
Rev. hist. comp., Rio de Janeiro, v. 9, n. 1, p. 203- 231, 201 5.
tinham uniformes e simbologia de origem germânica, muitos dos torturadores
exibiam símbolos nazistas, etc. E, acima de tudo, a violência por eles ap licada era
tamanha que parecia se justificar que Pinochet, Médici ou Videla fossem colocados
ao lado de Hitler e Mussolini.
Quando pensamos, contudo, em termos con ceituais, o uso excessivo do
termo só p ode se tornar danoso. Se tudo é fascismo ou este é simplesmente
sinônimo de autoritarismo, então o conceit o em si nada significa e isso nos impede
de ter acesso a um instrumental analítico diferenciado para compreender a
realidade. No caso das ditaduras militares, simplesmen te chamá -las de fascistas
pode ser emocionalmente prazeroso, mas nos impede de compreender a dinâmica
de forças dentro de cada uma delas e suas diferenças e proximidades.
Esse texto procura trabalhar neste sen tido, abordando as dita duras
militares de Brasil, Argentina e Chile. O seu objetivo não é apenas o de analisá -las
frente ao modelo ideal de fascismo no sentido weberiano do termo de forma a
defini-las ou não enquanto tal, mas também compreender como forças, organismos
e ideias fascistas podem ter permanecido vivas e atuantes dentro dos regimes
ditatoriais, mesmo quando estes, em síntese, não eram fascistas.
Farei, nesse sentido, uma análise inicial mais teórica e geral, a qual
procurará discutir como, teoricamente, ditadura e autoritarism o n ão são
sinônimos de fascismo e que, portanto, quaisquer tentativas de fazer essa
aproximação conceitual carecem de sentido. Posto isso, examinarei os casos de
Brasil, Chile e Argentina, na busca de informações sobre a presença da extrema -
direita e dos fascism os locais na constituição dos seus respectivos regimes
militares. A questão central a ser trabalhada é em que medida a extrema-direita
atuou no in terior desses regimes e se e como isso teve influências na constituição
dos mesmos.
Para tanto, o viés com parativo será esse ncial. Farei, para cada um dos três
casos estudados, um retrospect o da ação da extrema-direita de base fascista desde
os anos 1930 até o período populist a, de forma a termos uma noção mínima sobre
os grupos em estudo. Posto isso, analisar ei como estas forças e grupos se
articularam p ara participar dos golpes de 1964, 1973 e 1976 e sua at uação nos
regimes que surgiram a partir dos mesmos. Na conclusão, tentarei amarrar os