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sociologia critica uni 3

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UNIDADE 3
O LEGADO DA SOCIOLOGIA CRÍTICA
ObjETIvOS DE ApRENDIzAGEm
 Com esta unidade, caro(a) acadêmico(a), você 
conhecerá:
•	 as repercussões que tiveram as formulações de Horkheimer e 
Adorno acerca dos meios de comunicação de massa no campo 
da Sociologia;
•	 as contribuições de Edgar Morin e Pierre Bourdieu à questão da 
cultura e comunicação de massa;
•	 a visão de Zygmunt Bauman e sua sociologia crítica a respeito da 
cultura;
•	 um exemplo da tradição do pensamento crítico no Brasil: Florestan 
Fernandes e a reflexão sobre a mudança social;
•	 os fundamentos filosóficos da sociologia crítica;
•	 as contribuições de Adorno à educação.
TÓPICO 1 – A SOCIOLOGIA CRÍTICA E A 
CONTEMPORANEIDADE
TÓPICO 2 – REPERCUSSÕES LATINO-AMERICANAS DA 
SOCIOLOGIA CRÍTICA
TÓPICO 3 – PENSANDO A CIDADANIA
pLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No final de cada 
um deles você encontrará atividades que o(a) ajudarão a ampliar os 
conhecimentos adquiridos.
A SOCIOLOGIA CRÍTICA E A 
CONTEMPORANEIDADE
1 INTRODUÇÃO
TÓPICO 1
O pensamento crítico em Sociologia pode ser traçado a partir das reflexões de Marx 
acerca do capitalismo, especialmente no que tange à conexão entre a superestrutura e a 
infraestrutura neste sistema e quanto à dinâmica das relações e mudanças sociais no mesmo. 
Entretanto não se limita este conhecimento às contribuições deste autor. 
Como vimos, a sociologia crítica consiste em um campo de investigação e teorização 
sociológica que engloba as contribuições de vários pesquisadores do campo social em torno 
das questões mencionadas, e outras questões, e que ela, enquanto disciplina, tem visto também 
mudanças paradigmáticas importantes.
A teoria crítica e os trabalhos feitos sob orientação de filósofos, sociólogos, psicólogos e 
demais profissionais, reunidos em torno do projeto do Instituto de Pesquisa Social, representam 
um marco dentro do pensamento crítico em Sociologia. 
Esta teoria caracteriza-se tanto por representar uma continuidade em relação à tradição 
que a informou (como vimos na primeira unidade deste caderno), como pela fundação de 
novos conceitos e enfoques para a análise da sociedade em seus componentes ideológicos 
(como vimos na Unidade 2 deste caderno).
Você, caro(a) acadêmico(a), deve ter percebido ainda que no próprio projeto da teoria 
crítica estava aberta a possibilidade de superação do método dialético e da teoria, o que de 
fato aconteceu a partir dos vários rumos que tomou nas diferentes reflexões dos diversos 
pesquisadores que a empregaram, com ela dialogaram ou ainda fizeram a sua crítica.
Chegou então o momento de vermos alguns dos reparos feitos à teoria crítica e dos 
diálogos que se estabeleceram em torno de algumas questões pontuais, lançarmos um olhar 
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sobre contribuições contemporâneas europeias e latino-americanas do passado recente, dentro 
do campo do pensamento e da sociologia crítica, e de analisarmos as propostas da teoria crítica 
para a educação na construção de um futuro melhor.
Neste primeiro tópico aportaremos o pensamento de autores como Edgar Morin, Pierre 
Bourdieu e Zygmunt Bauman em torno de temas tratados pela teoria crítica.
Então vamos à leitura, prezado(a) acadêmico(a)!
2 OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA E A CRÍTICA
Recentemente Maria da Graça Jacintho Setton (SETTON, 2001, p. 26-37), professora 
doutora da Faculdade de Educação da USP, fez uma série de reflexões acerca das contribuições 
de Horkheimer, Adorno, Morin e Bourdieu em torno de questões relativas à dimensão ideológica 
do sistema capitalista, tal como expressa pelos meios de comunicação de massa e pela cultura 
de massa.
Aqui seguiremos o argumento e a análise desta autora, tentando tanto demonstrar as 
continuidades quanto as quebras, em relação à teoria crítica, que representam o pensamento 
de Edgar Morin e Pierre Bourdieu (dois dos mais importantes sociólogos da atualidade) na 
análise deste tema de fundamental importância para a compreensão da contemporaneidade, 
que é a disseminação da ideologia dominante pela indústria cultural.
Para entendermos este campo de investigação, inicialmente a autora chama a atenção 
para o fato de que a produção em escala industrial de bens culturais remonta à década de 30 e 
que seu vertiginoso crescimento liga-se de maneira indelével a componentes socioestruturais. 
Seriam estes a necessidade de o capital se multiplicar sem o risco do mercado financeiro e a 
constituição de uma cada vez mais numerosa (no período) classe média assalariada e urbana, 
que se configura como um mercado consumidor. Juntas, estas duas condições levaram ao que 
se convencionou chamar de “terceira revolução industrial”.
Com a enorme expansão deste setor e sua importância cada vez maior na economia e 
na vida social, as teorizações em torno do fenômeno midiático aumentam também de volume 
e diversificam-se.
Vemos claramente a dominância de certo viés analítico em torno da questão até a década 
de 60, que seria a perspectiva de que a produção cultural tinha um caráter manipulador, com 
as investigações centrando-se no lado da produção. A partir das décadas de 70/80 muda-se a 
atenção das reflexões sobre as influências da mídia, voltando-se estas para o consumidor.
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Trabalhos mais recentes vêm procurando demonstrar a interação que se estabelece 
entre consumidor e produtor cultural, onde ao primeiro devolve-se, na análise teórica ao menos, 
a possibilidade de resistir aos diferentes estímulos da indústria cultural.
FIGURA 98 – EDGAR MORIN
FONTE: Disponível em: <http://4.bp.blogspot.com/-V30zQZrz6cM/UFVglP1tAbI/
AAAAAAAAHy8/pExTowRikas/s1600/EdgarMorin.jpg>. Acesso em: 24 jul. 
2013.
Um dos teóricos que vem levantando esta discussão é Edgar Morin.
Edgar Morin nasceu em 1921, em Paris, onde atualmente vive. Obrigado a refugiar-
se em Nanterre durante a ocupação da França pela Alemanha na Segunda Guerra Mundial, 
aderiu à resistência e adoptou o apelido Morin. Simpatizante comunista, foi afastado de 
todas as actividade ligadas ao partido pela sua oposição ao estalinismo. Nunca deixou, como 
independente, de pensar e agir cívica e politicamente ao longo da sua vida.
Formado em sociologia, cedo compreendeu a necessidade da integração das diversas 
áreas de saber. Os seus estudos inter e transdisciplinares foram inicialmente olhados com 
desconfiança por grande parte da comunidade científica, tendo chegado a receber, em 
1965, uma “repreensão científica” da Direcção Geral de Pesquisa Científica e Técnica, onde 
desenvolvia trabalho de investigação.
O sucesso do seu livro de Le Paradigme Perdu: la Nature Humaine (1973) e a 
profundidade de La Méthode – obra em que trabalhou desde meados da década de 1970 e da 
qual publicou seis volumes entre 1978 e 2004 – levaram a que sua crítica do paradigma científico 
da modernidade fosse levada cada vez mais a sério e que viesse a ser progressivamente 
reconhecido como o pioneiro e o principal teórico do paradigma emergente da ciência na 
viragem do século XX para o XXI: o pensamento complexo.
Após décadas de trabalho desalinhado e, muitas vezes, solitário, Morin é hoje considerado 
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um dos mais importantes pensadores vivos. É diretor emérito do Centre Nationale de Recherche 
Scientifique, Presidente da Associação para o Pensamento Complexo, Presidente da Agência 
Europeia para a Cultura, membro fundador da Academia da Latinidade, codiretor do Centro de 
Estudos Transdisciplinares da École des Hautes Etudes en Sciences Sociales.”
FONTE: Disponível em: <http://30anos.ipiaget.org/complexidade-valores-educaocao-futuro-edgar-
morin/programa/conferencistas/edgar-morin/>. Acesso em: 24 jul. 2013.
Edgar Morin vem discutindo o ponto de vista dos teóricos do Institutode Pesquisa Social, 
em especial Horkheimer e Adorno, chamando a atenção para o aspecto dialético da relação 
entre a geração de sentido da existência, nos níveis individuais e coletivos.
Para uma visão mais atual, com a relativização de certos conceitos clássicos deste 
campo de reflexão, com a perspectiva guiada pela ótica do consumo dos grupos sociais, veremos 
também as propostas e reelaborações teóricas de Bourdieu sobre a indústria cultural.
Vejamos um pouco da biografia de Pierre Bourdieu:
Pierre Bourdieu nasceu em 1930 no vilarejo de Denguin, no sudoeste da França. Fez 
os estudos básicos num internato em Pau, experiência que deixou nele profundas marcas 
negativas. Em 1951 ingressou na Faculdade de Letras, em Paris, e na Escola Normal Superior. 
Três anos depois, graduou-se em filosofia. Prestou serviço militar na Argélia (então colônia 
francesa), onde retomou a carreira acadêmica e escreveu o primeiro livro, sobre a sociedade 
cabila. De volta à França, assumiu a função de assistente do filósofo Raymond Aron (1905-
1983) na Faculdade de Letras de Paris e, simultaneamente, filiou-se ao Centro Europeu de 
Sociologia, do qual veio a ser secretário-geral. Bourdieu publicou mais de 300 títulos, entre 
livros e artigos. Fundou as publicações Actes de la Recherche en Sciences Sociales e Liber. 
Em 1982, propôs a criação de uma "sociologia da sociologia" em sua aula inaugural no Collège 
de France, levando esse objetivo em frente nos anos seguintes. Quando morreu de câncer, em 
2002, foi tema de longos perfis na imprensa europeia. Um ano antes, um documentário sobre 
ele, Sociologia é um Esporte de Combate, havia sido um sucesso inesperado nos cinemas da 
França. Entre seus livros mais conhecidos estão A Distinção (1979), que trata dos julgamentos 
estéticos como distinção de classe, Sobre a Televisão (1996) e Contrafogos (1998), a respeito 
do discurso do chamado neoliberalismo.
FONTE: Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/historia/fundamentos/pierre-bourdieu-
428147.shtml?page=3>. Acesso em: 24 jul. 2013.
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FIGURA 99 – PIERRE BOURDIEU
FONTE: Disponível em: <http://ensaiosdegenero.files.wordpress.com/2012/05/o-
conceito-de-gc3aanero-por-pierre-bourdieu-1.jpg?w=300&h=207>. 
Acesso em: 24 jul. 2013.
Da teoria crítica, nas formulações e análises de Horkheimer e Adorno, nos chega uma 
perspectiva da mídia e da indústria cultural marcada pela característica de extrema racionalidade 
técnica da sociedade moderna. 
Esta racionalização, que se impõe numa sociedade que se apresenta dominada pela 
tecnologia, extrapola o espaço da vida econômica, fazendo com que a lógica do mercado 
penetre a subjetividade e o espírito humano.
Assim a teoria crítica aponta para o aspecto ideológico e manipulador da tecnologia e 
das mensagens vinculadas por esta, para a constituição da indústria cultural enquanto sistema 
integrado e coerente de geração de bens para o espírito, para a ausência de possibilidade de 
intervenção no processo criativo que se coloca tanto aos consumidores quanto aos produtores 
culturais; e para a transformação que faz com que os bens culturais se revistam do caráter de 
mercadoria, e, portanto, sejam homogeneizadores e totalizantes. 
Para Horkheimer e Adorno a indústria cultural está longe de representar a democratização 
e disseminação da cultura a todos ou de estar a serviço da comunidade, como a mesma 
apregoa.
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FIGURA 100 – A INDÚSTRIA CULTURAL
FONTE: Disponível em: <http://3.bp.blogspot.com/_I9Foa_rH0_E/
TB0og7c8vNI/AAAAAAAAAE0/p-iFG7ZrrH4/s320/
ind%C3%BAstria+cultural.jpg>. Acesso em: 24 jul. 2013.
Ao contrário, esta se apresenta submetida às leis de mercado e às técnicas de caráter 
industrial que emprega. Tendo que atender as demandas das inovações tecnológicas e as dos 
mercados mundiais, a indústria cultural procura vender em escalas de massas populacionais 
nunca antes vistas.
Aqueles que produzem os bens culturais desta forma perdem autonomia de criação, 
enquanto que os consumidores não têm possibilidades de conferir sentido próprio ao consumo, 
reféns que são da imposição uniformizante e de caráter totalitário das mercadorias.
Na visão da teoria crítica os bens culturais sob o capitalismo, em virtude de sua produção 
em série, são esvaziados do caráter rebelde da arte e de seu poder de reflexão sobre o real, 
passando a homogeneizar o pensamento e a impor os controles sociais, alienando as mentes 
dos indivíduos através da ideologia dominante.
A partir desta análise podemos destacar a perspectiva de Edgar Morin em relação a 
esta questão, que chama a atenção para o caráter essencialmente moderno (no sentido de 
inserido na modernidade) da cultura de massa e da indústria de produção de bens culturais, 
dando-se estas já no contexto de uma sociedade que é ela mesma multicultural.
Para Morin, a cultura de massa teria como fundamentos e se informaria nos sistemas 
simbólicos anteriormente existentes e ainda, segundo ele, assumiria um papel social integrador, 
dentro do quadro das sociedades contemporâneas.
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FIGURA 101 – OS PERIGOS DA CULTURA DE MASSA
FONTE: Disponível em: <http://1.bp.blogspot.com/-sxW1xREgs2k/
TlkromiL-HI/AAAAAAAAADg/YExsXgVJcAw/s320/
Manipulacao02.jpg>. Acesso em: 24 jul. 2013.
A cultura de massa desta forma reordenaria e reutilizaria as referências e valores 
religiosos, locais e étnicos, se apropriando destes, mas não os impondo, o que implica um 
consumo sempre diferenciado. 
Morin está assim em oposição à ideia da Escola de Frankfurt de que a produção e o 
consumo em massa de bens culturais uniformiza as consciências.
Para Morin, embora a produção dos bens culturais se dê em escala de produção em 
série e de maneira padronizada, a experiência do consumidor destes é sempre única. 
O consumo sempre impõe a diferença, em virtude de seu caráter particular, que, portanto, 
confere uma individualidade à atribuição de sentido à experiência artística. 
Desta forma, Morin tem a cultura de massa em conta de mais um espaço da experiência 
da existência do indivíduo na sociedade capitalista, espaço este que serve à vazão das pulsões 
decorrentes das fantasias e expressão do imaginário particular do sujeito que se singulariza 
no consumo dos bens culturais. 
Dando um exemplo: considere alguém que ouve uma rádio popular e escuta um hit de 
sucesso de um estilo musical cujas músicas fazem referência à luta dos moradores da periferia 
e do preconceito de que são vítimas. Este sujeito recorda-se então da experiência de ter sido 
humilhado em virtude do seu local de moradia e se emociona com o fato.
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Para Morin ainda, a perspectiva de que há somente um caráter impositivo nos bens 
culturais produzidos em escala industrial é ignorar a relação dialética que se estabelece entre 
o imaginário, em suas dimensões sociais e individuais, e os produtos veiculados pela mídia. 
Segundo Morin, a produção em série dos bens culturais não impediria que a apreciação 
de seu aspecto estético, sua utilização e sua fruição, adquiram um caráter particularizado.
Setton (2001) chama a atenção para o fato de que, tanto o ponto de vista de Morin quanto 
as contribuições da Escola de Frankfurt, apontam para o caráter eminentemente complexo da 
indústria cultural, bem como para centralidade da mesma na experiência social cotidiana.
Vejamos agora as contribuições de Pierre Bourdieu ao debate sobre a mídia e seu 
papel na sociedade moderna.
Embora Bourdieu tenha uma linha de pensamento não muito distante do ponto de vista 
da Escola de Frankfurt, ele refina um pouco mais os conceitos analíticos utilizados neste campo, 
abrindo novas possibilidades explicativas para o fenômeno midiático, a partir da possibilidade 
de o consumidor reinterpretar, reelaborare reconstruir os significados transmitidos.
Em obra recente em que analisa a televisão e o jornalismo televisivo, Bourdieu alerta 
sobre os perigos que representam à democracia e à prática política este último. Bourdieu faz 
uma denúncia em relação a pouca reflexão teórica em torno do tema do jornalismo televisivo, 
enquanto veículo usado indiscriminadamente para a dominação social. 
FIGURA 102 – A TELEVISÃO MANIPULANDO AS CONSCIÊNCIAS
FONTE: Disponível em: <http://4.bp.blogspot.com/-Y7UxHoySNEw/TaDGK48488I/
AAAAAAAAAJo/26TDdOLJGCM/s320/televisao.jpg>. Acesso em: 24 jul. 2013.
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Um exemplo desta dominação seria a veiculação, por parte de um noticiário de renome 
nacional em nosso país, de uma pesquisa eleitoral fraudulenta às vésperas da eleição que 
acabou elegendo o Sr. Leonel Brizola ao governo do estado do Rio de Janeiro, com o intuito 
flagrante de prejudicá-lo.
Entretanto, em contraste com a posição dos pensadores da Escola de Frankfurt, 
Bourdieu não se detém na crítica ao aspecto técnico da produção dos conteúdos televisivos, 
mas antes chama a atenção para o caráter ideológico e manipulador a que estão submetidos 
tanto produtores, quanto consumidores.
Para Bourdieu, o jornalismo se insere no âmbito da produção cultural como um todo 
e apresenta, enquanto espaço de atuação social, características e dinâmicas próprias, bem 
como uma relativa autonomia. 
Esta autonomia, entretanto, é fortemente relativizada pela maior suscetibilidade do 
jornalismo à dominação externa a este, notadamente do poder econômico, em função da 
dependência do campo jornalístico ao mercado, através da aferição dos níveis de audiência 
que determinam a produção dos conteúdos. 
Bourdieu concorda com a perspectiva dos teóricos críticos da ausência do sujeito na 
indústria cultural, dando como exemplo a veiculação de informações pela mídia de imprensa, 
onde estas são esvaziadas dos conteúdos políticos e dirigidas a todos uniformemente, 
niveladas por baixo para parecerem palatáveis a todos. Segundo Bourdieu, os telejornais 
assim veiculariam:
[...] fatos que, como se diz, não devem chocar ninguém, que não envolvem 
disputa, que não dividem, que formam consenso, que interessam a todo mundo, 
mas de um modo tal que não tocam em nada importante (BOURDIEU apud 
SETTON, 2001, p. 30).
O jornalismo televisivo para Bourdieu obedece à lógica do mercado, escapando assim 
às possibilidades do processo criativo. 
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FIGURA 103 – PRODUÇÃO DE UM TELEJORNAL
FONTE: Disponível em: <http://extensao.wpmu.unis.edu.br/files/2010/12/
DSC_3959-300x199.jpg>. Acesso em: 24 jul. 2013.
Buscando a maior vendagem possível, a empresa jornalística acaba por proceder à 
espetacularização da vida e, em vez de democratizar as informações colocando as pessoas como 
protagonistas de suas experiências no grande show que é a notícia, está na verdade colocando-
as a serviço dos interesses econômicos e da ganância por lucro das grandes corporações.
Um exemplo possível de ser dado, em nosso país, é o dos reality shows que botam 
pessoas comuns aparentemente convivendo normalmente, mas que estão continuamente 
apresentando e vendendo produtos nas diferentes atividades e quadros do programa e, 
posteriormente, de outros da emissora de TV que o veicula.
FIGURA 104 – A ESPETACULARIZAÇÃO DO COTIDIANO NOS REALITY SHOWS
FONTE: Disponível em: <http://1.bp.blogspot.com/-4BzP5s_E_3g/UGH9vuE4_PI/
AAAAAAAACV8/_JwHzbBodmc/s400/UFC+2.jpg>. Acesso em: 24 jul. 2013.
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Uma vez que Bourdieu, assim como Horkheimer e Adorno consideram que a produção 
dos bens culturais em nossa sociedade se encontra submetida à dinâmica própria do sistema 
capitalista, obedecendo às consequências da concorrência no mercado, é nula para este autor 
a possibilidade, por parte dos produtores e consumidores destes bens, de desenvolverem uma 
consciência crítica em relação aos mesmos.
Bourdieu, assim como Morin, entretanto, relativizam a visão da teoria crítica clássica de 
uma promoção da homogeneização e uniformização em decorrência do consumo de massa, 
chamando atenção para a dimensão da apropriação das mensagens veiculadas pela mídia 
televisiva por parte dos telespectadores. 
Bourdieu e Morin apontam para a ambiguidade e contradição da mídia televisiva 
relativizando a uniformização que esta promoveria contrapondo a ideia de um campo social 
que é ele mesmo diferenciado e hierarquizado, colocando, portanto, em posições desiguais 
produtores e consumidores de bens culturais. 
Para Bourdieu, tanto as ações como as representações do sujeito social explicam-se 
através de um complexo de inclinações pessoais, de caráter ético e estético, que denotam 
sistemas diferentes de preferências na ordem da cultura, derivadas de inserções diversas na 
estrutura socioeconômica. 
A partir deste ponto de vista teórico torna-se inconcebível a ideia de um consumo 
uniforme e homogêneo em todos os grupos sociais. Para Bourdieu as diferenças sociais, em 
especial aquelas que decorrem das diferentes bagagens culturais acumuladas ao longo da 
experiência e trajetórias de vida dos indivíduos que compõem os diversos grupos que formam 
a sociedade, agem como freio à padronização completa dos sujeitos pela indústria cultural.
Semelhantemente, Morin defende a ideia de que os sistemas simbólicos, tendo como 
partida seu caráter integrativo das dimensões lógicas e morais da sociedade, também servem 
à promoção do consenso. 
Desta forma, enquanto ferramentas de conhecimento do real e comunicação, o conjunto 
articulado de símbolos e crenças sociais veiculados pela mídia de massa promoveria uma 
identidade e senso de pertencimento. Isso aconteceria por um compartilhamento de valores, 
nos diferentes grupos sociais e estilos de vida presentes nas sociedades complexas, a partir 
da apreensão individualizada pelo consumo desta simbologia e ideologia efetivada pelos bens 
culturais enquanto mercadorias.
Vimos, portanto, neste item como as análises teóricas elaboradas pela teoria crítica 
clássica, tal como formulada por Horkheimer e Adorno, são apropriadas e reelaboradas por 
pensadores contemporâneos como Bourdieu e Morin.
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Eles deslocam o foco de suas interpretações do fenômeno de comunicação de massa da 
esfera da produção para a do consumo, revelando com isso como a dinâmica e características 
próprias do consumo na sociedade contemporânea permitem a mediação de uma instância 
de caráter individual, que acabaria por minimizar um possível efeito padronizante dos bens 
culturais fornecidos pela indústria cultural e de comunicação de massa.
3 A QUESTÃO DA CULTURA COMO PROBLEMA SOCIOLÓGICO
Um dos autores que se inscrevem no campo da sociologia crítica é Zygmunt Bauman, 
autor de inúmeros livros, inclusive um denominado “Por uma Sociologia Crítica - um Ensaio 
sobre Senso Comum e Emancipação” onde expõe seu ideário sociológico. 
FIGURA 105 – CAPA DA EDIÇÃO BRASILEIRA DA OBRA “POR UMA 
SOCIOLOGIA CRÍTICA”
FONTE: Disponível em: <http://i3.calameoassets.com/130531165329-
d78fe661c72fb1309e1947639799c609/thumb.jpg>. Acesso em: 
24 jul. 2013.
Zygmunt Bauman (Poznań, 19 de novembro de 1925) é um sociólogo polonês que iniciou 
sua carreira na Universidade de Varsóvia, onde teve artigos e livros censurados e em 1968 foi 
afastado da universidade. Logo em seguida emigrou da Polônia, reconstruindo sua carreira 
no Canadá, Estados Unidos e Austrália, até chegar à Grã-Bretanha, onde em 1971 se tornou 
professor titular da universidade de Leeds, cargo que ocupou por vinte anos. Lá conheceu o 
filósofo islandês Ji Caze, que influenciou sua prodigiosa produção intelectual, pela qual recebeu 
os prêmios Amalfi (em 1989, por sua obra Modernidade e Holocausto) e Adorno (em 1998, 
pelo conjunto de sua obra). Atualmenteé professor emérito de sociologia das universidades 
de Leeds e Varsóvia.
FONTE: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Zygmunt_Bauman>. Acesso em: 24 jul. 2013.
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FIGURA 106 – ZYGMUNT BAUMAN
FONTE: Disponível em: <http://g1.globo.com/platb/files/1045/2012/01/Milenio-
Leeds-Zygmund-Bauman-23-9-11-029-0-reduzida-300x225.jpg>. Acesso 
em: 24 jul. 2013.
Bauman foi um dos autores influenciados pela teoria crítica e que com ela dialoga. O 
alvo de suas preocupações e investigações tem sido temas gratos à Escola de Frankfurt, como 
as características da modernidade, a ideologia e a questão da cultura.
Em sua obra “Por uma Sociologia Crítica” (BAUMAN, 1977) fica clara a influência de 
Habermas em seu pensamento. Neste trabalho Bauman discute, a partir das colocações de 
Habermas, o estatuto da razão, tendo como ponto de partida o Iluminismo e as possibilidades 
emancipadoras desta na contemporaneidade. 
Diante da crise de valores da cultura atual, do seu conformismo e de seu caráter 
consumista, Bauman propõe uma reflexão crítica, tendo por base o pensamento sociológico.
Neste trabalho fica patente ainda o peso que as contribuições de Horkheimer, Adorno 
e, notadamente, Marcuse têm no pensamento de Bauman. Bauman se coloca desta forma 
como um crítico mordaz das mazelas da modernidade, não só nas características da sociedade 
contemporânea, mas na própria reflexão da Sociologia.
Quando analisamos a obra de Bauman, destaca-se, a partir da conceituação e 
compreensão deste autor do conceito de “cultura”, o caráter crítico de seu pensamento e sua 
inserção na tradição do pensamento crítico, que se funda na utilização, por parte de Bauman, 
das contribuições da teoria crítica, deste aspecto da vida social moderna.
Segundo Casadei (2009), em seus primeiros trabalhos, Bauman focava sua análise 
na compreensão das classes e dos conflitos sociais. Bauman procurava então pensar como 
poderíamos provocar o diálogo entre os diferentes interesses sociais em conflito na sociedade, 
UNIDADE 3TÓPICO 1154
dentro da perspectiva de levar a humanidade à emancipação. 
Dentro desta visão, Bauman se vale muito da proposta teórica de Habermas a respeito 
das possibilidades e condições do estabelecimento de uma comunicação que não sofresse 
distorções, considerando função do intelectual propiciar estas condições.
A partir da década de 80, Bauman se volta para a questão das ambivalências colocadas 
pela modernidade, colocando-se em sua análise como um continuador do pensamento expresso 
na obra de Horkheimer e Adorno “A dialética do esclarecimento”, que nós vimos na Unidade 
2 deste Caderno de Estudos.
FIGURA 107 – CAPA DA EDIÇÃO BRASILEIRA DA DIALÉTICA DO 
ESCLARECIMENTO
FONTE: Disponível em: <http://www.livrariaresposta.com.br/fotos/
zahar_dialetica_esc.jpg>. Acesso em: 24 jul. 2013.
Bauman se alinha assim entre aqueles que têm uma visão crítica da modernidade, a 
partir dos rumos que esta imprimiu à razão humana, esvaziando da mesma as possibilidades 
de emancipar os seres humanos.
Devemos, pois, lançar nosso olhar para a compreensão de Bauman da modernidade, 
se quisermos entender o pensamento deste autor.
UNIDADE 3 TÓPICO 1 155
FIGURA 108 – A MODERNIDADE “LÍQUIDA”, SEGUNDO BAUMAN
FONTE: Disponível em: <http://regisfrias.com/geral/wp-content/uploads/2012/08/modernidade-liquida.
jpg>. Acesso em: 24 jul. 2013.
O foco da análise de Bauman está em compreender como a modernidade se realiza 
na prática, qual o seu “custo” em termos humanos e as suas ambivalências, isto é, como 
a modernidade está sempre se modificando. Para Bauman, a característica essencial da 
modernidade é sua profunda ambivalência. Ele traça um paralelo entre a modernidade e a 
linguagem demonstrando como, na tentativa de ordenar a realidade, a modernidade acaba 
produzindo suas próprias ambivalências. 
Segundo Bauman (apud CASADEI, 2009, p. 83):
Podemos dizer que a existência é moderna na medida em que é produzida 
e sustentada pelo projeto, pela manipulação, administração, planejamento. A 
existência é moderna na medida em que é administrada por agentes capazes 
e soberanos. Os agentes são soberanos na medida em que reivindicam e 
defendem com sucesso o direito de gerenciar e administrar a existência: o 
direito de definir a ordem e, por conseguinte, pôr de lado o caos como refugo 
que escapa à definição. 
Bauman assim descreve a ação típica da dialética na concepção de Hegel. Desta forma 
o espírito humano se aliena à medida que o mesmo sai de si na produção da cultura (com suas 
dimensões institucionais, políticas, econômicas, artísticas, filosóficas etc.) para realizar aquilo 
que ele é em si mesmo. Este movimento instaura uma contradição entre o espírito humano e 
aquilo que produz, ou seja, a cultura produzida pelo espírito se transforma na base da produção 
de um novo espírito e de uma nova cultura.
Se, para Bauman, a racionalidade moderna se explica e adquire expressão a partir de 
seu esforço em ordenar o mundo, é este fato mesmo que acaba produzindo o caráter ambíguo 
da modernidade. Dentro deste quadro a cultura teria o papel de encarnar estas ambivalências, 
impedindo a consumação do ordenamento e, portanto, concorrendo para a manutenção da 
modernidade.
Nas palavras de Bauman (apud CASADEI, 2009, p. 84):
Seria fútil decidir se a cultura moderna solapa ou serve à existência moderna. 
Faz as duas coisas. Só pode fazer uma junto com a outra. A negação compulsi-
va é a positividade da cultura moderna. A disfuncionalidade da cultura moderna 
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é sua funcionalidade. [...] A história da modernidade é uma história de tensão 
entre a existência social e sua cultura. A existência moderna força sua cultura 
à oposição de si mesma. Essa desarmonia é precisamente a harmonia de 
que a modernidade precisa. A história da modernidade deriva seu dinamismo 
excepcional e sem precedentes da velocidade com que descarta sucessivas 
versões de harmonia, primeiro desacreditando-as como nada mais que pálidos 
e imperfeitos reflexos dos seus foci imaginarii. Pela mesma razão, pode ser 
vista como a história do progresso, como a história natural da humanidade. 
Outro ponto que poderíamos destacar na obra de Bauman sobre o papel da teoria 
crítica seria em sua análise do consumo na contemporaneidade, tal como expresso em seu 
livro “Vida para Consumo” (BAUMAN, 2008).
FIGURA 109 – CAPA DA EDIÇÃO BRASILEIRA DE VIDA PARA 
CONSUMO
FONTE: Disponível em: <http://t2.gstatic.com/
images?q=tbn:ANd9GcTaEXcB02IgG-zr0v1Z8bCCEyE_
va0rKF9HTF6MugSLfFdWdvXP7A>. Acesso em: 24 jul. 2013.
Neste trabalho Bauman mapeia e analisa as transformações que se deram na sociedade 
contemporânea em relação ao consumo, com a criação daquilo que ele chama de “sociedade 
consumista”, que tem um caráter instável, segundo o autor. Na “sociedade de consumidores”, 
a dimensão existencial do ser humano está condicionada, assim como as relações humanas, 
pelas relações entre os consumidores e os objetos de consumo.
Na sociedade atual, o indivíduo encontra um prazer imediato no ato de consumo, 
devido ao aspecto descartável dos bens, sendo a pessoa constantemente bombardeada pela 
imposição do consumo de novos produtos que se sucedem em inovações tecnológicas e cuja 
promessa consiste na atribuição de status social ao consumidor.
UNIDADE 3 TÓPICO 1 157
Assim as pessoas são levadas a consumir, não aquilo que possa lhes satisfazer as 
necessidades básicas, mas aquilo que confira posição social, dentro da lógica do mercado. 
Desta forma são imposições mercadológicas que levam ao consumo de um excesso de 
produtos, dando um caráter irracional à economia. Este excesso de mercadorias gera uma 
incerteza nas escolhas dos consumidores, a instabilidade no desejo e uma atribuição de um 
aspecto insaciável ao consumo.O consumo passa a ser então a via para a realização pessoal 
e caminho para conferir sentido à existência.
FIGURA 110 – O CONSUMO NA SOCIEDADE ATUAL
FONTE: Disponível em: <http://t1.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcSI5-gADbd72u2e
XAtKh5EjmglwN3TNvgTzdMVjtdnOOljR5cNm6w>. Acesso em: 24 jul. 2013.
Bauman chama atenção nesta obra ainda para o fato de que na sociedade de consumo 
seus membros transformam-se eles mesmos em mercadorias. Isto faz com que a sociedade 
de consumo produza um ser humano que vive por si e em si, encontrando sua completude e 
sentido existencial no consumo exarcebado.
Assim a cultura contemporânea se caracteriza por instaurar uma disputa pela significação 
do mundo, que passa na atual sociedade pelo consumo como instância de atribuição de sentido 
à existência, onde o mercado age como o agente central de determinação da inclusão ou 
exclusão dos indivíduos, a partir de sua capacidade e maneira de consumir.
UNIDADE 3TÓPICO 1158
LEITURA COMPLEMENTAR
O CONCEITO DE CULTURA EM BAUMAN
BAUMAN, Z. La cultura como práxis. Buenos Aires: Paidós, 2002.
Lara Espinosa
Estudar o conceito de cultura pode ser uma tarefa tão árdua quanto prazerosa. Quem 
se inicia nesse universo com um mergulho profundo, seguramente pode começar pelo estudo 
de Zygmunt Bauman. Nesse livro, o autor desenvolve sua tese criticando o percurso histórico, 
social e filosófico do uso do conceito, de modo que o estudante encontra no texto um completo 
estado da arte, ao menos do ponto de vista das “bases fundadoras” das escolas ocidentais. 
Aconselho ao leitor saborear o livro aos poucos, com leituras paralelas. A oportunidade de 
visitar autores criticados por Bauman é uma das grandes colaborações desta reedição. O 
argumento de Bauman foi construído há 30 anos, mas ele é pertinente e atual. Na primeira 
edição, Bauman defendia que o termo cultura não pode ser empregado sem que seja avaliado 
como “conceito”, como “estrutura” e como “práxis”. Na nova edição, o autor adicionou uma 
introdução, onde explica o porquê da recuperação desse texto e o contextualiza na atualidade, 
sem abandonar, no entanto, a base inicial. Embora, naquele período, o autor que cunhou 
o conceito de “modernidade líquida” se mantivesse ainda sobre o terreno de cada um dos 
estágios que examina, é nos interstícios que se pode encontrar o Bauman de hoje. Sua ironia 
e irreverência iniciam ali, na solidez da reflexão construída em um alicerce que é tensionado, 
criticado e usado para fundamentar sua proposta assaz inovadora para a época. Cada uma 
das três formulações é indissociável, e a clareza do seu argumento está em embrenhar-se na 
volatilidade desses níveis, desmascarando a “fragilidade humana” dos conceitos estabelecidos 
(p. 15). Com muito zelo e responsabilidade para com o patrimônio acadêmico, sem desconsiderar 
todos os movimentos que estruturaram, no âmbito científico, a construção do conceito de 
cultura, Bauman coloca-os não como pontos de apoio, mas como suspensões fixas no nada. 
Ninguém é esquecido ou poupado, nem mesmo ele, pois, ao defender a ambivalência do 
conceito de cultura, o autor desnuda sua própria ambivalência quando, ao mesmo tempo, 
repudia e acolhe a base do pensamento que lhe permite orquestrar a observação daquela que 
chama de “consciência da sociedade moderna” - a Cultura.
Por encima de todo, ya no acepto que la ambivalencia que realmente cuenta 
fuese un efecto accidental, un descuido metodológico o un error; me refiero 
a esa ambivalencia que me empujó en primer lugar a diseccionar el complejo 
significado de la cultura, pero que salió ilesa de la operación, perpetuando-se 
en tanto que blanco elusivo. Por el contrario, creo que la ambivalencia inherente 
a la idea de cultura, ambivalencia que refleja fielmente la ambigüedad de la 
condición histórica que se suponía que debía captar y narrar, es exactamente 
lo que ha hecho de esa idea una herramienta de percepción y de pensamiento 
tan fructífera (p. 21).
Para ele, a ambivalência é um fator que transforma a estrutura que instaura a ordem 
UNIDADE 3 TÓPICO 1 159
sociocultural em espaço de criatividade e liberdade, onde o objetivo é que se estabeleça uma 
realidade que não requer o exercício da liberdade, “es decir, la liberdad se despliega y desarrolla 
al servicio de su propia anulación” (p. 22).
Frente à “persistente ambiguidade do conceito de cultura” e afirmando que a “consciência 
metodológica” não pode aceitar “a magia das palavras” através da qual o termo cultura é 
utilizado para “responder a problemas diversos, enraizados em interesse convergentes” (p. 95), 
Bauman examina a palavra cultura como “conceito”. Para Bauman, há numerosos interesses 
cognitivos institucionalizados em torno de um vocábulo único, cada um localizado em um campo 
semântico diferente, que pode ser solapado nessa relação, pois cada um é acompanhado por 
uma série específica de noções paradigmáticas e sintaticamente ligadas entre si, que extraem 
e manifestam seu significado através de um conjunto distinto de contextos cognitivos. Uma 
das premissas do estudo é que a diferença de abordagens para o termo cultura é a parte mais 
rica do ponto de vista cognitivo. É frutífera e academicamente estimulante. Para Bauman, o 
enfoque unificador do termo conduz a uma facilidade predominantemente estética. Propõe 
então três questões que modelam distintos universos de discurso e que são igualmente 
legítimas e significativas. E diz que a questão crucial não é se as três noções podem ser 
reduzidas a um denominador comum, mas questiona se esta redução é desejável. São elas: 
a cultura como conceito hierárquico, a cultura como conceito diferencial e o conceito genérico 
de cultura. No segundo capítulo, ao examinar a cultura como estrutura, Bauman admite que 
“a estrutura é uma rede de comunicação no seio de um conjunto de elementos ou ainda o 
conjunto de regras de transformação de um grupo de elementos inter-relacionados e de suas 
próprias relações” (p. 185). Para ele as transformações geradoras de acontecimentos se situam 
no nível fenomenológico da percepção ou empírico, acessível à experiência sensorial. Já a 
estrutura não é acessível ao sensório e tampouco é derivada do processamento de dados da 
experiência. “A relação da estrutura com os fenômenos empíricos é um reflexo da relação de 
modelos abstratos e vice-versa” (p. 186). Um ponto importante para o autor é que não existe uma 
relação “um a um” entre uma dada estrutura e um conjunto de acontecimentos empíricos. Uma 
estrutura pode gerar conjuntos de incidências muito diversos e vice-versa. “Qualquer conjunto 
de acontecimentos empíricos se pode considerar como um output de estruturas subjacentes” 
(p. 186). Ao iluminar o status ontológico e epistemológico da estrutura, Bauman menciona 
dois debates que têm envolvido a natureza da cognição e do conhecimento: o primeiro é o 
conhecimento do “certo” e do “contingente”; o segundo é o debate entre a ontologia do objeto de 
cognição “transcendente” e do “imanente”. Para Platão a relação entre o certo e o contingente, 
através da retórica mística, era uma batalha entre “deuses e gigantes”. Os deuses são os que 
creem nas coisas invisíveis – a verdadeira realidade – os gigantes colocam o real no corpo 
que podem tocar e manipular. Em resumo, a aproximação estruturalista à cultura resulta em 
um conjunto de regras generativas, historicamente selecionadas pela história humana, que 
governam ao mesmo tempo a atividade mental e prática dos indivíduos, contemplados como 
seres epistêmicos e a gama de possibilidades nas quais essas atividades podem operar. 
Bauman apresenta limitações para a “aplicação direta dos achados da linguística estrutural 
na cultura, que, em sentido amplo, se vê inevitavelmente limitada por importantes diferenças 
UNIDADE 3TÓPICO 1160
entre subsistemaslinguísticos e não linguísticos da cultura humana” (p. 219). Por último, no 
terceiro capítulo, o autor debate a cultura como práxis, que reflete uma longa discussão sobre a 
natureza da integração social. Para ele, a experiência humana é intuitiva, pré-teórica e só pode 
ser acessada intelectualmente quando recoberta por uma série de conceitos explicativos.
O conceito de cultura torna-se então “subjetividade objetivada”. Um esforço para 
entender o modo como as ações individuais podem ter validez coletiva e como as múltiplas 
interações entre indivíduos podem construir “uma realidade dura e implacável” (p. 259), de 
uma sociedade alienada, que distingue as esferas públicas e privadas da vida humana (p. 
323). Bauman resiste às explicações alienadas. Para ele, através da cultura, o homem se 
encontra “em um estado de revolta constante, uma revolta que é uma ação” contra o estado 
paralisador voltado unicamente para o privado (p. 343). Na recuperação feita na introdução, 
quando Bauman discute o conceito de identidade já com o aporte de Stuart Hall, reforça o 
conceito de movimento, inseparável das identidades. Afirma que as identidades reciclam a 
substância cultural e o que assegura sua continuidade é o seu movimento, sua capacidade 
de mudança. Finaliza a introdução retomando a pluralidade de horizontes de Gadamer: “Se o 
entendimento é um milagre, é um milagre cotidiano, um milagre feito por pessoas comuns e 
não por milagreiros profissionais” (p. 94).
[Lara Espinosa é professora doutora da Universidade do Vale do Rio dos Sinos 
(UNISINOS).]
 
FONTE: ESPINOSA, Lara. Fronteiras – Estudos Midiáticos, São Leopoldo, ano 7, n. 3, p. 240-242, 
set./dez. 2005.
UNIDADE 3 TÓPICO 1 161
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico vimos como: 
•	 Morin e Bourdieu deslocam o foco de suas interpretações do fenômeno de comunicação de 
massa da esfera da produção, tal como era feito anteriormente pela teoria crítica, para a do 
consumo. Com isto estes autores revelam a dinâmica e características próprias do consumo 
na sociedade contemporânea. Este acaba por se constituir numa instância de mediação, 
devido a seu caráter individual, entre o sujeito e a indústria cultural, o que terminaria por 
minimizar um possível efeito padronizante dos bens culturais fornecidos pela indústria de 
comunicação e cultura de massa.
•	 Morin considera a cultura de massa ao se fundar em sistemas simbólicos anteriormente 
existentes, como tendo um papel social integrador, dentro do quadro das sociedades 
contemporâneas. Para Morin, assim a cultura de massa apresenta-se como mais um espaço 
da experiência da existência do indivíduo na sociedade capitalista, servindo à vazão das 
pulsões decorrentes das fantasias e expressão do imaginário particular do sujeito, que se 
singularizaria no consumo dos bens culturais. Para Morin, atribuir um caráter exclusivamente 
impositivo aos bens culturais produzidos em escala industrial é ignorar a relação dialética que 
se estabelece entre o imaginário, em suas dimensões sociais e individuais, e os produtos 
veiculados pela mídia. Segundo ele, a produção em série dos bens culturais não impede 
que a apreciação de seu aspecto estético, sua utilização e sua fruição adquiram um caráter 
particularizado, isto através do consumo.
•	 Bourdieu, embora se aproxime mais da visão da teoria crítica, chama a atenção para 
o caráter ideológico e manipulador a que tanto produtores quanto consumidores estão 
submetidos na indústria cultural. Para ele, há uma ausência do sujeito na indústria cultural, 
que ele exemplifica com a veiculação de informações pela mídia de imprensa, onde são 
esvaziadas dos conteúdos políticos e dirigidas a todos uniformemente, niveladas por baixo 
para parecerem palatáveis a todos. Assim, o jornalismo televisivo obedeceria à lógica do 
mercado, escapando assim as possibilidades do processo criativo e do desenvolvimento 
de uma consciência crítica. Entretanto, Bourdieu, percebe que as diferenças sociais, em 
especial aquelas decorrentes das diferentes bagagens culturais acumuladas ao longo da 
experiência e trajetórias de vida dos indivíduos que compõem os diversos grupos que formam 
a sociedade, agiriam como freio à padronização completa dos sujeitos pela indústria cultural. 
Posteriormente estudamos o pensamento de Bauman em relação à cultura e consumo na 
atual sociedade, demonstrando como para ele a cultura serve à manutenção do projeto da 
modernidade, mantendo o caráter ambíguo e forjando sujeitos que se definem e dão sentido 
à sua existência pelo consumo.
UNIDADE 3TÓPICO 1162
AUT
OAT
IVID
ADE �
Responda às seguintes questões:
1 A partir da compreensão de Morin da cultura de massa, explique como o consumo 
amenizaria o seu caráter uniformizador.
2 Como Bourdieu relativiza a ideia de que a cultura de massa uniformiza as 
consciências?
3 Que características se impõem ao indivíduo na sociedade consumista?
REPERCUSSÕES LATINO-AMERICANAS 
DA SOCIOLOGIA CRÍTICA
1 INTRODUÇÃO
TÓPICO 2
Desde o seu nascedouro a teoria crítica em Sociologia se coloca aberta a novas 
interpretações e contribuições originais, de tal forma que ela não é estática nem rígida, muito 
menos privilégio ou propriedade de uns poucos autores.
Pelo contrário, a teoria crítica apresenta-se como uma proposta teórico-metodológica 
passível de ser apropriada por todos aqueles que, não se limitando a interpretar o real de 
maneira crítica, percebem as condições históricas de seu tempo e propõem mudanças no 
sentido de libertar a humanidade da alienação imposta pelo sistema capitalista, levando o ser 
humano a realizar todas as potencialidades da razão de forma emancipadora. 
O projeto da teoria crítica acabou tendo um impacto significativo no pensar e fazer 
Sociologia, até mesmo na produção sociológica de países periféricos como o Brasil, por exemplo. 
Apesar do atraso típico dos países em subdesenvolvimento, também em nossa nação fez-
se sentir a influência do pensamento crítico, tendo por base as reflexões de Marx sobre o 
capitalismo.
Entretanto, em virtude do próprio caráter de atraso, do desenvolvimento tardio do 
sistema capitalista no Brasil e das especificidades de nosso processo histórico, o pensamento 
crítico brasileiro reveste-se de características próprias e originais que procuram dar conta das 
questões fundamentais de nossa nação.
Neste tópico, acadêmico(a), você travará contato com a produção intelectual e as 
considerações teórico-metodológicas de um dos maiores (se não o maior) dos sociólogos 
brasileiros, Florestan Fernandes.
Veremos como e por que Florestan Fernandes se insere no campo da sociologia crítica, 
UNIDADE 3
UNIDADE 3TÓPICO 2164
a partir da análise dos pressupostos teóricos e metodológicos que ele desenvolveu para 
entender a realidade brasileira, bem como suas considerações acerca das mudanças sociais 
e do desenvolvimento no Brasil.
2 FLORESTAN FERNANDES E A SOCIOLOGIA NO BRASIL
Embora não haja unanimidade em relação à questão, muitos autores inserem Florestan 
Fernandes e seu pensamento no campo da teoria crítica e o consideram um dos representantes 
da sociologia crítica no Brasil.
De fato, a obra de Florestan Fernandes, por seu volume, riqueza e diversidade, dá margem 
a diferentes interpretações, que, às vezes, assumem configurações distintas e, em alguns casos, 
contraditórias. Para se ter uma ideia, até 2007 já haviam sido publicados 351 trabalhos dedicados à 
análise da produção intelectual de Florestan, isto entre artigos, livros, capítulos de livro, monografias 
e teses, além de comunicações em congressos e semelhantes. (SHIOTA, 2012).
Entretanto, a partir das considerações de Shiota (2012), acreditamos que existem 
razões suficientes para incluir o nome de Florestan Fernandes no rol dos teóricos críticos da 
sociedadebrasileira.
Isto é perfeitamente plausível se considerarmos o projeto da teoria crítica como 
implicando uma aderência à proposta de emancipação do quadro histórico-social capitalista, 
através da descrição crítica do tempo atual e de propostas para uma prática libertadora (SHIOTA, 
2012), elementos que, a exemplo de Shiota, julgamos estar presentes na obra de Florestan.
Afinal, quem foi Florestan Fernandes?
Florestan Fernandes (São Paulo, 22 de julho de 1920 - São Paulo, 10 de agosto de 
1995) foi um sociólogo e político brasileiro, duas vezes eleito deputado federal pelo Partido dos 
Trabalhadores de São Paulo. Segundo seus relatos, Florestan Fernandes teve despertado, 
ainda criança, o interesse pelos estudos principalmente pela diversidade dos lugares onde 
passou sua infância. Afilhado de Hermínia Bresser de Lima, filha de Carlos Augusto Bresser, 
Florestan aprendeu com ela a dedicação aos estudos: "O fato é que embora eu não estudasse 
organizadamente, pelo fato de ter nascido na casa de dona Hermínia Bresser de Lima aprendi 
o que era livro, a importância de estudar e com pouco mais de seis anos adquiri uma disciplina." 
Filho de mãe solteira, não conheceu o pai. Começou a trabalhar como auxiliar numa barbearia 
aos seis anos de idade. Também foi engraxate. Estudou até o terceiro ano do primeiro grau. 
Só mais tarde, voltaria a estudar, fazendo curso de madureza, estimulado por frequentadores 
UNIDADE 3 TÓPICO 2 165
do bar Bidu, no centro de São Paulo, onde trabalhava como garçom.
Em 1941, Florestan ingressou na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 
da Universidade de São Paulo, formando-se em ciências sociais. Iniciou sua carreira docente 
em 1945, como assistente do professor Fernando de Azevedo, na cadeira de Sociologia 
II. Na Escola Livre de Sociologia e Política, obteve o título de mestre com a dissertação "A 
Organização Social dos Tupinambás". Em 1951 defendeu, na Faculdade de Filosofia, Letras e 
Ciências Humanas da USP, a tese de doutoramento "A Função Social da Guerra na Sociedade 
Tupinambá", posteriormente consagrado como clássico da etnologia brasileira, que explora o 
método funcionalista.
Uma linha de trabalho característica de Florestan nos anos 50 foi o estudo das 
perspectivas teórico-metodológicas da sociologia. Seus ensaios mais importantes acerca 
da fundamentação da sociologia como ciência foram, posteriormente, reunidos no livro 
"Fundamentos Empíricos da Explicação Sociológica". Seu comprometimento intelectual com o 
desenvolvimento da ciência no Brasil, entendido como requisito básico para a inserção do país 
na civilização moderna, científica e tecnológica, situa sua atuação na Campanha de Defesa 
da Escola Pública, em prol do ensino público, laico e gratuito enquanto direito fundamental do 
cidadão do mundo moderno.
FONTE: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Florestan_Fernandes>. Acesso em: 24 jul. 2013.
FIGURA 111 – FLORESTAN FERNANDES
FONTE: Disponível em: http://sphotos-h.ak.fbcdn.net/hphotos-ak-ash4/484291_
303942763045722_1902975516_n.jpg. Acesso em: 24 jul. 2013.
De acordo com Shiota (2012), em 1953, Florestan Fernandes estava tecendo certas 
UNIDADE 3TÓPICO 2166
considerações teóricas no campo da Sociologia que se constituíram, tanto em uma contribuição 
original deste pensador (resultado do encontro de um talento excepcional com as condições 
históricas da sociedade em que vivia e que em grande parte o formou), como um marco 
definitivo de seu alinhamento com o pensamento crítico, dentro do horizonte de certos aspectos 
da teoria crítica. 
Em um texto deste período Florestan introduz no método que empregava à época 
considerações a respeito da dimensão histórica dos fenômenos sociais e culturais. Estas 
ponderações possibilitavam a utilização de sua teoria como modelo explicativo da sociedade 
e demonstravam sua percepção aguda da questão da mudança social. 
As perspectivas que se descortinaram, então, possibilitaram ao sociólogo descrever de 
forma interpretativa o fenômeno social, unindo o empirismo científico ao viés diacrônico na análise 
deste. Nas palavras de Fernandes, referindo-se ao fenômeno social (apud SHIOTA, 2012, p.15):
O especialista pode ainda interessar-se pelo fenômeno descrito em sua condi-
ção de vir-a-ser; então, procurará explicá-lo retrospectiva e prospectivamente, 
através da seleção de fatores causais que, nas condições de formação e 
transformação do “meio social interno”, determinam o curso e os efeitos de 
sua atuação.
A partir daí podemos ver claramente a perspectiva dialética da construção de Florestan 
da realidade social. Ele vincula a visão sincrônica à dimensão diacrônica na análise do fenômeno 
social, priorizando, entretanto, a compreensão histórica deste nas condições da mudança 
social. Florestan assim também preconiza a necessidade de aplicabilidade do conhecimento 
sociológico, remetendo à articulação imperativa entre teoria e prática. 
Em sua proposta teórico-metodológica, Florestan pretende propiciar ao cientista social a 
possibilidade de identificar o surgimento de correntes inovadoras da ordem social, bem como as 
condições em que estas manobram, analisando estas correntes em períodos curtos de tempo 
e no nível do sistema de organização da sociedade, possibilitando desta forma o conhecimento 
das limitações e percalços para a efetivação dos meios de transformação da sociedade.
UNIDADE 3 TÓPICO 2 167
FIGURA 112 – BRASÍLIA NA DÉCADA DE 50
FONTE: Disponível em: <http://i1.r7.com/data/files/2C92/94A4/2805/432F/0128/09
B5/EF9B/075B/Brasil,%20Bras%C3%ADlia,%20DF.%20Final%20da%20
d%C3%A9cada%20de%2050-HG.jpg>. Acesso em: 24 jul. 2013.
De acordo com Shiota (2012), esta perspectiva do pensamento de Florestan aproxima-o 
da visão da teoria crítica, tal como formulada por Horkheimer. Ele apresenta o problema que 
é transpor para as Ciências Sociais o modelo teórico das Ciências Naturais, o que acaba por 
servir para a justificação do sistema vigente, uma vez que a Ciência moderna faz parte do 
aparato de dominação. Faz-se necessária assim a denúncia das impossibilidades da Ciência 
de realizar o “conhecimento de si da realidade”.
Desta forma a teoria crítica apresenta-se como única em sua visão emancipadora, pregando 
um comportamento crítico por parte do pesquisador e um compromisso deste com o bem-estar 
da humanidade. O teórico crítico do social deve assim fazer de sua formulação teórica uma 
afirmação política que possibilita a prática comprometida com a mudança da realidade, decifrando 
simultaneamente a aparência e a essência desta. De acordo com Shiota (2012, p. 18):
A teoria crítica é um momento inseparável da vontade de emancipação e esta-
belece conexão entre conceito e momento histórico atual, conhecimento e fins 
de autodeterminação humana, conforme o conceito materialista de sociedade 
livre e autodeterminante. [...] O teórico crítico possui integridade e perspectiva 
histórica e julga conforme aquilo que está no tempo.
UNIDADE 3TÓPICO 2168
FIGURA 113 – CAPA DA OBRA DE HORKHEIMER SOBRE A 
TEORIA CRÍTICA
FONTE: Disponível em: <http://2.bp.blogspot.
com/_BLjGVUUdlaM/St9dCYcj_OI/
AAAAAAAAAm0/0c2ZjOo4-_c/s320/teoria+critica.jpeg>. 
Acesso em: 24 jul. 2013.
Shiota (2012) chama a atenção para o fato de que os sentidos que adquirem as formulações 
de Horkheimer de “comportamento crítico” e “orientação para a emancipação” transfiguram-se 
em sua forma em momentos históricos diversos, uma vez que as mesmas são condicionadas 
pelas análises históricas e o contexto destas análises dentro da visão da teoria crítica.
Desta forma a adesão de um pesquisador ao campo do pensamento crítico não passa 
pela defesa de determinadas teses rigidamente fixadas, mas antes se determina esta aderência 
pela função social do pensamento proposto e por seu caráterprogressista, entendido este 
dentro da visão materialista dialética da história. 
Sob este ponto de vista mostra-se perfeitamente plausível situar Florestan Fernandes 
dentro do campo da teoria crítica, nos termos deste autor e de sua contribuição única à Sociologia. 
Vejamos: desde o início de suas formulações teóricas esteve Florestan Fernandes comprometido 
com uma visão da sociologia que abarcasse e articulasse teoria e prática. Nos anos 40 e 50 
Florestan em sua obra demonstra a necessidade de aliar a cientificidade das análises sociais a 
uma prática científica comprometida com as questões históricas de seu tempo, salvaguardando-
se a mesma de uma militância pueril que negligencie a maneira pela qual o conhecimento é 
organizado, produzido e assimilado pela sociedade. Sob esta perspectiva foi possível ao autor 
perceber que o desenvolvimento do capitalismo no Brasil não levava de maneira automática ao 
estabelecimento da ordem democrática, o que fez com que Florestan guiasse seus esforços 
intelectuais na direção da realização da democracia em nosso país, sob o viés emancipador 
e de caráter socialista.
Em seus trabalhos encontra-se presente também uma crítica à objetividade científica, 
na pretensão de se eximir de sua feição política e dos questionamentos de seu tempo.
UNIDADE 3 TÓPICO 2 169
Assim a sociologia de Florestan não se restringe a explicações, técnicas e métodos de 
pesquisa, mas está a serviço da análise da realidade brasileira e é propositiva em relação aos 
problemas de nosso país. Este autor pretendia com sua obra não só teorizar o Brasil, mas antes 
contribuir para um entendimento que se aliasse a diagnósticos de seu tempo e possibilitasse 
uma intervenção na sociedade brasileira.
Nas palavras de Fernandes (apud SHIOTA, 2012, p. 22-23):
Quem pensa os fatos não pode fazer uma separação assim brutal nas atividades 
da “inteligência”, uma limitação tão violenta nas tarefas dos intelectuais e acre-
ditar na eficiência de uma ruptura desse gênero exatamente no momento em 
que é necessário colocar as forças do pensamento e de ação no campo aberto 
da luta contra as forças da reação, do aproveitamento e da opressão. [...] Os 
intelectuais não podem deixar de discutir concretamente as condições de vida 
do povo brasileiro, se quiserem qualquer coisa prática. [...] É necessário atuar 
sobre as causas quando se pretende eliminar ou agir sobre seus efeitos.
Para Florestan, democratizar a cultura significa emancipar política e economicamente 
a população brasileira. A democracia cultural, desta forma, não pode se dar sem que se veja 
sua fundamentação política e suas bases econômicas.
Notamos desta forma o compromisso do autor com a produção de um pensamento que 
fosse capaz de encontrar a sua realização nas relações sociais, sob uma visão implicada com 
a mudança social e voltada para a efetivação da democracia, a partir da emancipação política 
da população brasileira.
O Brasil, ao tempo de Florestan, vivia sob as ruínas da ordem escravocrata e colonialista 
que impunha restrições à realização da democracia em nossa terra. 
FIGURA 114 – ÍNDIOS DO XINGU NA DÉCADA DE 50
FONTE: Disponível em: <http://brazilianpost.co.uk/wp-content/uploads/2013/01/283867_14199027921
3356_100002071532996_272017_7278551_n.jpg>. Acesso em: 24 jul. 2013.
UNIDADE 3TÓPICO 2170
Para Florestan, a Sociologia representava então a possibilidade da efetiva constituição 
da ordem democrática, participando esta disciplina da construção da tomada de consciência 
pelos cidadãos, aliada à ciência e à tecnologia para tirar nosso país do atraso e articuladas 
com a educação, na promoção da formação de um caráter democrático para o nosso povo.
Em suas pesquisas acerca da situação das populações de origem africana em nosso 
país, Florestan aprofunda a compreensão histórica da sociedade brasileira, diagnosticando as 
formas pelas quais o preconceito vigente ajusta as relações sociais em nosso país, promovendo 
a manutenção de uma estrutura social injusta e arcaica.
FIGURA 115 – ESCRAVOS NO BRASIL COLONIAL
FONTE: Disponível em: <http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/brasil-
colonia/imagens/sociedade-acucareira1.jpg>. Acesso em: 24 jul. 2013.
Florestan ainda se posiciona de maneira determinada a favor do ensino público e contra 
a utilização de recursos públicos nas instituições de ensino privadas, advogando um papel 
formador de consciências democráticas para a escola. Esta deve se democratizar, no sentido 
de se pôr a serviço das transformações necessárias para a emancipação do povo brasileiro, 
primando sempre pela qualidade. 
Para Florestan (apud SHIOTA, 2012, p. 27), “[...] a educação nas escolas públicas 
deveria, em todos os níveis, promover nos jovens a racionalidade aplicada à solução de 
problemas práticos da sociedade brasileira”. Muito embora para o autor as forças sociais e o jogo 
político sejam produto da história, a razão mostra-se fundamental para a práxis emancipadora, 
através da mediação da teoria. 
Assim a educação formal, fornecida pelo Estado, deveria se contrapor ao senso comum, 
este se apresentava como promotor da ordem sociocultural dominante, e levar à superação da 
mentalidade tradicionalista, de caráter escravocrata e privatista, que Florestan percebia como 
um obstáculo à democratização da nação.
UNIDADE 3 TÓPICO 2 171
Estes e outros aspectos do pensamento de Florestan já bastariam para localizar 
definitivamente este autor no campo da sociologia crítica. Suas formulações teóricas estiveram 
sempre articuladas ao sujeito histórico que ele era, sempre atuando, através de seu saber, na 
promoção da universidade, da educação, da democratização dos aspectos sociais e raciais 
da sociedade brasileira, visando à emancipação política do ser humano e à promoção do 
socialismo. Seu pensamento, na visão de Shiota (2012, p. 28), questiona o Brasil em suas “[...] 
condições históricas legadas pelos processos de independência política colonial, de abolição 
da escravidão e das características autocráticas da revolução burguesa brasileira”.
3 AS MUDANÇAS SOCIAIS SOB O 
 PARADIGMA DA SOCIOLOGIA CRÍTICA
Estabelecido já, no item anterior deste tópico, a pertinência da inclusão de Florestan 
Fernandes no campo da sociologia crítica, passemos, caro(a) acadêmico(a), a apreciar as 
considerações deste autor acerca do fenômeno da mudança social.
Tema clássico da Sociologia, a questão da mudança social é analisada por Florestan 
à luz da realidade brasileira. Sua abordagem tem como pano de fundo no período da década 
de 40 e 50 a consolidação do capitalismo no Brasil, o processo acelerado de urbanização da 
época e as políticas desenvolvimentistas implementadas pelo governo federal.
FIGURA 116 – A INSTALAÇÃO DA INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA NO 
BRASIL NA DÉCADA DE 50
FONTE: Disponível em: <http://t0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcRc
n3083d0hOjpHg-vS4mj5B3cTtR0O89D2NUIH0s-gdXbqB8tT>. 
Acesso em: 24 jul. 2013.
UNIDADE 3TÓPICO 2172
FIGURA 117 – CAPA DE LIVRO DE FLORESTAN 
FERNANDES SOBRE O FOLCLORE
FONTE: Disponível em: <http://www.google.com.br/#fp=21c6c
89590af1748&q=Livro%3A+O+folclore+em+quest%C
3%A3o+de+Florestan >. Acesso em: 24 jul. 2013.
Tratava-se à época, como depois considerou Fernandes (1986, p. 150): “[...] do processo 
de transplantação cultural propriamente dito e do esforço criativo inerente à preservação de 
uma herança sociocultural que transcendia, de modo inevitável, as exigências das situações 
históricas vividas [...]”.
Posteriormente, nas décadas de 50 e 60, Florestan vai pensar a mudança social dentro 
da perspectiva instrumental do conceito para problematizar a questão do desenvolvimento. 
Neste período a sociedade brasileira assiste a uma série de mudanças, de ordem cultural 
e social, decorrentes da expansão do capitalismo no Brasil, fazendo com queos cientistas 
sociais refletissem sobre os conflitos que se apresentavam então entre as políticas econômicas 
governamentais, a dinâmica da industrialização e urbanização do país e o esforço para a 
integração socioeconômica de nossa nação (MARTINS, 2003).
Num primeiro momento suas reflexões sobre este problema, que se apresentam tanto 
no nível da teoria quanto na dimensão de propostas práticas para a solução de problemas 
da ordem histórica em nosso país, estão presentes em trabalhos sobre o folclore e sobre a 
marginalidade social (MARTINS, 2003).
UNIDADE 3 TÓPICO 2 173
QUADRO 1 – A RÁPIDA URBANIZAÇÃO DO BRASIL
FONTE: Disponível em: <http://portaldeextensao.wikidot.com/local--files/urbanizacao-
no-brasil/02.gif>. Acesso em: 24 jul. 2013.
Paralelo à utilização do conceito de mudança social para a compreensão do processo 
de desenvolvimento do Brasil, à sua época, Fernandes (1986, p. 150) também está interessado 
na relação entre “[...] determinados aspectos sociodinâmicos do fluxo da mudança social e de 
seu controle societário coercitivo”. Desta forma o autor volta o foco da atenção de sua análise 
sociológica para aqueles aspectos da organização da sociedade que estão implicados com a 
geração de dinâmicas sociais relacionadas à mudança.
Para Fernandes (1986), o modelo de organização social brasileiro sempre apresentou 
características inerentes, de ordens estruturais e funcionais decorrentes de seu processo histórico 
específico, que concorreram para a dinâmica de mudança social que aqui se apresenta.
FIGURA 118 – A SERVIDÃO INDÍGENA
FONTE: Disponível em: <http://www.infoescola.com/wp-content/uploads/2009/11/
escravidao-indigena.jpg>. Acesso em: 24 jul. 2013.
UNIDADE 3TÓPICO 2174
As principais características seriam a superposição do sistema estamental português à 
escravidão indígena e africana e ao atraso na implementação da sociedade de classes no Brasil. 
FIGURA 119 – O TRÁFICO NEGREIRO NO PERÍODO COLONIAL
FONTE: Disponível em: <http://www.scielo.br/img/revistas/ea/v16n46/46a15f1.jpg>. Acesso 
em: 24 jul. 2013.
Isto tinha gerado uma situação na qual os membros da elite brasileira são classificados 
em termos estamentais, enquanto aqueles que pertenciam aos segmentos que haviam passado 
pelo processo de servidão e escravidão (basicamente os índios e as pessoas de origem africana) 
seriam classificados em termos de casta, ficando os mestiços e trabalhadores livres gravitando 
entre estas duas categorias.
Outro foco da atenção do autor, quanto à mudança social, é a questão da difusão 
cultural, que no Brasil, para Florestan, isto seria básico, em decorrência do atrelamento do país 
à expansão do Ocidente moderno, que agiria como fator precipitador das transições históricas, 
em todos os aspectos da sociedade brasileira.
Para Fernandes (1986, p. 153):
Em regra, o desenvolvimento interno da economia, da sociedade e da cultura 
cria, previamente, um novo patamar, o qual condiciona e torna possível a partir 
de dentro uma alteração súbita no enlace com os dinamismos econômicos e 
culturais com as nações capitalistas hegemônicas e com o mercado mundial. 
Precipita-se, desse modo, uma fase mais ou menos intensa de modernização, 
orientada e regulada a partir de fora.
Para Florestan assim, articulando estes dois vieses em sua análise, é preciso estar 
atento à especificidade histórica da realidade social brasileira para entendermos o sentido 
e o modelo do desenvolvimento em nosso país, a partir da dinâmica própria das mudanças 
UNIDADE 3 TÓPICO 2 175
sociais no Brasil.
Para Martins (2003, p. 4), um aspecto importante do entendimento de Florestan da 
questão do desenvolvimento está em suas formulações a respeito da “mudança cultural 
espontânea” e “mudança cultural provocada” que estariam presentes em sua análise do papel 
da educação e da ciência como fatores da mudança cultural provocada.
Nas mudanças culturais espontâneas o desenvolvimento cultural decorre do aparecimento 
na sociedade brasileira de condições para o surgimento de novas concepções do real.
FIGURA 120 – REVISTA DA DÉCADA DE 50
FONTE: Disponível em: <http://downloads.passeiweb.com/
imagens/newsite/saladeaula/historia/hist_brasil/os_anos_
jk_3.jpg>. Acesso em: 24 jul. 2013.
Na mudança social provocada trata-se de colocar essa capacidade surgida numa perspectiva 
ampliada, de tal forma que os indivíduos conquistem o domínio racional da mudança social. 
Nas palavras de Florestan (apud MARTINS, 2003, p. 5):
O que caracteriza a mudança cultural provocada, em relação ao elemento racio-
nal, é a extensão dos limites da ação intencional. Além da escolha deliberada 
dos alvos, ela envolve o conhecimento objetivo dos meios, das condições e 
dos mecanismos através dos quais aqueles precisam ser atingidos. Em outras 
palavras, o elemento racional penetra em todos os níveis do comportamento 
inteligente dos homens, de modo a ordenar as atividades por eles desenvol-
vidas no plano relativamente abstrato, em que se definem suas intenções de 
intervir na realidade, seja em função dos fins, seja em função dos meios e das 
condições das próprias intervenções.
Vê-se, assim, como em Florestan a qualidade da mudança está condicionada pelas 
possibilidades de realização da mudança cultural provocada, em função do grau de racionalização 
que esta pode impor à maneira de ser, em todas as dimensões da vida social. 
UNIDADE 3TÓPICO 2176
FIGURA 121 – ESCOLA PÚBLICA BRASILEIRA NA DÉCADA DE 50
FONTE: Disponível em: <http://4.bp.blogspot.com/-cC7TUJ-Z0_Y/TdfDqQ2lJgI/
AAAAAAAANjs/-9alvBuNHgQ/s400/Digitalizar11-05-15%2B1527.tif>. Acesso em: 
24 jul. 2013.
Para Florestan, na década de 50, o Brasil vivia um processo de mudança cultural 
espontânea, onde estavam presentes sinais de novas técnicas de controle social que deveriam 
ser dirigidas à consolidação democrática. Para tal deveria se estabelecer um planejamento 
democrático, para promover uma mudança cultural que garantiria o caráter democrático da 
sociedade brasileira.
Tratava-se de pautar o projeto nacional em uma determinada concepção do que deveria 
ser o desenvolvimento da nação. 
As mudanças surgiriam da capacidade de o agente social lidar com o meio social e 
deveriam ser colocadas a serviço dos ideais coletivos. A mudança assim se constitui numa 
técnica social, fruto da inventividade do agente social, e deveria servir como recurso visando 
introduzir melhoras em todas as áreas da atividade humana organizada em sociedade. Ideias 
que estão presentes em sua obra “Mudanças Sociais no Brasil”.
Desta forma, o sentido atribuído aos processos de mudança social tem por fundamento a 
dimensão cultural, única garantidora da transformação da sociedade como um todo (MARTINS, 
2003).
UNIDADE 3 TÓPICO 2 177
FIGURA 122 – CAPA DO LIVRO “MUDANÇAS SOCIAIS NO BRASIL”
FONTE: Disponível em: <http://img2.mlstatic.com/mudancas-
sociais-no-brasil-florestan-fernandes-1960_MLB-O-
87289414_2654.jpg>. Acesso em: 24 jul. 2013.
Na visão de Florestan ainda as resistências à mudança social em nosso país, no período 
que representou a transição definitiva para o sistema capitalista, apresentam-se a análise, com 
os devidos cuidados, como um mecanismo de autodefesa do setor arcaico de nossa economia, 
que por sua ação reacionária acaba funcionando como motor destas mudanças e que termina 
por se beneficiar quando da reorganização e concentração do poder que delas resultaram num 
primeiro momento (FERNANDES, 1986).
Ao analisar a mudança social ligada à desagregação do sistema colonial e a expansão 
do capitalismo no Brasil, Florestan chama a atenção para o fato de que, embora as mudanças 
implicadas com o processo tenham afetado a sociedade brasileira como um todo, somente um 
pequeno setor se beneficiou do processo.
Nas palavras de Fernandes (1986, p. 156):
[...] osbenefícios e os efeitos construtivos a largo prazo da mudança social 
foram monopolizados pelos estamentos médios e altos, os únicos que se incor-
poravam à ordem civil com meios e qualificações para impor sua vontade.
Desta forma não se efetivou no Brasil a mudança para a sociedade brasileira e, sim, 
para um pequeno segmento: o burguês. Este mesmo estrato da população que monopoliza as 
benesses da mudança social apresenta a forte tendência de submetê-la a controles seletivos 
e coercitivos, visando garantir a transferência dos recursos gerados pela nação para si mesmo 
sob o pretexto de utilizá-los para a solução dos problemas decorrentes das mudanças que se 
apresentam.
UNIDADE 3TÓPICO 2178
FIGURA 123 – FLORESTAN FERNANDES NA COMPANHIA DE REPRESENTANTES 
DO SETOR MAIS OPRIMIDO DA SOCIEDADE BRASILEIRA: OS 
ÍNDIOS
FONTE: Disponível em: <http://www.scielo.br/img/revistas/ea/v10n26/26a06f1.jpg>. 
Acesso em: 24 jul. 2013.
Entretanto haveria mudanças que surgiriam espontaneamente e que surgiriam em 
decorrência de características estruturais da sociedade de classes brasileira que não poderiam 
ser tão facilmente sufocadas ou reprimidas. Como disse Fernandes (1986, p. 160):
[...] nascem dos dinamismos do mercado e dos sistemas de produção sob o 
capitalismo, das relações e conflitos de classes ou das impulsões à igualdade 
civil desencadeada pelas estruturas de poder de uma sociedade nacional. 
Tais tipos de mudanças são o bicho-papão das burguesias das sociedades 
capitalistas dependentes e subdesenvolvidas [...].
Tais tipos de mudanças representam uma ameaça às posições de poder e às bases 
do exercício da dominação por parte das classes dominantes, que poderiam perder o controle 
da ordem social em razão disso.
Assim as elites apresentam uma resistência sociopática à mudança tendo em vista o desfrute 
da ordem vigente que não se concretiza, em seu caráter competitivo, às demais classes.
As elites brasileiras acreditariam que podem manipular a ordem social de maneira 
impune, em razão de se alicerçar em uma estrutura de caráter econômico, social e político 
que atribui importância diversa às diferentes classes sociais. “Em nossa sociedade, a classe 
dominante dispõe de maior poder econômico, social e político, empregando-o a favor da 
manutenção de seus privilégios e interesses específicos.” (FERNANDES, 1986, p. 161).
UNIDADE 3 TÓPICO 2 179
FIGURA 124 – REPRESENTANTES DOS INTERESSES DA 
BURGUESIA NACIONAL NA DÉCADA DE 50
FONTE: Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/
commons/thumb/0/04/Juscelino_Kubitschek.jpg/250px-
Juscelino_Kubitschek.jpg>. Acesso em: 24 jul. 2013.
Desta forma é possível entender a resistência sociopática das elites brasileiras à 
mudança. Esta se apresenta possível apenas em função de uma ordem social que franqueia 
a determinadas classes a imposição de pressões de cima para baixo e permite que barrem 
aquelas pressões que vêm de baixo para cima.
Entretanto há um perigo nisto que é o de provocar mudanças contra a ordem social, 
em vez de mudanças dentro desta ordem. Como diz Fernandes (1986, p. 161):
[...] as orientações egoísticas e particularistas das classes dominantes e das 
suas elites concorrem, a longo termo, não para “conter” ou “congelar” a his-
tória, mas para simplificá-la e acelerá-la. Sua feroz e obstinada resistência às 
mudanças compatíveis com a democracia burguesa e com o capitalismo acaba 
engendrando seja um agravamento fatal das tensões sociais, seja orientações 
de comportamento reativas segundo as quais a única saída tem de passar 
pela destruição da ordem existente.
UNIDADE 3TÓPICO 2180
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico nós vimos como:
•	 Florestan Fernandes se enquadra no campo da sociologia crítica. Suas contribuições 
teóricas foram no sentido de compreender a realidade brasileira em seu contexto histórico, 
tendo por base o conhecimento sociológico. Fazendo uma crítica ao capitalismo, a partir da 
especificidade do processo social de sua constituição em nosso país, Florestan propunha 
intervenções no corpo social, a partir da educação, no sentido de promover condições para 
a emancipação de nosso povo. A produção intelectual de Florestan, que conciliava a análise 
sincrônica da sociedade com a visão diacrônica, foca nas condições históricas da produção 
da desigualdade no Brasil, pregando a virtude do saber da Sociologia para transformar a 
sociedade. Desde o início de suas formulações teóricas, Florestan Fernandes mostrava 
comprometimento com uma perspectiva da Sociologia que abarcasse e articulasse teoria e 
prática, sua obra torna patente como devem os cientistas sociais conciliar a cientificidade 
das análises sociais a uma prática científica comprometida com as questões históricas de 
seu tempo, evitando-se, entretanto, uma militância pueril que ignore a maneira pela qual o 
conhecimento é organizado, produzido e assimilado pela sociedade. Seu trabalho mostra 
seu comprometimento, sendo propositivo, não se limitando somente a pensar os problemas 
do Brasil, mas trazendo contribuições práticas para a transformação de nosso país. Vimos 
também que dentro desta perspectiva Florestan se debruçou sobre a questão da constituição 
democrática de nossa nação e das mudanças sociais que o Brasil passava em seu tempo. 
Em sua análise, Florestan destaca o passado colonial do Brasil, o caráter autocrático e 
escravocrata da sociedade brasileira, as dificuldades do estabelecimento do capitalismo em 
nosso país, bem como da dinâmica das mudanças sociais que se ligam a este processo. 
UNIDADE 3 TÓPICO 2 181
AUT
OAT
IVID
ADE �
Responda às seguintes questões:
1 Por que Florestan se insere no campo da sociologia crítica?
2 Qual deve ser o papel da escola para Florestan?
3 O que acontecia no Brasil durante as décadas de 40 e 50 quando Florestan pensava 
sobre a questão da mudança social?
4 Por que as elites brasileiras têm uma resistência sociopática à mudança social?
UNIDADE 3TÓPICO 2182
PENSANDO A CIDADANIA
1 INTRODUÇÃO
TÓPICO 3
Neste tópico estudaremos os principais pensamentos que influenciaram a teoria crítica 
em sua projeção de reflexão rigorosa acerca da realidade histórica social. Partiremos da análise 
das relações, em suas semelhanças e diferenças, entre os argumentos defendidos pelas 
filosofias integrantes da composição teórica da formulação crítica. Posteriormente incluiremos 
a reflexão crítica acerca do sentido da democracia e da necessidade da educação formadora 
de cidadãos conscientes.
Na primeira parte, a filosofia kantiana é retomada e reformulada para atingir a amplitude 
da realidade histórica da sociedade do meio de produção industrial. A questão primordial da 
emancipação como condição de liberdade e da política democrática é colocada em jogo pelas 
críticas e propostas de solução dos problemas do indivíduo proletarizado.
A filosofia marxista surge como fundamento teórico da teoria crítica com uma nova 
reformulação a partir dos desdobramentos históricos consequentes da sua aplicação prática, 
que fora tentada como determinação de transformações sociais. A dialética marxista é refletida 
na sua relação com a filosofia hegeliana da história, o que amplia o materialismo histórico 
marxista contrapondo sujeito e objeto.
A filosofia schopenhaueriana é resgatada para compor a estrutura conceitual fundamental 
da teoria crítica a partir do significado de pessimismo e da crítica à racionalidade positivista. 
Vamos investigar as concepções de dor e sofrimento como fundamentais para a conscientização 
dos indivíduos em meio às relações sociais e políticas, contrapondo a razão com a vontade 
como essência determinante das condições e formas de vida no mundo.
Na segunda parte deste tópico estudaremos as possibilidades de garantia da verdadeira 
democracia através da

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