas quais o Estado se fará presente 
daquele momento em diante e, geralmente, o financiamento público de ações do 
terceiro setor tem sido eleito o mecanismo adequado; especialmente porque, fosse o 
Estado assumir todas as atividades, os trâmites burocráticos (licitações, concursos 
públicos, publicações oficiais, etc.) fariam necessária a suspensão temporária dos 
serviços, além de representar maiores aportes financeiros. 
Desta forma, a agilidade operacional e o custo financeiro têm sido os 
principais argumentos de sustentação das parcerias público-privado. 
O financiamento público não representa, entretanto, a 
sustentabilidade das ações empreendidas pelo terceiro setor, especialmente porque 
o acesso a este tipo de financiamento está diretamente relacionado à capacidade de 
 24 
articulação política da instituição, além de aspectos de gestão estratégica, 
normalmente ausentes em grande parte das instituições, incluindo aquelas que 
pesquisamos. 
No sentido de conceituar o termo gestão, utilizamos um dos mais 
citados autores no campo da Administração, Peter Drucker (apud Ferreira, et al, 
2002, p. 109) que afirma que: 
Gestão organizacional significa, entre outras coisas, permitir que um 
indivíduo de excelente atuação empresarial realize livremente seu trabalho, 
sendo que a gerência da organização deve exercer sua autoridade para 
garantir a coordenação das atividades, de forma a alcançar bons resultados 
econômicos. 
Falconer (1999, p. 10) afirma que a questão da gestão é a principal 
debilidade no terceiro setor: 
As ações de desenvolvimento do terceiro setor no plano organizacional 
fundamentam-se na suposição de que a gestão organizacional é o principal 
ponto fraco do setor e, conseqüentemente, a capacitação em gestão é a 
principal arma para que este desempenhe plenamente o seu papel 
esperado. [...] 
Ainda, Falconer (1999, p. 22) reconhece que uma única ciência – a 
Administração – não detém respostas adequadas para o problema da gestão no 
terceiro setor: 
Os quatro principais aspectos a serem desenvolvidos na gestão do terceiro 
setor [...] [...] - accountability, qualidade de serviço, sustentabilidade e 
capacidade de articulação institucional - representam um guia para a 
formação de um campo de conhecimento específico de administração de 
organizações sem fins lucrativos. Aprimorar as organizações nestas quatro 
dimensões é essencial para o desenvolvimento de um terceiro setor capaz 
de se relacionar com a sociedade civil e com as suas instituições, de prover 
bens de efetivo valor à sociedade, de conciliar autonomia com mobilização 
de recursos e de fazer frente a problemas públicos. Esta é a chave no 
campo de Administração para a promessa do terceiro setor. 
Não reconhecemos, igualmente, o Serviço Social como saber capaz, 
isoladamente, de solucionar o problema. O que observamos é a necessidade de 
interlocução entre as ciências, no sentido de promover as respostas necessárias ao 
desenvolvimento institucional das entidades do terceiro setor. 
 
 25 
3 SERVIÇO SOCIAL: ELUCIDAÇÕES AOS MEIOS EXTRA-ACADÊMICOS 
Algumas elucidações se fazem necessárias, acerca do Serviço 
Social, justificadas pela intenção deste trabalho em consubstanciar-se matéria útil, 
também fora dos meios acadêmicos, onde certa confusão é verificada nos conceitos 
de serviço social, assistente social e assistência social. 
A Lei 8662/93 regulamenta a profissão de Assistente Social. O 
Conselho Regional de Serviço Social do Rio de Janeiro (apud BRASIL, 2002) 
contribui, em síntese, para a apreensão do que são as principais atribuições e 
competências do assistente social: 
Realiza estudos e pesquisas para avaliar a realidade e emitir parecer social 
e propor medidas e políticas sociais; planeja, elabora e executa planos, 
programas e projetos sociais; presta assessoria e consultoria a instituições 
públicas e privadas e a movimentos sociais; orienta indivíduos e grupos, 
auxiliando na identificação de recursos e proporcionando o acesso aos 
mesmos; realiza estudos socioeconômicos com indivíduos e grupos para 
fins de acesso a benefícios e serviços sociais; atua no magistério de Serviço 
Social e na direção de Unidade de ensino e Centro de estudos. 
A atuação do assistente social em assessoria e consultoria não tem 
sido, ao longo da história do Serviço Social, prática comum. Apesar disto, o senso 
crítico tem impulsionado o desenvolvimento científico e profissional e aberto novos 
espaços sócio-ocupacionais e funções, consideradas as características de cada 
profissional. 
Há, ainda, necessidade de resgatar alguns fatos históricos em 
relação ao Serviço Social brasileiro, no sentido de esclarecer e reforçar aos meios 
extra-acadêmicos as mudanças ocorridas no projeto ético-político desde a Ruptura. 
O século XVI registra as primeiras ações institucionais de 
assistência social no Brasil, através do surgimento das Santas Casas de 
Misericórdia. Já no final do século XVII, a Coroa Portuguesa cita, oficialmente, a 
assistência social, a fim de proteger a crianças abandonadas, através da Câmara 
dos Bens do Conselho, órgão representante do governo português no Brasil. 
A partir dos anos 1920, a assistência social brasileira se expressa de 
forma mais organizada pelas ações sociais da Igreja Católica, de caráter 
assistencialista e norteado por princípios cristãos de caridade. 
A influência assistencialista da caridade cristã iria inspirar, ainda, o 
Código de Menores (em Decreto de 1927). Ainda que regido por preceitos de 
 26 
reajustamento social e moral – e mistificando a questão social como mero somatório 
de problemas isolados de famílias desestruturadas – o Código promoveu alguns 
avanços consideráveis, à época, como a regulamentação do trabalho infantil, 
estabelecendo a idade mínima de 12 anos para a vida laborativa, além de ter abolido 
o ambiente legal para a mera repressão e a punição. 
O segundo Código de Menores (de 1979) trouxe poucos avanços, 
além de ter reforçado as idéias centrais de reajustamento social. Mesmo a carência 
de recursos materiais da família poderia ser desencadeadora do processo de 
institucionalização de crianças e adolescentes. A questão colateral residia em que a 
ação institucional jamais alcançou qualquer eficácia em seus processos de reajuste 
social, moral ou educacional. 
A partir dos anos 1930, surgem o Centro de Estudos e Ação Social 
e, posteriormente, a Escola de Serviço Social de São Paulo, marcos da formação 
profissional técnica. Até o final dos anos 1950, surgiriam a Pontifícia Universidade 
Católica de São Paulo – incorporando a Escola de Serviço Social de São Paulo – e a 
Associação Brasileira de Escolas de Serviço Social, estabelecendo as diretrizes 
metodológicas de ensino e a formação universitária em Serviço Social. 
Nos anos 1950, foram regulamentadas por Lei, a graduação superior 
e o exercício profissional do assistente social. Essa legislação perdurou até os anos 
1990. 
No mesmo período, data a criação do Conselho Nacional de Serviço 
Social, substituído pelo Conselho Nacional de Assistência Social, em 1993, com a 
promulgação da LOAS, Lei Orgânica da Assistência Social, além da inserção do 
assistente social no funcionalismo público, na Previdência Social – o que ocorreria 
também nos institutos de pensão – campo tradicional para a profissão, ainda nos 
dias atuais. 
Como vimos, desde o século XVI e até meados dos anos 1960, a 
assistência social brasileira atuava sob preceitos da caridade cristã, numa 
perspectiva de reajustamento social e moral, além da autoculpabilização dos 
sujeitos, onde as questões sociais eram tratadas como meros somatórios de 
desajustes individuais.O trabalho do assistente social tinha maior visibilidade – além 
da atuação previdenciária – nas iniciativas privadas da indústria e do comércio 
(SESI/SENAI, e SESC/SENAC), sob a perspectiva de reprodução da classe 
trabalhadora e das relações de produção. 
 27 
A partir dos anos 1970, no contexto da Ditadura Militar e sob 
influência direta do Movimento de Reconceituação do Serviço Social, surgem as 
primeiras manifestações de considerável parcela dos assistentes sociais, 
questionando, de modo geral, os compromissos éticos e políticos da profissão cuja 
metodologia, até então, possuía caráter de reprodução da classe trabalhadora bem 
como das relações de exploração comuns ao capitalismo. No mesmo período, a 
formação acadêmica é enriquecida com o surgimento de cursos de mestrado em 
Serviço Social no Rio de Janeiro e em São Paulo. 
Os anos 1980 marcam, no Serviço Social, a ruptura com as formas 
tradicionais de prática e formação acadêmica, lançam luz à dimensão política da 
profissão – até então, ocultada – e resultam no Código de Ética do Assistente Social, 
que estabelece claros compromissos políticos em defesa dos interesses da 
população, conforme atestam os princípios fundamentais do referido código. Assim, 
o Código de Ética dos Assistentes Sociais, instituído pela Resolução CFESS nº 
273/93 (1993, p. 3) define os princípios fundamentais: 
Reconhecimento da liberdade como valor ético central e das demandas 
políticas a ela inerentes - autonomia, emancipação e plena expansão dos 
indivíduos sociais; 
Defesa intransigente dos direitos humanos e recusa do arbítrio e do 
autoritarismo; 
Ampliação e consolidação da cidadania, considerada tarefa primordial de 
toda sociedade, com vistas à garantia dos direitos civis sociais e políticos 
das classes trabalhadoras; 
Defesa do aprofundamento da democracia, enquanto socialização da 
participação política e da riqueza socialmente produzida; 
Posicionamento em favor da eqüidade e justiça social, que assegure 
universalidade de acesso aos bens e serviços relativos aos programas e 
políticas sociais, bem como sua gestão democrática; 
Empenho na eliminação de todas as formas de preconceito, incentivando o 
respeito à diversidade, à participação de grupos socialmente discriminados 
e à discussão das diferenças; 
Garantia do pluralismo, através do respeito às correntes profissionais 
democráticas existentes e suas expressões teóricas, e compromisso com o 
constante aprimoramento intelectual; 
Opção por um projeto profissional vinculado ao processo de construção de 
uma nova ordem societária, sem dominação / exploração de classe, etnia e 
 28 
gênero; 
Articulação com os movimentos de outras categorias profissionais que 
partilhem dos princípios deste Código e com a luta geral dos trabalhadores; 
Compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população e com o 
aprimoramento intelectual, na perspectiva da competência profissional; 
Exercício do Serviço Social sem ser discriminado, nem discriminar, por 
questões de inserção de classe social, gênero, etnia, religião, 
nacionalidade, opção sexual, idade e condição física. 
Dentre os princípios fundamentais, destaca-se o da construção de 
uma nova ordem societária como potencial sintetizador dos objetivos mesmo do 
Serviço Social. Nele estão manifestos os compromissos claros com a promoção 
social das classes subalternizadas, socialização da participação política e das 
riquezas, entre outros; Destacamos a práxis como instância legitimadora desses 
compromissos, ou seja, o Código de Ética do Assistente Social não deve ser 
entendido como mera referência bibliográfica à formação acadêmica, mas como 
documento em constante construção / reconstrução, além de dar sentido à própria 
essência questionadora da ação profissional. 
Como mencionamos, há a necessidade de conceituar, ainda que 
sinteticamente, alguns termos que, apesar de corriqueiros aos profissionais e 
estudantes de Serviço Social, são compreendidos confusamente nos meios extra-
acadêmicos. 
Assistência Social é uma política pública regulamentada pela Lei 
Orgânica da Assistência Social – LOAS, direito do cidadão e dever do Estado, é 
Política de Seguridade Social não contributiva, que provê os mínimos sociais, 
realizada através de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da 
sociedade, para garantir o atendimento às necessidades básicas. 
Serviço Social é a profissão exercida pelo assistente social, que para 
exercê-la, legalmente, deve graduar-se em curso de Serviço Social em unidade de 
Ensino Superior reconhecida pelo Ministério da Educação; É, ainda, ciência, cujo 
objeto de estudo é bem esclarecido por Iamamoto (2008, p. 28): 
Os assistentes sociais trabalham com a questão social nas suas mais 
variadas expressões quotidianas, tais como os indivíduos as experimentam 
no trabalho, na família, na área habitacional, na saúde, na assistência social 
pública, etc. Questão social que, sendo desigualdade é também rebeldia, 
por envolver sujeitos que vivenciam as desigualdades e a elas resistem e se 
 29 
opõem. É nesta tensão entre produção da desigualdade e produção da 
rebeldia e da resistência, que trabalham os assistentes sociais, situados 
nesse terreno movidos por interesses sociais distintos, aos quais não é 
possível abstrair ou deles fugir porque tecem a vida em sociedade. [...] 
Observamos, nas aproximações com as instituições pesquisadas, 
idéias confusas, especialmente, sobre as competências e atribuições do assistente 
social. Preferimos destacar, aqui, as atribuições privativas do assistente social, ou 
seja, aquelas que somente podem ser efetivadas pelo profissional de Serviço Social, 
segundo a Lei 8662/93, que regulamenta a profissão (BRASIL, Lei 8662 de 07 de 
junho de 1993): 
Art. 5º Constituem atribuições privativas do Assistente Social: 
I - coordenar, elaborar, executar, supervisionar e avaliar estudos, pesquisas, 
planos, programas e projetos na área de Serviço Social; 
II - planejar, organizar e administrar programas e projetos em Unidade de 
Serviço Social; 
III - assessoria e consultoria e órgãos da Administração Pública direta e 
indireta, empresas privadas e outras entidades, em matéria de Serviço 
Social; 
IV - realizar vistorias, perícias técnicas, laudos periciais, informações e 
pareceres sobre a matéria de Serviço Social; 
V - assumir, no magistério de Serviço Social tanto no nível de graduação 
como pós-graduação, disciplinas e funções que exijam conhecimentos 
próprios e adquiridos em curso de formação regular; 
VI - treinamento, avaliação e supervisão direta de estagiários de Serviço 
Social; 
VII - dirigir e coordenar Unidades de Ensino e Cursos de Serviço Social, de 
graduação e pós-graduação; 
VIII - dirigir e coordenar associações, núcleos, centros de estudo e de 
pesquisa em Serviço Social; 
IX - elaborar provas, presidir e compor bancas de exames e comissões 
julgadoras de concursos ou outras formas de seleção para Assistentes 
Sociais, ou onde sejam aferidos conhecimentos inerentes ao Serviço Social; 
X - coordenar seminários, encontros, congressos e eventos assemelhados 
sobre assuntos de Serviço Social; 
XI - fiscalizar o exercício profissional através dos Conselhos Federal e 
Regionais; 
XII - dirigir serviços técnicos de Serviço Social em entidades públicas ou 
privadas; 
XIII - ocupar cargos e funções de direção e fiscalização da gestão financeira 
em órgãos e entidades representativas da categoria profissional. 
Destacamos que a primeira das atribuições privativas é justamente a 
mais negligenciada, nas instituições estudadas. Nenhum profissional entrevistado 
relatou desenvolver quaisquer atividades de pesquisa, o que se configura, 
minimamente, em obstáculo ao desenvolvimento científico e, conseqüentemente, àformação acadêmica, refletindo, também, na atuação profissional. 
Dentre as atribuições privativas que, efetivamente, são executadas 
 30 
com maior freqüência nas entidades pesquisadas, observamos a supervisão de 
estágio e realização de pareceres e laudos técnicos, ainda que por exigência de 
organismos financiadores e/ou legitimadores de financiamentos. 
De todas as atribuições privativas do assistente social, aquela com 
maiores afinidades com a gestão, trata de planejar, organizar e administrar 
programas e projetos em Unidade de Serviço Social, atividade igualmente 
negligenciada em nosso campo empírico, fosse pelo desinteresse profissional, fosse 
pelo poder institucional – alimentado pelas confusas idéias acerca do Serviço Social 
– ou por ambos. 
É comum, em muitas instituições filantrópicas, que seus agentes 
comunitários sejam equivocadamente denominados assistentes sociais. Os três 
primeiros artigos da mesma Lei (BRASIL, Lei 8662 de 07 de junho de 1993) tratam 
de pôr os pontos nos is: 
Art. 1º É livre o exercício da profissão de Assistente Social em todo o 
território nacional, observadas as condições estabelecidas nesta lei. 
Art. 2º Somente poderão exercer a profissão de Assistente Social: 
I - Os possuidores de diploma em curso de graduação em Serviço Social, 
oficialmente reconhecido, expedido por estabelecimento de ensino superior 
existente no País, devidamente registrado no órgão competente; 
II - os possuidores de diploma de curso superior em Serviço Social, em nível 
de graduação ou equivalente, expedido por estabelecimento de ensino 
sediado em países estrangeiros, conveniado ou não com o governo 
brasileiro, desde que devidamente revalidado e registrado em órgão 
competente no Brasil; 
III - os agentes sociais, qualquer que seja sua denominação com funções 
nos vários órgãos públicos, segundo o disposto no art. 14 e seu parágrafo 
único da Lei nº 1.889, de 13 de junho de 1953. 
Parágrafo único. O exercício da profissão de Assistente Social requer prévio 
registro nos Conselhos Regionais que tenham jurisdição sobre a área de 
atuação do interessado nos termos desta lei. 
Art. 3º A designação profissional de Assistente Social é privativa dos 
habilitados na forma da legislação vigente. 
As competências e atribuições privativas do assistente social, por si 
só, já são bastante sugestivas das relações possíveis entre o Serviço Social e 
qualquer setor, observadas crescentes iniciativas em Responsabilidade Social 
 31 
Empresarial, a descentralização da gestão das políticas de Assistência Social e, 
neste esforço particular, as visíveis necessidades do terceiro setor, conforme 
veremos no Capítulo 5. 
Observamos que há, de fato, um problema de gestão institucional 
comum às três entidades estudadas neste trabalho. As ações são efetivadas sem 
planejamento estratégico, sem pesquisa e sem reflexões críticas; não há avaliação 
das ações ou das políticas sociais presentes. 
Além destes aspectos, observamos, ainda, a aplicação inadequada 
e/ou ineficiente de recursos públicos, provocando redução dos serviços prestados, 
na contramão das crescentes demandas institucionais, cujo resultado excedente tem 
sido transposto às filas de espera pelos serviços destas entidades. 
Neste sentido, estas instituições têm negligenciado, além das 
atribuições privativas do assistente social, algumas competências absolutamente 
relevantes para a intervenção eficaz, entre elas: a elaboração e execução de planos, 
programas e projetos e o planejamento e administração de Serviços Sociais e de 
Unidade de Serviço Social (BRASIL, Lei 8662 de 07 de junho de 1993). 
Não defendemos que o assistente social seja o único profissional 
capaz de responder às principais questões – gerenciais e/ou operacionais – do 
terceiro setor. Vimos que a Administração também se tem ocupado destes 
problemas. Todavia, os aspectos inerentes à formação em Serviço Social o 
qualificam como profissional de grande relevância ao enfrentamento dos principais 
dilemas do setor. 
 
 
 
 
 
 32 
4 O TERCEIRO SETOR ENQUANTO ESPAÇO SÓCIO-OCUPACIONAL DO 
ASSISTENTE SOCIAL 
O ambiente favorável ao desenvolvimento do terceiro setor, criado 
com a Constituição de 1988, não se traduziu em efetivação de direitos, conforme 
anunciado nas propagandas oficiais do Estado. A descaracterização da Constituição 
de 1988, promovida sob o ideário neoliberal, nos doze anos seguintes, explica este 
fato, mas não é fundamental aos nossos propósitos promover maior aprofundamento 
neste aspecto. 
A promessa de abastados financiamentos públicos ao setor 
alimentou a fantasia de micro e pequenas iniciativas populares, instituições 
notoriamente engajadas na luta pela garantia e ampliação de direitos, de que o 
aporte financeiro, por si só, seria o bastante para a consecução de seus objetivos, 
desconsiderados alguns aspectos fundamentais, como estrutura organizacional, 
planejamento estratégico e qualificação profissional. 
Ainda, o financiamento, privado ou público, invariavelmente 
procedeu a todo um corpo de exigências que, para serem cumpridas pelas ONGs, 
era necessário certo desvirtuamento de suas finalidades originais. 
Originalmente e principalmente entre os anos 70 e 80, as ONGs 
desempenhavam papel secundário de articulação ao lado dos movimentos sociais. A 
partir dos anos 90, no entanto, esta relação entre ONGs e movimentos sociais foi 
descaracterizada, conforme verifica Montaño (2007, p. 271): 
No entanto, na última década do século que terminou – tem ocorrido uma 
monumental inflexão nesta relação – movimento social/ONG. 
Com efeito, as ONGs passaram paulatinamente, na década anterior, a 
ocupar o lugar dos movimentos sociais, deslocando-os de seu espaço de 
luta e da preferência na adesão popular. 
De porta-voz das causas populares, as ONGs passam a 
desempenhar um papel de atenuador de conflitos. 
A lógica do lucro e da alta competitividade, inerentes aos processos 
desenvolvidos pela ótica da Administração, além de afastar o debate político das 
ONGs e dos próprios movimentos sociais, transforma o universo institucional em 
uma espécie de vice-inimigo, cuja subversão do poder consubstancia-se em etapa 
 33 
preliminar e pré-requisito à possibilidade de deparar-se com o inimigo titular, a esfera 
pública. 
Nossa hipótese, conforme dados coletados na pesquisa, consiste 
em que os assistentes sociais presentes nestas instituições têm sido alocados, 
invariavelmente, em atividades meramente burocráticas e tarefeiras, despidos de 
poder de voz ou voto nas instituições; exatamente o mesmo contexto oportunizado 
aos sujeitos da ação institucional. 
As relações entre assistentes sociais e instituições do terceiro setor 
não são, em si, uma novidade. Desde sua gênese, o Serviço Social sempre esteve 
em relações constantes com instituições de caridade, filantropia, movimentos 
sociais, etc. O que se constitui novidade, neste fato, é a transposição dos 
assistentes sociais de um espaço sócio-ocupacional público para outro privado. 
Não raro, temos observado que a inserção do assistente social no 
âmbito destas instituições tem se dado por força maior de exigências de órgãos 
financiadores ou de controle social do que pela identificação de demandas 
específicas do Serviço Social. Este contexto acaba por fazer do profissional um 
estranho no ninho. Nas entidades pesquisadas, nem os gestores, nem os demais 
profissionais e nem os usuários têm idéia clara do que venha a ser o trabalho do 
assistente social. 
Costa (2005, p. 7), pontua algumas atribuições específicas do 
assistente social no terceiro setor: 
Implantar, no âmbito institucional, a Política de Assistência Social, conforme 
asdiretrizes da Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS /93) e Sistema 
Único da Assistência Social (SUAS /04), de acordo com a área e o 
segmento atendido pela instituição; 
Subsidiar e auxiliar a administração da instituição na elaboração, execução 
e avaliação do Plano Gestor Institucional, tendo como referência o processo 
do planejamento estratégico para organizações do terceiro setor; 
Desenvolver pesquisas junto aos usuários da instituição, definindo o perfil 
social desta população, obtendo dados para a implantação de projetos 
sociais, interdisciplinares; 
Identificar, continuamente, necessidades individuais e coletivas, 
apresentadas pelos segmentos que integram a instituição, na perspectiva 
do atendimento social e da garantia de seus direitos, implantando e 
administrando benefícios sociais; 
 34 
Realizar seleção sócio-econômica, quando for o caso , de usuários para as 
vagas disponíveis, a partir de critérios pré-estabelecidos, sem perder de 
vista o atendimento integral e de qualidade social; e nem o direito de acesso 
universal ao atendimento; 
Estender o atendimento social às famílias dos usuários da instituição, com 
projetos específicos e formulados a partir de diagnósticos preliminares; 
Intensificar a relação instituição / família, objetivando uma ação integrada de 
parceria na busca de soluções dos problemas que se apresentarem; 
Fornecer orientação social e fazer encaminhamentos da população usuária 
aos recursos da comunidade, integrando e utilizando-se da rede de serviços 
sócio-assistenciais; 
Participar, coordenar e assessorar estudos e discussões de casos com a 
equipe técnica, relacionados à política de atendimento institucional e nos 
assuntos concernentes à política de Assistência Social; 
Realizar perícia, laudos e pareceres técnicos relacionados à matéria 
específica da Assistência Social, no âmbito da instituição, quando solicitado; 
Nos casos estudados, observamos que há clara necessidade pelo 
desenvolvimento de um Plano Gestor Institucional, capaz de orientar as ações, 
avaliar o desempenho geral de forma crítica, realista, a fim de oportunizar subsídios 
teóricos claros e objetivos. 
Antes mesmo da confecção do Plano Gestor, urge a necessidade 
pela realização de pesquisa de perfil social, articulação com profissionais de outras 
áreas e mobilização dos sujeitos destinatários da ação, no sentido de possibilitar a 
construção de um Plano de Ação desenvolvido a partir de sua própria perspectiva, 
otimizando a aceitação dos programas e projetos por parte dos usuários e, portanto, 
promovendo melhores resultados. 
Nossa idéia central, portanto, considera a relevância da atuação do 
assistente social na gestão social das ONGs, ainda que paritariamente em conjunto 
com profissionais de outras áreas, a fim de promover a reordenação das relações 
entre ONGs e movimentos sociais e entre atores institucionais, de modo geral. 
Considerando que o embate Trabalho x Capital – ou seja, as 
contradições tradicionais das sociedades capitalistas – permeia toda a sociedade, é 
necessário desvelar os jogos de poder presentes em todos os espaços, trazendo-os 
aos debates, mobilizando todos os sujeitos, mediando interesses e estabelecendo 
acordos, no sentido de minimizar resistências e boicotes aos programas. 
 Considerando, ainda, a gestão social das ONGs como um exercício 
 35 
de poder, a mesma não será oportunizada ao assistente social ou aos próprios 
sujeitos sem a ocorrência de conflitos, cujas respostas se efetivarão em estreita 
relação com as habilidades do profissional. 
Todavia, o empoderamento dos sujeitos da ação institucional, 
indispensável ao fortalecimento dos movimentos sociais, demanda um amplo e 
complexo conjunto de habilidades profissionais, todas naturais ao assistente social, 
conforme sustentado por Ronconi e Wieczinsky (2010, p. 6): 
É neste viés que o Assistente Social deve inserir-se. O terceiro setor para o 
Assistente Social é um espaço profissional que deve ser ocupado com 
criatividade e competência técnica, teórica e política. Estes são os 
pressupostos que devem reger a ação profissional nestas instituições. 
Devem não apenas ser um executor de programas ou projetos, mas um 
planejador e propositor de políticas públicas que possam vir ao encontro 
dos interesses da maioria da população. 
Ainda segundo Ronconi e Wieczinsky (2010, p. 7): 
As entidades do terceiro setor através do Assistente Social devem assim, 
desenvolver ações que promovam a democracia, a liberdade e a 
participação da sociedade. Devem desenvolver um tipo de gestão que 
resgate as demandas universalistas, no sentido de cobrar do Estado o 
desenvolvimento de políticas públicas, fiscalizar essas políticas e denunciar 
as irregularidades no desenvolvimento dessas políticas. Este sim é o pleno 
exercício da cidadania. 
Não negamos a existência de instituições do terceiro setor onde a 
inserção profissional se dê com maior autonomia e poder decisório. Elas existem 
mesmo na região onde efetivamos nossa pesquisa. A excelência de suas atividades 
e os graus de desenvolvimento – operacional e científico – que alcançaram, 
contudo, as tornam inelegíveis aos nossos estudos. 
Nosso foco, entretanto, recai sobre aquelas entidades cuja atuação 
se distancia tanto de seus objetivos estatutários, como de seus históricos de lutas 
pelo desenvolvimento e consolidação da democracia. 
Nos três casos estudados, verificamos que a gestão se efetiva, em 
duas delas, com profissionais graduados em áreas diversas, como Direito, 
Administração e Ciências Contábeis, por exemplo. Mesmo naquelas instituições que 
dispõem de um assistente social, o mesmo não possui autonomia para atuação em 
atividades de gestão, ou assessoria aos gestores. Isto não significa, entretanto, 
restrição ao profissional de Serviço Social, mas uma restrição a que outra pessoa – 
 36 
de qualquer formação – venha a exercer poder institucional. 
Não tratamos aqui de desqualificar a atuação de profissionais das 
demais áreas, mas constatar que, além da Administração, somente para o Serviço 
Social as debilidades gerenciais do terceiro setor se consubstanciam em objeto de 
intervenção profissional – desde que apreendidas como questões sociais – uma vez 
que o desempenho insatisfatório destas instituições resulta em maior vulnerabilidade 
social dos sujeitos destinatários de seus serviços. 
Neste contexto, consideramos que a atuação do assistente social 
alcançará resultados práticos mais consistentes, especialmente a médio e longo 
prazo, nas funções gerenciais ou em assessoria direta aos gestores. 
 
 
 
 37 
5 O TERCEIRO SETOR: ANÁLISE DAS INSTITUIÇÕES PESQUISADAS 
Nas aproximações com as entidades, observamos que as pesquisas 
disponíveis têm se mostrado ineficazes, senão inúteis à aplicabilidade de suas 
reflexões em instituições de baixo grau de desenvolvimento. Apenas uma das 
entidades estudadas apresentou atividades de debates – envolvendo tanto os 
colaboradores diretos como os sujeitos destinatários dos serviços – sobre produção 
acadêmica ou mesmo reflexões acerca de suas próprias atividades. 
A seguir são apresentadas observações, relatos e análises dos 
contextos de três entidades do terceiro setor, atuantes na Baixada Fluminense 
(Duque de Caxias e Magé) e da região serrana do estado do Rio (Petrópolis). 
O anonimato das instituições e de seus colaboradores foi resultado 
de um acordo efetivado com a finalidade de obter informações mais precisas e 
relatos mais espontâneos. Portanto, usaremos as denominações de Entidades A, B 
e C. 
5.1 ENTIDADE A 
A entidade A atua há mais de vinte anos, em atividades diversas, 
todas voltadas à área temática do desenvolvimento comunitário. As atividades da 
entidadeeram efetivadas em mais de vinte comunidades de baixo desenvolvimento 
sócio-econômico e beneficiavam cerca de duas mil famílias, com serviços de 
creches comunitárias, cursos de capacitação profissional, assistência emergencial, 
formação de lideranças comunitárias, entre outros. 
O financiamento de suas ações foi inicialmente custeado pela 
solidariedade internacional, de baixo grau de exigência nos processos de liberação e 
aplicação de recursos, bem como na prestação de contas, apesar da grande 
capacidade econômica desses aportes. 
Atualmente, três diretores executivos respondem pelas tarefas de 
gestão operacional. Observamos que um dos gestores atua, com maior intensidade, 
no estabelecimento de diretrizes e metodologias, enquanto outros dois dirigentes 
concentram esforços exclusivos na supervisão e execução das atividades. 
Segundo um dos relatos do Sujeito 1A, após doze anos de parceria, 
entre 1990 e 2002, a principal instituição financiadora, responsável por 70% das 
 38 
receitas, estabeleceu extensa auditoria independente e apurou resultados 
inversamente proporcionais aos recursos empregados. A mesma auditoria 
identificou, ainda, entre as principais causas do desempenho insatisfatório, a 
desqualificação profissional de seus quadros, a ausência de qualificação de seus 
gestores e o quadro geral de desorganização da entidade, além de métodos 
autocráticos de liderança. 
A auditoria sugeriu um prazo de três anos para que a ONG 
promovesse sua reestruturação, adequando-se às exigências do organismo 
financiador, e/ou apresentando suas próprias sugestões à apreciação do parceiro. 
Como não houve esforços neste sentido, a entidade perdeu o acesso a estes 
recursos privados, passando a custear suas atividades apenas com doações 
espontâneas de pessoas físicas do país e de pequenos financiadores internacionais, 
além de verbas públicas originadas na formalização de termos de convênio com as 
prefeituras locais. 
O financiamento público, no entanto, exige muito mais do que 
apenas relatos informais da aplicação dos recursos, na prestação de contas; Exige 
abrangência maior dos serviços prestados, em relação ao financiamento privado. 
Sendo assim, com menor capacidade econômica e sem um gestor qualificado, a 
solução encontrada pela entidade, foi reduzir suas atividades a fim de adequar-se à 
verba disponível, equívoco responsável por retrair o espaço de atuação institucional. 
Foi apresentada, e rejeitada, uma proposta de admitir um assistente 
social para gerir a entidade. O colaborador que sugeriu a contratação demonstrou 
grande insatisfação com o trabalho na instituição, conforme se verifica em sua fala: 
Cara, aqui tem um problema grave de gestão. A presidente é meio bipolar 
(risos), eu acho... Cada hora dá uma ordem diferente, pra cada um dá uma 
ordem diferente, deixa todo mundo doido. Os outros diretores são uns paus-
mandados, não decidem nada sem autorização dela. Minha sorte foi que os 
patrocinadores do projeto de informática exigiram um supervisor de projetos 
qualificado, e instrutores também. Quem sofre mais é esse supervisor, que 
tem que aturar essa mala. (Sujeito 1A). 
A fala de um ex-colaborador, Sujeito 2A – coordenador do principal 
programa da instituição – complementa: 
Eu identifiquei diversas questões, lá. São coisas até simples de resolver, já 
que a entidade não tem problema de grana; mas não se resolvem porque 
há uma centralização de poder muito forte, muito autoritarismo e a pessoa 
que detém todo esse poder é extremamente inoperante, fala demais e não 
 39 
tem a menor objetividade. Só fui contratado por exigência da própria 
prefeitura que queria pessoal qualificado pra coordenar o projeto. Como o 
projeto estava previsto pra durar dois anos, fui dispensado. Nem fiquei 
surpreso, tive muitos conflitos com a direção. Eles meio que me engoliram, 
por causa da exigência da prefeitura e porque o projeto foi bem executado. 
(Sujeito 2A). 
A relevância pelo relato de um ex-colaborador – Sujeito 2A – reside 
na observação de que, em vinte anos de atividades, ele foi um dos raros 
profissionais com qualificação técnica adequada, trabalhando na Entidade A. Houve, 
ainda, outros cinco ex-colaboradores com graduação superior, convidados a 
participar da pesquisa. Todos se recusaram e apenas um justificou, argumentando 
questões éticas; os quatro convidados restantes apenas afirmaram não possuir 
interesse em contribuir, fosse com a pesquisa, fosse com a instituição. 
Sobre esta resistência à qualificação profissional de seus quadros, 
as falas de dois atores institucionais sintetizam o posicionamento geral da entidade 
A. 
Não adianta contratar um assistente social pra administrar isso aqui. 
Sempre funcionamos assim, sem ninguém com diploma. É só mais uma 
crise, já passamos por outras e vamos passar por essa também, com ou 
sem assistente social, advogado, psicólogo, nada disso. (Sujeito 3A). 
Olha só, eu não tenho faculdade. Nem terminei a oitava série, mas tô 
administrando tudo isso há mais de dez anos. Se eu não preciso de 
diploma, eles também não precisam. (Sujeito 4A) 
Ainda de acordo com o Sujeito 1A, foram apresentadas, ainda, 
outras propostas, todas relacionadas a atividades de planejamento estratégico com 
a finalidade específica de proporcionar à entidade, uma estrutura adequada ao 
cumprimento de seus objetivos. 
Pelos estudos que realizamos em atas de assembléias e relatórios 
de atividades institucionais, observamos que, de todas as alternativas propostas aos 
gestores, apenas uma obteve aprovação. Tratou-se de um Plano de Trabalho para 
aumento nos valores do financiamento público das creches comunitárias mantidas 
pela entidade. No documento referido, estavam previstas as obrigações das partes 
do convênio. Todas as obrigações do poder público foram cumpridas, inclusive a 
pontualidade dos repasses financeiros. Entre as obrigações não cumpridas pela 
entidade A, no entanto, uma delas tratava exatamente da adequação e qualificação 
dos quadros. 
 40 
Observamos ainda, que as atividades de gestão institucional se 
resumem a assembléias anuais e reuniões semanais. Nestes encontros, são 
tomadas decisões sobre assuntos pertinentes ao cotidiano institucional. Contudo, 
quase a totalidade destas decisões não se traduz em nenhuma resolução prática, 
constituindo-se em mera formalidade, mascarada pela dissimulação presente no 
discurso de seus dirigentes. 
Algumas decisões que, efetivamente, são praticadas, são aquelas 
tomadas individualmente pelo presidente da entidade, quase sempre à revelia de 
outros colaboradores e mesmo dirigentes. 
A gestão operacional, por sua vez, limita-se ao controle de 
informações bancárias, apuração das receitas, ordenação das despesas com folha 
de pagamento, além de ressarcimento das despesas tomadas pelos gestores. Sobre 
este último procedimento, cabe uma análise mais cuidadosa. 
Verificamos que a entidade não exerce qualquer tipo de controle 
sobre as despesas passíveis de ressarcimento. O dirigente solicitante apresenta 
recibos, notas fiscais e notas de despesa de qualquer natureza e é automaticamente 
reembolsado sem que sejam questionadas ou verificadas a relevância ou justificativa 
das mesmas. 
Tais procedimentos não representariam, necessariamente, um 
problema, desde que a entidade cumprisse suas obrigações primeiras, ou seja, 
custear as despesas que efetivamente foram tomadas na consecução genuína e 
legítima de seus objetivos institucionais. Mas, este não é o caso, como veremos. 
Segundo o termo de convênio, cujo objeto é a manutenção de 
creches comunitárias, a entidade recebe do poder público municipal, valor suficiente 
para custear a folha de pagamento – considerados, inclusive, o aprovisionamento

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