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Journal of Public Health
Universidade de São Paulo
Faculdade de Saúde Pública
VOLUME 34
NÚMERO 5
OUTUBRO 2000
Revista de Saúde Pública
p. 468-74
Serviço de emergências psiquiátricas em
hospital geral universitário: estudo
prospectivo
Psychiatric emergency service in a school
general hospital: a prospective study
Maria Eugênia de SB dos Santosa, Jafesson dos A do Amora, Cristina M Del-Benb e
Antonio W Zuardib
aHospital de Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo.
Ribeirão Preto, SP, Brasil. bDepartamento de Neurologia, Psiquiatria e Psicologia Médica da Faculda-
de de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. Ribeirão Preto, SP, Brasil
SANTOS a Maria Eugênia de SB dos, Jafesson dos A do Amora, Cristina M Del-Benb e Antonio W Zuardib Serviço
de emergências psiquiátricas em hospital geral universitário: estudo prospectivo Rev. Saúde Pública, 34 (5): 468-
74, 2000 www.fsp.usp.br/rsp
468468468468468 Rev Saúde Pública 2000;34(5):468-74
www.fsp.usp.br/rsp
Resumo
Objetivo
Realizar estudo transversal de serviço regionalizado de emergências psiquiátricas
inserido em hospital universitário de emergências pela caracterização da clientela e
do atendimento.
Métodos
Os dados foram colhidos por um protocolo, sendo considerados todos os
atendimentos realizados durante dois meses.
Resultados
Foram preenchidos 600 protocolos que corresponderam a 96,5% dos atendimentos
efetuados no período estudado, referentes a 487 pacientes. A maioria desses era do
sexo masculino, sem vínculos conjugais, com baixa escolaridade, profissionalmente
inativa e morava com familiares. Os diagnósticos mais freqüentes foram transtorno
do uso de substância psicoativa (26,3%), esquizofrenias (15,5%), episódio maníaco
(11,8%), depressão maior (10,9%) e transtornos não psicóticos (10,9%), havendo
diferenças entre os sexos quanto à proporção de algumas categorias diagnósticas.
Após o atendimento inicial, 2/3 recebeu medicação e 1/2 permaneceu em observação,
sendo que 1/4 permaneceu mais de 10h no serviço. Cerca de 20% dos atendimentos
resultaram em internação integral e 60%, em encaminhamentos para seguimento
ambulatorial. Alta por evasão representou apenas 2,0% dos atendimentos. Os
usuários repetitivos não diferiram daqueles que tiveram atendimento único quanto
a estado civil, vínculo empregatício e condições de moradia, mas apresentaram
maior freqüência de internações anteriores e de transtornos psicóticos.
Conclusões
O serviço atendeu pacientes com quadros psiquiátricos graves, em real situação de
urgência, sendo observada uma ampliação das funções do serviço de emergências
psiquiátricas e sua efetiva inserção na rede pública de serviços de saúde mental.
Serviço de emergências psiquiátricas em
hospital geral universitário: estudo
prospectivo
Psychiatric emergency service in a school
general hospital: a prospective study
Maria Eugênia de SB dos Santosa, Jafesson dos A do Amora, Cristina M Del-Benb e
Antonio W Zuardib
aHospital de Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo.
Ribeirão Preto, SP, Brasil. bDepartamento de Neurologia, Psiquiatria e Psicologia Médica da Faculdade
de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. Ribeirão Preto, SP, Brasil
Descritores
Serviços de emergência psiquiátrica#.
Serviços de saúde mental, utilização#.
Assistência ao paciente#. Transtornos
mentais, diagnóstico#. Serviço
hospitalar de emergência. Fatores
socioeconômicos. Estudos
prospectivos.
Correspondência para/Correspondence to:
Cristina Marta Del-Ben
Av. dos Bandeirantes, 3900
14049-900 Ribeirão Preto, SP, Brasil
E-mail: delben@fmrp.usp.br
Edição subvencionada pela Fapesp (Processo nº 00/01601-8).
Recebido em 10/5/1999. Reapresentado em 21/3/2000. Aprovado em 20/4/2000.
469469469469469Rev Saúde Pública 2000;34(5):468-74
www.fsp.usp.br/rsp
Serviço de emergências psiquiátricas
Santos MESB et al.
Abstract
Objectives
The aim was to carry out a prospective study about the characteristics of the public
seen at a psychiatric emergency room and of its service.
Methods
The data were acquired though a protocol developed for this study and applied to
all the patients seen during two months.
Results
600 protocols were filled out, corresponding to 96.5% (487 patients) of the attendance
during the study period. Most of the patients seen were males, single, with a low
educational level, professionally inactive and living with their families. The most
frequent diagnoses were psychoactive substance use disorders (26.3%), schizophrenia
(15.5%), manic episode (11.8%), major depression (10.9%) and non-psychotic
disorders (10.9%). There were differences between gender in some diagnostic
categories. After initial evaluation, 2/3 were medicated, 1/2 stayed under observation,
and 1/4 stayed more than 10 hours in the service unit. About 20% of the attendance
resulted in hospitalization and 60% in referrals to outpatient services. Discharges
due to evasion represented only 2.0% of the total. Returning service users did not
differ from those seen only once to what concern marital status, professional situation
and household conditions. However, returning users presented a higher frequency
of previous hospitalization and psychotic disorders.
Conclusions
Individuals with severe psychiatric disorders were seen in an actual emergency
situation. The psychiatric emergency service has been expanding its actions and has
been an effective part of the mental health service network.
Keywords
Emergency services, psychiatric#.
Mental health services, utilization#.
Pacient care#. Mental disorders,
diagnosis#. Emergency services,
hospital. Socioeconomic factors.
Prospective studies.
INTRODUÇÃO
Durante as três últimas décadas, os serviços de
emergência psiquiátrica foram fortemente influenci-
ados por mudanças ocorridas nas políticas de saúde
mental, como a desinstitucionalização dos pacientes
psiquiátricos e o desenvolvimento de serviços psiqui-
átricos extra-hospitalares, como hospital-dia, pensão
protegida, serviços para usuários de álcool ou dro-
gas, entre outros.5 Frente a essas mudanças, a emer-
gência psiquiátrica reestruturou-se para se adaptar às
novas demandas, ampliando suas funções. Além de
proporcionar suporte psicossocial, passou também a
triar casos de internação e a intervir em quadros agu-
dos, estabilizando ou iniciando o tratamento definiti-
vo em um paciente em crise.3,4,8
O único serviço de Emergências Psiquiátricas (EP-
RP) da décima oitava Divisão Regional de Saúde do
Estado de São Paulo (DIR-XVIII) atende a uma po-
pulação aproximada de 1.100.000 habitantes, mora-
dores de um dos 25 municípios da DIR-XVIII, cuja
sede é a cidade de Ribeirão Preto. Esse serviço, insta-
lado em 1975 e consolidado, a partir de 1980,10 em
um hospital universitário de emergências, funciona
24 horas e conta com 6 leitos para observação ou cur-
ta permanência (até 72 horas). Os atendimentos são
realizados por médicos residentes sob supervisão de
médicos assistentes e docentes.
A partir de 1990, várias medidas foram tomadas
pelas autoridades sanitárias da região com o objetivo
de aprimorar a qualidade do atendimento em saúde
mental, contribuindo para que as características do
atendimento realizado pelo EP-RP mudassem. Entre
essas medidas estão a fixação de critérios e instru-
ções sobre a qualidade de atendimento psiquiátrico, a
criação da Central de Vagas Psiquiátricas (CVP) em
1990 e a integração da EP-RP ao sistema público de
Saúde Mental da região.
Em 1990, havia três hospitais psiquiátricos na re-
gião, com um total de 1.118 leitos, sendo 685 para
internações agudas e 433 de pacientes moradores, com
taxas de ocupação chegando a 96% e tempo de per-
manência elevado, com grande número de
reinternações e internações efetuadas diretamente pelo
próprio hospital psiquiátrico; as chamadas“interna-
ções de porta”.11
No início de 1993, os hospitais psiquiátricos foram
redimensionados e se iniciou a redução de leitos, ten-
do como critérios os índices populacionais e as nor-
mas de regionalização. No final de 1993, iniciou-se
processo de reavaliação dos serviços de saúde men-
tal, culminando, em 1995, no fechamento de um hos-
pital psiquiátrico privado e no cancelamento dos lei-
tos agudos de um hospital filantrópico.11 A DIR-XVIII
passou a contar com 114 leitos para internações de
470470470470470 Rev Saúde Pública 2000;34(5):468-74
www.fsp.usp.br/rsp
Serviço de emergências psiquiátricas
Santos MESB et al.
pacientes agudos, sendo 100 leitos em um hospital
psiquiátrico público e 14 em uma enfermaria de psi-
quiatria em hospital geral universitário. Concomitan-
te à redução de leitos psiquiátricos, houve uma am-
pliação dos serviços extra-hospitalares de saúde men-
tal da região, como a criação de serviços ambulato-
riais em diversos municípios, o aumento da capaci-
dade dos serviços pré-existentes e a criação de Nú-
cleos de Assistência Psicossocial.
Essas medidas levaram a uma diminuição no nú-
mero de internações realizadas na região. Em 1991
foram feitas 3.503 internações, enquanto em 1996
foram 1.239, o que representa redução de 64,6%.
Houve também redução na taxa de ocupação dos lei-
tos, oscilando atualmente entre 60% e 70%.12
As mudanças ocorridas nas políticas de saúde men-
tal da região alteraram o perfil dos pacientes atendi-
dos pelo EP-RP, que passou a atender uma maior pro-
porção de pacientes do sexo masculino, de mais ida-
de e com transtornos psicóticos e transtornos relacio-
nados ao uso de substâncias, além de quase dobrar o
número de atendimentos realizados por ano.2 Essas
mudanças no perfil do paciente atendido, observadas
em estudo retrospectivo,2 resultaram provavelmente
em mudanças no tipo de atendimento oferecido. As-
sim, o presente trabalho teve por objetivo ampliar a
caracterização da clientela em um estudo prospecti-
vo e analisar o tipo de atendimento que está sendo
oferecido no EP-RP.
MÉTODOS
Critérios para a composição da Amostra
Foram considerados todos os pacientes atendidos
no EP-RP em um período de 2 meses. Os pacientes
são encaminhados ao serviço de três maneiras distin-
tas: por triagem médica do hospital geral de emer-
gências; por transferência de outra clínica; por
interconsulta para pacientes internados; ou por aten-
dimento em outra especialidade. Foram considerados
somente os pacientes da primeira e da segunda con-
dições. A terceira condição foi desconsiderada devi-
do às dificuldades de operacionalizar o preenchimento
do protocolo.
Protocolo de pesquisa
Foi formulado um protocolo de pesquisa, preenchi-
do em cada atendimento realizado no período em es-
tudo. Esse protocolo constou de 41 itens em sua mai-
oria com respostas de múltipla escolha, que incluíam
informações sobre dados demográficos e caracterís-
ticas do atendimento realizado, como horários, con-
dições de entrada ao serviço, queixa principal, neces-
sidade de intervenção, quadro clínico, hipótese diag-
nóstica, conduta imediata, informações sobre a alta
do serviço, entre outros.
O protocolo foi preenchido pelo médico que reali-
zou o atendimento. No período diurno, havia de 2 a 3
médicos residentes de estágio no EP-RP e, durante a
noite, havia sempre 2 médicos residentes de plantão,
além de um médico contratado ou docente da disci-
plina de psiquiatria; durante as 24 horas, responsá-
veis pelas supervisões e, ocasionalmente, atendimen-
tos. Trabalhavam no serviço, considerando dias úteis
e plantões (finais de semana, feriados e horário no-
turno), 25 médicos residentes do primeiro ao terceiro
anos, 4 médicos contratados e 5 docentes.
Foi realizado um trabalho informativo e de esclare-
cimento sobre a pesquisa e sobre o protocolo da mes-
ma, para todos os médicos que atendem no setor, de
forma contínua, durante todo o período de coleta de
dados, com o objetivo de conseguir a colaboração de
todos para um preenchimento adequado do protoco-
lo. Ao final do período estudado, todos os protocolos
foram revisados e, para aqueles que possuíam itens
que não foram preenchidos no momento do atendi-
mento, foi realizada uma consulta ao prontuário do
paciente para complementação das informações dis-
poníveis na ficha de atendimento no EP-RP.
De maneira geral, as partes de “dados demográfi-
cos” e “características do atendimento atual” foram
preenchidas durante ou logo após o atendimento inici-
al, possibilitando que alguma outra informação, ne-
cessária ao protocolo, fosse esclarecida imediatamente
com o paciente. A parte que corresponde às informa-
ções de “alta” foi preenchida pelo médico que defi-
niu o destino do paciente.
Análise dos dados
Como alguns pacientes utilizaram o serviço mais
de uma vez, o número de atendimentos difere do nú-
mero de pacientes. Para a descrição das característi-
cas demográficas, considerou-se o número total de
pacientes atendidos no período, enquanto para a des-
crição do tipo de atendimento oferecido, considerou-
se o número total de atendimentos realizados no perí-
odo de estudo.
Para a caracterização dos pacientes que usaram o
serviço mais de uma vez, foi criada uma subamostra,
considerando-se apenas os pacientes atendidos durante
o primeiro mês do estudo, divididos em dois grupos
para comparação: pacientes que não retornaram ao
serviço no mês seguinte, ou seja, com atendimento
471471471471471Rev Saúde Pública 2000;34(5):468-74
www.fsp.usp.br/rsp
Serviço de emergências psiquiátricas
Santos MESB et al.
único (AU); e pacientes que foram atendidos pelo
menos uma segunda vez durante o período de estudo,
classificados como usuários repetitivos (UR).
Os dados foram analisados com o programa Epi Info
versão 6.0. Para caracterização das amostras foram uti-
lizadas listas de freqüência, distribuições modais e aná-
lises estratificadas. Foram utilizados o teste do qui-
quadrado e o teste não paramétrico de Mann-Whitney.
RESULTADOS
Características demográficas e clínicas
Foram realizados 622 atendimentos, sendo obtidos
600 formulários preenchidos, que corresponderam a
96,5% dos atendimentos realizados pelo EP-RP. Fo-
ram atendidos 487 pacientes, o que significa que
18,8% dos atendimentos foram de pacientes que pro-
curaram o serviço mais de uma vez no período.
Quanto às características demográficas dos usuá-
rios, constatou-se que a idade média foi de 34,5+/-
12,7 anos, e que a maioria (qui-quadrado, p<0,05) era
do sexo masculino (56,7%), sem vínculos conjugais
(62,5%), com primeiro grau incompleto (67,2%) e
profissionalmente inativos (62,3%).
Mais de 2/3 dos pacientes atendidos eram proce-
dentes de Ribeirão Preto e somente 1,4% não era
morador da região da DIR-XVIII. Cerca de 80% dos
pacientes moravam com seus familiares, 7% mora-
vam sozinhos e apenas 1,8% foi incluído na catego-
ria de “andarilho”.
Observa-se, pela Tabela 1, que entre os pacientes do
sexo masculino havia uma maior proporção de soltei-
ros, com menor nível de escolaridade, profissionalmen-
te inativos, com maior número de internações anterio-
res e menor proporção de indivíduos morando com
familiares. Nota-se também que houve uma proporção
maior de homens que procuraram o serviço
desacompanhados, enquanto a transferência de outra
clínica foi mais freqüente entre as mulheres, devido à
ideação ou tentativa de suicídio, ambos com diferença
estatisticamente significativa (p<0,05).
A Tabela 2 apresenta a proporção de diagnósticos
levantados, sendo o mais freqüente o transtorno por
uso de álcool, seguido por esquizofrenias, episódio
maníaco, episódio depressivo e transtornos não psi-
cóticos. A comparação entre os sexos mostrou que o
diagnóstico de transtorno do uso de álcool e de outras
substâncias psicoativas foi mais freqüente entre os
homens, enquanto os diagnósticos deepisódio depres-
sivo, transtornos não psicóticos e transtornos de per-
sonalidade foram mais freqüentes entre as mulheres.
Não foram observadas diferenças estatisticamente sig-
nificantes para as demais categorias diagnósticas.
Características do atendimento
A média de espera para o atendimento foi de 66,9
min, e o tempo de permanência médio no serviço foi
Tabela 1 – Comparação quanto ao sexo, de algumas variáveis demográficas e clínicas dos pacientes atendidos no Serviço de
Emergências Psiquiátricas. Ribeirão Preto, SP.
Características Masculino Feminino P Total
demográficas/encaminhamento (%) (%) (%)
Sexo 56,7 43,3 0,003 100 (N=487)
Solteiros 54,8 42,0 0,002 49,2
Estudou além do 1o grau 12,7 18,5 0,006 15,2
Morando com familiar 75,4 85,3 0,006 79,7
Exercendo atividade 25,0 35,1 0,003 29,4
Desacompanhados 22,0 12,5 <0,001 17,8
Encaminhamento de outra clínica 6,3 18,2 <0,001 11,5
Tabela 2 – Comparação do diagnóstico por sexo dos pacientes atendidos no Serviço de Emergências Psiquiátricas. Ribeirão Preto, SP.
Diagnóstico Masculino Feminino p Total
(%) (%) (%)
Transtornos do uso de álcool 29,1 2,8 <0,001 17,6
Esquizofrenias 17,6 12,8 NS 15,5
Episódio maníaco 10,1 14,0 NS 11,8
Episódio depressivo 6,9 16,1 <0,001 10,9
Transtornos não psicóticos 4,7 19,0 <0,001 10,9
Transtornos do uso de outras drogas 11,3 5,3 0,01 8,7
Transtornos de personalidade 4,7 12,4 <0,001 8,0
Condição médica geral 5,6 5,4 NS 5,6
Retardo mental 2,8 4,5 NS 3,5
Transtorno psicótico breve 3,1 3,2 NS 3,2
Reações adversas à medicação 2,5 2,9 NS 2,7
Outros transtornos psicóticos 1,6 1,6 NS 1,6
NS = não significativo
472472472472472 Rev Saúde Pública 2000;34(5):468-74
www.fsp.usp.br/rsp
Serviço de emergências psiquiátricas
Santos MESB et al.
de 10,9 horas, com 25% tendo alta em até 2h, en-
quanto 25% ficaram mais de 10h. Imediatamente após
o atendimento inicial, 40,2% dos pacientes tiveram
alta hospitalar, 54,7% permaneceram em observação
e 2,8% foram transferidos para outras clínicas. Quan-
to à conduta imediata após o atendimento inicial, ve-
rificou-se que em 31,3% dos atendimentos os pacien-
tes não receberam qualquer tipo de medicação, 44,3%
foram medicados por via oral e 18,5% necessitaram
de medicação intramuscular.
Como principal motivo de procura do serviço, en-
controu-se “agitação psicomotora ou comportamen-
to agressivo” (23,9%), seguido por “tentativa ou
ideação suicida” (15,7%) e por “desejo de tratamento
ou internação” (10,8%).
A grande maioria dos pacientes foi atendida por
médicos residentes (94,7%), dos quais 47,8% tive-
ram supervisão imediata. Houve uma menor propor-
ção de pacientes atendidos aos domingos e em todos
os dias da semana no período das 0h às 7h.
A Tabela 3 apresenta o tipo de encaminhamento
oferecido ao paciente, no momento da sua alta do ser-
viço. Observou-se que 19,6% (118) dos atendimen-
tos resultaram em uma internação integral, que a gran-
de maioria dos pacientes foi encaminhada para se-
guimento ambulatorial e que a freqüência de evasão
e de alta a pedido foram muito pequenas. Das 118
internações realizadas, 11,9% foram em enfermaria
de psiquiatria em hospital geral universitário e 87,3%
no hospital psiquiátrico público. Somente uma inter-
nação (0,8%) não foi em um dos hospitais da DIR-
XVIII, por ser um paciente procedente de outra re-
gião. Entre os atendimentos com encaminhamentos
ambulatoriais, 85,4% foram para algum serviço pú-
blico de saúde mental da região.
Usuários repetitivos
Durante o primeiro mês do estudo, 279 pacientes
foram atendidos no EP-RP, sendo que 54 retornaram
ao serviço pelo menos uma vez durante o mês sub-
seqüente, realizando um total de 106 visitas no pe-
ríodo (UR). Comparando-os com os pacientes que
visitaram o serviço uma vez no período (AU), não
foram detectadas diferenças estatisticamente sig-
nificativas quanto ao sexo, estado civil e atividade
profissional. Também não foram observadas dife-
renças nas proporções de pacientes que moravam
acompanhados, sendo que 90,7% dos UR moravam
com amigos ou familiares.
Para a análise do diagnóstico, foi realizada nova
categorização de dados, e os pacientes foram agru-
pados em 6 grandes grupos devido à diversidade
diagnóstica e ao pequeno número amostral no gru-
po UR. A Figura apresenta a freqüência dos diag-
nósticos nos dois grupos. Observa-se que, no gru-
po UR, houve uma proporção significativamente
maior de transtornos psicóticos (esquizofrenias e
outros transtornos psicóticos) e uma proporção sig-
nificativamente menor de transtorno, devido ao uso
de substâncias psicoativas. Não foram observadas
diferenças significativas nas demais categorias
diagnósticas.
Houve tendência entre os usuários repetitivos de
chegarem ao serviço desacompanhados ou trazidos
por policiais (p=0,07), atingindo atendimento em
33,3% das vezes, enquanto os demais, em 23,3%.
Também foi detectado que os UR apresentavam uma
freqüência significativamente maior (p<0,05) de in-
ternações psiquiátricas anteriores (66,0%), do que os
pacientes com atendimento único (43,0%). Entretan-
to, uma menor proporção de pacientes do grupo UR
(10,4%), do que do grupo AU (24,9%), foi encami-
nhada para internação integral, também com diferen-
ça estatisticamente significativa (p<0,05). Quanto aos
encaminhamentos para seguimento ambulatorial, no-
Tabela 3 – Encaminhamentos dado aos pacientes atendidos
no Serviço de Emergências Psiquiátricas. Ribeirão Preto, SP.
Encaminhamento (n) Freqüência (%)
Ambulatórios 377 62,8
Internação integral 118 19,6
Transferência para outra clínica 16 2,7
Sem encaminhamento 14 2,3
Evasão 12 2,0
Hospital dia 7 1,2
Alta a pedido 3 0,5
Outros 7 1,2
Sem resposta 46 7,7
Total 600 100
Figura – Comparação da freqüência dos diagnósticos dos
pacientes de atendimento único e aos usuários repetitivos do
Serviço de Emergências Psiquiátricas. Ribeirão Preto, SP.
473473473473473Rev Saúde Pública 2000;34(5):468-74
www.fsp.usp.br/rsp
Serviço de emergências psiquiátricas
Santos MESB et al.
tou-se que uma maior proporção de pacientes UR eram
acompanhados em serviços ambulatoriais vinculados
ao serviço de emergências psiquiátricas, cujo objeti-
vo é o manejo do paciente em crise.
DISCUSSÃO
O perfil demográfico da população usuária da EP-
RP é semelhante ao que se encontra na literatura: a
maioria é homem, jovem, não casado, de baixa esco-
laridade e com diagnósticos graves como esquizofre-
nias e transtornos relacionados ao uso de substân-
cias.1,7,10 De maneira geral, possuem um prejuízo no
funcionamento global, que é maior no sexo masculi-
no. Essas diferenças entre os sexos podem ser justifi-
cadas pela maior proporção de diagnóstico de qua-
dros não psicóticos entre as mulheres.
A população em estudo, no entanto, diferenciou-
se em relação aos dados de literatura, na pequena
percentagem encontrada para andarilhos (1,8%),
pois esse número costuma ser bem maior, chegan-
do a 14%.7
Os diagnósticos são variados, porém em sua maio-
ria são quadros graves como esquizofrenias, transtor-
nos do humor, ou transtornos relacionados ao uso de
substâncias, no qual nem sempre há sintoma psicótico,
mas alteração de comportamento importante com auto
e heteroagressividade.7,9,10 Apesar dos dados concor-
darem com os da literatura, existe a complexidade de
fazer um diagnóstico em uma situação de emergên-
cia, pois na maioria das vezes o diagnóstico é realiza-
do em um corte transversal pela avaliação do momen-
to, muitas vezes sem informações adicionais de acom-
panhantes. Nem sempre, pelo movimento e
rotatividade do serviço, o paciente fica tempo sufici-
ente para maior período de observação da evolução
do quadro.7 Outro fator que pode influenciar a quali-
dade do atendimento e a realização da hipótese diag-
nóstica é a demanda, que afeta diretamente a qualida-
de técnica do serviço, além de prejudicar o “tempo
ideal” de consulta.13Como principal motivo de procura ao serviço, a
agitação psicomotora, o comportamento agressivo e
o desejo de tratamento ou interrupção da medicação
também foram os principais motivos encontrados por
Oldham et al7 (1990). No presente estudo houve tam-
bém alta percentagem (15%) de “tentativa ou ideação
suicida”, devido talvez ao atendimento junto a um
serviço de emergência geral, em que todo paciente
atendido por intoxicação exógena é encaminhado para
avaliação psiquiátrica.
A percentagem de pacientes encaminhados para
internação integral (19,6%) está próximo aos valores
encontrados na literatura.7,9
Ficou evidente que o EP-RP é um serviço inseri-
do na rede pública de saúde mental e que a
regionalização é bastante respeitada. Nos dados so-
bre encaminhamentos após o atendimento, obser-
vou-se a mesma obediência à regionalização. A
única internação efetuada fora da DIR-XVIII ocor-
reu justamente porque o paciente não era proce-
dente da região e, dos encaminhamentos ambula-
toriais, 85,4% foram para algum serviço público
de saúde mental da região. Com essa análise evi-
denciam-se as vantagens de um serviço psiquiátri-
co regionalizado: poucas portas de entrada para
internação aumentam a qualidade do serviço, faci-
litam a continuidade do contato e propiciam um
maior controle do fluxo de casos de internação. Mas
para que esse sistema funcione de modo positivo,
como ocorre nessa região, são necessários dois in-
gredientes essenciais: deve existir uma aproxima-
ção colaborativa das instituições, mesmo que oca-
sionalmente custe uma redução de autonomia, além
das equipes do sistema manterem contatos pessoais
freqüentes.6
Diferindo de dados da literatura, nos quais a reen-
trada freqüente a serviços de emergência psiquiátri-
ca tem correlação importante com a falta de suporte
social,8 no presente estudo, os UR não se diferenci-
aram dos pacientes de AU quanto a alguns parâme-
tros como estado civil, vínculo empregatício e con-
dições de moradia, os quais poderiam ser considera-
dos como medidas indiretas do suporte social.
Os UR diferem dos pacientes com AU, por apre-
sentarem maior proporção de diagnóstico de trans-
tornos psicóticos, particularmente esquizofrenias, e
por terem maior freqüência de internações psiquiá-
tricas anteriores, o que pode sugerir uma associação
entre a complexidade da doença e o uso do serviço
de emergência.14
A menor proporção de diagnóstico de problemas
relacionados ao uso de substâncias psicoativas, par-
ticularmente o álcool, entre os UR provavelmente
deve-se à existência de serviços específicos na rede
pública de saúde mental do município. Há 4 anos,
dados semelhantes foram colhidos na EP-RP, quan-
do se observou que a população de alcoolistas era
conhecida pela repetição de atendimentos e
reinternações.10
A instalação de outros tipos de serviços psiquiá-
tricos pode oferecer suporte adequado a determina-
das categorias de pacientes, diminuindo o uso da
474474474474474 Rev Saúde Pública 2000;34(5):468-74
www.fsp.usp.br/rsp
Serviço de emergências psiquiátricas
Santos MESB et al.
emergência, a exemplo dos pacientes com diagnós-
tico de transtornos relacionados ao uso de álcool.
Isso pode ser um estímulo para novas estratégias para
aumentar a continência de pacientes psiquiátricos
graves, que são os principais usuários da emergên-
cia psiquiátrica.
Em conclusão, pode-se afirmar que o EP-RP está
efetivamente inserido na rede pública, mantendo-se
como a principal porta de entrada para internação inte-
gral da região de Ribeirão Preto, conforme detectado
em estudo retrospectivo realizado anteriormente.2 Além
disso, confirmou-se a ampliação das funções do EP-
RP, pelo atendimento a uma maior diversidade de qua-
dros clínicos, a pacientes mais graves e realmente em
situação de urgência, como pode ser observado pelas
categorias diagnósticas e pelo motivo de procura ao
serviço. O tempo médio de permanência dos pacientes
no serviço sugere que, além da função de triagem, o
EP-RP passou a desempenhar outros papéis, provavel-
mente relacionados à investigação diagnóstica e ao
estabelecimento do tratamento inicial.
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