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ENSAIO DE FLEXÃO EM PASTILHAS CERÂMICAS Kaoma Betega RESUMO: Este artigo tem por escopo destacar os resultados do ensaio de flexão para corpos de provas de materiais cerâmicos. Ensaios de flexão são testes muito utilizados para avaliar materiais. Na sua forma mais simples, o ensaio de flexão consiste na aplicação de uma carga crescente em determinados pontos de uma barra geometricamente padronizada. A carga aplicada parte de um valor inicial igual à zero e aumenta lentamente até a ruptura do corpo de prova. O ensaio de flexão é utilizado para determinar as propriedades de resistência à flexão, módulo de elasticidade, módulo de ruptura na flexão, deformação sob flexão, etc. Por meio das medidas e forças de ruptura tornou-se possível construir tabelas e gráficos para análise dos dados através da estatística de Weibull. Essas propriedades são importantes para o controle de qualidade e para avaliar o desempenho dos materiais plásticos quando submetidos a uma carga de flexão. Os materiais cerâmicos ensaiados foram 6 lotes de corpos de prova cerâmicos, contendo aproximadamente 13 amostras cada lote. Observou-se que a geometria e os defeitos intrínsecos de determinado material interferem diretamente na sua resposta mecânica. Palavras-Chave: Cerâmicas; Flexão; Estatística de Weibull. 1. INTRODUÇÃO O ensaio de flexão consiste na aplicação de uma carga crescente em determinados pontos de uma barra geometricamente padronizada. A carga aplicada parte de um valor inicial igual à zero e aumenta lentamente até a ruptura do corpo de prova. É um ensaio bastante aplicado em materiais frágeis como cerâmicos e metais duros, ferro fundido, aço ferramenta e aço rápido, pois fornece dados quantitativos da deformação que esses materiais podem sofrer quando sujeitos a cargas de flexão. [1] Por meio do ensaio de flexão, algumas propriedades são obtidas, como: módulo de ruptura na flexão, módulo de elasticidade, módulo de resiliência, módulo de tenacidade, etc. [1] Os materiais dúcteis não fornecem resultados quantitativos qualificados para o ensaio de flexão devido a capacidade de absorver grandes deformações. Quando sujeito a esse tipo de carga há a ocorrência de dobramento do corpo de prova. Sendo assim, para esses casos, seria necessário um ensaio de dobramento. [1] Há dois tipos de ensaio, o ensaio de flexão em quatro pontos, em que a barra é apoiada nas extremidades e a carga é aplicada em dois pontos na região central, separados por uma distância padronizada e o ensaio de flexão em três pontos, o qual a barra a ser testada é apoiada nas extremidades e a carga é aplicada no centro do corpo de prova. [1] Os resultados fornecidos pelo ensaio de flexão podem variar com a temperatura, a velocidade da aplicação da carga, defeitos superficiais ou intrínsecos do material e características microscópicas, e, principalmente, com a geometria da seção transversal da amostra. [1] 1.1. CERÃMICAS A maioria dos materiais cerâmicos são compostos formados entre elementos metálicos e não metálicos, para os quais as ligações interatômicas ou são totalmente iônicas ou são predominantemente iônicas, mas com alguma natureza covalente. Materiais cerâmicos são obtidos por processos de tratamento térmicos sob alta temperatura, sendo assim um material com alto ponto de fusão. [1] Os materiais cerâmicos que são predominantemente compostos por ligações iônicas, são compostos por íons eletricamente carregados. Seriam os cátions (carregados positivamente) e ânions (carregados negativamente). O grau de natureza iônica dos materiais cerâmicos é dependente das eletronegatividades dos átomos ligados por ligação iônicas, sendo que esses materiais são compostos por ao menos dois elementos. [1] Os materiais cerâmicos são duros e frágeis, com baixa tenacidade e ductibilidade e, consequentemente, alta fragilidade, excelente estabilidade química, pois são formados por fortes ligações. [1] 1.2. ENSAIO DE FLEXÃO NAS CERÃMICAS O comportamento mecânico dos materiais cerâmicos frágeis não é normalmente avaliado por um ensaio de tração, devido a diversos motivos. Portanto é mais adequado submeter os materiais cerâmicos a ensaios de flexão transversal, em que um corpo de prova na forma de barra com seção transversal retangular ou transversal é flexionado até a ruptura, utilizando uma técnica de carregamento em três ou quatro pontos. No entanto, os materiais frágeis apresentam resultados com grande dispersão, de modo que em geral é necessário realizar vários ensaios para quantificar a tensão de resistência à flexão com uma precisão adequada. [1] Há dois principais tipos de ensaio de flexão, o ensaio de flexão em quatro pontos, conforme Figura 1. Figura 1 - Método do Ensaio de Flexão em quatro pontos. Ensaio de flexão em três pontos, conforme Figura 2. Figura 2 - Método do Ensaio de Flexão em três pontos. O ensaio de flexão consiste em aplicar uma carga P crescente em uma barra de geometria padronizada, onde as fibras superiores são comprimidas e as fibras inferiores tracionadas, e assim mede-se o valor desta carga versus a deformação máxima. [3]. A tensão de flexão (𝜎𝐹) é uma das propriedades avaliadas no ensaio de flexão, calculada conforme Equação 1. 𝜎𝐹 = 𝑀𝐹 ∗ 𝑐 𝐼 (𝐸𝑞𝑢𝑎çã𝑜 1) Sendo que 𝑀𝐹 é o momento fletor, ou seja, é o produto da força pela distância do ponto de aplicação da força ao ponto de apoio original. A fórmula matemática para calcular o momento fletor é representada na Equação 2. 𝑀𝐹 = 𝐹𝐿 4 (𝐸𝑞𝑢𝑎çã𝑜 2) Onde, F é a força de flexão e L a distância entre os apoios. Além do momento fletor, para calcular a tensão de flexão é necessário saber o momento de inércia (I), conforme Equações 3 e 4. Para corpos de seção circular: 𝐼 = 𝜋𝑅4 4 (𝐸𝑞𝑢𝑎çã𝑜 3) Para corpos de seção retangular: 𝐼 = 𝑏𝑑³ 12 (𝐸𝑞𝑢𝑎çã𝑜 4) Já ‘c’ é a distância entre a linha neutra e a superfície do corpo de prova, esquematizada na Figura 3. Em seções circulares, é o raio da amostra e, em seções retangulares, é a metade da altura da amostra. O módulo de tensão de ruptura também pode ser estabelecido. Sendo: Para seções retangulares. 𝜎 = 3𝐹𝐿 2𝑏𝑑² (𝐸𝑞𝑢𝑎çã𝑜 5) Para seções circulares. 𝜎 = 𝐹𝐿 𝜋𝑅3 (𝐸𝑞𝑢𝑎çã𝑜 6) Figura 3 - Representação esquemática da superfície neutra e da linha neutra sob a qual a seção gira sem sofrer deformação durante o ensaio. [1] Além disso, pode-se calcular o módulo de elasticidade, conforme Equação 7. O módulo de resiliência, conforme Equação 8. O módulo de tenacidade, conforme Equação 9. A resistência à flexão depende da probabilidade de existência de uma falha capaz de iniciar a propagação de uma trinca. Mesmo sendo do mesmo material a probabilidade varia de amostra para amostra, dependendo das técnicas de fabricação e posteriores tratamentos. (MIGLIORI, 1992) A ocorrência dessa variedade de resultados fez-se desenvolver ferramentas para determinar a probabilidade da ocorrência de falha no material garantindo a confiabilidade dos dados obtidos a partir do ensaio de um determinado lote de amostras. (MIGLIORI, 1992) Os resultados dos ensaios de flexão são afetados, sobretudo em materiais frágeis, por fatores como a velocidade de aplicação da força de ensaio, o comprimento do vão entre apoios e as dimensões da seção transversal do corpo de prova. Em corpos de prova com a mesma seção edimensão, quanto menor for a distância entre apoios, mais elevado é o módulo de ruptura obtido. Finalmente, do mesmo modo que na tração e na compressão, quanto maior for a velocidade de aplicação da força, mais elevada é a resistência à flexão. Se o material for dúctil, não haverá ruptura e a falha será por escoamento. Se o material for frágil, o corpo de prova se romperá, conforme Figura 4. Figura 4 - Ruptura dos corpos de prova no ensaio de flexão para material dúctil (a) e material frágil (b). 1.3. ESTATÍSTICA DE WEIBULL Medidas da resistência mecânica de materiais frágeis mostram uma grande variação de resultados que requerem uma análise estatística. Uma importante consequência do comportamento estatístico é que a resistência dos materiais mostra um pronunciado efeito de tamanho no qual a resistência diminui com o aumento do tamanho ou volume do corpo de prova. Em materiais frágeis onde a resistência é determinada pela distribuição de defeitos, a concentração de tensões pode estar localizada numa descontinuidade, isto é, a falha pode ocorrer em qualquer lugar na estrutura onde o pico de tensão é mais baixo, mas atua sobre um grande volume de material. [3] A estatística de Weibull consiste na descrição da probabilidade acumulada de fratura de uma amostra cerâmica quando submetida a tensões de tração. De modo simplificado essa estatística pode ser aplicada para relacionar a probabilidade acumulada de fratura (P) e a tensão de tração aplicada a um material cerâmico em sua forma usual de dois parâmetros como na Equação 10. (MIGLIORI, 1992) Equação 10 Essa equação deve ser utilizada para uma peça de volume V, a um estado de tensão qualquer maior que zero, sendo: • P - A probabilidade de falha; • m - O módulo de Weibull; • 𝜎0 - A resistência característica; • 𝜎 - A tensão de ruptura do material. Através do método de Weibull pode-se conhecer parâmetros como a resistência característica (𝜎0) e o módulo de Weibull (m). A resistência característica descreve a probabilidade de falha para um determinado nível de tensão aplicada, enquanto o módulo de Weibull mostra a reprodutibilidade da resistência mecânica do material, ou seja, ele fornece um indicativo da qualidade do material que se está trabalhando. Quanto maior o módulo de Weibull, menor é a dispersão dos valores de resistência mecânica. A obtenção desses parâmetros é feita através da linearização da equação mostrada anteriormente. Com a linearização obtém-se a Equação 11. Equação 11 Sendo que, para calcular a tensão característica, utiliza-se: 𝜎0 = exp ( 𝐵 𝑚 ) Equação 12 Após um ensaio de um lote de “N” amostras, a estimativa dos parâmetros de Weibull de um determinado material só pode ser feito através de uma regressão entre a probabilidade de falha F e os valores experimentais das tensões de ruptura σ. O que pode ser feito dispondo o conjunto de dados experimentais de modo crescente e, de acordo com a posição “n” nesse arranjo, segundo a Equação 12. 𝐹 = 𝑛 𝑁 + 1 (𝐸𝑞𝑢𝑎çã𝑜 12) • n é a ordem numérica crescente das amostras; • N é o número total de amostras. A Tabela 1 mostra algumas propriedades mecânicas para alguns materiais cerâmicos de acordo com a literatura. 1.4. CORPO DE PROVA A preparação das amostras é bastante simples: geralmente em formato retangular, com relação comprimento/espessura maior que 15 mm e relação largura/espessura menor que 10 mm. Utilizou-se em média 13 corpos de prova para cada lote. Este ensaio é regido por normas como por exemplo a ASTM E855-90. 2. METODOLOGIA Cada grupo recebeu um lote com aproximadamente 13 corpos de prova cerâmicos. Inicialmente se fez a remoção da cola presente nos corpos de prova, assim como a medição da largura e da espessura destes para que então começasse os ensaios. O corpo de prova, depois de ser medido com o paquímetro, foi colocado na máquina utilizada para realizar o ensaio de flexão sobre dois apoios de distâncias variadas (span), onde o corpo de prova era devidamente colocado na horizontal sobre os dois apoios de modo que a força fosse aplicada no meio da amostra. Os spans utilizados foram de 30 e 60 mm de acordo com o tamanho da amostra. A aplicação da força, no centro horizontal do corpo de prova, era feita a uma taxa de constante pela máquina. Os dados de carga máxima e deformação máxima eram então coletados para o tratamento de dados. O mesmo procedimento foi feito para todas as amostras. 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES Com os ensaios mecânicos de flexão concluídos, tornou-se possível obter os valores para as forças de ruptura, e, através destas, a tensão de ruptura 𝜎. Além disso, para cada número de amostras de cada grupo, estipulou-se a probabilidade de falha, conforme tabelas a seguir. F – Força; b – Largura; l – Comprimento (span); d – Espessura; 3.1. GRUPO 1 Tabela 2 – Parâmetros obtidos para o grupo 1. Figura 5 – Gráfico tensão de ruptura ordenada versus probabilidade de falha para o grupo 1. Sendo, O módulo de Weibull - A A tensão característica obtida por meio da Equação 12. 3.2. GRUPO 2 Tabela 3 – Parâmetros obtidos para o grupo 2. Figura 6 – Gráfico tensão de ruptura ordenada versus probabilidade de falha para o grupo 2. 3.3. GRUPO 3 Tabela 4 – Parâmetros obtidos para o grupo 3. Figura 7 – Gráfico tensão de ruptura ordenada versus probabilidade de falha para o grupo 3. 3.4. GRUPO 4 Tabela 5 – Parâmetros obtidos para o grupo 4. Figura 8 – Gráfico tensão de ruptura ordenada versus probabilidade de falha para o grupo 4. 3.5. GRUPO 5 Tabela 6 – Parâmetros obtidos para o grupo 5. Figura 9 – Gráfico tensão de ruptura ordenada versus probabilidade de falha para o grupo 5. 3.6. GRUPO 6 Tabela 6 – Parâmetros obtidos para o grupo 6. Figura 10 – Gráfico tensão de ruptura ordenada versus probabilidade de falha para o grupo 6. Figura 11 – Gráfico tensão de ruptura versus probabilidade de falha de todos os materiais ensaiados. Tabela 7 – Parâmetros obtidos por meio do ensaio de flexão para todas as amostras. Por meio da análise dos gráficos e das tabelas é possível verificar que o material que apresenta menor resistência à flexão foi o do grupo 2. Isso se deve ao fato deste material ser extremamente frágil, além de apresentar porosidades em sua estrutura, como mostra a Figura 12, as quais funcionam como concentradores ou amplificadores de tensão e, portanto, as fissuras geradas se propagam mais rápido e reduzem a resistência mecânica deste material. Figura 12 – Porosidade da estrutura. A Tabela 7 mostra os resultados do módulo de Weibull (m), da tensão onde a probabilidade de falha é igual a zero (σµ), da tensão característica de Weibull (σ0), a qual é um parâmetro de referência assumindo probabilidade de falha igual a 0,63, da média das tensões (σ̅) edo desvio padrão das tensões (S). O valor do módulo de Weibull (m) determina a qualidade dos materiais cerâmicos utilizados, pois quanto maior é o valor do módulo de Weibull (m) menor é a dispersão dos dados de tensão de ruptura a flexão. Além disso, σ0 define o quão baixa ou quão alta é a tensão de ruptura dos corpos de prova. Assim, como para o módulo de Weibull (m), quefornece um indicativo da reprodutibilidade da resistência mecânica do material, é desejável que o valor de (σ0) seja o maior valor possível, o que confirma o fundamento de que o do Grupo 5 apresentou a melhor resistência mecânica. Desta forma, foi possível observar que os materiais dos grupos com “m” mais elevados, apresentaram relação entre desvio padrão e média de tensões mais baixas. 4. CONCLUSÃO Com base nas respostas obtidas, após a realização dos ensaios de flexão em materiais cerâmicos, pôde-se constatar na prática o comportamento frágil característico desta classe de materiais. Estes resultados foram alcançados a partir de estimativas de probabilidade de falha quando submetidos à uma determinada tensão. Além disso, uma compreensão acerca da resistência à ruptura através do módulo de Weibell fora proporcionado. Ao realizar a análise e comparação dos valores encontrados, foi possível concluir que os seis materiais apresentam comportamentos relativamente diferentes entre si. Percebeu-se que o material que apresentou comportamento mais frágil foi a cerâmica do grupo 2, por outro lado, a cerâmica do grupo 5 foi a que melhor resistiu aos ensaios de flexão feitos. O Grupo II, com tensão característica extremamente baixa, confirmou seu comportamento frágil devido à alta quantidade de defeitos como poros, os quais funcionam como concentradores ou amplificadores de tensão, afetando de forma significativa a resistência mecânica destes materiais cerâmicos. O valor do módulo de Weibull (m) determina a qualidade dos materiais cerâmicos utilizados, pois quanto maior é o valor do módulo de Weibull (m) menor é a dispersão dos dados de tensão de ruptura a flexão. Sendo assim, o material com a menor dispersão foi o material do grupo 4 (m=1,58). 5. BIBLIOGRAFIA [1] CALLISTER, W. D. Ciência e engenharia de materiais: uma introdução. 9 ed., Rio de Janeiro: LTC, 2002, 866 p. ISBN: 9788521631033. [2] CHIAVERINI, Vicente. Aços e Ferros Fundidos: características gerais, tratamentos térmicos, principais tipos. 7 ed. São Paulo: ABM, 2008. [3] GARCIA, A; SPIM, J,; DOS SANTOS, C. Ensaios dos materiais. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos - Grupo Editorial Nacional GEN, 2000. 365p. ISBN: 978-85-2162067-9.
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