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cultura foi contínua. O "alfabeto" da Ilha da Páscoa, uma série de linha« ondulantes e pinturas em placas de madeira, é exemplo extraordinário de uma linguagem escrita que se perdeu por ocasião da deterioração de uma cultura. Devido à despopulação e à conquista, os descendentes dos povos que as escreveram sabiam grafá-la mas não sabiam lê-la. Essas placas ainda não foram traduzidas e talvez, até que se encontre uma "chave" ou uma referência cruzada, jamais serão. Esse escrito da Ilha da Páscoa mostra, no entanto, uma surpreendente semelhança com a escrita usada nas grandes cidades do vale do Indo — Mohenjo Daro e Harappa — há mais de cinco mil anos atrás, onde é hoje o Paquistão. Uma comparação entre os escritos da Ilha de Páscoa e do vale do Indo demonstra uma evidência visual de que são relacionados, mas como os escritos do vale do Indo também não foram decifrados, o mistério de seu relacionamento e seu significado permanecem mais obscuros do que nunca. Trata-se, na realidade, de um mistério muito profundo, pois se, como supôs Heyerdahl, a Ilha da Páscoa derivou-se do continente americano, devido à direção das correntes do Pacífico, talvez uma forma de escrita da Ilha da Páscoa tenha ido da América para a península indiana. Ou então o aparecimento do manuscrito do Indo indicaria que uma civilização antiga deslocou-se milhares de milhas através do Oceano Pacífico para fundar uma colônia numa pequenina ilha que pertence mais à América do Norte do que à Ásia. Além disso, as ruínas ainda existentes na Ilha da Páscoa são decididamente semelhantes às da costa do Peru. Uma terceira possibilidade vem sendo estudada há muito: a Ilha da Páscoa seria o remanescente de um continente perdido do Pacífico, apesar de que o exame do solo do Oceano Pacífico não apóia essa teoria. De qualquer maneira, quer os escritos da Ilha da Páscoa tenham vindo do leste ou do oeste, sua semelhança com o antigo manuscrito indiano constitui um notável elo lingüístico entre o Velho e o Novo Mundo através do Pacífico, apesar de serem em línguas que não podem ser lidas e nem mesmo identificadas. A linguagem escrita e a linguagem falada por um mesmo povo são freqüentemente diferentes, como, por exemplo, no caso dos tuaregues, os chamados "povos azuis" do Saara — pois a tinta que usam para tingir o véu com que protegem o rosto marca-os de azul. Supõe-se que os tuaregues tenham conexões lingüísticas com os púnicos e os antigos líbios, o que nos leva novamente à cultura fenícia. Porém sua linguagem alfabética escrita, T’ifinagh, que não é a linguagem falada, Temajegh, está sendo esquecida antes de poder ser corretamente classificada ou traduzida. Essa estranha escrita alfabética, perdida no deserto, constitui mais um mistério lingüístico — desta vez um mistério completo, com implicações atlanteanas. Comparação das amostras de escritos no Vale do Indo e na Ilha da Páscoa, mostrando uma extraordinária semelhança, apesar de os dois centros estarem localizados a milhares de milhas de distância. Nas Américas temos constantes referências à escrita sendo introduzida por deuses ou mestres que vinham do leste ou do mar oriental. Quetzalcoatl, por exemplo, é suposto ter vindo da "Terra Vermelha e Preta" a qual, por dedução, pode ser interpretada como a terra da escrita, pois vermelho e preto eram as cores mais usadas pelos astecas em sua escrita pictórica. (A "Terra Vermelha e Preta" também se adapta à descrição de Platão das cidades da Atlântida, construídas em pedras vermelhas e pretas.) Uma interessante descrição de um grupo de sacerdotes ou de mestres que trouxe a escrita para o México pré-colombiano foi deixada por Sahagún, um cronista espanhol da conquista do México, que fez seu relato baseado em fontes antigas: "(Eles) vieram através do mar e aportaram perto (Vera Cruz) — os sábios antigos que tinham todos os escritos — os livros — as pinturas." Fernando de Montesinos, um espanhol que registrou a História inca, relata um estranho elemento na tradição histórica do Peru. Segundo a história "falada", o inca Huanacauri (de uma dinastia anterior à que foi exterminada pelos conquistadores) foi avisado pelos sacerdotes do Sol que se quisesse se livrar da praga que ia devastar seu império devia abolir a escrita para assim liquidar a praga. Em conseqüência, decretou pena de morte para quem escrevesse, mandou matar alguns escritores que desobedeceram e assim tanto a escrita como a praga foram abolidas de seu império. De que maneira isso tudo era lembrado sem registros escritos? Através do uso de registros "humanos", que eram escolhidos para memorizar a história e a literatura incas. Na realidade, poemas bastante longos e até mesmo peças de teatro, tais como Ollantay, foram "lembradas" através da vocalização desde os tempos incas, tendo sido posteriormente escritas e publicadas na era moderna. O registro da população, da produção e dos impostos do império inca era feito através de um sistema de compridas cordas coloridas, cheias de nós, e é possível que os "registradores humanos", de memória especialmente treinada, as usassem como substitutos de registros escritos para treinar mais ainda sua memória. O uso do quipus não foi completamente entendido até hoje, e é possível que algum conhecimento inca ainda exista em aldeias dos Andes onde se fala quíchua e aimará. Descobriu-se que tantas inscrições no Novo Mundo são obra de indígenas atuais, exploradores ou até mesmo brincalhões, que os pesquisadores olham com a maior desconfiança as muitas inscrições "antigas" encontradas na América do Sul — na Venezuela, Colômbia e Brasil, assim como na costa oeste. Algumas parecem ter sido escritas em grego, outras em fenício, enquanto que outras ainda são indecifráveis. É preciso lembrar que grandes regiões da América do Sul ainda não foram exploradas, não só do ponto de vista arqueológico mas sob qualquer ponto de vista, sendo vistas apenas do ar como uma espessa floresta que mais parece um oceano verde. Esse "oceano" — devido às inscrições encontradas ao longo das margens dos rios, que podem ter sido portos, e em colinas que podem ser ruínas, e lendas de cidades perdidas sob as densas árvores — foi considerado outra possível pista para a Atlântida e a pré-história, principalmente pelo explorador Fawcett, que lá perdeu a vida procurando as supostas "cidades perdidas". Apesar de muitas inscrições encontradas no leste da América do Sul terem sido tachadas como brincadeira, é pouco provável que pessoas desejosas de perpetuar brincadeiras tenham penetrado tão longe na floresta, através dos rios, com essa finalidade, ou que os índios primitivos da floresta se dessem a esse trabalho, inclusive aprendendo letras gregas ou fenícias. Além do mais, parecem ter sido encontradas evidências concretas de visitas de além-mar — por exemplo, um esconderijo de moedas romanas desencavado na Venezuela, com moedas que datam, no máximo, do ano 350. Ã medida que a região da floresta for sendo mais explorada espera-se descobrir e estudar mais inscrições que nos fornecerão maiores indicações não só sobre a primitiva exploração americana mas também sobre quem eram os exploradores e que alfabeto ou sistemas de escrita usavam. Finalmente, restam-nos certas lembranças lingüísticas, algumas possibilidades de sobrevivências isoladas de linguagens antediluvianas, algum manuscrito não decifrado cuja futura tradução talvez explique o mistério (ou então o tornem ainda mais complexo). Existe mais alguma coisa do ponto de vista lingüístico? Existe, e trata-se do próprio nome Atlântida. Supondo-se que esse continente ou império existiu, o nome que lhe era dado pelos habitantes pode não ter sido a versão grega ou platônica. O constante aparecimento dos mesmos sons de letras — A-T-L-N — em várias línguas, para designar o nome do ponto de origem racial, da antiga terra natal, do paraíso terrestre, do berço da cultura, por povos de ambos os lados do Atlântico