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I. A Riqueza das nações (1776) 1. A Divisão do Trabalho (cap. I) “Em toda sociedade desenvolvida, o agricultor geralmente é apenas agricultor, e o operário de indústria somente isso. Também o trabalho que é necessário para fabricar um produto completo quase sempre é dividido entre grande número de operários”. (p. 66-67) Conceito: • redução progressiva do número das diversas operações produtivas levadas a cabo por um único trabalhador, conduzindo à especialização máxima – uma operação! • mas essa redução também se verifica na divisão técnica do trabalho global. Razões pelas quais a divisão do trabalho determina um aumento da capacidade produtiva do próprio trabalho: 1ª) Aumento da habilidade (destreza) do trabalhador, pois pode dedicar-se cada vez mais a menos funções (operações). 2ª) Quanto menor o número de operações realizadas, menor a perda de tempo consumido na passagem de uma tarefa a outra. “É impossível passar com muita rapidez de um tipo de trabalho para outro, porque este é executado em lugar diferente e com ferramentas muito diversas. Um tecelão do campo, que cultiva uma pequena propriedade, é obrigado a gastar bastante tempo em passar do seu tear para o campo, e do campo para o tear. Se os dois trabalhos puderem ser executados no mesmo local, certamente ESQUEMAS DE AULA – PROF. ÉDIL GUEDES – HPE – ADAM SMITH 1 a perda de tempo é muito menor. Mas, mesmo nesse caso, ela ainda é muito considerável. Geralmente, uma pessoa se desconcerta um pouco ao passar de um tipo de trabalho para outro. Ao começar o novo trabalho, raramente ela se dedica logo com entusiasmo; sua cabeça ‘está em outra’, como se diz, e, durante algum tempo ela mais flana do que trabalha seriamente. O hábito de vadiar e de aplicar-se ao trabalho indolente e descuidadamente adquiridos naturalmente — e quase necessariamente — por todo trabalhador do campo que é obrigado a mudar de trabalho e de ferramentas a cada meia hora e a fazer vinte trabalhos diferentes a cada dia, durante a vida toda, quase sempre o torna indolente e preguiçoso, além de fazê-lo incapaz de aplicar-se com intensidade, mesmo nas ocasiões de maior urgência. Independentemente, portanto, de sua deficiência no tocante à destreza ou rapidez, essa razão é suficiente para reduzir sempre e consideravelmente a quantidade de trabalho que ele é capaz de levar a cabo”. (p. 68-69) 3ª) Quanto mais confinada e ligada a atividade a operações particulares, determinadas, tanto mais fácil a invenção de máquinas que ensejam ao trabalho maior produtividade. “As pessoas têm muito maior probabilidade de descobrir com maior facilidade e rapidez métodos para atingir um objetivo quando toda a sua atenção está dirigida para esse objeto único, do que quando a mente se ocupa com uma grande variedade de coisas. Mas, em conseqüência da divisão do trabalho, toda a atenção de uma pessoa é naturalmente dirigida para um único objeto muito simples. Eis por que é natural podermos esperar que uma ou outra das pessoas ocupadas em cada setor de trabalho específico logo ESQUEMAS DE AULA – PROF. ÉDIL GUEDES – HPE – ADAM SMITH 2 acabe descobrindo métodos mais fáceis e mais rápidos de executar seu trabalho específico, sempre que a natureza do trabalho comporte tal melhoria. Grande parte das máquinas utilizadas nas manufaturas em que o trabalho está mais subdividido constituiu originalmente invenções de operários comuns, os quais, com naturalidade, se preocuparam em concentrar sua atenção na procura de métodos para executar sua função com maior facilidade e rapidez, estando cada um deles empregado em alguma operação muito simples. Quem quer que esteja habituado a visitar tais manufaturas deve ter visto muitas vezes máquinas excelentes que eram invenção desses operários, a fim de facilitar e apressar a sua própria tarefa no trabalho. Nas primeiras bombas de incêndio um rapaz estava constantemente entretido em abrir e fechar alternadamente a comunicação existente entre a caldeira e o cilindro, conforme o pistão subia ou descia. Um desses rapazes, que gostava de brincar com seus companheiros, observou que, puxando com um barbante a partir da alavanca da válvula que abria essa comunicação com um outro componente da máquina, a válvula poderia abrir e fechar sem ajuda dele, deixando-o livre para divertir-se com seus colegas. Assim, um dos maiores aperfeiçoamentos introduzidos nessa máquina, desde que ela foi inventada, foi descoberto por um rapaz que queria poupar-se no próprio trabalho. Contudo, nem todos os aperfeiçoamentos introduzidos em máquinas representam invenções por parte daqueles que utilizavam essas máquinas. Muitos deles foram efetuados pelo engenho dos fabricantes das máquinas, quando a fabricação de máquinas passou a constituir uma profissão específica; alguns desses aperfeiçoamentos foram obra de pessoas denominadas filósofos ou ESQUEMAS DE AULA – PROF. ÉDIL GUEDES – HPE – ADAM SMITH 3 pesquisadores, cujo ofício não é fazer as coisas, mas observar cada coisa, e que, por essa razão, muitas vezes são capazes de combinar entre si as forças e poderes dos objetos mais distantes e diferentes. Com o progresso da sociedade, a filosofia ou pesquisa torna-se, como qualquer ofício, a ocupação principal ou exclusiva de uma categoria específica de pessoas. Como qualquer outro ofício, também esse está subdividido em grande número de setores ou áreas diferentes, cada uma das quais oferece trabalho a uma categoria especial de filósofos; e essa subdivisão do trabalho filosófico, da mesma forma como em qualquer outra ocupação, melhora e aperfeiçoa a destreza e proporciona economia de tempo. Cada indivíduo torna-se mais hábil em seu setor específico, o volume de trabalho produzido é maior, aumentando também consideravelmente o cabedal científico”. (p. 69-70) O resultado geral: • A multiplicação das atividades e da produção – o bem-estar coletivo. É a grande multiplicação das produções de todos os diversos ofícios — multiplicação essa decorrente da divisão do trabalho — que gera, em uma sociedade B E M D I R I G I D A , aquela riqueza universal que se estende até as camadas mais baixas do povo. Cada trabalhador tem para vender uma grande quantidade do seu próprio trabalho, além daquela de que ele mesmo necessita; e pelo fato de todos os outros trabalhadores estarem exatamente na mesma situação, pode ele trocar grande parte de seus próprios bens por uma grande quantidade, ou — o que é a mesma coisa — pelo preço de grande quantidade de bens desses outros. Fornece-lhes em abundância aquilo de que carecem, e estes, por sua vez, com a ESQUEMAS DE AULA – PROF. ÉDIL GUEDES – HPE – ADAM SMITH 4 mesma abundância, lhe fornecem aquilo de que ele necessita; assim é que em todas as camadas da sociedade se difunde uma abundância geral de bens. • Maior integração social: O casaco de lã, por exemplo, que o trabalhador usa para agasalhar-se, por mais rude que seja é o produto do trabalho conjugado de uma grande multidão de trabalhadores. O pastor, o selecionador de lã, o cardador, o tintureiro, o fiandeiro, o tecelão, o pisoeiro, o confeccionador de roupas, além de muitos outros, todos eles precisam contribuir com suas profissões específicas para fabricar esse produto tão comum de uso diário. • O outro lado: Com o avanço da divisão do trabalho, a ocupação da maior parte daqueles que vivem do trabalho, isto é, da maioria da população, acaba restringindo-se a algumas operações extremamente simples, muitas vezes a uma ou duas. Ora, a compreensão da maiorparte das pessoas é formada pelas suas ocupações normais. O homem que gasta toda sua vida executando algumas operações simples, cujos efeitos também são, talvez, sempre os mesmos ou mais ou menos os mesmos, não tem nenhuma oportunidade para exercitar sua compreensão ou para exercer seu espírito inventivo no sentido de encontrar meios para eliminar dificuldades que nunca ocorrem. Ele perde naturalmente o hábito de fazer isso, tornando-se geralmente tão embotado e ignorante quanto o possa ser uma criatura humana. O entorpecimento de sua mente o torna não somente incapaz de saborear ou ter alguma participação em toda conversação racional, mas também de conceber algum sentimento ESQUEMAS DE AULA – PROF. ÉDIL GUEDES – HPE – ADAM SMITH 5 generoso, nobre ou terno, e, conseqüentemente, de formar algum julgamento justo até mesmo acerca de muitas das obrigações normais da vida privada. Ele é totalmente incapaz de formar juízo sobre os grandes e vastos interesses de seu país; e, a menos que se tenha empreendido um esforço inaudito para transformá-lo, é igualmente incapaz de defender seu país na guerra. A uniformidade de sua vida estagnada naturalmente corrompe a coragem de seu espírito, fazendo-o olhar com horror a vida irregular, incerta e cheia de aventuras de um soldado. Esse tipo de vida corrompe até mesmo sua atividade corporal, tornando-o incapaz de utilizar sua força física com vigor e perseverança em alguma ocupação que não aquela para a qual foi criado. Assim, a habilidade que ele adquiriu em sua ocupação específica parece ter sido adquirida à custa de suas virtudes intelectuais, sociais e marciais. Ora, em toda sociedade evoluída e civilizada, este é o estado em que inevitavelmente caem os trabalhadores pobres — isto é, a grande massa da população — A MENOS QUE O GOVERNO TOME ALGUMAS PROVIDÊNCIAS PARA IMPEDIR QUE TAL ACONTEÇA. (Vol II, LIVRO QUINTO — A Receita do Soberano ou do Estado, CAP. I — Os Gastos do Soberano ou do Estado, PARTE TERCEIRA - OS GASTOS COM AS OBRAS E AS INSTITUIÇÕES PÚBLICAS, Artigo II — Os gastos das instituições para a educação da juventude, p. 243) ESQUEMAS DE AULA – PROF. ÉDIL GUEDES – HPE – ADAM SMITH 6 2. Origens da divisão do trabalho (cap. II) PRINCÍPIO FUNDANTE: “Ela é a conseqüência necessária, embora muito lenta e gradual, de uma certa tendência ou propensão existente na natureza humana que não tem em vista essa utilidade extensa [a geração dessa riqueza (opulence) geral], ou seja: a propensão a intercambiar, permutar ou trocar uma coisa pela outra”. (p. 73) Então: NÃO é fruto de uma SABEDORIA HUMANA que visasse a essa opulência geral, a essa utilidade extensiva; trata-se de uma condição natural que se vai, no tempo, efetivando; ou, em outras palavras, de uma natureza em-si (potentia) que é cada vez mais para-si (actus); não resulta de uma diversidade natural de talento, pois que, ao contrário, todos os homens nascem iguais; inversamente, essa diversidade de talentos é ela própria fruto da divisão do trabalho mesma (ver p. 75); “é uma conseqüência necessária das faculdades da razão e da fala” (p. 73) D necessidade inata “de persuadir” D tendência inata ao “comércio espiritual” e ao “comércio das idéias” não é fruto de uma sabedoria que surgisse do nada, de uma RAZÃO EXTERIOR, mas, pode afirmar- se, esse processo de ampliação da prosperidade geral pela difusão do intercâmbio “decorre da racionalidade da natureza humana, ou seja, do fato de que o homem, na medida em que se acha dotado de uma razão que ele pode expressar aos demais através da palavra, pode realizar plenamente sua própria natureza unicamente ao submeter cada atividade que desempenhe à lei da comunicação e da troca” (C. Napoleoni, pp. 51-52) “Numa sociedade civilizada, o homem a todo momento necessita da ajuda e da cooperação de grandes multidões, e sua vida inteira mal seria suficiente para conquistar a amizade de algumas pessoas” (ver resto: A. Smith, RN, p. 74) a visão de Smith é OTIMISTA: não uma natureza essencialmente desagregadora como em Hobbes, mas uma natureza que tende à integração recíproca. A mesma propensão que gera a diferença de talentos faz com que a diferença seja útil (ver pp. 75-76) ESQUEMAS DE AULA – PROF. ÉDIL GUEDES – HPE – ADAM SMITH 7 2.1.2. A divisão do trabalho limitada pela extensão do mercado (cap. III) PROPOSIÇÃO FUNDAMENTAL: “Como é o poder de troca que leva à divisão do trabalho, assim a extensão dessa divisão deve ser sempre limitada pela extensão desse poder, ou, em outros termos, pela extensão do mercado” (p. 77) Propensão à troca D natural Poder de troca D sociedade A natureza tende à integração recíproca, mas — tanto em Smith como, mais ainda, em Ricardo — começa a tomada de consciência de que no campo da História, das instituições historicamente determinadas, há problemas complexos quanto à realização dessa tendência. o mercado reduzido não estimula a especialização, pois a parcela excedente de sua produção (que ultrapassa os limites de seu consumo pessoal) não terá como trocar-se em grande medida. (associação da extensão dos mercados ao acesso ao mar e à navegação) 2.2. A origem e o uso do dinheiro (cap. IV) Divisão do trabalho D economia de subsistência é residual D generalização da troca: “Todo homem vive por meio da troca, ou se torna em certa medida um comerciante, e toda a sociedade transforma-se no que é propriamente uma SOCIEDADE COMERCIAL” (p. 81) ESQUEMAS DE AULA – PROF. ÉDIL GUEDES – HPE – ADAM SMITH 8 Empecilhos no início da divisão do trabalho: o excedente de um indivíduo pode não corresponder às necessidades do outro e vice-versa; ou apenas pode ser uma VERDADE UNILATERAL: um tem o que o outro precisa, mas não o contrário; e isso pode dar-se em cadeia (exemplo dos comerciantes açougueiro, cervejeiro e padeiro). como a troca é uma RELAÇÃO DUAL, diminui, por isso, em todos a possibilidade de se ajudarem. assim, o ideal é que todos os comerciantes, uma vez já adotada a divisão do trabalho, prudentemente, tivessem “além dos produtos diretos de seu próprio trabalho, uma certa quantidade de alguma(s) outra(s) mercadoria(s) — mercadoria ou mercadorias tais que, em seu entender, poucas pessoas recusariam receber em troca de seus próprios trabalhos” (p. 82). Exemplos de Smith: gado (antiguidade – Grécia); sal (Abissínia); conchas (Índia); bacalhau seco (Terra Nova); fumo (Virgínia); açúcar (colônias inglesas no Oeste da Índia); peles ou couros preparados; pregos etc. mas, tendencialmente, a função de instrumento de troca atribui-se universal e historicamente aos metais. vantagens dos metais: o CONSERVAÇÃO: não perdem valor; difícil outro bem menos perecível. o DIVISIBILIDADE: sem perda alguma, em qualquer número de partes D os fragmentos perdidos recuperam-se por fusão. Dificuldades: o No caso do ouro, a pesagem requer a exatidão necessária, as diferenças de quantidade pequenas representam uma grande diferença no valor dos metais preciosos. Surge a instituição do DINHEIRO CUNHADO ou moeda. Gravação oficial: meio de garantir oficialmente a quantidade e a qualidade uniformes dos metais-dinheiro. Depois: diminuição do valor (peso) original D dívidas dos governos etc. Fraude D redistribuição do valor. MONTANTE NOMINAL DE MOEDA X EXPRESSÃO REAL DE VALOR ESQUEMAS DE AULA – PROF. ÉDIL GUEDES – HPE – ADAM SMITH 9 3. A teoria smithiana do valor (caps. V a VII) 3.1. Preço real e preço nominal O que é o valor de uma mercadoria? “O valor de qualquer mercadoria, para a pessoaque a possui, mas não tenciona usá-la ou consumi-la ela própria, senão trocá-la por outros bens, é igual à quantidade de trabalho que essa mercadoria lhe dá condições de comprar ou comandar”. (p. 87) O valor é o “preço real” de cada coisa: “O preço real de cada coisa — ou seja, o que ela custa à pessoa que deseja adquiri-la — é o trabalho e o incômodo que custa a sua aquisição. O valor real de cada coisa, para a pessoa que a adquiriu e deseja vendê- la ou trocá-la por qualquer outra coisa, é o trabalho e o incômodo que a pessoa pode poupar a si mesma e pode impor a outros”. (p. 87) Aqui surge a definição do valor como trabalho comandado. O trabalho incorporado à mercadoria que eu possuo e quero trocar é o fundamento da relação de valor, mas não é a definição do valor. Trata-se de uma analogia de proporcionalidade: “O que é comprado com dinheiro ou com bens, é adquirido pelo trabalho, tanto quanto aquilo que adquirimos com o nosso próprio trabalho. Aquele dinheiro ou aqueles bens na realidade nos poupam este trabalho. Eles contêm o valor de uma certa quantidade de trabalho que permutamos por aquilo que, na ocasião, supomos conter o valor de uma quantidade igual. O trabalho foi o primeiro preço, o dinheiro de compra original que foi pago por todas as coisas”. (p. 87) ESQUEMAS DE AULA – PROF. ÉDIL GUEDES – HPE – ADAM SMITH 10 Cálculo da proporção: • Diferentes tipos de trabalho: não é só a quantidade de trabalho que vai determinar a proporção, mas também os diferentes graus de dificuldade e de engenho. • Difícil encontrar um critério exato: ajuste pela pechincha (higgling) e pelo regateiro (bargaining) do mercado: igualdade aproximativa. Sobre o preço em dinheiro e a necessidade de uma medida precisa: • O dinheiro (ouro e prata) é uma mercadoria: seu preço varia. • Abundância ou escassez das minas (que eventualmente se conhecem) ⇒ mais ou menos trabalho para trazer esses metais das minas para o mercado: maior ou menor a quantidade de trabalho que eles (os metais) permitem comprar ou comandar. • Uma mercadoria cujo valor muda constantemente jamais pode ser uma medida exata do valor de outras mercadorias. O trabalho como medida invariável: “...quantidades iguais de trabalho têm valor igual para o trabalhador, sempre e em toda parte. Estando o trabalhador em seu estado normal de saúde, vigor e disposição, e no grau normal de sua habilidade e destreza, ele deverá aplicar sempre o mesmo contingente de seu desembaraço, de sua liberdade e de sua felicidade. O preço que ele paga deve ser sempre o mesmo, qualquer que seja a quantidade de bens que receba em troca de seu trabalho. Sempre e em toda parte valeu este princípio: é caro o que é difícil de se conseguir, ou aquilo que custa muito trabalho para adquirir, e é barato aquilo que pode ser conseguido facilmente ou com muito pouco trabalho”. (p. 89) ESQUEMAS DE AULA – PROF. ÉDIL GUEDES – HPE – ADAM SMITH 11 Observações: • É o preço desses bens que varia, não o valor do trabalho que os compra. • Noção de trabalho médio. Não é clara, entretanto, a identificação desse trabalho médio a um tempo socialmente necessário, nas condições de produção dadas, para a produção das mercadorias. • O mesmo preço nominal às vezes tem valores muito diferentes: Smith aqui pretende dizer que a expressão quantitativa (monetária) de valor não diz o quantum de trabalho, de riqueza, se obtém ou se dispende. • Smith também ironiza a diminuição da quantidade de metal puro contido nas moedas pelos Estados para mostrar a perda de valor real na mesma expressão nominal monetária. • O valor do trigo varia pouco no longo prazo, mas muito no curto prazo; com o da prata ocorre o inverso. 3.1. Fatores que compõem o preço das mercadorias (cap. VI) Sociedades primitivas: • O trabalho é a única medida. • Padrão de troca: “a proporção entre as quantidades de trabalho necessárias para adquirir os diversos objetos”. • Quantidades iguais de trabalho, considerando-se a sua qualidade (dificuldade, destreza e engenho). • A quantidade de trabalho normalmente empregada em adquirir ou produzir uma mercadoria regula o valor de troca, ou seja, a capacidade de comprar ou comandar uma determinada quantidade de trabalho (que pode expressar-se em mercadorias). Depois da acumulação do capital (os meios de produção) nas mãos de pessoas particulares, as coisas se modificam: “No momento em que o patrimônio ou capital se acumulou nas mãos de pessoas particulares, algumas delas naturalmente empregarão esse capital para ESQUEMAS DE AULA – PROF. ÉDIL GUEDES – HPE – ADAM SMITH 12 contratar pessoas laboriosas, fornecendo-lhes matérias-primas e subsistência a fim de auferir lucro com a venda do trabalho dessas pessoas ou com aquilo que este trabalho acrescenta ao valor desses materiais”. (p. 102) O que é o lucro então? ... o valor que os trabalhadores acrescentam aos materiais desdobra-se, pois, em duas partes ou componentes, sendo que a primeira paga os salários dos trabalhadores, e a outra, os lucros do empresário, por todo o capital e os salários que ele adianta no negócio (p. 102). Mas os lucros são regidos por outra lógica, que não a do tempo de trabalho: ... o empresário não poderia ter interesse algum em empregar um patrimônio maior, em lugar de um menor, caso seus lucros não tivessem alguma proporção com a extensão do patrimônio investido (p. 102). Seriam eles algo como uma remuneração de um outro tipo de trabalho? Poder-se-ia talvez pensar que os lucros do patrimônio não passam de uma designação diferente para os salários de um tipo especial de trabalho, isto é, o trabalho de inspecionar e dirigir a empresa. No entanto, trata-se de duas coisas bem diferentes; o lucro é regulado por princípios totalmente distintos, não tendo nenhuma proporção com a quantidade, a dureza ou o engenho desse suposto trabalho de inspecionar e dirigir. Em cada setor ou ramo da produção, a concorrência (para baixo) e a busca de lucros máximos tenderiam a criar uma situação em que a proporcionalidade universal se estabelecesse: a mesma taxa de lucro. ESQUEMAS DE AULA – PROF. ÉDIL GUEDES – HPE – ADAM SMITH 13 Com a renda da terra, dá-se mais ou menos o mesmo. Smith fala novamente de uma dedução de parcela do produto do trabalho, com ironia: “No momento em que toda a terra de um país se tornou propriedade privada, os donos das terras, como quaisquer outras pessoas, gostam de colher onde nunca semearam [“love to reap where they never sowed”], exigindo uma renda, mesmo pelos produtos naturais da terra. A madeira da floresta, o capim do campo e todos os frutos da terra, os quais, quando a terra era comum a todos, custavam ao trabalhador apenas o trabalho de apanhá-los, a partir dessa nova situação têm o seu preço onerado por algo mais, inclusive para o trabalhador. Ele passa a ter que pagar pela permissão de apanhar esses bens, e deve dar ao proprietário da terra uma parte daquilo que o seu trabalho colhe ou produz”. (p. 103) Apenas estes três componentes determinam o preço das mercadorias. Exemplos de Smith sobre a existência virtual inalienável destes três componentes: • O manufator independente: Um manufator independente, que tem capital suficiente tanto para comprar materiais como para manter-se até poder levar seu produto ao mercado, deve ganhar tanto os salários de um trabalhador contratado por um patrão quanto o lucro que o patrão realiza pela venda do produto do trabalhador. E no entanto, tudo o que esse manufator independente ganha é geralmente chamado de lucro; também nesse caso,os salários são confundidos com o lucro. (p. 106) • O horticultor proprietário: Um horticultor que cultiva pessoalmente sua própria horta desempenha ao mesmo tempo três funções: proprietário da terra, responsável direto pela exploração da terra e trabalhador. Conseqüentemente, seu produto deve pagar- ESQUEMAS DE AULA – PROF. ÉDIL GUEDES – HPE – ADAM SMITH 14 lhe a renda que cabe ao primeiro, o lucro que cabe ao segundo e os salários que cabem ao terceiro. No entanto, comumente tudo é considerado como proventos de seu trabalho. Nesse caso, tanto a renda da terra como o lucro são confundidos com os salários. (p. 106) ESQUEMAS DE AULA – PROF. ÉDIL GUEDES – HPE – ADAM SMITH 15
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