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Artigo Atendimento psicanalítico a crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual

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Atendimento psicanalítico a crianças e adolescentes 
vítimas de abuso sexual 
 
 
Elaine Christovam de Azevedo* 
Universidade Gama Filho 
Endereço para correspondência 
 
 
 
RESUMO 
Este trabalho é fruto de uma pesquisa bibliográfica e de campo realizada na Clínica 
psicanalítica da Violência acerca do abuso sexual na infância e na adolescência. A 
Clínica é uma instituição de referência no tratamento de vítimas de violência, que 
tem como proposta utilizar-se do saber psicanalítico para promover a saúde psíquica 
de sujeitos que precocemente tiveram que lidar com a dor de terem sido violentados 
em seus corpos e em suas emoções.O relato desta experiência objetiva a maior 
compreensão do tema para posterior elaboração de meios para prevenir o abuso 
sexual, colaborando na construção de uma sociedade mais ética. 
Palavras-chave: Criança, Adolescente, Abuso sexual, Psicanálise. 
 
ABSTRACT 
This paper is the result of a field and bibliographic research performed at Clínica 
Psicanalítica da Violência about the sexual abuse during childhood and adolescence. 
The clinic is a reference institution in the treating of victims of violence, which has 
the objective of using the Psychoanalytical knowledge to promote the psyche health 
of individuals, who precociously had to deal with the pain of being violented in their 
bodies and emotions.The report of this experience intends the better understanding 
of the subject for a subsequent elaboration of resources to prevent the sexual abuse, 
cooperating in the building of a more ethic society. 
Keywords: Children, Adolescent, Sexual abuse, Psychoanalysis. 
 
 
 
Quando falamos sobre psicologia clínica é comum que se imagine uma sala de 
atendimento, onde um divã e um sofá servem de cenário para uma relação dual. A 
psicanálise ocupa relevante lugar neste sentido. Durante muito tempo, esteve 
estigmatizada como uma ciência de elite. Ainda hoje tal ideia é propagada, sem 
grandes questionamentos. 
Hélio Pellegrino buscou romper com a dogmatização da ciência, inseri-la dentro de 
um contexto sócio político e cultural e aproxima-la das diversas camadas da 
sociedade. Seu ideal era transformar sua ciência num instrumento acessível a todos 
aqueles que desejassem ou precisassem buscar o entendimento de si mesmos, do 
seu sofrimento, independentemente de sua posição socioeconômica. Criou com essa 
finalidade a Clínica Social de Psicanálise, juntamente com Anna Katrinn, onde os 
clientes pagavam preços simbólicos. 
A proposta da Clínica Psicanalítica da Violência é coerente com a de Hélio, pois 
procura aproximar-se dos demais setores da sociedade, trabalhando dentro de uma 
perspectiva inter e multidisciplinar, onde o ser humano é sempre colocado em 
primeiro lugar e considerado no seu contexto biopsiquicosóciocultural. O objetivo da 
Clínica é aproximar-se cada vez mais das questões que emergem em nossa 
sociedade, onde lamentavelmente a violência ocupa lugar de destaque. Na 
atualidade, torna-se cada vez mais comum a demanda de pacientes que sofreram 
ainda bastante jovens alguma espécie de violência sexual. É uma realidade que já 
não pode ser ignorada. 
O sujeito não passa impune por uma experiência desta ordem, fonte de intenso 
sofrimento, muitas vezes reduplicada pela insensibilidade daqueles a quem costuma 
recorrer. Não raramente, a violência física e moral é acrescida a dor do descrédito e 
até mesmo da inversão do papel vítima-sedutor. 
Para abordar um assunto tão delicado, em primeiro lugar é necessário coloca-lo em 
sua real dimensão. A etiologia e os fatores que determinam o abuso sexual contra a 
criança e o adolescente envolvem questões culturais (um exemplo é o incesto) e de 
relacionamento (pode-se destacar, por exemplo, a dependência social e afetiva entre 
os membros da família) que dificultam a notificação e perpetuam o silêncio. Questões 
da sexualidade (da criança, do adolescente ou mesmo dos pais dentro da complexa 
dinâmica familiar) também estão presentes na etiologia do abuso sexual. 
O abuso sexual é uma situação em que a criança ou o adolescente é usado para a 
gratificação sexual de um adulto ou até mesmo de um adolescente mais velho, 
baseado em relação de poder que pode incluir desde carícias, manipulação da 
genitália, mama ou ânus, exploração sexual, voyeurismo, pornografia e exibicionismo 
até o ato sexual com ou sem penetração, com ou sem violência. Por vezes, esta 
prática inclui elementos de sadismo como flagelação, tortura e surras e exploração 
sexual visando fins econômicos. Para Michèlle Rouyer, psiquiatra francês, o abuso 
constituído pela pornografia e pela prostituição infantil “ tem efeito perverso devido 
ao prazer narcísico que provoca na criança; por outro lado as gratificações sobre a 
forma de dinheiro ou presentes associam a sexualidade, sob sua forma mais 
degradante, ao interesse imediato” . 
A violência física contra crianças e adolescentes abusados sexualmente não é o mais 
comum, mas o uso de ameaças e/ou conquista da confiança e do afeto da criança. 
No abuso sexual a sexualidade está a serviço de necessidades não sexuais: O outro 
é destituído do seu lugar de ser desejante e forçado a ser objeto de um jogo perverso. 
É inegável que esta violência deixa marcas profundas no psiquismo das vítimas, o 
que se agrava pela conotação sensacionalista que é dada aos casos. 
O incesto é a forma de abuso sexual mais difícil de ser reconhecida. Embora existam 
divergências quanto a noção de incesto dentro da própria psicanálise e a díade 
biologia x psiquismo seja geralmente polêmica, mais que os laços sanguíneos, 
considerarei a função que o abusador ocupa na vida da vítima. Sendo assim, pode-
se pensar em um padrasto, no qual a enteada depositou a sua confiança e delegou 
o papel de pai. Se dele ela espera carinho e o que recebe é sexo, esta situação será 
introjetada como um incesto. 
Pode-se averiguar na Clínica Psicanalítica da Violência que, estatisticamente, a maior 
parte dos abusos sexuais foi cometida pelos próprios pais das vítimas, seguido de 
perto por outras pessoas que dispunham da confiança das crianças como, por 
exemplo, irmãos. Raramente um abuso desta ordem é cometido por um estranho. 
No incesto a vítima freqüentemente fica exposta a sedução perversa do agressor. 
Além disso, ocorre a desintegração de toda a família, que invariavelmente já era 
marcada por uma estrutura bastante frágil. E quando existe o envolvimento de 
familiares há pouca probabilidade de que a vítima ou a pessoa que se torna 
responsável por ela, parta para um ato concreto, como uma denúncia, seja por 
motivos afetivos, seja por uma sucessão de medos: do abusador, de perder os pais, 
de ser expulso de casa, de que os outros membros da família não acreditem em sua 
história ou simplesmente de ser o (a) causador (a) da discórdia familiar. 
Uma experiência sexual precoce não apenas produz efeitos devastadores no 
psiquismo infantil, como abala profundamente toda a família da criança, que se vê 
as voltas com processos, interrogatórios, inquéritos, e é obrigada a confrontar-se 
com uma realidade, da qual preferiria não tomar conhecimento. Tilman Furniss 
desenvolveu um trabalho com crianças vítimas de abusos e concluiu que quando a 
mãe e “ cuidadores não abusivos” não foram diretamente envolvidos na entrevista 
de revelação, torna-se ainda mais difícil para eles acreditarem que tal violência possa 
ter acontecido com aqueles por quem zelam. Ele cita como exemplo o caso de uma 
mãe, que mesmo diante da confissão do abusador preferiu acreditar que este 
estivesse mentindo, e colocou a criança sobre tal pressão, que a equipe terapêutica 
precisou denunciá-la por violência emocional. 
Não é de se estranhar que muitas mães sintam-se culpadas de não terem protegido 
suficientemente o filho ou mesmo de tê–lo deixado sobre
os cuidados de alguém no 
qual também depositaram confiança, freqüentemente, um homem que elas mesmas 
escolheram para viver e que chegou a ser seu marido e pai deste filho que se tornou 
vítima de sua perversão. A experiência da Clínica Psicanalítica da Violência revela que 
o trabalho psicanalítico flui com melhores resultados quando as mães ou 
responsáveis não abusivos iniciam sua própria análise paralelamente a da criança. 
Um dado interessante é que o abuso, em geral, ocorre durante a visitação, na própria 
casa do agressor, que é divorciado da mãe da criança. Por isto é tão comum encontrar 
casos em que o pai perverso tenta subverter a ordem das coisas, rotulando sua ex-
mulher de “ mentirosa” , “ vingativa” e acusando-a de manipular o (a) filho (a) 
contra ele. Coloca-se a vítima no lugar de culpado induzido. Este é um outro trabalho 
realizado pela análise: fortalecer tanto a vítima quanto a mãe para suportar tais 
pressões. 
Em geral, a criança fica dividida entre o amor que sente pelo progenitor e o ódio 
diante da violência física e emocional exercida por este. A ambivalência afetiva, 
natural em determinada fase do desenvolvimento, assume proporções que o ego do 
pequeno, ainda bastante fragilizado, não tem condições de suportar. É importante 
esclarecer ainda que estas crianças não vivenciam a situação edípica, que é uma fase 
estruturante do sujeito, já que a situação fantasística concretiza-se de maneira 
abrupta, dificultando-lhe a possibilidade de descobrir-se como ser único e desejante, 
a partir da saída encontrada para o complexo, como ocorre nas situações de 
desenvolvimento normal. Ferenczi faz com maior clareza esta distinção quando diz 
que “ … as crianças, quase todas, sem exceção, brincam com a idéia de ocupar o 
lugar do progenitor do mesmo sexo, para tornar-se o cônjuge do sexo oposto, isto, 
sublinhe-se, apenas em imaginação. Na realidade elas não quereriam nem poderiam 
dispensar a ternura, sobretudo a ternura materna. Se no momento dessa fase de 
ternura, se impõe a criança mais amor ou um amor diferente do que elas desejam, 
isso pode acarretar nas mesmas conseqüências patogênicas… ” . 
A situação se complica quando o incesto funciona como mantenedor da própria 
família, isto é, a filha supre as insuficiências da relação conjugal e o pai não precisa 
buscar satisfação sexual fora de casa. Tem-se aí uma justificativa para a passividade 
e mesmo a cumplicidade silenciosa de muitas mães, que se afastam de suas filhas 
no momento em que estas precisam denunciar o incesto. Neste caso, a equipe 
profissional que vier a lidar com esta criança indubitavelmente irá defrontar-se com 
uma família que nega a violência. 
Muitas vezes, o segredo só é rompido na puberdade ou mesmo na fase adulta, 
embora a violência tenha sido perpetuada por muitos anos. É difícil para as crianças 
saberem em quem confiar após terem sido abusadas, dentro de suas próprias casas, 
por alguém no qual depositavam amor e confiança. O pai, que deveria ocupar o lugar 
da lei, resguardando a criança de colocar-se como “ falus” materno, além de não 
assumir sua função, coloca-se justamente num papel contrário. Não há espaço para 
a lei enquanto interdição do gozo. A criança é colocada unicamente como causa de 
prazer, objeto de uso de um pai perverso. Em seu artigo, “ A violência silenciosa do 
incesto” , a Dra. Graça Pizá, diretora da Clínica Psicanalítica da Violência, nos diz que 
“ o pai incestuoso ocupa o lugar da permissividade, da violência, da pulsão de 
destruição, através de uma ruptura vital, libidinal, decisiva e podendo ser na maioria 
dos casos irreversível, tanto na dimensão do gozo, quanto na dimensão do castigo, 
da sanção, da culpa” . Como resultado, tem-se uma criança impedida de se 
desenvolver tanto sexual quanto social e moralmente. A única forma de conseguir 
suportar o incesto é fazendo uso de mecanismos de defesa como a denegação, 
preferindo ver no ato perverso do adulto que a submete a seu gozo, uma possível 
expressão de amor e carinho. Ainda segundo a Dra. Graça “ ,… curiosamente o 
incesto pode permanecer em alguns casos, como uma forma da criança se defender 
do conflito edípico, daí a ambivalência de seus sentimentos identificatórios” . 
Mesmo quando a família tenta efetivamente proteger a criança, seja de um agressor 
com quem mantém uma relação de afeto ou de uma situação traumática vivenciada 
com um estranho, pode sentir-se desorientada, sem saber como alcançar o seu 
intento. Seria importante que a mãe tranqüilizasse a criança, demonstrando que 
acredita nela e não a culpa, que está triste pelo que aconteceu, mas satisfeita por 
ela ter-lhe contado e fará o melhor para protege-la e dar-lhe suporte. Mas a mãe 
pode estar muito atormentada para conseguir tomar decisões sensatas. Através da 
análise, ela se fortalecerá e poderá então dar ao filho o apoio de que ele tanto precisa. 
Quando o incesto ocorre por parte da mãe, é ainda mais difícil de ser detectado, pois, 
é ela quem naturalmente tem um contato mais íntimo com o corpo da criança, seja 
dando banho ou vestindo-a. É fácil esconder o abuso sob uma máscara de cuidados 
maternos erotizantes. Segundo Françoise Dolto, “ a mãe incestuosa é aquela que se 
recusa em deixar nascer a alteridade da criança” . Com base em sua experiência, a 
Dra. Graça nos diz que “ é freqüente observarmos na Clínica uma fusão do corpo da 
mãe, que vai além da realidade orgânica nutriente para se cristalizar, para bloquear 
todo o processo de organização libidinal da criança” . Nos casos mais graves, há 
ainda a produção subseqüente de uma psicose, com a perda de limites entre seu 
corpo e o corpo do outro. O abuso incestuoso materno coloca o indivíduo numa 
situação de risco extremo, sendo necessária uma intervenção das mais drásticas por 
parte do psicanalista, para que seu ego não se desestruture totalmente. 
Ainda que a violência sexual não se constitua de um incesto, as marcas psíquicas são 
profundas e a imagem corporal torna-se dilacerada. Porém, esta pessoa, certamente, 
terá mais possibilidades de falar sobre o assunto e elaborá-lo, pois o sentimento de 
culpa subjacente ao abuso – derivado da fantasia de que o teria provocado – costuma 
ser bem menor, além de não haver a necessidade de utilizar-se e de mecanismos 
compensatórios como a denegação, caso mais freqüente em sujeitos que vivem o 
incesto. 
O trabalho da análise, em ambos os casos, permitirá uma simbolização e 
rememoração da violência sofrida e no caso específico do incesto o restabelecimento 
de mecanismos identificatórios transferenciais, permitindo uma nova construção 
psíquica. 
Quando a violência sexual ocorre com um adolescente, o descrédito é uma reação 
comum, pois estes já contam com um corpo sexuado de adulto e evocam menos 
ingenuidade que as crianças, sobretudo, nestes tempos de erotização precoce. No 
entanto, a experiência demonstra que são bastante raros os casos que não envolvem 
o abuso real. Segundo o Dr. Patrick Alvin, médico francês, “ ao contrário das 
verdadeiras vítimas, que vivem por muito tempo o medo de desvendar o seu segredo 
ou simplesmente de tornar a falar sobre ele, as mitômanas não param de contar a 
sua história para quem quiser ouvir” e ainda “ … um outro caso de jovens 
mitômanos não deveria servir de exemplo ou álibi perpetuamente reiterado para 
justificar a desconfiança sistemática em relação a toda descrição de agressão sexual 
por parte de um (a) adolescente” . 
Há algum tempo atrás, os jornais noticiaram o caso de uma adolescente de doze 
anos, que teria engravidado devido ao estupro por parte de um vizinho. É 
preocupante que a discussão tenha se voltado exclusivamente para a validade de um 
aborto, tendo sido deixada de lado a violência sofrida pela menor. Mais espantoso 
ainda foram os comentários acerca de uma possível sedução da menina, colocando-
a num lugar de responsável
maior pelo que lhe acontecera. Em primeiro lugar, não 
descarto a existência da sexualidade infantil, mas é preciso que se saiba diferencia-
la de uma sexualidade adulta. Ainda que a adolescente houvesse seduzido consciente 
ou inconscientemente um adulto, caberia a este a responsabilidade de não se deixar 
envolver, pois embora possa apresentar um desenvolvimento físico de adulto e ser, 
por vezes, bastante atraente, nesta idade ainda não dispõe de maturidade psíquica 
para um ato de tal natureza e seu ego, certamente, não terá condições de suportar 
a carga de violência que tal experiência implica. 
É comum nos casos de adolescentes abusados esta inversão, em que a própria família 
projeta maciçamente a culpa sobre a vítima. Nos casos incestuosos podem inclusive 
acusa-la pela desestruturação da família. A retratação pode então ocorrer - pois, o 
jovem não consegue mais suportar as pressões – sendo normalmente interpretada 
como prova do caráter infundado da acusação. Mas a realidade é bem mais complexa. 
Segundo Dr. Alvin “ … durante a crise de revelação e, sobretudo, nos quadros de 
abuso sexual intrafamiliares subestima-se a ambivalência e a culpa da criança, da 
mesma forma como se ignora quase sempre a série de pressões familiares contra as 
quais é muito difícil lutar. A retratação, na maior parte dos casos, visa, portanto, 
restabelecer a aparente coesão familiar que precedia a descoberta. Nesse sentido é 
um verdadeiro sintoma de adaptação trágico, pensando bem, que deveria a priori 
reforçar as suspeitas de abuso e não ao contrário” . 
O que estas crianças e adolescentes nos pedem, ainda que não o expressem 
verbalmente é que acreditemos neles, em seus medos e em suas certezas e 
contradições. 
É possível perceber nos indivíduos que sofreram uma violência sexual uma alteração 
da imagem corporal, o que é facilmente observável pelos desenhos que produzem 
em análise: mãos e pernas ausentes e ênfase exagerada nos órgãos genitais. Como 
diz Michèle Rouyer, “ o corpo é sentido como profanado; há perda de integridade 
física; sensações novas foram despertadas, mas não integradas, a criança exprime a 
angústia de que algo se quebrou no interior de seu corpo” . 
É comum notarmos nos desenhos destas crianças a presença de olhos persecutórios 
e mãos soltas no espaço, provavelmente, evocando a figura do agressor sexual. Isto 
remete a angústia persecutória, invariavelmente, encontrada nestes casos. 
Um denominador comum às crianças vítimas de abuso é um conhecimento sexual 
inadequado para a idade. Muitas são capazes de descrever com detalhes um órgão 
sexual masculino e uma relação sexual. A masturbação exacerbada é também forte 
indício deste tipo de violência, facilmente compreensível se consideramos a 
sexualidade infantil. É evidente que, misturado a dor e a angústia, a criança sente 
prazer, o que só contribui para aumentar a confusão em que se encontra. Tais 
sentimentos podem provocar uma inibição que a impede de investir nos objetos do 
mundo e resvala apenas no prazer narcísico. 
Há também casos em que o abuso não é necessariamente acompanhado de culpa ou 
inibição, como o que Hilda Hist descreve no seu polêmico livro “ O caderno rosa de 
Lori Lamb” , onde uma menina de oito anos relata o prazer sentido com a 
prostituição. Não é impossível que na clínica o analista defronte-se com situações 
parecidas, porém deverá tomar cuidado para não entrar num jogo equivocado. É 
preciso ter consciência de que uma criança com tais reações só as têm por ter vivido 
uma experiência sexual precoce para a qual não estava preparada e o prazer do qual 
fala é apenas uma descarga de energia, o outro não existe enquanto sujeito da 
mesma forma que ela também não existiu e por isso teve o seu corpo invadido. 
Um outro sintoma, bastante grave, que pode ocorrer é a reprodução do ato libidinoso 
com outros. É preciso cuidado, porém, para não confundir uma brincadeira sexual 
infantil com uma violência de fato. A cena a qual me refiro remete mais a uma 
tentativa do pequeno agressor de tentar entender o que ocorreu com ele, do que 
propriamente a uma brincadeira inocente ou um ato perverso. Vale esclarecer que 
embora não necessariamente uma vítima de abuso venha a tornar-se um perverso, 
esta é uma conseqüência possível quando não consegue encontrar esta resposta por 
uma outra via. E que a violência sexual sempre traz consigo a eclosão de uma 
patologia, seja uma neurose grave, uma psicose ou a própria perversão. Lacan diria 
que esta funcionaria como um determinante para a quebra da estrutura do sujeito. 
Porém, estou convicta de que os sintomas produzidos por esta “ quebra” podem ser 
aplacados com um trabalho sério e responsável e também de muito amor, não apenas 
por parte da equipe interdisciplinar (assistente social, psicólogo, advogado), mas 
também por parte das pessoas de sua família nas quais a criança possa confiar. 
A criança é ao mesmo tempo vítima e testemunha do abuso sexual. É o depoimento 
dela que denuncia o abuso e provoca ou não o procedimento de resguardo e 
eventualmente de punição.é o seu testemunho que deve confirmar ou anular a 
veracidade do depoimento, a realidade dos fatos e sua qualidade de abuso ou 
violência. Devido a isso, é comum a chamada “ síndrome do segredo” . 
De acordo com Summit, em seu artigo “ Child Abuse and Neglet” , a criança aparece 
duplamente como vítima, do abuso sexual e da incredulidade dos adultos, e cria 
mecanismos para adaptar-se a esta situação. Daí muitas vezes, a confusão que causa 
ao desmentir a queixa que havia feito, acabando por reforçar os adultos em seus 
preconceitos. É impossível que fiquemos impassíveis diante de tal situação. A 
primeira dúvida que surge é: Por que o segredo? Pois bem, a resposta é mais simples 
do que parece. De acordo com Summit “ o abuso sexual só ocorre quando a criança 
está sozinha com o adulto e não deve ser partilhado por quem quer que seja” . O 
segredo é preservado por ameaças como: “ Não diga nada a sua mãe, senão ela vai 
me odiar” ou “ Se você contar para a mamãe, ela vai morrer” , que tornam os 
efeitos da revelação ainda mais perigosos do que o próprio ato. Quanto a submissão, 
é explicável pelo fato de que normalmente ensina-se a criança a ser desconfiada com 
estranhos, mas afetuosa e obediente com os adultos que cuidam dela. Ocorre que na 
maioria dos casos o abusador é alguém conhecido, daí a fraca resistência da vítima. 
Sem saber o que fazer e sem entender o que de fato está lhe acontecendo, o 
pequenino adapta-se: “ Se a criança não procurou imediatamente uma ajuda e não 
foi protegida, sua única opção possível é aceitar a situação e sobreviver, ao preço de 
uma inversão de valores morais e alterações psíquicas prejudiciais a sua 
personalidade” (Summit, 1983 ). Sobrevive, seja pela identificação com o agressor, 
como se ambos fossem um só, seja pela clivagem do ego – funcionando como se 
tivesse várias personalidades – ou mesmo pela conversão da experiência no seu 
oposto: o que era ruim é afirmado como bom. Graças a tais mecanismos a revelação 
do abuso acaba se dando tardiamente. Summit aponta que “ diante do risco de 
catástrofe que a revelação provoca, a criança optará por retratar-se, sobretudo 
porque é o que lhe esperavam os interventores médico-sociais, que mais temem as 
conseqüências da revelação do que as conseqüências do abuso sexual no 
funcionamento psíquico da criança e em seu desenvolvimento. O conhecimento desta 
síndrome permite melhor abordagem preventiva e terapêutica dos abusos sexuais. 
Quanto mais apurada for a formação das pessoas, maior será sua abertura para 
aceitar a realidade dos fatos, podendo assim oferecer à criança uma ajuda mais 
adequada. Quando as crianças estiverem em terapia, os terapeutas correrão menos 
riscos de tratar o abuso como um fantasma” . Furniss alerta os profissionais que 
lidam com estas crianças sobre o
perigo de se confundir comunicação inconsciente e 
segredo. Para ilustrar, ele nos fala sobre uma criança que durante a análise fala sobre 
pesadelos de conteúdos sexuais e tem sua comunicação interpretada como parte de 
fantasias inconscientes. Sensatamente, Furniss nos diz o seguinte: “ Os profissionais 
devem reagir de modo muito diferente quando uma criança tenta comunicar os fatos 
do abuso sexual. Se existe alguma suspeita de que a criança pode estar 
conscientemente indicando o abuso sexual, esta comunicação jamais deve ser 
interpretada. Em vez disso, a criança deve receber licença terapêutica explícita para 
se comunicar: “ A criança pode estar percebendo muito bem o que está fazendo e 
testará secretamente se nos interessamos pelo aspecto de realidade do abuso sexual, 
se somos capazes de ver a realidade na sua comunicação e se ela pode confiar em 
nossa ajuda” . Ele cita ainda sua própria experiência, onde por várias vezes, crianças 
que lhe foram encaminhadas como psicóticas (pois assim foram rotuladas por 
terapeutas) tentavam apenas comunicar a realidade de um abuso sexual. 
Muitas vezes, as crianças são punidas por ousarem falar de determinados conteúdos 
sexuais. Os adultos brigam e se esquecem de perguntar como puderam ter acesso a 
tais informações. Pode-se objetar que a televisão e os demais meios de comunicação 
seriam os responsáveis pelas “ fantasias” dos pequenos, porém, aqueles que 
aprenderam a realmente ouvir uma criança, sabem que há uma diferença 
significativa entre o discurso de uma criança que brinca com a sexualidade para a 
qual começa a despertar e uma outra que de fato vivenciou uma situação sexual para 
a qual não estava preparada. É espantoso como tais crianças conseguem descrever 
com detalhes a anatomia do outro ou mesmo reproduzir com perfeição cenas de 
caráter sexual, que não poderiam ter aprendido somente pela observação. 
Nem sempre é fácil perceber essas manifestações. Além de aprender a ouvir uma 
criança, tarefa essa, sem dúvida, muito mais complexa do que parece, o analista 
defrontar-se-á com uma série de dificuldades de outra ordem, como a pressão da 
imprensa, intimações judiciais, pedidos de laudo. Mais do que nunca precisará ser 
ético e resguardar a cidadania do seu jovem cliente. 
A experiência tem demonstrado que quando se consegue o afastamento da criança 
e do abusador, suspendendo, por exemplo, as visitas paternas, o quadro de 
desestabilização psíquica evolui consideravelmente, aumentando as chances de um 
prognóstico favorável. É o advogado que trabalhará para que isto ocorra,e para tal, 
contará com o apoio daqueles que lidam diretamente com a vítima como os 
profissionais de saúde. Quanto ao magistrado, caberá a ele tomar uma decisão que 
poderá interferir profundamente na vida da vítima. A integração da equipe ajudará a 
enfrentar as dificuldades, com as quais, sem dúvida, se defrontará. 
O lidar com o abuso sexual não começa com a família ou a vítima mas com a própria 
atitude da equipe em relação ao sexo e ao abuso da criança. Uma das principais 
dificuldades é a própria comunicação. Um analista que se inibe ao tocar no tema 
jamais conseguirá que uma criança aborde na análise o abuso sexual, pois ela sentirá 
esta inibição e compreenderá que este é um assunto proibido, ou seja, acabará por 
aumentar ainda mais o conflito do pequeno analisado. Do mesmo modo, os médicos 
nem sempre tem a sensibilidade necessária para lidar com uma criança obrigada a 
submeter-se a um exame de corpo de delito, podendo fazer com que a criança sinta 
este momento como uma nova invasão. Tilman faz um paralelo bastante 
interessante: “ Médicos inexperientes ou não tem coragem de olhar para a vagina 
ou o ânus da menina, ou correm o risco de metaforicamente mergulharem entre as 
pernas da criança de uma maneira que pode ser extremamente ansiogênica e 
assustadora para ela” e comenta que: “ A natureza sexual do abuso pode tornar 
muito difícil para os profissionais uma comunicação apropriada e explícita. Nossa 
própria vergonha, embaraço e sentimento de voyeurismo podem interferir com uma 
posição profissional neutra. 
Outra dificuldade é quando o abusador goza de prestígio em nossa sociedade, caso 
mais comum do que se imagina. Esses aparentes senhores respeitáveis acabam por 
manipular a situação de tal modo, que ficam parecendo as vítimas de uma cilada e 
não os culpados. Devido a isto, podem contar com a simpatia de profissionais 
despreparados, que não estão aptos a lidar com tais artimanhas. Alguns advogados, 
médicos e psicólogos – inclusive conceituados em sua prática – preferem defender o 
abusador à vítima. É bem verdade que, às vezes, não apenas por simpatia a este, 
mas, sobretudo, pelas recompensas que possam vir a ter assumindo a defesa de um 
homem “ importante” . É impressionante que alguns profissionais façam laudos 
acerca do abuso sem ter estado com a criança uma única vez! É dever dos 
profissionais sérios, que realmente se interessam pelo esclarecimento da situação e 
o bem estar das vítimas, oporem-se a este absurdo. Certamente antiético não é ir 
contra o parecer de um colega e sim permitir que uma criança ou adolescente 
continue exposto a uma violência que o fere cada vez mais. 
Cabe ao analista a sensibilidade de perceber as nuances delicadas deste tipo de caso, 
fazendo com que a pessoa que busca uma ajuda terapêutica perceba que ela é vítima 
e não culpada ( mesmo que julgue que, por algum motivo, provocou a situação) e 
que ela pode encontrar novos caminhos. As marcas certamente ficarão, mas sua vida 
não se paralisará por conta do trauma sofrido se ela puder, durante seu percurso 
terapêutico, reconstruir sua imagem corporal e traçar suas saídas sublimatórias. 
Não é um trabalho fácil, pois exige empenho, dedicação e a disposição para lidar com 
o lado mais sombrio do ser humano. O psicanalista deve ter consciência de que 
trabalhar com crianças sexualmente abusadas interfere no seu psiquismo e pode 
despertar sentimentos bastante conflituosos que vão desde a compaixão pela vítima 
e repulsa ao agressor até uma espécie de “ turvação” , que o impeça de enxergar 
coisas essenciais ao decorrer da análise. 
Portanto, além da supervisão deveria submeter-se ao seu próprio processo analítico 
para trabalhar seu material inconsciente recalcado e conhecer-se a fundo, inclusive 
em suas limitações. A leitura, assim como a atualização acerca do tema e a 
participação em grupos de estudos, é essencial mas, sobretudo, a sensibilidade, pois 
é este sentimento aliado a uma autêntica empatia a vítima que o levará a auxiliar o 
analisando na elaboração da vivência traumática. 
A psicanálise vem obtendo resultados bastante satisfatórios no atendimento a vítimas 
de violência sexual. É claro que tais resultados são fruto de um trabalho árduo e 
diferenciado. A partir de seu percurso analítico é permitido ao sujeito compreender o 
que se passou com ele, entender que foi vítima de uma violência e que não precisa 
paralisar sua vida e seus investimentos libidinais e reconstruir, aos poucos, uma 
imagem corporal dilacerada. Fortalecido emocionalmente terá condições de resistir 
aos impactos desta experiência limite, suportando as pressões do meio, evitando a 
autotortura e encontrando saídas para o seu drama através de uma via sublimatória. 
A análise propiciará a este sujeito a redescoberta de si mesmo enquanto ser humano 
digno de amor e respeito. Como diz a Dra. Graça Pizá: “ Ser alguém e possuir um 
corpo ainda pulsando. este é o tempo de sua análise, tempo de virar o cinismo, a 
vergonha, o medo imposto e descobrir, longe de seu tirano íntimo, o maravilhoso” . 
Ainda hoje, há muitos mitos acerca da violência sexual, sobretudo, quando se trata 
de quadros de abuso sexual intrafamiliar. O silêncio e o desconhecimento apenas 
colaboram para a permanência de uma situação que vitimiza milhares de pessoas,
em todo o mundo. É preciso falar, sem medo, do que efetivamente é a violência 
sexual, pensa-la como um elemento presente em nossa cultura e assim nos 
permitirmos pensar não somente as causas, mas também as soluções para este tipo 
de violência. 
O abuso sexual é uma situação bastante complexa à medida que envolve um menor, 
seus pais, possível quebra do sigilo profissional e mesmo relações coma justiça. Mas 
antes de qualquer coisa, é preciso lembrar que o conceito de ética remete a uma 
busca pela felicidade e pelo bem-estar do cidadão. Nada fazer é compactuar com a 
violência sofrida pelo menor. Segundo o Código de Ética, “ O psicólogo colaborará 
na criação de condições que visem eliminar a opressão e a marginalização do ser 
humano” . Sendo assim, a tomada de uma atitude mais diretiva significa justamente 
criar tais condições para impedir que seu cliente continue sendo oprimido. A primeira 
providência seria um contato com os pais na presença da criança a fim de averiguar 
a dinâmica familiar e possibilitar ao seu cliente expor no setting a sua versão dos 
fatos e defrontar os pais com sua dor. Com a devida permissão do jovem, o analista 
poderia sim, tocar diretamente na questão do abuso sexual, ainda que de forma 
cuidadosa. Caso a violência se revele nesta sessão, será fundamental que se 
proponha outras e que a família seja trabalhada como um todo, principalmente 
quando for detectado o incesto, posto que este invariavelmente ocorre com famílias 
que até podem ostentar uma “ capa” de perfeição, mas são desestruturadas. 
Se for impossível o contato com os pais ou se eles sumirem após a revelação, será 
preciso averiguar a quem se pode recorrer nesta situação e denunciar a violência a 
quem de direito. O código de ética dá subsídios para isto, ao colocar como 
responsabilidade do psicólogo: “ Zelar para que o exercício profissional seja efetuado 
com a máxima dignidade, recusando e denunciando as situações em que o indivíduo 
esteja correndo risco ou o exercício profissional esteja sendo vilipendiado” . Neste 
caso fica evidente tanto o perigo a que o menor está exposto quanto a “ sabotagem” 
promovida pelos genitores a sua psicoterapia, expressa muitas vezes por ameaças 
de rompimento da análise. 
Havendo incesto seria interessante que o responsável não abusivo fosse informado, 
se possível na presença do analista. Porém, se não na presença do profissional, que 
pelo menos esteja ciente do que acontece com seu filho para que possa posicionar-
se. Caso – como acontece muitas vezes – a mãe prefira se posicionar ao lado do 
cônjuge abusador, o mais indicado é que seja eleita uma outra pessoa em quem a 
criança confie para orienta-la, pois, se a existência do abuso sexual for comprovada 
faz-se necessário o afastamento entre vítima e agressor. Supondo que esta pessoa 
não exista ou se concentre justamente na figura do analista, acredito que este deva 
apoiar seu cliente, estando ciente de que esta situação encaixa-se naquelas previstas 
pelo art.27 do Código que aponta: “ A quebra do sigilo só será admissível quando se 
tratar de fato delituoso e a gravidade de suas conseqüências para o próprio atendido 
ou para terceiros puder criar para o psicólogo o imperativo de consciência de 
denunciar o fato” . 
O cliente deve ser comunicado acerca desta denúncia e mesmo orientado sobre 
procedimentos cabíveis. Isto nada tem haver com “ quebra” da neutralidade – já 
que a situação refere-se a uma análise – mas sim, com respeito pela dignidade do 
ser humano. Tal idéia também pode ser apoiada no código de ética, que cita como 
um dos princípios fundamentais da profissão o seguinte: “ O psicólogo, no exercício 
de sua profissão, completará a definição de suas responsabilidades, direitos e 
deveres de acordo com os princípios estabelecidos na Declaração Universal dos 
Direitos Humanos...” Lembremos que esta situação transcende a análise e 
conseqüentemente o código de ética do psicólogo. Ao nos remetermos a Lei 8.069 
do Código Civil, Cap II, veremos que toda criança ou adolescente tem direito a 
liberdade, ao respeito e a dignidade, que “ o direito ao respeito consiste na 
inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, 
abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, 
idéias e crenças, dos espaços e objetos pessoais” . E no art.18 do capítulo citado 
encontramos ainda que: “ É dever de todos velar pela dignidade da criança e do 
adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, 
aterrorizante, vexatório ou constrangedor” . O psicólogo, mesmo o psicanalista não 
constitui uma exceção. Para sentir-se mais seguro de sua ação, portanto, seria 
aconselhável orientar-se juridicamente sobre o caso, buscar uma supervisão 
adequada e inteirar-se sobre os transmites do Conselho a fim de agir da melhor 
maneira possível. Se for o caso, conforme determina o código, “ o psicólogo colocará 
o seu conhecimento a disposição da justiça, no sentido de promover e aprofundar 
uma maior compreensão entre a lei e o agir humano, entre a liberdade e as 
instituições judiciais” . Porém, é interessante ressalvar mais uma vez, que o fará 
unicamente em benefício do seu cliente,e portanto, revelará apenas o que for de 
crucial importância para o andamento do processo que venha a se instaurar. O dito, 
neste caso, deverá ser comunicado ao jovem cliente, que tem o direito de posicionar-
se de alguma forma, sendo que seu próprio tratamento analítico, deve auxilia-lo para 
que se fortaleça nesse sentido. 
Uma maneira eficaz de combate e prevenção ao abuso sexual é através de um maior 
preparo dos profissionais que atuam mais diretamente com os seres humanos, não 
somente psicólogos, mas também pedagogos, médicos, fisioterapeutas, professores 
e outros mais. Deveria ainda haver um trabalho de esclarecimento visando despertar 
neles um maior interesse pelos sinais que a criança apresenta de que algo vai mal; 
sinais estes que tanto podem apresentar-se no corpo, através de uma somatização, 
como através de uma mudança súbita de comportamento. 
Ficam aí as sugestões para que sejam desenvolvidos mais trabalhos neste sentido, 
tendo, é claro, o cuidado de evitar o extremo do sensacionalismo. É preciso ter em 
mente que o que realmente interessa é abrandar o sofrimento de um ser humano ou 
mesmo evitar que tal violência continue se perpetuando. Há ainda alguns países onde 
são realizados trabalhos de orientação com jovens acerca da prevenção a agressão 
sexual. De qualquer maneira, o importante é não ficar de braços cruzados diante 
destes quadros de invasão e violência extrema. 
 
Referências bibliográficas 
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