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4B - Penal - Parte Especial

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CADERNO DE DIREITO PENAL
PARTE ESPECIAL
1	Dos Crimes Contra a Pessoa
1.1	Dos crimes contra a vida
1.1.1	Homicídio (CP, art. 121)
1.1.1.1	Homicídio simples
1.1.1.2	Homicídio privilegiado (CP, art. 121, § 1º)
1.1.1.3	Homicídio qualificado (CP, art. 121, § 2º).
1.1.1.4	Homicídio doloso majorado (CP, art. 121, § 4º, segunda parte)
1.1.1.5	Homicídio culposo (CP, art. 121, § 3º)
1.1.1.6	Homicídio culposo majorado (CP, art. 121, § 4º)
1.1.1.7	Perdão judicial (CP, art. 121, § 5º)
1.1.2	Infanticídio (CP, art. 123)
1.1.3	Aborto
1.1.3.1	Noções gerais
1.1.3.2	Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento (CP, art. 124)
1.1.3.3	Aborto provocado por terceiro, sem o consentimento da gestante (CP, art. 125).
1.1.3.4	Provocar aborto com o consentimento da gestante (CP, art. 126).
1.1.3.5	Aborto majorado pelo resultado (CP, art. 127).
1.1.3.6	Aborto legal (ou permitido)
1.1.3.7	Aborto do feto anencefálico
1.2	Das lesões corporais (CP, art. 129)
1.2.1	Análise global da lesão corporal
1.2.2	Lesão corporal dolosa leve (CP, art. 129, caput)
1.2.3	Lesão corporal grave (CP, art. 129, § 1º)
1.2.4	Lesão corporal gravíssima (CP, art. 129, § 2º)
1.2.5	Lesão corporal seguida de morte (CP, art. 129, § 3º)
1.2.6	Lesão corporal privilegiada (CP, art. 129, § 4º)
1.2.7	Substituição da pena (CP, art. 129, § 6º)
1.2.8	Lesão corporal culposa (CP, art. 129, § 6º)
1.2.9	Causa de aumento (CP, art. 129, § 7º)
1.2.10	Perdão judicial para a lesão corporal culposa (CP, art. 128, § 8º)
1.2.11	Violência doméstica (e familiar - CP, art. 129, §§ 9º, 10 e 11)
1.3	Da periclitação da vida e da saúde
1.3.1	Condicionamento de atendimento médico-hospitalar emergencial
1.4	Dos crimes contra honra
1.4.1	Introdução
1.4.2	Calúnia
1.4.3	Difamação
1.4.4	Injúria
1.4.5	Disposições comuns (CP, art. 141 a 145)
1.5	Dos crimes contra a liberdade individual
1.5.1	Sequestro e cárcere privado
2	Dos Crimes Contra o Patrimônio
2.1	Furto
2.1.1	Furto simples (CP, art. 155, caput)
2.1.2	Majorante do repouso noturno (CP, art. 155, § 1º)
2.1.3	Furto privilegiado ou mínimo (CP, art. 155, § 2º)
2.1.4	Furto de energia – cláusula de equiparação (CP, art. 155, § 3º)
2.1.5	Furto qualificado (CP, art. 155, § 4º)
2.1.6	CP, art. 155, § 5º
2.2	Roubo (CP, art. 157)
2.2.1	Roubo próprio e impróprio (CP, art. 157, caput e § 1º)
2.2.2	Roubo majorado (CP, art. 157, § 2º)
2.2.3	Roubo qualificado (CP, art. 157, § 3º)
2.3	Extorsão (CP, art. 158)
2.3.1	Extorsão majorada (CP, art. 158, § 1º)
2.3.2	Extorsão qualificada (CP, art. 158, § 2º e § 3º)
2.4	Extorsão mediante seqüestro (CP, art. 159)
2.4.1	Extorsão mediante seqüestro qualificada (CP, art. 159, § 1º)
2.4.2	Extorsão qualificada em razão do resultado lesão grave ou morte (CP, art. 159, §§ 2º e 3º)
2.4.3	Delação premiada na extorsão mediante seqüestro (CP, art. 159, § 4º)
2.5	Estelionato e outras fraudes
2.5.1	Estelionato (CP, art. 171)
2.6	Receptação
2.6.1	Receptação dolosa simples
2.6.2	Receptação qualificada (CP, art. 180, § 1º)
2.6.3	Receptação culposa (CP, art. 180, § 3º)
2.6.4	Outras disposições
3	Dos Crimes Contra a Dignidade Sexual
3.1	Crime contra a dignidade sexual violento (grave ameaça)
3.2	Estupro qualificado (CP, art. 213, §§ 1º e 2º)
3.3	Crime sexual com fraude
3.4	Crime sexual contra vulnerável
3.5	Ação penal
4	Dos Crimes Contra a Paz Pública
4.1	Quadrilha ou Bando
4.2	Constituição de milícia privada
5	Dos Crimes Contra a Fé Pública
5.1	Da falsidade documental
5.1.1	Falsificação (material) de documento público
5.1.2	Falsidade (material) de documento particular
5.1.3	Falsidade ideológica
5.2	Das fraudes em certame de interesse público
5.2.1	Fraude em certame de interesse público
6	Dos Crimes Contra a Administração Pública
6.1	Dos crimes praticados por funcionário público contra a administração em geral (delitos funcionais)
6.1.1	Considerações gerais
6.1.2	Peculato
6.1.2.1	Peculato próprio
6.1.2.2	Peculato furto (ou impróprio)
6.1.2.3	Peculato culposo
6.1.2.4	Peculato estelionato – peculato mediante erro de outrem (CP, art. 313)
6.1.2.5	Peculato eletrônico
6.1.3	Concussão (CP, art. 316)
6.1.4	Corrupção passiva (CP, art. 317)
6.2	Dos crimes contra a administração da justiça
6.2.1	Denunciação caluniosa (CP, art. 339)
6.2.2	Comunicação falsa de crime ou contravenção (CP, art. 340)
6.2.3	Autoacusação falsa (CP, art. 341)
6.2.4	Falso testemunho ou falsa perícia
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Dos Crimes Contra a Pessoa
Dos crimes contra a vida
Homicídio (CP, art. 121)
Homicídio simples
Homicídio simples CP, art. 121. Matar alguém: Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
Conceito de homicídio: é a injusta morte de uma pessoa praticada por outrem (Nélson Hungria: o homicídio é o tipo central dos crimes contra a vida, e é o ponto culminante na orografia dos crimes. É o crime por excelência.).
Homicídio vs. Genocídio:
O homicídio é uma das formas de se praticar genocídio.
Qual o bem jurídico tutelado no genocídio? Quando praticado mediante homicídio, haverá concurso de crimes? Genocídio é da competência do júri?
O crime de genocídio tutela a diversidade humana e, por isso, tem caráter coletivo ou transindividual, não atraindo, por si só, a competência do júri. Ocorre que uma das formas de praticar genocídio é por meio de homicídio. Nesse caso, de acordo com o STF, haverá concurso formal entre genocídio e homicídio doloso, julgado pelo Tribunal do Júri Federal (não se aplica a consunção em caso de bens jurídicos diferentes).
Homicídio estruturado no Código Penal.
Art. 121, caput → homicídio doloso simples.
Art. 121, § 1º → homicídio doloso privilegiado.
Art. 121, § 2º → homicídio doloso qualificado.
Art. 121, § 3º → homicídio culposo.
Art. 121, § 4º → homicídio doloso majorado.
Art. 121, § 5º → perdão judicial.
Art. 129, § 3º → homicídio preterdoloso (sinônimo de lesão corporal seguida de morte – não é crime contra a vida, não sendo competência do júri).
Sujeitos do crime:
Sujeito ativo: crime comum (isto é, pode ser praticado por qualquer pessoa – o tipo não exige qualidade ou condição especial do agente).
Homicídio praticado por um irmão xifópago, sendo o outro inocente:
Primeira corrente: o homicida deve ser absolvido, pois, conflitando o interesse de punir do Estado ou da sociedade com o da liberdade individual do gêmeo inocente, esta é que tem de prevalecer (justifica-se a não punição do culpado para não sacrificar o inocente).
Segunda corrente: o homicida deve ser processado e condenado, inviabilizando-se, porém, o cumprimento da pena, tendo em vista o princípio da pessoalidade da sanção penal. Se até o advento da prescrição o gêmeo inocente praticar crime, ambos poderão cumprir as respectivas penas.
Sujeito passivo: crime comum.
Vítima Presidente da República:
Homicídio (CP, art. 121, caput).
Lei 7.170/83 (Lei de Segurança Nacional), art. 29 – se houver a especializante “com motivação política” (crime não julgado pelo Tribunal do Júri).
Conduta: tirar a vida de alguém.
O homicídio se caracteriza pela ceifação da vida extrauterina (tirar vida intrauterina configura crime de aborto).
O marco divisório da vida intra e extrauterina é o parto. Quando se inicia o parto?
Primeira corrente: inicia-se com o completo e total desprendimento do feto das entranhas maternas.
Segunda corrente: inicia-se com a dilatação do colo do útero.
Terceira corrente: desde as dores do parto.
Execução livre: o crime de homicídio pode ser praticado por ação/omissão, meios diretos/indiretos (p. ex., valendo-se de animais).
Voluntariedade:
Dolo (direto ou eventual).
O tipo não exigiu finalidade especial animando o agente (eventual finalidade especial pode gerar qualificadora ou privilegiadora).
Embriaguez ao volante com morte vs. Racha com morte:
Embriaguez: de acordo com o STF, é culpa consciente (STF, HC 107.801).
Racha: de acordo com o STF, é dolo eventual (STF, HC 101.698).
Portador do vírus HIV que oculta a doença do parceiro, com elemantendo conjunção carnal sem proteção, como tipifica?
Se a vontade do agente era transmitir a doença, pratica tentativa de homicídio.
Se não quis e nem assumiu o risco, temos o dolo de perigo, respondendo pelo crime de perigo de contágio de moléstia grave (CP, art. 131).
De acordo com o STF, se não estiver presente a intenção homicida, o crime não é de homicídio (CP, art. 121), devendo o juiz, analisando o caso concreto, decidir se houve crime de perigo de contágio de moléstia grave (CP, art. 131) ou lesão corporal gravíssima (CP, art 19, § 2º, II). Ver STF, HC 98.712.
Consumação:
Delito material: o homicídio consuma-se com a morte da vítima (cessação da atividade encefálica).
Tentativa: é admitida (crime plurissubsistente).
O homicídio simples, quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, é considerado hediondo. Chamado pela doutrina de homicídio condicionado. A doutrina não reconhece possível homicídio em atividade típica de grupo de extermínio como simples, pois sempre estará presente uma qualificadora. Projeto de Lei votado no Congresso, que aguarda sanção presidencial, criando o crime de extermínio, punido com a pena do homicídio qualificado.
Homicídio privilegiado (CP, art. 121, § 1º)
CP, art. 121, § 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, ou juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.
Observações iniciais:
Trata-se de causa de diminuição de pena.
Deve ser reconhecida pelo corpo de jurados.
Três privilegiadoras:
Matar impelido por motivo de relevante valor social → diz respeito aos interesses de toda a coletividade (p. ex., matar o traidor da pátria).
Matar impelido por motivo de relevante valor moral → diz respeito aos interesses particulares do agente, sentimento de compaixão, misericórdia ou piedade (p. ex., eutanásia).
Eutanásia: antecipação da morte natural.
Ortotanásia: evitar a interferência da ciência, permitindo ao paciente morte digna, deixando a evolução e percurso da doença (não é crime, existindo, inclusive, normas do CFM regulamentando).
Homicídio emocional.
Homicídio emocional:
Pressuposto: o art. 28, I, do Código Penal anuncia que a emoção não exclui a imputabilidade penal, mas pode interferir na pena.
Requisitos:
Domínio de violenta emoção (não se confunde com mera influência).
	Domínio de violenta emoção
	Mera influência de emoção
	Significa que a emoção é absorvente, verdadeiro choque emocional.
	É a emoção leve e passageira.
	Privilegiadora.
	Atenuante de pena.
	Análise do jurado.
	Análise do juiz.
Reação imediata (“logo em seguida”): isto é, sem hiato temporal.
De acordo com a jurisprudência dominante, enquanto perdurar o domínio da violenta emoção, qualquer revide é imediato.
Injusta provocação da vítima.
Provocação: abrange qualquer conduta incitante, inclusive praticada em face de terceiros (p. ex., pai que mata o estuprador da filha).
As privilegiadoras comunicam-se aos coautores e partícipes?
CP, art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime.
Conceitos:
Circunstância: dado que, agregado ao tipo, altera a pena.
Objetiva: relacionada ao meio/modo de execução do crime.
Subjetivo: relacionado ao motivo ou estado emocional do agente.
Elementar: dado que, agregado ao tipo, altera o delito.
As privilegiadoras são circunstâncias subjetivas incominicáveis, nos termos do art. 30 do Código Penal.
O júri, reconhecendo o privilégio, é direito subjetivo dele a diminuição de pena.
Homicídio qualificado (CP, art. 121, § 2º).
Homicídio qualificado CP, art. 121, § 2° Se o homicídio é cometido: I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; II - por motivo fútil; III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido; V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime: Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
Observação inicial: o homicídio qualificado é crime hediondo, não importando a qualificadora.
Homicídio qualificado pelo motivo torpe (inciso I):
Motivo torpe: delito praticado por motivo vil, abjeto, ignóbil, repugnante.
O legislador, depois de exemplificar motivo torpe, encerra com fórmula genérica, permitindo o intérprete encontrar outros casos (interpretação analógica).
Homicídio mercenário: é aquele praticado mediante paga ou promessa de recompensa (executor é o sicário – matador de aluguel).
Trata-se de crime de concurso necessário (mandante e executor).
A qualificadora da torpeza se comunica ao mandante?
Primeira corrente: tratando-se de circunstância subjetiva, não se comunica ao mandante.
Conclusão: pai que paga alguém para matar o estuprador da filha não age com torpeza (Rogério Greco).
Segunda corrente: trata-se de elementar subjetiva, comunicando-se ao mandante (prevalece).
Conclusão: o pai também responde pelo homicídio qualificado pela torpeza.
Natureza da paga ou promessa de recompensa: necessariamente econômica (prevalece).
Em face do encerramento genérico “ou outro motivo torpe”, a paga de natureza não econômica (sexual, p. ex.) não deixa de ser torpe, apenas não caracterizando o homicídio mercenário.
A vingança e o ciúme podem não caracterizar motivo torpe, dependendo da causa que originou a vingança e o ciúme.
Homicídio qualificado pelo motivo fútil (inciso II).
Motivo fútil: desproporção entre o crime e sua causa moral (pequeneza do motivo).
Motivo fútil vs. Motivo injusto:
Motivo fútil: qualificadora do crime.
Motivo injusto: elemento integrante de qualquer crime.
Ausência de motivo equipara-se a motivo fútil?
Primeira corrente: equipara-se ausência de motivo ao motivo fútil, pois seria um contrassenso punir de forma mais grave quem mata por futilidade, permitindo que o que age sem qualquer motivo receba sanção mais branda.
Segunda corrente: não se admite a equiparação, respeitando-se o princípio da legalidade.
Motivo fútil não é incompatível com dolo eventual (STJ).
Qualificadora relacionada ao meio empregado (inciso III): emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum (interpretação analógica).
Venefício: homicídio praticado com emprego de veneno.
Veneno: substância, biológica ou química, animal, mineral ou vegetal, capaz de perturbar ou destruir as funções vitais do homem.
Para configurar a qualificadora, é imprescindível que a vítima desconheça estar ingerindo a substância legal (pressupõe insídia).
Qualificadora relacionada ao modo de execução do crime (inciso IV): traição, emboscada, dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido (encerramento genérico – interpretação analógica).
Conceitos:
Traição: é o ataque desleal, repentino e inesperado (atirar na vítima pelas costas).
Emboscada: pressupõe ocultamento do agente, que ataca a vítima com surpresa.
Dissimulação: significa fingimento, ocultando o agente a sua intenção, apanhando a vítima indefesa.
Hipóteses não abrangidas nesta qualificadora:
Premeditação.
Idade da vítima: esta, por si só, não possibilita a aplicação da qualificadora do inciso IV, pois constitui característica da vítima, e não recurso utilizado pelo agente.
Qualificadora quanto à finalidade especial do agente (inciso V): homicídio para assegurar a execução, ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime.
Homicídio por conexão: nesta qualificadora, o homicídio é praticado em conexão com outro crime, por isso, é denominado de “homicídio por conexão”.
Duas espécies de conexão:
Conexão teleológica: o agente mata paraassegurar a execução de crime futuro (p. ex., matar segurança para estuprar artista).
A caracterização da qualificadora não depende da ocorrência do delito futuro.
Ocorrendo o crime futuro, caracteriza-se concurso material de delitos.
O crime futuro não precisa ser praticado pelo próprio homicida (pode ser praticado por terceira pessoa).
Conexão consequencial: o agente mata para assegurar a ocultação, a impunidade ou vantagem de crime passado (p. ex., matar testemunha presencial de um estupro).
O crime passado pode não ter sido praticado pelo homicida.
Conexão ocasional: a conexão meramente ocasional (por ocasião de outro crime), sem vínculo finalístico, não qualifica o homicídio.
Contravenção penal: incide a qualificador para assegurar a execução de contravenção (p. ex., jogo do bicho): o inciso V não abrange contravenção, podendo a hipótese configurar outra qualificadora (motivo torpe, motivo fútil etc.).
Homicídio qualificado e pluralidade de circunstâncias qualificadoras (p. ex., homicídio qualificado pelo motivo torpe e por meio cruel).
A primeira qualificadora é utilizada para qualificar o crime (pena-base inicial).
A segunda qualificadora, há duas correntes:
Primeira corrente: deve ser utilizada como circunstância judicial (CP, art. 59).
Segunda corrente (prevalece): deve ser utilizada como circunstância agravante (CP, art. 61).
Homicídio qualificado privilegiado (é possível?):
	Homicídio privilegiado
	Homicídio qualificado
	Motivo de relevante valor social (subjetivo)
	Motivo torpe (subjetivo)
	Motivo de relevante valor moral (subjetivo)
	Motivo fútil (subjetivo)
	Domínio de emoção (subjetivo)
	Meio cruel (objetivo) → ligada ao meio de execução.
	
	Modo surpresa (objetivo) → ligada ao modo de execução
	
	Vínculo finalístico (subjetivo)
Conclusão: é perfeitamente possível a coexistência de privilégio com qualificadora, desde que esta seja de natureza objetiva (incisos III e IV). O privilégio, votado primeiro pelo jurado, se reconhecido, exclui as qualificadoras subjetivas.
Hediondez (o homicídio qualificador é hediondo?): prevalece na doutrina e nos Tribunais superiores que, por incompatibilidade axiológica, e por falta de previsão legal, não é hediondo o homicídio qualificado quando também privilegiado.
Homicídio doloso majorado (CP, art. 121, § 4º, segunda parte)
CP, art. 121, § 4º No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos.
Momento do crime:
Dois exemplos problemáticos:
Primeiro exemplo → momento da conduta: vítima menor que 14 anos; momento do resultado: vítima maior de 14 anos.
Segundo exemplo → momento da conduta: vítima menor de 60 anos; momento do resultado: vítima maior de 60 anos.
Nos termos do art. 4º do CP, considera-se praticado o crime no momento da ação e omissão, ainda que outro seja o resultado.
Voltando aos exemplos:
No primeiro, incide o aumento.
No segundo, não incide o aumento.
Pressuposto para incidência da majorante: para a incidência da majorante, é imprescindível que o agente saiba da condição da vítima, de modo a evitar a responsabilidade objetiva.
Homicídio culposo (CP, art. 121, § 3º)
CP, art. 121, § 3º Se o homicídio é culposo: Pena - detenção, de um a três anos.
Trata-se de tipo aberto, no qual o juiz verificará, no caso concreto, se houve imprudência, negligência ou imperícia.
Infração de médio potencial ofensivo: como a pena mínima do homicídio culposo é igual ou inferior a um ano, trata-se de infração de médio potencial ofensivo, sendo cabível a suspensão condicional do processo (Lei 9.099, art. 89).
Homicídio culposo na direção de veículo automotor (e não de embarcação) configura o crime do art. 302 do CTB (princípio da especialidade).
A expressão “na direção de veículo automotor” é a especializante.
O crime do art. 302 do CTB possui pena mínima de dois anos, ou seja, não cabível a suspensão condicional do processo.
Constitucionalidade da diferença de penas para os crimes: ainda que o desevalor do resultado seja o mesmo, o desvalor da conduta é diferente, uma vez que a negligência no trânsito é mais perigosa (justificando a pena maior no CTB).
Homicídio culposo majorado (CP, art. 121, § 4º)
CP, art. 121, § 4º No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos.
Primeira majorante: inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício.
Prevalece o entendimento que esta causa de aumento só tem aplicação na hipótese de crime culposo praticado por profissional (erro ou culpa profissional).
Bin in idem: a negligência profissional serve para (i) tipificar o delito e (ii) aumentar a pena → configura bin in idem?
O STF tem decisões nos dois sentidos:
No HC 86.969/RS, não reconheceu bin in idem.
No HC 95.078/RS, o bin in idem foi reconhecido.
Segunda majorante: omissão de socorro.
Pela incidência da majorante, não haverá a configuração do crime do art. 135 do Código Penal, para não gerar bin in idem.
Não incide a causa de aumento quando a vítima é imediatamente socorrida por terceiros ou no caso de morte instantânea.
Se o autor do crime, tendo condições de socorrer a vítima, não o faz concluindo ser inútil, não escapa do aumento do § 4º (STF).
Terceira majorante: não procurar diminuir as consequências do comportamento.
Quarta majorante: agente que foge para evitar a prisão em flagrante.
Apesar da doutrina justificar o aumento por questões morais ou prejuízo para a investigação, temos corrente defendendo a inconstitucionalidade do aumento por exigir do agente a produção de prova contra si mesmo.
Perdão judicial (CP, art. 121, § 5º)
CP, art. 121, § 5º Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária.
Conceito de perdão judicial: trata-se de instituto pelo qual o juiz, não obstante a prática de um injusto penal por um sujeito comprovadamente culpado, deixa de lhe aplicar a pena (nas hipóteses taxativamente previstas em lei), levando em consideração determinadas circunstâncias que concorrem para o evento (o Estado perde o interesse de punir).
Pressupostos de aplicação:
Prática de homicídio culposo (não se aplica ao dolo, mesmo que na forma privilegiada).
Consequências da infração atingir o próprio agente de forma grave.
Bagatela própria vs. Bagatela imprópria:
	Bagatela própria
	Bagatela imprópria
	O fato praticado não gera relevante e intolerável lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado.
	O fato, apesar de gerar relevante lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado, a pena mostra-se desnecessária.
	O fato nasce insignificante.
	O fato nasce significante.
	Exclui tipicidade material.
	Perda do interesse de punir.
	Exemplo: furto famélico.
	Exemplo: perdão judicial no homicídio culposo.
Perdão do ofendido vs. Perdão judicial:
	Perdão do ofendido
	Perdão judicial
	Precisa ser aceito para extinguir a punibilidade
	Não precisa ser aceito (ato unilateral).
	Só cabe em ação penal privada
	Cabe nos casos expressamente previstos em lei.
Natureza jurídica da sentença concessiva do perdão judicial:
Primeira corrente→ sentença condenatória.
Consequências:
Interrompe a prescrição.
Serve como título executivo.
Segundo Capez, para os adeptos desta corrente, não cabe perdão judicial na fase de inquérito policial.
Segunda corrente → sentença declaratória extintiva da punibilidade (prevalece, conforme entendimento sumulado).
STJ, Súmula 19 - A sentença concessiva do perdão judicial é declaratória da extinção da punibilidade, não subsistindo qualquer efeito condenatório.
Consequências:
Não interrompe a prescrição.
Não serve como título executivo.
Segundo Capez, para os adeptos desta corrente, cabe perdão na fase do inquérito policial (entendimento incorreto de Capez, uma vez que o perdão judicial reconhece culpa, razão pela qual entende a maioria não se possível na fase de inquérito policial).
Apesar de prevalecer esse entendimento, conforme súmula 19 do STJ, o art. 120 do CP, confirma que a sentença é condenatória (caso contrário, não haveria razão de ser para o artigo, que teve que, expressamente, indicar que a sentença não gera reincidência).
CP, art. 120 - A sentença que conceder perdão judicial não será considerada para efeitos de reincidência.
Infanticídio (CP, art. 123)
CP, art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após: Pena - detenção, de dois a seis anos.
O infanticídio é tratado pelo legislador como delito autônomo, mas tem natureza de espécie de homicídio.
Especializantes do infanticídio:
Homicídio → “matar aguém”: pena de 6 a 20 anos.
Infanticídio → “matar aguém” + “especializantes: pena de 2 a 6 anos.
Sujeito ativo → parturiente.
Sujeito passivo → filho.
Tempo → durante ou logo após o parto.
Estado especial → puerperal.
Tem doutrina que denomina o infanticídio de “homicídio privilegiado”.
Sujeitos:
Ativo → parturiente sob influência do estado puerperal.
Concurso de agentes: hoje, prevalece ser perfeitamente possível o concurso de agentes (coautoria e participação), fazendo com que o infanticídio seja um crime próprio (se fosse de mão própria, não admitiria coautoria).
Primeira situação: parturiente, sob influência do estado puerperal, e o médico matam o nascente (ou neonato) → parturiente e médico são coautores do infanticídio.
Segunda situação: parturiente, sob influência do estado puerperal, auxiliada pelo médico, mata o nascente (ou neonato) → parturiente é autora e o médico é partícipe do infanticídio.
Terceira situação: médico, auxiliado por parturiente em estado puerperal, mata nascente (ou neonato) → há divergência.
Tecnicamente:
Médico → autor de homicídio.
Parturiente → partícipe de homicídio (no entanto, estar-se-ia punido a parturiente mais gravemente como partícipe do que se ela mesma fosse autora, o que é absurdo).
Primeira corrente (prevalece – Delmanto): médico e parturiente respondem por infanticídio.
Segunda corrente (Frederico Marques): médico responde por homicídio e parturiente por infanticídio.
Passivo → filho (nascente ou neonato).
Se a parturiente, sob influência do estado puerperal, mata neonato de colega de quarto, imaginado ser seu filho, pratica infanticídio ainda assim, sendo caso típico de erro quanto a pessoa (CP, art. 20, § 3º).
Conduta: parturiente, sob influência do estado puerperal, mata o próprio filho (nascente ou neonato).
Crime de ação livre: a morte pode ser executada de forma livre.
É imprescindível a circunstância de tempo (durante ou logo após o parto).
Antes do parto → aborto.
Depois do parte →homicídio.
Logo após o parto: de acordo com a jurisprudência, enquanto perdurar o estado puerperal, considera-se logo após.
A parturiente deve estar influenciada pelo estado puerperal.
Alerta a doutrina não bastar a influência do estado puerperal. É preciso, também, que haja uma relação de causa e efeito entre tal estado e o crime.
Conceitos:
Estado puerperal: alterações físicas e psíquicas, profundas, que chegam a transtornar a mãe, decorrência do parto (desequilíbrio físico-psíquico da parturiente).
Puerpério: é o período que se estende do início do parto até a volta da mulher às condições anteriores da gravidez.
Dependendo do grau de desequilíbrio físico-psíquico, a parturiente pode ser considerada inimputável.
Voluntariedade:
O crime é punido a título de dolo (direto e eventual).
Não é punida a modalidade culposa.
Parturiente que, culposamente, sob influência do estado puerperal, mata o neonato, responde por qual crime?
Primeira corrente (minoritária): trata-se fato atípico, pois o estado puerperal não permite aferir a previsibilidade objetiva, retirando da parturiente a capacidade de agir conforme esperado pela lei e pela sociedade.
Segunda corrente (majoritária): o estado puerperal não é capaz de excluir a culpa, respondendo a parturiente por homicídio culposo (pode caber perdão judicial).
Consumação:
Delito material: consuma-se com a morte do nascente ou neonato.
Admite tentativa (crime plurissubsistente).
Confronte entre infanticídio e abandono de recém-nascido qualificado pela morte (CP, art. Art. 134 - 134, § 2º):
Exposição ou abandono de recém-nascido CP., art. 134 Expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar desonra própria: Pena - detenção, de seis meses a dois anos. § 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: Pena - detenção, de um a três anos. § 2º - Se resulta a morte: Pena - detenção, de dois a seis anos.
	Infanticídio (CP, art. 123)
	Abandono de recém-nascido (CP, art. 134, § 2º)
	Pena: 2 a 6 anos
	Pena: 2 a 6 anos
	Crime contra a vida
	Crime de perigo (periclitação da vida e da saúde)
	Dolo de dano
	Dolo de perigo
	Morte dolosa
	Morte culposa
	Júri
	Juiz singular
Aborto
Noções gerais
Conceito: é a interrupção da gravidez com a destruição do produto da concepção.
Tem doutrina que diferencia aborto de abortamento:
Aborto: é o resultado.
Abortamento: é a conduta (em prova, tratar como aborto, com abortamento entre parênteses).
Vida intra-uterina: é protegido pelo aborto.
Vida extra-uterina: é protegida pelo homicídio ou infanticídio.
Não importa se a gravidez é natural ou decorre de inseminação artificial.
Termo inicial da gravidez: prevalece, no direito, que a gestação tem início com a nidação, fixação do óvulo fecundado no útero materno. Caso o termo inicial fosse a fecundação, a pílula do dia seguinte seria considerada manobra abortiva.
Classificação doutrinária do aborto:
Natural: interrupção espontânea da gravidez.
Acidental: é o decorrente de acidentes em geral (em regra, o aborto acidental constitui fato atípico).
Criminoso: previsto nos artigos 124 a 127 do CP.
Legal ou permitido: previsto no art. 128 do CP.
Miserável (econômico ou social): praticado por razões de miséria (é crime).
Eugênico ou eugenésico: praticado em face dos comprovados riscos de que o feto nasça com graves anomalias.
Honoris causa: praticado para interromper gravidez adulterina (é crime).
Ovular: praticado até a 8ª semana de gestação.
Embrionário: praticado até a 15ª semana de gestação.
Fetal: praticado após a 15ª semana de gestação.
O juiz pode considerar o momento do aborto (ovular, embrinário ou fetal) na fixação da pena (CP, art. 59).
Anunciar meios abortivos (Lei das Contravenções Penais, art. 20).
Decreto-Lei 3.688/41, art. 20. Anunciar processo, substância ou objeto destinado a provocar aborto: Pena - multa de hum mil cruzeiros a dez mil cruzeiros.
Comparativo das figuras típicas do aborto:
	Art. 124
	Art. 125
	Art. 126
	Pune a gestante (auto-aborto ou consentimento para terceiro abortar).
	Pune o terceiro provocador (sem consentimento da gestante) – é o crime mais grave.
	Pune o terceiro provocador (com o consentimento da gestante).
	Pena: 1 a 3 anos.
	Pena: 3 a 10 anos.
	Pena: 1 a 4 anos.
	Cabe suspensão condicional do processo.
	Não cabe suspensão condicional do processo.
	Cabe suspensão condicional do processo.
	Não cabe prisão preventivapara gestante primária.
	É possível prisão preventiva mesmo para o primário.
	Não cabe prisão preventiva para o primário.
Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento (CP, art. 124)
CP, art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque: Pena - detenção, de um a três anos.
Sujeito ativo: gestante.
Crime próprio ou crime de mão própria?
Primeira corrente: trata-se de crime de mão própria, pois somente a gestante pode realizá-lo. O terceiro provocador responde nas penas do art. 126 do CP.
Segunda corrente: trata-se de crime próprio (especial), pois o coexecutor existe, mas será punido em tipo diverso (exceção pluralista à teoria monista).
Sujeito passivo:
Primeira corrente: é o Estado (o feto não é titular de direitos, salvo aqueles expressamente previstos na lei civil).
Segunda corrente (prevalece): a vítima é o feto sim.
Reflexo prático: gravidez de gêmeos.
Se a vítima é o feto: há concurso formal de crimes.
Se a vítima é o Estado: há um só crime.
Conduta:
Autoaborto: a gestante pratica nela mesma a conduta abortiva.
Consentimento para que outrem lho provoque.
Voluntariedade: dolo, direto ou eventual, não se punindo a modalidade culposa.
Consumação: trata-se de delito material, consumando-se com a interrupção da gravidez, morte do feto, pouco importando se esta ocorre dentro ou fora do ventre do materno, desde que em razão das manobras abortivas.
Primeira situação: o feto é expelido sem vida em razão das manobras abortivas, haverá crime de aborto.
Segunda situação: o feto é expelido com vida, mas vem a morrer logo em seguida em razão das manobras abortivas, haverá crime de aborto.
Terceira situação: ocorrendo nascimento com vida, se a gestante renovar a execução, temos homicídio ou infanticídio, ficando, de acordo com a maioria absorvida a tentativa de aborto.
Aborto provocado por terceiro, sem o consentimento da gestante (CP, art. 125).
CP, art. 125 – Provocar aborto, sem o consentimento da gestante: Pena – reclusão, de três a dez anos.
Sujeitos:
Sujeito ativo: crime comum (terceiro provocador), podendo ser qualquer pessoa, não exigindo que seja, necessariamente, profissional da medicina.
Sujeito passivo: gestante e o feto (delito de dupla subjetividade passiva, assim como a violação de correspondência).
Conduta: provocar aborto sem o consentimento da gestante.
Jurisprudência: quem desfere violento pontapé no ventre de mulher sabidamente grávida pratica o crime de aborto.
Voluntariedade: dolo, direto ou eventual.
Matar mulher, sabendo que ela está grávida? Há prática do homicídio (dolo direto) e do aborto (dolo eventual), em concurso formal.
Consumação: crime material, consumando-se com a interrupção da gravidez, destruindo o produto da concepção.
Tentativa: é admitida (delito plurissubsistente).
Provocar aborto com o consentimento da gestante (CP, art. 126).
	Art. 125
	Art. 126
	Sujeito ativo: terceiro provocador.
	Sujeito ativo: terceiro provocador.
	Sujeito passivo: gestante e feto.
	Sujeito passivo: apenas o feto (a gestante consente, e responde pelo art. 124).
	Conduta: provocar aborto, sem o consentimento da gestante.
	Conduta: provocar aborto, com o consentimento da gestante. Se, durante a operação, a gestante se arrepende, responde por aborto não consentido o provocador que não interrompe a execução.
	Voluntariedade: dolo direto e eventual.
	Voluntariedade: dolo direto e eventual.
	Consumação: delito material.
	Consumação: delito material.
Dissenso presumido (CP, art. 126, parágrafo único):
CP, art. 126, Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou debil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência.
É imprescindível que o agente provocador conheça as qualidades da vítima ou o modo pelo qual o consentimento foi dado (evitando a responsabilidade penal objetiva).
Duas situações interessantes:
Mulher grávida, induzida pelo namorado, procura terceiro para provocar o aborto. O namorado conduz a namorada até o terceiro provocador. Ocorre o aborto.
Terceiro provocador: responde pelo CP, art. 126.
Gestante: responde pelo CP, art. 124.
Namorado: responde pelo CP, art. 124, na condição de partícipe (sua conduta é de auxiliar a gestante).
Mulher grávida, induzida pelo namorado, procura terceiro para provocar o aborto. O namorado paga o terceiro pela operação.
Terceiro provocador: responde pelo CP, art. 126.
Gestante: responde pelo CP, art. 124.
Namorado: responde pelo CP, art. 126, na condição de partícipe (sua conduta é acessória, pelo pagamento, à conduta do terceiro provocador).
Aborto majorado pelo resultado (CP, art. 127).
CP, art. 127 – As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em conseqüência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicados, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte.
Crime preterdoloso (ou preterintencional): ou seja, o aborto é praticado a título de dolo, seguido de lesão grave ou morte (resultado que se dá a título de culpa).
A pena somente é aumentada para o terceiro provocador (CP, arts. 125 e 126, não alcançando o art. 124, nem mesmo o seu partícipe).
Fundamento para não aplicação ao art. 124: o direito penal não pune a autolesão.
Para incidir a causa de aumento, é imprescindível que o aborto ocorra? Basta que “dos meios empregados para provocá-lo [o aborto]”, ocorra um dos resultados majorantes, dispensando a consumação do aborto.
Terceiro provocador, sem conseguir interromper a gravidez, culposamente mata a gestante. Qual crime praticou?
Primeira corrente (Capez): tratando-se de crime preterdoloso, não admite tentativa. O agente responde por aborto majorado consumado. É o mesmo espírito da Súmula 610 do STF, tratando do latrocínio.
STF, Súmula 610 - Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que não se realize o agente a subtração de bens da vítima.
Segunda corrente (prevalece): o crime preterdoloso só não admite tentativa na parte culposa, sendo possível quando fica frustrada a parte dolosa. O agente responde por aborto majorado tentado.
Aborto legal (ou permitido)
CP, art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico: Aborto necessário I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante; Aborto no caso de gravidez resultante de estupro II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.
Natureza jurídica: a despeito da expressão “não se pune”, indicativa de causa extintiva da punibilidade, trata-se de descriminante especial (causas especiais de exclusão da ilicitude).
CP, art. 128, I → forma especial de estado de necessidade de terceiro.
CP, art. 128, II → modalidade especial de exercício regular de direito.
LFG aplica a tipicidade conglobante (ou seja, nessa hipótese, sequer há tipicidade na conduta).
Aborto necessário ou terapêutico (CP, art. 128, I) → Requisitos:
Praticado por médico.
Caso o agente não seja médico, não se aplica o art. 128, I, mas sim o art. 24 do CP (estado de necessidade de terceiro).
Perigo de vida da gestante.
Impossibilidade de uso de outro meio para salvá-la.
Dispensa consentimento da gestante.
Dispensa autorização judicial.
Aborto sentimental, humanitário ou ético (CP, art. 128, II) → Requisitos:
Praticado por médico.
Caso o agente não seja médico, o fato configura crime.
Gravidez resultante de estupro (abrange o estupro de vulnerável).
Consentimento da gestante ou de seu representante legal (quando vítima incapaz).
Dispensa autorização judicial.
Têm julgados no STF exigindo Boletim de Ocorrência.
Aborto do feto anencefálico
Conceito de feto anencefálico: malformação congênita, em que o feto não possui uma parte do sistema nervoso central, ficando inviável a vida extrauterina.
O STF na ADPF 54 analisou a questão, concluindo:
Trata-sede situação concreta que foge à glosa própria ao aborto (não existe “vida” intrauterina).
A proibição dessa espécie de aborto conflita com a dignidade humana, a legalidade, a liberdade e a autonomia da vontade.
Diretrizes → logo após a decisão do STF, o Conselho Federal de Medicina publicou diretrizes para interrupção a interrupção da gravidez de feto anencéfalo:
Existência de exame a partir da 12ª semana de gravidez.
O laudo deve ser assinado por dois médicos.
Consentimento da gestante.
Interrupção realizada em hospital público ou privado e em clínicas, desde que haja estrutura adequada.
Das lesões corporais (CP, art. 129)
Análise global da lesão corporal
Bem jurídico tutelado → incolumidade pessoal, abrangendo:
Saúde corporal.
Saúde mental.
Saúde fisiológica.
Topografia da lesão corporal no Código Penal:
CP, art. 129, caput → lesão dolosa leve.
CP, art. 129, § 1º → lesão dolosa grave (ou preterdolosa).
CP, art. 129, § 2º → lesão dolosa gravíssima (ou preterdolosa).
CP, art. 129, § 3º → lesão seguida de morte (homicídio preterdolos).
CP, art. 129, §§ 4º e 5º → privilégio/benefícios.
CP, art. 129, § 6º → lesão culposa.
CP, art. 129, § 7º → majorantes.
CP, art. 129, § 8º → perdão judicial.
CP, art. 129, §§ 9º, 10 e 11 → violência doméstica e familiar (não necessariamente vítima mulher).
Sujeitos:
Sujeito ativo: crime comum.
Sujeito passivo: crime comum.
A vítima é própria, nas figuras do:
CP, art. 129, § 1º, IV → gestante.
CP, art. 129. § 2º, V → gestante.
Observações:
A lei penal não pune a autolesão.
Quem se lesiona para fraudar seguro, responde por estelionato (a autolesão não é punida).
Convencer doente mental a se ferir não é autolesão. O terceiro que pratica tal fato responderá pelo crime de lesão corporal a título de autor mediato (a doença mental, nesse caso, é instrumento do crime).
Conduta: ofender a incolumidade pessoal de outrem.
Ofender: causar enfermidade ou agravar enfermidade já existente.
Dispensa “dor”.
Cortar cabelo de outrem sem o consentimento deste:
Primeira corrente: constitui lesão corporal, desde que a ação do agente provoque uma alteração desfavorável no aspecto exterior da vítima.
Segunda corrente: constitui injúria real.
Terceira corrente: pode configurar lesão corporal ou injúria real, tudo a depender do dolo que animou o agente.
A pluralidade de ferimentos, no mesmo contexto fático, não desnatura a unidade do crime (são consideradas nas circunstâncias judiciais do art. 59 do CP).
A incolumidade pessoal é um bem disponível ou indisponível? O consentimento da vítima exclui o crime? A doutrina moderna entende que o bem jurídico é relativamente disponível, desde que:
Lesão leve (tanto que a Lei 9.099/95 exige representação), e
Não contraria a moral e os bons costumes.
Mudança de sexo: configura lesão de natureza gravíssima, somente podendo ser realizada de acordo com as instruções do CFM.
Não podemos confundir lesão corporal com a contravenção penal de vias de fato. Na contravenção penal, não existe (e sequer é a intenção do agente) qualquer dano à incolumidade física da vítima (exemplos: mero empurrão, puxão de cabelos etc.).
Decreto-Lei 3.688/41, art. 21. Praticar vias de fato contra alguém: Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa, de cem mil réis a um conto de réis, se o fato não constitui crime.
Consumação: crime material.
Tentativa: é admitida.
Lesão corporal dolosa leve (CP, art. 129, caput)
CP, art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano.
Pena: detenção de 3 meses a 1 ano:
Infração penal de menor potencial ofensivo (Lei 9.099/95).
Ação penal pública condicionada à representação (Lei 9.099/95, art. 88).
Antes da Lei 9.099/95, a lesão dolosa leve era de ação penal pública incondicionada.
Conceito de “lesão leve”: o conceito de lesão leve é extraído por exclusão, sendo aquela que não é grave, gravíssima ou seguida de morte.
Temos corrente doutrinária admitindo aplicação do princípio da insignificância em caso de levíssimas lesões (arranhão).
Lesão corporal grave (CP, art. 129, § 1º)
CP, art. 129, § 1º Se resulta: I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias; II - perigo de vida; III - debilidade permanente de membro, sentido ou função; IV - aceleração de parto: Pena - reclusão, de um a cinco anos.
Generalidades:
Elemento subjetivo: a lesão corporal grave pode ser dolosa ou preterdolosa (isto é, o resultado qualificador pode advir de dolo ou culpa).
Pena: 1 a 5 anos:
Infração penal de médio potencial ofensivo: admite suspensão condicional do processo.
Ação penal pública incondicionada.
Incapacidade para as ocupações habituais por mais de 30 dias:
Ocupação habitual: é a atividade corporal rotineira, não necessariamente ligada a trabalho ou ocupação lucrativa, devendo ser lícita, ainda que imoral (p. ex., prostituição).
Criança de tenra idade pode ser vítima dessa espécie de lesão (p. ex., ficar sem “mamar” por mais de 30 dias).
A pessoa que deixa de exercer suas ocupações habituais por mais de 30 dias, por conta da vergonha dos ferimentos, não qualifica o crime (é a lesão que deve incapacitá-lo, e não a vergonha da lesão).
Perícia: exige-se dois laudos, um primeiro na data dos fatos, e um segundo “exame complementar” após o 30º dia.
CPP, art. 168, § 2º Se o exame tiver por fim precisar a classificação do delito no art. 129, § 1º, I, do Código Penal, deverá ser feito logo que decorra o prazo de 30 dias, contado da data do crime.
A contagem do prazo é penal.
Perigo de vida:
Conceito: probabilidade séria e concreta do êxito letal (devidamente comprovada por perícia).
A região da lesão não justifica, por si só, a presunção do perigo.
Voluntariedade: essa qualificadora é necessariamente preterdolosa. Pois, se o agente assumiu o risco da morte ou quis a morte da vítima (dolo direto ou indireto), caracteriza tentativa de homicídio.
Debilidade permanente de membro, sentido ou função:
Conceitos:
Debilidade: diminuição, redução ou enfraquecimento da capacidade funcional, não importando se o enfraquecimento pode ser atenuado com aparelhos ou próteses.
Permanente: recuperação incerta e por tempo indeterminado (não significa perpetuidade).
Depende de perícia.
Aceleração do parto:
Conceito: feto expulso com vida antes do tempo normal.
A vítima é própria (gestante).
Se o feto nasce sem vida ou morre logo após o nascimento das lesões pretéritas, caracteriza lesão gravíssima pelo aborto (CP, art. 129, § 2º, V).
Voluntariedade:
Em nenhuma dessas hipóteses (CP, art. 129, § 1º, IV e § 2º, V) o agente quer ou assume o risco do aborto (caso ele o faça, configurará aborto provocado por terceiro).
O agente sabe ou deve saber a condição de gestante da vítima (evitando a responsabilidade penal objetiva).
Lesão corporal gravíssima (CP, art. 129, § 2º)
CP, art. 129, § 2° Se resulta: I - Incapacidade permanente para o trabalho; II - enfermidade incurável; III - perda ou inutilização do membro, sentido ou função; IV - deformidade permanente; V - aborto: Pena - reclusão, de dois a oito anos.
Generalidades:
A expressão “gravíssima” é criação doutrinária, aceita pelo legislador (na Lei 9.455/97 – Lei de Tortura, art. 1º, § 3º, o legislador adotou a expressão).
Pena: de 2 a 8 anos:
Infração penal de maior potencial ofensivo: não admite medidas despenalizadores da Lei 9.099/95.
A ação penal é pública incondicionada.
Incapacidade permanente para o trabalho:
Conceitos:
Trabalho: profissão, emprego.
Permanente: não temporária.
Incapacidade absoluta: não basta que a incapacidade seja relativa, ou seja, prevalece o entendimento que para incidir essa qualificadora, a vítima deve ficar incapacitada para qualquer trabalho, e não apenas para o trabalho que ela exercia.
Enfermidade incurável:
Conceito: transmissão intencional de doença para a qual não existe cura no estágio atual da medicina.
O STJ (HC 160.982)entendeu caracterizar esta circunstância qualificadora a transmissão consciente da AIDS.
A doutrina considera incurável a enfermidade quando o restabelecimento da saúde depende de intervenções arriscadas ou tratamentos incertos.
Se há recursos para permitir a cura, não incide a qualificadora quando o ofendido se recusa injustificadamente a utilizá-los.
Se a cura é descoberta após a condenação definitiva, não cabe revisão criminal.
Cabe revisão criminal quando, existente a cura, dela ainda não se tinha conhecimento no processo (não percebida no processo).
Perda ou inutilização de membro, sentido ou função.
Conceitos:
Perda: amputação ou mutilação.
Inutilização: função inoperante, sem qualquer capacidade de exercer suas atividades próprias.
Tratando-se de órgãos duplos (testículos, rins, olhos, ouvidos etc.), a lesão para ser qualificada como gravíssima deve atingir ambos.
Impotências: ambas as espécies configuram lesão gravíssima:
Generandi: impotência de gerar vida.
Coeundi: impotência instrumental.
Deformidade permanente:
Conceito: é o dano estético, aparente, considerável, irreparável pela própria força da natureza e capaz de provocar impressão vexatória (desconforto para quem olha e humilhação para a vítima).
Vitriolagem: é a deformidade permanente causada pelo emprego de ácidos.
A nossa lei não considera a qualificadora apenas nos casos de lesão no rosto, abrangendo todo o corpo, mesmo que visível apenas em momentos de maior intimidade.
Nelson Hungria analisa a deformidade de acordo com o sexo, idade e condição social.
Aborto:
Voluntariedade: essa qualificadora é necessariamente preterdolosa.
É indispensável que o agente siava ou pudesse saber que a vítima é mulher grávida.
Não se confunde com o art. 127 do CP (aborto qualificado pela lesão grave):
CP, art. 127:
Aborto → dolo.
Lesão grave → culpa.
CP, art. 129, § 2º:
Lesão grave → dolo.
Aborto → culpa.
Coexistência de qualificadoras: é plenamente possível, devendo, nesse caso, aplicar-se a qualificadora mais grave, e a outra qualificadora incidir como circunstância judicial desfavorável.
Lesão corporal seguida de morte (CP, art. 129, § 3º)
CP, art. 129, § 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quís o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo: Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
Introdução:
Trata-se do homicídio preterdoloso.
Falta ao agente o animus necandi.
Elementos:
Conduta dolosa dirigida à ofensa da integridade corporal da vítima.
Resultado culposo mais grave (morte).
A imprevisibilidade do resultado elimina o crime preterdoloso (o agente responde somente pelas lesões corporais).
Nexo entre conduta e resultado.
Casuística: Fulano, durante uma discussão, empurra Beltrano, que cai no chão, bate a cabeça e morre. Qual crime pratica Fulano? Empurrão não é lesão corporal, mas sim vias de fato. No caso, tem-se “vias de fato seguida de morte”, a qual deve ser tratada como homicídio culposo (a vias de fato é absorvida).
Lesão corporal privilegiada (CP, art. 129, § 4º)
CP, art. 129, § 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.
Aplicação: o privilégio aplica-se a todas as figuras da lesão corporal.
Substituição da pena (CP, art. 129, § 6º)
CP, art. 129, § 5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a pena de detenção pela de multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis: I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior; II - se as lesões são recíprocas.
Aplicação: somente se aplica na lesão leve, em casos de lesão privilegiada e lesões recíprocas.
Lesão corporal culposa (CP, art. 129, § 6º)
CP, art. 129, § 6° Se a lesão é culposa: Pena - detenção, de dois meses a um ano.
Pena: 2 meses a 1 ano:
Infração penal de menor potencial ofensivo.
Ação penal pública condicionada à representação (Lei 9.099/95, art. 88).
Lesão corporal culposa na direção de veículo automotor configura o crime do art. 303 do CTB, com pena de 6 meses a 2 anos.
Se foi resultado de embriaguez ou racha, não cabe transação penal (CTB, art. 298).
Sendo culposa, a lesão leve, grave ou gravíssima, não haverá alteração do tipo penal. O juiz vai considerar a natureza da lesão na fixação da pena base.
Causa de aumento (CP, art. 129, § 7º)
CP, art. 129, § 7º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se ocorrer qualquer das hipóteses dos §§ 4º e 6º do art. 121 deste Código. (Redação dada pela Lei nº 12.720, de 2012)
CP, art. 121, § 4º No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003)§ 6º A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio. (Incluído pela Lei nº 12.720, de 2012)
Confronto temporal:
	Lei 12.720/2012
	Antes
	Depois
	Homicídio praticado em atividade típica de grupo de extermínio (não abrangia milícia).
	Homicídio praticado por grupo de extermínio ou milícias.
	Consequência: (i) circunstância judicial desfavorável; (ii) crime hediondo, mesmo que simples.
	Consequência: (i) causa de aumento de pena; (ii) presente o grupo de extermínio, o homicídio simples continua hediondo (milícia não torna o homicídio simples hediondo).
	O jurado não se manifestava sobre essa circunstância.
	O jurado aprecia a causa de aumento.
Conceitos:
Grupo de extermínio: reunião de pessoas, matadores, “justiceiros” (civis ou não), que atuam na ausência do Poder Público, tendo como finalidade a matança generalizada, chacina de pessoas supostamente etiquetadas como marginais ou perigosas.
Milícia armada: grupo de pessoas (civis ou não) armado, tendo como finalidade devolver a segurança retirada das comunidades mais carentes, restaurando a paz. Para tanto, mediante coação, os agentes ocupam determinado espaço territorial. A proteção oferecida ignora o monopólio estatal de controle social, valendo-se de violência e grave ameaça.
Perdão judicial para a lesão corporal culposa (CP, art. 128, § 8º)
CP, art. 129, § 8º - Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 121.
CP, art. 121, § 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária.
Violência doméstica (e familiar - CP, art. 129, §§ 9º, 10 e 11)
CP, art. 129, § 9º Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade: (Redação dada pela Lei nº 11.340, de 2006) Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. (Redação dada pela Lei nº 11.340, de 2006)
CP, art. 129, § 10. Nos casos previstos nos §§ 1º a 3º deste artigo, se as circunstâncias são as indicadas no § 9º deste artigo, aumenta-se a pena em 1/3 (um terço). (Incluído pela Lei nº 10.886, de 2004)
CP, art. 129, § 11. Na hipótese do § 9º deste artigo, a pena será aumentada de um terço se o crime for cometido contra pessoa portadora de deficiência. (Incluído pela Lei nº 11.340, de 2006)
Quadro comparativo das três figuras:
	Art. 129, § 9º
	Art. 129, § 10.
	Art. 129, § 11.
	Qualificadora da lesão corporal dolosa leve (a pena de 3 meses a 1 ano passa a ser de 3 meses a 3 anos).
	Majorante da lesãocorporal grava, gravíssima e seguida de morte (as penas são aumentas em 1/3).
	Majorante da lesão leve qualificada pelo § 9º (a pena de 3 meses a 3 anos passa a ser aumentada em 1/3).
	Consequência: deixa de ser infração de menor potencial ofensivo.
	Consequência: a lesão grave passa a não admitir mais a suspensão condicional do processo.
	
Incidência: não há necessidade de que a vítima seja necessariamente mulher (o homem também pode ser vítima).
Hipóteses de violência doméstica (e familiar):
Lesão praticada contra:
Ascendente, descendente ou irmão.
Cônjuge ou companheiro.
Com que conviva ou tenha convivido.
Para Nucci, a expressão “com quem conviva ou tenha convivido” não é autônoma, mas complemento das hipóteses anteriores. Assim, para referido autor, não basta praticar lesão contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, sendo indispensável a coabitação atual ou pretérita (não prevalece esse entendimento).
Lesão pratica prevalecendo-se o agente das relações domésticas de coabitação ou hospitalidade.
Da periclitação da vida e da saúde
Condicionamento de atendimento médico-hospitalar emergencial
CP, art. 135-A. Exigir cheque-caução, nota promissória ou qualquer garantia, bem como o preenchimento prévio de formulários administrativos, como condição para o atendimento médico-hospitalar emergencial: Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.
Caráter subsidiário do Direito Penal (princípio da intervenção mínima): antes de ser criado esse tipo penal, outros ramos do direito já coibiam a conduta, mas sem alcançar muita efetividade:
O comportamento descrito no tipo já era considerado ilegal pelo CDC (art. 39).
O comportamento também era proibido pelo Código Civil (estado de perito).
A Resolução 44 da ANA veda a exigência descrita no tipo.
Pena do delito: 3 meses a 1 ano → infração de menor potencial ofensivo.
Sujeitos:
Ativo: administradores e/ou funcionários do hospital.
Sujeito passivo: pessoa em estado de emergência.
Conduta:
Negar atendimento emergencial, exigindo do potencial paciente (ou de seus familiares), como condição para a execução do procedimento de socorro:
Cheque-caução (cheque em garantia), nota promissória ou de qualquer garantia (endosso de duplicata).
Preenchimento prévio de formulários administrativos.
Para Nucci, não basta exigir cheque-caução, nota promissória ou qualquer garantia, sendo indispensável exigir também o preenchimento prévio de formulários administrativos.
Emergência vs. Urgência:
Lei 9.656/98, art. 35-C. É obrigatória a cobertura do atendimento nos casos: I - de emergência, como tal definidos os que implicarem risco imediato de vida ou de lesões irreparáveis para o paciente, caracterizado em declaração do médico assistente; II - de urgência, assim entendidos os resultantes de acidentes pessoais ou de complicações no processo gestacional;
É crime exigir cheque-caução para atender urgência, já que o art. 135-A do CP fala apenas em emergência? Certamente teremos duas correntes discutindo a responsta:
Primeira corrente: valendo-se de interpretação teleológica, defenderá que a urgência está implicitamente abrangida pelo tipo.
Segunda corrente: com base na legalidade estrita, somente a emergência é elementar do novo crime (condicionar o atendimento de urgência pode caracterizar o art. 135 do CP – omissão de socorro).
A solicitação de garantia, sem condicionar o atendimento, é fato atípico.
Voluntariedade: dolo.
Consumação: consuma-se com a indevida exigência (a tentativa, em tese, é possível).
Majorantes de pena (parágrafo único do art. 135-A).
CP, art. 135-A, Parágrafo único. A pena é aumentada até o dobro se da negativa de atendimento resulta lesão corporal de natureza grave, e até o triplo se resulta a morte. (Incluído pela Lei nº 12.653, de 2012).
Preterdolo: os resultados majorantes devem ser fruto de culpa (e não dolo).
Aquele que nega atendimento de emergência, na maioria das vezes, não obedece dever legal. Ocorrendo resultado lesão grave ou morte, discute a doutrina se não seria o caso de omissão imprópria, devendo o omitente responder pelo crime como se o tivesse causado.
Dos crimes contra honra
Introdução
O Código Penal é a norma geral dos crimes contra a honra, havendo lei especiais que também os preveem:
Crimes contra a segurança nacional (Lei 7.170/83) → crimes contra a honra com motivação política.
Código Eleitoral (Lei 4.737/65) → hipótese em que os crimes de calúnia, difamação e injúria são de ação penal pública incondicionada.
Código Penal Militar.
Lei de Imprensa (Lei 5.250/67), que declarada não recepcionada pela CF/88 → assim, os crimes contra a honra pela imprensa caem na norma geral (CP).
Quadro comparativo:
	Crime
	Conduta
	Honra protegida
	Calúnia (art. 138)
	Imputação de determinado fato, previsto como crime, sabidamente falso.
	Honra objetiva (reputação perante terceiros).
	Difamação (art. 139)
	Imputação de determinado fato desonroso (não importando se verdadeiro ou falso).
	Honra objetiva.
	Injúria (art. 140)
	Atribuição de qualidade negativa.
	Honra subjetiva (dignidade, decoro, autoestima).
Exemplos:
“Fulano é ladrão” → não há imputação de determinado fato, mas atribuição de qualidade negativa, caracterizando injúria.
“Fulano assaltou o Banco do Brasil do Centro” → houve imputação de determinado fato previsto como crime, caracterizando calúnia.
“Fulana roda bolsinha na esquina todas as noites” → imputou-se determinado fato não criminoso, porém desonroso, caracterizando difamação.
“Fulano mantém banca de jogo do bicho” → houve imputação de fato determinado não criminoso, uma contravenção penal, portanto, desonroso, caracterizando difamação.
“Fulano, militar, beijou seu colega de farda no ambiente do quartel” → houve imputação de determinado fato previsto como crime no CPM, caracterizando calúnia.
Calúnia
CP, art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. § 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala ou divulga. § 2º - É punível a calúnia contra os mortos.
Pena: 6 meses a 2 anos → infração penal de menor potencial ofensivo.
Sujeitos:
Ativo: crime comum.
Não pratica calúnia quem desfruta de inviolabilidade nas palavras e opiniões (Senadores, Deputados e Vereadores).
Advogado: a imunidade profissional do advogado é somente para difamação e injúria.
EOAB, art. 7º, § 2º O advogado tem imunidade profissional, não constituindo injúria, difamação ou desacato puníveis qualquer manifestação de sua parte, no exercício de sua atividade, em juízo ou fora dele, sem prejuízo das sanções disciplinares perante a OAB, pelos excessos que cometer. (ADI 1127-8).
Passivo: crime comum.
Adolescente pode ser vítima de calúnia?
Primeira corrente: menor não pratica crime, não podendo, portanto, ser vítima de calúnia (será vítima de difamação).
Segunda corrente: caluniar é imputar fato previsto como crime. Menor pratica fato previsto como crime (ato infracional), podendo, portanto, ser vítima de calúnia.
Pessoa jurídica pode ser vítima de calúnia? Apesar de haver corrente entendendo que a pessoa jurídica pratica crime ambiental, o STF e o STJ insistem em não admitir pessoa jurídica como vítima de calúnia.
Mirabete entende que pessoa jurídica não pode ser vítima de qualquer crime contra a horna, pois o Código Penal só protege honra de pessoa física.
Morto pode ser vítima de calúnia? Morto não é sujeito de direitos. Assim, o CP diz que é punível a calúnia contra os mortos (CP, art. 138, § 2º). Sendo a honra um atributo dos vivos, seus parentes é que serão vítimas.
CP, art. 138, § 2º - É punível a calúnia contra os mortos.
Autocalúnia: não é crime, mas pode caracterizar o crime de autoacusação falsa (CP, art. 341).
Auto-acusação falsa CP, art. 341 - Acusar-se, perante a autoridade, de crime inexistente ou praticado por outrem: Pena - detenção,de três meses a dois anos, ou multa.
Conduta: imputar a alguém determinado fato criminoso, sabidamente falso.
Trata-se de crime de execução livre.
Falsa imputação de contravenção penal caracteriza difamação.
Haverá calúnia quando o fato imputado jamais ocorreu (falsidade que recai sobre o fato) ou, quando real o acontecimento, não foi a pessoa apontada o seu autor (falsidade que recai sobre a autoria do fato).
O art. 138, caput, pune o criador da calúnia. O § 1º pune quem propala ou divulga a calúnia.
CP, art. 138, § 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala ou divulga.
Voluntariedade: dolo (vontade consciente de ofender, denegrir a honra da vítima).
Art. 138, caput → pune o dolo direito e o eventual.
Art. 138, § 1º → pune apenas o dolo direto.
Exigindo seriedade na conduta, não há crime quando a intenção é de:
Brincar → animus jocandi.
Aconselhar → animus consulendi.
Narrar o fato → animus narrandi.
Corrigir → animus corrigendi.
Defender direito → animus defendendi.
Erro de tipo: se o agente está convencido da veracidade da imputação, não responde pelo crime de calúnia, havendo, no caso, erro de tipo essencial (pouco importando se evitável ou inevitável, pois o tipo é punido apenas a título de dolo).
Calúnia vs. Denunciação caluniosa:
Calúnia (CP, art. 138): a finalidade do agente é ofender a reputação da vítima.
Denunciação caluniosa (CP, art. 339): a finalidade do agente é dar causa a instauração de procedimento oficial contra um inocente. O meio para se chegar a esse fim é a calúnia.
Consumação: a consumação do crime contra a honra depende da honra ofendida (se objetiva ou subjetiva). Sabendo que a calúnia ofende a honra objetiva, o crime consuma-se no momento em que terceiro toma conhecimento da imputação.
Crime formal: a calúnia é crime formal, consumando-se independentemente do dano à reputação, bastando a potencialidade lesiva.
Tentativa: é admitida na forma escrita (p. ex., carta interceptada pela própria vítima, não chegando ao conhecimento de terceiro).
Telegrama: neste, há o ditado a terceiro, estando o crime já consumado.
Exceção da verdade (exceptio veritatis):
Conceito: faculdade atribuída ao suposto autor do crime de calúnia de demonstrar que, efetivamente, os fatos por ele narrados são verdadeiros, afastando-se, portanto, com essa comprovação, a infração penal a ele atribuída.
Momento oportuno: resposta do réu (CPP, art. 396 ou Lei 9.099/95, art. 81).
Hipóteses de não cabimento (CP, art. 138, § 3º):
Se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido não foi condenado por sentença irrecorrível;
Se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no nº I do art. 141;
Se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível.
Difamação
CP, art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
Pena da difamação: 3 meses a 1 ano → infração de menor potencial ofensivo.
Sujeitos:
Ativo: crime comum.
Deve-se atentar para as inviolabilidades das palavras e opiniões (imunidade parlamentar).
Passivo: crime comum (qualquer pessoa).
Prevalece que pessoa jurídica pode ser vítima de difamação, pois tem reputação para preservar. Não se pune a difamação contra os mortos.
Conduta: é a imputação de determinado fato que, embora sem caráter criminoso, é ofensivo à reputação. 
Imputação de contravenção penal é difamação e não calúnia.
Delito de execução livre, tal qual a calúnia.
Qual crime pratica que propala ou divulga a difamação? Prevalece que aquele que propala ou divulga a difamação acaba também por difamar a vítima, praticando difamação.
Voluntariedade: dolo (vontade consciente de ofender a reputação).
Consumação: sabendo que o crime ofende a honra objetiva, consuma-se o crime quando terceiro conhecer da imputação desonrosa.
Trata-se de crime formal (não depende de dano à reputação do ofendido, bastando a potencialidade).
Admite tentativa na forma escrita.
Exceção da verdade: sabendo-se que na difamação, diferentemente da calúnia, a falsidade da imputação não é elemento essencial do crime, admite-se exceção da verdade? Em regra não admite prova da verdade, salvo numa hipótese prevista no CP, art. 139, parágrafo único (funcionário público no exercício de função pública).
CP, art. 139, Parágrafo único - A exceção da verdade somente se admite se o ofendido é funcionário público e a ofensa é relativa ao exercício de suas funções.
	Exceção da Verdade
	Calúnia
	Difamação
	Procedência: absolvição por atipicidade.
	Procedência: absolvição pela presença da descriminante especial do exercício regular de um direito.
	A procedência da verdade exclui elemento do tipo.
	A procedência da verdade não exclui qualquer elemento do tipo.
Exceção da verdade na difamação contra presidente da república: a exposição de motivos da parte especial do Código Penal, no seu Item 49, alerta que a exceção da verdade na difamação não alcança presidente da república ou chefe de governo estrangeiro, pelas mesmas razões do art. 138, § 3°, II, do CP.
A difamação também admite exceção da notoriedade (CPP, art. 523).
Injúria
CP, art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Pena: 1 a 6 meses → infração penal de menor potencial ofensivo.
Sujeitos:
Ativo: qualquer pessoa (crime comum).
Atentar para as inviolabilidades.
O advogado tem imunidade profissional na injúria.
Passivo: qualquer pessoa (crime comum), contudo deve compreender as ofensas contra elas proferidas. Deve ter consciência que está sendo atacada em sua honra.
A pessoa jurídica não é vítima de injúria, pois a pessoa jurídica não tem honra subjetiva (decoro).
Não se pune injúria contra os mortos.
É perfeitamente possível injuriar pessoa viva denegrindo a imagem do morto, como, por exemplo, chamar uma mãe já falecida de “cafetina das filhas”.
Conduta: atribuir qualidade negativa (não há imputação de fato determinado).
O crime é de execução livre, podendo ser praticado por palavras, gestos, omissão, etc.
Qual crime que imputa fato genérico, vago, indeterminado a alguém? A injúria abrange a imputação de fatos vagos, genéricos, difusos.
Voluntariedade: dolo (vontade consciente de ofender a dignidade ou decoro).
Consumação: varia conforme a honra ofendida. Não admite tentativa.
 Apesar de muitos não admitirem a tentativa (pois a vítima, titular da ação penal, ao ajuizar queixa crime, necessariamente toma conhecimento do fato), há o entendimento de ser possível tentativa quando a vítima morre antes de conhecer a ofensa e a ação penal é promovida pelos sucessores.
Espécies de injúria (Manzini divide a injúria em duas espécies):
 Injúria Absoluta: a expressão tem por si mesma e para qualquer pessoa um significado ofensivo constante e unívoco.
 Injúria Relativa: a expressão assume caráter ofensivo se proferida em determinadas circunstâncias de lugar, tempo, pessoa, forma, etc.
Exceção da verdade ou notoriedade: não admite exceção da verdade e exceção da notoriedade.
Perdão Judicial:
CP, art. 140, § 1º - O juiz pode deixar de aplicar a pena: I - quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria; II - no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria.
Quando o Ofendido de Forma Reprovável Provocou a Injúria: o perdão somente alcança quem revida.
Retorsão Imediata: serão perdoados que injuriou e quem foi injuriado. Uma injúria se compensa com a outra.
Injúria Real (Art. 140, § 2°, do CP): a finalidade do agente continua sendo ofender a dignidade ou decoro. O meio de que se vale o agente é a violência ou vias de fato. No entanto, a violência ou vias de fato, alerta Nelson Hungria, mais que o corpo ofende a alma.
CP, art. 140, § 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes: Pena - detenção, de trêsmeses a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência.
Injúria real e concurso de crimes: a pena da contravenção penal de vias de fato fica absorvida. De acordo com a maioria da doutrina, o agente responde por injúria em concurso material com o crime violento. Haveria, assim, duas condutas com dois resultados, somando as penas. Mas a realidade é que não se trata concurso material, e sim concurso formal impróprio, que também soma as penas. A violência serve para qualificar o crime, atuando também como crime autônomo.
Injúria Qualificada pelo Preconceito:
CP, art. 140, § 3º Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência: Pena - reclusão de um a três anos e multa.
Pena de 1 a 3 anos → ifração de médio potencial ofensivo (admite a suspensão condicional do processo).
Comparativo – injúria qualificada pelo preconceito vs. racismo:
	Injúria qualificada pelo preconceito
	Racismo
	CP, art. 141, § 3º
	Lei 7.716/89
	Atribuir qualidade negativa.
	Segregação ou incentivo à segregação.
	Afiançável, prescritível e de ação penal pública condicionada à representação.
	Inafiançável, imprescritível, de ação penal pública incondicionada.
Perdão judicial (é cabível o perdão judicial do § 1° do art. 140 na injúria qualificada pelo preconceito?): de acordo com a maioria da doutrina, não se aplica o § 1° na injúria preconceito, pois o preconceito manifestado não se reveste de simples injúria, tratando-se de violação muito mais séria à honra e a uma das metas fundamentais do estado democrático de direito.
Disposições comuns (CP, art. 141 a 145)
CP, art. 141 – causa de aumento (majorante) de pena.
CP, art. 141 - As penas cominadas neste Capítulo aumentam-se de um terço, se qualquer dos crimes é cometido: I - contra o Presidente da República, ou contra chefe de governo estrangeiro; II - contra funcionário público, em razão de suas funções; III - na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação da calúnia, da difamação ou da injúria. IV - contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou portadora de deficiência, exceto no caso de injúria. Parágrafo único - Se o crime é cometido mediante paga ou promessa de recompensa, aplica-se a pena em dobro.
Aplicação:
A causa de aumento incide sobre os três crimes contra a honra: calúnia, difamação e injúria.
Com o aumento, a calúnia deixa de ser infração penal de menor potencial ofensiva, enquanto que a difamação e a injúria assim se mantém.
Inciso I – macular a honra do Presidente da República é, indiretamente, macular a honra de todos os cidadãos. Ofender chefe de governo estrangeiro pode estremecer relações diplomáticas celebradas pelo Brasil (cuidado, pois se a ofensa ao Presidente da República tem motivação política, o crime será contra a segurança nacional – Lei 7.170/83).
Inciso II:
O aumento só incide no caso de ofensa relacionada ao exercício funcional.
A doutrina é divergente quanto ao alcance da expressão “funcionário público”. Para a maioria, abrange funcionário equiparado.
Crime contra a honra vs. Desacato:
	Crime contra a honra
	Desacato
	Pressupõe a ausência do ofendido (sabe da ofensa mediatamente). Obs: a jurisprudência entende que a ofensa por telefone é crime contra a honra.
	Pressupõe a presença do servidor (sabe da ofensa imediatamente – ele está no local vendo ou ouvindo a ofensa).
Inciso III:
“Na presença de várias pessoas”: a expressão gera indisfarçável controvérsia. Prevalece, no entanto, ser necessária a presença de pelo menos 3 pessoas (capazes de entender a ofensa).
Não são computados coautores, partícipes e a própria vítima.
A ofensa dirigida contra várias pessoas incide a causa de aumento, pois cada ofendido será um terceiro em relação à ofensa aos demais (hipótese em que haverá concurso formal impróprio).
A ofensa por meio da imprensa, hoje, sofre esse aumento.
Parágrafo único – trata-se da ofensa mercenária.
Exclusão do crime (CP, art. 142):
CP, art. 142 - Não constituem injúria ou difamação punível: I - a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu procurador; II - a opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científica, salvo quando inequívoca a intenção de injuriar ou difamar; III - o conceito desfavorável emitido por funcionário público, em apreciação ou informação que preste no cumprimento de dever do ofício. Parágrafo único - Nos casos dos ns. I e III, responde pela injúria ou pela difamação quem lhe dá publicidade.
Caput:
O art. 142 CP não abrange calúnia (não existe exclusão de crime para calúnia).
Natureza do art. 142 do CP:
Causa especial de exclusão da ilicitude (Damásio).
Causa de exclusão da punibilidade (Noronha).
Causa de execução do dolo (Fragoso).
As imunidades do art. 142 do CP são absolutas? A ressalva prevista no inciso II (“salvo intenção de ofender”) está implícita nos demais incisos, demonstrado que as várias imunidades não são absolutas (havendo exceção/intenção de ofender, há punição).
Inciso I – imunidade judiciária: ofensas irrogadas em juízo na discussão da causa.
A imunidade alcança a parte e seu procurador.
MP (Lei 8.625/93, art. 41, V).
Advogado (EOAB, art. 7º, § 2º).,
Inciso II – imunidade literária, científica ou artística (animus criticandi).
Inciso III – imunidade funcional (conceito desfavorável emitido por funcionário público no cumprimento do seu dever).
Parágrafo único – nos casos dos inciso I e III, quem dá publicidade à ofensa, fora do âmbito em que foi proferida, responde por ela.
Retratação (CP, art. 143):
CP, art. 143 - O querelado que, antes da sentença, se retrata cabalmente da calúnia ou da difamação, fica isento de pena.
Injúria: não existe retratação capaz de isentar o agente de pena no crime de injúria.
Retratação vs. Confissão:
Retratação: retirar do mundo o que afirmou (trazendo a verdade novamente a tona).
Confissão: o agente admite ser o autor da ofensa.
É causa extintiva da punibilidade.
Dispensa a concordância do ofendido.
Não obsta a ação cível de reparação de danos.
Prevalece que a retratação, para extinguir a punibilidade, deve ocorrer até a sentença de 1º grau.
A retratação extintiva da punibilidade nos crimes contra a honra se estende/comunica aos coautores e partícipes? Não, pois se trata de circunstância subjetiva incomunicável (“o querelado fica isento de pena”).
Pedido de explicações (CP, art. 144): trata-se de medida preparatória e facultativa para oferecimento da queixa quando, em virtude de termos empregados, não se mostra evidente a intenção de ofender, causando dúvida quanto ao significado da manifestação do autor.
CP, art. 144 - Se, de referências, alusões ou frases, se infere calúnia, difamação ou injúria, quem se julga ofendido pode pedir explicações em juízo. Aquele que se recusa a dá-las ou, a critério do juiz, não as dá satisfatórias, responde pela ofensa.
Não interrompe/suspende o prazo decadencial.
Prevalece na doutrina e na jurisprudência que a Justiça não pode obrigar o requerido a dar as explicações pretendidas (o silêncio também não configurará per si a ofensa).
Rito: procedimento das justificações avulsas (CPC, art. 861 a 866).
Ação penal (CP, art. 145) → regra: ação penal de iniciativa privada.
CP, art. 145 - Nos crimes previstos neste Capítulo somente se procede mediante queixa, salvo quando, no caso do art. 140, § 2º, da violência resulta lesão corporal. Parágrafo único. Procede-se mediante requisição do Ministro da Justiça, no caso do inciso I do caput do art. 141 deste Código, e mediante representação do ofendido, no caso do inciso II do mesmo artigo, bem como no caso do § 3o do art. 140 deste Código. (Redação dada pela Lei nº 12.033.  de 2009)
Exceções:
Injúria real + violência + lesão → ação penal pública incondicionada.
Cuidado: injúria real + vias de fato → ação penal iniciativa privada.
Crime contra a honra do Presidente da República ou Chefe de

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