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775 REFLEXÕES E CONTRIBUIÇÕES À CERCA DA FORMAÇÃO DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO SILVA, Francis Borges da 1, PEIXINHO, Dimas Moraes 2 Resumo: Entre as necessidades colocadas para a formação do geógrafo está o de compreender os aspectos teórico-metodológicos que possibilitam a investigação do seu objeto de estudo, assim como, da sua fundamentação teórica, pois esses são os alicerces que estruturam a geografia como ciência. A leitura s is tematizada e analítica é a melhor forma para formar um profissional capaz de compreender e analisar a sociedade e ser reconhecido profissionalmente nela. Durante a formação acadêmica se estabelece as bases para a reflexão da informação e a formação continuada profissional, pois é nesse período que os indivíduos apreendem a aguçar e aprofundar seus conhecimentos, organizando as informações dentro do seu campo de formação. A pós-graduação no sentido de um grau a mais de ensino superior para aqueles que já concluíram o curso de graduação e que visa a formar e aperfeiçoar pessoalmente enquanto docentes para o ensino, uni aluno/ pesquisa e suas concepções teóricas num campo mais amplo, que o conduz a descobertas e novas reflexões à medida que enriquece seus conhecimentos. A partir de estudos e reflexões à cerca do pensamento geográfico, alguns dentre importantes autores (Paul Claval, Ruy Moreira, Paulo Cesar Gomes, Milton Santos e Olivier Dolfuss) da geografia tem contribuído há décadas com leituras que possibilite uma melhor compreensão da análise espacial, primordial às funções do geógrafo. Palavras-chave: Reflexões teóricas metodológicas, pós-graduação, análise espacial. 1. INTRODUÇÃO A reflexão em meio à leitura é uma condição para apreender a informação e para a formação docente. Há uma relação direta entre a informação e a formação, pois ambas interagem entre si. Enquanto a informação é a porta de entrada para o acontecimento, a formação atua na seleção da informação, conseqüentemente pode- se depreender dessa relação que, é a formação que dá a qualidade a informação, logo pessoas com uma boa formação absorvem os acontecimentos de forma diferenciada. A chamada exclusão informacional é decorrente mais da carência de formação do que do acesso aos meios de circulação de informações, que nos últimos anos foram ampliados, especialmente através da rede mundial de computadores. Porém, há uma diferença entre ter o acesso à informação e saber decodificar o seu significado. Essa “dificuldade” acaba sendo “resolvidas”, na maioria das vezes, pelos próprios produtores das informações, através de comentários e análises feitas por seus especialistas, embutindo nelas o seu significado, deixando o individuo inerte, frente à tamanha alienação dos reais acontecimentos. 1 Mestrando de Geografia da Universidade Federal de Goiás CAJ/Riachuelo e-mail: francisdathiaya@hotmail.com. 2 Prof. Dr. do Departamento de Geografia, Universidade Federal de Goiás, Campus/ Jataí. dimas@yahooo.com.br. 776 O processo de alienação, comum no cotidiano das pessoas, se repete com maior intensidade na escola, que por essência deveria ser o lucus de formação. A alienação no âmbito escolar marca fundamentalmente o sujeito, o tornado um deformado estrutural. Dentro da relação professor/aluno, na perspectiva da informação/formação, enquanto o primeiro não desenvolve o hábito para a leitura, o segundo não desenvolve o hábito para decodificá-la, por sua formação deficiente, tornando-se um repetidor de informações livrescas e simplistas. Em muitos casos essa deficiência é transferida para os livros, através de um discurso devidamente reproduzido que o problema estaria nos livros, na qualidade dos livros. Mas há que se observar que para julgar a qualidade de um livro precisa de um mínimo de formação, fato que nem sempre é percebido na base desses discursos. Esse tipo de atitude contribui mais para criar uma antipatia do indivíduo aos livros, do que para aproximá-los. A Universidade enquanto instituição pluridisciplinar de formação dos quadros de profissionais de nível superior, de pesquisa, de extensão e de domínio e cultivo do saber humano, deveria ser o lucus da: formação, da produção de informações especializadas e qualificadas, do ambiente estimulo ao hábito da leitura, tem se perdido em meio à insuficiente é traumática tentativa de formar considerável parcela de seus alunos. Pois as leituras fragmentadas, feitas em sua grande maioria através de “pedaços” de livros “fotocopiados” servem mais para deformar do que para informar/formar. Mas se o processo de leituras informativas já é problemático, as leituras formativas são praticamente inexistentes, salvo as leituras individuais que fica acabo de cada um. Porém, essa constatação não é suficiente para alterar a realidade. Assim, é preciso buscar meios que possam apontar caminhos para intervir nessa realidade. Como parte processual da pós-graduação, as leituras individuais e as discussões colet ivas , servem de amadurecimento teórico ao tempo que estimulam aos que buscam uma melhor formação. Esse tipo de prática não tem somente por finalidade contribuir teoricamente para a formação continuada na pós-graduação, e sim, busca contribuir com uma ampla reflexão teórica do pensamento geográfico. 2. METODOLOGIA Para realização do trabalho foram necessários leituras e pesquisas em livros, revistas, periódicos e ainda trabalhos relacionados aos temas e métodos de ensino da geografia, utilizando da edição deste em programas operacionais de computador, como o microsoft word. 777 No decorrer da elaboração do artigo, as aulas de formação do pensamento geográfico com o prof. Dr. Dimas Moraes Peixinho, foi fundamental enquanto orientação de leitura e pesquisas relacionadas aos diversos materiais consultados, sendo realizadas de maneira gradativa. 3. DESENVOLVIMENTO 3. 1 Considerações gerais No intuito de horizontalizar as leituras e verticalizar as reflexões da formação do pensamento geográfico, foram lidos e discutimos os seguintes livros: História da Geografia (Paul Claval); O pensamento geográfico brasileiro (Ruy Moreira); Geografia e Modernidade (Paulo Cesar Gomes); A natureza do Espaço: técnica e tempo – razão e emoção, A metamorfose do espaço habitado, Espaço e Método (ambos de Milton Santos) e A análise geográfica (Olivier Dolfuss) e como contribuição à reflexão geográfica, o professor Eguimar Felício Chaveiro fez uma participação conduzindo uma reflexão em Sartre, ou seja: A ABORDAGEM DO SUJEITO EM GEOGRAFIA: um diálogo com Jean Paul Sartre com base no texto “O Existencialismo é um Humanismo”. 3.2 Autores – obras e suas contribuições Paul Claval (História da Geografia) – nos apresenta uma historização de uma geografia que evoluiu dos aspectos descritivos das clássicas teorias geográficas a uma geografia preocupada com os contornos do real, ou seja, uma geografia com abordagem humanista que dê conta de perceber as diferentes dinâmicas em curso nas sociedades que partilham a Terra. Em detrimento de alguns acontecimentos pós década de 50, a sociedade já não pede aos geógrafos ensinamentos iguais aos do início do século. Com o desenvolvimento tecnológico e a aptidão para novas ferramentas de uso geográfico, muito se pensou sobre o conhecimento de geografia articulado ao imperialismo norte- americano. Porém em detrimento da Guerra do Vietnam, dos movimentos populares e dos movimentos ambientalistas e ecológicos ocorridos na década de sessenta, difundiu-se a necessidade da relevância social e expandiram-se propostas de análise visando substituir as normas metodológicas do neopositivismoda geografia física, representadas pelo “materialismo dialético, fenomenologia e abordagem humanística”. Tais proposições repercutiram em muitos estudos sobre os acontecimentos sociais e econômicos, no campo das questões relacionadas com a Geografia Humana. Com isso, o conhecimento científico apresentava nova dimensão a respeito da estrutura, funcionamento e dinâmica dos sistemas e à compreensão de como o mundo funciona. 778 Configurado o contexto da geografia desde seu surgimento na Grécia aos dias atuais, pensar a geografia no mundo pós-moderno, é desvelar sua importância quanto ao conhecimento do mundo. Segundo Claval, “as transformações que a geografia conhece desde o início da década de 80 refletem a amplitude das mutações que afetam o mundo: o crescimento das ameaças que pesam sobre o ambiente, a mundialização da economia, a metropolização acelerada, o desmoronamento do bloco socialista, a contestação das filosofias políticas de origem ocidental”. Pois para Claval, “atenta à diversidade dos sonhos e aspirações humanas, a geografia torna-se essencial como introdução a todas as ciências do homem. O universo pós-moderno acabou com o fetichismo do tempo. Concebe ao espaço uma atenção que lhe deveria ter sido dada há muito tempo”. Sendo para tanto, a geografia fornece elementos de cultura geral indispensável aos que se assumem como “cidadão do mundo”, em especial homens de negócios ou homens de Estado, que devem ter uma visão alargada da Terra, das suas realidades, dos seus problemas e dos riscos que faz correr aos que a habitam. Para tanto, a geografia é um convite a compreender e respeitar a diversidade dos meios naturais e das civilizações. Ruy Moreira – em “o pensamento geográfico brasileiro: as matrizes clássicas originais”, nos remetem à reflexão a grau de importância da leitura original dos clássicos. Pois, contemporaneamente, várias são as temáticas inerentes ao contexto geográfico do mundo. Onde temas como globalização, meio ambiente, arranjos espaciais, determinados da organização estrutural de nossas sociedades, conflitos de territorialidades, despertam a curiosidade do público leitor. Sejam eles, geógrafos, entre os quais principalmente os professores da rede escolar e universitária e os estudantes de graduação e pós-graduação fazendo dos clássicos da Geografia uma fonte segura quanto à originalidade das leituras. Neste sentido, Moreira (2008) dissertará sobre sete importantes obras de geógrafos que tiveram papel-chave na formação da Geografia brasileira. Que são eles: Elisée Reclus, Paul Vidal de La Blache, Jean Brunhes, Max Sorre, Pierre George, Jean Tricart e Richard Hartshorne – e uma obra de cada autor clássico para base de estudo, optando pelas obras disponíveis em língua portuguesa e espanhola e representativa do seu pensamento. Cujo objetivo e intenção são desembocar seu estudo na análise das matrizes geográficas brasileiras, a real fonte e influências desses pensadores. 779 No entanto, Moreira (2008) nos chama a atenção especial para o método de síntese utilizado na interpretação dos diversos autores. A síntese é, no fundo, uma leitura do livro feito a partir do que se entende por seu nexo discursivo (seu núcleo racional). Porém com ressalvas para que os conhecimentos postos nas obras não sejam distorcidos. Pois cada autor apresenta sua discussão pautada no seu conteúdo histórico de vida, sejam eles, sociais, políticos ideológicos. Uma observação importante que se faz, é que cada qual ao seu tempo, contribuiu de maneira significativa para a construção do pensamento geográfico. Pois são autores que narram as mudanças e transformações espaciais contemporâneas no tempo. Porém cada qual subsidiado por suas matrizes teóricas conceituais. Assim, na obra “o pensamento geográfico brasileiro: as matrizes clássicas originais”, segundo autor, nos convida a descobrir que muitos conceitos e teorias atuais, se encontram neles, autores importantes de vários campos do saber, a exemplo da teoria da complexidade de Edgar Morin, Henri Atlan, Isabelle Stengers e Ilya Prigogine, já presente em Max Sorre; da construção técnica do espaço de Milton Santos, já presente em Pierre George; do meio técnico e científico, também de Milton Santos, já presente no conceito de gênero e modo de vida de Vidal de La Blache; do movimento do real como instituição da diferença de Jules Deleuze e Jacques Derrida, já presente na teoria da diferenciação de áreas de Alfred Hettner e Richard Hartshorne; da Terra como produto da interação dos seres vivos com o meio físico no planeta da teoria de Gaia de James Lovelock, já presente no conceito de meio geográfico de Jean Tricart; da superfície terrestre como morada do homem dos ambientalistas, já presente em Vidal de La Blache, Jean Brunhes, Marx Sorre e Richard Hartshorne; dos conflitos sociais entre os povos de vida comunitária (a exemplo de comunidades indígenas, camponesas e quilombolas) e o modo de vida e produção do capitalismo que hoje domina a teoria social brasileira, já presente em Elisée Reclus. Acostumado, porém, a indagar o mundo que o cerca a partir da própria experiência sensível da paisagem que lhe serve de leitura e referência, onde tudo sugere um todo articulado como mundo do homem, o geógrafo sabe que o mundo real não é o do paradigma de pensamento dominante. Preso a essa cultura parametrada num discurso de racionalidade científico-técnica e ao mesmo tempo a essa categoria do olhar sensível por excelência que é a paisagem, aqui e ali ensaia uma explicação diferente, mesmo que no geral não rompa com a cadeia do condicionamento cultural hegemônico, e daí nascem as exceções das matrizes, como no exemplo dos clássicos. 780 Portanto, segundo Moreira (2008, pág. 188), é importante nos atentarmos para originalidade dos clássicos, pois, aquilo que, quando dito pela boca de outro, ressoa como uma enorme renovação da verdade, capaz de uma reformulação e mesmo ruptura com a cultura do pensamento dominante, restando-lhe apenas repetir e dar eco a sua boca, mas pela dos outros de mais prestígio. (MOREIRA 2008, pág. 188) Paulo Cesar Gomes – em Geografia e Modernidade, o pensamento da geografia aparece condicionado pelo elemento da modernidade para sua constituição enquanto ciência. Para Gomes, a geografia explica o onde? E deve explicar o porquê do onde? Ou seja, onde acontece as transformações e a mudanças e o porquê? Em linhas gerais, o que o autor acentua no texto e traz para o debate geográfico, é a disputa entre duas posições, sempre baseada entre uma análise que se quer à totalidade e outra que buscar o singular, o particular. Um ideário centrado na razão (ciência) e no que não é da razão (subjetividade, locada no senso comum). A obra “Geografia e Modernidade” nos apresentam um ideário de modernidade baseado na razão, no método como instrumento para se chegar à verdade racional e na concepção de mundo como um grande corpo, o que se diferencia profundamente de um ortodoxismo espiritual. Para o autor, verificar como a Geografia, uma ciência que nasce na modernidade, se faz, caminha e se projeta no horizonte teórico, significa trilhar aspectos fundamentais para seu entendimento. Pois segundo autor, quando foi posto em questão a cientificidade da Geografia, o argumento foi justamente recorrer às idéias da modernidade. Neste sentido, “a resposta enfatizou, portanto, os aspectos relacionados à modernização de seus métodos, a nova perspectiva prospectiva e, sobretudo, a ruptura que foi operada com aquilo que se identifica como sendo a “velha geografia”. O prestígio e a legitimidade se justificariam, assim, pela conformidade ao modelo normativo da ciência, e sua modernidade se exprimirianas técnicas sofisticadas (imagens de satélite, tratamento informático de dados, sistemas de informações geográficas, etc.) e nos métodos que ela emprega.” O esforço intelectual concomitante com a reflexão de Gomes (2000) em “Geografia e Modernidade” percorre momentos fundamentais da relação entre o projeto da modernidade e a construção de uma ciência geográfica. Seu objetivo é, antes de mais nada, mostrar que o moderno se fundamenta através de um discurso, e que sua estrutura é recorrente não só na interpretação dos fatos, como também na forma como a geografia apresenta seus principais debates epistemológicos. 781 A identidade geral da modernidade é vista sob um novo ângulo, e diversos autores clássicos da geografia são reexaminados à luz dessa nova interpretação, assim, passa a existir uma dualidade na discussão. Portanto, segundo autor, o artifício que consiste em ver a dualidade por intermédio do discurso particular de cada corrente do pensamento geográfico permitiu identificar uma estrutura recorrente nestes movimentos, que se comportam de forma semelhante em diversos pontos. Esta dinâmica é constante nas correntes da geografia moderna e representa de certa maneira o movimento mesmo da modernidade em suas formas mais míticas. Neste, os elementos da estrutura do mito da modernidade – traz consigo três elementos fundamentais que são recorrentes no discurso que apresenta o fato moderno: o caráter de ruptura, a imposição do novo e a pretensão de alcançar a totalidade. Todo fenômeno, quando se apresenta como moderno, parte de uma referência negativa àquilo que existia antes e que a partir de então se transforma no antigo ou no tradicional. O moderno possui uma ligação intrínseca com a contemporaneidade: substitui alguma coisa do passado, defasada ou simplesmente, alguma coisa que não encontra mais justificativa no tempo presente. Daí vem à concepção de uma estrutura em progressão, segundo a qual o avanço e a mudança são sempre elemento necessário. O resultado e uma cadeia de derivações na quais substituições consecutivas e progressivas são regularmente estabelecidas. O “novo” torna-se sinônimo de legítimo e, em seu nome, busca-se toda gama de justificativas. Portanto, segundo Gomes (2000), a modernidade se movimenta via campo de idéias força, que se impõe e constrói a todo o momento a concepção do moderno. E assim, movido pelo novo, as mudanças, transformações faz com que a geografia vai vendo seu objeto de estudo se encorpar em essência e aparência. Milton Santos - é, reconhecidamente, um dos mais importantes autores que contribuíram para a construção do pensamento geográfico no século XX. O seu esforço e o movimento de seu pensamento se concentram na busca permanente da construção teórico-metodológica da ciência geográfica, nesse sentido a sua leitura torna-se fundamental a todos que se interessam pela geografia e a abordagem espacial. Pois antes de qualquer leitura geográfica, uma das primeiras preocupações nos estudos de geografia é saber “o que é a própria geografia”. O que para Santos (1996), mais importante do que responder o que é a geografia e saber qual é o seu objeto de estudo é 782 especialmente como ela faz os seus estudos, conforme afirma o autor: Discorrer, ainda que exaustivamente, sobre uma disciplina, não substitui o essencial, que é a discussão sobre o seu objeto. Na realidade, o corpus de uma disciplina é subordinado ao objeto e não ao contrário. Desse modo, a discussão é sobre o espaço e não sobre a geografia; e isto supõe o domínio do método. Falar em objeto sem falar em método pode ser apenas o anúncio de um problema, sem, todavia, enunciá-lo (SANTOS, 1996, p 16). Santos em suas três obras nos apresentam uma rica discussão teórica, o que pontualmente pode se constatar em pequeno dado recorte de suas reflexões à cerca de categorias importantes na discussão geográfica. A sua principal contribuição é a busca incessante pelo método geográfico de entender o espaço e conseqüentemente desvelar a materialização das relações no meio, um retrato complexo da realidade que se configura na paisagem, ou seja, uma junção do inerte e do movimento, compreendido na sua forma/ conteúdo do particular ao global e vice versa. SANTOS (1988, 1996, 1997) em suas obras nos apresentam várias categorias geográficas, porém, convém destacar em meio a muitas, duas que representa a parte complexidade que é entender os diversos objetos de estudo em meio à geografia. Sendo o “espaço” como uma categoria abrangente e a “paisagem” como campo do visível, da materialização das relações homem/ meio. ESPAÇO, a tempo vem sendo nomeados pelos geógrafos, como o objeto de estudo da geografia, segundo Santos (1997, p. 71), o espaço pode ser compreendido como um “sistema de objetos e de ações” que se realizam sobre estes objetos; não entre estes especificamente, mas para as quais eles servem de intermediários. Os objetos ajudam a concretizar uma série de relações. O espaço é resultado da ação dos homens sobre o próprio espaço, intermediados pelos objetos, naturais e artificiais. O termo espaço guarda muitas definições e até certas confusões são feitas, por exemplo: tomar a “paisagem” como sinônimo de mesmo pode ser o um erro, como mostra Santos (1997 p 72). A paisagem é diferente do espaço. A primeira é a materialização de um instante da sociedade. Seria numa comparação ousada, a realidade de homens fixos, parados como numa fotografia. O espaço resulta do casamento da sociedade com a paisagem. O espaço contém o movimento. Por isso, paisagem e espaço é um par dialético. Como afirma o autor, a paisagem é o instante materializado, portanto é um elemento do espaço e não o espaço em si. Assim, o espaço é a junção da paisagem, da configuração territorial e da sociedade, sendo o espaço algo variável. Isso porque as formas podem, durante muito tempo, permanecer as mesmas, mas como a sociedade está sempre em movimento, a mesma paisagem, a 783 mesma configuração territorial, nos oferecem, no transcurso histórico, espaços diferentes. Dessa forma o espaço deve ser compreendido como processo. O espaço pode ser abordado por diferentes aspectos como: espaços socia i s , geográf i cos , cu l tura i s , cada um com suas particularidades e formas de análises diferenciadas. Segundo Santos (2004, p. 55) a interpretação de um espaço ou de sua evolução só é possível através de uma análise global que possa combinar simultaneamente quatros categorias analíticas – forma, estrutura, função e processo, pois a relação é não só funcional e também estrutural. Essas categorias deve ser compreendidas nas seguintes perspectivas: a forma é o aspecto visível do objeto, como por exemplo, casas, bairros, redes urbanas, lavouras, etc; são os elementos presentes nas paisagens; a função são as atividades desempenhadas pelo objeto criado, ou seja, quando se cria um objeto cria-se com uma finalidade, com uma intencionalidade; a estrutura é processo maior que envolve a produção do espaço. Assim, por exemplo, a produção de grãos na nossa região está inserida em uma estrutura produtiva que se liga a vários lugares do Brasil e mesmo no mundo; e por último, o processo é o que permite a observação da produção do espaço no curso da história. Quando se observa que as formas vão mudando para atender as demandas (funções) das estruturas produtivas, podem-se perceber as transformações espaciais no seu processo produtivo. Outros aspectos em que se pode analisar a organização do espaço e sua dinâmica são através dos seus fixos e fluxos. O primeiro é constituído pelos elementos que são fixados no processo de produçãocomo: as casas, as indústrias, as cidades, as rodovias, etc.; e o segundo é constituído pelos elementos de circulação, como as pessoas, o capital, etc. Portanto, através dos tipos de fixos e os fluxos de um determinado espaço pode-se compreender a sua organização. A PAISAGEM – uma das elementares categorias da geografia, depende da capacidade de visão individual de perceber o que é observado. Para Santos, “a paisagem é tudo o que o sentido da visão abarca, contendo as formas, cores, movimentos, odores, sons etc”. (Santos, 1997, p.61). Então a dimensão da paisagem engloba a percepção do que chega aos sentidos. Por depender da percepção individual, a paisagem vai apresentar diferentes versões para cada pessoa de cada fato. Pois, a paisagem depende da escala, onde estamos, e ampliando-se com altura. “A dimensão da paisagem é a dimensão da percepção, onde o aparelho cognitivo é fundamental para a percepção da paisagem, e indivíduos distintos têm percepções singulares, dependendo do grau de formação, cultura, etnias etc”. (Santos, 1997, p.62) 784 A percepção faz parte da apreensão da realidade, porém não basta para o geógrafo limitar à visão diferenciada do homem na paisagem. É importante ultrapassar a aparência para se chegar ao significado, pois a percepção não é o conhecimento e sim um dos caminhos para se chegar a este. Neste sentido, o esforço de Santos concentrou-se no método coerente para entender o objeto de estudo da geografia, método que acompanhe o movimento das transformações e mudanças espaciais, não compreendido somente pela emergência quantitativa e sim qualitativa, que busque no cerne do movimento a vida, o cotidiano, a identidade, as especificidades dos lugares, que numa escala global nos possibilite visualizar as complexidades do mundo real. Olivier Dolfuss – segundo autor em sua obra “A análise geográfica”, o geógrafo estuda as modalidades de organização do espaço terrestre, assim como a distribuição das formas e das populações (no sentido de coleções de indivíduos) sobre a epiderme da Terra. Seu procedimento deriva de uma dialética entre a descrição e a explicação; ele propõe permanentemente questões que se vão encadeando e que começam por: onde, como e por quê. Com estas palavras, o autor abre a discussão em sua obra, nos apontando à importância do estudo e de definições quanto: O estudo da paisagem; Localização e escala de observação e, sobretudo a análise como possibilidade de compreensão das modalidades de organização no espaço constituído pela superfície terrestre e pela biosfera que a molda. Assim sendo, o geógrafo deve poder tocar em vários teclados aos quais correspondem as claves que comandam as partições. Não existe uma geografia qualitativa que se oponha a uma geografia dita quantitativa; aliás, a matemática não é a ciência da quantidade. A expressão mais adequada poderia ser “geografia lógica”. Para a compreensão dos espaços organizados e para o conhecimento das distribuições na superfície da Terra, existe apenas um único tipo de pesquisa que pode ser aprofundada por análise não necessariamente quantificáveis, mas que trarão resultados susceptíveis por vezes de serem obtidos com maior rapidez e expostos de maneira mais clara graças a um raciocínio lógico e a uma formulação matemática. Para Dolfuss, o geógrafo segue o conselho dado pelo pintor Kleer a um de seus alunos, “aprendendo a olhar para além das aparências a fim de alcançar a raiz das coisas”. Endossa igualmente a observação de Paul Valéry, a propósito da História: “É preciso livrar-se do infinito dos fatos pela avaliação de sua utilidade ulterior relativa.” 785 Portanto, refletindo em Dolfuss, a análise geográfica deve nos possibilitar ir da raiz à complexidade do objeto de estudo, não ficando no superficial e desvelando a essência do aparente materializado. Sendo necessário à vezes, desconstruir e reconstruir o objeto para entendermo-nos. 4. Considerações finais Considerando a relevância, o aprofundamento e esforço teórico apresentado nas obras dos autores mencionados, (Paul Clava, Ruy Moreira, Paulo Cesar Gomes, Milton Santos e Olivier Dolfuss), pretensiosos seriamos, acreditar que a formação do pensamento geográfico se limita a algumas obras estudadas. No entanto, a discussão das obras contribui de maneira significativa para um apreender teórico-metodológico a cerca da formação do pensamento geográfico. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CLAVAL, Paul. História da Geografia. Editora 70, Lisboa: 2006. DOLFUSS, Olivier. A Análise geográfica. Difusão Européia d livro, São Paulo: 1973. GOMES, Paulo Cesar da Costa. Geografia e Modernidade. Editora Bertrand Brasil, Rio De Janeiro: 2000. MOREIRA, Ruy. O pensamento geográfico brasileiro: as matrizes clássicas originárias. Editora Contexto, São Paulo: 2008. SANTOS, Milton. Espaço e método. – 4. Ed. – São Paulo: Nobel, 1997. – (Coleção espaços) ______________. METAMORFOSE DO ESPAÇO HABITADO, fundamentos teóricos e metodológicos da geografia. Hucitec. São Paulo 1988. ______________. A Natureza do Espaço técnica e tempo. Razão e Emoção. São Paulo: Editora HUCITEC, 1996.
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