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DISCIPLINA: LINGUAGEM E PRODUÇÃO DE TEXTO AULA 01 Profª. Priscila do Carmo Moreira Engelmann 2 CONVERSA INICIAL A disciplina de Linguagem e Produção de Texto foi elaborada com o intuito de auxiliar na sua preparação para interação com textos orais e escritos ao longo do seu curso de graduação. Nessa primeira aula, refletiremos sobre a importância da comunicação para a interação dos seres humanos e também sobre o quanto o domínio das práticas de leitura e escrita podem ser ferramentas valiosas na formação de cidadãos críticos e participativos, capazes de atuar como agentes de transformação social no contexto no qual estão inseridos. TEMA 1: COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM Ao falarmos em comunicação, primeiramente, é importante destacar a importância das relações que se estabelecem por meio desse processo. Bessa (2006, p. 20) considera que: As relações ocorrem entre pessoas. Elas se relacionam umas com as outras tanto em ambientes informais como em ambientes formais. Além de se relacionarem diretamente entre elas, as pessoas também se relacionam com instituições sociais. Em contrapartida, as instituições sociais podem se relacionar com uma, com um grupo ou com multidões de pessoas ao mesmo tempo. Para que mencionadas relações se concretizem, faz-se necessário o uso do processo comunicativo. Considerando o significado do termo “comunicar” como o ato de fazer saber, transmitir uma mensagem, comunicação ou ordem (Houaiss, 2009), pode-se compreender que, para que a comunicação aconteça, é preciso que haja a interação entre dois ou mais indivíduos participantes do processo. Portanto, é válido afirmar que a comunicação só acontece quando interagimos com outras pessoas usando a linguagem. Vejamos, então, o conceito desse termo: a linguagem é o processo comunicativo pelo qual as pessoas interagem entre si, e pode ser efetivada por meio de signos convencionais, sonoros, gráficos, gestuais, etc. Sabemos, portanto, que não há como efetivar processos de interação social no ambiente acadêmico e profissional sem o uso da comunicação. É válido ainda ressaltar que a comunicação se efetiva em todos os momentos de interação, não apenas por meio dos textos escritos ou orais, mas sempre que há interlocutores envolvidos na troca de informações. Diante disso, é importante que o profissional reflita sobre sua postura nos diferentes momentos de interação, considerando que gestos, muitas vezes, comunicam mais que palavras. Berenice Realce Berenice Realce Berenice Realce Berenice Realce Berenice Realce Berenice Realce Berenice Realce Berenice Realce Berenice Realce Berenice Realce Berenice Realce Berenice Realce Berenice Realce Berenice Realce Berenice Realce 3 Conforme afirmado anteriormente, que a comunicação ocorre mesmo sem o uso da escrita ou da oralidade, é importante considerarmos a classificação da linguagem verbal e não verbal, para que sejam percebidas as diferentes sequências discursivas no meio acadêmico. 1.1 Linguagem verbal Efetivada por meio do uso da palavra, escrita ou falada. Pode-se considerar como exemplos de textos verbais: carta, e-mail, bilhete, diálogo, entre outros. 1.2 Linguagem não verbal Efetiva-se por meio de diferentes signos representativos, como imagens, gestos, cores, etc. São exemplos de textos não verbais: fotos, imagens, sinais de trânsito, etc. Vale lembrar que alguns sinais de trânsito, assim como muitos outros gêneros textuais, utilizam a linguagem mista, ou seja, são compostos por imagens e palavras. 1. Linguagem formal e não formal Os níveis de linguagem se referem ao uso da linguagem em diferentes situações comunicativas, por meio da língua escrita ou da falada. É preciso considerar que diferentes contextos exigem diferentes linguagens. Por tal razão, a língua portuguesa, que utilizamos para nos comunicarmos em nosso país, se apresenta de acordo com a norma culta da 4 língua, a qual segue as normas da gramática tradicional, também conhecida como norma padrão, utilizada em documentos oficiais e situações que exigem formalidade. Também aparece sob a linguagem coloquial, que consiste na linguagem que utilizamos no cotidiano em situações informais, quando nos comunicamos com pessoas com quem temos maior intimidade. Tratando-se do contexto acadêmico, o domínio da norma padrão é necessário para a realização de atividades avaliativas e também para a interação com gêneros textuais específicos da área de Serviço Social, como documentos oficiais, relatórios, pareceres técnicos, etc. Também é importante o domínio da norma culta em algumas comunicações que ocorrem por meio da prática da oralidade (fala), como seminários, palestras, congressos, etc. Tendo visto que a norma padrão da língua, também denominada norma culta, é a linguagem que predomina no ambiente acadêmico, devido à necessidade de manter um padrão na linguagem utilizada para que a comunicação ocorra, sabe-se também que a linguagem coloquial é a que mais utilizamos no nosso cotidiano. Comunicamo-nos todo o tempo com diferentes pessoas, de forma natural, sem precisar escolher as palavras, principalmente quanto nos comunicamos por meio da fala. Portanto, a linguagem coloquial não precisa ser ensinada no meio escolar e acadêmico, pois os alunos já chegam com o domínio dessa forma de comunicação. As instituições escolares trabalham com o ensino da norma culta para que todos possam conhecê-la e utilizá-la sempre que necessário. Além disso, se não existisse uma norma padrão para a comunicação oficial, talvez a comunicação ficasse dificultada pela enorme variação linguística que existe em um país tão grande como o Brasil. Após essa explanação, depreende-se que a norma padrão não é melhor nem pior que a linguagem coloquial, porém é necessária para uniformizar a linguagem em situações comunicativas formais. Vale ainda ressaltar que a língua coloquial, ou linguagem popular, não pode ser considerada pior que outras variantes linguísticas, pois, por meio dela, as pessoas conseguem atingir os objetivos da comunicação sem maiores problemas. Por conseguinte, devem-se respeitar todas as formas de variação linguística, sejam elas por diferenças de classe social, nível de escolaridade, regionalismo, etc. 5 TEMA 2: GÊNEROS TEXTUAIS A linguagem é de natureza socioideológica e tudo “que é ideológico possui um significado e remete a algo situado fora de si mesmo” (Bakhtin, 1997: 31, destaque do autor). A ideologia é um reflexo das estruturas sociais e entre linguagem e sociedade existem relações dinâmicas e complexas que se materializam nos discursos ou, melhor, nos gêneros do discurso. (Pedrosa, 2006, s/p.) Já afirmamos anteriormente que a interação humana ocorre por meio da linguagem. Bakhtin (2000) declara ainda que essa interação se materializa em diferentes enunciados, aos quais denominamos gêneros do discurso ou gêneros textuais. Tendo em vista que os enunciados, desde os mais simples até os mais complexos, são estruturados de acordo com os diversos elementos que envolvem o contexto de produção do texto e os objetivos da comunicação, cada gênero possui uma estrutura composicional semelhante. Existe também a proximidade entre os objetivos comunicativos que interferem na escolha entre um ou outro gênero para efetivação do processo comunicativo em cada situação. A concepção bakhtiniana a respeito dos gêneros textuais nos ajuda a compreender ainda a importância da comunicação para as relações humanas: Bakhtin defende umarelação muito estreita entre os vários processos de formação dos gêneros e as ações humanas, tanto as individuais como as coletivas, o que envolve um historicismo necessário. Língua e vida humana interpenetram-se de tal modo que um gênero não será, nunca, mero ato individual, porém, uma forma de inserção social. (Pedrosa, 2006, s/p) Considerando a importância dos gêneros textuais para interação social, dominar o uso dos diferentes gêneros permite ao indivíduo transitar em diferentes contextos de forma crítica e consciente quanto à importância da atividade comunicativa para as relações em sociedade. TEMA 3: TIPOS TEXTUAIS É comum, nos estudos iniciais sobre linguagem e comunicação, a confusão entre a classificação dos gêneros textuais de tipologia textual. Conforme abordado anteriormente, os gêneros textuais são o produto concreto da materialização do discurso, seja oral, seja escrito. É válido ressaltar ainda que a classificação dos gêneros textuais pode ser infinita, pois os gêneros não são imutáveis, mas se transformam e ainda podem dar origem a novos gêneros. Exemplo concreto disso é o e-mail, um gênero textual semelhante à carta, mas que surgiu com o advento e a popularização do uso da internet. Em contrapartida à impossibilidade de quantificação dos gêneros textuais, os tipos de texto – em Berenice Realce Berenice Realce Berenice Realce Berenice Realce 6 uma linha de estudos que visa ao domínio para a prática de letramento, e não de estudos linguísticos especializados – são facilmente delimitados, pois a classificação está relacionada à organização do texto. Por tal motivo, também chamamos essa classificação de “sequências discursivas”. No âmbito da língua portuguesa, em nossa sociedade, identificamos cinco tipos de sequências discursivas: narrativa, descritiva, dissertativa, injuntiva e expositiva, conforme demonstrado na sequência. Textos narrativos envolvem elementos como espaço, tempo, personagens em um determinado enredo com sequência de acontecimentos. São exemplos dessa sequência discursiva: novela, conto, romance, fábula, etc. Os textos descritivos são mais objetivos e têm a predominância do uso de adjetivos. Não necessariamente envolvem fatos e personagens, nem sequência de tempo, mas limitam-se a descrever um objeto, cenário, pessoa ou lugar. Exemplos desse tipo de texto: anúncios de classificado, cardápios, folhetos, etc. As sequências dissertativas, comumente denominadas de texto dissertativo/argumentativo, envolvem a exposição da opinião do autor do texto acerca de um tema. É muito comum o uso desse tipo de texto em provas seletivas, concursos públicos e testes de seleção. O texto injuntivo é basicamente composto de ordens ou instruções; daí a predominância do uso de verbos no imperativo. São exemplos dessa tipologia textual: manuais de instrução, receitas, textos orientadores em geral. A sequência expositiva tem características muito próximas do texto descritivo, porém trata de temas de forma mais aprofundada. O texto expositivo objetiva apresentar um tema ou ideia, sem a interferência da opinião do autor. É comum a predominância da sequência discursiva em notícias e relatórios. Apesar da classificação dos tipos textuais e da exemplificação demonstrada, é válido ressaltar que, em alguns textos, misturam-se vários tipos de sequência discursiva, normalmente havendo predominância de um deles. TEMA 4: LEITURA E LETRAMENTO O termo “letramento” passou a ser difundido, no Brasil, a partir da década de 1980, devido à necessidade de tratamento a diferentes processos de leitura que ultrapassassem o processo de decodificação das letras alcançado por meio da alfabetização. Dessa forma, ser letrado é muito mais do que ser alfabetizado. Berenice Realce Berenice Realce Berenice Realce Berenice Realce Berenice Realce Berenice Realce Berenice Realce Berenice Realce Berenice Realce Berenice Realce Berenice Realce Berenice Realce Berenice Realce Berenice Realce Berenice Realce Berenice Realce Berenice Realce Berenice Realce Berenice Realce Berenice Realce Berenice Realce Berenice Realce Berenice Realce Berenice Realce Berenice Realce 7 Soares (2003) define o letramento como o “desenvolvimento de habilidades de uso da leitura e da escrita nas práticas sociais que envolvem a língua escrita”. Novamente, retoma-se a ligação estreita entre as práticas comunicativas e a interação social. Portanto, consideramos o letramento como processo necessário para o desenvolvimento de habilidades relacionadas à formação acadêmica, pois não basta o contato com os diferentes gêneros textuais durante o curso de graduação, mas sim a interação do leitor com as práticas discursivas como possibilidades de interação com o contexto social no qual está inserido. SÍNTESE Ao final desta aula, depreende-se que a comunicação é a ferramenta que possibilita a interação entre os indivíduos. Portanto, estar atento às possibilidades comunicativas que estão à disposição e saber escolher e utilizar a forma mais adequada para cada contexto não são tarefas tão simples quanto parecem. Apesar disso, o domínio da língua portuguesa e o conhecimento sobre suas variantes podem estar ao alcance de todo o profissional que esteja aberto à capacitação e à atualização. Assim, os conteúdos apresentados podem colaborar na formação do profissional para a prática discursiva tanto por meio da escrita, como da oralidade. Ressalta-se ainda a importância da compreensão dos diferentes níveis de linguagem e da equivalência entre as variantes da língua portuguesa, para que não haja risco de atitudes preconceituosas diante das formas de expressão que se distanciam da norma padrão. REFERÊNCIAS BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. In: ______. Estética da criação verbal. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000, p. 277-326. BESSA, D. Teorias da comunicação. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 2006. HOUAISS, A; VILLAR, M. S. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009. Berenice Realce Berenice Realce Berenice Realce Berenice Realce Berenice Realce Berenice Realce 8 PEDROSA, C. E. F. Gênero textual: uma jornada a partir de Bakhtin. Cadernos do CNLF, Rio de Janeiro, n. 03, v. X, 2006. Disponível em: <http://www.filologia.org.br/xcnlf/3/09.htm>. Acesso em: 27 out. 2016.
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