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Caderno Direito Constitucional I - Dirley Cunha FBDG

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Beatriz Rosier
Faculdade Baiana de Direito 
DIREITO CONSTITUCIONAL I
Prof. Dirley da Cunha Jr.
Constitucionalismo
Origem e conceito
A origem do constitucionalismo vem da antiguidade clássica, do povo hebreu.
É através da Constituição que aquele movimento pretende realizar o ideal de liberdade humana com a criação de meios e instituições necessárias para limitar o poder político, opondo-se, desde a sua origem, a governos arbitrários.
Conceito
Constitucionalismo representa um movimento político e filosófico inspirado por ideias libertárias que reivindicou, desde o seu primeiro momento, um modelo de organização política lastreada no respeito dos direitos dos governados e na limitação do poder dos governantes. 
Desenvolvimento do constitucionalismo 
Constitucionalismo antigo 
Grécia
O poder político dos governantes foi rigorosamente limitado, não apenas pela soberania das leis, mas também pela instituição de um conjunto de mecanismos de cidadania ativa (eleger os governantes; tomar decisões políticas; sistema de responsabilidades – mover uma ação criminal; se opor na reunião da Assembleia). Povo nessa época eram apenas os homens livres, mulheres e escravos não eram.
Democracia direta – soberania popular. O povo tem todo o poder político. “todo poder emana do povo e em seu nome será exercido”. 
República romana
Sistema de freios e contrapesos – dividir e limitar o poder político. 
Constitucionalismo medieval 
Acontece na Inglaterra. Magna Carta inglesa de 1215 – foi um pacto constitucional entre o Rei e a Nobreza+ Igreja, que alcançou a limitação do poder absoluto do rei, das garantias das liberdades individuais.
Constitucionalismo moderno
Influências iluministas – doutrina do contrato social e dos direitos naturais. Surge vinculado à ideia de Constituição escrita. As constituições dos EUA e da França possuem: organização do Estado e limitação do poder estatal, por meio de uma declaração de direitos e garantias fundamentais. 
Inglaterra
Petition of rights 1628 – petição de direitos que pedia alguns tipos de condições para se viver de forma melhor para o Rei. Requerendo liberdades e direitos. 
Habeas corpus act 1679 – anular as prisões. 
Bill of rights 1689 – resultado da revolução gloriosa: saiu de monarquia absolutista para monarquia constitucional.
Estados Unidos
Independência das 13 colônias inglesas – representa a libertação do povo do controle da Inglaterra.
Constituição de 1787 – é a primeira constituição escrita do mundo.
França
Revolução Francesa – ruptura de uma monarquia absolutista e consagrar um estado de direito. 
Influências iluministas 
2ª constituição escrita do mundo (1791)
Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789
Advento da primeira guerra mundial
O Estado que era liberal e passivo passa a ser social e intervencionista (o movimento constitucional se desvencilha do liberalismo).
Neoconstitucionalismo
Após a 2ª guerra mundial, o Estado legislativo de direito passa a ser um Estado constitucional de direito
Conjunto de transformações:
Marco histórico: a formação de um Estado constitucional de direito.
Marco filosófico: marcado pelo pós-positivismo e pela centralidade dos direitos fundamentais e a reaproximação entre o direito e a ética.
Marco teórico: reconhecimento da força normativa da Constituição, expansão da jurisdição constitucional, reforço da proteção dos direitos fundamentais e desenvolvimento da dogmática da interpretação constitucional – a lei é o centro e tudo tem que ser fundamentado nela. Autor: Konrad Hesse. 
O Direito Constitucional
Estudo da história do constitucionalismo dos povos, as instituições jurídicas, os fenômenos políticos e as constituições.
Espécies do direito constitucional:
Direito Constitucional Positivo: estuda as constituições vigentes em cada país.
Direito Constitucional Comparado: estudo das normas constitucionais positivas, mas não obrigatoriamente vigentes, de vários Estados, ou do mesmo Estado em épocas diferentes, visando estabelecer semelhanças e diferenças.
Direito Constitucional Geral: Teoria geral do direito constitucional. 
O Direito Constitucional alimenta, a partir dos seus princípios, e fundamenta, a partir de suas bases, os outros ramos do direito.
Fontes do direito constitucional:
Fontes diretas: 
Não escritas: como a Inglaterra, a fonte são os costumes. 
Escritas: os costumes também têm importância, inclusive para a construção da constituição; e a constituição. 
Fonte indireta: jurisprudência constitucional e a doutrina constitucional.
Teoria da Constituição
Conceito de Constituição 
É a lei orgânica do poder. A Constituição consiste na ordenação jurídica fundamental do Estado e da comunidade. Conjunto de normas jurídicas fundamentais que parametrizam toda a vida do Estado. Organiza o estado brasileiro como uma República Federativa – forma de estado (federação) e forma de governo (república).
Peter Haberle – a constituição é um processo público e dinâmico na medida em que o seu conceito vai se moldando com a sociedade. 
Sentido da Constituição 
Sentido Sociológico 
Ferdinand Lassalle: A constituição não é algo inventado pelo homem, ela corresponde a soma dos fatores reais de poder que regem uma determinada sociedade. Para ele, a verdadeira constituição, a real, efetiva, é aquela que resulta da realidade social.
Os fatores reais de poder eram a própria monarquia, aristocracia, a burguesia, os trabalhadores; a soma desses fatores reais é a Constituição. 
Constituição é só realidade. 
Sentido Político
Carl Schmitt – “Teoria da Constituição”: a Constituição se limita a um conjunto de decisões políticas fundamentais sobre o conjunto concreto que dispõe sobre o modo e a forma de existir da unidade política. 
Constituição é a valoração política do povo. 
Sentido Jurídico 
Hans Kelsen – teoria pura do direito: A Constituição é uma norma jurídica pura, apenas a norma suprema, é uma lei como qualquer outra, mas acima de todas as outras. 
Constituição é norma jurídica, última do sistema jurídico positivado. 
Sentido Cultural
Reunião de todos os sentidos já estudados. O direito é objetivo da cultura humana, e a Constituição, por consequência, também. 
Miguel Reale – a teoria tridimensional do direito – direito é norma, mas também fato social e valor. 
Konrad Hesse – a forma normativa da constituição. Ele concordava e discordava de Lassalle em diversos pontos - a constituição é produto da realidade social, mas, na medida em que a constituição vai se manifestando, ela sai dessa realidade e passa a exercer pretensão jurídica de regulamentar essa mesma realidade que a criou. 
Classificação da Constituição
Conteúdo 
Formal – positivadas dentro de um ordenamento – Constituição Federal de 88.
Material – escritas ou não, podendo vir de costumes – Constituição da Inglaterra
Forma
Escrita – Constituição dos EUA 1787, Franca 1791 ou Constituição Federal de 88.
Não-escrita – Constituição da Inglaterra.
Origem
Promulgada – elaborada por representantes legítimos, origem democrática– Constituição Federal de 88.
Outorgada – origem autoritária, imposta pelo Estado como forma de legitimar o poder – Constituição Imperial 1824 /1967.
Pactuada – surge de um acordo bilateral entre forças antagônicas – Constituição da Franca 1791
Cesarista – elaborada por um governo opressor, mas leva para o povo aceitar, mas como uma máscara para dizer que é democrática – Código Napoleônico.
Estabilidade
Imutável – não pode ser mudada nunca. Constituição de 1824 nos primeiros 4 anos não podia mudar.
Fixa – permitida a alteração desde que seja alterada pelo poder que a constituiu, pegar as pessoas que criaram a constituição – não tem exemplo.
Rígida – pode ser alterada, mas tem alguns critérios – Constituição Federal de 88.
Flexível – pode ser alterada sem nenhuma dificuldade, sem critérios – Constituição Inglesa 
Semirrígida – mistura da flexível com a rígida, tem critérios para algumas coisas e não para outras.
Extensão 
Sintética ou concisa – poucos artigos. Normas deconteúdos mais gerais. Constituição dos EUA. 
Analítica ou prolixa – muitos artigos. Constituição Federal de 88.
Finalidade
Garantia/liberal – se limita em organizar o estado e a liberdade de cada indivíduo – liberalismo, o estado se abstém de intervir na vida dos indivíduos. Declaração de direitos do Homem e do Cidadão. Constituição França 1791.
Social/dirigente – a partir das 2 primeiras décadas do século XX, com o advento da primeira guerra, garante a dignidade da pessoa humana, o estado do bem-estar social. Constituição Federal de 88.
Modo de elaboração 
Dogmática – conjuntos de valores fundamentais que vão permear toda a constituição. Constituição Federal de 88.
Histórica – normas não escritas, que demoram um processo longo para serem mudadas. Constituição Inglesa – baseada em costumes. 
Ideologia
Ortodoxa – uma única ideologia – Constituição URSS
Eclética – abrange diversas ideologias – Constituição Federal de 88.
Modo de ser
Normativa – dotada de valor jurídico, que possui forca normativa suficiente para regular toda a organização social. Constituição Federal de 88.
Nominal – sem valor jurídico e capacidade de regulação. Com normas imperativas. Constituição imperial de 1824.
Semântica – utilizada a serviço do governo autoritário, com o objetivo de eternizar a intervenção dele no poder. Constituição brasileira de 1967/69.
Classificando a Constituição de 1988: conteúdo formal; forma escrita; origem promulgada e democrática; estabilidade rígida; extensão prolixa e analítica; finalidade social dirigente; modo de elaboração dogmática; ideologia eclética; modo de ser normativa. 
Estrutura da Constituição
Preâmbulo 
Anúncio prévio dos principais valores que informaram e parametrizaram o agente constituinte para a elaboração da constituição. Não tem força normativa. 
Parte dogmática 
Articula os direitos humanos fundamentais como dogmas. 
Parte transitória 
Promover a integração da ordem anterior com a nova. 
Elementos da Constituição
Orgânicos: Regulam o Estado e o Poder.
Limitativos: Normas que formam o catálogo de direitos e garantias fundamentais, que limitam a ação do Estado.
Socio-ideológicos: Normas que revelam o comprometimento das Constituições atuais entre o Estado individual e o Estado social. 
Estabilização constitucional: Garantir a solução dos conflitos constitucionais e a defesa da Constituição.
Formais de aplicabilidade: Regular a forma da aplicação da própria Constituição. 
Poder Constituinte
Conceito 
É o poder do povo, no qual o povo, soberanamente, expressa a sua vontade de produzir a sua própria constituição. Até o século 18 o poder constituinte sempre esteve associado a figura do soberano, nos regimes absolutistas. 
Revolução de independência dos EUA – as colônias resolveram se unir, e com isso, o poder constituinte foi exercido pelo povo. 
Revolução Francesa – reação contra o modelo opressor do Estado; revolução em busca da liberdade. 
Antes o poder constituinte estava na mão do soberano, depois da revolução passou a estar na mão do povo. 
Pensamento de Sieyes 
Foi um dos líderes da Revolução Francesa, Abade Sieyes apresentou um texto com os interesses dessa revolução, que alcançou os camponeses de toda a França, e que fizeram-nos apoiar a revolução. 
O texto foi o estopim para se deflagrar a revolução. Nesse texto existiam as três perguntas:
“O que é o terceiro estado?” – é tudo, pois é o único que paga tributos, produz riquezas, ou seja, sustenta toda a estrutura do regime. É o único que tem condições plenas de se reunir como uma única nação.
“O que tem sido o terceiro estado?” – apesar de ser tudo, não tem sido nada. Ele não tem sido favorecido por nada, ele vive a margem de uma sociedade desigual, oprimida por um regime opressor. 
“O que pretende ser o terceiro estado?” – a única nação que tem o poder de se organizar, por meio de sua nação, elaborando a sua própria constituição. 
A teoria do poder constituinte surgiu a partir dessas duas grandes revoluções.
Titularidade e exercício 
O único titular é o povo. A titularidade é do povo, mas o exercício é delegado aos representantes. Os representantes do povo no exercício do poder Constituinte são chamados de “constituintes”.
No Brasil usamos a Assembleia Nacional Constituinte, assim como na França. A ideia essencial é a de que os representantes do povo, exercendo o poder constituinte em nome do povo, criar uma Constituição. 
Espécies 
Originário: É dele onde as Constituições se originam, nas Assembleias Constituintes. 
Derivado 
Reformador: Competência de alterar a Constituição por meio de emendas constitucionais. Exercida no Brasil pelo Congresso Nacional. 
Decorrente: Poder constituinte exercido pelos estados federados para elaborar e emendar as Constituições locais. Exercida pelo Congresso Nacional.
Características 
Poder Constituinte Originário:
Poder inicial – inaugura uma nova ordem constitucional.
Poder autônomo – estabelece os novos termos da Constituição. 
Poder ilimitado – não tem limites para cumprir a sua atividade.
Poder incondicionado – não há condições formais prévias para a sua manifestação. 
Poder permanente – permanece existindo mesmo após a promulgação da Constituição, mas em estado difuso. 
Poder Constituinte Derivado:
Poder secundário – garante a continuidade da ordem, dos fundamentos de estrutura do Estado. 
Poder dependente – ele depende do originário. 
Poder limitado – é limitado pela própria Constituição. 
Poder condicionado – a própria Constituição estabelece a sua forma de manifestação. 
Poder temporário – só é exercido de tempos em tempos. 
Limitações (poder derivado)
Temporais: Proíbem as mudanças/reformas nas Constituições durante determinado período. A Constituição de 1824 adotou limitações temporais – artigo 174 diz que ela não pode ser emendada nos 4 primeiros anos.
Circunstâncias: A limitação está associada ao fator ocorrência, circunstância. A Constituição não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, de estado de defesa ou de estado de sítio.
Materiais/ substanciais 
Cláusulas Pétreas: limitações que impedem que o poder derivado venha a abolir matérias previstas expressamente ou implicitamente na Constituição que são consideradas imprescindíveis à ordem constitucional. Exemplo: direitos fundamentais são cláusulas pétreas.
Explícitas: expressadas no texto. Não é objeto de deliberação a proposta que tentar abolir: forma federativa, voto, separação de poderes, direitos e garantias.
Implícitas: não são previstas de forma clara e visível, são extraídas da própria natureza da Constituição. Nelson de Souza Sampaio: proposta que retire a titularidade do Poder Constituinte do povo, suprima a competência reformadora da Constituição, proíba o poder derivado de modificar a constituição a fim de mudar a estabilidade da constituição (rígida semirrígida)
Formais/ procedimentais 
Deve ser respeitado um processo que está dito na constituição. Se manifesta com a exigência do cumprimento das formalidades inseridas no processo de emenda. 
Processo legislativo de emenda à Constituição (PEC)
Conjunto de formalidades imprescindíveis para a alteração formal da Constituição. É de competência exclusiva do Congresso Nacional. 
Envolve três etapas:
Fase da apresentação da PEC (Proposta de Emenda à Constituição): no Congresso Nacional. Quem tem o poder de apresentar uma PEC: 1/3 dos deputados federais,1/3 dos senadores, o Presidente da República, +50% das assembleias legislativas das unidades da Federação. 
Discussão e votação da PEC no Congresso, em sessões separadas: Câmara dos Deputados e Senado Federal, ocorrendo dois turnos em cada uma dessas câmaras do congresso, sendo ao todo 4 turnos, precisando ter no mínimo 3/5 em cada um desses turnos. Se alguma das casas não aprovar, a proposta é arquivada e só pode ser apresentada novamente 1 ano depois. 
Promulgação e publicação da emenda: quem promulga é o Congresso = não tem interferência do Presidente. O Congresso tem 3 mesas diretoras (Do Congresso, da Câmara, doSenado). Quem promulga não é a mesa diretora do congresso, e sim as 2 mesas, a da Câmara e do Senado reunidas. No dia seguinte a emenda é publicada. 
Mutação constitucional (Poder Constituinte difuso)
É uma alteração informal da Constituição, pela via da sua interpretação evolutiva, constitutiva, criativa, implicando na mudança do significado e sentido sem alterar a redação do texto, que continua a mesma. Faz-se uma releitura do texto para ter outro significado. Toda mutação constitucional tem limites – não pode suprimir direitos, não pode subverter a própria logica do sistema constitucional.
Direito Constitucional intertemporal 
Só é útil nos países que já possuíram diversas constituições, pois é aquele que disciplina as consequências jurídicas da sucessão no tempo de diversas constituições. 
Recepção: Adoção pela nova constituição do direito preexistente quando materialmente compatível com a nova constituição. É automática, presumida. Se for materialmente incompatível, ocorre a não-recepção. 
Repristinação: Não é automática, tem que ser expressa. Restauração da lei revogada em razão da revogação da lei revogadora. 
Desconstitucionalização:É a recepção pela nova Constituição. É retirar o status de norma constitucional, e rebaixar elas à condição de normas legais. Tem que ser expressa para ocorrer.
Teoria da Norma Constitucional
Conceito
São todas as disposições jurídicas inseridas numa Constituição, ou reconhecidas por ela, independentemente do seu conteúdo. São suficientemente aptas para regular todos os fenômenos da vida política e social. 
Espécies de norma constitucional 
Com o advento do neoconstitucionalismo, as normas que antes eram apenas normas regras passam a abranger também as normas princípios. Quem define essas espécies é Robert Alexy, na sua obra “Teoria dos Direitos Fundamentais”. Para Alexy, a distinção entre regras e princípios não é de grau, e sim uma distinção qualitativa. 
Análise específica (qualitativa): 
Norma constitucional princípio 
São normas que veiculam valores, são mandamentos de otimização, ou seja, devem ser concretizados no seu maior grau, porém dentro das condições fáticas e jurídicas. 
Colisão de princípios (quando um princípio veda o que outro permite): o princípio de maior valor ou peso ou importância é o que deve preponderar no caso concreto. Acontece a ponderação de bens e interesses. É interessante ressaltar que esse peso de cada princípio varia de acordo com a situação, então um princípio que, numa situação A, teve maior valor, pode, na situação B, ser o princípio de menor valor. 
Norma constitucional regra
São normas que prescrevem imperativamente uma obrigação, proibição ou faculdade, e devem ser satisfeitas ou não satisfeitas. Ou seja, quando válidas, as regras devem ser realizadas na exata medida do que prescrevem, nem mais nem menos (“all or nothing”), já que elas contêm determinações no âmbito daquilo que é sempre possível, fática ou juridicamente. 
Conflito entre regras: cláusula de exceção: se introduz, em uma das regras em conflito, uma cláusula de exceção capaz de eliminar esse conflito; dimensão da validade: se uma das regras for declarada inválida. 
Análise geral (quantitativa): 
Grau de abstração e generalidade: princípios possuem um maior grau pois são normas que fixam ideias e valores fundamentais. Já as regras definem situações fáticas hipotéticas, possuem conteúdo mais fechado e específico, portanto, possuem um menor grau. 
Grau de indeterminação: os princípios possuem um maior grau de indeterminação pois são normas de conteúdo aberto e indeterminado, precisando de complementação para determinar o seu conteúdo. Já as regras possuem um menor grau pois seu conteúdo é previamente determinado, já existe uma situação que precisa acontecer para que a regra aconteça. 
Grau de fundamentalidade: os princípios possuem um maior grau pois tem superioridade hierárquica e fundamentação bem maior que as regras, pois são dotados de valores. 
Grau de aproximação com o direito: os princípios têm um maior grau, pois são eles que dão um embasamento de como vai ser o direito. Já as regras não têm muito essa aproximação. 
Grau de normogenetico: os princípios em um maior grau pois são o início de todas as normas, eles estabelecem a origem do direito. As regras são criadas, interpretadas e aplicadas a partir dos princípios. 
Classificação da norma constitucional quanto à eficácia e aplicabilidade:
Norma constitucional de eficácia plena:
São normas autoaplicáveis e são aquelas que reúnem todos os elementos e condições necessários para a sua aplicabilidade:
Direta: não depende de nenhum ato posterior.
Imediata: não se sujeita a nenhum prazo, aplica-se imediatamente.
Integral: produz todos os efeitos que ela deseja.
Exemplo: direito à vida. 
Norma constitucional de eficácia contida:
São normas autoaplicáveis, mas podem ter a sua eficácia contida e sua aplicação não integral. Possuem aplicabilidade direta e imediata, mas nem sempre integral. Exemplo: inciso 10 do art. 5º da Constituição – é livre o exercício de qualquer profissão, ofício ou emprego, atendidas as qualificações que a lei estabelecer. 
Norma constitucional de eficácia limitada:
São normas incompletas. Tem aplicabilidade indireta, mediata e não integral. 
Normas constitucionais programáticas: estabelecem programas de governo. 
Normas constitucionais institutivas: criação de órgãos, institutos e comunidades. 
Interpretação constitucional
Hermenêutica e interpretação jurídica 
A hermenêutica é o domínio da ciência jurídica que se ocupa em formular e sistematizar os princípios que subsidiarão a interpretação, enquanto a interpretação é a atividade prática que se dispõe a determinar o sentido e o alcance dos enunciados normativos. 
A interpretação atua no mundo dos fatos, buscando solucionar os problemas reais. É operada pelas ideias, métodos e postulados estabelecidos pela hermenêutica. Já a hermenêutica atua no mundo das ideias, é uma atividade de pensar. Trabalha com as ideias que vão estabelecer os parâmetros adotados pela interpretação. 
A interpretação não pode atuar fora da realidade, pois a interpretação existe para resolver os problemas existentes na realidade, preservando essa dialética. 
A interpretação jurídica é a interpretação do direito por meio da qual o intérprete declara, constrói e reconstrói sentidos, significados e alcances dos textos jurídicos à luz da realidade contemporânea, visando a solução dos problemas extraídos do mundo dos fatos. 
Interpretação constitucional 
A interpretação jurídica envolve a interpretação constitucional. contudo, a interpretação constitucional tem por objeto a compreensão e aplicação das normas constitucionais, ela se serve de princípios próprios que lhe conferem especificidade e autonomia. 
As normas constitucionais veiculam conceitos abertos, vagos e indeterminados que conferem ao intérprete um amplo “espaço de conformação”. As normas constitucionais são normas de organização e estrutura, que traçam as competências orgânicas e fins do Estado, e disciplinam, inclusive, o processo legislativo de elaboração das normas legais, distinguindo-se, mais uma vez, destas ultimas, que são normas prescritivas de condutas humanas. 
A interpretação da constituição tem que ser sujeita a um trabalho de muita cautela, pois o que vier dessa interpretação vai se impor a todo o ordenamento jurídico nacional. 
Métodos de interpretação constitucional 
Método jurídico ou hermenêutico clássico
Escola Histórica de Direito de Savigny 
A constituição é uma lei e deve ser interpretada como tal, deixando de lado a supremacia constitucional. por isso, o intérprete deve fazer uso dos elementos da hermenêutica jurídica:
Elemento literal (filológico ou gramatical): interpretação literal da lei, explorando as palavras contidas no enunciado. Pode causar erros na interpretação. 
Elemento histórico: voltar na época em que a Constituição foi elaborada e entender o que o legislador pensou no momento da construção da lei e, a partirdisso, reconstruir a história do dispositivo normativo. 
Elemento sistemático: deve-se interpretar a constituição levando em consideração que ela é um conjunto de normas constitucionais. 
Elemento finalístico (teleológico): deve-se interpretar buscando os fins para os quais os preceitos interpretados se detêm.
Método tópico-problemático
Theodor Viehweg 
A tópica é uma técnica de pensar o problema, ou seja, uma técnica mental que se orienta para a solução de um problema. A interpretação constitucional tem natureza prática, pois se propõe a resolver problemas práticos. Além disso, a constituição possui normas de conteúdo aberto, causando uma dificuldade de se extrair da norma a solução para resolver um problema. 
A interpretação precisa começar pela discussão do problema concreto que se pretende resolver para, só ao final, se identificar a norma adequada. 
Problema norma.
Método hermenêutico-concretista
Konrad Hesse
Não discorda de Theodor Viehweg quanto ao fato de que a interpretação é uma atividade prática e as normas constitucionais são abertas, mas acredita que a interpretação tem que vir do texto para a solução do problema. 
A leitura da constituição deve se iniciar pela pré-compreensão do seu sentido através de uma atividade criativa do intérprete. 
Na pré-compreensão do enunciado o intérprete não age arbitrariamente, pois o seu trabalho de determinar o próprio conteúdo da norma deve estar vinculado à realidade histórico-concreta do momento e condicionado pela consciência jurídica geral. É através da pré-compreensão que o problema da vagueza e abertura do conteúdo da norma constitucional vai ser superado. 
A interpretação deve ser iniciada pela análise do texto constitucional para chegar a solução do problema. 
Método científico-espiritual 
Rudolf Smend 
Deve-se levar em consideração a compreensão da constituição como uma ordem de valores e como elemento do processo de integração. É necessário captar o espírito axiológico da constituição. 
A constituição é uma ordenação jurídica da dinâmica vital em que se desenvolve o Estado, desempenhando uma função de integração da vida estatal. 
Método normativo-estruturante
Friedrich Muller 
Deve-se considerar tanto os elementos resultantes da interpretação do texto como os decorrentes da investigação da realidade. A norma é o significado e o resultado dessa conjugação que o intérprete faz entre o texto normativo e a realidade. diante dessa análise, constata-se que é a interpretação que constrói a norma, e não o contrário como pensamos tradicionalmente. 
Princípios de interpretação constitucional
Princípio da unidade da Constituição: A constituição é um sistema unitário de normas jurídicas, representando uma unidade de pluralidade de normas. Por isso, as normas constitucionais devem ser interpretadas em conjunto, como partes integrantes desse sistema, buscando-se evitar possíveis contradições com outras normas da própria constituição.
Princípio do efeito integrador: a interpretação deve privilegiar os critérios e sentidos que favoreçam uma maior integração social, política e cultural de uma sociedade. 
Princípio da máxima efetividade: a interpretação deve extrair o máximo de enunciados constitucionais com vista a concretizá-los, potencializando a sua efetividade; 
Princípio da justeza ou conformidade funcional: tem a finalidade de impedir que o intérprete modifique o sistema de repartição e divisão de funções estatais.
Princípio da concordância prática ou harmonização: quando o intérprete se deparar com um conflito de interesses (tutelados pela constituição), ele deve buscar sempre harmonizar e garantir a pacificação desses interesses (ponderação).
Princípio da presunção de constitucionalidade das leis: por conta da supremacia jurídica da constituição, todas as leis e atos infralegais devem observância à constituição. Esse dever implica uma presunção de constitucionalidade, ou seja, presume-se que todas as leis são editadas em harmonia com a constituição. 
Princípio da interpretação da lei conforme a Constituição: esse princípio só se aplica em casos de leis que estão sendo interpretadas e possibilitam mais de um significado (plurissignificativas). Os intérpretes devem escolher o sentido que as torne constitucionais e não aquele que resulte na sua declaração de inconstitucionalidade. Esse princípio, além de valorizar o trabalho legislativo, aproveitando ou conservando as leis, previne o surgimento de conflitos. 
Controle de constitucionalidade
Conceito
O controle de constitucionalidade tem o intuito de assegurar a supremacia constitucional, que é a base de sustentação do estado democrático de direito. 
Aspecto estrutural: 
Sistema de garantia e defesa da Constituição. É uma forma de proteger as normas constitucionais diante de eventuais leis ou atos normativos que venham a contrariá-las. 
É um “sistema imunológico” da constituição – garante a imunidade dos princípios e regras da constituição diante de qualquer ataque que venha do legislador, que pode produzir leis que violem a constituição.
Aspecto funcional:
É uma atividade que determinados órgãos exercem de fiscalização dos atos e leis normativos para aferir e examinar sua compatibilidade com as normas constitucionais. 
Se ao fim dessa atividade de fiscalização conclui-se que há a certeza que a lei ou ato fiscalizado viola alguma norma constitucional, ocorre como resultado a declaração da inconstitucionalidade, que gera a nulidade total dessa lei ou ato. Se no final dessa fiscalização conclui-se que não há violação ou certeza de violação (presunção de constitucionalidade), mantem-se a lei no sistema jurídico. 
Pressupostos
O controle de constitucionalidade só é previsto nos países que seguem esses pressupostos.
Constituição formal e escrita: o controle de constitucionalidade requer a existência de constituições formais e escritas.
Rigidez constitucional: não haver supremacia da constituição diante de uma constituição flexível. Essa rigidez constitucional decorre da previsão de um processo especial, reservado para alteração das normas constitucionais, processo distinto do processo comum e simples, previsto para a elaboração e alteração de leis ordinárias. 
Órgão de controle constitucional: é necessário que as constituições indiquem ao menos um órgão para exercer o controle de constitucionalidade. 
Modelos de controle de constitucionalidade 
Os modelos do controle surgiram para responder a esses questionamentos: quem exerce essa atividade? Como esses órgãos atuam? Quais os efeitos e as consequências? 
Modelo americano 
Estados Unidos da América, 1803. Julgamento do caso Marbury X Madison – Juiz John Marshall (Suprema Corte)
Características:
Reconhecimento da supremacia da Constituição: diante de uma antinomia entre uma lei e a constituição, foi decidido que a Constituição deve prevalecer, surgindo, assim, o dogma da supremacia constitucional. 
Controle judicial difuso: o controle de constitucionalidade é difuso pois não é exercido por apenas um órgão, mas sim por todos os órgãos do Poder Judiciário, por todos os juízes e tribunais. Diante disso, todos os juízes e tribunais têm a obrigação de, ao constatar alguma lei que viole a Constituição, declarar a sua inconstitucionalidade. 
Controle concreto: o controle é concreto pois só pode acontecer através do julgamento de um caso concreto, onde as partes em conflito estão discutindo a aplicação de uma lei que viole ou não a constituição. 
Controle incidental: o controle é incidental pois a inconstitucionalidade é examinada não como questão principal, mas como incidente dessa questão principal. O incidente acaba determinando o modo de julgamento da questão principal. 
Efeitos:
Inter partes: essa decisão de inconstitucionalidade só vincula as partes do processo. Portanto, ainda que declarada a inconstitucionalidade nesse caso, essa lei ainda pode ser aplicada em outros casos. OBS: se for uma decisão da Suprema Corte dos EUA, por conta do princípio do “stare decisis”, se firma um precedente obrigatório ea decisão passa a ter efeitos “erga omnes”, ou seja, vale para todos os casos posteriores, não se limitando as partes do caso. 
“Ex tunc”: a decisão é retroativa, ou seja, ela retroage para por fim na lei desde a sua origem. 
Modelo europeu
Áustria, 1920. Hans Kelsen com a criação de uma nova constituição. 
Características: 
Controle concentrado: o controle é concentrado pois só é exercido pelo tribunal constitucional (órgão criado apenas para exercer o controle de constitucionalidade). 
Controle abstrato: o controle é abstrato pois não precisa de nenhum caso concreto, ele é exercido a partir de uma fiscalização abstrata de uma lei que é impugnada e questionada no tribunal constitucional. examina o conflito entre duas normas, e não o contraste de interesses entre partes de um processo. 
Controle principal: o controle é principal pois não há caso, a inconstitucionalidade de uma lei é a única questão examinada nas ações diretas (ações específicas que levam o pedido de declaração de inconstitucionalidade – os países que adotam esse modelo precisam ter essas ações).
Efeitos: 
“Erga omnes”: a decisão tem efeito para todos. 
“Ex nunc”: os efeitos não são retroativos, ou seja, o que se decidiu anteriormente com base nessa lei continua sendo válido. A decisão só é válida para casos que vierem a partir daquele momento. 
Controle de constitucionalidade no Brasil
O sistema de controle de constitucionalidade no Brasil é híbrido, ou seja, combina os dois modelos, pode acontecer das duas formas. 
Modelo americano no Brasil:
Difuso: qualquer juiz ou tribunal do Poder Judiciário pode exercer. 
Concreto: analisa um caso concreto. 
Incidental: por demanda de uma ocasião judicial concreta
Decisão “inter partes”: a decisão sempre vai ser inter partes, mesmo que proferida pelo STF. Para que a decisão seja “erga omnes” é necessário que o Senado Federal peça a análise de inconstitucionalidade (art. 52 inciso 10 da Constituição Federal de 1988).
Efeito “ex tunc”: a decisão retroage para o início da lei. 
Modelo europeu no Brasil:
Concentrado: o STF é o único que pode exercer o poder concentrado, por meio das ações especiais. 
Abstrato: não precisa de nenhum caso concreto para questionar a constitucionalidade de um alei ou ato normativo. 
Decisão “erga omnes”: a decisão nesse caso, vale para todos, sem precisar do Senado.
Ações especiais:
ADI (Ação Direta de Inconstitucionalidade): é proposta contra uma lei ou ato normativo visando excluir essa lei ou ato normativo do sistema jurídico. 
ADO (Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão): existe uma inconstitucionalidade por omissão de medida que deveria ser criada pelo Poder Público e não foi, com o objetivo regulamentar alguma norma da Constituição. Exemplo: a constituição determina que uma lei seja elaborada e ela não é, com isso se tem uma inconstitucionalidade por omissão. 
ADC (Ação Declaratória de Constitucionalidade): declarar a constitucionalidade da norma. 
ADPF (Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental): declarar a inconstitucionalidade da norma (mesma finalidade da ADI), mas é caracterizada pela subsidiariedade, ou seja, só é possível propor a ADPF quando a hipótese não admitir a propositura da ADI. Exemplo: ADPF contra a lei de imprensa – antes da CF88 (a ADI é limitada a leis federais e estaduais que violam a Constituição Federal).

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