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AP1 - LITERATURA BRASILEIRA III

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Curso: Letras
	Disciplina: Literatura Brasileira III
	Coordenadora: Flávia Amparo
	AP1- 2014
Leia com atenção os textos e as questões da prova. Lembre-se do que estudou nas Unidades, de 1 a 5. Escreva as respostas de maneira dissertativa e fique atento à coerência, à coesão e à correção gramatical da sua escrita.
Questão 1: Observe o trecho abaixo, retirado da Unidade 3 do AVA de Literatura Brasileira III: 
“O Romantismo foi um movimento de múltiplas facetas, mas seu objetivo principal pautou-se na criação uma literatura legitimamente brasileira, seja na descrição da paisagem e dos costumes locais – tanto das regiões mais exóticas e provincianas do Brasil quanto das grandes cidades –  seja no registro mais fluente da língua, se afastando da dicção castiça lusitana. A literatura passou a ter um público leitor e o escritor assumiu um papel social: o de consolidação da nacionalidade.”
Ao analisarmos a obra de Álvares de Azevedo, verificamos que o autor se distancia do projeto romântico, marcadamente nacionalista, descrito no trecho destacado, para desenvolver uma outra vertente do Romantismo. Fale sobre essa outra vertente, a partir das indagações presentes na obra de Álvares de Azevedo, que se contrapõe à afirmação acima.
Álvares de Azevedo constrói a sua obra a partir de influências marcadamente europeias, de autores como Byron e Musset. O Ultrarromantismo, ou Romantismo Negro, volta-se para o “eu”, marca de egocentrismo e de subjetividade, que no lugar de evocar a pátria, vai dar lugar à família, como lócus ideal do sujeito, com especial destaque para a figura da mãe (o primeiro poema da Lira dos vinte anos é “À minha mãe”, com uma epígrafe que faz a seguinte afirmação: “Se a terra é adorada, a mãe não é mais digna de veneração”). Também as paisagens e a natureza na obra alvaresiana não serão estritamente nacionais, basta verificar uma novela como Noite na Taverna, que escolhe lugares e personagens da Europa para serem o foco das histórias (Gennaro, Bertram, Solfieri, Claudius Hermann, Johann). O universalismo é o traço mais marcante da obra de Álvares, uma vez que os dramas e conflitos do homem não se relacionam necessariamente a um contexto local, mas apontam para as questões intrínsecas do indivíduo em qq. tempo e espaço.
Questão 2: Leia atentamente o texto:
Notícia da atual literatura brasileira: Instinto de nacionalidade (Machado de Assis)
Quem examina a atual literatura brasileira reconhece-lhe logo, como primeiro traço, certo instinto de nacionalidade. Poesia, romance, todas as formas literárias do pensamento buscam vestir-se com as cores do país, e não há negar que semelhante preocupação é sintoma de vitalidade e abono de futuro. As tradições de Gonçalves Dias, Porto Alegre e Magalhães são assim continuadas pela geração já feita e pela que ainda agora madruga, como aqueles continuaram as de José Basílio da Gama e Santa Rita Durão. Escusado é dizer a vantagem deste universal acordo. Interrogando a vida brasileira e a natureza americana, prosadores e poetas acharão ali farto manancial de inspiração e irão dando fisionomia própria ao pensamento nacional .
Esta outra independência não tem Sete de Setembro nem campo de Ipiranga; não se fará num dia, mas pausadamente, para sair mais duradoura; não será obra de uma geração nem duas; muitas trabalharão para ela até perfazê-la de todo.
Sente-se aquele instinto até nas manifestações da opinião, aliás mal formada ainda, restrita em extremo, pouco solícita, e ainda menos apaixonada nestas questões de poesia e literatura. Há nela um instinto que leva a aplaudir principalmente as obras que trazem os toques nacionais. A juventude literária, sobretudo, faz deste ponto uma questão de legítimo amor-próprio. Nem toda ela terá meditado os poemas de Uruguai e Caramuru com aquela atenção que tais obras estão pedindo; mas os nomes de Basílio da Gama e Durão são citados e amados, como precursores da poesia brasileira.
A razão é que eles buscaram em roda de si os elementos de uma poesia nova, e deram os primeiros traços de nossa fisionomia literária, enquanto que outros, Gonzaga por exemplo, respirando aliás os ares da pátria, não souberam desligar-se das faixas da Arcádia nem dos preceitos do tempo. Admira-se-lhes o talento, mas não se lhes perdoa o cajado e a pastora, e nisto há mais erro que acerto.
Dado que as condições deste escrito o permitissem, não tomaria eu sobre mim a defesa do mau gosto dos poetas arcádicos nem o fatal estrago que essa escola produziu nas literaturas portuguesa e brasileira. Não me parece, todavia, justa a censura aos nossos poetas coloniais, iscados daquele mal; nem igualmente justa a de não haverem trabalhado para a independência literária, quando a independência política jazia ainda no ventre do futuro, e mais que tudo a metrópole e a colônia criara a história a homogeneidade das tradições, dos costumes e da educação. As mesmas obras de Basílio da Gama e Durão quiseram antes ostentar certa cor local do que tornar independente a literatura brasileira, literatura que não existe ainda, que mal poderá ir alvorecendo agora.
O texto acima, da autoria do escritor Machado de Assis, faz um panorama da crítica do séc. XIX e aborda a questão do local e do universal na literatura brasileira. Analisando o texto machadiano e o que você estudou na Unidade 5, explique de que modo Machado de Assis concebe o local e o universal na literatura e por que sua postura contribui para uma nova visão a respeito do tema. 
Machado de Assis discorda da visão da época, de que só era nacional a obra literária que trouxesse os traços da paisagem brasileira e da cultura americana, com certo exotismo e ufanismo. O que Machado percebe é que levar em consideração apenas o contexto local limita os cabedais da literatura brasileira e restringe um panorama que poderia ser muito mais amplo sem as limitações impostas pela “cor local”. Assim sendo, para o autor, tudo pode ser matéria literária, não necessariamente esse ou aquele autor pode ser considerado mais legítimo ou menos digno de leitura. Machado fala de um “sentimento íntimo”, que deveria ser a característica essencial do escritor, que pode capturar não apenas a “alma” da pátria como também ampliar o seu campo de atuação e tratar de questões essenciais da vida do homem, para além do tempo e do espaço.
Questão 3: Observe o trecho retirado do caderno didático da Aula 8: 
“O romance naturalista irá abordar, de maneira bastante rígida e mecânica, os efeitos que o meio, o clima, a raça e o sexo produzem sobre a saúde, a vida mental e o comportamento dos indivíduos”.
Partindo dessa afirmação, leia o fragmento abaixo, retirado do romance “O cortiço”, de Aluísio Azevedo, e destaque os principais aspectos da literatura naturalista e fale sobre o Determinismo presente no romance. 
Capítulo III
Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas.
Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assentada, sete horas de chumbo. Como que se sentiam ainda na indolência de neblina as derradeiras notas da última guitarra da noite antecedente, dissolvendo-se à luz loura e tenra da aurora, que nem um suspiro de saudade perdido em terra alheia.
A roupa lavada, que ficara de véspera nos coradouros, umedecia o ar e punha-lhe um farto acre de sabão ordinário. As pedras do chão, esbranquiçadas no lugar da lavagem e em alguns pontos azuladas pelo anil, mostrava uma palidez grisalha e triste, feita de acumulações de espumas secas.
Entretanto, das portas surgiam cabeças congestionadas de sono; ouviam-se amplos bocejos, fortes como o marulhar das ondas; pigarreava-se grosso por toda a parte; começavam as xícaras a tilintar; o cheiro quente do café aquecia, suplantando todos os outros; trocavam-se de janela para janela as primeiras palavras, os bons dias; reatavam-se conversas interrompidas à noite; a pequenada cá fora traquinava já, e lá dentro das casas vinham choros abafados de crianças que ainda nãoandam. No confuso rumor que se formava, destacavam-se risos, sons de vozes que altercavam, sem se saber onde, grasnar de marrecos, cantar de galos, cacarejar de galinhas. De alguns quartos saíram mulheres que vinham dependurar cá fora, na parede, a gaiola do papagaio, e os louros, à semelhança dos donos, cumprimentavam-se ruidosamente, espanejando-se à luz nova do dia.
Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum crescente; uma aglomeração tumultuosa de machos e fêmeas. Uns, após outros, lavavam a cara, incomodamente, debaixo do fio de água que escorria da altura de uns cinco palmos. O chão inundava-se. As mulheres precisavam já prender as saias entre as coxas para não as molhar; via-se-lhes a tostada nudez dos braços e do pescoço, que elas despiam suspendendo o cabelo todo para o alto do casco; os homens, esses não se preocupavam em não molhar o pelo, ao contrário metiam a cabeça bem debaixo da água e esfregavam com força as ventas e as barbas, fossando e fungando contra as palmas da mão. As portas das latrinas não descansavam, era um abrir e fechar de cada instante, um entrar e sair sem tréguas. Não se demoravam lá dentro e vinham ainda amarrando as calças e as saias; as crianças não se davam o trabalho de lá ir, despachavam-se li mesmo, no capinzal dos fundos, por detrás da estalagem ou no recanto das hortas.
O rumor crescia, condensando-se: o zunzum de todos os dias acentuava-se; já se não destacavam vozes dispersas, mas um só ruído compacto que enchia todo o cortiço. Começavam a fazer compras na venda; ensarilhavam-se discussões e resingas; ouviam-se gargalhadas e pragas; já se não falava, gritava-se. Sentia-se naquela fermentação sanguínea, naquela gula viçosa de plantas rasteiras que mergulhavam os pés vigorosos na lama preta e nutriente da vida, o prazer animal de existir, a triunfante satisfação de respirar sobre a terra.
(AZEVEDO, Aluísio. O Cortiço. São Paulo: Ática, 1995, p.35-36.)
Aqui é preciso verificar pontualmente a relação que o aluno vai estabelecer, mas os traços essenciais desse determinismo pode ser observado no texto, quando o autor humaniza o ambiente (o cortiço tem olhos e boca, como um organismo vivo), enquanto as pessoas são comparadas a animais e plantas, sendo, portanto, desumanizadas. O ambiente passa a ser mais determinante do que o sujeito, uma vez que este se torna apenas um produto do meio.
O trecho: “Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas.” – revela a personificação do ambiente, que dará título ao romance, no lugar de destacar o nome de um personagem. Há momentos da narrativa em que a comparação dos homens e mulheres com os animais fica evidente, em especial quando são chamados de “machos” e “fêmeas”, ou quando partes do corpo de pessoas podem ser identificados com partes do corpo de animais: “cara”, “ventas”, “pelos”, “casco”. Ou ainda, quando os animais e seus donos reproduzem o mesmo cumprimento: “De alguns quartos saíram mulheres que vinham dependurar cá fora, na parede, a gaiola do papagaio, e os louros, à semelhança dos donos, cumprimentavam-se ruidosamente, espanejando-se à luz nova do dia.”
Questão 4: Leia o fragmento do romance “O guarani”, de José de Alencar. A partir dessa leitura, revele os traços de medievalismo e de idealização presentes na construção da figura do índio Peri e aponte a importância do indianismo para a consolidação da literatura brasileira no séc. XIX.
Amor : (O Guarani – José de Alencar)
As cortinas da janela cerraram-se; Cecília tinha-se deitado.
Junto da inocente menina adormecida, na isenção de sua alma pura de virgem, velavam três sentimentos profundos, palpitavam três corações bem diferentes.
Em Loredano, o aventureiro de baixa extração, esse sentimento era um desejo ardente, uma sede de gozo, uma febre que lhe requeimava o sangue; o instinto brutal dessa natureza vigorosa era ainda aumentado pela impossibilidade moral que a sua condição criava, pela barreira que se elevava entre ele, pobre colono, e a filha de D. Antônio de Mariz, rico fidalgo de solar e brasão.[1: de origem humilde;][2: homem nobre e com muito dinheiro;]
Para destruir esta barreira e igualar as posições, seria necessário um acontecimento extraordinário, um fato que alterasse completamente as leis da sociedade, naquele tempo mais rigorosas do que hoje; era preciso uma dessas situações em face das quais os indivíduos, qualquer que seja a sua hierarquia, nobres e párias, nivelam-se; e descem ou sobem à condição de homens.[3: indivíduos que vivem à margem da sociedade;]
O aventureiro compreendia isto; talvez que o seu espírito italiano já tivesse sondado o alcance dessa ideia; em todo o caso o que afirmamos é que ele esperava, e esperando vigiava o seu tesouro com um zelo e uma constância a toda a prova. (...).
Em Álvaro, cavalheiro delicado e cortês, o sentimento era uma afeição nobre e pura, cheia de graciosa timidez que perfuma as primeiras flores do coração, e do entusiasmo cavalheiresco que tanta poesia dava aos amores daquele tempo de crença e lealdade.
Sentir-se perto de Cecília, vê-la e trocar alguma palavra, a custo balbuciada; corarem ambos sem saberem por quê, e fugirem desejando encontrar-se; era toda a história desse afeto inocente, que se entregava descuidosamente ao futuro, librando-se nas asas da esperança.[4: sustentando-se;]
Nesta noite Álvaro ia dar um passo que, na sua habitual timidez, ele comparava quase com um pedido formal de casamento; tinha resolvido fazer a moça aceitar, malgrado seu, o mimo que recusara, deitando-o na sua janela; esperava que encontrando-o no dia seguinte, Cecília lhe perdoaria o seu ardimento, e conservaria a sua prenda.
Em Peri o sentimento era um culto, espécie de idolatria fanática, na qual não entrava um só pensamento de egoísmo; amava Cecília não para sentir um prazer ou ter uma satisfação, mas para dedicar-se inteiramente a ela, para cumprir o menor dos seus desejos, para evitar que a moça tivesse um pensamento que não fosse imediatamente uma realidade.
Ao contrário dos outros ele não estava ali, nem por um ciúme inquieto, nem por uma esperança risonha; arrostava a morte unicamente para ver se Cecília estava contente, feliz e alegre; se não desejava alguma coisa que ele adivinharia no seu rosto, e iria buscar nessa mesma noite, nesse mesmo instante.[5: enfrentava.]
Assim o amor se transformava tão completamente nessas organizações, que apresentava três sentimentos bem distintos; um era uma loucura, o outro uma paixão, o último uma religião.
Loredano desejava; Álvaro amava; Peri adorava. O aventureiro daria a vida para gozar; o cavalheiro arrostaria a morte para merecer um olhar; o selvagem se mataria, se preciso fosse, só para fazer Cecília sorrir.
Aqui é importante que o aluno perceba que o indianismo idealiza a figura do selvagem (pelo viés rousseauniano), ou seja, o indígena é bom, e mais puro, por estar em contato com a natureza . No caso de Peri, ele supera os demais adversários em pureza e bravura, só por ser o herói indianista modelado por Alencar (Peri adora Cecília como se ela fosse uma deusa). O amor que o índio sente por Cecília é a forma mais elevada de sentimento, que não busca seus próprios interesses e não está vinculado à dama para receber alguma retribuição. Peri é mais polido e civilizado que os demais e assemelha-se ao cavaleiro medieval, na medida em que seu código de honra consiste em proteger a amada com a própria vida e adorá-la como uma suserana.
O indianismo será uma vertente importante da literatura brasileira uma vez que os modelos anteriores que serviam de inspiração aos autores coloniais eram basicamente europeus, em especial lusitanos e, com a independência, o Brasil precisava de um projeto nacional que primasse pela criação de uma literatura nascente, que valorizasse as questões locais, a paisagem brasileira e as tradições da terra americana. 
Boa prova!

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