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DE UM CURSO A UM DISCURSO | Belo Horizonte | V. 1 | N. 1 | p. 13-15 | 2016 | ISSN 2526-267X | http://npa.newtonpaiva.br/psicologia PÁGINA 13 A IMPORTÂNCIA DO PSICODIAGNÓSTICO NA CONDUÇÃO CLÍNICA: CASO JOÃO 1 INTRODUÇÃO O Psicodiagnóstico é utilizado por psicólogos para avaliar po- tencialidades e dificuldades do sujeito. Geralmente, ocorre no con- texto clinico, e pode ter como foco a identificação ou a exclusão de uma hipótese diagnóstica (Cunha, 2007). Vale ressaltar que há uma diferença entre psicodiagnóstico e psicometria, pois, para Cunha (2007, p.23), o psicometrista “[...] tende a valorizar os aspectos téc- nicos da testagem, enquanto, no psicodiagnóstico, há a utilização de testes e outras estratégias [...]”. Foram utilizadas técnicas projetivas, aplicadas por meio dos testes HTP e Desenho de família. Para Fensterseifer & Werlang (2008, apud MIGUEL, 2014, p98), As técnicas projetivas se caracterizam pela apresentação de estímulos pouco estruturados, o que permite uma ampla variedade de respostas, maior foco nos aspectos qualitativos do desempenho e uma maior inte- ração do psicólogo com o avaliando. Os testes objetivos -também conhecidos como psicométri- cos- utilizados foram WISC-IV e ESI. Estes testes, de acordo com Pasquali (2001, p26), [...] fazem a suposição de que os traços que eles medem são dimen- sões, isto é, atributos que possuem diferentes magnitudes, grandezas essas que se expressam através de números. O paciente de 14 anos foi encaminhado por outro supervisor de práticas clínicas da abordagem existencial que já acompanhava o caso há seis meses e viu a necessidade da realização do psi- codiagnóstico, cujo objetivo era orientar a condução clínica. O psi- codiagnóstico foi realizado em dupla, por alunas do 7º período do curso de Psicologia, e ocorreu durante o primeiro semestre de 2016. 2 ENTREVISTA INICIAL E ANAMNESE Também conhecida como entrevista clínica, esta é parte im- portante do processo do psicodiagnóstico, pois, através dela, são colhidos os dados principais do caso, como a queixa principal, que possibilitam investigar outros aspectos relevantes a serem observa- dos durante o processo (TAVARES, 2007.). A entrevista foi realizada com os pais de João, com a senhora Bianca e com o senhor Vitor João, na qual foi apresentada a queixa inicial de que João teria um provável retardo, além de momentos de agressividade e dificuldades escolares. Foi esclarecido pela mãe que João possui idade óssea de uma criança de nove anos de ida- de, e, por isso, apresentava um retardo no desenvolvimento. Mesmo tendo sido acompanhado por diversos médicos, não foi relatado al- guma alteração biológica ou genética, sendo João, de acordo com a mãe, “um menino normal” (SIC). Os momentos de agressividade são relatados pela mãe como respostas agressivas que João tem, nos quais ele grita e xinga. João vive com a mãe, com dois irmãos mais velhos e com o JULIANA CAROLINE MAZZETTO¹ MÔNICA FREITAS FERREIRA NOVAES² 1 Artigo apresentado ao curso de Psicologia do Instituo de Ciências Biológicas e da Saúde do Centro Universitário Newton Paiva, referente à prática de Avaliação Psicológica II. ¹ Acadêmica do curso de Psicologia do Centro Universitário Newton Paiva, Belo Horizonte, Minas Gerais. Email: jcmazzetto@gmail.com 2 Orientadora do artigo, Psicóloga Clínica. Especialista em Avaliação e Diagnóstico Psicológico IEC – PUC Minas, Mestre em Psicologia Desenvolvimento Humano – UFMG. Professora de Avaliação Psicológica e Desenvolvimento Humano do Centro Universitário Newton Paiva. RESUMO: Este estudo de caso foi elaborado a partir da prática em Avaliação Psicológica realizada na Clínica Escola do curso de Psicologia da Newton Paiva. O Psicodiagnóstico foi estruturado em oito encontros sendo divididos da seguinte forma: dois encontros de entrevista ini- cial com os pais e a família, um encontro de anamnese com a mãe e, em grande parte, a realização da Hora do Jogo Diagnóstico, que pos- sibilita observar o comportamento da criança. Além disto, cinco encontros para aplicação de testes, sendo estes compostos pela aplicação do HTP (House-Tree-Person), que avalia aspectos da personalidade e dinâmica familiar, a aplicação da técnica do Desenho de Família, que avalia aspectos da dinâmica familiar, o teste WISC-IV (Escala Weschler de Inteligência para Crianças – 4ª versão) que avalia inteligência fluida, cristalizada e habilidades cognitivas e o teste ESI (Escala de Stress Infantil) que avalia o nível de estresse apresentado no momento. Ao final chegou-se a hipótese diagnóstica de regressão, insegurança, ansiedade e Síndrome do X-Frágil. PALAVRAS-CHAVE: psicodiagnóstico, caso clínico, testes psicológicos. A IMPORTÂNCIA DO PSICODIAGNÓSTICO NA CONDUÇÃO CLÍNICA: Caso João JULIANA CAROLINE MAZZETTO | MÔNICA FREITAS FERREIRA NOVAES DE UM CURSO A UM DISCURSO | Belo Horizonte | V. 1 | N. 1 | p. 13-15 | 2016 | ISSN 2526-267X | http://npa.newtonpaiva.br/psicologia PÁGINA 14 padrasto. O paciente visita o pai em alguns finais de semana, mas, de acordo com pai, o menino não gosta destas visitas. Os pais re- latam que João é muito querido por todos, ganha presentes dos três irmãos (dois por parte materna e um por parte paterna), e todos os amigos da escola gostam dele. Durante o período da tarde, ele fica com a avó materna. Bianca relata ser superprotetora, ter dado banho em João até seus 10 anos de idade, fazer tudo por ele e de não estar pronta para deixá-lo fazer as coisas sozinho, sem precisar mandá-lo fazer. Ela se refere a ele diversas vezes como “Joãozinho”. João se relaciona e brinca apenas com crianças com idade aproximada de oito anos, que possuem mais ou menos a mesma altura que ele. A mãe de João ressalta que durante o desenvolvimen- to infantil, ele apresentou diversas dificuldades de desenvolvimento, nasceu com fontanela aberta, orelhas presas, pé virado e não de- senvolvia como o esperado, demorou a andar e falar. Fez diversos exames em que não foram detectados nada. Há cerca de um ano e meio, passou a dormir sozinho - antes dormia na cama com a mãe - e, ainda algumas vezes, dorme com ela. Os pais relatam que ele não sofre nenhum tipo de bulling no ambiente escolar. Como hobbies, gosta de assistir televisão com a mãe nos finais de semana, andar de bicicleta com sua prima e jogar vídeo game. 3 COMPORTAMENTOS FRENTE AOS TESTES Como já citado anteriormente, foram utilizadas técnicas pro- jetivas e objetivas, além da hora do jogo diagnóstico. As técnicas projetivas propiciam ao avaliador maior oportunidade de observar os comportamentos do cliente por serem mais “livres” e geralmente apresentarem menos resistência do paciente. (SILVA, 2008, cap.10). O Jogo Diagnóstico “[...] consiste em uma entrevista diagnóstica que tem como base o brincar livre e espontâneo da criança.” (ARAÚ- JO, 2007, pg.135) Na primeira entrevista com João, foi utilizado o jogo Cara-a- cara, indicado para crianças a partir de seis anos de idade. Este jogo consiste em adivinhar o personagem do adversário através de perguntas sobre características físicas. João não conhecia o jogo, então, foram lidas as regras, assim como estavam escritas na caixa, porém, durante a partida, ele não compreendeu como se joga. O modo de explicar as regras foi alterado, e novamente durante a par- tida não foi compreendido, logo, foi explicado a ele, o jogo em uma linguagem mais infantilizada, e, como já estava próximo do termino da sessão, ao encerrar a terceira partida, João diz: “Ah, agora eu tava começando a entender”. O primeiro teste a ser utilizado foi o HTP, que engloba as- pectos da vida familiar e doméstica, através do desenho da casa, aspectos da personalidade e do self através do desenho da árvore e o desenho da pessoa, que apresenta uma visão de si mesmo e sua relação com o ambiente (SILVA, 2008, cap. 13).Antes mesmo de serem dadas todas as instruções do teste, João interrompe a fala das alunas, dizendo “Não sei desenhar, não gosto”, porém, realiza a tarefa. Ele realiza todos os desenhos de forma rápida, sem muita implicação, o período de latência mais curto foi de um segundo para a árvore e, o mais longo, de seis segundos para a casa. O tempo para completar o desenho ficou entre seis segundos para a árvore e quarenta e quatro segundos para o primeiro desenho da pessoa. Foi solicitado que João fizesse dois desenhos de pessoas, pois seu primeiro desenho foi de uma figura feminina. No terceiro encontro com João, foi aplicada a Técnica do De- senho de Família, no qual é solicitado ao cliente que desenhe uma família, seja ela real ou imaginária. Ele apresentou pouca implicação na realização da tarefa, bem como comportamentos similares à apli- cação do HTP. Em seguida à aplicação do Desenho de Família, foi realizada novamente a hora do jogo diagnóstico, utilizando o jogo de damas, o qual o paciente havia dito saber e gostar de jogar. Foi solicitado que ele explicasse as regras do jogo para as alunas, no entanto, ele criou regras que não existiam no jogo e durante as par- tidas, esquecia-se dessas regras, não capturava as peças, mesmo quando colocadas propositalmente para ele pegá-las, ele retrocedia e procurava outra peça com a qual pudesse jogar. Nos dois encontros seguidos, foi aplicado o teste WISC-IV, que avalia a inteligência de crianças e adolescentes, entre seis e dezes- seis anos. Durante a aplicação dos subtestes, João apresentou mui- ta dificuldade de entendimento das tarefas e não conseguiu com- pletar a maior parte. Nos subtestes que consistiam em respostas do paciente, João dava respostas aleatórias, com poucas inferências ou, após um momento longo de silêncio, dava respostas que não se aproximavam da pergunta. No segundo encontro, foi observado que João se apresentava mais retraído, se encolhendo na cadeira ao ponto de apoiar sua cabeça na mesa. Neste momento, foi encerrado o teste e por esse motivo não foram aplicados todos os subtestes. Em um dos encontros, João manifesta seu gosto por jogar UNO, um jogo de cartas. Isso se comprova quando disponibiliza- mos o jogo, e ele não só ensina todas as regras corretamente como também ganha diversas vezes. Por último, foi aplicada a Escala de Stress Infantil – ESI. Ape- sar da dificuldade de entender alguns itens, João o realizou sem maiores empecilhos. 4 RESULTADOS E CONSIDERAÇÕES FINAIS Os resultados obtidos no psicodiagnóstico reforçam o que foi observado nos primeiros encontros: de que João é um adolescen- te infantilizado, com comportamentos de ansiedade e insegurança, agindo de forma regressiva frente a relacionamentos, o que acarreta em um comportamento de agressividade verbal, introversão, rejei- ção e necessidade de aceitação imediata. Estes comportamentos também se repetem na dinâmica familiar, devido a um ambiente su- perprotetor e de grande supressão. Também foram observadas significativas dificuldades cogni- tivas nos aspectos da compreensão verbal (ICV 63), organização perceptual (IOP 55), memória operacional (IMO 49) e velocidade de processamento (IVP 68), que podem ocorrer à baixa estimulação adequada de suas habilidades cognitivas. Além disso, durante o estudo de transtornos do neurodesenvolvimento, na disciplina de Neurociências, foi observado que o paciente possui características associadas à Síndrome do X-Frágil que, Além do comprometimento intelectual, outros sinais podem contribuir para o diagnóstico clínico da SXF, tais como dismorfismos faciais (face alongada e mandíbula proeminente), anomalias de pavilhão auricular (grandes e /ou em abano), além de macrorquidia (aumento do volume testicular), que não são obrigatórios e costumam se tornar mais eviden- tes a partir da puberdade (VRIES et al, 1998 apud YONAMINE & SILVA, 2002, p982) Devido a isso, João foi encaminhado para a psicoterapia, para o neurologista e geneticista para avaliação das dificuldades específi- cas e da hipótese de Síndrome do X-Frágil, além do encaminhamen- A IMPORTÂNCIA DO PSICODIAGNÓSTICO NA CONDUÇÃO CLÍNICA: Caso João JULIANA CAROLINE MAZZETTO | MÔNICA FREITAS FERREIRA NOVAES DE UM CURSO A UM DISCURSO | Belo Horizonte | V. 1 | N. 1 | p. 13-15 | 2016 | ISSN 2526-267X | http://npa.newtonpaiva.br/psicologia PÁGINA 15 to para o reforço escolar. A mãe foi encaminhada para psicoterapia no intuito de aprender a lidar com o crescimento de seu filho, que, apesar de seu tamanho, é um adolescente. O psicodiagnóstico se mostra de extrema importância na pra- tica clínica, pois auxilia o profissional da Psicologia a dar direção ao tratamento, seja seguindo a hipótese diagnóstica levantada ou refutando-a. REFERÊNCIAS ARAUJO, M. de F. Estratégias de diagnóstico e avaliação psicológi- ca. Psicologia: Teoria e Prática. São Paulo, v. 9, n. 2, p. 126-141, dez. 2007 . Disponível em http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?scrip- t=sci_arttext&pid=S1516-36872007000200008. Acesso em 05 nov. 2016. CUNHA, J. A. Fundamentos do Psicodiagnostico. In: CUNHA, J. A. [et al], Psicodiagnóstico-V, 5. ed. rev. e ampl. – Livro Eletrônico. – Porto Alegre: Artmed, 2007. Cap. 2. MIGUEL, F. K. Mitos e verdades no ensino de técnicas projetivas. Psi- co-USF, Itatiba, v. 19, n. 1, p. 97-106, abr. 2014. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413- 82712014000100010 Acesso em 27 out. 2016. PASQUALI, L. Testes Psicológicos: conceitos, história, tipos e usos. In: PASQUALI, L. Técnicas de Exame Psicológico – TEP: manual. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2001. Cap. 1. SILVA, M. C. V. M. Técnicas projetivas gráficas e desenho infantil. In: VIL- LEMOR-AMARAL, A. E. & WERLANG, B. S. G. [org.]. Atualizações em métodos projetivos para avaliação psicológica. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2008. Cap.10. SILVA, M. C. V. M. A técnica da casa-árvore pessoa (HTP) de John Buck. In: VILLEMOR-AMARAL, A. E. & WERLANG, B. S. G. [org.]. Atualizações em métodos projetivos para avaliação psicológica. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2008. Cap.13 TAVARES, M. A Entrevista Clínica. In: CUNHA, J. A. [et al], Psico- diagnóstico-V, 5. ed. rev. e ampl. – Livro Eletrônico. – Porto Alegre: Artmed, 2007. Cap. 5. YONAMINE, S. M.; SILVA, A. A. da. Características da comunicação em in- divíduos com a síndrome do X frágil. Arq. Neuro-Psiquiatr., São Paulo , v. 60, n. 4, p. 981-985, dez. 2002 . Disponível em <http://www.scielo. br/ scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-282X2002000600018 &lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 08 nov. 2016.
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