Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 O JULGAMENTO DE NUREMBERG. Tribunal Militar Internacional vs. Hermann Göring et all. 20 de novembro de 1945 – 01 de outubro de 1946. Sala do Tribunal de Nuremberg em 1946. (AP Photo / STF) Tema do comitê: Julgamento de lideranças administrativas, militares e empresariais do nazismo pelo Tribunal Militar Internacional, liderado pelas cortes dos governos dos Estados Unidos, URSS, França e Inglaterra, vitoriosos na guerra. 2 Caros (as) participantes, Sejam bem-vindos a simulação dos Julgamentos de Nuremberg. Será a terceira vez na SIMUNA que iremos reviver um evento histórico, mas nenhuma com tamanha responsabilidade como esta. Afinal, trata-se da recuperação dos processos contra 24 réus (dos quais apenas 21 compareceram à corte de justiça) acusados de crimes de guerra, contra a paz e a humanidade. “Líderes, organizadores, incentivadores e cúmplices que participaram da elaboração de um plano comum ou de uma conspiração”1 – o Estado Nazista e suas instituições, cujos crimes marcaram a história do século XX. E não se trata de representar um país em um encontro das Nações Unidas no qual as decisões nem sempre são asseguradas ou o consenso é garantido entre os diplomatas presentes. Também não se trata de uma imitação literal de um evento histórico que ocorreu há quase setenta anos atrás. Neste comitê, o desafio será um pouco diferente: representar personagens históricos cujas ações tornaram-se conhecidas, assim como seus efeitos, sem necessariamente imitá-los, pois estamos diante de um comitê que retorna ao calor dos acontecimentos. Como participantes, vocês não sabem ainda qual será o resultado de suas escolhas e decisões. Sendo assim, será possível alterar ou não o curso dos acontecimentos. Por outro lado, em se tratando de um tema tão delicado, o julgamento de políticos, empresários, militares e outros colaboradores civis de um sistema totalitário que assassinou milhões de seres humanos, será fundamental que todos vocês – estudantes participantes – respeitem o momento histórico no qual estarão inseridos. Antes de mais nada, neste comitê, será muito importante o respeito a memória daqueles que sofreram os crimes nazistas, bem como daqueles que se comprometeram em julgá-los ou que receberam a alcunha de defendê-los. O mesmo cuidado será necessário para os estudantes que escolheram representar as 21 lideranças nazistas. Neste caso, recomenda-se aos participantes que se mantenham fiéis ao perfil de seus personagens sem ridicularizá-los, ou ainda, sem transformar o comitê e um espetáculo jocoso de episódios tragicamente reais como a “solução final” nazista durante a Segunda Guerra Mundial. Por outro lado, aqueles que representarem os réus não podem perder a liberdade de interpretação necessária a qualquer simulação, pois esta liberdade será fundamental para a originalidade deste comitê, bem como para a melhor fluição dos debates. Que todos possam desfrutar da melhor forma possível das sessões deste comitê, desenvolvendo habilidades necessárias a sua vida estudantil, aprendendo um pouco mais sobre um dos momentos históricos mais relevantes do século XX e, por fim, escolhendo ou não mudar estes acontecimentos. Bom trabalho a todos. Atenciosamente, Délcio Garcia Gomes. Professor Conselheiro da VII SIMUNA. 1 Conforme definiu a própria Carta dos Tribunal Militar Internacional 3 SUMÁRIO 1. O CONTEXTO HISTÓRICO ................................................................................. 04 1.1 Os Crimes 1.2 A Segunda Guerra Mundial 2. OS JULGAMENTOS ........................................................................................... 10 2.1 As acusações 3. PRINCIPAIS PERSONAGENS ........................................................................... 12 3.1 Os Juízes 3.2 Os réus e os respectivos advogados 3.3 Promotores 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 24 5. REGRAS ESPECÍFICAS DO JULGAMENTO DE NUREMBERG .................... 25 6. REFERÊNCIAS .................................................................................................. 27 7. ANEXOS ............................................................................................................ 28 4 1. O contexto histórico. Uma máxima repetida entre os historiadores diz que a História que conhecemos é, invariavelmente, a versão dos vencedores. Praticamente não se dá atenção ao que o perdedor tem a dizer e pouca gente fica sabendo o que aconteceu com ele. Contudo, apesar de nossa vontade desesperadora de achar um culpado, a verdade nem sempre é tão simples. (...) Antes de julgar, é preciso ouvir o outro lado. Ao contrário do que muitos pensam, o sofrimento não foi exclusivo das vítimas do nazismo: a Alemanha também perdeu – e muito – com a aposta que fez. Fonte: Revista História em Foco.2 O Tribunal de Nuremberg só pode ser compreendido dentro de uma conjuntura maior que envolve necessariamente os acontecimentos da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), do totalitarismo nazista (1933-1945) e, consequentemente, os excessos cometidos em nome desta ideologia. Entre tais excessos, destaca-se a perseguição sistemática e progressiva aos judeus, ciganos, eslavos e membros de outras etnias, além daqueles que politicamente destoa- vam do NSDAP (o partido nazista) e do Estado construído a partir da liderança de Adolf Hitler. Os acontecimentos da Segunda Guerra são particularmente importantes porque produziram um grupo de nações vendedoras, lideradas pelos Estados Unidos, Inglaterra e União Soviética, que se predispuseram a julgar, em um corte de exceção, uma lista de autoridades nazistas derrotadas em guerra, e que agora precisariam ser punidas em vista dos crimes cometidos não apenas por si, mas por todo um sistema da qual faziam parte. Quebrava-se, assim, o princípio “nullum crimen nulla poena sine lege previa”, a partir do qual se considera que uma pessoa só poderia ser julgada criminosa ou culpada se houvessem leis anteriores que delimitassem tais crimes, ou ainda, um precedente jurídico que justificasse a retroatividade. Isto não aconteceu em Nuremberg. Neste sentido, muitos daqueles que criticaram posteriormente o Tribunal de Nuremberg consideraram-no uma corte de “vendedores contra vencidos”, onde as intenções em condenar os réus já estavam postas na mesa. Além do mais, o Estado dentro do qual as lideranças condenadas atuaram estava destruído, derrotado e ocupado pelas tropas anglo-americanas e russas, no ano de 1945. E as potências vencedoras, em encontros como as Conferências de Yalta e Potsdam traçaram o destino da Europa e dos países derrotados do Eixo, especialmente a Alemanha. Para muitos críticos, faltava então ao Tribunal a legitimidade necessária e seus organizadores teriam transgredido o princípio da legalidade, aplicando normas jurídicas elaboradas post facto. Por outro lado, tendo em vista a proporção dos combates, os dois lados na Segunda Guerra Mundial cometeram crimes de guerra, ou foram além de um mínimo respeitável em situações de conflito. É bastante conhecida, por exemplo, o lançamento das bombas nucleares pelas forças armadas estadunidenses sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, com 2 Disponível em: 2° Guerra Mundial. Revista História em Foco. Ano 01, n°1, 2012, p.80. 5 saldo superior a duzentos mil mortos e um número incontável de pessoas afetadas pela radiação. Ou ainda, obombardeio anglo-americano sobre a cidade alemã de Dresden, entre os dias 13 e 14 de fevereiro de 1945, pelo qual aproximadamente quatro mil toneladas de bombas foram despejadas sobre a cidade, exterminando a população civil. E assim ocorreu também em tantas outras cidades alemãs, polonesas, italianas, russas, além dos árduos combates nas ilhas do Pacífico, os saques perpetrados por ambos os lados, os excessos cometidos pelos soviéticos quando avançaram pelo leste da Europa, entre outros episódios condenáveis. Alguns líderes nazistas chegaram a argumentar no julgamento: qual a legitimidade de uma corte de juízes, que representa Estados que também praticaram crimes de guerra, para julgar os alemães? Além disto, poderiam as 21 lideranças nazistas presentes no Tribunal serem julgadas por crimes de Estado, cometidos por todo um sistema? Eles não estariam cumprindo ordens? Questões como estas foram levantadas tanto pelos réus e seus advogados como também entre os demais participantes durante as sessões do julgamento. 1.1 Os crimes. Das primeiras restrições à “solução final”. A verdade é que os excessos cometidos pelos nazistas ultrapassavam em muito qualquer necessidade de uma legislação internacional anterior contra crimes de guerra. Foram ações condenáveis em qualquer sociedade ou momento histórico, independentes da existência ou não de um direito internacional aprimorado. Os crimes falavam por si. Esta percepção foi exposta em vários momentos do Julgamento de Nuremberg, como, por exemplo, nas declarações finais do promotor-chefe dos Estados Unidos Robert H. Jackson na sessão de 26 de julho de 1946 3: “É neste cenário que estes réus pedem, agora, ao Tribunal, que digam que eles não são culpados de planejarem, executarem ou conspirarem para cometer esta longa lista de crimes e injustiças. Eles se põem diante deste julgamento como o ensanguentado Gloucester se pôs diante de seu rei trucidado. Ele implorou à viúva, como eles imploram aos senhores: 'Diga que eu não os trucidei'. E a Rainha respondeu: 'Então diga que trucidados eles não foram. Mas mortos eles estão.' Se os senhores disserem desses homens que eles não são culpados, será o mesmo que dizer que não houve guerra, que não houve massacre, que não houve crime'” Os crimes foram vários e não se limitaram aos excessos militares perpetrados em um contexto de exceção, durante os conflitos armados da Segunda Guerra. Desde os primeiros anos após sua ascensão ao poder, o movimento nacional-socialista4 de Hitler praticou inúmeros crimes contra a humanidade, os quais tiveram início dentro do território alemão. 3 The International Military Tribunal for Germany. Document Collection. Disponível em http://avalon.law.yale.edu/imt/07- 26-46.asp 4 Não se esqueçam: trata-se do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP), nome do que vulgarmente tornou-se conhecido simplesmente como nazismo. 6 “Depois que Adolf Hitler tornou-se chanceler da Alemanha, em janeiro de 1933, ele agiu rapidamente para transformar o país em uma ditadura com um único partido, e organizou uma força policial especialmente para garantir que as políticas nazistas fossem aplicadas. Ele persuadiu seu gabinete a declarar estado de emergência e a abolir direitos individuais, incluindo a liberdade de imprensa, de expressão e de reunião. Os indivíduos perderam o direito à privacidade, o que significava que os nazistas podiam ler suas correspondências, escutar suas conversas telefônicas e revistar suas casas sem necessidade de mandado de busca ou apreensão”5. Na mesma medida em que a democracia alemã era destruída pelo Partido Nazista, os opositores políticos do regime em construção e as minorias étnicas não desejáveis começaram a sofrer perseguições. Neste interim, depósitos abandonados, fábricas, prisões e outras localidades ofereceram espaço para a formação dos primeiros campos de concentração, destinado aos prisioneiros políticos socialistas, anarquistas, democratas e lideranças sindicais. Os meios de comunicação passaram completamente para as mãos do Estado, integrados dentro de um complexo mecanismo de censura e propaganda. Milhares de livros saíram de circulação e constantemente eram queimados em festividades públicas, o ensino e a pesquisa acadêmica foram reestruturados, enquanto as autoridades do país difundiam teorias racistas como verdades inquestionáveis. Na legislação alemã da República de Weimar, superada com a ascensão de Hitler ao poder, novas leis seriam aprovadas e outras revogadas com a finalidade de segregar espaços e grupos sociais. Foi uma segregação progressiva, de modo que muitos judeus, por exemplo, ainda acreditaram por certo tempo em uma espécie de “modus vivendi” dentro do Estado nazista, ainda que com direitos limitados. Não havia como saber, no decorrer dos Anos 30, que a crescente restrição da cidadania fosse terminar em campos de extermínio como de fato ocorreu no final da Segunda Guerra. Além do mais, os judeus estavam, havia muito tempo, incorporados na sociedade alemã, eram alemães e não podiam simplesmente deixar tudo o que conquistaram para trás em busca de uma nova sorte em outro lugar6. “Em 1933, cerca de 500.000 judeus viviam na Alemanha, menos de 1% da população total. A maioria deles tinha orgulho de ser alemão, cidadãos de um país que produziu grandes poetas, escritores, músicos e artistas. Mais de 100.000 judeus alemães serviram o exército durante a Primeira Guerra Mundial, e muitos deles foram condecorados por sua bravura. Os judeus ocupavam cargos importantes no governo e ensinavam nas melhores universidades da Alemanha. Entre os trinta e oito escritores e cientistas alemães ganhadores do Prêmio Nobel entre 1905 e 1936, quatorze eram judeus. O casamento entre judeus e não-judeus estava se tornando cada vez mais comum. Embora os judeus alemães continuassem encontrando alguma discriminação em sua vida social e carreira profissional, a maioria era otimista em relação a seu 5 Texto do material do Museu do Holocausto sobre o terror nazista. Disponível em http://www.ushmm. org/outreach/ptbr/article.php?ModuleId=10007673 Consulta: 12/03/2014. 6 Outros grupos judeus, como é o caso dos sionistas, tentaram intensificar o movimento de retorno a Terra Santa, na medida em que na Alemanha as perseguições aumentavam. 7 futuro como cidadão alemão. Eles falavam o idioma alemão e consideravam a Alemanha sua pátria”. Fonte: Memorial do Holocausto. Estados Unidos. 7 No entanto, o nacional- socialismo não perdeu tempo em restringir o acesso dos judeus às universidades, ao funcionalismo público, a determinados espaços sociais (clubes, lojas), além de boicotarem os estabelecimentos judaicos, pichando-os com símbolo como a Estrela de Davi ou simplesmente pregando placas como a que vemos na foto, o que fazia com que os alemães fossem gradativamente deixando de frequentar estes lugares. Em seguida, os judeus e outras minorias começaram a ter seus bens confiscados e transferidos para proprietários alemães, assim como os profissionais liberais judeus (médicos, advogados, professores, jornalistas) tiveram sua atuação restringida, impedidos de atender qualquer cidadão alemão. Não demoraria muito para os judeus começassem a ser transferidos para o guetos (ver anexo I) e os campos de trabalho forçados. Em 1935 e depois em novembro de 1938 ocorreram dois dos episódios mais importantes da segregação nazista. O primeiro foi a apresentação aos alemães das Leis de Nuremberg, as quais proibiram as relações matrimoniais e as relações sexuais extraconjugais entre judeus e “cidadãos de sangue” alemão, regulando também os contratos de trabalhoe outras questões. Em 1938, organizações nazistas durante a Kristallnacht, a Noite dos Cristais, destruíram e queimaram milhares de estabelecimentos comerciais judaicos por todo o país, além de mais de duzentas sinagogas e tantos outros espaços, como escolas, cemitérios, hospitais, casas e até mesmo a população em si. O trágico episódio marcou o acirramento do ódio racial nazista, potencializado na medida em que a Alemanha empurrava as nações europeias para a guerra. 7 Boicote a Estabelecimentos de Propriedade de Judeus. Fonte: http://www.ushmm.org/outreach/ptbr/article.php? ModuleId=10007693 Soldados nazistas em frente a uma loja judaica. em Berlim. Na placa está escrito: "Alemães! Defendam-se! Não comprem de judeus". Foto: Georg Pahl. 1933. 8 1.2 A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL A eclosão da Segunda Guerra Mundial e a blitzkrieg, a guerra-relâmpago, permitiram a integração dentro do III Reich (o Império de Hitler) de milhões de povos antes submetidos a Estados democráticos ou ditaduras fascistas mais moderadas. Este ponto torna-se particularmente importante para o Julgamento de Nuremberg porque as responsabilidades da burocracia civil e militar nazista por seus crimes aumentaram consideravelmente a partir deste momento. Milhões de minorias oprimidas (judeus, ciganos, eslavos, negros) foram submetidos às ordens de burocratas que colocaram em prática um plano de ampliação dos guetos, bairros fortificados localizados em áreas periféricas das cidades para onde os judeus e outros eram confinados e explorados. O maior e mais conhecido foi o Gueto de Varsóvia. Paralelamente, o Estado nazista e seus aliados criaram um complexo sistema de campos de trabalho forçado e de outras finalidades espalhados por toda a Europa: (...), em toda a Europa, muita gente esteve confinada pelo regime nazista, com frequência em condições sub-humanas. Tortura e fome eram quotidianas para os 20 milhões de prisioneiros de muitos campos. Esses campos na Europa desempenhavam funções distintas: 30 mil deles eram destinados a trabalhos forçados. Existiam ainda 1.150 guetos de judeus, 980 campos de concentração, mil campos de prisioneiros de guerra e 500 bordéis de prostituição forçada. Além desses, havia diversos campos voltados para a “germanização” dos prisioneiros, ou seja, sua “educação ariana”. Neles, as mulheres eram forçadas a abortar, doentes psíquicos eram mortos como forma de “eutanásia”, e prisioneiros reunidos para serem transportados para os campos de extermínio. Fonte: Carta Capital. 8 A discussão acerca da responsabilidade sobre estes campos foi de extrema importância para o encaminhamento dos debates e durante a apresentação das provas contra os nazistas no Julgamento de Nuremberg, haja vista que eles representaram um fator primordial no sistema de morte e na execução da “judenrein” de Hitler, que queria uma Alemanha “livre dos judeus”. Por outro lado, foi também comum entre os depoimentos nazistas no Tribunal a argumentação de que eles ou “não sabiam da complexidade do sistema”, ou ainda, nada podiam fazer de concreto para evita-lo. O que ocorreu a seguir, especialmente a partir de 1942, foi um dos maiores crimes contra a humanidade já praticados. Adolf Hitler, H. Himmler, Reinhard Heydrich, H. Göering, Adolf Eichmann e outros nomes ligados ao alto escalão nazista decidiram9 pela “solução final” de populações inteiras no continente europeu. O desdobramento foi a construção de uma verdadeira indústria da morte, em um momento crucial da Segunda Guerra: os nazistas 8 Fonte: Estudos provam existência de sete vezes mais campos nazistas. Carta Capital. Clara Walther Disponível em http://www.cartacapital.com.br/internacional/estudos-provam-existencia-de-sete-vezes-mais-campos-nazistas/. Consulta: 24/03/2013 9 Na verdade, não se sabe exatamente quando a decisão foi tomada ou mesmo quem propôs. Existem muitas especulações, reforçadas no decorrer do século XX por historiadores, jornalistas, cientistas políticos, entre outros. Sabe-se, porém, que as operações de assassinatos foram iniciadas por oficiais das SS nos campos de concentração do leste europeu, especialmente na frente russa, depois da invasão de 1941. 9 começavam a perder o conflito. Neste processo de extermínio em massa, vale a pena destacar um encontro que ocorrei em 1942, a Conferência de Wannsee: “Em 20 de janeiro de 1942, 15 oficiais do alto escalão do Partido Nazista e líderes do governo alemão reuniram-se para um encontro importante em uma casa de campo à beira de um lago, na área nobre de Berlim chamada Wannsee. Reinhard Heydrich, principal representante do chefe das SS, Heinrich Himmler, organizou o encontro para discutir a "solução final para a questão dos judeus na Europa" com líderes do governo não pertencentes às SS, incluindo os secretários-gerais dos Ministérios da Justiça e das Relações Exteriores, cuja cooperação seria necessária para atingir o objetivo em pauta. A "Solução Final" era o código dos nazistas para o extermínio deliberado e cuidadosamente planejado” (de populações inteiras de judeus e outras minorias). Fonte: Memorial do Holocausto. Estados Unidos. 10 Até hoje não se sabe exatamente quantos mor- reram na solução final nazista. Provavelmente, foram assas- sinados entre seis a seis milhões e meio de seres humanos. O extermínio teria iniciado por oficiais das SS nos campos de concentração do Leste Europeu, entre eles, a Polônia e o território soviético. Depois, desdobrou- se para outras regiões. A grande quantidade de mortos deveu-se, entre outros fatores, pelo uso sistemático das câmaras de gás, fuzilamento, ou mesmo pelas atrocidades cometidas pelos oficiais nazistas: experiências médicas, torturas, maus-tratos, má alimentação, doenças, pelo frio, entre outros fatores. Os principais campos de extermínio foram construídos na Polônia, como é o caso, por exemplo, de Belzec, Sobibor, Treblinka e, é claro, Auschwitz-Birkenau, o mais famoso deles. Esta fama de deve pela provável quantidade de mortos: mais de 1,3 milhão de pessoas. Veja o mapa nos anexos. A apresentação no Tribunal de Nuremberg das provas documentais acerca destes campos, bem como das técnicas utilizadas, marcou um ponto alto da promotoria durante os processos contra os 21 lideres nazistas presentes no banco dos réus. 10 Fonte: http://www.ushmm.org/outreach/ptbr/article.php? ModuleId=10007693 Foto: Judeus do gueto de Lodz (Polônia) entrando nos trens de carga para deportação para o primeiro campo de extermínio: Chelmno, em território polonês.. Foto de Lodz, entre 1942 e 1944. Arquivo do National Museum of American Jewish History, Philadelphia. 10 2. Os Julgamentos. “Com o final da Segunda Guerra Mundial na Europa em maio de 1945, os Aliados vitoriosos depararam-se com um dilema. O ditador Adolf Hitler suicidara-se em seu bunker em 30 de abril, e dois de seus colaboradores fiéis mais famosos, o ministro da propaganda Joseph Goebbels e o Reichführer da SS Heinrich Himmler, seguiram seu exemplo. Outros oficiais nazistas de alta patente como Adolf Eichmann e o chefe da Gestapo Heinrich Mueller, junto com mais um dos instrumentos desprezíveis do governo, o dr. Josef Mengele, haviam fugido para a América do Sul, e outros desapareceram no anonimato ou nos escombros do Terceiro Reich. Por este motivo, dificilmente a reunião dos principais líderes nazistas encheria um tribunal”. Paul Roland. Os Julgamentos de Nuremberg: os nazistas e seus crimes contra a humanidade11. Terminada a guerra, os problemas para a organização de um julgamento das liderançasnazistas tornou-se muito mais complexo do que o fato de algumas “peças-chave” do nacional- socialismo terem se suicidado. Tratava-se de estabelecer um consenso entre as potências vitoriosas a respeito da necessidade ou não de um julgamento. Os ingleses, por exemplo, liderados por Winston Churchill, defendiam que os líderes nazistas fossem simplesmente executados, à revelia e sem o enfrentamento de um processo oneroso e perigoso. Outros tantos líderes compartilhavam da mesma ideia, mesmo entre as forças estadunidenses12. Além dos mais, ainda não havia entre as potências aliadas o consenso quanto o modelo de julgamento a ser realizado, e muito menos uma lista, ainda que mínima, de possíveis réus. Afinal, o número de pretendentes era incrivelmente enorme. Neste caso os aliados acabaram optando por uma lista que reunisse os criminosos de guerra alemães: os japoneses, por exemplo, seriam julgados depois, enquanto a outra potência do Eixo, a Itália, havia mudado de lado no final da guerra, pelo menos em parte, ajudando a derrubar Mussolini. Por fim, decidiu-se por um conjunto de 24 nomes, incluindo o empresário da indústria do aço e bélica alemã Gustav Kupp, que terminou por não comparecer ao julgamento em vista de seu estado de saúde. Estas lideranças estavam reunidas em diferentes categorias, representando os principais setores administrativos, militares e empresariais do sistema nazista. Outro desafio foi encontrar um local apropriado para sediar um Tribunal desta proporção. As principais cidades alemãs estavam parcialmente destruídas pelos conflitos armados. Em Berlim, por exemplo, mais de 60% do perímetro urbano da cidade havia sido destruído pela guerra, isso sem mencionar o fato de que a capital do Reich havia ficado dividida em quatro zonas de ocupação. 11 Paul Roland. Por que Realizar um Julgamento?. In. Os Julgamentos de Nuremberg: os nazistas e seus crimes contra a humanidade. SP: M.Books do Brasil Editora, 2013, p.20. 12Idem, p.22. 11 Por fim, os aliados definiram pela pitoresca e simbólica cidade de Nuremberg, onde aconteceram importantes comícios de Hitler e festividades do NSDAP. Para muitos historiadores, enquanto Berlim foram a capital política do Estado nazista, Nuremberg fora sua capital cultural. Neste caso, nada mais apropriado para um processo que visava julgar os líderes deste Estado criminoso. Não obstante, havia também em Nuremberg uma construção que surpreendentemente sobrevivera aos bombardeios e oferecia a infraestrutura necessária a um Tribunal e uma prisão, com espaço suficiente, apesar da necessidade de algumas reformas: o Grand Hotel (foto acima), preparado pelos aliados para se transformar em um palco de um dos principais acontecimentos do século XX. 2.1 As acusações. O Tribunal de Nuremberg foi por fim definido pelos Acordos de Londres (ver anexo III), assinados em 08 de agosto de 1945 pelos Estados Unidos, União Soviética, França e Inglaterra13. Foi um tribunal ad hoc, isto é, de exceção, com caráter temporário ou excepcional, cujo objetivo era julgar crimes ocorridos anteriormente à sua formação. Deste modo, desviou-se da concepção clássica de “juiz natural”, de um processo com juizado imparcial, que não se relacionasse com nenhuma das partes envolvidas, sobre o qual reina a Constituição e as leis. Neste caso, a corte possuía a parcialidade dos vencedores. Deste modo, os governos vitoriosos na Segunda Guerra, na elaboração da Carta do Tribunal Militar Internacional, decidiram definir, no texto do Artigo 6º, que julgariam os colaboradores do nazismo de forma individual e conforme responsabilidades coletivas, por terem participado de determinadas organizações, pelos seguintes crimes: 13 Vale destacar que a primeira iniciativa de julgar lideranças nazistas e colaboradores de outras nações por crimes de guerra surgiu em 1943. Neste ano, em outubro, durante a Conferência de Moscou, a Inglaterra, os Estados Unidos e a União Soviética assinaram a Declaração de Moscou. Esta declaração seria posteriormente mencionada e considerada nos Acordos de Londres. Ver anexo III. Grand Hotel em Nuremberg, uma construção que remonta ao final do século XIX e foi utilizada nos Julgamentos de Nuremberg. Foto: Julho/45. 12 CRIMES CONTRA A PAZ: Em síntese, seria o planejamento, preparação, início ou estímulo de uma guerra de agressão, ou de uma guerra de violação dos tratados internacionais, de conivência, apoio ou participação, no Plano Comum de Conspiração para cometer qualquer um dos crimes de guerra e contra a humanidade. CRIMES DE GUERRA: Consistiram na violação das leis ou das normas gerais da guerra. Estas violações incluem, mas não se restringem a: assassinato, maus-tratos, deportação de trabalho escravo ou para qualquer outro propósito da população civil de territórios ocupados, assassinato ou maus-tratos de prisioneiros de guerra ou de pessoas nos mares, assassinato de reféns, pilhagem de propriedade pública ou privada14, destruição intencional de metrópoles, cidades e vilarejos, devastação sem necessidade militar justificada15. CRIMES CONTRA A HUMANIDADE: Assassinato extermínio, escravização, deportação e outras ações desumanas cometidas contra qualquer população civil, antes e durante a guerra, perseguição política, racial ou religiosa na execução ou associada a qualquer crime dentro da jurisdição do Tribunal, de violação ou não de leis internas de um país. Vale destacar também que os processos jurídicos reproduzidos neste comitê da VII SIMUNA representaram, na verdade, o primeiro momento de uma série de treze julgamentos, entre 1945-46, que ocorreram na cidade de Nuremberg. Naturalmente, os demais “tribunais” não interessam a este comitê histórico, pois ocorreram posteriormente. 3. Principais personagens presentes no Julgamento (Neste caso, iremos considerar aqui as especificadas deste comitê na VII SIMUNA) 3.1 Juízes. “Embora o Tribunal fosse presidido por dois juízes um promotor-chefe de cada uma das quatro potências, e, portanto, constituiu um corpo jurídico internacional, a participação dos americanos foi muito mais expressiva do que a de seus aliados. A delegação dos ingleses tinha apenas 34 representantes, enquanto havia mais de duzentos americanos, inclusive 25 estenógrafos16, 30 especialistas em direito público e 06 especialistas em provas forenses. Quando os ingleses pediram mais tradutores, o governo recusou. Os franceses tiveram uma participação quase 14 Esta acusação em particular: “pilhagem de propriedade pública ou privada”, deixou um dos principais líderes nazistas julgados indignado. Göering afirmou que não se tratava de pura e simples pilhagem. 15 Outra questão relevante: os aliados também praticaram estes crimes em particular, destruindo cidades alemãs inteiras, como foi o caso de Dresden. 16 Um taquígrafo, versado em estenografia. A estenografia é um método de abreviação simbólica, visando à agilidade na escrita para acompanhar as falas rápidas do discurso. Comum em tribunais, por exemplo. 13 simbólica. A simples presença deles no julgamento era suficiente, porque não queriam expor as cicatrizes infligidas pelos quatro anos de ocupação”. Paul Roland. Os Julgamentos de Nuremberg: os nazistas e seus crimes contra a humanidade17. Não obstante a supremacia americana, conforme destacado no trecho acima, podemos considerar que oito juízes presidiram o Tribunal de Nuremberg, sendo quatro titulares e quatro suplentes. As obrigaçõeseram naturalmente divididas entre eles, de modo que nenhum ficasse sobrecarregado ou mesmo tivesse de encarar sozinho o imenso volume de documentos, provas, testemunhas e discursos. De uma forma geral podemos dividi-los assim: Sir Geoffrey Lawrence (Reino Unido) Presidente da Mesa * Francis Biddle (Estados Unidos) * Henri Donnedieu de Vabres (França) * Major-General Iona Nikitchenko (União Soviética) * * Suplentes: Norman Birkett (ING); John J.Parker (EUA); Robert Falco (FRA; Tenente-Coronel Volchkov (URSS). Merece destaque entre os juízes o lorde britânico Lawrence, o qual, segundo o escritor Paul Roland, “era um modelo de paciência, (...) sendo justo com todas as partes porque tinha a consciência que os vitoriosos não estavam isento de culpa, e por ser muito fácil demonizar os acusados. (...) Qualquer advogado que tentasse usar o tribunal como vantagem pessoal, ou quisesse atrasar os processos, era severamente punido”. Fonte: 18 No caso do Julgamento de Nuremberg reproduzido nesta edição da VII SIMUNA os juízes serão compostos por um corpo de convidados externos ao evento, estudantes universitários, os quais terão a responsabilidade de mediar os debates como a mesa diretora do comitê. Contudo, além de exercerem os papeis a eles designados, os nossos juízes-diretores deverão também se manter atentos as discussões durantes as sessões, anotando sempre que possível os pontos principais, ainda que em um sistema de revezamento entre eles. Isto será particularmente importante na medida em que no final do Julgamento eles terão a prerrogativa de formular as sentenças. 17 Paul Roland. Por que Realizar um Julgamento?. In. Os Julgamentos de Nuremberg: os nazistas e seus crimes contra a humanidade. SP: M.Books do Brasil Editora, 2013, p.26. 18 Idem, p.88-89. Os juízes Geoffrey Lawrence (à esquerda) e Francis Biddle (à direita) conversam na abertura da sessão do Tribunal Militar Internacional. 20 de nov. de 1945. 14 3.2 Réus e os respectivos Advogados As 24 lideranças nazistas inicialmente processadas se dividiam entre a administração, o empresariado e as Forças Armadas alemãs. Em alguns casos, uma determinada liderança circulou entre dois ou mais setores no Estado nazista. Era um grupo bem diversificado, composto por nazistas capturados pelo exército americano, britânico, francês e soviético. Dos 24 réus, apenas 21 compareceriam de fato ao Tribunal. O político Robert Ley, líder da Frente de Trabalho Alemã durante o nazismo, foi preso no final da guerra, mas suicidou-se na prisão, em 25/10/1945. Assim, não chegou a ser julgado no Tribunal. Já Martin Bormann, secretário pessoal de Hitler, que havia desaparecido durante a invasão de Berlim pelas tropas soviéticas, acabou sendo condenado a morte à revelia em Nuremberg19. Outro nome que foi especulado para ser processado em Nuremberg foi Gustav Kupp (1870- 1950), patriarca de um das famílias mais poderosas da Alemanha: fabricante de aço e armas. Como a saúde de Krupp estava muito debilitada, seu nome acabou ficando de fora. Por fim, os réus foram os seguintes: 1. Hermann GOERING *Göring. Goering foi, entre outras funções, o Ministro da Aeronáutica nazista e comandante-chefe da Luftwaffe, Ministro do Interior e Reichsmarschall do Führer, o Marechal do Reich, mais alta patente das Forças Armadas. Tais funções tornavam Goering no líder capturado mais importante, assumindo uma postura de liderança no Julgamento de Nuremberg. 19 De acordo com algumas descobertas recentes, Bormann provavelmente morreu em Berlim em maio de 1945. 15 “Desde o início do julgamento, Goering adotou a estratégia de interferir no julgamento dos outros acusados, com o envio de observações para os diversos advogados de defesa, sugestões de assuntos a serem discutidos, perguntas e a convocação de testemunhas. Esse comportamento manipulador irritou o Tribunal, e os juízes mandaram que ele limitasse as comunicações a o seu advogado, e sempre no contexto de assuntos referentes à sua defesa (...) Goering queria que os líderes alemães sentados no banco dos réus demonstrassem uma coesão, mas não foi bem sucedido”. Depoimento de Siegfried Ramler, um dos intérpretes em Nurembeg... Segundo o depoimento de muitas testemunhas que conviveram com ele, era uma pessoa vaidosa e intimidador na época de domínio nazista. Já em Nuremberg, sem seu vistoso uniforme e suas medalhas, restou a Göering tentar transformar os processos em um espetáculo nos quais ele seria o protagonista, travando duelos com os promotores e a corte de justiça. 2. Rudolf HESS. O antigo vice-líder do Führer no NSDAP, o Partido Nazista, Rudolf Hess era uma figura excêntrica e hipocondríaca. Havia tentado de matar pelo menos duas vezes, em 1942 e 1945, além de ter sido capturado pelos britânicos depois de ter voado até a Escócia sozinho em uma tentativa desesperada de negociar a paz com a Inglaterra. Foi Hess quem assinou as Leis de Nuremberg, além de defender o rearmamento alemão, atraindo para a causa nazista empresários como Gustav Kupp. Em Nuremberg, Rudolf Hess tentou várias vezes se passar por louco ou, no mínimo, incapaz de enfrentar os julgamentos. Rudolf Hess, no centro da fotografia, entre Göering e Ribbentrop. Ao lado, de pé, o Dr. Gilbert, psiquiatra dos EUA20. 20 Idem, p. 105. Rudolf Hess não pode ser confundido com Rudolf Hoess, comandante do campo de extermínio de Auschwitz entre 1940-43, que acabaria depondo de forma decisiva durante o Julgamento de Nuremberg, como testemunha de Ernst Kaltenbrunner. 16 3. Joachim Von RIBBENTROP; Apelidado por Hitler de “o segundo Bismarck”, Ribbentrop foi o Ministro das Relações Exteriores de Hitler entre 1938 e 1945, responsável, entre outros, pelo Pacto de Não-Agressão (Ribbentrop-Molotov) com a União Soviética, assinado uma semana antes de se iniciar os combates da Segunda Guerra Mundial. Foi responsável também pelo projeto expansionista alemão que levou a invasão da Áustria e da Tchecoslováquia. 4. Julius STREICHER. Streicher foi um professor, editor e gauleiter (líder provincial nazista) de Hitler entre 1933 e 1940. Tido por muitos como um sádico e antissemista fanático, ele publicou também a o jornal Der Stürmer, cujas publicações endossadas por Hitler tornaram-se conhecidas pelo seu conteúdo pornográfico e racista, especialmente antissemita. Segundo Paul Roland, no livro Os Julgamentos de Nuremberg: ”Streicher decidiu uma série de livros antissemitas sórdidos para crianças, dois dos quais se intitularam The Jewish Question in the Classroom e The Poisonous Fungus, ambos ilustrados por seus jovens leitores. Com suas publicações, Streicher infectou uma geração inteira com o veneno do antissemitismo” 21 . 5. Baldur von SCHIRACH. Schirach foi um intelectual e aristocrata alemão, um dos líderes da Juventude Hitlerista e gauleiter (líder provincial nazista) de Viena, na Áustria. Era vaidoso e pedante, mantendo-se sempre com uma vestimenta impecável durante os processos em Nuremberg. Passava a maior parte do tempo lendo em sua cela. No entanto, sua aparência procurava esconder uma série de crimes de colaboração, entre os quais se destacam o transporte de milhares de judeus e outras minorias étnicas austríacas para campões de extermínio na Polônia. 6. Alfred ROSENBERG. O autointitulado “filósofo do nazismo”, autor do livro Der Mythus des zwanzigsten Jahrhunderts (“O Mito do Século XX”, de 1930) Rosenberg foi um intelectual tolo e arrogante, nomeado por Hitler Ministro dos Territórios Orientais Ocupadosdo Reich. Neste cargo, além de ter gerenciado a deportação e extermínio de milhares de pessoas, Rosenberg também, segundo o pesquisador Paul Roland, “supervisionou o roubo de obras-primas na Europa inteira. Só em Paris, 38 mil obras foram roubadas como parte da maior operação de arte da história, como se vangloriava Rosenberg” 22 . 7. Hans FRANK. Foi um advogado, político e militar nazista que atuou principalmente no território polonês, como governador-geral. É pertinente citar aqui a frase de Hans Frank em Nuremberg: “Não permita 21 Paul Roland. In. Os Julgamentos de Nuremberg: os nazistas e seus crimes contra a humanidade. SP: M.Books do Brasil Editora, 2013, p.51. 22 Idem, p.53. 17 que pessoas digam que não tinham ideia do que acontecia. Todos sabiam que havia algo profundamente errado com o sistema”. Deste modo, não seria incorreto afirmar que Frank não escondera dos líderes aliados sua culpa no processo, limitando-se a externar o seu suposto remorso por tudo que havia acontecido. 8. Walther FUNK. Funk foi um jornalista nacionalista e antimarxista durante a década de 1920, assumindo com a ascensão do nazismo o cargo de Ministro da Economia e presidente do banco do Reich (Reichsbank). Em vários momentos do Tribunal mostrou-se abatido e emocionado, demonstrando uma capacidade limitada para suportar as acusações. 9. Wilhelm FRICK. Wilhelm Frick foi um político nazista e Ministro do Interior de Adolf Hitler entre 1933-1943, quando foi deposto em uma disputa interna com Himmler, contra o qual todos perdiam. Depois desta data, Hitler o nomeou o reichsprotektor da Boêmia e Morávia. Com uma aparência de um militar prussiano já idoso e sem remorsos, manteve inalterado durante todas as sessões do julgamento, assim como havia se mantido impassível perante as leis que promulgou e tantas perseguições políticas e étnicas das quais participou. 10. Ernst KALTENBRUNNER. Foi o ex-chefe do RSHA, Escritório Central de Segurança do Reich23 e possuía a maior patente das SS capturada pelos aliados, acusado de torturar e matar os inimigos políticos do regime nazista. Durante o Tribunal, recusou-se a admitir os crimes sobre os quais era condenado. Negou até mesmo as assinaturas que tinha feito, bem como as pessoas que conhecia, como, por exemplo, Adolf Eichmann, um dos idealizadores do Holocausto e responsável pelo transporte de milhares de pessoas para os campos de extermínio. Eichmann tinha fugido para a Argentina na época dos julgamentos, a desconhecimento de todos. 11. Fritz SAUCKEL. “Fritz Sauckel, gauleiter da Turíngia – na área central da Alemanha – era o subordinado imediato de Albert Speer. Ele fornecera trabalhadores escravos a Speer – uma estimativa de 10 milhões de 1942 até o final da guerra -, que eram espancados, morriam de fome, brutalizados e mantidos em condições intoleráveis. Muitos amputavam as mãos ao coloca-las nos trilhos de um trem ou em uma máquina para terminar seu sofrimento. Esses acontecimentos imprevisíveis eram descritos pelos chefes nazistas furiosos como sabotagem.” Paul Roland. Os Julgamentos de Nuremberg24. Homens como Sauckel não eram capazes de admitir seus crimes. Tentaram ludibriar as autoridades presentes no Tribunal, colocarem-se como funcionários do Estado, pessoas bem- intencionadas, a serviço da Alemanha. Em contrapartida, enviaram para trabalhos forçados, 23 O RSHA existiu entre 1939 e 1945 e tinha a prerrogativa de controlar a Gestapo, as polícias, a SD e as agências de investigação criminal do Reich: a Kripo. Kaltenrunner substituiu Reinhard Heydrich, assassinado em 1942. 24 Idem a referências anteriores, p.61.. Veja o tópico Referências no final do guia. 18 torturaram e exploraram trabalhadores estrangeiros, alemães, prisioneiros políticos, militares ou por razões étnicas. 12. Albert SPEER. Speer era o Ministro de Armamentos do Reich e seu arquiteto mais ilustre. Assim como outras lideranças políticas e intelectuais que circulavam no alto escalão, sabia de praticamente tudo o que acontecia, por mais que tenha negado em Nuremberg. Agiu com indiferença durante o regime nazista, escolhendo não interferir no modo como as decisões eram tomadas. Limitava- se a colocar em prática os projetos de Hitler, como a Chancelaria do Reich e a ampla produção de armamentos. Em Nuremberg, mostrava-se arrependido e procurava colaborar com os interrogatórios, talvez esperando uma sentença mais branda. 13. Konstantin von NEURATH. Representando muito bem um seleto grupo das elites alemãs que apoio a ideologia nacional- socialista, seduzidos por Adolf Hitler, o barão Von Neurath tornou-se Ministro das Relações Exteriores entre 1932-1938 e depois reichsprotektor da Boêmia e Morávia (Tchecoslováquia), cargo também ocupados depois por Frick. 14. Franz von PAPEN. Incompetente politicamente e de personalidade fraca, Papen ocupou o cargo de Reichskanzler, entre alguns meses de 1932, tornando-se depois o Vice-Chanceler de Hitler em 1933 e ocupou outros tantos cargos políticos e diplomáticos no Estado nazista. Em Nuremberg, por exemplo, chegou a dizer que tentara influenciar o Führer a declinar da perseguição antissemita aos judeus e que era um homem que trabalhara pela paz. Contudo, pouco de fato fez a respeito. 15. Arthur Seyss-INQUART. Arhur Seyss-Inquart foi um advogado e político austríaco que ocupou o cargo de Reichskomissar nos Países Baixos, além de vice-governador da Polônia ocupada. Participou das negociações que entregaram a Áustria ao regime nazista, em 1938, além de ter enviado milhares de judeus holandeses para os campos de extermínio. 16. Hjalmar SCHACHT. Foi um empresário, político e banqueiro durante o regime nazista. Ocupou o cargo de diretor do Banco Central de Ministro da Economia (1934-1937). Sua contribuição para os crimes de guerra e contra a humanidade foi apenas indireta, na medida em que facilitou a ascensão do Führer e ajudou a recuperar e desenvolver a indústria alemã. Com um tom arrogante e convicto de suas responsabilidades, Schacht afirmou logo que recebeu a sentença que acreditava em sua absolvição. Afinal, não tinha cometido os mesmos crimes que homens terríveis como Kaltenbrunner e Himmler. 19 17. Alfred JODL. “Jodl disse que não queria ser julgado com Streicher e outros como ele, porque era um soldado que deveria ter privilégios e o respeito merecido por sua patente. Em resposta, o coronel Andrus – militar responsável por entregar aos réus a respectiva condenação – arrancou as dragonas de seus ombros e lembrou-lhe que não era mais um oficial, e sim um criminoso de guerra. Jodl ficou visivelmente abalado com o insulto, mas manteve sua dignidade e permaneceu cortês ao receber uma cópia do documento de acusação.” Paul Roland. Os Julgamentos de Nuremberg25. Coronel-general e chefe de Operações do Alto Comando (OKW), Jodl aconselhou o Führer, planejou e executou a ocupação militar do continente europeu, além de assinar a execução de prisioneiros de guerra. Em 1942, por exemplo, Jodl assinou a ordem de execução dos comandantes aliados e autoridades políticas soviéticas capturadas, as quais não seriam mais tratadas como prisioneiras de guerra. Assim, cometeu crimes de guerra e contra a humanidade. 18. Wilhelm KEITEL. Foi um Marechal-de-Campo do Exército nazista e um dos líderes do OKW, o Alto Comando das Forças Armadas. Desde o princípio foi um militar obediente, cumpridor das ordens de Hitler, argumento que repetiu várias vezes durante o Julgamento de Nuremberg. 19. Karl DOENITZ. Doenitz foi um brilhante almirante da Kriegsmarine, a Marinha de Guerra, além de ter comandadoo Estado nazista por 23 dias após o suicídio de Hitler. Assim como Jodl, foi um dos que assinaram a rendição da Alemanha na Segunda Guerra. Membro radical do NSDAP, foi acusado de vários crimes de guerra, especialmente aqueles relacionados a Ordem Laconia, que permitia o assassinato de militares indefesos nos botes salva-vidas após o bombardeamento de navios inimigos. Também foi o idealizador da Rudeltaktik, a tática de operações navais alemãs contra navios aliados no Atlântico. 20. Erich RAEDER Foi um almirante que comandou a Kriegsmarine até 1943, quando foi substituído por Doenitz. Capturado pelos soviéticos no final da Segunda Guerra, recebeu acusações de guerra de agressão, por ter planejado a invasão dos territórios da Noruega e Dinamarca em 1939. 21. Hans FRITZSCHE Assim como Raeder, Hans Fritzsche também foi capturado pelo exército soviético durante a tomada da cidade de Berlim. Fritzsche foi o vice-diretor do Propagandaministerium, o Ministério da Propaganda do Reich, subordinado apenas de Joseph Goebbels. Foi acusado de crimes contra a humanidade e crimes de guerra. 25 Idem a referências anteriores, p.71.. Veja o tópico Referências no final do guia. 20 Os advogados “(...) a defesa dos acusados demorou mais do que os processos da promotoria, porque havia muitas acusações a negar. Quando chegou o momento de preparar a defesa dos réus, os advogados receberam o apoio total do Tribunal. No entanto, por dependerem da promotoria quando precisavam de cópias dos documentos, estavam sempre um passo atrás. Eles também, em muitos casos, sentiam-se intimidados pela imprensa alemã, que os haviam descritos como ex-nazistas ou pelo menos simpatizantes do regime nazista. Porém, muitos estavam apenas cumprindo sua obrigação profissional de representar, com toda a liberdade, seus clientes da melhor maneira possível (...)” Fonte: ROLAND, Paul. Julgamentos de Nuremberg, p. 124. Em Nuremberg, cada réu recebeu uma lista com possíveis nomes de advogados alemães que poderiam representa-los. Não foi fácil encontrar estes nomes, haja vista que muitos resistiram aos pedidos de representação porque não queriam sofrer represarias da imprensa e da opinião pública alemã de uma forma geral. Além deste problema inicial, ocorreu também de alguns advogados não se identificarem com os réus que precisavam defender, ocorrendo o mesmo com os réus. Sendo assim, a defesa em Nuremberg acabou enfrentando desafios muitos maiores do que aqueles que se dispuseram a acusar. Nesta simulação, escolhemos apenas alguns advogados entre aqueles que estiveram presentes em Nuremberg, pois não teríamos como reproduzir todos os personagens. Além do mais, precisamos também realizar uma adequação: atribuir para cada um dos 07 advogados presentes três réus específicos, como forma de melhor organizar as atividades deste comitê. A relação ficou estabelecida da seguinte forma: 1. OTTO STAHMER, que representará os réus: Hermann Göering, Franz von Papen e Julius Streicher; 2. FRITZ SAUTER, que representará os réus: Joachim von Ribbentrop, Walther Funk e Baldur von Schirach; 3. RUDOLF DIX, que representará os réus: Hjalmar Schacht, Albert Speer e Wilhelm Frick; 4. OTTO KRANZBUHLER, representando: Karl Dönitz, Ernst Kaltenbrunner e Alfred Rosemberg; 5. FRANZ EXNER, representando: Alfred Jodl, Hans Frank e Konstantin von Neurath; 6. ROBERT SERVATIUS, que representará os réus: Fritz Sauckel, Arthur Seyss-Inquart, Wilhelm Keitel; 7. GUNTHER VON ROHRSCHEIDT, representando: Rudolf Hess, Erich Raeder e Hans Fritzsche. Recomendações aos réus e advogados: Principais argumentações das lideranças nazistas no Tribunal: CUMPRIMENTO DE ORDENS. Eles cumpriam ordens do Führer, dentro de uma hierarquia da qual não poderiam se ausentar, correndo um risco de certo de serem executados como traidores. TRANSFERIR a culpabilidade para os mortos foi uma estratégia razoável. Afinal, homens como Hitler, Himmler, Goebbels, Heinrich Miller (desaparecido), Reinhard Heydrich, entre outros, não poderiam se defender. CONHECIMENTO. Algumas lideranças nazistas no Tribunal se defenderam dizendo que não sabiam o que se passava de fato, a complexidade do sistema de morte, dos campões de extermínio. 21 POUCO PODER. Alguns argumentaram também que ocupavam cargos intermediários e, portanto, não tinham o poder necessário para decidir sobre a morte e a vida de milhões de seres humanos. Alguns nazistas compararam no Tribunal o sistema hierarquizado do III Reich com outros. Para eles, a hierarquização da sociedade não foi prerrogativa exclusiva de Hitler. Outros sistemas também possuíram algo semelhante: a Igreja, o Estado soviético e até os Estados democráticos do ocidente e suas burocracias. PROTEGIDOS PELOS NÚMEROS: lideranças como Göering acreditavam que poderiam usar o número total dos mortos nos campos de extermínio a seu favor, afirmando que os mesmos eram alto demais para que o Tribunal acreditasse. OBSERVAÇÃO: Conforme descrito no Guia Específico de Regras deste comitê, os 21 réus, no Documento de Posição Oficial, deverão escrever sua biografia, contendo aspectos de relevância sobre sua vida, cargo ocupado no regime nazista, período de atuação no regime, importância política e histórica. Uma cópia escrita deste documento será entregue para a mesa-diretora na primeira sessão. AOS ADVOGADOS: A advocacia poderá apresentar testemunhas-históricas. Contudo, devem seguir algumas regras: primeiramente, os nomes e uma pequena síntese das duas primeiras testemunhas interrogadas no sábado (05/03) serão inevitavelmente apresentados na sexta, durante nossa primeira sessão. Depois as demais testemunhas ficaram livres de apresentação prévia na sessão anterior. Por fim, os estudantes-advogados não podem esquecer que se trata de um comitê histórico. Deste modo, as testemunhas precisam ser personagens reais. Os estudantes-advogados deverão preparar o detalhamento inicial da defesa. No caso deste comitê, tais discursos serão considerados como DPO(s), isto é, os Documentos de Posição Oficial, os quais deverão conter sinteticamente a defesa dos três réus sob responsabilidade de cada advogado. A defesa poderá conter apenas explanações gerais, deixando os pontos específicos para o decorrer do processo. No final do documento, contudo, cada advogado precisa acrescentar um parágrafo com informações relevantes acerca de seu personagem. O DPO de cada advogado será entregue por escrito para os réus e a mesa-diretora. 22 3.3 Promotores Foto: Robert Jackson discursa na acusação americana de abertura no Tribunal Militar Internacional de criminosos de guerra em Nuremberg. Data: 20 de novembro, 1945. “Meritíssimos senhores, tenho a honra e o privilégio de abrir a sessão do primeiro julgamento na história de crimes contra a paz mundial, o que impõe uma grande responsabilidade. Os crimes que vamos julgar e condenar são tão premeditados, perversos e tão devastadores que a civilização não pode ignorá-los, nem serem repetidos. As quatro potências, incentivadas pela vitória e chocadas com as injustiças cometidas, estendem a mão da vingança e voluntariamente submetem seus inimigos capturados a julgamento neste tribunal em um dos mais significativos tributos que o poder fez a razão. Estes homens são os primeiros líderes e uma nação derrotada na guerra a serem julgados em nome da justiça, portanto, concordamos que eles têm o direito de alegar inocência e aceitamos o ônus de comprovar os atos criminosos e de responsabilizar os acusados por suas ações”. Robert H. Jacson em seu brilhante discurso de abertura em Nuremberg. Novembrode 1945. Assim como Robert H. Jackson, os estudantes-promotores que assumirem a responsabilidade interpretar estes papéis nesta simulação do Julgamento de Nuremberg deverão preparar os seus discursos de abertura. No caso do nosso júri, tais discursos serão considerados como DPO(s), isto é, os Documentos de Posição Oficial, os quais deverão conter sinteticamente a acusação e os crimes cometidos pelos réus. No final do documento, espera- se também um parágrafo com informações relevantes acerca da vida política e jurídica dos respectivos promotores. O DPO de cada promotor/procurador será entregue por escrito para os réus e a mesa-diretora. Em Nuremberg, as atividades da acusação foram conduzidas por quatro promotores-chefes e quatro suplentes, além de um universo de assessores e especialistas que cuidavam da preparação dos documentos e provas. Como o volume de material a ser pesquisado e temas a serem debatidos era muito grande, os promotores dividiram as tarefas entre si. Por exemplo, os americanos ficaram mais focados nas acusações de conspiração, enquanto os britânicos nos 23 crimes contra a paz, os soviéticos nos crimes de guerra na Europa Oriental e os franceses nos crimes de guerra da Europa Ocidental. Em síntese, os quatro promotores-chefes representadores neste comitê foram os seguintes: Robert H. Jackson (Estados Unidos) Sir Hartley Shawcross (Reino Unido) François de Menthon (França) Roman Andreyevich Rudenko (URSS) Recomendações aos procuradores: PROVAS IRREFUTÁVEIS. Um ponto chave dos processos ocorreu quando os procuradores apresentaram provas documentais mais explícitas e emotivas, como as fotos e as filmagens feitas por fotógrafos aliados. (Os senhores delegados podem considerar isto). DOCUMENTOS ESCRITOS OFICIAIS. Um dos pontos-chave que levou a derrota de Göering nos processos foi a apresentação de documento oficiais assinados por ele relacionando-o diretamente com a solução final, a extensão do estado de guerra e outras atrocidades. (É interessante a apresentação de documentos escritos e assinados). Os réus não possuíram as mesmas responsabilidades, e muito menos o sistema nazista como um todo. É preciso considerar que, na medida em que o III Reich de Hitler expandiu-se pela Europa e dominou uma gama maior de Estados e etnias, sua responsabilidade sobre os crimes cometidos ampliou-se substancialmente. ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS. Além das provas contra os líderes nazistas, a promotoria apresentou também provas que responsabilizavam 06 organizações criminosas nazistas: as SA, as SS, a GESTAPO, a SD (Serviço de Segurança), a Organização dos Líderes Políticos do NSDAP, o Estado-Maior e o Alto Comando das Forças Armadas. Além destas, o governo de Hitler propriamente dito. A promotoria poderá apresentar testemunhas-históricas. Contudo, devem seguir algumas regras: primeiramente, os nomes e uma pequena síntese das duas primeiras testemunhas interrogadas no sábado (05/03) serão inevitavelmente apresentados na sexta, durante nossa primeira sessão. Depois as demais testemunhas ficaram livres de apresentação prévia na sessão anterior. Por fim, os estudantes-promotores não podem esquecer que se trata de um comitê histórico. Deste modo, as testemunhas precisam ser personagens reais. 24 4. Considerações Finais. Os desafios de um Tribunal Histórico. Reproduzir em pequena escala e tantos anos depois um acontecimento tão marcante como o Julgamento de Nuremberg não é uma tarefa fácil. Ainda mais para aqueles que se dispõe a interpretar seus personagens. Sendo assim, enquanto organizadores desta VII edição da Simulação de Relações Internacionais do Colégio Nacional, achamos por bem encerrar este Guia de Estudos com algumas observações sobre estes desafios que os senhores delegados(as) deverão enfrentar com muita destreza. O primeiro deles diz respeito aos personagens históricos. Homens como os nazistas Herman Göering, Rudolf Hess, Julius Streicher, acusamos de crimes gravíssimos, ou mesmo o procurador-geral americano Robert H. Jackson e o presidente da corte, o lorde britânico Geoffrey Lawrence, conhecido pela sua ponderação e seu senso de justiça. Cada um destes personagens possuiu características próprias, as quais precisam ser respeitadas sem, contudo, quebrar qualquer possibilidade de improvisação. O interessante de reviver um episódio histórico está exatamente nas possibilidades abertas em se reescrever a história, ou ainda, assumir interpretações que não sejam simples cópias dos papéis reais antes exercidos. Por outro lado, esta “liberdade” não deve se transformar em completa ruptura com a pesquisa histórica e os acontecimentos. Será necessário, então, aos estudantes-participantes, encontrarem a melhor forma de equilibrar estas duas posturas. Não se esqueçam: os senhores estão em um julgamento histórico, e precisam, antes de tudo, respeitá-lo para só depois poder acrescentar seus olhares individuais. Não podemos correr o risco de transformar este julgamento num mero espetáculo, distorcendo a história a ponto de ridicularizá-la. Afinal, durante nossas sessões simuladas estaremos recuperando momentos demasiadamente trágicos, os maiores crimes contra a humanidade já praticados, recentes o suficiente para ainda repousar na memória de milhares de pessoas pelo mundo afora. Caros delagados(as), aproveitem o Julgamento! Revivamos por alguns dias a história para que seus acontecimentos não caiam no esquecimento. Boa simulação a todos. Délcio Garcia Gomes. Professor de História do Colégio Nacional e Conselheiro da VII SIMUNA. 2014. 25 5. Regras Específicas para o Julgamento de Nuremberg O Tribunal Internacional de Nuremberg tem por finalidade o julgamento dos integrantes do Partido Nacional Socialista Alemão que cometeram atrocidades durante o regime Nazista. Será um comitê completamente distinto dos demais, por isso aqui valerá: Lista de Discursos, sendo que a mesa determinará uma ordem que deverá ser seguida na primeira sessão, para que os promotores, réus e advogados se apresentem. Debate Moderado Debate Não-Moderado Aqui não haverá emenda, proposta de emenda, resolução, ou proposta de resolução, pois a sentença final caberá exclusivamente aos juízes. O Quórum para questões procedimentais continuará o mesmo. Documentos de trabalho serão válidos e aceitos desde que com o aval da mesa diretora. MESA DIRETORA 1. A mesa diretora será composta pelos seguintes juízes: Sir Geoffrey Lawrence (Reino Unido), que presidirá a mesa; Francis Biddle (EUA); Henri Donnedieu de Vabres (França) e Major-General Iona Nikitchenko (URSS). 2. A cada juiz caberá a apresentação de cada membro componente do tribunal; conceder a palavra aos promotores, advogados e réus; organizar o andamento do julgamento; declarar a presença ou ausência dos mesmos; organizar a apresentação das provas documentais; organizar a apresentação e depoimento das testemunhas; mediar a exposição dos debates; e pronunciar a sentença final, de caráter irrevogável e irrecorrível. 3. Ao juiz Sir Geoffrey Lawrence, e exclusivamente a ele, caberá a leitura das principais acusações, e posteriormente indagando aos réus se estes se declaram culpados ou inocentes. 4. A mesa diretora caberá também as demais funções elencadas no guia geral de regras. DOS RÉUS 5. Os réus serão figuras históricas referentes ao empresariado, ao corpo das Forças Armadas e a administração nazista, e o banco dos réus será composto por 21 membros. 6. Os réus não poderão produzir provas contra si mesmos. 7. Cada réu terá a palavra quando lhe for concedida pela mesa, e poderá inserir seu nome na lista de discursos quando for cabívelà situação. 8. Cada réu se declarará, impreterivelmente, como culpado ou inocente, arcando este com as consequências das palavras que proferir, podendo ser usado como prova contra o mesmo. 9. Aos réus, no Documento de Posição Oficial, caberá escrever sua biografia, contendo aspectos de relevância sobre sua vida, cargo ocupado no regime nazista, período de atuação no regime, importância política e histórica. 10. Aos réus não será permitido o uso do recurso audiovisual, contudo, poderão encaminhar recursos a seus respectivos advogados, para que então, estes possam apresentar ao restante dos presentes. 11. Aos réus será permitido trazer testemunhas, desde que com autorização da mesa diretora, para que estas possam testemunhar a seu favor. A apresentação das testemunhas também será mediada pelos respectivos advogados. 26 12. Aos réus será resguardado o direito à ampla defesa, isto é, poderá ser feito tudo que estiver ao seu alcance, juntamente aos seus representantes, dentro dos limites da licitude, e de forma que seja amparado pelos princípios e leis que regem o Direito Internacional. 13. Não será válida a apresentação de provas ilícitas, como aquelas obtidas, por exemplo, mediante lesão, interceptação, coação, etc. Serão admitidas provas ilícitas, desde que seja a única prova em sua disposição para comprovar sua inocência. 14. Não serão admitidas provas sem que haja a defesa dos réus. 15. Nenhum réu será privado dos seus bens, liberdade ou vida senão através de um julgamento, e sendo a sentença proferida desfavorável a ele, isto é, caso comprove a sua culpa. DA PROMOTORIA 16. A promotoria será composta por 04 membros, são eles: Robert H. Jackson (Estados Unidos); Sir Hartley Shawcross (Reino Unido); François de Menthon (França) e Roman Andreyevich Rudenko (URSS). 17. Aos promotores caberá a entregar, à mesa e ao conhecimento geral, o detalhamento inicial dos crimes cometidos pelos réus, constando então, estas informações no seu Documento de Posição Oficial, que deverá conter ainda informações relevantes sobre sua vida política e jurídica. 18. Aos promotores caberá expor a acusação geral. Não haverá acusação válida sem que esta seja acompanhada de provas lícitas. 19. Aos promotores caberá a apresentação de provas documentais, podendo ser utilizado recursos audiovisuais, como por exemplo, vídeos, imagens, documentos oficiais nazistas, mapas, etc. Entretanto não serão admitidas provas sem que haja a defesa geral dos réus. 20. A promotoria poderá trazer testemunhas, desde que com autorização da mesa, para que esta possa testemunhar contra os réus. 21. Aos promotores caberá o interrogatório dos réus, mediado pelos juízes, para que estes recolham depoimentos dos mesmos e tirem suas dúvidas. 22. Não se punirá a conduta dos réus sem que haja culpabilidade, que deverá ser comprovada pelos promotores. Excluindo da culpabilidade, os inimputáveis, a ausência de possibilidade de conduta diversa, e a potencial inconsciência da ilicitude. DA DEFENSORIA 23. A defensoria será composta por 07 advogados, sendo que cada um deles representará um grupo de 03 réus cada. São eles: Otto Stahmer, que representará os réus: Hermann Göering, Franz von Papen e Julius Streicher; Fritz Sauter, que representará os réus: Joachim von Ribbentrop, Walther Funk e Baldur von Schirach; Rudolf Dix, que representará os réus: Hjalmar Schacht, Albert Speer e Wilhelm Frick; Otto Kranzbuhler, que representará os réus: Karl Dönitz, Ernst Kaltenbrunner e Alfred Rosemberg; Franz Exner, que representará os réus: Alfred Jodl, Hans Frank e Konstantin von Neurath; Robert Servatius, que representará os réus: Fritz Sauckel, Arthur Seyss-Inquart, Wilhelm Keitel; Dr. Gunther von Rohrscheidt, que representará os réus: Rudolf Hess, Erich Raeder e Hans Fritzsche. 27 24. Aos advogados caberá entregar, à mesa e ao conhecimento geral, o detalhamento inicial da defesa geral que será apresentada, constando então, estas informações no seu Documento de Posição Oficial, ou seja, aqui cada advogado apresentará um documento contendo informações relevantes sobre sua vida política e jurídica, e sobre a defesa dos réus que representarão, podendo acrescer de informações que julgarem essenciais sobre os seus réus. 25. Aos advogados caberá a defesa de seus respectivos réus, cabendo o recebimento de provas e recursos audiovisuais apresentadas por estes para utilização ou não em seus argumentos, ou ainda podendo cada advogado trazer seus próprios recursos. 26. Os advogados poderão trazer testemunhas, desde que com autorização da mesa, para que possam testemunhar a favor do réu. 27. Aos advogados será permitido o interrogatório dos réus, para que estes produzam provas a seu favor, com o depoimento dos mesmos. 28. Aos advogados caberá indicar e não aceitar que sejam admitidas provas trazidas pelos promotores sem que antes tenha havido a defesa de seus réus, isto é, as provas serão apresentadas posteriormente à defesa geral. 6. Referências: 6.1 SITES E ENDEREÇOS ELETRÔNICOS: http://jus.com.br/artigos/25599/o-tribunal-militar-internacional-para-a-alemanha-tribunal-de-nuremberg/5 (Estatuto do Tribunal Militar Internacional para a Alemanha. Anexo B) http://www.ushmm.org/wlc/ptbr/article.php?ModuleId=10007983 (Página da Enciclopédia do Holocausto. Artigo sobre Nuremberg). http://jus.com.br/artigos/25599/o-tribunal-militar-internacional-para-a-alemanha-tribunal-de-nuremberg (Artigo de Marcos Rafael Zocoler. O Tribunal Militar Internacional para a Alemanha: Tribunal de Nuremberg) http://www.vho.org/aaargh/fran/livres6/DASREGRAS.pdf (Artigo de João das Regras. Um novo direito Internacional: Nuremberg. Publicado em 1947 no semanário português A Nação). http://nuremberg.law.harvard.edu/php/docs_swi.php?DI=1&text=overview Projeto Nuremberg (Harvard) http://www.oabsp.org.br/institucional/grandes-causas/o-tribunal-de-nuremberg (Artigo de Pedro Paulo Filho. Os Advogados de Defesa Alemães.) . http://www.cartacapital.com.br/internacional/estudos-provam-existencia-de-sete-vezes-mais-campos-nazistas/ (Artigo da Carta Capital. Estudos provam existência de sete vezes mais campos nazistas. Deutsche Welle. 2013). 6.2 LIVROS E PUBLICAÇÕES IMPRESSAS. ___ROLAND, Paul. Os Julgamentos de Nuremberg: os nazistas e seus crimes contra a humanidade. SP: M.Books do Brasil Editora. 2013. ___Segunda Guerra Mundial: um balanço histórico. (org.). Osvaldo Coggiola. SP: Xamã, 1995. 6.3 FILMES: Julgamento de Nuremberg . (Drama. Warner, 2000). Julgamento em Nuremberg. (Drama Histórico, dirigido por Stanley Kramer, 1961). 28 7. Anexos: 01. A VIDA NOS GUETOS (Texto do Memorial do Holocausto) A vida nos guetos era insuportável. Havia superpopulação, e várias famílias eram obrigadas a dividir uma mesma residência. Os sistemas de esgoto eram destruídos pelos nazistas, e os dejetos humanos tinham que ser jogados nas ruas juntamente com o lixo. Não havia comida, as pessoas viviam famintas. Para manter estas condições subumanas, estender o sofrimento dos judeus ao máximo, os alemães permitiam que os residentes comprassem uma pequena quantidade de pão, batatas e gordura, praticamente insuficiente para sobrevivência, e nada mais. Alguns moradores que possuíam dinheiro guardado ou pertences valiosos conseguiam trocá-los por qualquer comida que entrasse clandestinamente nos guetos. Outros tinham que mendigar ou roubar para sobreviver. Durante os longos e severos invernos europeus, não se conseguia combustíveis para aquecimento das casas, e a maioria das pessoas não possuía roupas adequadas ao frio. Elas ficavam cada vez mais fracas por causa da fome, mau tratos a que eram submetidas, e a exposição ao frio fazia com que ficassem extremamente suscetíveisa diversas doenças. Dezenas de milhares de seres humanos judeus morreram de fome, frio, e doenças nos guetos. Muitos indivíduos desesperados se suicidavam. Todos os dias havia um número crescente de crianças órfãs, e elas tinham que cuidar de suas irmãs e irmãos mais novos. Os órfãos normalmente viviam nas ruas mendigando restos de pão de pessoas que tinham muito pouco ou nada para compartilhar. Muitas crianças morreram congeladas e com fome durante o inverno. Para sobreviverem, as crianças tinham que se tornar habilidosas e úteis. Às vezes, crianças pequenas do gueto de Varsóvia ajudavam a contrabandear comida para suas famílias e amigos arrastando-se por pequenos buracos nos muros dos guetos. Isto era muito arriscado, já que os contrabandistas capturados eram severamente punidos, mesmo que fossem crianças. Em muitos guetos, vários jovens tentavam continuar seus estudos, participando de aulas organizadas por adultos. Como as aulas eram ministradas em segredo, os alunos aprendiam a esconder os livros que conseguiam embaixo das roupas para não serem capturados. Embora sofrimento e morte fizessem parte do cotidiano das crianças, elas não deixaram de brincar. Algumas tinham bonecas ou caminhõezinhos que levaram consigo quando foram capturadas e enviadas como prisioneiras nos guetos. As crianças também construíam brinquedos usando pedaços de madeira e tecidos que encontravam. No gueto de Lodz, na Polônia, as crianças transformavam a parte de cima de caixas de cigarros em cartas de jogos infantis. Disponível em: http://www.ushmm.org/outreach/ptbr/article.php?ModuleId=10007708. 02. MAPAS: Mapa do Extermínio nazista durante a Segunda Guerra Mundial, mostrando todos os campos de extermínio, a maioria dos campos de concentração, trabalho, prisões, guetos, principais rotas de deportação e os principais massacres. 29 Disponível em: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:WW2_Holocaust_Europe_map-fr.svg 03. DOCUMENTOS OFICIAIS: Acordo de Londres de 08 de agosto de 1945 ACORDO entre o governo dos ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA, o governo provisório da REPÚBLICA FRANCESA, o governo do REINO UNIDO DA GRÃ-BRETANHA E DA IRLANDA DO NORTE e o governo da UNIÃO DAS REPÚBLICAS SOCIALISTAS SOVIÉTICAS para o Julgamento e Punição dos CRIMINOSOS DE GUERRA PRINCIPAIS do EIXO EUROPEU CONSIDERANDO QUE as Nações Unidas fizeram, de tempos em tempos, declarações de suas intenções de que Criminosos de Guerra sejam levados à justiça; CONSIDERANDO QUE a Declaração de Moscou de 30 de outubro de 1943 sobre as atrocidades alemãs na Europa Ocupada declarou que os oficiais alemães e os homens e membros do Partido Nazista responsáveis por, ou por terem consentido em, atrocidades e crimes serão enviados de volta aos países onde seus abomináveis feitos foram realizados a fim de que sejam julgados e punidos de acordo com as leis desses países libertados e de seus governos livres que serão criados neles; CONSIDERANDO QUE a Declaração foi emitida sem prejuízo ao caso dos criminosos principais cujas ofensas não possuem localização geográfica em particular e que serão punidos pela decisão conjunta dos governos dos Aliados; DECIDEM o governo dos Estados Unidos da América, o governo provisório da República Francesa, o governo do Reino Unido da Grã-Bretanha e da Irlanda do Norte e o governo da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (adiante denominados “os Signatários”), agindo nos interesses de todas as Nações Unidas, e por seus representantes autorizados, concluir este Acordo. 30 Artigo 1º. Deverá ser estabelecido, após consulta ao Conselho de Controle para a Alemanha, um Tribunal Militar Internacional para o julgamento de criminosos de guerra cujas ofensas não possuem localidade geográfica em particular, sejam eles acusados individualmente ou por sua capacidade como membros de organizações ou grupos ou em ambos. Artigo 2º. A constituição, jurisdição e funções do Tribunal Militar Internacional serão aquelas estabelecidas no Estatuto anexado a este Acordo, e que deste Acordo fará parte constante. Artigo 3º. Cada um dos Signatários deverá tomar as medidas necessárias para tornarem disponíveis às investigações das acusações, e para julgamento, os criminosos de guerra principais sob sua custódia, os quais deverão ser julgados pelo Tribunal Militar Internacional. Os Signatários deverão, ainda, usar de seus melhores esforços para tornarem disponíveis às investigações das acusações a que respondem, e ao julgamento perante o Tribunal Militar Internacional, os criminosos de guerra principais que não se encontram nos territórios de qualquer um dos Signatários. Art. 4º. Nada neste Acordo prejudicará as provisões estabelecidas pela Declaração de Moscou em relação ao retorno de criminosos de guerra aos países onde estes cometerão seus crimes. Art. 5º. Qualquer governo das Nações Unidas poderá aderir a este Acordo por meio de notificação, através do canal diplomático, ao governo do Reino Unido, o qual deverá informar os demais Signatários e os governo aderentes de cada pedido de adesão. Art. 6º. Nada neste Acordo prejudicará a jurisdição ou os poderes de qualquer corte nacional ou de ocupação estabelecida ou a ser estabelecida em qualquer território aliado ou na Alemanha para o julgamento dos criminosos de guerra. Art. 7º. Este Acordo passará a vigorar no dia de sua assinatura, e permanecerá em vigor pelo período de um ano, a ser prorrogado indefinidamente, sujeitando-se ao direito de qualquer Signatário de notificar, através do canal diplomático e com um mês de antecedência, sua intenção de extingui-lo. Tal extinção não poderá prejudicar nenhum procedimento já realizado ou nenhuma descoberta já realizada em obediência a este Acordo. COMO TESTEMUNHAS os abaixo assinados assinaram o presente Acordo. REDIGIDO em quatro vias em Londres, em 08 de agosto de 1945, sendo as vias em inglês, francês e russo, e cada uma com o mesmo teor de autenticidade. Pelo governo dos Estados Unidos da América, Robert H. Jackson Pelo governo provisório da República Francesa Robert Falco Pelo governo do Reino Unido da Grã-Bretanha e da Irlanda do Norte Jowitt C. Pelo governo da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas I. Nikitchenko A. Trainin Material disponível em: http://jus.com.br/artigos/25599/o-tribunal-militar-internacional-para-a-alemanha-tribunal-de- nuremberg/5 Consulta: 13/03/2014.
Compartilhar