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Apostila Comunicação e Expressão

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UNIP-UNIVERSIDADE PAULISTA
CAMPUS SOROCABA
APOSTILA DE COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
SOROCABA/ SP
2013
1
SUMÁRIO
UNIDADE 1: Texto e contexto: conhecimento linguístico, conhecimento
enciclopédico ou conhecimento de mundo, conhecimento interacional;..........4
UNIDADE 2: Texto e contexto, contextualização na escrita; .............................8
UNIDADE 3: Intertextualidade;.........................................................................13
UNIDADE 4: As informações implícitas: pressuposto e subentendido;............19
UNIDADE 5: As condições de produção do texto: sujeito (autor/leitor), o
contexto (imediato/histórico) e o sentido (interação/interpretação);................. 21
 UNIDADE 6: A alteração no sentido das palavras: Metáfora e Metonímia...25
UNIDADE 7: Os procedimentos argumentativos em um texto........................28
UNIDADE 8: O artigo de opinião e o texto crítico (resenha), enquanto gêneros
discursivos.......................................................................................................43
2
OBJETIVOS GERAIS E ESPECÍFICOS
1. Ampliar os conhecimentos e vivências de comunicação e de novas
leituras do mundo; 
2. Propiciar a compreensão e valorização das linguagens utilizadas nas
sociedades atuais e de seu papel na produção de conhecimento;
3. Vivenciar processos específicos da linguagem e produção textual: ouvir e
falar; ler e escrever – como veículos de integração social;
4. Desenvolver recursos para utilizar a língua não apenas como veículo de
comunicação, mas como espaço constitutivo da identidade, nas produções
acadêmicas;
5. Seu universo lingüístico, incorporando recursos de comunicação oral e
escrita;
6. A capacidade de leitura e redação, a partir da análise e criação de
textos;
7. O pensamento analítico e crítico, estabelecendo associações e
correlações de conhecimentos e experiências;
8. Seus recursos pessoais para identificação, criação, seleção e
organização de idéias na expressão oral e escrita;
9. A atitude de respeito ao desafio que constitui a interpretação e
construção de um texto.
3
UNIDADE 1: TEXTO E CONTEXTO: CONHECIMENTO LINGUÍSTICO,
CONHECIMENTO ENCICLOPÉDICO E OU CONHECIMENTO DE MUNDO,
CONHECIMENTO INTERACIONAL;
Concepção de leitura:
Numa visão centrada na interação, entendendo-se a leitura como
processo dialógico. Conforme a tese de Bakhtin (2003), o leitor pode construir
compreensões diferentes das contidas no texto e/ou pretendidas pelo autor, a
partir de hipóteses e inferências que lhe permitem posicionar-se diante do texto
lido. Ou seja, “o leitor, ao construir o sentido do texto, o faz baseando-se
em seus valores sociais, seus conhecimentos prévios e suas
experiências de vida” (Souza, 2003, p.97). Esse processo é de natureza
sociointerativa, uma vez que as hipóteses e inferências são constituídas a
partir de conhecimentos, crenças, valores, costumes etc. que, a um só
tempo, resultam de determinados padrões de cultura e contribuem para
que essa cultura se construa e reconstrua, num movimento recíproco,
como constituída e constituinte, segundo a visão de Bourdieu (1998). 
Assim, não só o leitor constrói os sentidos do texto, como também
constrói a si mesmo a partir do texto, e essas construções repercutem, de
alguma forma, no âmbito social. Além disso, é preciso considerar que um
texto sempre está relacionado a outros textos (Bakhtin, 2003; Silva, 2003;
Souza, 2003) e que a percepção dessa intertextualidade é fundamental no
processo da leitura. É essa dimensão que oportuniza ao leitor a interação, não
apenas com o texto que lê, mas através dele com muitos outros textos e
autores, que se relacionam uns com os outros, formando redes de informação,
de pensamento, de sentido, que são constituídas ao longo do processo
histórico.
A interação texto e leitor:
É essencial por parte do leitor uma posição ativa diante do texto para
que seja possível “entrar” nele. É preciso que o leitor mobilize seu
conhecimento prévio e suas experiências. A leitura baseia-se na
percepção e na interpretação dos elementos linguísticos do texto, e como
já sabemos, é um processo interativo entre o leitor e um texto.
Como processo interativo entre um leitor e um texto, a leitura pode ser
tratada em termos de competência comunicativa. Um leitor que tenha
competência comunicativa é aquele que poderá entender um texto da
maneira como o escritor queria que fosse entendido, porém, leituras
diferentes podem ocorrer e são determinadas por compreensões
diferentes do tema em questão.
Se dissermos que existem leituras erradas, podemos também ser
acusados de acreditar que só há uma leitura correta, o que não é verdadeiro, já
que existem várias interpretações possíveis para um mesmo texto.
Leitura e produção de sentido do texto:
Segundo (KOCH, 2003, 30). Um texto se constitui enquanto tal no
momento em que os parceiros de uma atividade comunicativa global, diante de
uma manifestação linguística, pela atuação conjunta de uma complexa rede de
fatores de ordem situacional, cognitiva, sociocultural e interacional, são
capazes de construir, para ela, determinado sentido.
4
 Nota-se assim que “[...] o sentido não está no texto, mas se constrói
a partir dele, no curso de uma interação” (KOCH, 2003, 30) e para que os
indivíduos construam um sentido “[...] faz-se necessário o recurso aos
vários sistemas de conhecimentos e a ativação de processos e
estratégias cognitivas e interacionais”. 
Conhecimento Prévio: linguístico, textual e de mundo.
A compreensão de um texto é um processo que se caracteriza pela
utilização de conhecimento prévio: o leitor utiliza na leitura o que ele já sabe,
o conhecimento adquirido ao longo de sua vida. Pode-se dizer talvez que
sem o engajamento do conhecimento prévio do leitor não haverá
compreensão. O conhecimento linguístico, o conhecimento textual e o
conhecimento de mundo devem ser ativados durante a leitura para o leitor
poder chegar ao momento da compreensão, momento esse em que as partes
discretas se juntam para criar um significado.
a) O conhecimento linguístico
O conhecimento linguístico, que abrange desde o conhecimento sobre
como pronunciar as palavras em uma língua, passando pelo conhecimento de
vocabulário e regras gramaticais, chegando até o conhecimento sobre o uso
da língua, desempenha um papel central no processamento do texto. Entende-
se por processamento aquela atividade pela qual as palavras, ou seja,
unidades discretas e distintas, são agrupadas em unidades ou fatias maiores,
também significativas, chamadas constituintes das frases. À medida que as
palavras são percebidas, a nossa mente está ativa, ocupada em construir
significados, e um dos primeiros passos nessa atividade é o agrupamento
destas palavras em frases com base no conhecimento gramatical de
constituintes. Este conhecimento linguístico permitirá que o processamento do
texto continue, até se chegar eventualmente à sua compreensão.
Como exemplo de conhecimento linguístico, temos a coesão e
coerência textual: 
A coesão textual pode ser conceituada como o fenômeno que diz respeito ao
modo como os elementos linguísticos presentes na superfície textual se
encontram interligados entre si, por meio de recursos também linguísticos,
formando sequências veiculadoras de sentidos. (KOCH: 2003, 45)
Já a coerência textual, diz respeito ao modo como os elementos
subjacentes à superfície textual vêm a constituir na mente dos interlocutores,
uma configuração veiculada de sentidos. (KOCH, 2003, 52).
Observemas seguintes expressões:
a) Maria foi ao cinema, mas está feliz.
mas: expressa idéia contrária. A coerência está comprometida.
 b) Eu tenho um gato.
Meu gato é bonito. Gosto muito do meu gato. Meu gato come peixe.
A coesão está comprometida
b) Conhecimento textual
O conhecimento textual diz respeito, a saber, por exemplo, de que
gênero se trata o texto, qual a sua tipologia, as características desses gêneros
textuais, linguagem verbal e não-verbal etc.
5
Observe o texto a seguir: A polícia revista criança em favela do Rio.
-Achou alguma coisa? - Nenhum futuro.
Quem conhece o gênero charge, saberá de pronto a intencionalidade
pretendida pelo autor, explorando a linguagem verbal e não-verbal.
c) O conhecimento de mundo 
O conhecimento do mundo, como sinônimo de conhecimento
enciclopédico, diz respeito às informações sobre determinado tópico,
armazenadas na memória do leitor. Metodologicamente, essa delimitação de
termos possibilita maior objetividade e clareza, assegurando níveis de
compreensão mais adequados.
Apesar dessa distinção, é importante considerar que a natureza do
conhecimento que o leitor já possui, seja num nível mais geral ou mais
específico, é, em alguma medida, semelhante do ponto de vista cognitivo, já
que se trata do armazenamento dos conhecimentos ou experiências
anteriormente vivenciados.
A charge apresentada traz uma ironia com relação a uma situação que
ocorre no Rio de Janeiro. Assim, aquele que tem acompanhado os fatos, terá
um conhecimento de mundo armazenado que tornará fácil a compreensão do
texto.
Texto para reflexão: A VOVÓ NA JANELA
Em uma pesquisa internacional sobre aprendizado de leitura, os
resultados da Coréia pareciam errados, pois eram excessivamente elevados.
Despachou-se um emissário para visitar o país e checar a aplicação. Era isso
mesmo. Mas, visitando uma escola, ele viu várias mulheres do lado de fora das
6
janelas, espiando para dentro da sala de aula. Eram as avós dos alunos,
vigiando os netos, para ver se estavam prestando a atenção nas aulas.
A obsessão nacional que leva as avós às janelas é a principal razão
para os bons resultados da educação em países co etnias chinesas. A
qualidade do ensino é um fator de êxito, mas, antes de tudo, é uma
conseqüência da importância fatal atribuída pelos orientais à educação.
Foi feito um estudo sobre níveis de stress de alunos, comparando
americanos com japoneses. Verificou-se que os americanos com notas muito
altas eram mais tensos, pois não são bem-vistos pelos colegas de escolas
públicas. Já os estressados no Japão eram os estudantes com notas baixas,
pela condenação dos pais e da sociedade.
Pesquisadores americanos foram observar o funcionamento das casas
de imigrantes orientais. Verificou-se que os pais, ao voltar para a casa, passa a
comandar as operações escolares. A mesa da sala transforma-se em área de
estudo, à qual todos se sentam, sob seu controle estrito. Os que sabem inglês
tentam ajudar os filhos. Os outros- e os analfabetos- apenas vigiam. Os pais
não se permitem o luxo de outras atividades e abrem mão da TV. No Japão, é
comum as mães estudarem as matérias dos filhos, para que possam ajudá-los
em suas tarefas de casa.
Fala-se do milagre educacional coreano. Mas fala-se pouco do esforço
das famílias. Lá, como no Japão, os cursinhos preparatórios começam quase
tão cedo quanto a escola. Os alunos mal saem da aula e têm de mergulhar no
cursinho. O que gastam as famílias pagando professores particulares e
cursinhos é o mesmo que gasta o governo para operar todo o sistema escolar
público.
Esses exemplos lançam algumas luzes sobre o sucesso dos países do
Leste Asiático em matéria de educação. Mostram que tudo começa com o
desvelo da família e com sua crença inabalável de que a educação é o segredo
do sucesso. Países como Coréia, Cingapura e Taiwan não gastam muito mais
do que nós em educação. A diferença está no empenho da família, que turbina
o esforço dos filhos e força o governo a fazer a sua parte.
É curioso notar que os nipo-brasileiros são 0,5% da população de São
Paulo. Mas ocupam 15% das vagas da USP. Não obstante, seus antepassados
vieram para o Brasil praticamente analfabetos.
Muitos pais brasileiros de classe média achincalham nossa educação.
Mas seu esforço e sacrifício pessoal tendem a ser ínfimos. Quantos deixam de
ver TV para assegurar-se de que os seus pimpolhos estão estudando?
Quantos conversam frequentemente com os filhos? As pesquisas mostram que
tais gestos têm impacto enorme sobre o desempenho dos filhos. Se a família é
a primeira linha de educação e apoio à escola, que lições estamos dando às
famílias mais pobres?
O Ministério da Saúde da União Soviética reclamava contra o Ministério
da Educação, pois julgava que o excesso de horas de estudo depois da escola
e nos fins de semana estava comprometendo a saúde da juventude.
Exatamente a mesma queixa foi feita na Suíça.
No Brasil, uma pesquisa recente em escolas particulares de bom nível
mostrou que os alunos do último ano do ensino médio disseram dedicar
apenas uma hora por dia aos estudos – além da aulas. Outra pesquisa indicou
que os jovens assistem diariamente a quatro horas de TV. Esses são os alunos
que dizem estar se preparando para vestibulares impossíveis.
7
Cada sociedade tem a educação que quer. A nossa é péssima, antes de
tudo, porque aceitamos passivamente que assim seja, além de não fazer nossa
parte em casa. Não podemos culpar as famílias pobres, mas e a indiferença da
classe média? Está em boa hora para um exame de consciência. Estado,
escola e professores têm sua dose de culpa. Mas não são os únicos
merecendo puxões de orelha.
 Cláudio de Moura Castro
 (economista)
UNIDADE 2: TEXTO, CONTEXTO, CONTEXTUALIZAÇÃO NA ESCRITA
Texto = Unidade linguística concreta da comunicação. Ele não é um
aglomerado de frases. Uma mesma frase pode ter significados distintos
dependendo do contexto. As frases têm que se encaixar no contexto para
formarem um todo significativo.
Contexto = É uma unidade linguística maior onde se encaixa uma unidade
linguística menor. Assim, a frase encaixa-se no contexto do parágrafo, o
parágrafo encaixa-se no contexto do capítulo, o capítulo encaixa-se no
contexto da obra toda.
Contexto discursivo = Dá-se através dos seguintes elementos: papéis
sociais; intenção do locutor; conhecimento de mundo do interlocutor;
circunstâncias históricas e sociais. É a situação na qual é produzido o texto.
Interação linguística ( comunicação) = dependerá do contexto discursivo
para acontecer.
 Ao conjunto da atividade comunicativa, ou seja, ao texto e ao contexto
discursivo reunidos, chamamos discurso.
 Discurso = texto + contexto discursivo
Textualidade, coerência e coesão = As relações existentes entre as palavras,
frases e idéias é que fazem um texto apresentar textualidade, ou seja, ser um
todo significativo e não um aglomerado de palavras e frases desconexas. Entre
os fatores que contribuem para formar a textualidade, há a coesão e a
coerência.
 
Coesão e Coerência
Coesão = São articulações gramaticais existentes entre palavras, orações,
frases, parágrafos e partes maiores de um texto que garantem sua conexão
sequencial. Diz-se que um texto tem coesão quando seus vários enunciados
estão organicamente articulados entre si, quando há concatenação entre eles.
São várias as palavras que assumem, num texto, a função de conectivo:
preposições; conjunções; pronomes; advérbios.Ex: _ Quando meu filho pôs um piercing dei a maior força! Aí , ele quis colocar
outro e outro, e outro... Achei todos legais, bonitos... Mas, eu alertei ... que ele
poderia ter problemas. 
 O que garante o encadeamento semântico de um texto é sua coesão, isto é, a
maneira de recuperar, em uma sentença B, um termo presente em uma
sentença A. Em "Chame os meninos e dê-lhes o presente", o pronome lhes da
segunda sentença recupera semanticamente o termo meninos. Trata-se de
coesão textual. A sentença também expressa que foi feito um período
8
composto de duas orações coordenadas e ligadas pela conjunção e que
também é elemento de coesão e dá coerência ao texto. A língua dispõe de
amplos recursos para garantir a coerência do texto. São os mecanismos de
coesão. Esses mecanismos podem ser representados por:
a) emprego adequado de tempos verbais: Embora não estivessem
gostando muito, eles participavam da festa. (verbos no pretérito
imperfeito)
b) emprego adequado de pronomes, conjunções, preposições, artigos: O
papa João Paulo II visitou o México. Na capital mexicana, Sua
Santidade beijou o chão.
c) Emprego adequado de vocabulário.
 
Quebra de coesão textual: Regências incorretas, concordâncias
incorretas, frases inacabadas, erro de acentuação e crase, emprego de
conectivos errados etc.; são vários os fatores que podem contribuir para a
ruptura da coesão textual. Repare no texto abaixo:
 
Eu sou um jogador onde que sempre sei que vou fazer muito.
Fazem cinco anos que estou na seleção brasileira.
Eu sou um jogador e aí é o problema, todos os jogos que joguei 
lutei muito para marcar.
Ela é mulher, mas é capaz.
Encontrei apenas belas palavras o qual não duvido da sinceridade 
de quem as escreveu.
 
Coerência = É o resultado da articulação das idéias de um texto; é a
estruturação lógico-semântica que faz com que numa situação discursiva
palavras e frases componham um todo significativo para os interlocutores. A
coerência faz com que uma simples sequência de palavras ou frases seja
considerada um texto. Nos exemplos que vimos acima, a coesão inadequada
deixou os textos incoerentes. Entretanto, um texto pode não ter coesão e
mesmo assim ser coerente. Leia o texto de Oswald de Andrade que vem a
seguir:
 
INFÂNCIA
 O camisolão
O jarro
O passarinho
O oceano
A visita na casa que a gente sentava no
sofá
 
ADOLESCÊNCIA
Aquele amor
Nem me fale
 
MATURIDADE
O Sr. e Sra Amadeu
Participam a V. Exa
O feliz nascimento
9
De sua filha
Gilberta
 
(Oswlald de Andrade. Trechos escolhidos. 
Rio de Janeiro, Agir, 1967.)
 
O que chama a atenção nesse texto é que não há elementos coesivos a
retomar o que foi dito antes ou a encadear os segmentos. Apesar disso, é
possível atribuir um significado unitário a ele. Ao lê-lo, logo percebemos que
um dos sentidos possíveis é que se trata de flashes de cada uma das três
grandes fases da vida: a infância, a adolescência e a maturidade. A primeira é
caracterizada pela descoberta do mundo (o oceano), por brincadeiras e
travessuras etc.; a segunda é marcada pelo início das experiências amorosas;
a terceira é assinalada pela formalidade e pelas responsabilidades. Se a
primeira parte é uma sucessão de palavras, se a segunda é uma frase em que
falta um nexo sintático e se a terceira é uma participação de nascimento da
filha, por que entendemos o texto? Porque é coerente.
Coerência é a relação que se estabelece entre as partes do texto,
criando uma unidade de sentido. E a coesão auxilia no estabelecimento da
coerência, mas não é algo necessário para que ela se dê. Temos, como vimos,
conjuntos linguísticos que são texto porque são coerentes, embora não tenham
coesão. 
 As relações existentes entre as palavras, frases e idéias é que fazem um
texto apresentar textualidade, ou seja, ser um todo significativo e não um
aglomerado de palavras e frases desconexas. Entre os fatores que contribuem
para formar a textualidade, há a coesão e a coerência.
Geralmente, quando alguém produz um texto, acha que está sendo claro
o suficiente para transmitir o sentido desejado ao interlocutor. Este, por sua
vez, também se esforça para compreender a mensagem e, inicialmente,
acredita que o texto tem coerência.
Às vezes, porém, ocorrem falhas no processo comunicativo. Por exemplo,
o locutor pode não calcular bem o sentido que pretendia dar a seu enunciado,
deixando o texto ambíguo, ou o interlocutor, talvez por lhe faltarem
conhecimentos sobre o vocabulário ou informações sobre a realidade, pode
não alcançar o sentido pretendido pelo locutor.
Assim, em princípio, não existem textos coerentes e coesos em si
mesmos. A textualidade está diretamente relacionada ao contexto discursivo,
ou seja, à situação que gerou o texto.
 Coerência + coesão + contexto discursivo = comunicação bem sucedida.
Você pode ver abaixo alguns exemplos de textos que apresentam problemas
de coesão e, consequentemente, de coerência. 
a) A televisão não é perfeita, mas pode se extrair muita coisa boa dela. É o
caso da TV Cultura onde há vários programas educativos, excelentes, onde a
criança aprende muito. Sendo assim, a televisão não é um estímulo à
ignorância e sim um estímulo à sabedoria, só se torna ignorante uma pessoa
que teve uma má educação onde aprendeu desde criança as coisas ruins da
vida. 
b) Hoje em dia, a televisão divulga programas impossíveis de crianças, jovem
e adultos não ficarem por dentro do que acontecem. Já as crianças a respeito
10
do sexo, as senas da televisão mostra, mas uma pode estar descobrindo o
sexo, ou seja, os prazeres da vida. 
c) No Brasil, sempre que se descobre uma corrupção é feito um
sensacionalismo em cima e, de repente, surge outro escândalo para abafar o
anterior, ou seja, não se têm leis severas onde pessoas que estão envolvidas
sejam punidos exemplarmente para que os mesmos não continuem a cometê-
los. 
d) Agora o caso mais surpreendente onde o ser humano pode chegar foi o
caso do índio, onde jovens ou animais tocaram fogo nele, pensando que fosse
um mendigo; e daí, e se fosse um mendigo? temos que avisá-los que o mesmo
também é gente como nós, e qual o sentido de tocar fogo em uma pessoa que
não está fazendo mal a ninguém, uma pessoa que por natureza já é sofrido e
pobre. Estes animais qual será a punição? 
 
 Exercícios
1) Quase sempre, o humor das anedotas não está no texto em si, mas na falta
de sintonia entre o texto e o contexto discursivo. Leia esta anedota contada
por Ziraldo:
Dois garotos brigavam furiosamente na rua.
Um senhor passa por eles e separa a briga.
_ Você não tem vergonha? Bater num menino bem menor que você, seu
covarde!
E o menino:
_ O senhor queria o quê? Que eu ficasse esperando ele crescer?
 
(Mais anedotas do bichinho da maçã. 10 ed. São Paulo, Melhoramentos, 1993.)
 
a) Ao lembrar que um dos participantes da briga era maior do que o outro,
o que o homem pretendia?
_______________________________________________________
b) Pela resposta do garoto, é possível extrair algumas conclusões acerca
da interação linguística estabelecida entre eles. Indique-a (as):
 O garoto não ouviu bem o que o homem disse.
O garoto pode ter ouvido e compreendido bem a fala de seu interlocutor, mas
não ter concordado com a crítica.
O garoto ouviu, mas não percebeu a intenção comunicativa da fala de seu
interlocutor.
Ao receber a mensagem, o garoto não levou em conta um dado cultural do
mundo em que vivemos: numa briga deve haver igualdade de condições entre
os participantes. 
2) A maneira como certos textos são escritos pode produzir efeitos de
incoerência, como no exemplo: "Zélia Cardoso de Mello decidiu amanhã
oficializar sua união com ChicoAnysio". É o que ocorre no trecho a seguir:
As Forças Armadas brasileiras já estão treinando 3 mil soldados para atuar no
Haiti depois da retirada das tropas americanas. A Organização das Nações
Unidas (ONU) solicitou o envio de tropas ao Brasil e a mais quatro países,
disse ontem o presidente da Guatemala, Ramiro de León.
 
a)Qual o efeito da incoerência presente nesse texto?
11
b) Do ponto de vista sintático, o que provoca esse efeito?
.
 
c) Reescreva o trecho, introduzindo apenas as modificações necessárias
para resolver o problema.
 
 3) Às vezes, quando um texto é ambíguo, é o conhecimento que o leitor
tem dos fatos que lhe permite fazer uma interpretação adequada do que lê. Um
bom exemplo é o trecho que segue, no qual há duas ambiguidades, uma
decorrente da ordem das palavras, e a outra, de uma elipse de sujeito.
O presidente americano (...) produziu um espetáculo cinematográfico em
novembro passado na Arábia Saudita, onde comeu peru fantasiado de
marine no mesmo bandejão em que era servido aos soldados americanos.
 (Veja, 9 jan. 1991)
a) Quais as interpretações possíveis das construções ambíguas?
 
b) Reescreva o trecho de modo a impedir interpretações inadequadas.
 c) Que tipo de informação o leitor leva em conta para interpretar
adequadamente esse trecho?
 . 
 
4) O pior tipo de defeito que um texto pode ter é significar o oposto do que o
redator pretendia. A propósito disso, leia o trecho que segue:
Crime racial – O olho da manchete de página do Diário Catarinense dizia:
“Maurício José Lemos Freire, titular do primeiro órgão do mundo a tratar
especificamente de casos de racismo, deu palestra em escola em Joinville”.
Aí o título botou tudo a perder: DELEGACIA DEFENDE CRIME RACIAL. 
Meu secretário ficou indignadíssimo: 
 "Considerado, que diabo de delegacia é essa que defende o crime racial?
Quer dizer que se um monstro qualquer espancar um doce crioulinho como
aquele Kennedy da falecida novela Pátria minha, é só correr para a
delegacia que estará a salvo???"
 
Parece que é. Fascistas de todo o mundo, acorrei! 
(Revista Imprensa, 92 : 31, maio 1995.)
 
 Essa incoerência foi provocada por um problema de estruturação
sintática da frase. Qual é ele? Qual seria a versão adequada desse título?
 
 Fonte:
CEREJA, Willian Roberto. Gramática reflexiva: texto, semântica e interação.
SãoPaulo, Atual, 1999.
12
FIORIN, José Luiz e PLATÃO, Francisco. Lições de texto: leitura e redação.
São Paulo, Ática, 2006.
___________________________________. Para Entender o Texto: leitura e
redação. 17a ed., São Paulo Ática, 2008.
 
UNIDADE 3: INTERTEXTUALIDADE
Um acontecimento que, apesar de ter existido sempre, somente foi
enfatizado nos estudos de linguagem mais recentes. Esse acontecimento é o
diálogo que cada texto faz com muitos outros, antigos ou contemporâneos, de
tal forma que nenhum texto emerge, absolutamente original, nas nossas
interações.
Podemos dizer que tudo o que pensamos, fazemos, falamos ou
escrevemos tem a ver com o que muitos pensaram, fizeram, falaram ou
escreveram. Da mesma forma, embora nem sempre tenhamos consciência
disso, os textos que produzimos são o resultado da influência maior ou menor,
mais clara ou quase imperceptível, de outros textos.
O nome desse acontecimento é meio longo, mas consegue designar o
que pretende: as ligações entre textos, a intertextualidade. Assim como é
impossível imaginar nossas vidas desligadas de todas as outras, é muito difícil
pensar na completa desvinculação dos textos que produzimos dos demais, que
circulam ou circularam na nossa cultura.
Quando percebemos com clareza o processo da intertextualidade, o
papel do ponto de vista e as influências de ambos em nossa vida diária e no
contato com as obras de arte, a nossa leitura de mundo torna-se mais crítica e
mais sensível.
Dividimos nossa unidade em três seções:
1ª. O diálogo entre textos: a intertextualidade – vai retomar o conceito de
intertextualidade e mostrá-la como elemento constante em nossa vida. 
2ª. As várias formas de intertexualidade – vai trabalhar os vários tipos de
intertextualidade: da citação à paródia. 
3ª. O ponto de vista – vai discutir o ponto de vista em todo tipo de
interlocução.
1ª. O diálogo entre textos: a intertextualidade
É sempre complicado tentar imaginar o que se passou com nossos
ancestrais, lá longe, no início da civilização. Mas não é absurdo supor que
desde lá os homens exercem influência uns sobre os outros, e que somos hoje
o que somos, para o bem e para o mal, como herança das muitas conquistas e
dos muitos problemas que as gerações vão legando às seguintes.
A história “mais recente” da humanidade, a partir da Antiguidade, vem
mostrando como homens e culturas são capazes de deixar marcas indeléveis
para a posteridade. Pense na importância dos gregos e romanos, dos árabes,
italianos, franceses, em determinados momentos da nossa história. Pense na
influência dos estadunidenses, hoje.
Outro ponto a considerar é que não são apenas fatos “históricos” que
contam, nos rumos de nossa vida: fatos miúdos, do cotidiano só nosso,
também são marcados por influências diversas, exercidas por pessoas mais
13
próximas de nossa vida, assim como nossa atuação influencia outras pessoas.
Enfim, atuamos sobre os outros e somos influenciados pela atuação dos
outros.
Um último dado a registrar é o fato de que, sobretudo a partir do final do
século XX, na época chamada de pós-moderna, os avanços científicos e
tecnológicos, da indústria cultural e da chamada globalização marcam muitos,
rápidos e simultâneos movimentos sociais e culturais, que têm traços
marcantes, como:
1 – A facilidade de reprodução das manifestações culturais: os equipamentos
de cinema, de vídeo, de fotografia e gráficos tornam muito mais acessíveis
todos os acontecimentos
e as manifestações, artísticos ou não.
2 – O entrelaçamento dessas manifestações: nada mais pertence a um campo
fechado: a arte, as ciências estão agora num campo que não é exclusivo e
separado. Nas artes, por exemplo, os recursos de uma linguagem servem às
outras manifestações. Aqui, unem-se música, teatro, vídeo num mesmo
espetáculo. Ali, um filme se vale do romance, da música, do desenho.
3 – Tais manifestações como expressões coletivas: cada vez mais, percebem-
se tais manifestações como expressões coletivas. Nelas interferem muitas
pessoas, e também são resultado de muitos outros trabalhos.
Se conhecimentos, ações e valores são em grande parte a herança das
gerações anteriores, ou resultam do acesso cada vez mais fácil ao mundo
globalizado, o mesmo podemos dizer de nossas interações e, portanto, dos
textos que produzimos.
Em todas as situações apresentadas até aqui, percebemos que a “voz”
de alguém, ou de uma comunidade, aparece no que fazemos ou dizemos. Em
outras palavras: de maneira mais ou menos clara, em extensão maior ou
menor, nossos textos retomam outros textos.
Atividade 1
1. Leia em seguida o texto de Millôr Fernandes.
Millôr Fernandes é importante autor de textos poéticos e de teatro, além
de jornalista de projeção nacional. Representante histórico de uma imprensa
combativa, participou de projetos jornalísticos como O Pasquim, periódico de
oposição da década de 60, e Bundas, tentativa de ressuscitar, de certa forma,
o jornal anterior. Seus textos jornalísticos são marcados pela crítica e pelo
humor, características que você vai poder observar agora.
14
A – Com que texto dialoga mais claramente o texto de Millôr Fernandes?
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_______________________________________________________________
B – Como de alguma forma o autor nos prepara para uma leitura diferente do 
texto original?
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_______________________________________________________________
C – Que diferenças você percebeu entre o texto original e este?
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D – Como o narrador estabelece a diferença entre fome e gula?
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_______________________________________________________________
Você já percebeu que, se está claro que podemos aproveitar o
pensamento dos outros, está evidente também que esse aproveitamento pode
acontecer de muitas maneiras. Quando dizemos que alguém copiou uma ideia
15
nossa, ou que torceu, distorceu, modificou nosso pensamento, estamos
mostrando que a intertextualidade pode apresentar-se de várias formas.
2. As várias formas de intertextualidade.
Nem sempre é fácil classificar todas as ocorrências da intertextualidade,
uma vez que ela toma extensões e formas muito diferentes, na mesma medida
em que o próprio texto tem infinitas possibilidades de realização.
Por exemplo: as adaptações para a televisão, o cinema e o teatro de
determinado romance podem ser mais ou menos fiéis ao original. Às vezes, a
telenovela funde duas ou três obras de um autor. Em outras casos, ela é
“inspirada” em um romance: isso quer dizer que o adaptador se sentiu muito
livre para modificar a história, conservando dela apenas alguns pontos, sua
questão central ou algumas personagens. Há algumas formas bem
identificáveis da intertextualidade:
Atividade : Você conhece a história do Patinho Feio, com toda certeza, um dos
contos infantis mais populares em todo o mundo, escrito pelo dinamarquês
Hans Christian Andersen.
Faça abaixo o resumo dessa história tal como você a conhece.
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Possivelmente, o resumo que você fez é muito próximo da narrativa de
Andersen. Bem simplificado, seria mais ou menos assim: O patinho, ao nascer,
era muito diferente dos irmãos, maior e feio. Repudiado por todos, resolve fugir.
Vai pelo mundo afora, até que encontra em um lago lindas aves brancas.
Encantado, aproxima-se delas, quando percebe sua imagem refletida nas
águas, muito parecida com a dos cisnes, que o acolhem como o mais bonito
dentre eles.
Você e nós fizemos com a história do patinho feio um tipo de
intertextualidade chamada paráfrase. Trata-se da retomada de um texto sem
mudar seu fio condutor, a sua lógica. 
Quando alguém diz: “Parafraseando Fulano de Tal…”, está afirmando
que vai seguir o pensamento do autor citado. Quando você resume o capítulo
da novela, ou conta uma piada que você acabou de ouvir, está usando a
paráfrase
Resumos, adaptações, traduções tendem a ser paráfrases.
Paráfrase é o tipo de intertextualidade em que são conservados a ideia e
o fio condutor do texto original.
16
Atividade:
A – Temos nesse pequeno conto um narrador-observador. Digamos que ele é
até objetivo demais: ao contrário do conto de Andersen, em que o narrador tem
uma atitude muito favorável ao patinho, aqui, a falta de ligação com a
personagem é desconcertante. Através de que recursos você percebe esse
distanciamento?
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_______________________________________________________________
B – Além de claramente dialogar com a narrativa de Andersen, há dentro da
própria narrativa acima um outro momento de diálogo com o conto clássico,
quando o pato parece “prever” um futuro melhor para si. 
a) Esse dado lhe parece aumentar ou diminuir a decepção final?
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
b) Qual foi a única novidade que o crescimento trouxe para o patinho?
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_______________________________________________________________
Jon Scieszka é um escritor norte-americano de grande projeção. A
maioria de seus contos reescrevem os clássicos infantis de um ângulo diferente
e de forma sempre humorística. 
Possivelmente, O Patinho Realmente Feio é muito diferente da história
que você contou, um pouco antes: o fio condutor rompeu-se, com relação ao
17
conto matriz. A idéia da compensação do sofrimento, da transformação, por
exemplo, desaparece aqui.
A narrativa original vem subvertida. Neste caso, temos uma paródia.
Paródia é um tipo de processo intertextual em que o texto original
perde sua idéia básica, seu fio condutor. A narrativa é invertida, ou
subvertida. Frequentemente, a paródia é crítica e questionadora.
Outros processos da intertextualidade dizem respeito a uma retomada
de pontos específicos de determinado texto. Ditados ou frases usados por
alguém e que você próprio gosta de repetir. Nesse caso, você usou a citação,
comum também nos trabalhos científicos, usada sempre que queremos
comentar para comprovar ou para reprovar determinada ideia.
Depois de expressões como “Bem diz minha mãe que…”, ou “Como
dizia meu avô ...”, sempre surge uma citação.
A epígrafe é um texto, em geral curto, transcrito no início de outro
texto, para indicar que o pensamento desenvolvido nesse último tem a
ver com o outro, justifica-se a partir do outro. Ela ocorre tanto em textos
literários como científicos.
A referência, como o nome diz, é a lembrança de passagem ou
personagem de um texto. Quando alguém diz que se sentiu o “próprio
Romário” ou “a própria rainha da Inglaterra”, está se referindo a um jogador de
futebol ou à rainha Elisabeth.
A referência bibliográfica está relacionada também com essa prática
intertextual: estamos dizendo que lemos muito e que não estamos sozinhos
na exposição de nossas idéias. Quando dizemos que alguém é referência
em alguma coisa, estamos afirmando que seu pensamento orienta a posição
de outras pessoas.
Existe ainda a alusão, que é o aproveitamento de um dado de
determinado texto, sem maiores explicitações. Como a alusão não indica a
fonte, é um dado mais vago, e o conhecimento do interlocutor é fundamental
para percebê-la ou não.
Vale lembrar que nem sempre temos a consciência de que estamos
sendo “intertextuais”, da mesma forma que o reconhecimento da
intertextualidade pelo interlocutor exige uma razoável “leitura de mundo”.
Depois de tantas retomadas do pensamento alheio, você pode estar se
perguntando: onde fica a originalidade dos textos? Na perspectiva da
intertextualidade, existe plágio?
.
3. O ponto de vista.
Sabemos que o texto ocorre em determinada situaçãohistórico-social e
cultural, o que significa dizer que está sempre exposto a transformações. Cada
época e cada lugar assimilam os acontecimentos da vida e os interpretam de
acordo com seus próprios dados. Isso, que ocorre com a sociedade, ocorre
também com cada indivíduo.
18
Portanto, o diálogo que o sujeito e a sociedade fazem com os textos de
outra época e outro lugar apresenta a maneira particular de olhar que têm tal
sujeito e tal sociedade. Esse olhar peculiar define o ponto de vista. 
IMPORTANTE:
Os diretores de cinema, os fotógrafos, os pintores, que entendem
muito bem dessas coisas, escolhem cuidadosamente de onde vão filmar
ou pintar, para dar ao “leitor” a impressão de algum objeto ou pessoa
muito grande ou muito pequena. Em outras palavras, eles escolhem o
ponto de vista, ou o ângulo de onde vão fazer o leitor ver determinada
cena. Com isso, criam a sensação de força e poder, ou de insignificância
e desamparo. Aliás, a arte trabalha essencialmente com interpretações, e
as grandes obras de arte estão sempre nos convidando a rever o mundo a
partir de uma nova ótica. 
Os ângulos diferentes de ver o mundo e suas ocorrências devem nos
ajudar a pensar e valorizar a democracia: se a mesma coisa tem muitos lados,
não podemos simplesmente determinar que o lado que nós vemos é o melhor,
muito menos o único. Essa é uma ilusão autoritária, que nos cabe combater.
E a originalidade? E o plágio? Esperamos que tenha ficado claro que o
olhar diferente lançado sobre um texto cria um texto diferente, em alguma
medida, original. Se houver uma pura e simples cópia do texto, sem a
agregação de nenhum ângulo novo, nenhuma diferença (ainda que seja a
síntese) significativa, então temos o plágio, que pode ser mais, ou menos,
consciente. Diante do plágio, o melhor é buscar o original, ainda que para usá-
lo em outro contexto, não é mesmo?
UNIDADE 4: AS INFORMAÇÕES IMPLÍCITAS: PRESSUPOSTO E
SUBENTENDIDO
Não é apenas na nossa experiência de mundo, no contexto da interação
ou no conhecimento compartilhado que temos com nossos interlocutores que
encontramos as “pistas” para (re)construir o mundo textual. Muitas das
informações não precisam ser explícitas porque podemos recuperá-las a partir
da significação das próprias palavras e expressões que já foram usadas no
texto.
É nas relações lógicas de implicação que construímos os significados
implícitos, ao construir ou ler um texto, muitas ideias ou informações nem
precisam ser explicitadas porque ficam entendidas na própria situação de
interlocução. Há também ideias que ficam implícitas porque decorrem, como,
consequência inevitável, de outras já expressas no texto. É especificamente
destas últimas que estamos tratando aqui: dos significados implícitos ou
implicados.
Numa leitura ou numa conversa, a continuidade de sentidos é proposta
pelo elaborador ou autor do texto, mas é na interlocução que se processa a
interpretação dos sentidos de um texto. É, portanto, um trabalho conjunto. Por
isso, dizemos que “para bom entendedor, meia palavra basta”: o conhecimento
partilhado pode suprir muitas informações que nem precisam ficar explícitas.
Uma boa leitura, ou compreensão, de texto provoca o exercício
constante de associar informações implícitas às informações explícitas
19
veiculadas. Algumas vezes até nos antecipamos ao que o texto informa. É
como se nosso cérebro estivesse o tempo todo montando e desmontando
quebra-cabeças: tiramos conclusões de toda a informação que processamos.
Essa é mais uma maneira de construir significados implícitos.
Importante!
Chama-se conclusão à informação que decorre, necessariamente,
de uma ou mais informações. Assim, numa operação lógica, podemos, a
partir do significado de uma idéia, chegar a outra, ou outras, a ela
relacionada. O exemplo clássico de raciocínio lógico para chegar a uma
conclusão é:
Todos os homens são mortais.
Sócrates é homem.
Conclusão: Logo, Sócrates é mortal.
Atividade :A que conclusões podemos chegar a partir dos seguintes pares de
informações?
1.Todos os convidados para a festa da empresa são clientes de prestígio.
Marcelo é cliente da empresa, mas não foi convidado.
Logo,
ele_____________________________________________________________
Essa conclusão exemplifica como usamos o raciocínio sobre a
articulação entre informações para construir o mundo textual. Quando esse
caminho para recuperar informações explícitas fica “bloqueado” – por não
fornecer pistas suficientes, por exemplo –, o texto se torna incoerente porque
não permite a recuperação das relações lógicas.
Naturalmente esse “jogo de montar e desmontar” também se aplica ao
processo de produção de textos: escrevemos sempre pensando em como o
leitor “montaria e desmontaria” nossas informações; por isso, é importante que
nosso texto marque também as orientações sobre como articular as
informações. 
Concluindo: as informações implícitas são percebidas não pelo
significado das expressões usadas nas frases, mas por dados do contexto em
que a interação acontece. Essas informações podem ficar marcadas
gramaticalmente nas frases ou apenas sugeridas pela situação. Essa distinção
marca dois tipos de enunciados implícitos: pressupostos e subentendidos 
1.Pressupostos: os pressupostos, embora tragam informações implícitas,
são marcados lexicalmente na frase . As informações implícitas decorrem de
palavras ou expressões contidas na frase, verdadeiras ou admitidas como tal
– são os marcadores de pressuposição. . 
Marcadores de pressupostos: 
a) Adjetivos: André é o meu filho mais esperto .
20
 b) Verbos que indicam mudança ou permanência de estado: Renato continua 
emagrecendo. 
c) Advérbios: A produção agropecuária está totalmente nas mãos dos 
brasileiros. 
d) orações adjetivas: Os brasileiros, que não se importam com a coletividade , 
só se preocupam com o seu bem-estar e, por isso, jogam lixo na rua, fecham 
os cruzamentos etc. 
e) conjunções: Frequentei a Universidade, mas aprendi bastante 
2.Subentendidos: Os subentendidos são insinuações não marcadas
lexicalmente. São produzidos durante a interação, por conhecimentos
partilhados entre os participantes. As informações não são ditas, mas apenas
sugeridas, como na frase: 
“ O mérito e a capacidade não são sempre levados em conta.” (quando 
dirigida a uma pessoa que tenha acabado de receber uma promoção) 
UNIDADE 5: AS CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO DO TEXTO: SUJEITO
(AUTOR/LEITOR), O CONTEXTO (IMEDIATO/HISTÓRICO) E O SENTIDO
(INTERAÇÃO/INTERPRETAÇÃO);
1. O que é texto?
2. Onde está o sentido de um texto: no leitor, autor ou no próprio texto?
3. O que você entende por contexto?
O sentido está no texto? Se está, por que um mesmo texto é entendido
de formas diferentes por diferentes leitores? Por que alguém entende um texto
e outra pessoa pode não entender esse mesmo texto? Se o sentido estivesse
lá, não seria de se esperar que todos ou entendessem ou não entendessem
um determinado texto e, se entendessem, entendessem da mesma forma?
O sentido está na palavra? Está no texto?
Eu martelei o dedo, pregando um quadro. 
Infere-se que foi com um martelo
Passei a noite martelando essa idéia na cabeça. / Passei a noite
com essa ideia martelando na cabeça.
Infere-se que foi com um martelo?
Quando dizemos que o sentido está no texto, na verdade, queremos dizer
que há elementos lingüísticos que sinalizam um caminho para o leitor. Isso é
feito pelas escolhas lexicais e dos mecanismos gramaticais feitas pelo autor.
Por exemplo, quando dizemos:
a. João é maconheiro
21
 ou 
b. João é usuário de drogas
Estamos dizendo coisas diferentes. Em (a) João é marginalizado em (b)
João é vítima.
O mesmo acontece nasescolhas morfo-sintáticas feitas abaixo
(a) Cigarro, eu não fumo.
Eu não fumo cigarro.
Eu não fumo.
Eu ainda não fumo.
(a) Ela morreu.
Ela foi morta.
(b) Uma boa mulher
Uma mulher boa.
Há também mecanismos lexicais e gramaticais de coesão utilizados pelo
autor no momento da escrita do texto, como pronomes anafóricos e outras
formas de retomada, artigos, elipse, concordância, correlação entre os tempos
verbais, conjunções, preposições, advérbios de seqüência, etc.
Não vamos entrar na discussão sobre coesão e coerência, porque isso vai
render mais um monte de páginas. Por hora, basta dizer que a coesão são
mecanismos que ajudam o leitor a construir a coerência do texto. O que
significa isso? Significa que o texto traz vários elementos lingüísticos que
devem ser interrelacionados pelo leitor para construir a coerência ou
significado(s) para aquele texto naquela determinada situação. Disso pode-se
concluir que:
 - a coerência não está no texto, mas é construída pelo leitor.
 - não há texto sem coesão.
 - a coesão tem pelo menos duas faces: 
- instruções que aparecem no texto.
- a realização dessas instruções pelo leitor.
Ex.: Paulo é um menino levado. Aquele pestinha quase afogou o gato da minha
vizinha.
Para compreender essa frase o leitor tem de realizar algumas operações de
coesão indicadas no texto. Uma delas é ligar “Aquele pestinha” a “Paulo”, uma
vez que esse é o antecedente provável. Outra é ligar “minha vizinha” como
sendo a vizinha do narrador e não de Paulo. Essas operações é que são, no
final das contas, a coesão.
Vocês estão vendo de onde vem a confusão texto e sentido? Há uma
confusão entre texto (produto/físico) e leitura (processo/mental). Para muita
gente texto só é texto quando faz sentido, no entanto, uma coisa é o objeto
físico e outra coisa é o processamento mental. Como diz o Prof. Milton do
Nascimento: “texto é risco no papel e som no ar”. O sentido não está no texto,
ele precisa ser construído pelo leitor.
O sentido está no autor, é definido por ele? É difícil e perigoso afirmar
isso. O autor no momento da produção do texto tem um sentido e um propósito
em mente e procura escolher os elementos linguísticos que ele presume que
vão ajudar o leitor a recuperar algo o mais próximo possível do sentido
22
pretendido. Isso não garante que o leitor vá entender exatamente o que o autor
pretendia.
O sentido está no leitor? Tudo indica que quem constrói o(s) sentido(s)
para o texto no momento da leitura é o leitor, mas isso não significa que ele
pode ler como bem quiser. Há, no texto, indicações que ele não pode ignorar.
Acreditar que qualquer leitura vale porque devemos respeitar a interpretação
feita pelo leitor é jogar por terra dois processos ao mesmo tempo: a leitura e a
escrita. Se eu posso ler o que eu quero em qualquer texto, como autor, eu não
preciso me preocupar com os elementos que vão compor meu texto, porque o
leitor vai entender o que ele quer mesmo. Essa é uma visão extremamente
perigosa.
O sentido está no CONTEXTO? Contexto são todas as informações que
acompanham o texto colaborando com ele em sua compreensão. Quando
discutimos a moral das fábulas, poderíamos ter levantado a hipótese de que a
diferença entre os escritores está justamente no motivo de serem de épocas
diferentes e terem vivido contextos diferentes. Conhecendo o contexto somos
capazes de entender melhor o texto. 
O contexto pode ser imediato ou situacional:
O que se diz Carlos Drummond de Andrade 
confusão! Que vida! Que talento! Que alívio! Que
nada
Que frio! Que vento! Que calor! Que caro! Que absurdo! Que bacana! Que 
tristeza! Que tarde! Que amor! Que besteira! Que esperança! Que modos! Que 
noite! Que graça! Que horror! Que doçura! Que novidade! Que susto! Que pão! 
Que vexame! Que mentira! Que Assim, em plena floresta de exclamações, vai 
se tocando a vida 
(http://w.portalimpacto.com.br/docs/JoanaVestF3Aula16_09.pdf) 
Nesse poema, o seu sentido está tanto no título “o que se diz”, quanto no
último verso “Assim, em plena floresta de exclamações, vai se tocando a vida”,
pois são eles que nos faz compreender sobre o que poema está tratando: o
fato de nós exclamarmos todos os dias e muitas vezes não percebemos.
Observe que os elementos que nos dão sentido ao texto estão no próprio texto,
por isso, falamos de um CONTEXTO IMEDIATO. 
O contexto situacional é formado por elementos exteriores ao texto. Esse
contexto acrescenta informações históricas, geográficas, sociológicas e
literárias, para maior eficácia da leitura que se imprime ao texto. Para isso,
exige-se uma postura ativa do leitor, ou seja, é necessário que ele tenha um
conhecimento de mundo, a fim de depreender o sentido exigido. 
Esse conhecimento de mundo está ligado à nossa vivência, pois durante a
nossa vida, vamos armazenando informações que serão importantes para
entendermos e interpretarmos o mundo. Por isso, é fundamental a leitura,
23
assistirmos ao noticiário, irmos a museus, termos contato com pessoas que
nos acrescentarão conhecimento. Quando temos suporte para lermos um texto
e retirarmos dele o que está além dos seus aspectos linguísticos, a nossa
leitura será muito mais prazerosa e consequentemente, o texto será
enriquecido, às vezes, reinventado, e até recriado. Faça a leitura desta charge: 
Qual a leitura que você fez? Você a compreendeu? Do que está tratando a
charge? Para compreendê-la é necessário que você observe todos os
aspectos que estão envolvidos na construção dessa charge: o que está escrito
na lousa, o logotipo que está abaixo da lousa, as pessoas que estão nas
carteiras, o que essas pessoas carregam em sua cintura, o que está escrito no
balão, a forma como a pessoa que está ensinando diz etc. Quando a
observamos, vemos que é uma charge que trata das olimpíadas que ocorrerá
no Rio de Janeiro em 2016. Hoje, o Rio é conhecido como uma cidade violenta
e há uma grande preocupação quanto à segurança, quando houver as
olimpíadas. Nessa charge, os bandidos estão já se preparando para esse
evento, pois quando forem “atuar”, farão na língua dos estrangeiros. É claro
que para entender isso, tivemos de ativar o nosso conhecimento das línguas
portuguesa e inglesa e do nosso conhecimento de mundo, ou seja, recorremos
ao CONTEXTO SITUACIONAL
A compreensão de um texto vai além da simples compreensão de termos nele
impressos; não basta o simples reconhecimento de palavras, parágrafos, é
preciso levar em conta em que situação ele é produzido. A compreensão exige
do leitor uma sintonia com os fatos situados no seu dia a dia e que aparecem
subliminarmente impressos na mensagem textual. 
Isso ocorre também em relação à produção textual, pois todas as vezes em
que se produz um texto, seja ele oral ou escrito, ele é determinado por uma
série de fatores que interferem, por exemplo, em sua estrutura e na
organização de suas informações. Um desses fatores é o interlocutor a quem
se dirige o texto. Mesmo na situação em que o indivíduo parece falar consigo
mesmo (com os próprios botões), a fala tem como interlocutor a representação
24
de si mesmo que o indivíduo construiu. Assim, sempre que se escreve e
sempre que se fala isso é feito tendo em vista um interlocutor, alguém que,
obviamente, interfere na produção textual. Nas situações reais de interação, as
pessoas levam em conta, dentre outros, os seguintes fatores: 
Daí se vê que toda produção textual é construída a partir e em função desses
fatores que configuram o contexto enunciativo, ou seja, todas essas produções
textuais são marcadas e definidas pelos lugares/papéis sociais que
caracterizam, na situação de interação comunicativa. 
Por queescrevo? Para quem escrevo? 
De onde eu escrevo? 
Que efeitos de sentido quero provocar? 
Que efeitos de sentido NÃO quero provocar? O que sei sobre o assunto de que
vou tratar? 
UNIDADE 6: ALTERAÇÃO NO SENTIDO DAS PALAVRAS: A METÁFORA E
A METONÍMIA
Lua cheia
Boião de leite que a noite leva com
mãos de treva,
pra não sei quem beber.
E que, embora levado
muito devagarinho,
vai derramando pingos brancos
pelo caminho.
 Cassiano Ricardo
As palavras do texto não estão usadas em sentido próprio. "Boião de leite"
não significa "vaso bojudo, de boca larga, cheio de leite", mas "lua cheia";
"pingos brancos" significa "estrelas"; "caminho", "rota seguida pela lua em seu
movimento no céu".
Cabe, a essa altura, indagar que tipos de mecanismos permitem essa
alteração do significado das palavras. Essa mudança baseia-se sempre em
algum tipo de relação que o produtor do texto vê entre o significado habitual e o
significado novo. Assim, "boião de leite" designa "lua" porque ambos os
significados apresentam pontos de interseccão: a forma arredondada e a cor
branca (do leite e da lua). "Pingos de leite" e "estrelas" também contêm uma
intersecção: o tamanho pequeno e a cor.
Essa relação possibilita ao poeta dar a um termo o significado de outro. Sua
funcionalidade no texto é a de apresentar as coisas do mundo, os fatos e as
pessoas de forma nova, mais viva, enfatizando certos aspectos da realidade.
No poema em questão, apresenta-se a lua no cenário noturno de uma maneira
diferente. Consegue-se isso principalmente mostrando a noite como alguém a
carregar cuidadosamente em suas mãos um jarro de leite que vai derramando
gotas brancas. O texto não explorou os termos habitualmente empregados
25
para descrever o céu noturno, mas termos que normalmente denotam outro
tipo de realidade e que, no texto, com novos significados, serem para mostrar o
percurso da lua no céu e o surgimento das estrelas.
Dois são os mecanismos básicos de alteração do sentido das palavras: a
metáfora e a metonímia. Esses dois recursos são chamados normalmente
figuras de palavras. Neste livro, como denominamos figura todo e qualquer
termo que remete ao mundo natural (terra, árvore etc.) e, além disso, como
metáfora e metonímia são recursos de alteração de sentido, preferimos chamá-
las recursos retóricos.
Metáfora
Observe a frase que segue: 0 interior de São Paulo está coberto por doces
mares, donde se extrai o açúcar.
O termo "mar" significa "grande massa e extensão de água salgada".
Nessa frase, no entanto, pode significar "extensa plantação de cana". Por que
se pode alterar o sentido da palavra "mar"? Porque entre os dois significados
há uma intersecção, isto é, ambos apresentam traços comuns. No caso, mar e
canavial apresentam os seguintes pontos comuns: posição horizontal e grande
extensão. Essa mudança de significado é uma metáfora.
Metáfora é, então, a alteração do sentido de uma palavra ou ex-pressão
quando entre o sentido que o termo tem e o que ele adquire existe uma
intersecção. Um outro exemplo: A urbanização de São Paulo está sendo feita
de maneira criminosa, porque está destruindo os pulmões da cidade.
Pulmão aqui significa árvore. Essa alteração de sentido foi possível porque
o significado básico de pulmão e o significado de árvore apresentam uma
intersecção: a função de oxigenar.
Como o leitor percebe que um termo é metafórico? Quando, no contexto, a
leitura do termo no seu sentido próprio fica inadequada, imprópria. Por
exemplo, no poema "Lua cheia", que aparece no início desta lição, a leitura de
"boião de leite" como "vaso bojudo, de boca larga" é inadequada na frase
"boião de leite que a noite leva", pois a noite não carrega um boião de leite. No
entanto, lido como "lua", percebe-se que a frase significa o movimento da lua
no céu à medida que a noite avança.
Uma metáfora, uma vez construída, pode estabelecer um plano de leitura
metafórica para todo o texto. Assim, em "Lua cheia", depois de ter lido a
expressão "boião de leite" como uma metáfora, o texto deve ser entendido no
plano metafórico. Assim, "pingos de lei-te", "derramando" devem ser lidos como
"estrelas", "surgindo".
Metonímia
Observe a seguinte frase: Se o desmatamento de nosso território continuar
nesse ritmo, em breve não restará uma sombra de pé.
Sombra, no caso, significa árvore, porque entre o significado de ambas as
palavras existe uma relação de implicação. Sombra implica árvore, já que a
sombra é um efeito produzido pela árvore. Essa mudança de sentido é uma
metonímia. Metonímia é, então, a alteração do sentido de uma palavra ou
expressão quando entre o sentido que o termo tem e o que adquire existe uma
relação de inclusão ou de implicação. Observemos ainda este outro caso:As
chaminés deveriam ir para fora da cidade de São Paulo.Chaminé significa aqui
fábrica. Essa alteração de sentido ocorre porque o significado básico de
26
chaminé inclui-se como parte do significado do todo, fábrica. Como se pode
notar, a metonímia distingue-se nitidamente da metáfora, porque, enquanto
esta se baseia numa intersecção de traços significativos, aquela se fundamenta
em relações de inclusão e de implicação. Como o leitor percebe que um termo
tem valor metonímico? Quando a leitura do termo no seu sentido próprio
produz uma inadequação, uma imprecisão de sentido. Por exemplo, quando se
diz: No verão, o sol é mais quente do que no inverno, a palavra "sol" não está
designando o astro, pois, nesse sentido, seria absurdo dizer que o sol esfria no
inverno. No caso, sol significa não o astro (fonte de calor), mas o calor
(efeito).Também uma metonímia, uma vez construída, pode estabelecer um
plano de leitura metonímica para o restante do texto. Observe o texto seguinte:
Comerás o pão com o suor do teu rosto. Esse pão custará lágrimas.
Suor, que é o efeito do trabalho, implicado, portanto, por este, significa aqui
trabalho. A partir dessa metonímia, pão deve ser lido como alimento, e
lágrimas, como sofrimento.
Há certas metáforas e certas metonímias, já desgastadas pelo uso, que
constituem clichês e que devem ser empregadas com extremo cuidado. Dizer,
por exemplo, que as nuvens são um alvo tapete só tem razão de ser, num
texto, para criar certos efeitos de sentido, como, por exemplo, mostrar que
determinado personagem só usa clichês.
EXERCíCIOS
Talvez espante ao leitor a franqueza com que lhe exponho e realço a
minha mediocridade; advirta que a franqueza é a primeira virtude de um
defunto. Na vida, o olhar da opinião, o contraste dos interesses, a luta das
cobiças obrigam a gente a calar os trapos velhos, a disfarçar os rasgões e
os remendos, a não estender ao mundo as revelações que faz à
consciência; e o melhor da obrigação é quando, à força de embaçar os
outros, embaça-se um homem a si mesmo, porque em tal caso poupa-se o
vexame, que é uma sensação penosa, e a hipocrisia, que é um vício
hediondo. Mas, na morte, que diferença! que desabafo! que liberdade!
Como a gente pode sacudir fora a capa, deitar ao fosso as lantejoulas,
despregar-se, despintar-se, desafeitar-se, confessar lisamente o que foi e
o que deixou de ser! Porque, em suma, já não há vizinhos, nem amigos,
nem inimigos, nem conhecidos, nem estranhos; não há platéia. 0 olhar da
opinião, esse olhar agudo e judicial, perde a virtude, logo que pisamos o
território da morte: não digo que ele se não estenda para cá, e nos não
examine e julgue; mas a nós é que não se nos dá do exame nem do
julgamento. Senhores vivos, não há nada tão incomensurável como o
desdém dos finados.
Assis, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas. São Paulo, Abril
Cultural, 1978. p. 54.
Questão 1 Há, no texto, uma oposiçãoentre a atitude do homem vivo e a do
homem morto. O autor mostra essas atitudes com metáforas. Separe as
metáforas que falam, respectivamente, da atitude dos vivos e da atitude dos
mortos.
Questão 2 Observe que as metáforas apontadas acima, que definem a atitude
dos vivos e dos mortos, são simetricamente contrárias entre si. Por exemplo,
"disfarçar os rasgões e os remendos" é contrário a "deitar ao fosso as
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lantejoulas". "Trapos velhos" "rasgões", "remendos" significam as coisas que as
pessoas devem ocultar dos outros.Que é que as pessoas devem esconder dos
outros?
Questão 3 Se "rasgões", "remendos" e "trapos velhos" são coisas a serem
ocultadas, que significam "capa" e "lantejoulas"?
Questão 4 Observe os verbos que mostram a atitude dos vivos: calar,
disfarçar, embaçar. Revelam um fazer. Os verbos que manifestam a atitude
dos mortos indicam ação contrária: sacudir fora, deitar ao fosso e três verbos
formados com o prefixo des, que significa oposto de. Analisando o significado
dos verbos e dos substantivos, aponte os dois temas opostos revelados pelo
texto.
Questão 5 No antepenúltimo período (linhas 13 e 14), há uma metáfora que
mostra quem obriga cada homem a calar e a disfarçar. Qual é ela e que
significa?
Questão 6 A oposição semântica básica do texto é vida versus morte. Qual
dos termos é valorizado positivamente no texto e qual é apresentado de
maneira negativa? Justifique sua resposta.
Questão 7 Se a franqueza é a primeira virtude de um defunto, qual é a primeira
virtude de um vivo?Orgulho.Desdém.Arrogância.Dissimulação.
UNIDADE 7: OS PROCEDIMENTOS ARGUMENTATIVOS DE UM TEXTO
Tudo que temos visto sobre língua e linguagem nos mostra como nossa
própria existência de seres humanos é moldada pela nossa capacidade de agir
pela linguagem. Distinguimo-nos de outras espécies animais porque somos
capazes de nos constituir humanos pelo exercício da faculdade da linguagem.
Assim, cada cultura organiza historicamente seus códigos de comunicação,
seja na formação de seu vocabulário e estruturação sintática e semântica, seja
na adequação dos textos às situações sócio-comunicativas. Pela linguagem
organizamos o saber, a vida. Pela linguagem agimos sobre nossos pares e
sobre o mundo. Por isso, todos os seres humanos são, ao mesmo tempo,
origem e produto da linguagem, origem e produto da história que nos leva a
construir formas de comunicação e de atuação específicas.
Visto nessa perspectiva, todo uso da linguagem é argumentativo, pois
estabelece uma interação com o outro, uma relação de fazer social. E toda
linguagem é, assim, um processo sempre em movimento. Toda vez que nos
comunicamos buscamos fazer algo, impressionar o outro, buscar reações,
convencê-lo. Esse é um uso argumentativo da linguagem, em seu sentido mais
amplo. Somos seres argumentativos porque objetivamos algo com o uso da
linguagem.
Mas podemos distinguir essa argumentatividade mais ampla, inerente a
toda manifestação linguística, de uma argumentatividade mais restrita, que
caracteriza especificamente os textos que têm por objetivo explícito convencer:
da construção de textos, verbais e visuais, que buscam uma reação do
interlocutor ou modificação no seu modo de ver o mundo. Dessa forma,
teremos:
1: A construção da Argumentação: Nossas reflexões sobre a linguagem se
apóiam na concepção de que usamos as línguas (e a linguagem) não apenas
para retratar o mundo ou dizer algo sobre as coisas, mas principalmente para
atuar, agir sobre o mundo e as coisas; para produzir resultados a partir de
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nossas ações linguísticas. Observe o seguinte texto publicitário no seu conjunto
de linguagem verbal e visual.
1. Vamos focalizar, primeiramente, a palavra “presente”.
a) Que significado(s) ela assume no texto?
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
b) Qual desses significados está mais ligado ao texto visual e ao produto
anunciado? Por quê?
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_______________________________________________________________
Sabemos que qualquer texto publicitário tem por objetivo maior “vender”
um produto ou uma ideia, mas todo ato de comunicação linguística tem
também esse objetivo, em maior ou menor grau – só nem sempre é tão
explícito. Todas as vezes em que nos engajamos no processo comunicativo,
temos a intenção – consciente, ou não; explícita, ou não – de “produzir” alguma
alteração, no conhecimento ou no comportamento de nossos ouvintes/leitores.
IMPORTANTE:
Todo ato de linguagem objetiva produzir efeitos de sentido, que podem
ser concretizados em ações ou em mudança/reforço de opiniões. Mas nem
sempre fazemos isso conscientemente, ou fazemos disso o objetivo maior da
nossa interação verbal.
Mesmo que a linguagem sempre cumpra determinados propósitos
argumentativos, nem sempre disso temos consciência.
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Quando esse aspecto argumentativo da linguagem é explicitamente
colocado e um texto, dizemos que se trata de um texto argumentativo. Ou seja,
embora toda manifestação linguística procure, de certa maneira, agir sobre o
mundo ou sobre os interlocutores, somente quando a intenção explícita de um
texto é convencer é que chamamos um texto de argumentativo. Vamos
observar como se organiza um texto explicitamente argumentativo.
Leia o texto abaixo, procurando caracterizar o tipo de leitor ao qual ele se
destina. 
Treinar em regiões com níveis elevados de poluição atmosférica pode
afetar o rendimento. Estudos científicos indicam que isso provoca uma
diminuição importante do aproveitamento e da performance. Em geral, a queda
na capacidade de sustentar o esforço mais prolongado ocorre acompanhada
de problemas respiratórios como tosse, dor ao inspirar e decréscimo da
capacidade pulmonar. Uma boa opção é treinar o mais cedo possível, pela
manhã, quando a qualidade do ar nas cidades é melhor.
ISTOÉ, 21/1/2004
1. Que características você pode imaginar no “leitor-destinatário” desse texto –
o que ele faz, onde vive etc.?
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2. De que ideia o texto pretende convencer o leitor?
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3. Por que você acha que o autor do texto mencionou “Estudos científicos”?
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Como podemos perceber nessa atividade, em um texto argumentativo,
as formas de convencimento podem ser muito variadas – vão desde a
utilização de estudos científicos até o apelo às sensações físicas do leitor...
IMPORTANTE: Chamamos de estratégias ou recursos argumentativos à
variedade de formas de convencimento utilizadas. No texto argumentativo,
mais especificamente, chamamos essas estratégias de argumentos. Todos os
argumentos de um texto devem conduzir a um único objetivo, ou a objetivos
integrados e compatíveis entre si.
Observe como o autor do seguinte texto coloca sua opinião e suas
recomendações.
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1. De que ideia o texto pretende convencer o leitor?
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_______________________________________________________________
2. Como o texto procura fazer isso?
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3. Como estão organizadas, em termos de estruturas linguísticas, de tempos
verbais, as “recomendações”?
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4. Que comportamentos se esperam de um leitor convencido das ideias do
texto?
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Esse texto busca convencer o leitor acerca de uma ideia principal:
Cuidados com a alimentação contribuem para que o processo de
envelhecimento transcorra sem sustos.
A essa ideia chamamos tese do texto argumentativo. Para convencer
sobre a validade da tese, o texto utiliza várias recomendações em forma de
ordens ou instruções; essas “recomendações”, que fornecem a comprovação
da tese, constituem os argumentos do texto.
IMPORTANTE!
A tese constitui a ideia principal para a qual um texto pretende a adesão
do leitor/ouvinte: é o objetivo de convencimento do leitor/ouvinte. 
Os argumentos são os motivos, as razões utilizadas para convencer o
leitor da validade da tese.
 Observe como a conversa entre Hagar e Helga se organiza em torno das
crenças de Hagar.
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1. De acordo com o texto, no que Hagar acredita?
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2. Que forma de raciocínio lógico sustenta a relação: Hagar é como uma
criança?
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As crenças de Hagar refletem um conhecimento de senso comum:
crianças acreditam em Papai Noel, crianças ficam excitadas com a proximidade
do Natal.
Para os leitores dos quadrinhos, esse diálogo mostra certas qualidades
de Hagar que não precisam ser explicitadas, mas que estão claras na forma de
apresentação do texto: os sentimentos semelhantes aos de uma criança. Os
leitores precisam apenas reconhecer no diálogo entre Hagar e Helga esse
conhecimento do senso comum para aderir ao ponto de vista do texto, para
acatar sua argumentação.
As proposições matemáticas são outro bom exemplo dessa forma de
argumentar: não é necessário provar que 2 mais 2 é igual a 4; que o todo é
maior que as partes etc.
Argumentos baseados no senso comum, ou no consenso, são verdades
aceitas culturalmente, sem necessidade de comprovação.
Essa forma de argumentar pode se basear também em experiências
pessoais, como mostra o texto da próxima atividade, desde que essas
experiências sejam reconhecidas pelos interlocutores.
IMPORTANTE:
Argumentos baseados em provas concretas recorrem a cifras,
estatísticas, fatos históricos; dão à argumentação uma sensação maior de
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confiabilidade, de veracidade. Por isso, são muito empregados em textos
acadêmicos e científicos ou em qualquer situação em que se pretende fazer o
interlocutor acreditar com mais facilidade .
A organização desses dados mais objetivos – cifras, estatísticas, dados
históricos – pode variar muito no texto, dependendo das intenções do autor e
do conhecimento que ele tem do interlocutor.
Uma forma muito comum de organizar a argumentação com base em
provas concretas é usar um caso singular para comprovar teses mais gerais.
I: Vamos ler apenas o início de um texto que recorre a essa estratégia
argumentativa (fragmento adaptado do jornal Correio Braziliense, de 1/2/2004).
A retirada de um tumor significa mudança de hábito na vida da família do
economista P.V.S. Há três meses ele foi surpreendido pela descoberta de um
câncer de pele. “Levei meu filho em consulta ao dermatologista e aproveitei
para mostrar ao médico umas manchas no corpo.”
Em novembro, P. passou por uma cirurgia para a retirada da lesão e
ensina: “Nunca imaginei que os anos de praia em Santos poderiam me trazer
problemas de saúde. Hoje só faço caminhadas com filtro solar FPS 60.”
Os especialistas alertam que a proteção deve ser iniciada ainda na
infância. Em consultórios e clínicas, eles confirmam que a doença atinge cada
vez mais jovens.
1. Para que assunto o texto quer chamar a atenção do leitor?
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2. Apesar de começar contando a história de uma pessoa, como se percebe
que o objetivo do texto não é focado sobre um caso individual?
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Exemplos de argumentação assim desenvolvida são muito comuns em
textos com objetivos moralizantes, como fábulas, por exemplo. Vamos analisar
como se pretende demonstrar a tese (a “lição”) desta fábula de Esopo.
O leão e o ratinho
Alguns ratinhos brincavam de esconder. O menor deles saiu correndo
em busca de um esconderijo onde ninguém o encontrasse. Viu algumas rochas
e ficou muito alegre por encontrar também uma caverna. Só muito tarde
percebeu que a rocha era um leão dormindo e que a caverna era a boca aberta
do leão.
O felino ficou muito bravo por ter sido acordado e disse que iria castigar
tanto atrevimento. O ratinho pediu desculpas.
– Prometo que isso não vai acontecer nunca mais.
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O leão perdoou o ratinho. Alguns dias depois, acordou novamente com
os guinchos e as correrias. Pensou: “Vou dar uma lição nesses ratinhos e se os
pais deles não gostarem, morrerão também.”
Acontece que os caçadores esperavam por ele há vários dias. Quando
ele passou debaixo de uma árvore, jogaram a rede e o prenderam. Ele fez de
tudo para sair, mas foi impossível. Os caçadores deixaram o leão na rede e
foram avisar seus companheiros. O leão lutou muito tempo e seus rugidos
estremeceram a floresta. Depois, cansado, ficou triste. Sabia que os homens
iriam matá-lo ou então o levariam para algum zoológico bem longe.
Passado algum tempo, o leão ouviu uma voz junto de seu ouvido. Era o
ratinho.
– Leão, vim tirar você dessa armadilha.
Não acreditou. Como um animal tão insignificante poderia ajudá-lo?
– Chame alguém maior e mais forte. Você nunca conseguirá me tirar
daqui – rugiu o leão.
– Sou pequeno, mas tenho os dentes afiados – disse o ratinho.
O ratinho roeu então as malhas da rede, uma por uma. Algum tempo
depois, o buraco ficou grande e o leão pode escapar. Quando os caçadores
voltaram, a rede estava vazia.
Moral: Algumas vezes, o fraco pode ajudar o forte.
Biografia:O autor dessa fábula é Esopo, o primeiro autor de fábulas de
que se tem notícia. Foi contador de histórias na Grécia antiga, onde nasceu
escravo em 620 a.C. Acreditava que riso e sabedoria podiam andar juntos.
Embora hoje sejam reconhecidas como de sua autoria mais de setecentas
fábulas, acredita-se que sejam, de fato, suas apenas as duzentas que
compunham a primeira coleção, organizada em 320 a.C., por Demétrius de
Phalerum.
1. Que tese – em forma de ensinamento – o texto pretende demonstrar? Como
ela é explicitada?
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