Buscar

revista agb_piotr kropotkin

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 106 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 106 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 106 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

associaço 
dos geografos 
brasfleiros 
Cl mébdo 
eoho 
e 
S E L L 
0 L 
	 13 
[1111Th 
apresentacäo 
- o quo a oeografia dove ser 
- camps, fabricas y talleres 
- la conquista del pan 
JOSÉ WILLIAM VESFNTINI 
PIOTR KROPOTKIN 
coidção AGB-sp*P\GB-nociono 
SELEcAO DE TEXTOS N.o 13 
SELECAO DE TEXTOS tern como objetivo por em crise a 
teoria e a pratica da Geografia atual, estimulando o debate e a 
critica; 
repensando os rumos da Geografia no Brasil de modo a cob-
ca-la pari passo a reconstrucao da sociedade e facilitar o aces-
so dos estudantes e leitores em geral a textos de circulacao 
restrita, em especial aqueles publicados originalmente em lin-
gua estrangeira. 
NUMERO 13 
	 SAO PAULO MARCO 1.986 
COORDENADORIA DE PUBLICACOES 
Associacao dos Geografos Brasileiros - Secao Sao Paulo 
Agb - Diretoria Executiva Nacional 
Edificio Geografia e Historia 
Cidade Universitaria - Butanta 
Caixa Postal 8105 - tel.: 210.2122 R. 637 
CEP 01.000 - So Paulo - SP 
Distribuicao Interna 
Co-Edicao : Agb Nacional/Agb So Paulo 
fi r. "^ 	 -. 
I 
APRESENTAcAO: "(EOGRAFIA E LIBERDADE EM PIOTR KROPOTKIN" 
José William Vesentini 
Piotr Ayexeyevich Kropotkin (1842-1921), moscovita de t'a-
mIlia rica e aristocrática mas que decidiu viver inodestamente 
de seu préprio trabaiho - como ge6grafo e secretário, durante 
alguns anos, da Sociedade Geográfica Russa, como professor, co 
so jornalista e ate como tipégrafo - , representa seguramente 
o grande enigma da cincia geogrfica entendida como tradiço 
discursiva: trata-se, gem diivlda alguma, do principal omitido 
em todas as obras que buscam historiar essa modalidade do sa-
ber, da fala que é via de regra ignorada e assim silenciada, e 
isso numa proporco muito major do que em relaço a glis6e Re-
clus, seu grande amigo; entretanto, ease anarquista russo cons 
titui provavelmente o geógrafo que, desde Humboldt e Ritter (e 
incluindo a ambos), recebeu major quantidade de citacoes - cr1 
ticas ou elogios - oriundas de no-ge6grafos: inimeros biélo-
gos, antropólogos, filésofos, militantes politicos de esquer-
da, escritores, etc., de várias partes do globo, referem-se a 
E qual é o inotivo dessa exc1uso? Por que ease 	 lndivI- 
duo, que chegou a receber usa medalhn de ouro da Soctedade Geo 
gráfica Russa pelas suas investigaçoes sobre aspectos da geo-
grafia fisica da Siberia, e qua ate 0 fim da sua vida escreveu 
sobre o ensino da geografia, sobre as relaçes homem/natureza 
e outros temas congneres, acabou sendo marginalizado pelo dig 
curso geográfieo academico? E per que mesmo hoje as ani1ises 
______ 
II 
ditas radicais ou criticas relutam em levar Kropotkin em con-
ta, preferindo normalnrente a cinoda (e incorreta) atitude de o 
identificarem corn Reclus, passando ento a falar quase que to 
somente deste tiltimo? 
Ocorre que Kropotkin é dificil de ser enquadrado. Em Re-
clus 6 possIvel separar o joio do trigo: suas obras anarquis-
tas, como o relato sobre a Comuna de Paris ou a exposiço de 
principios libertrios, no so apresentadas como geografia e, 
de fato, diferem bastante dos trabaihos geográficos 	 como 
L'Hornme et la Terre ou a Nouvelle G4ographie 
	
ijniverseiie(2). 
Já em Kropotkin, salvo raras exceçes - como em trabalhos de 
juventude, sobre geomorfologia em especial; ou na colahoraco 
corn Reclus na parte sobre a Rtssia da enciclopdia deste -, os 
aspectos "geográficos" e "libertrios" entrelaçam-se, so na 
realidade inseparáveis. Para ele, inclusive, a filosofia anar 
quista (vista como ser-em- cons truço) caminha junto e enleada 
corn a cincia moderna tanto na perspectiva metodol6gica quan-
to ma contribuiço conjunta para a libertaço da humanidade do 
reino da necessidade e da opresso de alguns sobre muitos'. 
Quando critica a Darwin e a Huxley, mostrarido como a ajuda mu-
tua é to ou mais Importante para a evoluço das esp4cles que 
a luta pela sobrev1vnc1a', ou quando critica a diviso do 
trabalho e a hierarquizaço das tarefas, propondo uma reorde-
naco societária e espacial baseada em comunas autogeridas e 
gem os poderes politicos instituidos nos Estados nacionais, 
Kropotkln logra ser ao mesmo tempo anarquista e geógrafo. Ou 
meihor, Kropotkin - apesar de reconhecer as diferenças mdlvi-
duals e as aptidoes de ctida inn, que deverlam ser respeltadas e 
ate estimuladas - argilmenta que a verdadeira liherdade pressu- 
MI 
1 
pe a supresso da oposico entre trabalho manual e 	 intelec- 
tual, incluindo-se toda a compartimentacao rigicla que a dlvi- 
so capitalista do trabaiho engendra no conhecimento cientIfi-
(6) Co 
Ademais, Kropotkin abominava o Estado-naço (assim 	 como 
qualquer outra forma de Estado), as fronteiras poifticas, 	 os 
chauvinismos e a glorlficaco da "pátria". 9 tarefa da geogra 
Na mostrar que a humanidade 4 ua só, que as diferenças naclo-
nais ou locais no devem servir para ocultar a imensa. sernelhan 
ça que existe especialmente entre as classes trabaihadoras de 
todo o mundo, que as fronteiras poilticas so relIquias de urn 
passado bárbaro e que Os nacionalismos exareebados, as guerras 
e os preconceitos entre as nacoes ou em relaçao hs "ragas in-
feriores" so servem para manter ou reforcar Os interesses de 
grupos on Classes dorninantes, afirmou o geógrafo-anarquista 
(7) 
russo 
Como se va, alguns dos escopos que ele propunha a geogra-
fia colidiam frontalmente corn as deterrninaçes essencials que 
originaram a lnstitucionalizaço da ciencia geográflca. De fa 
to, essa InstitucionalIzaço acadmica no século XIX - on, pe-
la 6tica oficlal, 0 "nascimento" da geografia moderna -, ease 
lugar ento conseguldo Junto a div1so capitalista do trabaiho 
intelectual, fundamentalmente pela via dos patrocInios esta-
tais, 6 Inseparável do engendrarnento dos EFtados-naçes e do 
processo de escolartzaço nas socledades ocidentais desenvol-
vidas. No contexto de rápida lndustrIalIzaço e urbnn1zaço, 
a construço dos Estados especificamente capitalistas, Iota 4, 
08 Estados-nacoes, toi urn processo onde a papel descmpenhado 
por 1nstituIçes que inipunharn urna unidada naclonal, corno a es- 
Iv 
cola e 0 exército, foi crucial. A consolidaco de urna 	 certa 
geografia no sistema ecolar em expansao, desde as universida- 
des at4 o ensino elementar, ligou-se a ttnatura1izacao! do Es- 
tado-naco, a nfase no território em sua conceituaço: 	 o 
"pals", corn as suas fronteiras, sua populacao, sua 	 econornia, 
sua "organlzaco politico-administrativa" e as suas tradlçes, 
passa a ser entendido corno entre tel1rico, fruto de lets natu-
rai s ( 8 ). 
No foi por acaso que inilmeros ge6grafos ilustreg, tidos 
por fundadores de "escolas geogrficas", eram bern relacionados 
corn Importantes personagens Ilgados a unificaço nacional via 
expanso da escola enquaito instituic&o subordinada ao Estado 
qué se fortalecia. Por exemplo, o irrno do nosso 	 Alexander, 
Wilhelm von Humboldt, fol o escoihido por Bisinark para 	 cons- 
truir urn modelo de universidade - curne de todo 0 sistema esco-
lar - apropriado ao Estado-naço que se uniti-cava; e Vidal de 
la Blache, como pe sabe, elaborou urn modelo de geografia carac 
terizado pela sua eficácia no sistema escolar francs reformu-
lado por Jules Ferry. 
Já Kropotkin trilhou urn carninho inverso. Mesmo tendo on 
gens nobres, tendo cursado as melhores escolas de Moscou, onde 
foi sempre o aluno main brllhante, chegando ate a receber do-
gios do tzar Njcolau I, e corn urn eventual futuro garantido co-
mo urn dos mjs jovens generals do ex4rcito russo, Kropotkin, 
para decepço da familia, resolve tornar-se ge6grafo e, poste-
riormente, o que é mats grave ainda, anarquista, inimigo decla 
rado de qualquer forma de autoridadee hierarquia. Sua opcao 
de vida acabou por levá-lo, em 1874, a prlso-fortaleza de Pe-
tro-e-Paulo por- promover e participar de. algumas revoltas cam- 
V 
ponesas. Crcere de onde consegue fugir dais anos depois, in-
do para certos palses da Europa Ocidental (Suica, Franca e In-
glaterra), nos quais viveu durante cerca de 40 anos e onde pu-
blicou suas obras mais importantes. Sua concepçao llbertárla 
fez corn quo ele acabasse sendo marginalizado pela geografla 
acadrnica, j que esta sempre foi ligada ao Estado, e igual 
rnente marginalizado por todas as hist6rias oficials do pensa-
mento geogrfico, pois toda hist6ria linear, evolutiva, corno 
nos ensina Walter Benjamirn, 6 sempre urn discurso dos vencedo- 
res ( 10 ). 
No interior do anarqnismo, Kropotkin represents, 0 princi-
pal teórieo de urna corrente denorninada anarco-cornunismo oU 00-
munismo libertário. Outros nornes representativOs dessa tend 
cia dentro do anarquisrno ago: Errico Malatesta (o mais impor-
tante após Kropotkin), Carlo Cafiero, Françols Durnartheray e 
os irrnos Elie e glis6e Reclus, entre outros. 0 	 anarnuismo, 
que caracteriza-se pela recusa radical do Estado (mesmo 	 que 
"provisório" ou de transiço) e de qualquer forma de autorida-
de - dal ento ser conhecido corno acracia (a = ausncia; era-
cia = poder) -' sempre foi marcado por diferencas de teridn-
cias, por posices extrernas que vo do Individualismo mais ar-
raigado ate urn coletivismo social, alérn, evidenternente, da clás 
sica oposIço entre os que apregoarn a violncia, Os atOs terro 
ristas, os assassinatos do personagens ligados ao poder, eaque 
lea que condenarn ease tipo do violnc1a e defendern o pacifis-
o, a reaço no-violenta (no estilo da "desobedinciacivil"). 
Se o anarquisrno fol individualista - e at6 sirnØtico ao 
egoismo - corn Max Stirner (que chegou a exercer urna certa in-
fluncia ern Nietzsche), por outro lado, toi tainbém coletivista 
VI 
ou mutualista corn Proudhon, passarido por posicoes intermediá-
rias que se inanitestarn de forma especial no contradlt6rio (mas 
senipre fértil intelectualmente) Bakunin. 
Dentro desse ernaranhado de posiçes, Kropotkln possui urna 
posiço de realce por dois motivos principals: pelo seu pad-
fismo e recusa dos métodos violentos e individual istas, pela 
sua crenca na solidariedade huuiana e no progresso da clnoia, 
ele contribulu para que o anarquisrno deixasse de se identifi-
car como urna doutrina de violncia e destruiço indiscrimina-
das para se tornar num projeto de reordenaço social pela via 
da aço conjunta dos povos2); e sua lnspiraço baseada nas 
Cornunas, Assernbléias ou Sovietes, possui como escopo a criaço 
de urna socledade comunista (o termo veni de Comuna, tendo como 
grande exemplo a de Paris de 1871, embora Kropotkin tenha tel-
to algurnas criticas e esta pelo fato de haver aplicado em al-
guns casos o sisterna representativo ao luvés da democracia di- 
(13) 
reta) 
Kropotkin foi vftlmadeum grande mal teórico do 	 século 
XIX: o clentificisnIo. Bastante próximo ao marxismo nesse pon- 
to, ele acreditava que a sociedade seria regida por "leis" 	 - 
termo inspirado na metodologla das cincias naturais - e 	 que 
esse meCanismo oculto que norteia o funcionarnerito e a evoluço 
histórica do social tenderia naturammente ate o cotnunismo: uma 
sociedade se-n classes e sem Estado. Influencia do iluminismo, 
sen diiivida. E crenca na "cientifizaço" progressiva da socie-
dade humana e da sua acao sobre a natureza. tirna concepçao, por 
tanto, de "sentido" unIvoco para a histdria, de progresso. 
Mas, diferenternente do "socialismo autoritério" (é assmrn 
que ele denomlnava o marxisrno), o "socialismo 1lbertrio" que 
VII 
propunha no fazia nenhuma concesso ao Estado e nem conhecia 
nenhum pvriodo de transiçao entre 0 capitalismo e 0 comunismo. 
Comunismo e socialismo, assiin, seriam de fato sinnimos. 0 Es 
tado no deveria eato ser "tornado", instrurnentalizadoporquai 
quer classe revolucionária, mas pura e simplesmente extinto. 
No seu lugar, deveria ser construlda uma nova forma de gesto 
do social, que iria das Comunas autogeridas (ou corn democracia 
direta, e onde todos se conhecessern) ate a Federaço rnundial 
formada por várias naces (mas no Estado-naç6es), que no fun-
do nada main seriam que a reuniao dan Cornun1dadesautnomas(14). 
Ele rnanifestou uma grande sensibilidade, e ainda no final 
do século passado, para a situaco dan mulheres: de nada adian 
taria uma libertaçao do homem do capital, afirmou, Se as mulhe 
res continuarern subord.inadas iia famfila, fazendo on servicos 
domésticos; ele propunha que tais serviços fossem mecanizados 
e que aqueles que restassem fossem realizados tanto pelas mu-
iheres como pelos homens, e que aquelas tivessem também uma 
participaço no trabaiho extra-lar e na conduço dan questes 
po iiti eas 15 ). 
Era radicalmente contrérlo a qualquer forma de hierarquia 
e diferenças non rendimentos, além de abomlnar 0 sistema de as 
salarlarnento. Urna dan mats Acidas criticas que fez a Marx foi 
na questo da hiearquia dos rendimentos numa sociedade socia-
lista: para este deve haver ("provisorlamen.e") ursa diferencla 
çao salarial entre, por exemplo, urn engenheiro (que teria 
	 urn 
"custo de producao" maior devido a necessidade de sua 	 fox-ma... 
co) e, urn faxineiro, que terla de ganhar menos; já 	 Krupotkin 
rio aceitava nem a d1terenciaço doe rendimentos desses 
	 dois 
canoe e nem essa diviso do trabaiho entre urn lndlvIduo qUe 11 
VIII 
casse a vida inteiTa como faxineiro e outro como 	 engenheiro: 
para ele as pessoas deverlam realfzar tAnto atividades intelec 
tuals corno manuals e, se ocorressem diferenciaçes em funces 
de forma permanente, estas deveriam ser produzidas naturalmen- 
te pelos gostos e aptldes de cada urn e nunca 	 premeditadas, 
sendo que, dessa forma, no poderlam Implicar em 
	 diferencla- 
ces ao nIvel dos rendimentos(16). 
Frente a Marx, Kropotkin adota urna posico critica mas de 
respelto a obra intelectual desse autor: apesar de considerar 
o "pai do socialismo clentifico" como urn "revolucionário de ga 
binete", que apenas prop6e autoritarlarnente seus esquemas te6-
ricos pra a "classe revoluclonária" e que, a seu ver, estaria 
em grande parte ligado ainda aos valores mentais do capitalls-
no (pela aoeitacodadiviso do trabaiho e pela atltude dibia 
frente 30 poder politico lnstituido, entre outras coisas), o 
teórico do t'socialjcrno llbertrio" corn freqtlencla cita 0 Capi-
tal em suas obras, muitas vezes de forma elogiosa, corn urn res 
pelto que advem especlalmente do estorco intelectual 	 desse 
c1ssico, da dedieacao deste aos estudos da realidade 	 so- 
ciai'. Contudo, frenteao rnarxismo em geral, princlpalmen-
te frente ao boichevismo, Kropotkin assume uma posicao de en-
tica radical, que ficou patente no seu posiciOflamento por oca-
sio da revoiuçao russa de 1917. Para ele, a revo1uço de fa-
to ocorreu en fevereiro, ocaslao em que houve urna tilultiplica-
ço espontnea dos sovietes corn o correlato enfraquecimento do 
poder do Estado (o poder "a margern" do Estado, criado pela ex-
panso dos sovietes de operánios, soldados ou moradores, ales 
das 000perativas espontaneas dos camponeses, competia corn a au 
toridade estatal e, em multos locais, ate prescindia desta). 
Quando os boicheviques chegaram ao poder estatal em 	 outubro, 
corn o apoio de grande parte dos setores populares e at6 mesmo 
da maioria dos anarquistas (devido a promessa de acabar corn a 
guerra e ao slogan de L4nin: "Todo poder aos sovietes"), Kro-
potkin, ao saber da notIcia por urn seu amigo euf6rico, decla-
rou, para decepcio deste: "Isso enterra a revoiucot(8). 
Palposico 6 compreenslvel tendo-se em vista a idéia kro 
potkiniana de revoluço como aco popular contra (e nunca via) 
o Estado. A própria nOcao de "governo revolucionár1o' era pa-
ra ele urn absurdo, uma verdadeira contradiço nos termos, urna 
vez que o objetivo de uma revoluço social seria abolir o go-
verno e fundar uma nova forma de gesto do social corn base na 
democracia direta. As palavras que Kropotkin proferiu em 
1919, relativas a atuaço dos bolcheviques pelo fortalecimerito 
do Estado, foram modelares: "A fhissia mostrou-nos a maneira co 
mo o socialismo no deve ser teito... A idia de 	 conseihos 
operários Para controle da vida poiltica e econmiea do 	 pals 
em si mesma, de extraordinária importancla... mas, enquanto 
o pals estiver dominado por uma ditadura de partido, os conse-
itios de operários e camponeses perdem naturaimente o signifi-
cado. Esto degradados num papel passivo Identico no que de-
sempenhavam on representarites dos estados na monarquia absolu-
tj s ta. ( 2 ) 
Kropotkln, por sinai, jA havia desenvolvido em 1905, num 
verbete sobre "Anarqulsmo" que escreVeu para a 	 Enciclopédia 
Britanica, urn conceito de Capitalismo de Estado, quo 
	 aplicou 
posteriormente a Thissla: "Os anarquistas considoram, portanto, 
que entregar ao Estado todas as l'ontes principals cia vida eco-
nm1ca (a terra, as minas, as ferrovtas, Os hancos, os segu- 
-1 
- 	 - 
x 
ros, etc.), assim corno o controle de todos Os principais ramos 
da indistria, alérn do todas as runçes que acumula j em suas 
rnos (educaco..., defesa do território, etc.), sinificaria 
criar urn novo instrumento de dominio. 0 capitalismode Estado 
riio faria rnais que incrementar Os poderes da burocracia e o 
pr6prio capitalismo. 0 verdadeiro progresso consiste na des-
centralizacao, tanto territorial corno funcional, em clesenvol-
ver o espirito local e de iniciativa pessoal, e numa federaço 
livre que esteja construIda de baixo para cima, ao invs da 
hierarquia atual que val do centro para a perireria.i(2 
Kropotkin, no iniclo do ano de 1919, enviou umacartaaber 
ta aos trabaihadores da Europa Ocidental(22) explicando a si-
tuaçio russa de niornento e solicitando aos trabaihadores quo 
pressionem seus governos no sentido de evitar intervenes ar-
madas na Russia, pois esse "cerco", essas invases e o apoio 
ocidental aos mulitares tzaristas revoltosos, a seu ver, inn 
resultar to somente no fortalecimento dos bolcheviques (e do 
poder estatal), devido a unio frente ao inimigo conium e no 
enaltecimento da ideologia nacionalista. Percepçao, sern duIvl-
da algunTa, bastante perspicaz, pois o aue ocorreu a partir des 
se momentofoi do fato urn fortalecirnento do Estado - e, portan 
to, dos boicheviques - e urn progressivo enfraquecimento dos so 
vietes e demais árgaos populares de gesto da ecOflOrnia 011 de 
micro-espaços. E esse fortalecimento estatal e da burocracia, 
junto corn o atrelamento dos sovietes, das cooperativas espon-
taneas e dos sindicatos ao partido uinico (os demais forainde-
clarados ilegais), além da proibico de qualquer forma de gre-
ye, das violentas restr1çes a liberdade de imprensa, da im- 
plantaço do taylorismo na 1nthstria e do fortlecimento 	 do 
XI 
exórcito e da pol.icia (a Tcheka), realmente muito se 	 heneti- 
ciou da guerra civil e clas invasoes ocidentais na Russia. 	 A 
"pátria em perigo" toi urna palavra de ordem e de 	 mobilizaço 
muito utilizada pelos bolchevistas para reforcar Os 	 aparatos 
estatais de repressaO e 0 seu controle sobre esse poder insti-
tuldo que renascia ap6s ter sido semi-destruldo pela revo1uço 
dos sovietes. 8 por dernais sabido que esse perfodo de 1918 a 
1921, corn urn certo eaos na economia e no abastecimento agrico-
Ia ?us cidades, corn a guerra civil e as invases, significouuma 
quase total liquidaco do oporariado mais avancado politicainen 
te da Ruissla: a produco industrial cal para menos de 20% do 
seu total em 1916, 0 operariado passa de cerca de 3 inj1hes em 
1917 para inenos de 1,5 rnilhes em 1921. Nesse contexto, apreo 
cupaco de Kropotkln em 1919 demonstra uma acuidade espantosa, 
urna Iueidez Impar em relaçao ao que estava acontecendo e ao fu 
turo provável da mssia(23). 
Encerrando esta sucinta exposlço sobre Kropotkln(24), ca 
be deixar claro que, pelo que Já tot dito, pode-se deduzir que 
Geogratia e Liberdade so inseparáveis na acepco kropotkinla-
na. Uma Geogratia Llhertria? Talvez, embora esse rótulo nun 
ca tenha sido usado por Kropotkln. Mae a sua percepcodec1n 
cia expressa Ule engajamento do sujelto do conhecimento ma 11-
bertaçao dos homens frente aos imperativos cia natureza e, prin 
cipalmente, frente a domlnaço de alguns sabre mutton. No se 
trata apenas do combate ao capital, da ingnua (mae politica-
mente "realista", num realismo burocrático) jdla que a soda-
llzaço dos melOs de produço vat trnzer naturalmente a node-
dade sern classes e sem exploraço. Trata-se, antes de male na 
da,de dar primazia as reLaçes de domlnrtçio, de combater qiial- 
A 
1 
XII 
quer forma de autoridade(25) e, principalmente, a Estado. 	 Em 
que isso poderia subsidiar a geografia radical 	 ou crftica? 
Ora, neste momento em que a problemt1ca da eonstruço de urna 
geografia crItica ou radical (uso indistintamente os dais ter-
urns porque no crelo que o fato de uma delas ter se iniciado 
nos Estados tlnidos e a outra na Franca seja motivo para estabe 
lecer diferenças essencials; pelo angulo das preocupacoes, dos 
temas, dos pressupostos, etc., que é 0 mais relevante, nao hi 
de fat.o nenhuma separaço significativa entre essas duas ten-
dncias recentes da geografia) se coloca, nota-se ia certos 
descaminhos, certos percalços. Um certo marxismo vulgar e me-
canicista rnuitas vezes substitui a criticidade ou tenta enco-
brir uma nusncia de reflexao filosófica adequada, e urn certo 
stalinismo - mesmo que "renovado" via Althusser ou o 	 velho 
Lukacs - algumas v.ezes serve apenas como amparo para 	 fr4geis 
eriticas It geografia tradicional que escondem corn dificuldade 
o desejo de dominaço, de instrumental izar essa "nova" geogra-
fia para fins burocrático-estatais Nesses termos, urna "recupe 
raco" critica da obra de Kropotkin, além de outrosautorés (co 
mo, por exemplo, Foucault, Castoriadis e o préprio Marx li-do 
de forma no mecanicista), bern que poderia eontrabalancar esse 
dogmatisino que cornça a se fazer presente, essa crença soterio 
16glca na unidade, na unitormidade, na recusa das diferenças. 
Pois Kropotkin, apesarde urn otimismo acrIticoemrelacao ao Ca-. 
nhecimento cjentIfico e ao "progresso" da hurnanidade, manifestou 
no final do século flX uma salutar sensibilidade frente Its di 
ferencaseàs part icularidades, assim corno uma agudacompreensao 
do fato de queaquesto do Poder transceride (e incorpora) 0_pr! 
blema econmico stricto sensu. 
XIII 
NOTAS 
(1) - Juntamente come Pierre-Joseph Proudhon, Mikail Bakunin, 
William Godwin e Max Stirner, Kropotkin representaum dos 
cinco grandes noises do anarquismo. Ele sempre extensi 
vamente arialisado nas obras que abordam as idéias liber-
tárias do século passado e dos prim6rdios deste: ao con-
trrio de E. Reclus, que costurna apenas ser lembrado de 
passagern - e nern seinpre -' Kropotkin é corn freqt1ncia ob 
jeto de capitulos inteiros por parte de autores come Da- 
niel Guérin, George Woodcock, Ivan Ivakumovic, 
	 Paul 
Avrich, I.L. Horowitz, James Jell e outros. Tambérn 
	 os 
estudiosos que trabaiham corn as idéias urbanhsticas - co 
mo 6 o case de Lewis Muntord e de Françoise Choay -, e 
aqueles que tratam da evoluçao humana - come Ashley Mon-
tagu, por exemplo -, costumam fazer longas referncjas a 
Kropotkin. Literateseminentes escreveram sobreele: des 
de Tolstoi ate Noam Chomsky, passando per autores to di 
fererites come Bernard Shaw, Paul Goodman, Oscar Wilde e 
Hebert Read, pode-se encontrar em suas obras considera-
çes elogiosas sobre o "principe anarqulsta". (Kropotkin 
foi rotulado dessa forma per alguns blógrafos pelo fato 
de descender da antiga Casa Real de Rurik, que governara 
a Russia antes dos Rornanov; todavia, desde 08 22 anon de 
idade que deixa de receber ilinheiro da famIlia, passando 
a athrogar 0 tim dan desigualdades ceonomicas e da domina 
ço social). Suns ldéias nxeronram influencia sobre vá-
non movimentos populares, corn especial destaque para as 
experincias de autogeatno na Espariha revoluc1onn1a de 
XIV 
1936-37. E na Revo1uço Russa de 1917, Kropotkin, ape-
sar de veiho e debilitado, bus.cou contribuir paraquecer 
tos sovietes e cooperativas se desenvolvessem de forma 
esporrtnea, de baixo para dma, sem subordinaço ao Es-
tado. Kerensky Ihe ofereceu urn cargo de ministro em seu 
governo, que Kropotkin recusou; ap6s a ascensao dos bol-
cheviques ao poder, Lenin Ihe solicitou uma co1aboraco 
corn o "governo revo1ucionrio", tendo proposto urna edi-
çao em russo das principals obras de Kropotkln, sendo que 
este recusou por no aceitar ajuda ou alianças corn qual-
quer tipo de governo. 
(2) - 	 bm verdade que Ells4e Reclus, especialmente na 
	 obra 
L'Homme et la Terra (cujo tftulo, por sI SO, representa 
uma inverso do rótulo que simboliza o paradigma da geo-
graria tradicional: a Terra e o Homem), aborda temas avan 
çados para o discurso geográfico da sua época, tais como 
a luta de classes, a educaço e as cinclas, as formas 
de propriedade, o colonialismo e a dominaço dos palses 
desenvolvidos em re1aço aos demais. Todavia, apesar de 
Reclus proclarnar sen ideal libertário na introduço e/ou 
na conc1uso das suas obras geográficas, predomina em 
L'Homme et la Terra e, principalmente, nos 19 volumes da 
sua Nouvelle Géoraphie TTniverselle, uma geografia sepa-
ravel do anarquismo e onde os elementos fIsicos, em es-
pecial as bacias hidrográficas e. as unidades do relevo 
quo servem como seus divisores, tern destaque como agen-
tes definiriores das paisagens. Mas Reclus, longe de re-
presentar uma "geografia descritiva", que teria se tor-
nado ultrapassada corn o surgimento da obra de Vidal de 
xv 
La Blache (comb argumentain certos trabalhos que temati-
zarn a denominada história do pensamento geográfico), na 
realidade aponta para caminhos negligenciados ate muito 
recentemente pela geografia, corno demonstraram muito bern 
LACOSTE, Yves - "Géographicité et géopolitique: glis4e 
Reclus", in HCrodote, Paris, F. Maspero, n 9 22, 1981, pp. 
14-55, e GIBLIN, Beatrice - "Reclus: un écologiste avant 
I'heure?", in Hérodote n 2 22, pp. 107-118 
(3) - Cf. KROPOTKIN, Piotr - "La ciencla moderna y el anarquis 
mo", in HOROWITZ, I.L. (org.) - Los anarguistas, Madrid, 
Alianza, 1975, pp. 181-201. (Trata-se de uma parte 	 da 
obra de Kropotkin corn o mesmo nome, publicada original-
mente em francs no ano de 1913). 
(4) - Cr. KrtOPOTKIN, Piotr - El apoyo mutuo, tin factor de evo-
lucion, Buenos Aires, Proyecci6n, 1970. (Original 	 de 
1902, em ing1s). 	 0 w 
(5) - Cf. KROPOPKIN, Piotr - Campos, fabriens y talleres, Ma-
drid, ediciones Jilcar, 1978. (Original de 1898, em in-
gias). 
(6) - Cr. KROPOTKIN, Plotr - Campos, fabricas v talleres, op. 
cit., especialmente o capitulo VIII, pp. 142-164. 
(7) - KROPOTKIN, Plotr - What geography ought to be", In An-
tipode, vol. 10/11, n 2 
 1/3, p. 7 
(8) - Cf. HOBSBAWN, E. e RANGER, P. (org.) - A inveflcao 	 das 
tradiqeS, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1984; e 	 tambem 
HOBSBAWN, E. - 	 era do Carittal, 2a. ed., Rio do Janei- 
ro, Paz e Terra, 1979, espectalmente "A construçao 	 das 
Nages", pp. 101-116 
xv.' 
(9) - Cf. RAFFESTIN, Claude - Pour tine geographie du pouvoir, 
Paris, LITEC, 1980 
(10) - Cf. BENJAMIN, W. - resis de filosOfia de la histjrla", 
in Discursos interrumpidos I, Madrid, Taurus, 1972, pp. 
177-191. Posto que Os vencidos representaram sempre al 
ternativas possiveis mas no efetivadas, o coniinuun da 
história, o procedimento historicista de estabelecer c 
nexes causais, subsume-se indefectivelmente na memó-
na construfda pelos vencedores. No é passivel nenhu-
ma hist6ria dos vencidos linear, mas apenas criticas a 
momentos especificos onde Se recuperam fragmentos de al 
ternativas que rompeniarn corn esse continuun. Assim, ape 
sar das diferenças te5rico-rnetodológieas entre as inthne 
ros autores que construfram esse objeto denoininado his-
t6ria do pensamento geográfico, todos eles reproduziram 
por distintos vieses o diseurso do Poder na medida em 
que visaram fixar essa história como processo coma sen 
tido univoco. Kropotkin no tern realmente lugar nesse 
tipo de construco ideol6gica - a no ser como cunlosi-
dade, ou ento como caricatura, como "discipulo de Re-
clus" que afinal nao teria dito coisas muito diterentes 
dos seus contemporneos -, pois foi urn dos que "combate 
S 
ram contra a história" (para usar uma expreSsaO 	 de 
Nietzsche) e, portanto, ao ser registrada corn fidelida-
de, senia usia fala que implodinia essa imagem de "evo-
iuçao", esse sentido hist6rico elaborado a partir de 
pretensas necessidades inelutáveis. 
Cf. ARVON, H. - j. Anarnuismo, Buenos Aires, 
	 Paldos, 
1971; eGURIN, Daniel -Anarqujsmo, Rio de Janeiro, Ger-
minal, 1968 
XVII 
(12) - Cf. WOODCOCK, George - Anargiusmo - uma hist6ria 	 das 
idéias e movirnentos libertdrios, vol. 1 - A idia, Por-
to Alegre, L&PM, 1983, pp. 163-170 
(13) - Cf. KROPOTKIN, Piotr - 	 Cornuna de Paris, 1871d, in WOOD- 
COCK, George (org.) - Os grandes escritos annrgiiistas, 
Porto Alegre, L&PM, 1981, pp. 211-218 
(14) - Cf. KROPOTKIN, Piotr - Campos, fabricas y talleres, op. 
cit. 
(15) - Cf. KROPOTKIN, Piotr - La conguista del pan , in KROPOP-
KIN - Obras, Org. de M. Zemliak, Barcelona, Anagrarna, 
1977, pp. 80-126 
(16) - Cf. KROPOPKIN, Piotr - La conquista del pan, op. cit., 
especialmente pp. 119-126 
(17) - Note-se que Kropotkin também fol urn investigador infati 
gve1 e crItico da neutralidade do labor 
	 cientIfico; 
daI ento sua simpatia para corn o esrorço do autor de 
O Capital, mesmo possuindo sérias divergncias corn este 
no tocante ao significado do soclalismo e de revo1uço. 
Sua obra de major vigor teórico - Mutual 1: a Factor 
of Evolution, trabaihada de 1888 ate 1902 (trad. espa-
nhola: El apoyo mutuo, un factor de evoluclon, 	 Buenos 
Aires, Proyección, 1970) -, por exemrlo, representa urn 
tour de force iritelectual que dificilmente encontra pa-
ralelos. Nessa obra Kropotkin etta docurnentos e 
	 11- 
vros de quase urea dIzia do idiomam Ilferentes, do russo 
ao alemo, passando pelo latin e par dialetos m'd1evais 
(coma certas lInguas eslavas OU latinas falaclas no Fie- 
- 
xv" 
culo XI em cidades que interessam a Kropotkin devido a 
organizaco comunitria qué adotavam, etc.), alm de ci 
tar (e, em alguns casos, realizar) investigaç6es avanca 
das naépoca de biologia e antropologia. Mas Kropotkin 
no foi apenas urn te6rico. Ele corn freqt1ncia disfar-
co-se de campons ou de operrio (adotandopseudnirnos), 
trabalhou na lavoura ou na inthistria e participou nessa 
condico de revoltas e movimentos populares. Quando 
fol preso em 1874, ele estava usando a identificaço de 
"o campons Borodin" para eneobrir agitaçes que promo-
via, junto corn amigos, em bairrog operários e areas ru-
rais vizinhas a So Petersburgo. 
(18) - Citado por WOODCOCK, George - Anarguismo - uma hist6ria 
das idélas e movimentos 1ibertrios, op.cit., p.193 
(19) - Cf. JOLL, James - Anarguistas e anarguismo, Lisboa, Pu-
bllcaç6es Dom Quixote, 1977, pp. 177-180 
(20) - Citado per CHOMSKY, Noam - 0 Poder americano e os novos 
mandarins, Lisboa, Portugália, s/d, p. 33 
(21) - KROPOTKIN, Pedro - Folletos Revoluc-ionarios fl, Barcelo 
na, Tusquets Editor, 1977, p. 126 
(22) - KROPOTKIN, Pedro - 'Carta a los trabajadores de la Euro-
pa occideritaf', in Folletog Revolucionarios II, op.cit. 
pp. 87-93 
(23) - Salvo engano, somente Rosa Luxemburg teve na mesma épo-
ca uma perCepcaO tao aguda do que ocorria na revoluço 
russa. Para ela, a coflcepçao leninista de partido 	 se 
levada As dltimas consequenclas tericleria a ditathira de 
WDA 
uma minoria de burocratas sobre a massa; sua percepco 
da "(litadura do proletariado" implicava numa afirmaco 
radical da democracia: "A liberdade reservada apenas aos 
partithrios do governo, apenas aos membros do partido, 
por mals nurnerosos que eles sejam, no 4 liberdade. A 
liberdade 6 sempre a liberdade de quem pensa diferente-
mente." (LUXEMBURG, Rosa - A revoIuo russa, Lisboa, 
Ijlmeiro, 1975, p. 65). Mas Kropotkin, ao inverso de Ro 
sa Luxemburg (que escreveu sua obra sobre a revo1uço 
russa em 1918), no raclocinava em termos de partido e 
de "tomada do poder" (do Estado), mas percehia elaramen 
te urn antagonismo entre 0 projeto de revo1uço alicerça 
do em partidos (e organizacao nacional via Estado) e o 
projeto de revoiucao oriundo dos sovietes, dos conse-
Ihos, das comunas (corn organizaq6es locals, regionais e 
ate mundlal, corn base na destruiço do Estado e a estru 
turaco de rinhtiplas forinas de autogesto). 
(24) - 	 evidente que muita coisa ficou sem ser dita, mas esta 
	
apresentaqo j ficou bern malor do que o previsto ml-. 	 1. 
cialmente. Deve-se menclonar ainda que hi na obra kro- 
potkinlana muita novidade (em relaço ao discurso geo-
gráfico) para ser retomada, como a sun preocupaço corn 
os jovens e corn Os conflitos de geraçes, a sun preocu-
paço corn 0 ensino e a sua Percepco de natureza. 
	 So- 
öre este iiltmmo Item, urn elemento interessante para ser 
registrado aqui 6 que ICropotkln JA havia superado (e an 
tee rnesmo que 000rresse) a querela sobre quem 
	 domina 
quem: o homem cu a natureza. Para ele era óbvto que a 
evoluço teenol6gica trazia o dornmnio do homem sobre a 
natureza; o problema que via nessa qUestao era que esse 
domInio, essa instrumentallzaçao das forças naturals p 
la soelédade moderna, poderia trazer Conseqttencias ne-
gativas e, a1m disso, o essencial af seria verificar a 
quem exatamente (em termos de diferenças sociais) essa 
forma de progresso beneficiava. 
(25) - No próprio enterro de Kropotkin, em 1921, 	 acompanhado 
por cerca do 100 mil-pessoas, haviam inimeras faixas on 
de se ha unia das ldias mais veementernente defendidas 
por ele: "Onde ha autoridade no h liberdade". 
1 
110 QUE A GEOGRAFIA DEVE SER" 
Piotr Kropotkin 
Era fcll prever que o grande renaseimento das cincias 
naturals, o qual nossa geraco tern tido a sorte de acompanhar 
desde ha trinta anos, assirn como a nova orientaco dada a lite 
ratura cientifica por urn grupo.de homens eminentes, que se dig 
puseram a apresentar Os resultados dam maim complexas investi-
gaces clentIficas de forma acessIvel ao ptiblico em geral, de-
veriam ne.cessariamente provocar urn renascimento equivalente na 
Geogratia. Esta ciencia, que torna em consideraco as leis des 
cobertas pelas suas eieneias-irms e coloca em pauta sua aco 
e seus eteltos mütuos em re1aco a superffcie do globo, no po 
deria permanecer a margem do movimento eientffico em geral; e 
assistimos na atualidade o despertar de urn interesse pela Geo-
grafia que relembra o interesse por ela suscitado na geraço 
anterior, durante a primeira metade do nosso século. E verda-
de que no temos contado corn urn viajante e fil6sofo to capaz 
como fol Humboldt; porém, as recentes expedices ao Artico e 
as investlgaçes nas profundidades abissais, e, maim ainda, os. 
rápidos progressos experitnentados pela Biologia, pela Climato-
logia, pela Antropologia e pela Etnologia comparada, tm con- 
(x) Excertos selecionados, traduzidos de Antipode: a 
	 Radical 
Journal of Geography, vol. 10/11, n 9 
 1/3, 1976, pp. 6-15. 
Kropotkin esc.reVeu 0 ensalo em ing1s e publlcou-o origi-. 
nalmente em The Nineteenth Century, XXI, Londres, dezembro 
de 1885. (Traduço de Jos4 William Vesentini) 
2 
cedido aos trabaihos geogrfieos usia atraço to considervel 
e urn significado to profundo, que os próprios métodos de des-
criço da Terra vm experimentando desde ha' algum tempo uma 
profunda modificaço. Reaparece novamente na literatura geo-
gráf lea o mesmo nivel de explicaço clentifica e de fundamen-
taco fllos6fiea a que Humboldt e Hitter nos haviam. acostuma-
dos. NO se deve estranhar, portanto, que Os livros de via-
gens e Os de descriçes geogrficas gerais estejam voltando a 
ser o tipo mais popular de leltura. 
Era tamb6m totalmente natural que o renascimento do inte-
resse pela Geografla dirigisse a atenco do piiblico para a t Geo 
grafia na eseola. Realizaram-se pesquisas e descobriu-se, corn 
estupor, que havainos conseguido que esta cincia - amaisatra 
tiva e sugestiva para pessoas do, todas as idades - resulte em 
nossas escolas corno urn dos temas rnais áridos e carentes de sig 
nificado. Nada interessa tanto as criancas como as viagens; e 
nada 4 mais árido e menos atrativo, em muitas escolas, que aqui 
lo que nelas 4 batizado oem o none de Geografla. 0 mesmo p0-
de-se dizer, quase que corn as mesmas palavras e corn raras ox.-
cec6es, em relaço a FIsiea, a Quimica,.à Botanica, a Geolo-
gia, a História e as Matemticas. (TJma reforma em profundidade 
no ensino de todas as ciencias é tao necessária quanto ilma re-
forma na edueaço geogrfica. Todavia, apesar da opifliO pi- 
blica ter pernianecido bastante indiferente a respeito de 	 ama 
reforma geral de nossa educaçao cientiflca - mesmo quando 	 os 
homens mais eminentes deste s6cuIo a tenham preconizado -, ela 
parece, em troca, ter entendido rapidamente a necessidade de 
reformar o ensino da Geografia: a dlseusso recentemente ml-
dada pela Sociedade Geogrflca... tern sido acoihida corn sin- 
3 
patia geral por parte da imprensa. /Nosso mercantilizado scu-
lo parece haver entendido melhor a ncessidade de uma reforma 
na medida em que foram colocados em pauta os chamados interes-
ses "prticos" da colonizaçao e da guerra. Ilma discusso ri-
gorosa deve forçosamente demonstrar que nao se pode chegar a 
nada de s6rio nesse sentido desde que no se empreenda uma cor 
relativa, porém muito mais ampla, reforma geral do nosso siste 
ma de educaço. 
quase seguro que nao existe outra ciencia que possa tor 
nar-se to atrativa para a crianca como a Geografia, e que pos 
sa se constituir trnm poderoso instrurnento para o desenvolvimen 
to geral do pensamento, assim como para familiarizar 0 estudan 
te corn o verdadeiro tn4todo de investigaço cientffica e para 
despertar sua afeicao pela ciencia natural. As criancas no 
so verdadeiras admiradoras da Nature7a enquanto esta nao te-
nha ligacoes corn o Homem.! 0 sentimento artistico, que desem-
penha urn to linportante papel no deleite intelectual do natu-
ralista, 4 demasiado debil na crlanca. As harmonias da Natu-
reza, a beleza de suas formas, as admiráveis adaptaçoesdeseus 
organismos, a satisraco obtida pela inteligencia no estudo 
das leis ffsicas - tudo isso pode vir depois, porem nao ainda 
na prirneira infancla. cA criança busca em todas as partes o ho 
mern, a sua luta contra os obstáculos, a sua atividade.j Os ml-
nerais e as plantas deixam-na fria; ela está atravessando uma 
etapa emque prevalece a lmaginacao..' Quer dramas humanos, o 
que significa que a meihor maneira de suscltar-ihe 0 iesejo de 
estudar a Natureza 6 pelos relatos de pescadores e caçadores, 
de navegantes, de enfrntamentos corn os perigos, de costumes e 
hábitos, de tradlces e migraces. Alguns "pedagogos" moder- 
4 
nos buscam matar a imaginaço das criancas. Os meihores 
	 so 
aqueles conscientes de at4 que ponto imaginaço constitut 
uma ajuda excelente para o raciocfnio cientIfico. Entendern en 
to o quo o Mr. Tyndall procurou certa vez incutir em seus ou-
vintes, isto 4, quno 6 possIvel urna expilcaco cientIfica 
profunda sern a ajuda de urn poder de imaginaco bastante desen-
vo]vido; e utilizarn a imaginaçao da criança no para abarrotá-
-la do superstiçes, mas aim para despertar seu amor pelos es-
tudos cientfficos. A descriço da Terra e de seus habitantes 
constituith corn toda segurança urn dos meihores meios para al-
cançar tal firn. Relatos do homem lutando contra as forças hos 
tis da Natureza - o que se poderi encontrar de meihor para ins t 
pirar na criança o desejo de averiguar os segredos dessas for-
gas? Pode-se despertar facilmente nas crlanças a feiço por 
"colöcionar", transformar seus quartos em exposiqes de curio-
sidades, ao passe que, naS idades mais prematuras, no 4 fIcl1 
despertar-ihes o desejo de investigar as leis da Natureza; na-
da 4 mais fci1 que despertar nurna mente infantil a capacidade 
de comparaço mediante o relato das hist6rias de palses distan 
tes, de suas plantas e animais, de suas paisagens e fenmenos, 
sempre que plantas e animals, cielones e tormentas, 
	 erupçoes 
vuicanicas, guardem reiaço corn 0 hornets. Esta 6 a tarefa 	 da 
Geografia na prirneira lnfncia: tomando corno intermediário ao 
hornets, iñteressar as crianças pelos grandes fenmenos da Natu-
reza, despertar seu desejo de conhec-1os e expilcá-ios. 
4Geograria deve cumprir, tarnbérn, urn serviço muito 	 mais 
itnportante. Deve ensinar-nos, desde nossa mais tenra 	 infn-. 
cia, que todos sornos irmos, quaiquer que seja a nossa nacio-
na1idade Nestes tempos de guerras, de ufanismos 	 nacionais, 
rm 
5 
de ódios e rivalidades entre naces habilmente alimentados por 
pessoas que perseguern seus próprios e egoisticos iriteresses, 
pessoais ou de classe, a Geografia deve ser - na medida em que 
a escola deve fazer algo para contrabalançar as influncias 
hostis - urn melo para anular esses estereótipos (prejudices) 
criar outros sentimentos mais dignos e humanos. Deve mostrar 
que eada nacionalidade contribui corn sua pr6pria e indispens-
vel pedra para o desenvolvimento geral da cornunidade, e que so 
mente pequenas fraçes dé cada naco esto interessadas em man 
ter Os 6dios e rivalidades nacionais. Deve reconhecer que, 
além de nutras causas que nutrem as rivalidades nacionais, as 
diferentes naces no se conhecem suficientemente bern entre 
si; as espantadas perguntas sobre seu pals, que se fazem a urn 
estrangeiro; Os absurdos preconceitos (prejudices) mituos, que 
se estendem aos extremos de urn continente - e ate a ambos 
	 os 
lados de urn canal - so prova suficiente de que, mesmo 
	 entre 
aqueles que se costuma denominar gente cu].ta, a Geografla 
	 é 
apenas conhecida pelo norne. As pequenas diferenças de caracte 
rfsticas nacionais, que aparecem especialmente entre as clas-
ses médlag, tendern a ocultar a irnensa semelhanca que existe en 
tre as classes trabaihadoras de todas as nacionalidades, seme-
lhança que se converte no fato mais significativo it medida que 
se obtém urn major conhecimento. E tarefa da Geografia escia-
recer essa realidade, e corn grande nfase devido ao contexto 
de mentiras acumuladas pela Ignoranela, presunco e egolemo. 
Deve reforçar nas mentes das crianças que todas as nacional.1-
dades sao valiosas umas para as outras; que quaisquer que se-
jam as guerras que tenham ocorrido, subjaz sempre no funcio 
destas 0 male miope doe egolsmos. Dove realçar que o desenvol- 
6 
vimento de cada naçao tern sido conseqUncia de iniimeras 	 leis 
naturals, interligadas as caracterIsticas fisicas e 4tnicas da 
regiao gue habita; que os esforcos realizados por outras 	 na- Moo 
ces para irepedir seu desenvolvimento natural constituem-se era 
simples erros; que as fronteiras polIticas so reliqulas de urn 
passado brbaro, e que o intercambio entre os diferentes pai-
ses, suas relaçes e influncias enituas, estao submetidos a 
leis que dependem tm-ito da vontade individual coma as leis que 
regulam o movimento dos planetas. 
Esta segunda tarefa 4 suficientemente importante; porm, 
existe uma terceira, que talvez o seja ainda mais: a de comba-
ter os preconceitos que nos foram tnoulcados em reiacao as ch 
madas "raças inferiores" - e isto numa 4poca em que tudo leva 
a crer que os cantatas que vamos ter corn elas vo ser eada vez 
mais intensos. Quando urn politico francs proclamava recente-
mente que a missao dos europeus 4 civilizar algumas delas - ou 
seja, corn as baionetas e as matanças de Bac-leh -, no fazia 
mais que elevar a categoria de teoria os mesmos fatos que os 
europeus estao pratloando diariamente. E no poderia ser de 
outra maneira, pois desde sua mais tenra inrancia inculca-se o 
desprezo pellos "selvagens", ensina-se a considerar coma crimes 
eneobertos As verdadeiras virtudes dos pagaos, a tratar-as "ra-
gas inferiores" como urn simples cancer - cancer que sornente de 
ye ser tolerado enquanto o dinheiro no o penetrou. His dos 
malores serviços que a Etnografia receriternente prestou consis 
tlu em demonstrar que esses pretensos "selvagens" conseguem de 
senvolver em alto grau, em suas sociedades, os mesmos sentimen 
tos humanitrios de sociabilidade, sentimento que nos, as eu-
ropeus, estamos to orguihosos de professar, porém que raramen 
7 
te praticamos; que Os "brbaros costumes" que prontamente dene 
grimos, ou que as vezes sornente Ouvimos falar corn desgosto, 
respondem seja a uma brutal necessidade (como no caso da mae 
esquimó que mata o seu recém-nascido a rim de poder amamentar 
aos demais, aos quals cuida e atende muito meihor do que o ta- 
zem milhes de nossas maes européias), seja a umas formas 
	 de 
vida as quais nós, os orgulhosos europeus, ainda estamos 
	 vi- 
venciando, depois de as ter modificado lentarnente; e que as Sn 
perstices que achamos tao divertidas entre os "selvagens" apa 
recem ainda entre n6s da mesma fox -ma que eritre eles, corn alte-
raçoes apenas no nome. Ate agora Os europeus tern "civjlizado 
Os selvagens" corn whisky, tabaco e seqUestros; 08 t&n [nocula-
do corn seus vicios; Os tm escravizado. Porém, é chegado o mo 
mento em que nos devemos considerar obrigados a oferecer-Ihes 
algo meihor - isto 4, o conhecimento das forças da Natureza, a 
forma de utilizá-las, e formas superlores de vida social. Tu-
do isso, e muitas outras coisas, deve ser ensinado pela Geo-
grafia so de fato pensa-se em convert;-la num ineiode educacao. 
0 ensino da Geografia deve, pois, perseguir urn triplo ob-
,jetivo: deve despertar nas crianças a afeicao pela oincja na-
tural em seu conjunto; deve ensinar-lhes que todos Os homeng 
sao irmaos, quaisquer que sejam suas naclonalidades; e deve en 
sinar-ihes a respeitar as "ragas inferiores". Desde que se act 
mita Isso, a reforma da educaçao geográrica 4 Imensa: consists 
nada menos que na completa renovaçao (Ia totalidade do Si8tema 
de ensino de nossas escolas. ( ... ) 
Existe atualmente em pedagogia, devemos reconhec-lo, urna 
tendncia no gentido de euldar demaslado da mente Infantil. 
ate o ponto de frear 0 raciocmnio individual e do restringir a 
originalidade; e existe tambérn uma tendncia dirigida no sen- 
tido de facilitar dernasiado a aprendizagem,ate 0 ponto de de- 
sacosturnar a criança a reaiizaço do esfrco intelectual, 	 no 
lugar de acostumá-la a ir gradualmente reaiizando-o. 	 Ambas 
tendncias existem, porém devem ser consideradas antes de mats 
nada como uma reaço contra m6todos que antes erarn usuals, e 
seguramente tero uma vida enfrma. Concedamos a nossos esco-
lares mais liberdade para seu desenvoivimento intelectualt Del 
xemo-lhes mais espaco para seu trabaiho independente, sern mats 
ajuda do professor do que a estritamente necessáriat (...) 
Onde encontrar professores pr levar a cabo essa irnensa 
tarefa de educaço? Esta 6, nos retrucam, a grande dificulda-
de que todo piano de reforina do ensino encontra. Onde encon-
trar, de fato, vrias centenas de miihares de Pestalozzis e 
Frobeis, que dm urna instruco verdadeiramente sólida as nos-
sas pequenas criancas? Seguramente no nas filas desse triste 
exército de professores aos quals condenamos a ensinar durante 
toda gus vida, desde a juventude ate o tiimuio; que so envia-
dos a urn povo corn o quai carecem de toda relaço inteiectuai 
de reciprocidade, e que prontamente se acosturnam a considerar 
seu trahaiho como uma maidico. Seguramente que no nas fuel 
ras daqueles que vm no ensino nina profisso essalariada .e na 
da rnais. Apenas personalidades excepcionais podem continuar 
sendo bong professores, nessas eondiç6es, at4 urns idade avança 
da. Estes homens e muiheres preciosos devem constituir , Va-
iha diz-lo, Os irmos malores de urn ex6rcito de ensinadores 
cujas fileiras devem ser preenchidas corn voiuntrios orlenta-
dos em seu labor por aqueles que tm consagrado toda sua vida 
a nobre tarefa da pedagogia. .Jovens, hornens e muiheres, que 
dediquem uns anos de sua vida ao ensino porque so movidos pe-
10 desejo de ajudar Os mais novos em seu desenvolvirnento inte-
lectual; gente de mais idade, que está disposta a consagrar de 
terminadas horas a ensinar temas de sua preferncia - uns e ou 
tros constituiro provavelmente o ex6rcito de ensinaclores de 
urn sistema de educaco menos organizado. Em todo caso, claro 
esti que nao 6 precisamente convertendo o ensino em ursa pro-
tisso assalariada que conseguiremos ursa boa educaço para non-
sas crianças, e manteremos em nossos pedagogos esse espirito 
aberto e receptivo que 6 imprescindve1 para ajustar-seàs ores 
centes necessidades da cincia. 0 professor somente será urn 
verdadeiro professor quando sinta verdadeiro amor tanto pelas 
crianças como pelos temas que ensina, e esse sentimento nao po 
de perdurar durante anon Se 0 ensino 6 apenas uma profisso. 
Pessoas dispostas a dedicar suits energias e ensinar, e sufi-
cientemente capazes de faze-b, nao faltam em nossa sociedade. 
Falta saber como descobrI-las, como interess-1as pela educa-
ço e combinar seus esforços; e em suas rnos, corn a ajuda de 
gente mais experimentada, nossos col6gios serao muito rapida-
mente diferentes do que sao agora. Sero lugares onde jovens 
geraces assimilarao conhecimentos e exper1nc1as das main ye-
ihas, ao passo que estas, em contato corn as primeiras, recupe-
raro novas energias para urn trabaiho conjunto em beneflejo da 
humanidade. 
"CAMPOS, FABRICAS Y TALLERES" 
U 
Piotr Kropotkin 
LA DESCENT RALIZACION DE LA INIMJSTRIA 
4Qui6n no recuerda el notable capItulo con que Adam Smith 
comienza Sn investigación sobre la naturaleza y lag causas de la 
riqueza de lag naciones? Ann log econoniistas que rara vez 
vuelven la vista a lag obras del padre de la economfa politi-
ca, y con frecuencia olvidan lag ideas que lag inspiraron, sa-
ben ese capitulo de memoria; con tanta frecuencia ha sido co-
piado, ilegando a convertirseenartloulo de fe. La historia 
económica del siglo que ha transcurrido, desde que Adam Smith 
10 escribió, ha sido, por decirlo aef, Sn comentario. 
"La división del trabajo" fue su bandera; y la divisi6n y 
subdivision permanente de funciones (esta ültima sobre todo) 
se han llevado tan lejos, que han conseguido dividir a la huma 
nidad en castas, casi tan fuertemente constituidas coino lag de 
la antigua India. Tenemos, primero, la division en producto-
res y consumidores: despuOs, la de productores que consumen p0 
co, y consuinidores que producen poco. Y luego, entre log pri.-
meros, usa eerie de nuevas subdivisiones: el trabajador manual 
y el intelectual, profundarnente separados, en prejuicio de am-
bog; el trabajador del campo y el de la fabrica; y entre la ma 
() Trochos selecionados, extraIdos de P. Kropotkin - Campos, 
cas y Talleres, Madrid, Ediciones .Jticar, 1978, pp. 7-
-15, pp. 66-79 e pp. 142-164 (Original de 1898). 
12 
sa de los fltirnos, nuevas subclivisiones, tan miniisculs, 
	 que 
la idea moderna de un trabajador parece ser un hombre o una mu 
jer, y hasta una nhia 0 Un muchacho, sin el conocimiento de 
ningn oficio, sin la menor idea de la industria emque se em-
plea, no siendo capaz de hacer en el curso de la vida entera 
más que la misma infinitésima parte de una cosa: empujando una 
vagoneta de carbón en una mina, desde los trece aiios a los Se-
senta, o haciendo el muelle de un cortaplumas o "la clécimoeta-
Va parte de un alfiler". Meros sirvientes de una máqulna de-. 
terminada, simples partes de came y hueso do alguma maquina-
na inmensa, no teniendo idea de cómo y por qué la mquina eje 
cuta sus ordenados movimentos. 
La destreza del artesano se ye despreciada, como resto de 
un pasado condenado a desaparecer. El artista, que antiguamen 
te hallaba un placer estético en sus obras, ha sido sustitui-
do por el esclavo humano unido a otro de hierro. Hasta el tra 
bajador del campo, que antes acostumbraba a encontrar Un con-
suelo a las penalidades de su vida en la casa de sus antepasa-
dos, en su amor al terruilo y su Intima relaei6n con la natura- 
leza, ha sido condenado a desaparecer, para bien de la 	 dlvi- 
sión del trabajo. Es un anacronismo, se nos dice: debe 	 ser 
sustituj.do en el cultivo en grande, por un sirviente acciden- 
tal tornado para el verano y despedido al venir el otono; 	 un 
desconocido, que no volveri ms a ver el campo que regó 
	 una 
vez en su vida. "El reformar la agricultura, de acuerdo 
	 con 
los verdaderos principios de la division del trabajo y la orga 
nizaciOn industrial moderna - dicen los economistas - es cues-
tiOn de pocos anos." 
Deslumbrados por Ins resultados que ha obtenido 
	 nuestro 
13 
siglo de maravillosas invenciones, especialmente en Inglater- 
ra, los economistas y hombres politicos han ido todavia 
	 rnás 
lejos en sus sueiios de división del trabajo. Proclarnaron 
	 la 
necesidad de dividir a humanidad entera en talleres naciona-
les, teniendo cada uno de etlos su especialidad particular. Se 
nos decla, por ejemplo, que Hungria y Rusia son naciones pre-
destinadas por la naturaleza para dar trigo, a fin de alimen-
tar a los paIses manufactureros; que Inglaterra tiene que pro-
veer a todos los mercados de algodones, tejidos, ferreterla y 
carbon; Bélgica de géneros de lana, etc. Hasta suponIan que 
dentro de cada naci6n, cada regiOn ha de tenersu especialidad. 
As1 ha sucedido durante algi'in tiempo, y asi dehe continuar. De 
este modo se han hecho fortunas y se seguirán creando otrag 
nuevas. 
HablOndose proclamado que la riqueza de Ins naciones 
	 ha 
de rnedirse por la cantidad de beneficios obtenidos y que 
	 Ins 
mayores utilidades se realizan por rnedio de In especializacjón 
del trabajo, resultaba lOgico especializar a las naciones como 
se hace con los obrerog. 
La estrecha concepciOn de la vida, que consiste en pensar 
que el negocio ha de ser el iinico y principal estimulo de la 
sociedad humana, y la obstinada idea que supone que lo queexis 
tiO ayer ha de existir siempre, se hallanen desacuerdo 
	 con 
las tendenclas de la vida humana, In cual ha tornado otra 
	 di- 
recclOn. Nadie negarA el alto grado de producci6n a que puede 
liegarse por medlo do la especializaciOn. Pero, precisamente, 
a medida que el trabajo que se exige al indivlduo en la pro-
ducc16n moderna se hace més simple y fácil de aprender, y por 
consecuencia ms monOtono y cansado, la necessidad qua siente 
pppl^ 
4-wwww' 
14 
el individuo de 'rariar de trabajo, de ejercitar todas sus fa-
cultades, se hace más imperiosa. La humanidad comprende que 
ninguna ventaja aporta a la comunidad el condenar a un ser hu-
mario a estarsieinpre en el mismo lugar, en el taller o la mi-
na, y que nada gana privndole de un trabajo, que lo pusiera 
en libre contacto eon la naturaleza, haciendo de 61 una parte 
consciente de un gra-todo, un partleipe de los ms 
	 elevados 
placeres de la.ciencia y el arte, del trabajo libre y de 
	 la 
concepción. 
Tamblén las naclones se niegan a ser especializadas. Ca-
dauna es Un compuesto agregado de gusto e inclinaciones, de 
necesidades y recursos, de aptitudes y facultades. El territo 
rio ocupado, por cada nación es igualmente un tejido muy varia 
do de terrenos yclimas de montes y valles, de declives, 
	 que 
conducen a variedades ain mayores de territorios y de 
	 razas. 
La variedad es el carcter distintivo, tanto del territorio Co 
no de sus habjtantes; y es l6gico también una variedàd en las 
ocupaciones. 
La agricultura llama a la vida a la rnanufactura, y 4sta 
sostiene a aquélla; ambas son inseparables, y su mutua combi-
naci6n produce los más grandes resultados. A medida que el 00- 
nocimiento t6enico se hace del dominlo general, a medida 	 que 
se corivierte en internacional y no es posible tenerlo 	 oculto 
por ms tiewpo, cada nación adquiere los medios de aplicar to-
da la variedad de sus energias a la variedad de erflpresas indus 
triales y agrIcolas. 
El entendimiento no distingue los artificiales llmites po 
IIticos; lo mismo le ocurrIa a la industria, y la 
	
tendencia 
act-ual de la humanidad es a tener reunidas en cada pals y 
	
en 
15 
cada regi6n la mayor variedad posible de industrias colocadas 
al mismo nivel que la agricultura. Las necesidades de lasaglo 
meraciones humanas corresponden a las mismas del individuo, y 
mientras que una divisi6n temporal de runciones sigue siendo 
la más segura garantfa de 6xito en cada empresa particular, la 
division permanente estA condenada a desaparecer, siendo sus-
tituida por una variedad tie ocupaciones intelectuales, Indus-
triales y agrlcolas, correspondientes a las diferentes aptitu-
des del individuo, as1 coino a la variedad de las mismas dentro 
de cada agregación de seres humanos. 
Cuando nosotros, separándonos de la escolstica tie flues-
tros libros de texto, examinamos la vida humana en su conjun-
to, pronto descubrimos que, inientras que todos los beneticios 
de una division temporal del traba,Jo deben conservarse es 	 ya 
hora tie reclainar los que corresponden a la integracl6n 	 del 
ml smo. 
La economIa poiltica ha insistido hasta ahora principal-
mente en la division. Nosotros proclamamos la jntegracjOn, y 
sostenernos que el ideal de la sociedad, el estado hacia el cual 
marcha Osta, es una sociedad de trabajo integral, una sociedad 
en la cual cada indlviduo sea un productor de trabajo manual e 
intelectual; en la que todo ser humano que no estO impedido 
sea un trabajador, y en la que todos trabajen, lo mismo en el 
campo que en el taller industrial; donde ca a reuniOn tie mdi-
viduos, bastante numerosa para disponer tie cierta varledad de 
recursos naturales, ya naciOn o regiOn, produzea y consuma la 
mayor parte de sus productos agrIcolas e Industriales. 
Pero iniltil es decir que mientras que la socledad perma-
nezca organizada tie Un modo que permita a log duenos tie 
	 la 
1 
tierra-y del capital apropiarse para. SI, bajo la 
	 protección 
del Estado y de derechos históricos el sobrante anual delapro 
ducci6n hurnana, no será posible que se efectüe por completo Se 
mejante cambio. Pero el presente sistema industrial, basado 
sobre especializaci6n permanente de funciones, ileva ya en si 
inismo los g6rmenes de su propia ruina. 
Las crisis industriales, cada dia rns agudas y extensas 
agravndose y empeorndose ms adn por los armamentos y las 
guerras que trae el sistema actual, son causas de que su sos-
tenimiento se haga cada vez rnás difleil. 
Ya los trabajadores manifiestan claramente su 
	 lntencidn 
de no suportar por más tiempo con paciencia Ian rniserias 
	 que 
cada crisis origina, y cada una de êstas acelera el momento en 
ci cual las instituciones de propiedad individual y producei6n 
sean par completo derribadas por medio de luchas internas, cu-
ya violeneiae intensidad dependern del mayor o menor grado 
de buen sentido de las actuales clases privilegiadas. 
Pero nosotros sostenemos también que aualquier intento so 
cialista eneaminado a restaurar las actuales relaciones entre 
el capital y el trabajo, fracasará por completo si no se tie-
men presentes las tendencias antes mencionadas hacia la Inte-
graci6n. Estas tendencia5 no han recibido aimn, en nuestra opi 
nión, la atenci6n debida de parte de las diferentes escuelas 
socialistas; cosa que, forzosamente, tendrá que suceder. 
Una sociedad reorganizada, tendrA que abandonar ci error 
dè especializar las naciones, ya sea para la producción indus-
trial o la agricola, debiendo cada una contar consigo misma pa 
ra la producción del alimento y de mucha parte, o casi toda, 
de las primeras materias, teniendo al mismo tiempo que buscar 
17 
los mejores medios de combinar la agrictiltura con la manufactu 
ra, el trabajo del campo con una iridustria descentralizada, y 
vindose obligada a proporcionar a todos una "educaci6n inte-
gral", la cual, per SI sola, ensenando ciencia y oficlo desde 
la niiiez, dote a la sociedad de las mujeres y los hombres que 
verdaderainente necesita. Cada nación debe ser su propio agri-
cultor y inanufacturero; cada individuo debe trabajar en el earn 
po y en algin arte industrial; cada uno debe combinar el cono-
citniento cientIfico con el prctico. Esta es la presente ten-
dencia de las naciones civilizadas. 
El prodigioso crecimiento de la industria en la Gran Bre-
taiia, y el desarrollo simultáneo del trafico internacional, 
quo ahora permite el transporte de la materia prima y de los 
articulos de alimentaci6n en una escala gigantesca, han moti-
vado da creencia de quo dos o tres naciones do la Europa Occi-
dental estaban destinadas a ser las ünicas manufactureras del 
niundo, no necesitando más, segin so argflIa, que ahastecer el 
mercado de artIculos manufacturados y sacar de todos los pue-
blos de la tierra el alimento que ellas no puedem producir, 
as1 come las primeras materias necesarlas para su fabrjcacj6n. 
La continua y creciente rapidez de las comunicaciones marIti-
mas y la facilidad siempre en aumento del embarciue, han contri 
buido a fortalecer dicha opin16n. 
Si contemplamos los cuadros seduetores del trirleo Inter-
nacional, pintados tan admirablernente per Neumann Spullart (el 
estadIstico y easi el poeta del comercio del mundo), non sen-
timos inclinados a caer en un profundo éxtasls ante los resul-
tados obtenidos. "LPor qué hcmos do cultivar el trigo, criar 
ganado vacuno y lanar, dedicarnos a culdar Arboles frutales, 
18 
labrar la tierra y sufrir todas las penalidades a que se halla 
sujeto el agricultor, teniendo oue mirar siempre con temor ha-
cia el cielo, temiendo una mala cosecha, cuando podemos obte-
ner con mucha menos fatiga montaiias de grano de la India, Ame-
rica, HungrIa 0 Rusia; came de NuevaZelanda, legumbresdelas 
Azores, manzanas del Canada, pasas de Malaga, y asI sucesiva-
menteV', exôlaman los europeos occidentales. "Ya hoy---dicen-
nuestro alimento se compone, aun entre las familias poco aco-
modadas, de productos trados de todas las partes del mundo; 
nuestras telas estan tejidas con fibras que han nacido y con 
lanas que se ban esquilado en todo el globo; las praderas 
	 de 
America y Australia, las montaas y estepas de Asia, los 
	 de- 
siertos helados de las regiones árticas, los calidos de Africa 
y las profundidades de los oc4anos, los trópicos ylas tierras 
donde se ye el sol a media noche, todos son nuestros tributa-
rios. Los hombres de todas las razas eontribuyen, con su par-
ticipaci6n, a suministrarnos nuestros principales alimentos y 
articulos de lu.jo, telas sencillas y géneros ricos, en tanto 
que nosotros les enviamos, en carnbio, el producto de nuestra 
superior Inteligencia, nuestro conocimiento practico y flues-
tras poderosas facultades de organización, industriáles y co-
merciales. ZNO es un gran espectáeulo este activo y complica-
do cambio de produotos entre todos los pueblos que tan rapida-
mente se ha desarollado en pocos aios?" 
Concedemos que lo pueda ser; ,pero acaso no será una qui-
mera? Es, por Ventura una necesidad? iA qué preclo se ha ob 
tenido, y cuanto durará? 
Volvamos la vista ochenta aios atras. Francla se hallaba 
desangrada al terninar las guerras napoleénicas. Su naciente 
) 
19 
industria, que habfa empezado a crecer al terminar el silo pa 
sado, fue aniquilada. Alemania é Italia eran impotentes en ci 
terreno industrial; los ejrcitos de la gran Repibiica hablan 
dado un golpe mortal a la servidumbre en ci continente; pero 
con la vuelta de la reaccidn se haci:an esfuerzos para reanimar 
a la decadente opresión y la servidumbre implica la ausencia 
de todaindustria digna de este nombre. Las terribles guerras 
entre Francia e Inglaterra, que se han explicado con frecuen-
cia como hijas de meras causas polIticas, tenhan Un origen ms 
profundo: la cuestión econ6tnica. Habfan sido prornovidas por 
alcanzar la supremacia del mercado del mundo, iban contra ci 
comercio y la industria francesa, y la Gran Bretana ganó la ha 
taila haciéndose duena de los mares. Burdeos dejó de ser ri-
val de Londres, y la industria francesa pareció muertaenfior. 
Favorecida por el poderoso impulso de Ins ciencias naturales y 
por la gran era de los inventos, no encontrando competencia se 
na en Europa, la Gran Bretana empezó a desarrollar su poder 
industrial. Producir en gran escala, en inmensas cantidades, 
fue el lena de su bandera. Las fuerzas humanas necesarlas se 
encontraban al alcance de In mario entre los campesinos, en par 
te arrojados por fuerza de la tierra y en parte atraidos a las 
ciudades par la eievaci6n de los salarios. Se creó In maqiti-
nania necesaria, y In producctdn bnitánlca de artIcuios manu-
facturados march6 con una rapidez gigantesc... En el transcur-
so de ruenos de setenta anon ('lesde 1810 a 1878, ci rendimiento 
de Ian mines (Ic carbon aument6 desde 10 a 133 rnillones (Ic tone 
ladas) Ins Importaciones (Ic In materla prima se elevaron de 
30 a 380 millones (Ic toneladas, y Ins exportaciones de gOneros 
manufacturados de 40 a 200 millones (Ia libras esterilnas. El 
fl 
21 	
rIl 
tarios territoriales, que gozaron cerca de medlo siglo de 
	 un 
relativo bienestar, o al menos de un trabajo seguro y las fi-
las de los trabajadores de las ciudades sólo aumentaban lenta-
mente. Pero la revoluci6n de la clase media de 1789-1793 ha-
bla ya hecho una dlstinci6n entre el campesino propletario y 
el proletarlo de la aldea, y al favorecer al prilnero en detri-
mento del segundo, oblig6 a los trabajadores que no tenIan 
tierra ni hogar a abandonar sus pueblos, formando asI el pri-
mer nuicleo de las clases trabajadoras entregadas a merced de 
los industriales. Además, los mismos pequeiios propietarlog 
territoriales después de haber disfrutado de un perfodo de in-
discutible prosperidad, comenzaron a su vez a sentir la pre-
si6n de los malos tiempos, vi6ndose obligados a bugear ocupa--
cióri en la industria. Las guerras y la revolución habfan con-
tenido el desarrollo de ésta; pero empezó a crecer de nuevo du 
rante la segunda mitad de nuestro siglo, desarrollándose y me-
jorándose. Ahora mismo, a pesar de haber perdido Francia Al-
sacia no es ya tributaria do Inglaterra en cuanto a productos 
manufactureros, como lo era hace cuarenta aios. Hoy 8mg expor 
taciones de articulos manufacturados se evaltan en cerca de la 
mitad de los de la Gram Bretaiia, y las dos terceras partes de 
ellos sort textiles mientras quo sus importaciones consistem 
principalrnente en hilo torcido de algodón y lana de lag dames 
más superiores, que en parte son reexportados despus de teji-
dos, y una peaueiia cantidad de géneros de lana. En lo referen 
te a mu consumo interior, Francis manit1sta unatenderiojabjen 
marcada a liegar a ser completarnente Un pafs aue me baste a sI 
unisuno, y en cuanto a la yenta de sum manufacturas lacuna a 
confiar, no en sue colonlas, sino especlairruente en su proplo y 
I 
1,111­ 	 www 
20 
I 
tonelaje de la fiota comercial casi se triplicd, y se constru-
yeron quince mil millas de ferrocarriles. 
Es intitil repetir a qué precio se obtuvieron los anterlo-
res resultados. Las revelaciones de las cosisiones parlamen-
tarias de 1840 al 42 respecto a las terribies condiciones de 
los trabajadores industriaies, las relaciones de terrltorios 
despoblados" y los ro.hos de niiios están awl frescos en la me-
mona; serán eternos inonumentos que de.uestren por qui medios 
la gran industria se implantó en este pals. 
Pero la acumulac16n de la riqueza en nanos de las ciases 
privilegladas marchaba con una velocidad jaAs so.ada. Las in 
creibles riquezas que ahora sorprenden al extranj ero en las en 
sas particulares de Inglaterra seacumularon durte ese perlo 
do; las condiciones de vida que hacen que una persona conside-
rada rica en ci continente aparezca como de una posición modes 
ta en Inglaterra, fueron introdueldas en asuella época. 
La propiedad imponible se dupiioó durante los 	 üitimos 
treinta aiios del anterior perIodo, en tanto oue en ci curso de 
esos mismos aios (1810 a 178), no hajd de 27.500 ulilones de 
franeos (cerca de 50.000 miliones en la actualidad), el capi-
tal colocado por los capitalistas lnzleses en industria 0 em-
préstitos extranjerOs. 
Pero el monopollo de la produccldn industrial no 	 podia 
ser eternarnente de Inglaterra, ni ci conocimiento 	 industrial 
ni ci espiritu de empresa podlan consPrvarse para siempre coulo 
privileglo de esta islas. Neesaria y fatalmente comenzaron a 
cruzar el canal y a extenderse por ci continente. La gran Re-
volucién habIa creado en Francia una numerosa clase de propie- 
tarios territoria1e 
relativo bienestar, 
las de los trabajad 
mertte. Pero la rev 
bla ya hecho una rIi 
ci proletario de la 
mento del segundo, 
tierra flu hogar a a] 
mer n6c1eo de las e 
los industriales. 
territoriales despu 
discutible prosperi 
sién de los malos t 
ción en la industri 
tenido ci desarroll 
rante la segunda ni 
jorándose. Ahora rn 
sacia no es ya trib 
manufactureros, corn 
taciones de artIcul 
mitad de los de la 
ellos son textiles 
principalmnente en 
más superlores, que 
dos, y una peaueia 
te a su consumo mt 
marcada a liegar a 
mismo, y en cuanto 
confiar, no en sus 
21 
tarios territoriales, que gozaron cerca de medio siglo de 
	 un 
relativo bienestar, 0 al menos de tin trabajo seguro y lag fi-
las de los trabajadores de lag ciudades solo aumentaban lenta-
mente. Perola revoluclOn de la clase media de 1789-1793 ha-
bIa ya hecho una distinciOn entre el campesino propietario y 
el proletarlo de la aldea, y al favorecer al priinero en dtr1-
mento del segundo, obligO a los trabajadores que no tenfan 
tierra ni hogar a abandonar sus pueblos, tormando asI el pri-
mer niicleo de lag clases trabajadoras entregadas a merced de 
los industriales. Además, los mismos pequenos propietarios 
territoriales despuOs de haber disfrutado de un perfodo de in-
discutible prosperidad, cornenzaron a su vez a sentir la pre-
dOn de los malos tiempos, viOndose obligados a busear ocupa--
ciOn en la industria. Las guerras y la revoluci6n habfan con-
tenido el desarrollo de ésta; pero empezO a crecer de nuevo du 
rante la segunda mitad de nuestro siglo, desarrollándose y me-
jorándose. Ahora mismo, a pesar de haber perdido Francia Al-
sacia no es ya tributarla de Inglaterra en cuanto a prothictos 
manufactureros, como lo era hace cuareata aiios. Roy sits expor 
taciones de artIculos manufacturados se eva1ian en cerea de la 
mitad de los de la Gran Bretajia, y lag dos terceras parteg de 
ellos son textiles mientras quo sus Importaciones Consistem 
principalmente en hilo torcido de algodOn y lana de lag cla8es 
más superlores, que en pane son reexportados despus de teji-
dos, y una peaueii-a cantidad de géneros do lana. En Ic referen 
te a su consumo interior, Francis manlfltsta unatendenojablen 
marcada a liegar a ser completamente un pafs que se baste a sI 
mismo, y en cuanto a la yenta de sue Inanufacturas Inclina a 
confiar, no en sue colonias, sine especinirnente en su rroplo y 
22 
rico mercado Interior. 
Alemania sigue la niisma marcha. Durante los tfltimos vein 
ticinco arms, y especialmente desde la i51tlma guerra, su indus 
tria ha experimentado una verdadera reorganización. Su maqui-
naria ha mejorado por completo, y sus nuevas fábrieas están 
provistas de mquinas que, casi puede decirse, representan la 
fltima palabra del progreso téenico.. Tiene muchos operarios y 
obreros dotados de una educacióri ténciea y cientIfiea supe-
rior, encontrando su industria.un auxiliar poderoso en un ejér 
cito de ilustrados qulmicos, medicos e Ingenieros. Considera-
da en su totalidad, Alemania ofrece boy el espectáculo de una 
nación en un perIodo de fiebre, con todas las fuerzas de una 
nueva Impulsión en todos los terrenos. 
Race treinta aiios era tributaria de Inglaterra: ahora es 
ya su competidora en los mercados del Sur y del Este, y dada 
la rapidez con que su industnia camina, su competencia ha de 
hacerse seritir a6n más vjvaineflte. 
La ola de la producci6n industrial, despu4s de haber te-
nido su origen en el Noroeste de Europa, se extiende hacia el 
Este y Sudeste, cubriendo por momentos un cfrculo mayor; y a 
medida que avanza hacia Oriente y penetra en paIses ma's j6ve-
flee, implanta allf todas las mejoras debidas a un siglo de in-
ventos mecánicos y quImicos: toma de la ciencia todo lo que és 
ta puede prestar a la industria, encontrando pueblos deseosos 
de utilizar los imitimos resultados del progreso moderno. 
Las nuevas fimbricas de Alemania empiezan donde llegd Man-
chester después de Un siglo de experimentos y tanteos. Rusia 
principia donde Manchester y Sajonia han liegado en ha actua- 
lidad. Rusia, par s 
de la Europa occiden 
dos los géneros que 
de Gran Bretaiia, ya 
Los derechos de 
ocasiones, favorecer 
siempre a expensas d 
evitando el mejorawi 
lizaeidn de ha indu 
o sin ellos. Y hast 
Austria, Hungri 
rrollando sus indusi 
van a unirse a ha f 
hay mae: hasta Ia hr 
tales e inteligenci 
cer industrias pro; 
competidor, los Est 
todos los paIses in( 
cación técnlca se v 
crece en los Estado 
dad americana) que, 
ahora son neutrales 
canoe. 
El monopolio d 
trial, ha dejado de 
par grandes que sea 
para volver a Un es 
historia. Hay que 
vas: el pasado ha v 
hw- 
23 
lidad. Rusia, por su parte, trata de emanciparse de la tutela 
de la Europa occidental, y empieZa rápidamente a fabricar to-
dos los géneros que anteriormente acostumbraba a importar, ya 
de Gran Bretana, ya de Alemania. 
Los derechos de importaci6n pueden, tal vez, en ciertas 
ocasiones, favorecer el nacimiento de nuevas industrias, pero 
siempre a expensas de otras que se hallen en el mismo caso, y 
evitando el mejoramiento de las existentes, pues la descentra.-
iización de la industria se efectuará con derechos protectores 
o sin ellos. Y hasta dirla que a pesar de ellos. 
Austria, Hungria e Italia siguen la inisina senda, 	 desa- 
rrollando sus industrias nacionales, y hasta Espaiia y 	 Servia 
van a unirse a la familia de los pueblos manufactureros. 	 Aln 
hay rnás: hasta la India, el Brasil y Méjico, apoyados por capi 
tales e inteligencias inglesas y alemanas, empiezan a estable 
cer industrias propias en su suelo. Finalmente, un terrible 
competidor, los Estados Unidos, se ha prestado ultimamente a 
todos los palses industriales de Europa. A medida que la edu-
cación técnica se va extendiendo allI ms y ms, la inthistria 
crece en los Estados; y 10 hace con tal velocidad (una veloci-
dad americana) que, dentro de muy pocos arms, los mercados que 
ahora son neutrales se verán irwadidos por los géneros amen-
canoe. 
El monopoliO de los que pnimero ocuparon el campo indus-
trial, ha dejad.o de existir. Y este monopollo no resucjtará 
por grandes que sean los movimientos espasmédicos que se hagam 
para volver a un estado de cosas que pertence al domjnjo de la 
historia. Hay que buscar nuevos senderos, orientaciones flue-
vas: el pasado ha vivi do, pero no pucdeseguirv1vipridorng.( ... ) 
24 
LOS RECURSOS DE LA AGRICULTURA 
Pocos libros han ejercido una influencia tan perniciosaso 
bre el desarroilo general del pensamiento econ6mico coma la 
que ci Estudio del principlo de poblaci6n, de Malthus, ha teni 
do durante tres generaciones consecutivas. Apareció en un mo-
mento oportuno, como todos los libros que han alcanzado aiguna 
influencia, asociando ideas ya existentes en el cerebro de la 
minorIa privilegiada. Era precisamente cuando las ideas de 
igualdad y libertad, despertadas por las revoluciones francesa 
y americana, pugnabam por penetrar en la mente del pobre, mien 
tras que los ricos se habian ya cansado de ellas, cuando Mal-
thus vino a afirmar, contestando a Godwin, que la igualdad es 
imposible; que La pobreza de los ms no es dehida a las insti-
tuciones, sino que es una icy natural. "La poblaci6n - decla-
crece con demasiada rapidez; los iiltimos recin venidos no en-
cuentran sitio para ellos en ci festIn de la naturaleza; y es-
ta icy no puede ser alterada por ningtSn cambio de instituclo-
nes." Dc este modo de daba al rico una especie de argumento 
cientIflco contra las ideas de igualdad; y bien sahemos que, 
aunque todo dominio est basado sobre la fuerza, 4sta comienza 
a vacilar desde ci momento que deja de estar sostenida por una 
firme creencia en su propia justificación. Respecto a las cia 
ses desheredadas, las cuales siempre sienten la influencia de 
las ideas predominantes en Un momento determinado entre las 
clases privilegiadas, MRlthus las priv6 de toda esperanza de 
mejora; las hizo escépticas respecto a los ofrecimientos delos 
reformadores sociales, y hasta nuestros dIas, los reformadores 
ms avanzados abrigan dudas en cuanto a ia posibilidad de sa- 
tisfacer las aecesidad 
las reclamase, y de ur 
ra por resultado un at. 
La ciencia, haste 
doctrina. La economi 
mientos sobre una tic 
a mentar rápidamente la 
poder dar asf satisfac 
sici6n permanece indi 
nornha polItica, clásic 
br de cambio, salari: 
cambio y consumo. EU 
Un suministro limjtadc

Outros materiais