Buscar

FILOSOFIA DE ANSELMO DE CANTUÁRIA


Continue navegando


Prévia do material em texto

FILOSOFIA DE ANSELMO DE CANTUÁRIA 
Anselmo de Cantuária desenvolverá sua filosofia na forma de provar a existência de Deus por meios racionais. Anselmo era um católico fervoroso e para ele a fé para se compreender a Deus é imprescindível, pois é a fé que propicia a sede de conhecimento, e é impossível conhecer aquilo que antes não se buscou conhecer.
O filosofo parte então do princípio da fé. Para Anselmo não se pode afirmar que exista uma independência da fé em relação à razão, nem da razão em relação à fé, mas pelo contrário, pode-se concluir destemidamente que há entre as duas uma hierarquia de prioridade, como declara o próprio pensador na prece inicial do Proslogion: “...desejo, ao menos, compreender tua verdade, que o meu coração crê e ama. Com efeito, não busco compreender. Efetivamente creio, porque, se não cresse, não conseguiria compreender” (Santo Anselmo – proslogion – p.101).
Para Anselmo o homem é um ser incompleto, propenso a falhas, um ser que tem poucas certezas e muitas dúvidas e é quando ele se dá conta da sua miséria e passa a rogar pela perfeição que lhe falta. É natural, portanto, que o homem ame e busque a Deus na contemplação do mistério e na fé que já possui, se desprenda das ocupações levianas e concentre-se na quietude de sua mente para rogar e buscar somente a Deus.
Usaremos aqui dois conceitos de fé: fé viva (operosa fides), a fé consciente de si mesma, que cumpre seu dever, que procura mergulhar no mistério através da ação vivente e vivificante do amor. E a fé morta (otiosa fides) não tem espirito, é sem amor pelo saber, sem interesse, sem investigação.
A fé viva aponta para seu objeto e procura viver naquilo em que acredita. Anselmo vai dizer que um conceito primordial de Deus é “tudo aquilo que é melhor ser do que não ser, de maneira absoluta”. Para Anselmo Deus é o absoluto, o absoluto que vem do latim que quer dizer independência, não relação. Cabe a Deus, como um ser absoluto, somente os atributos que indicam uma essência absolutamente melhor que sua respectiva negação. Deus é sábio porque é absolutamente melhor ser sábio a não ser sábio; Deus é perfeição porque é absolutamente melhor ser perfeito a não ser perfeito. Cito aqui Mario Ferreira: “ a negação da perfeição é privação. O Ser infinito é absoluto, e como não está privado de perfeiçoes, nem é deficiente, nele as perfeiçoes são positivas e infinitas. ” (Mario Ferreira dos Santos, Filosofia Concreta, p. 36 e 37)
A teologia negativa é recorrente nas religiões e no pensamento metafisico. Esta vertente afirma que só é possível afirmar algo sobre a intima natureza divina por uma negação, ou seja, por aquilo que Deus não é e se esta fosse negativa teria de afirmar que Deus é o mesmo que nada. Saber que Deus é o ser do qual não é possível pensar nada maior é saber sobre Deus de algum modo. Da mesma maneira, saber que Deus não é necessário, ou seja, não pode ser, é saber sobre Deus de alguma forma.
Diante dos preceitos da ontologia anselmiana de que ao “ser do qual não é possível pensar nada maior”, não cabe somente na inteligência mas também na realidade, a conclusão inevitável é, portanto: “o ser do qual não é possível pensar nada maior existe, sem dúvida, na inteligência e na realidade. ” Como no início do capítulo II, Deus é definido como o ser que nada de maior pode ser pensado, logo, Ele existe realmente.
Anselmo então chega a uma certeza que não é possível pensar a não existência de Deus. Cito aqui Mario Ferreira: “ só o Ser existe; tudo o que não é ser ou não participa do ser não existe, é o nada, e o nada é nada, a negação absoluta de qualquer coisa. ” O Ser, portanto, é necessário, pois necessariamente sempre existiu, caso contrário, existiria um nada absoluto que o antecederia, o nada absoluto na pode e nada provê. 
Portanto, o que podemos perceber na filosofia de Anselmo é que a existência de Deus é necessária e basta ao homem crer para compreender, porém isso apenas se dá quando o homem volta-se para seu interior e lá busca a este Deus que não é possível pensar nada maior.
REFERENCIAS
< http://filosofiaconcreta.wordpress.com/edicao-no-2/o-proslogion-de-santo-anselmo-na-perspectiva-de-mario-ferreira-dos-santos-e-julian-marias/ >
GILSON, Etiene. A Filosofia na Idade Média/ Etiene Gilson. Tradução de Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 1995.