Buscar

MIRANDA, D. B. Princesas de contos de fadas e crianças negras, racismo, estética e subjetividade (2010)

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 37 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 37 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 37 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

1 
 
 
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA 
CURSO DE PSICOLOGIA 
 
DÉBORA BRASIL MIRANDA 
 
 
 
 
 
PRINCESAS DE CONTOS DE FADAS E CRIANÇAS NEGRAS: RACISMO, 
ESTÉTICA E SUBJETIVIDADE. 
 
 
 
 
 
 
Brasília, novembro 2010 
 
Pró-Reitoria de Graduação 
Curso de Psicologia 
Trabalho de Conclusão de Curso 
PRINCESAS DE CONTOS DE FADAS E CRIANÇAS NEGRAS: 
RACISMO, ESTÉTICA E SUBJETIVIDADE. 
Autora: Débora Brasil Miranda 
Orientador: Alexandre Cavalcanti Galvão 
Brasília - DF 
2010 
2 
 
 
 
 
DÉBORA BRASIL MIRANDA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PRINCESAS DE CONTOS DE FADAS E CRIANÇAS NEGRAS: RACISMO, 
ESTÉTICA E SUBJETIVIDADE. 
 
 
 
 
Monografia apresentada ao curso de 
graduação em Psicologia da Universidade 
Católica de Brasília – UCB, como requisito 
parcial a obtenção do título de psicóloga. 
 
Orientador: MsC. Alexandre Cavalcanti 
Galvão 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Brasília 
2010 
3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Monografia de autoria de Débora Brasil Miranda, intitulada PRINCESAS DE CONTOS 
DE FADAS E CRIANÇAS NEGRAS: RACISMO, ESTÉTICA E SUBJETIVIDADE, 
apresentada como requisito para a obtenção do título de psicóloga pela Universidade 
Católica de Brasília em 01/12/2010, defendida e aprovada pela banca examinadora 
abaixo assinada: 
 
 
 
 
 
 
 
 
_______________________________________________________ 
Prof. MsC. Alexandre Cavalcanti Galvão 
Orientador 
Psicologia – UCB 
 
 
 
 
 
 
 
________________________________________________________ 
Prof. MsC. Maristela Muniz Gusmão 
Psicologia - UCB 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Brasília 
2010 
 
 
 
4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho 
 a todas as crianças entrevistadas 
e a todas as pessoas que, 
atualmente, lutam contra o racismo, 
seja na academia, seja na militância. 
 
5 
 
RESUMO 
RESUMO: O racismo disseminado nas relações sociais é uma problemática antiga que 
atinge diferentes sociedades pelo mundo, incluindo o Brasil, onde o preconceito racial 
se dá de maneira sutil e velada. A desvalorização e inferiorização do negro se dão em 
diversas esferas podendo ocasionar a internalização do racismo com o seu consequente 
sofrimento subjetivo. O racismo na esfera da estética influência diretamente a auto-
estima, sobretudo das mulheres que historicamente são mais cobradas nesse quesito. O 
padrão de beleza eurocêntrico é amplamente divulgado e as mulheres têm contato com 
ele desde a infância a partir de histórias infantis e experiências diversas no campo 
social. Tendo como pano de fundo essa discussão e levando em consideração que as 
crianças possuem a especificidade de, a partir de suas experiências de vida e das 
relações sociais estabelecidas estarem construindo sua identidade e auto imagem esse 
trabalho tem por objetivo: analisar como o racismo impacta a subjetividade das meninas 
negras, através de um estudo experimental de caráter qualitativo com base na psicologia 
social e em teorias sobre o racismo. Os sujeitos de pesquisa são crianças negras do sexo 
feminino entre 8 e 11 anos de diferentes classes econômicas. A pesquisa investigou as 
percepções de beleza e auto-afirmação dos sujeitos de pesquisa a partir de uma história 
infantil. Os resultados sugerem que existe uma assimilação do padrão eurocêntrico por 
parte das meninas, com um sofrimento subjacente. O padrão estético eurocêntrico bem 
como a identificação das crianças com as heroínas (princesas) impactam a auto-imagem, 
a auto-estima e consequentemente a identidade dessas crianças podendo dificultar sua 
auto afirmação. 
 
Palavras chaves – racismo, histórias infantis, subjetividade, estética 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 7 
REFERENCIAL TEÓRICO ........................................................................................... 8 
METODOLOGIA .......................................................................................................... 17 
RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................................. 20 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 31 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 35 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
Introdução 
 O racismo disseminado nas relações sociais é uma problemática antiga que 
atinge diferentes sociedades pelo mundo, inclusive o Brasil. A depender da cultura e do 
contexto sócio-histórico e político o racismo é expresso de maneira diferenciada, assim 
pode se observar diferentes manifestações de racismo a depender do país ou das 
comunidades analisadas. No caso do Brasil, a especificidade do contexto de grande 
miscigenação faz com que a diferenciação da população em raças distintas seja uma 
tarefa difícil, pois referências indígenas, africanas e européias são origens comuns a 
maioria dos brasileiros. 
A imagem social do negro ainda está impregnada em grande medida por 
estereótipos raciais que podem influir inclusive na auto-imagem da pessoa negra e na 
sua visão de mundo. No que se refere a esse assunto cabe a mídia grande 
responsabilidade na reprodução desses estereótipos e de padrões estéticos que valorizam 
principalmente características em grande parte contrárias as características fenotípicas 
dos negros. No quesito estético as mulheres sofrem uma pressão social maior que os 
homens e esse contexto de desvalorização social e cobrança estética pode trazer 
prejuízos não só nos aspectos objetivos, mas também subjetivos. 
Embora transformações sociais tenham deslegitimado as práticas racistas 
amplamente exercidas, não conseguiu extinguir o racismo enquanto ideologia presente 
no imaginário social e culturalmente reproduzida. Especificamente no Brasil, o 
chamado “mito da democracia racial”, teoria segundo a qual não existe racismo na 
sociedade brasileira devido o alto grau de miscigenação da população, nega a existência 
do racismo. Essa tese, defendida por muitos intelectuais, torna-se um impedimento para 
adoção de políticas públicas de enfrentamento do racismo e de emancipação dos negros. 
Pode-se colocar como exemplo o grande combate ao sistema de cotas para negros em 
universidades públicas, justificado pela suposta igualdade de direitos. 
Vários estudiosos (GUIMARÃES, 1999; VALVERDE; STOCCO, 2009; FRANÇA; 
MONTEIRO, 2004) da temática racial já têm apontado e comprovado mediante 
pesquisas cientificas que: 1) o racismo embora negado continua presente nas sociedades 
e 2) que atualmente a prática do racismo se dá de maneira indireta e sutil, sendo muitas 
vezes uma prática inconsciente e não reconhecida como racismo. No bojo das teorias 
8 
 
referentes às novas expressões do racismo, no Brasil a classificação utilizada por Lima e 
Vala (2004a) é racismo cordial pela especificidade de se tratar de uma sociedade 
multirracial e pelo tom aparentemente ameno utilizado nas práticas de discriminação 
racial como brincadeiras, piadas, ditos populares e etc.Sabendo que o racismo não é algo inerente a pessoa humana, entende-se que se trata 
de uma construção social que é culturalmente disseminada e, portanto, de um elemento 
presente na socialização das crianças podendo ser absorvido de maneiras distintas não 
só por indivíduos brancos, mas também por negros. O fato do racismo está presente 
indiretamente no processo de socialização das crianças seja no âmbito da família ou da 
escola, afeta a subjetividade das mesmas e influi nas relações sociais estabelecidas 
durante a vida desses futuros adultos. 
 Observando essas questões, esse projeto de pesquisa foi motivado pelo interesse 
de investigar a questão racial a partir do referencial da Psicologia Social e tendo como 
pano de fundo a questão da estética e do gênero. A pesquisa parte do pressuposto que a 
Psicologia, dentro do seu compromisso social, deve também se ocupar das questões 
sociais historicamente colocadas, questões essas que influenciam diretamente a 
subjetividade dos seres humanos. 
A opção de trabalhar com contos infantis e com crianças se deve a tentativa de 
analisar como a construção da identidade/auto-imagem, pode ser influenciada pelos 
contos infantis que correspondem a uma ideologia, uma cultura e um contexto social 
específico. 
Revisão Bibliográfica 
As pessoas têm direito a serem iguais sempre que a diferença as tornar inferiores; contudo, têm também 
direito a serem diferentes sempre que a igualdade colocar em risco suas identidades. 
(Boaventura de Souza Santos) 
No Brasil a existência do racismo tem sido continuamente negada por meio do 
mito da democracia racial, todavia o racismo continua a se configurar como uma 
ideologia presente e o preconceito racial como uma realidade muitas vezes sutil (LIMA; 
VALA, 2004a). Percebendo que as conseqüências do racismo operam não apenas no 
âmbito objetivo e concreto, mas também no subjetivo e abstrato, compreende-se a 
9 
 
necessidade de investigar esse fenômeno que corresponde a diferentes disciplinas, e 
entre elas a Psicologia, se mostrando tão transdisciplinar quanto complexo. 
O conceito de racismo para Guimarães (1999) é pensado a partir de doutrinas, 
atitudes e preferências e pode ser resumidos aos seguintes elementos: 1) em princípio 
pela justificação das desigualdades e diferenças entre os seres humanos baseados no 
critério biológico de raça; 2) justificação culturalistas de diferenciação entre povos e 
etnias a partir da idéia de uma cultura superior ou inferior e atitudes e preferências, nas 
quais se inserem as práticas sociais relativas a valores estéticos e culturais; 3) ideologia 
que utiliza mecanismos de discriminação para a perpetuação e reprodução de 
desigualdades sociais e econômicas baseado na idéia de raça; 4) sistema social que 
produz desigualdades a um grupo definido por atributos raciais, justificado por idéias de 
superioridade e a partir de mecanismos de discriminação que podem ser individuais ou 
coletivos e cotidianos. 
No caso do Brasil, Guimarães (1999) coloca que a posição sócio-política do 
negro foi primeiramente justificada pela força e poder de conquista dos senhores, 
posteriormente pela inferiorização biológica/cultural e por ultimo pela pobreza e 
características individuais e grupais. Para este autor a manifestação e exteriorização do 
racismo nas chamadas sociedades modernas se dá essencialmente pela pobreza e não-
cidadania (mais comum aos imigrantes e seus descendentes), no caso do Brasil, foi 
utilizado principalmente à destituição cultural e econômica (empobrecimento) associado 
a mecanismos de abuso verbal. Guimarães entende que o racismo tem sua origem na 
criação e disseminação de uma doutrina de justificação das desigualdades entre 
humanos utilizando-se do direito e da biologia para naturalizar as diferenças sociais e 
políticas, doutrina essa essencial a expansão do colonialismo (Ibid). 
Diversos autores (LIMA; VALA, 2004a; GUIMARÃES, 1999; VALVERDE; 
STOCCO, 2009; FRANÇA; MONTEIRO, 2004) têm demonstrado através de pesquisas 
que existem novas formas de racismo que apresentam diferentes configurações de 
acordo com o contexto sociopolítico e cultural. As novas formas de racismo têm em 
comum o fato de ser uma adequação a um contexto fortemente influenciado pelos ideais 
liberais e igualitários pregados pelo sistema de produção capitalista e pela ampla defesa 
dos direitos humanos (GUIMARÃES, 1999; LIMA; VALA, 2004a). Assim o racismo 
se adéqua as mudanças históricas e sociais demonstrando sua capacidade de se adaptar e 
10 
 
manter-se como uma ideologia influente. A partir dessa conjuntura específica as novas 
formas de racismo se caracterizam principalmente por se manifestar de maneira sutil, 
disfarçada e muitas vezes ambígua. 
Para Dahia (2008) uma das maneiras de expressar esse racismo de maneira sutil 
é através da piada e do chiste. Colocar o riso como solução intermediaria para as 
questões raciais no Brasil seria, para essa autora, uma maneira de ignorar o caráter 
político, social e ideológico do racismo, fortalecer a teoria da democracia racial e 
deslegitimar intervenções do Estado (Ibid). 
Além da piada, a mídia também se configura como um meio de perpetuação de 
valores culturais e de reprodução da ideologia dominante. O racismo brasileiro, para 
Acevedo e Nohara (2008), está expresso na mídia através da inferiorização e 
estigmatização da imagem do negro. Essa constatação é especialmente grave tendo em 
vista o papel deste veículo de comunicação na construção e reafirmação das identidades 
e por oferecer aos sujeitos modelos de pensamentos e comportamentos (Ibid). 
Lima e Vala (2004a) classificam os diferentes tipos de racismo encontrados na 
sociedade moderna como: 1) racismo moderno na Austrália e nos EUA (McConahay & 
Hough
1
, 1976; Pedersen & Walker
2
, 1997, apud Lima e Vala, 2004a); 2) o racismo 
simbólico nos EUA (Kinder & Sears
3
, 1981, apud Lima e Vala, 2004a); 3) o racismo 
aversivo também nos EUA (Gaertner & Dovidio
4
, 1986 apud Lima e Vala, 2004a) 4) o 
racismo ambivalente nos EUA (Katz & Hass
5
, 1988 apud Lima e Vala, 2004a); 5) o 
 
1
 McConahay, J. B., & Hough, J. C. Jr. (1976). Symbolic racism. Journal of Social Issues, 32, 23-45. 
2
 Pedersen, A., & Walker, I. A. (1997). Prejudice against Australian aborigines: old-fashioned and 
modern forms. European Journal of Social Psychology, 27, 561-587. 
3
 Kinder, D. R., & Sears, D. O. (1981). Prejudice and politics: symbolic racism versus racial threats to the 
good life. Journal of Personality and Social Psychology, 40, 414-431. 
4
 Gaertner, S. L., & Dovidio, J. F. (1986). The aversive form of racism. In J. F. Dovidio, & S. L. Gaertner 
(Orgs.), Prejudice, discrimination, and racism (pp. 61-89). Orlando, Florida: Academic. 
5
 Katz, I., & Hass, R. G. (1988). Racial ambivalence and American value conflict: correlational and 
priming studies of dual cognitive structures. Journal of Personality and Social Psychology, 55, 893-905. 
11 
 
racismo sutil na Europa (Pettigrew & Meertens
6
, 1995 apud Lima e Vala, 2004a) e 6) o 
racismo cordial no Brasil (Turra & Venturi
7
, 1995 apud Lima e Vala, 2004a). 
 O fato de haver uma predominância das novas formas de racismo não significa 
que o chamado racismo flagrante, caracterizado por ações diretas de discriminação 
tenham desaparecido por completo. Essas práticas ainda são recorrentes, sobretudo em 
contexto onde as normas sociais anti-racistas não estão claras e explícitas (FRANÇA; 
MONTEIRO, 2004). 
Pensado como uma das características do racismo brasileiro, Lima e Vala 
(2004b) classificam como branqueamento a relação entre sucessoe a cor branca e entre 
o fracasso social e econômico com a cor preta. Esse fenômeno corresponde ao 
enegrecimento dos sujeitos que fracassam e o branqueamento dos que obtém sucesso. 
Para esses autores é o “branqueamento da condição social do negro que define o 
racismo e a infra-humanização
8
 contra ele” (2004b, p. 13). 
Os resultados do estudo experimental realizado por Lima e Vala (2004b) 
indicam que existe uma representação social que protege as crenças coletivas e atitudes 
negativas em relação à raça negra através da associação entre o fracasso e a cor negra e 
o sucesso e a cor branca. De acordo com essa idéia, a classificação da cor quando 
comparada ao sucesso passa a ser subjetiva quando um mesmo sujeito pode ser mais 
claro ou mais escuro a depender de seu contexto social de valorização ou desvalorização 
(Ibid) . Essa associação entre sucesso e a cor branca tem seu marco principal no Brasil 
com a política de imigração de europeus baseada nas ideologias do racismo científico 
do século XIX, pois a idéia era: branquear a população para poder alcançar 
desenvolvimento e civilidade (Ibid). Martins (2006, p. 24) corrobora com essa idéia 
colocando que “a crença na inferioridade dos negros e índios era consenso absoluto, só 
havendo uma saída para o país: livrar-se dos negros ou branquear a nação, através da 
miscigenação, como condição “sine qua non” para civilizar o Brasil”. 
 
6
 Pettigrew, T. F., & Meertens, R. W. (1995). Subtle and blatant prejudice in Western Europe. European 
Journal of Social Psychology, 25, 57-75. 
7
 Turra, C., & Venturi, G. (1995). Racismo cordial: a mais completa análise sobre preconceito de cor no 
Brasil. São Paulo: Ática. 
8
 A infra-humanização resulta da negação a membros de outros grupos (“exogrupos”) de determinadas 
características tipicamente humanas, características que compõem a “essência humana” (LIMA; VALA, 
2004b, p. 12). 
12 
 
Sobre a manifestação do racismo brasileiro, Guimarães (1999), classifica em 
duas grandes fases, sendo a primeira caracterizada pela discriminação racial aberta e 
informal que era seguida da discriminação de classe e de sexo e que gerava segregação 
sócio-espacial. A segunda fase é marcada pela reprodução das desigualdades raciais 
através mecanismos psicológicos de inferiorização e estritos de mercado. 
O racismo expresso de maneira sutil é também uma modo de tentar disfarçar 
essa violência para que se possa negar sua existência. Assim não se precisa discutir e 
nem refletir sobre essa problemática, inferiorizam-se pessoas negras sem assumir o 
preconceito racial presente nessa prática. Sobre esse assunto Dahia coloca que 
O não-dito serve como recurso de “invisibilização” do preconceito, produzindo 
uma falsa imagem de harmonia nas relações sociais. Essa imagem apenas ajuda 
na manutenção do preconceito racial, ao mesmo tempo em que enfraquece o 
seu combate direto (DAHIA, 2008, p. 706 – 707). 
Para Oliveira, Meneghel e Bernardes (2009) o discurso racista que procura 
culpabilizar os indivíduos pelas suas diferenças propaga regras e prescrições para a 
população negra com o objetivo de agenciar identidades e subjetividades homogêneas, 
passivas e assujeitadas. Ao mesmo tempo Anjos
9
 (2004 apud OLIVEIRA; 
MENEGHEL; BERNARDES, 2009) aponta que o racismo e o sexismo se reforçam 
mutuamente a partir da potencialização entre a dominação racial/étnica e a dominação 
de gênero. A partir da questão da estética, mais imperativa para as mulheres como um 
todo, relacionada à questão da mídia televisiva, Araújo coloca que 
a pior armadilha para os atores negros tem sido a manifesta opção por 
profissionais brancos para representar a beleza ideal do brasileiro ou, até 
mesmo, o típico brasileiro comum – uma estética produzida pela persistência 
da ideologia do branqueamento em nossa cultura, um discurso construído no 
século XIX que é revivido no dia-a-dia de nossas telinhas através da exclusiva 
escolha de louras como apresentadoras ideais dos programas infantis e de 
modelos brancos para os papéis de galãs e mocinhas (ARAÚJO, 2008, p. 921). 
 A posição da mulher negra, cobrada por uma estética que tem como padrão os 
traços europeus e nórdicos é preocupante no tocante a subjetividade da mesma. Para 
Joel Zito Araújo (2008, p.983) “sempre prevaleceu à ideologia da branquitude como 
formadora do padrão ideal de beleza e, ao mesmo tempo, como legitimadora da idéia de 
superioridade do segmento branco”. Vilhena (2006, p. 5) corrobora com essa idéia ao 
 
9
 Anjos, J. C. dos (2004). Etnia, raça e saúde: sob uma perspectiva nominalista. In S. Monteiro & L. 
Sansone (Orgs.), Etnicidade na América Latina: um debate sobre raça, saúde e direitos reprodutivos 
(pp.97-119). Rio de Janeiro: Editora Fiocruz. 
13 
 
afirmar que “A violência racista do branco é exercida, antes de tudo, pela impiedosa 
tendência a destruir a identidade do sujeito negro”. 
Os resultados da pesquisa com mulheres negras realizada por Oliveira, 
Meneghel e Bernardes (2009) apontam para: o desejo de reparação das vítimas de 
discriminação racial, necessidade de mobilização anti racista, potencialização das 
discriminações de raça e gênero nas práticas cotidianas. Embora estejam presentes no 
repertório de identidade racial das mulheres negras, assujeitamento, submissão e o não 
reconhecem do racismo, também há referências identitárias autônomas
10
. Para essas 
autoras o rompimento com o assujeitamento exige elementos como reconhecimento do 
pertencimento racial, a valorização da identidade e o exercício da cidadania (Ibid). 
 A pesquisa realizada por Acevedo e Nohara (2008) apresenta a dimensão do 
impacto do racismo na subjetividade de afrodescentes. Em seus resultados as autoras 
destacam: há pouca representação, com retratos estigmatizados e uma desvalorização do 
negro enquanto consumidor apesar de já serem observadas algumas mudanças; Os 
sentimentos relatados pelos sujeitos frente à interpretação dos retratos de negros na 
mídia foram de revolta, indignação, tristeza, contrariedade, incômodo, desprestígio, 
exclusão, constrangimento, vergonha, magoa e rancor; as razões apontadas para a não 
identificação com a representação do negro apresentada pela mídia foram: a 
estigmatização, representação de extremos tanto de pobreza, como de riqueza e a não 
representação do estilo de vida e dos hábitos de consumo dos entrevistados (Ibid). 
É importante destacar que a pesquisa
11
 revelou para as autoras supracitadas, uma 
fuga da realidade étnica através da negação da ancestralidade e identidade étnica, que 
pode ser tanto uma defesa ao racismo, como processos inconscientes de 
autodesvalorização a partir da incorporação de valores sociais e morais dominantes e da 
interiorização do discurso negativo relativo ao negro (Ibid). Com relação à formação da 
identidade, apresenta-se como pertinente a colocação de Martins segundo a qual: 
 
10
 Cabe ressaltar que no estudo citado o grupo formado era constituído de mulheres que denunciaram 
práticas de racismo e, portanto tem uma visão mais crítica da questão racial o que justifica suas posições. 
Embora este elemento possa ser encontrado em mulheres denunciantes e não-denunciantes, a posição 
critica frente a essa problemática não é uma constante nas mulheres negras como um todo. 
11
 Acevedo e Nohara (2008) informam que as limitações da pesquisa impedem generalizações e que mais 
estudos nessa área devem ser realizados. 
14 
 
As identidades se constroem por meio da inter-relação entre o sujeito e outrossujeitos, entre o indivíduo e o meio, a cultura e a sociedade. Nesse processo, os 
grupos/sujeitos pertencentes aos grupos discriminados e sobre os quais há 
estereótipos negativos têm que, para construir uma imagem positiva de si, fazer 
constantes mediações com a identidade legitimadora, vinculada pela sociedade 
e pela cultura como formas de manutenção e dominação (MARTINS, 2006, p. 
45). 
O Estado, a nação e os indivíduos são as três dimensões eleitas por Guimarães 
(1999) para o combate do racismo no Brasil, a questão da subjetividade da população 
negra está diretamente contemplada na dimensão indivíduos, na qual o autor ressalta a 
importância de sustentar a auto-estima dos negros através da revalorização e 
reinterpretação das heranças culturais e do combate a discriminação racial por parte das 
instituições. O combate ao racismo também requer repensar a contribuição da mídia 
para a reprodução do racismo, pois a representação negativa influencia não só a visão da 
sociedade frente à população negra, mas também prejudica a auto-imagem e auto-estima 
desses sujeitos (ACEVEDO; NOHARA, 2008). 
O racismo é assimilado pelos sujeitos ainda na infância no processo de 
socialização, estudos realizados por França e Monteiro (2004) apontam que até cerca de 
8 anos devido a pouco maturidade da criança é mais comum práticas discriminatórias 
diretas, o chamado racismo flagrante. Segundo estas autoras é geralmente após os 8 
anos de idade que as crianças passam a ter um entendimento das normas sociais que 
deslegitimam socialmente o racismo, todavia isso não significa que as crianças não 
recorram a práticas racistas diretas em alguns momentos. Assim como os adultos, as 
criança passam a utilizar de formas indiretas de racismo muitas vezes sem se dar conta 
dessa prática (Ibid). 
Na escola, um ambiente propício tanto para a desconstrução quanto para a 
reprodução desses preconceitos, infelizmente poucas tem sido as iniciativas anti-racistas 
(MENEZES, 2002). Estudos sobre racismo e preconceito racial apontam para uma 
realidade de desigualdade racial nas escolas brasileiras e de práticas racistas não só de 
alunos para alunos, mas também de professores para alunos (CARVALHO, 2005; 
VALVERDE; STOCCO, 2009). Segundo Valverde e Stocco (2009, p. 918) “distintas 
experiências vivenciadas por crianças brancas e negras no interior do sistema 
educacional têm efeito direto sobre sua permanência, progressão e desempenho 
escolar”. Cabe ressaltar que na maioria das vezes essa práticas nem são identificadas 
como racistas nem pelos que as praticam, nem pelos que são vitimados por elas. 
15 
 
No contexto escolar o que pode ser apontado com base nas pesquisas, em 
relação às crianças negras, (CARVALHO, 2005; MENEZES, 2002; VALVERDE; 
STOCCO, 2009) é diferenciação de tratamento, queda de desempenho escolar, 
representação negativa ou ausente do negro nos livros didáticos e produções da escola, 
adjetivação desumanizadora, desvantagens objetivas e subjetivas. No que se refere ao 
desempenho escolar, obviamente o racismo não pode ser apontado como a única ou a 
principal causa, mas também não deve ser ignorado levando em consideração que a 
ideologia racista pode influenciar o contexto escolar como um todo e ter impacto 
significativos na subjetividade da criança ou adolescente negro (CARVALHO, 2005; 
VALVERDE; STOCCO, 2009). Sobre essa questão Menezes coloca: 
A criança negra poderá incorporar esse discurso e sentir-se marginalizada, 
desvalorizada e excluída, sendo levada a falso entendimento de que não é 
merecedora de respeito ou dignidade, julgando-se sem direitos e possibilidades. 
Esse sentimento está pautado pela mensagem transmitida às crianças de que 
para ser humanizado é preciso corresponder às expectativas do padrão 
dominante, ou seja, ser branco (MENEZES, 2002, p. 15). 
A reflexão sobre o racismo no contexto escolar se justifica pelo entendimento de 
que o racismo se utiliza de mecanismos discriminatórios também em níveis psicológicos 
e individuais que se dão, segundo Guimarães (1999), pela inferiorização de 
características (somáticas e culturais) e pelos processos de socialização desses valores. 
Socialização essa que se dá a partir da socialização nas redes informais e através da 
escolarização formal, portanto, a escola (Ibid). 
Não só dentro do ambiente escolar, mas também fora dele, a literatura infantil 
tem sido reprodutora dos preconceitos sociais não contribuindo assim com a introdução 
de valores condizentes com o multiculturalismo. No que se refere às histórias mais 
populares entre as crianças, os contos de fadas, essa questão é especialmente presente. 
Em seu livro, Psicanálise dos Contos de Fadas, Bettelheim (1992) defende que os 
contos têm um papel muito importante para o desenvolvimento da personalidade uma 
vez que trata de ansiedades e dilemas existenciais tais como: a necessidade de ser 
amado e o medo de não ter valor; o amor pela vida e o medo da morte. Todavia no que 
se refere à representação da realidade nos contos Bettelheim coloca: 
Se tomamos estas estórias como descrições da realidade, então os contos são 
verdadeiramente ultrajantes sob todos os aspectos - cruéis, sádicos e tudo o 
mais. Mas, como símbolos de acontecimentos ou problemas psicológicos, estas 
histórias são totalmente verdadeiras (BETTELHEIM, 1992, p. 190). 
16 
 
 Interessa-nos saber que sendo os contos infantis, no que tange aos personagens 
polarizados em sua grande maioria entre o bem e o mal, cabe a criança a identificação 
com o personagem bom. Essa identificação auxilia na construção da moralidade da 
criança, todavia a questão que chama a atenção é que a representação dessa heroína ou 
herói é sempre correspondente a um padrão estético eurocêntrico. Como esse dado pode 
influenciar na identificação de crianças negras e na sua construção de modelos de beleza 
e virtude são aspectos ainda pouco estudados, mas que são importantes no entendimento 
da consolidação de uma identidade e construção da auto-estima para essas crianças. 
 Sobre a descrição dos personagens Arboleya afirma: 
Muitos aspectos que, no contexto da obra, parecem soar como inocentes 
recursos textuais e estilísticos podem atuar no sentido de reforçar preconceitos 
a partir da forma como cada personagem é descrito, isto é, a forma como sua 
construção adjetiva se torna um valor positivo ou negativo na construção da 
identidade do personagem e da própria construção da identidade do leitor 
(ARBOLEYA, 2008b, p. 05). 
 A influência da literatura infantil clássica serviu de base para a representação do 
negro de forma inferiorizada e marginalizada estando como personagem sempre 
conivente com os saberes dos brancos (Ibid). 
 Infelizmente a literatura infantil tem reproduzido os padrões eurocêntricos que 
reforçam preconceitos raciais e contribuem para a discriminação dos negros em nossa 
sociedade. A mudança desse quadro não parece nem simples e nem imediata, mas 
requer sem dúvida algum grau de mobilização. 
 Corroborando com essa idéia, Arboleya (2008b) também coloca que a literatura 
infantil por seu aspecto pedagógico induz, a partir da constituição adjetiva do enredo e 
de seus personagens, construção de referências estéticas, ideológicas e culturais. Para 
este autor, a especificidade da linguagem própria e das construções simbólicas da 
literatura infantil proporciona a possibilidade de descortinamento de temas e situações 
sociais de maneira diferenciada, capaz de representar interesses, culturas e ideologias. 
Em seu livro, “As origens da vergonha”, Vicent Gaulejac (2006) apresenta 
argumentações pertinentes a essa problemática. Sobre a questão da superação da 
vergonha em nível individual, Gaulejac (2006) colocaa importância da análise das 
causas socioeconômicas que produzem as relações de humilhação, seria o deslocamento 
da responsabilidade do nível individual para o nível social. Assim, a tomada de 
17 
 
consciência de que o racismo influencia as relações sociais são fundamentais para que o 
sujeito não se sinta responsável pelas situações de humilhações ou desvalorização 
(discriminações) aos quais está sujeito e, portanto, não se sinta obrigado a se adequar 
aos padrões vigentes. Seria nessa tomada de consciência que emergiria o sujeito sócio-
histórico (Ibid). 
Com o intuito de analisar como o racismo impacta a subjetividade das meninas 
negras, desenvolveu-se esta pesquisa, procurando responder a seguinte questão: com 
referência ao componente estético, de que maneira o racismo moderno é assimilado por 
meninas negras e de que maneira as histórias infantis são instrumentos nesse processo? 
Método 
Trata-se de pesquisa com método qualitativo, que utiliza como aporte teórico a 
Psicologia Social e teorias sobre o racismo. Esta pesquisa integra o Trabalho de 
Conclusão de Curso de Psicologia e, portanto embora trate de um fenômeno que poderia 
integrar diferentes recortes, se restringirá aos aspectos subjetivos das conseqüências do 
racismo, sobretudo os relacionados à auto-estima e a auto-imagem. 
Sobre a diferenciação entre as perspectivas psicológicas e sociológicas, Doise 
(1984) reconhece quatro níveis de análise: 1) estudos psicológicos ou processos intra-
individuais; 2) processos inter-individuais ou intra-situacionais; 3) variáveis posição ou 
status social ao intervirem nas interações situacionais e por ultimo 4) concepções gerais 
sobre relações sociais. A presente pesquisa pretende operar no primeiro nível e, portanto 
favorecerá os aspectos individuais dos sujeitos bem como suas experiências no 
ambiente social. 
Participantes 
O estudo realizado contou com a participação de nove crianças do sexo feminino 
negras
12
, escolarizadas, sem comprometimento cognitivos, residentes no Distrito 
Federal (Taguatinga, Ceilândia, Recanto das Emas, Riacho Fundo, Vicente Pires). 
 
12
 Foi utilizada a definição do IBGE segundo a qual a classificação negra corresponde às cores pretas e 
pardas. 
18 
 
As idades variaram entre 8 e 11 anos de idade, sendo que 4 crianças tinham 10 
anos, 2 tinham 11 anos; 2 tinham 8 anos e uma tinha 9 anos. Piaget divide o 
desenvolvimento cognitivos em 4 estágios: o sensório-motor (do nascimento aos 2 
anos), pré-operacional (2 a 7 anos), operacional concreto (7 a 12 anos) e o operacional-
formal ( após os 12 anos) (POLANGANA, 2001). As crianças escolhidas para a 
pesquisa estarão no estágio das operações concretas porque nesse estágio a criança 
evolui de um pensamento de configuração totalmente egocêntrica para uma mais 
socializada que pressupõe regras e leis de raciocínio usadas socialmente. Nessa fase a 
criança também desenvolve a capacidade de pensar de maneira lógica e de 
reversibilidade do pensamento. 
A identificação das entrevistadas se deu a partir de elementos da aparência 
física, como cor de pele, cabelos, espessura dos lábios, traços do rosto. Não houve 
predominância de uma única classe socioeconômica na amostra havendo participantes 
de classes baixa, média e alta. No caso de duas crianças foi percebido que as famílias 
possuíam algumas características auto-afirmativas de valorização de traços fenotípicos 
negros. As entrevistas foram realizadas em lugares disponibilizados pelos participantes 
e seus responsáveis, na maioria dos casos foi em sua residência, mas também houve 
uma entrevista numa escola, nas dependências da Igreja que a criança participava e na 
casa de familiares da criança e no CEFPA. Foi permitida a presença dos pais ou de 
familiares quando solicitado pelos mesmos o que ocorreu em 2 casos. 
Instrumentos e recursos 
 Entrevista semi-estruturada: O roteiro de entrevista contém perguntas abertas e 
fechadas com a possibilidade de inclusão de perguntas que a pesquisadora julgar 
pertinentes a pesquisa (Apêndice A). 
 Recursos Materiais: Gravador, Resma de papel A4, Canetas, Xerox, Computador, 
impressora, MP4. 
 Gravação de uma história infantil na qual haverá personagens que correspondem à 
representação de uma princesa, um príncipe e uma bruxa. A história tem as mesmas 
características que contos infantis tradicionais. Na história não consta nenhuma 
descrição física dos personagens. Este instrumento foi produzido pela pesquisadora 
e gravado por uma colaboradora (Apêndice B). 
19 
 
 Seis desenhos da princesa, da tia má e do príncipe. Os desenhos diferiram somente 
nos elementos: cor, cabelo, olhos e nariz. Sendo um desenho com características 
fenotípicas do típico negro de cor preta, cabelos crespos, olhos castanhos e nariz 
achatado e haverá uma gradação até o desenho com cabelos lisos e loiros, olhos 
azuis e nariz afilado. Os desenhos foram produzidos especialmente para a pesquisa 
sendo, portanto inéditos e originais (Apêndice C). 
Procedimentos 
1ª Etapa: Comitê de Pesquisa 
 Todas as entrevistas e demais procedimentos da pesquisa obedeceram às normas 
prescritas na resolução 196/1996 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), dispõe sobre 
as Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisa envolvendo Seres Humanos 
(BRASIL, 1996). Este projeto de pesquisa foi submetido à apreciação do Comitê de 
Ética em Pesquisa da Universidade Católica de Brasília – UCB na data de 29/07/2010. 
O projeto de pesquisa foi aprovado pelo CEP na reunião seguinte do dia 23/08/2010. A 
coleta de dados só foi iniciada após a aprovação do projeto de pesquisa (Anexo I). 
2ª Etapa: Apresentação da História Infantil e Desenhos. 
 Após a identificação das participantes, foi aplicado o termo de consentimento 
livre e esclarecido (Apêndice D) aos responsáveis legais das crianças. Somente 
participaram da pesquisa as crianças que concordaram assim como seus responsáveis 
legais. 
No dia agendado com a participante, foi apresentada, na forma de áudio e em 
ambiente silencioso, a história infantil com características semelhantes aos contos 
infantis popularmente conhecidos. Após esse momento foi apresentado os desenhos de 
todos os personagens para que as crianças escolhessem qual desenho elas consideraram 
que correspondia aos personagens. Também solicitou-se a criança que fizesse um 
desenho do castelo e colocasse sobre o desenho as figuras escolhidas por ela para se 
visualizar onde se encontrava cada personagem no cenário proposto pela criança. 
3ª Etapa: Entrevista semi-estruturada. A entrevista contou com o mesmo roteiro para 
todas participantes, formado por questões abertas e fechadas e com a possibilidade de 
20 
 
serem acrescentadas perguntas pertinentes a pesquisa segundo a percepção da 
pesquisadora. 
Análise de Dados 
O método de análise de dados empregado nas entrevistas realizadas foi a Análise 
de Conteúdo. Segundo Bardin análise de conteúdo se refere a 
Um conjunto de técnicas de análise de comunicação visando a obter por 
procedimentos sistemáticos e objectivos de descrição do conteúdo das 
mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de 
conhecimentos relativos às condições de produção/recepção destas mensagens 
(BARDIN, 2009, p. 44). 
A análise de conteúdo pode organizar-se em três pólos cronológicos: a pré-
análise, que visa tornar operacionais e sistematizar as idéias iniciais; a exploração do 
material que consiste na codificação, decomposição ou enumeração; e o tratamento dos 
resultados que envolvem operações estatísticas, síntese e seleção dos resultados, 
inferências e interpretações(Ibid). 
Para Bardin (2009) a descrição, caracterizada pela enumeração das características do 
texto, resumida após o tratamento seria a faze inicial. Sendo a interpretação, enquanto 
significação dessas características, a fase final tendo como fase intermediária a 
inferência (deduções lógicas). 
A categorização seria a reunião de um grupo de elementos (unidades de registro) a 
partir de suas características comuns sob um título genérico, sendo assim as categorias 
seriam rúbricas ou classes (Ibid). No caso da pesquisa em questão a categorização será 
semântica (categorias temáticas) utilizando o procedimento por acervo no qual a 
categoria só é nomeada ao final da operação. 
Resultados e Discussão 
A análise de dados se centrou nas escolhas dos personagens por parte das crianças e 
nas entrevistas realizadas. De posse dos dados, a análise com a discussão 
correspondente foi disposta nas categorias seguintes: Histórias infantis; estética e o 
social; Estas categorias foram construídas a partir do agrupamento dos conteúdos das 
falas dos sujeitos de pesquisa. 
Histórias Infantis 
21 
 
“Ah, se eu tivesse uma filha tão alva como a neve, tão rubra como o sangue e tão negra como a 
madeira da janela!” (Branca de Neve e os Sete Anões). 
As histórias infantis têm fundamental importância na vida das crianças por ajudar a 
compor em seu imaginário elementos que embora se apresentem na fantasia possuem 
importância na vida social como regras e valores morais. Em a Psicanálise dos Contos 
de Fadas, Bettelheim (1992) defende que os contos de fadas são importantes para as 
crianças porque ajudam-nas a lidar com os problemas psicológicos do crescimento e da 
integração de suas personalidades. Em contra partida Arboleya (2008b) coloca que a 
literatura assim como outros mecanismos de comunicação sofre a influência dos 
padrões e formas de interpretação do mundo e das relações sociais e sendo assim a 
disseminação dessas idéias e padrões convencionados não é uma deturpação da intenção 
da obra e sim um de seus objetivos. 
Trata-se de um gênero literário difundido através das histórias contadas, do teatro, 
do cinema, em brinquedos e brincadeiras diversas. Os contos infantis clássicos tais 
como os dos irmãos Grimm e de Perrault ainda são amplamente explorados e servem de 
inspiração para a produção de histórias similares. 
Nos contos infantis que contém uma heroína (em sua grande maioria uma princesa) 
a beleza é uma das principais virtudes dessa personagem e muitas vezes o motivo do 
conflito principal como no caso de Branca de Neve. Nem sempre os originais dos 
contos infantis continham uma descrição detalhada dessa personagem, mas obedecendo 
aos referenciais europeus as ilustrações das personagens, ao longo da história, seguiram 
fielmente o modelo de beleza eurocêntrico no qual a princesa é loira, branca, magra e de 
olhos claros (GOLDENBERG, 2005; ARBOLEYA, 2008a). Sobre a descrição dos 
personagens e os estereótipos construídos Arboleya (2008b, p. 6) coloca que podem 
reforçar preconceitos a depender da “forma como sua construção adjetiva se torna um 
valor positivo ou negativo na construção da identidade do personagem e da própria 
construção da identidade do leitor”. 
As crianças, no geral, associaram, assim como a beleza, várias virtudes como sendo 
naturais às boas princesas, aspectos como delicadeza, inteligência, elegância, bondade e 
etc. foram comuns as falas. Além desses aspectos a descrição de uma princesa bonita 
também contemplava bons comportamentos que são reforçados pelos pais, tais como, 
22 
 
cuidar da higiene, ser carinhosa, ajudar os outros, ser educada e limpa. Algumas das 
respostas referentes a percepção de uma princesa bonita para as entrevistadas são: 
[...] cabelinho arrumado, penteadinho [...]. O jeito de ser, vestir, tem que ser 
bonitinho, limpinho, com nada no rosto, com nada de machucados (Criança 2). 
Tem que ter, é... vestir bem, pentear o cabelo, escovar os dentes [...] (Criança 
4). 
Ela tem que ser educada, tem que ter delicadeza, sensível [...] (Criança 5). 
Uma pessoa meiga, carinhosa, inteligente e bonita [...] (Criança 6). 
Ela é aquela princesa que fala a verdade, que sempre procura o melhor pra 
todos, e essa princesa vai ser uma princesa bonita no jeito dela ser [...] (Criança 
9). 
O grande alcance dos contos infantis ficou claro na pesquisa pelo fato de todas as 
crianças conhecerem a maioria dos contos populares, sobretudo os que foram utilizados 
pela Walt Disney. Dentro das histórias preferidas foi predominante a Cinderela (4 
crianças) e a Branca de Neve (4 crianças). A princesa mais citada como a favorita foi a 
Branca de Neve, este que é um dos mais antigos contos populares e que enaltece a 
beleza em seu enredo. Para Arboleya (2008a) a descrição física e psicológica da Branca 
de Neve oferece a idéia de uma beleza clássica e universal, valorizando a raça ariana. 
Cinderela e a Bela (da história a Bela e a Fera) foram também bastante citadas ao longo 
das entrevistas, 6 e 3 vezes, respectivamente. 
As crianças demonstraram vinculação e admiração por essas princesas, que têm 
como característica central a beleza. Ainda assim as diferenças nas características 
fenotípicas entre as meninas e as princesas também foram percebidas pelas 
participantes. Quando questionadas se as princesas eram parecidas com elas, algumas 
das respostas foram: 
Algumas não porque quase todas que minha mãe comprou são brancas 
(Criança 1). 
Eu não, por que elas são brancas [...] (Criança3). 
Não, não sei... elas são diferentes, elas são deixa ver, não sei eu só sei que elas 
não parece comigo (Criança 6). 
Não, porque... é... as princesas parecida comigo... eu não acho porque, é 
algumas tem assim os cabelos diferentes, os olhos, ai muda a cor. (Criança 4). 
Um elemento que reforça a idéia da importância da defesa da diversidade nas 
representações de beleza foi a identificação e boa aceitação da única princesa negra já 
23 
 
lançada pela Walt Disney no filme “A Princesa e o Sapo”. Este filme, lançado em 2009, 
tem como enredo a história de Tiana que ao beijar um sapo ao invés dele se tornar um 
príncipe é ela que se torna também um sapo. Uma criança elegeu esta princesa como a 
preferida e 2 crianças a citaram como a princesa que gostariam de ser: 
Não, ai é por que é na verdade eu gosto mesmo e da princesa e o sapo, já 
assistiu? É essa ai, é de todas, porque acho a história dela muito legal [...] 
(Criança 7). 
Com relação ao desenho do castelo ficou explícito que a representação do castelo 
para as crianças era correspondente a representação mais comum de castelos em contos 
de fadas, com torres e portas e janelas típicas da idade medieval. 
A estética 
Na verdade, o feio não é o contrário do belo, mas a negação da beleza de cada um. 
(Tânia Pompeu, 1999) 
A estética refere-se a um constructo social que se manifesta em diferentes áreas da 
sociedade. Não se deve pensar na estética de maneira negativa, mas como “experiência 
aprendida culturalmente e, portanto, carregada de significados e valores” (POMPEU, 
1999, p. 1). Quando a estética é experienciada de maneira alienada, o que acontece cada 
vez mais, há uma alteração da consciência de si, por meio da repetição automática de 
padrões, prejudicando a construção de significado para si e para o mundo que é inerente 
a condição humana (Ibid). 
A importância da construção desse ideal de beleza é especialmente importante no 
caso das meninas. Martins (2006) explicita que no caso de meninas negras, a 
complexidade das questões emocionais relacionadas à representação de si estão ligadas 
a uma identidade que relaciona questões de raça e de gênero. Isso se deve a influência 
da ideologiamachista e patriarcal ainda presente em nossa sociedade. A cobrança social 
em torno da beleza e da magreza ocorre, sobretudo a partir da adolescência, mas esse 
controle tem inicio já na infância. Podemos encontrar elementos desse controle nas 
histórias que são contadas as crianças (desenhos animados e filmes), assim como em 
seus brinquedos, roupas e acessórios. 
Estética Feminina 
Os dados da pesquisa deixaram clara a importância da beleza e da representação dos 
contos infantis, assim como a associação entre esses dois elementos. Com relação à 
24 
 
escolha dos personagens, houve uma variação no que se refere aos personagens do 
príncipe e da tia má. Em relação à princesa, a grande maioria escolheu princesas 
brancas, variando somente a cor do cabelo. O único caso em que a princesa negra de cor 
preta foi escolhida, foi no caso de uma criança que pertencia a uma família com 
características auto-afirmativas. No caso em que a criança escolheu uma princesa negra, 
de cor parda (morena) ela afirmou ter associado o nome da princesa Violeta com uma 
cor correspondente e, portanto mais escura. 
Quando as crianças eram questionadas sobre quem poderia ser na história a figura 
que seria da princesa negra (cor preta) houve grande variação nas respostas, tendo desde 
associações positivas como amiga e mãe da princesa, como também negativas como a 
filha da tia má (que também se tratava de um personagem perverso). O quadro a seguir 
apresenta a disposição dos dados referentes à escolha dos personagens. 
Criança Princesa Príncipe Tia Negra 
Criança 
1 
Parda Clara, 
cabelos lisos 
Pardo Escuro, 
cabelos cacheados 
Branca e 
Cabelos pretos 
Filha da Tia 
má 
Criança 
2 
Negra (cor 
preta), Cabelos 
cacheados 
Negro (cor preta), 
Cabelos cacheados 
Negra (cor 
preta), Cabelos 
cacheados 
Rainha 
Criança 
3 
Branca e loira Branco e loiro Branca e 
Cabelos pretos 
Rainha 
Criança 
4 
Branca e loira Branco e loiro Parda Clara, 
cabelos lisos 
Amiga da 
Violeta 
Criança 
5 
Branca e Ruiva. Branco e loiro Parda Clara, 
cabelos lisos 
Amiga da 
princesa 
Criança 
6 
Branca e loira. Pardo Claro, cabelos 
lisos 
Parda Escura, 
cabelos 
cacheados 
Filha da Tia 
má 
Criança 
7 
Branca e loira. Pardo Claro, cabelos 
lisos 
Branca e loira Fada 
Criança 
8 
Branca e 
Cabelos pretos 
Branco e Cabelos 
pretos 
Branca e loira Rainha 
Criança 
9 
Branca e 
Cabelos pretos 
Negro (cor preta), 
Cabelos cacheados 
Branca e Ruiva Melhor amiga 
da Princesa 
Quadro 1: Escolha dos personagens da história infantil. 
 
 Os dados desse quadro chamam a atenção, sobretudo pela representação da 
princesa para essas crianças. Espera-se que a criança se identifique com a princesa tendo 
em vista que ela é a heroína da história que desfruta do prestígio social e do amor das 
pessoas importantes na história (BETELHEIM, 1992). Além disso, o final das histórias 
25 
 
infantis reserva a princesa sempre à felicidade enquanto que a vilã será condenada ao 
sofrimento. O problema se encontra na associação de todos esses elementos positivos 
como beleza, bondade, nobreza a um único padrão fenotípico (ARBOLEYA, 2008a). 
Quando a criança negra procura se identificar com essa princesa retratada como 
branca, loira, magra, de olhos azuis ocorre um estranhamento e uma desvalorização de 
seus traços negros. Essa desvalorização é externa quando percebemos uma valorização 
dos padrões estéticos eurocêntricos na maioria dos produtos direcionados a população 
infantil, mas pode se tornar interna na medida em que a criança internaliza essa 
desvalorização afetando assim a construção de sua identidade e de sua auto-estima. A 
criança, nesse processo de aproximação da princesa e distanciamento da megera, buscar 
se aproximar desse padrão estético e nega suas características fenotípicas negras. Com 
relação a identidade, Gaulejac coloca que: 
O sentimento de identidade tem dois aspectos: um pessoal, que é a expressão 
da individualidade, o sentimento de ser ator da própria vida, de ser sujeito da 
própria história, de poder afirmar a própria existência, de poder dizer eu; um 
social, que inscreve o sujeito em um grupo, numa cultura, numa nação, num 
povo, pelo reconhecimento de que se faz parte desse grupo, pelos respeito a 
seus direitos, tradições, crenças e cidadania (GAULEJAC, 2006, p. 108). 
Na pesquisa em diversos momentos esses elementos ficaram evidentes. Em 
relação a sua aparência no futuro alguns dos trechos significativos das falas das crianças 
entrevistadas são: 
Eu gostaria botar uma lente verde ou azul, passar chapinha, usar aqueles lápis, 
não (ser) muito alta, sair com unha pintada (Criança 6). 
Eu sonho muito com isso. Eu sonho eu de cabelo bem escuro, liso, grande [...] 
(Criança 9). 
Queria ficar igual nas novelas que minha mãe assiste só tem uma que eu não 
gosto, ela é piriguete [...] (Criança 1). 
O conteúdo das entrevistas deixa claro uma forte associação entre beleza e o 
padrão eurocêntrico. Com relação à subjetividade, Martins (2006) destaca que o 
preconceito racial pode levar a pessoa a não se aceitar como conseqüência da auto-
imagem negativa que o sujeito passou a internalizar, processo esse que causa sérios 
danos ao psiquismo. Para Gaulejac (2006, p. 60) “a internalização se produz quando o 
sujeito se vê na incapacidade de exprimir sua agressividade diante da violência que o 
fazem”. Sendo assim, problemas relativos ao amor-próprio são conseqüência da não 
externalização da revolta resultante da humilhação, pois quando não se pode ferir o 
atacante a pulsão agressiva volta-se contra o próprio sujeito (Ibid). 
26 
 
O ponto mais comum às entrevistadas no que se refere à estética foi a persistente 
associação de cabelos lisos como os cabelos belos e desejáveis. As falas das crianças 
entrevistadas demonstraram uma clara rejeição aos cabelos crespos e até mesmo aos 
cacheados, alguns exemplos são: 
Eu acho bonito o cabelo esticado, queria ter o cabelo esticado e olhos azuis [...] 
(Criança 6). 
Cabelo, grande e liso, mas na mesma cor preto (Criança 4). 
[...] queria o cabelo todo liso, igual o japonês fica com o cabelo tudo liso, que 
cê molha e quando seca fica tudo liso, é. Só (Criança 7). 
Precisava? Mais bonita como... Deixa eu ver, deixa eu ver...Todos os produtos 
de cabelo, pra ter o cabelinho mais macio, cabelos macios, também anda 
arrumada é só isso [...] (Criança 1). 
 Na questão que perguntava se a criança se achava linda, embora a maioria das 
crianças tenha respondido que sim, protegendo seu ego, uma criança respondeu que não 
(criança 6). Nessa criança especificamente foi perceptível ao longo da entrevista uma 
baixa auto-estima. Além dela outra criança respondeu mais ou menos (criança 5), e 
outra respondeu “Sim, mas têm os outros que acha feia” (Criança 8). 
 Apesar das outras 6 crianças terem dado respostas positivas a essa pergunta, nas 
outras perguntas elegeram elementos que as deixariam mais bonitas ou características 
que gostariam que fossem diferentes, demonstrando assim uma insatisfação com sua 
aparência. Sobre esse aspecto, Miskolci coloca que um corpo inadequado, “não apenas 
marca a maior parte da população como gorda, feia ou disforme, segundo os padrões 
modelares de uma elite, mas também gera subjetividades autodestrutivas em sua busca 
de adequação a qualquer custo” (2006, p. 685). Com relação ao sofrimento envolvido 
nesse processo de não aceitação, Martins coloca: 
E, sempre com profunda mágoa e tristeza, relatavam a não aceitação, o desejo 
de querer ser ou parecer brancas, muitas vezes com a mutilaçãode seus 
próprios corpos, como tomar vários banhos por dia, lavar-se com água 
sanitária, para livrar-se da cor que tanto sofrimento lhes traz (MARTINS, 2006, 
p. 36). 
 Nas falas das crianças também ficou perceptível a importância da magreza no 
ideal de beleza. Este é um elemento de grande preocupação para grande parte das 
mulheres ao longo dos anos, levando algumas inclusive a desenvolverem 
psicopatologias como bulimia nervosa e anorexia. Falas valorizando estatura alta 
também foram encontradas. Abaixo, apresenta-se algumas das falas que demonstraram a 
relação entre beleza e magreza: 
27 
 
Eu sonho uma pessoa normal que gosta muito de ajudar e o físico dela é..., com 
os olhos da cor que eu tenho, moreninha, alta e magrinha (Criança 9). 
[...] Ter o corpo bonito, e ter cintura que eu não tenho muito [...] (Criança 6). 
 O consumismo é incentivo nos sujeitos desde a infância, mais especialmente no 
público feminino. A partir das falas das crianças também se pode inferir que há uma 
associação entre o consumismo ou poder de compra e a beleza, assim como um desejo 
dessas crianças em consumir. Algumas das falas que exemplificam essa afirmação são: 
Gostaria de pintar o cabelo, comprar sapato queria comprar é vestido um monte 
de coisa [...] (Criança 3). 
Deixa eu ver, deixa eu ver...Todos os produtos de cabelo, pra ter o cabelinho 
mais macio [...] (Criança 2). 
[...] ia comprar sapato que eu não tenho, ia comprar tudo que eu achava no 
meio, maquiagem, cabelo todo liso [...] (Criança 8). 
Estética Masculina 
 Embora o quadro 1 apresente grande variação no que se refere a representação 
do príncipe da história, na entrevistas a questão que se referia a aparência do príncipe 
ideal para as entrevistadas apareceram falas do como: 
[...] gosto de olhos azuis e verdes, acho bonito loiro que nem o Justin Bieber, 
cabelo curto por que grande fica parecendo de mulher [...] (Criança 6). 
Não sei, ele? É não sei... bonito, olhos azuis ou verdes, cabelo pequeno é a cor 
é castanho e liso [..] (Criança 3). 
[...] Branco. Cabelo liso. Olho Azul (Criança 2). 
Os sentimentos de inferioridade facilitados por experiências discriminatórias se 
encaixam quase que perfeitamente com a fantasia do príncipe ideal, tal qual os 
representados nas histórias infantis e descrito nas falas acima. Em suas argumentações 
Martins (2006) apresenta uma reflexão que articula o sentimento de inferioridade da 
mulher negra com o sonho do príncipe europeu, através do arquétipo da Cinderela. 
Segundo esse arquétipo a mulher tenta tornar-se menos negra renegando seus traços 
para que assim possa ser reconhecida por seu príncipe encantado como alguém do grupo 
dele sendo salva, portanto das opressões da sociedade racista (Ibid). 
Na pesquisa de mestrado realizada pela mesma autora, as crianças que 
participavam da pesquisa nas falas também externalizaram a preferência pelo loiro de 
olhos claros, mas nos desenhos a maioria desenhou o príncipe com cabelos pretos ou 
28 
 
castanho ainda branco, na maioria das vezes de olhos claros (Ibid). Ainda sobre a 
questão do príncipe ideal e demais personagens, Arboleya coloca que: 
A produção clássica da literatura infantil mundial, por exemplo, nos oferta 
dezenas de situações onde se sobressaem idealizações de tipos físicos, 
psicológicos e culturais que dimensionam um príncipe ideal, imberbe, branco 
ocidental, uma princesa, um vilão e seus coadjuvantes. Tais personagens 
povoam o imaginário infantil e constituem por excelência, o referencial de 
beleza e destreza de muitas histórias infantis (ARBOLEYA, 2008a, p. 6). 
A beleza pode ser considerada uma das possíveis faces do sucesso e nesse 
sentido se configurar em objeto de desejo dos sujeitos sociais. Todas as falas referentes 
à questão estética tanto na subcategoria feminina quanto masculina servem para 
exemplificar a influência do branqueamento em crianças negras em sua clara associação 
com a busca do sucesso social. Para Martins (2006) a preferência dos negros em serem 
chamados de morenos demonstra a dificuldade em se auto-afirmarem e a utilização do 
branqueamento como possibilidade de maior respaldo social não só se adequando ao 
padrão de beleza, mas também incorporando os mesmos valores. A pesquisa pode 
destacar que esta tendência de adesão ao branqueamento está presente desde a infância e 
se trata não só de um desejo de pertencimento e reconhecimento social, mas também de 
uma estratégia defensiva frente a contextos de discriminação. 
O social 
 O outro me faz existir, ao fazê-lo me leva a ser aquilo que sou para ele (Sartre, 195213). 
Na constituição de nossa subjetividade, grande importância tem o olhar do outro 
sobre nós. O reconhecimento social é importante na construção do nosso eu e na 
construção de nossas referências. Com relação à importância do olhar do outro, Pompeu 
destaca: 
O olhar é a principal possibilidade de conhecimento do outro e uma das 
principais vias de acesso ao encontro estético se interesses e atrações forem 
comuns. Mas, quando limitado pelos padrões, transforma-se em instrumento de 
inspeção, julgamento e condenação (POMPEU, 1999, p. 3 - 4). 
 Ainda sobre o olhar do outro, Gaulejac (2006) destaca que a revelação da 
angústia e vergonha de não ser como convém fica exposta no confronto entre o olhar 
social e o olhar íntimo. Assim, “a identidade é ferida por fora pela humilhação e por 
 
13
 SARTRE, J. P. (1952). Saint genet Comédien et Martyr. Paris, Gallimard, 1988. 
29 
 
dentro pelas conseqüências subjetivas desta violência” (GAULEJAC, 2006, p. 107-
108). 
Para as crianças um dos ambientes de maior confronto com a diversidade é em 
um primeiro momento a família, mas principalmente a escola, em um momento 
posterior. O ambiente escolar oferece a possibilidade de trabalhar com as crianças as 
diferenças e combater as desigualdades raciais, todavia projetos pedagógicos que 
incorporem essa discussão não é a regra. A escola pode ao contrário disso proporcionar 
vivências de discriminação e facilitar a internalizarão de padrões eurocêntricos. Os 
dados da pesquisa apontam para vivências de desvalorização de características 
fenotípicas negras. Na questão referente a vivências de desvalorização e discriminação 
algumas das respostas foram: 
Como assim? Comentando... é sobre o cabelo, já, que ele é muito alto, podia 
ser menino da minha sala [...] (Criança 1). 
Sobre o meu cabelo, por que meu cabelo antes era mais alto assim, ai quando 
eu fui acho que eu tinha 7 anos, quando eu fui ficaram falando: o cabelo de 
leão, por causa meu cabelo era assim mesmo, tinha só um pouco ruim mas 
depois eu aprendi a conviver com isso. É hoje em dia não me chamam de 
cabelo de leão, por que meu cabelo abaixou mais, mas antes era assim bem 
alto[...] (Criança 5). 
 [...] Cabelo, que cabelo assustador, bom eu fico quieta, se eu não ficar quieta 
eles fala mais [...] (Criança 7). 
[...]eu conheço uma menina que ela parece não muito assim comigo, mas ela, já 
fizeram isso com ela, falaram que ela era muito morena, e ela não tinha quase 
nenhum amigo por causa disso, falaram que era gordinha e não sei o que... não 
e todo mundo na sala era com a pele mais clara né, só tinha eu e ela ai a gente 
virou grandes amigas e eu fiz os outros aprenderem a conviver né.... e porque 
ela era gordinha, pequenininha, moreninha, então eles implicavam muito com 
ela (Criança 9). 
Comentando... é sobre o cabelo, já, que ele é muito alto [...] (Criança 2). 
Os momentos da pesquisa em que as respostas das crianças demonstraram uma 
resistência a esse padrão eurocêntrico eram correspondentes as falas de crianças 
origináriasde famílias com características auto-afirmativas. Este fato demonstra a 
importância da família e demais instâncias sociais proporcionarem à criança contextos e 
aprendizados de auto-afirmação e auto-valorização, contrapondo a inferiorização do 
negro divulgada na escola, na literatura e principalmente na mídia. 
As falas apresentadas corroboram com a idéia de que a democracia racial, tese 
segundo a qual no Brasil inexiste racismo devido seu alto grau de miscigenação, não 
passa realmente de um mito. Cabe ressaltar que diversos autores (CARVALHO, 2005; 
30 
 
MENEZES, 2002; VALVERDE; STOCCO, 2009) já vinham explicitando a ocorrência 
do racismo no ambiente escolar, tanto no nível institucional quanto no âmbito 
relacional. 
O mito da democracia racial é especialmente prejudicial aos direitos humanos 
por deslegitimar práticas anti-racistas, tendo em vista que só pode ser enfrentado um 
problema considerado existente e importante. É a negação do racismo através do mito 
da democracia racial que possibilita sua perpetuação e a desigualdade racial. Quando 
taxado de inexistente, o racismo passa a ser invisível, caracteriza-se pelo silêncio, se 
configurando em um não-dito. Esta constatação é especialmente importante porque 
segundo Gaulejac (2006), o que leva a internalização da vergonha não é 
necessariamente a violência das humilhações em si mesmas, mas principalmente o 
silêncio que a acompanha, afinal, não se deve falar disso, e a ausência de compreensão 
dos envolvidos. 
A falta de liberdade da corporalidade das crianças negras pode ser extremamente 
prejudicial para sua auto-imagem. Segundo Pompeu (1999, p. 2), “ao não se expressar, 
nega-se a diversidade humana, transformando-se a diferença em feio, enquanto 
inferioridade e vergonha”. Assim as crianças podem passar a se comportar de acordo 
com o que a sociedade determina para se proteger da violência uma vez que elas não 
têm liberdade para exercer sua corporalidade. Para Miskolci “as técnicas de disciplina 
corporal são assujeitadoras porque criam não apenas corpos padronizados, mas também 
subjetividades controladas” (2006, p. 682). Um claro exemplo disso e a fala que se 
segue: 
 [...] por que no meu colégio, se eu for com ele solto, ele vai fica alto, vai ficar 
feio, aí pode falar mal né. E eu não queria isso. Aí eu uso geralmente cabelo 
preso, acho que eu já fui uma vez de cabelo solto. (Criança 6) 
A importância de desconstruções desse assujeitamento se encontra dentre outros 
motivos na constatação de que “a construção da identidade de resistência dos negros 
significa, antes de tudo, a superação dos preconceitos raciais introjetados” (MARTINS, 
2006, p. 35). 
Em “As origens da vergonha”, Gaulejac (2006) afirma que na origem da 
vergonha inevitavelmente encontra-se uma violência que pode ser física ou simbólica, 
mas que sempre é uma violência das relações familiares e psicológica. Para este autor “a 
31 
 
violência social que humilha responde em eco uma violência psíquica que dilacera e 
inibe” (Ibid, p. 55). 
Considerações Finais 
O fundamento principal deste trabalho é o entendimento da importância das 
relações sociais e da esfera social como um todo para a construção da subjetividade dos 
indivíduos. Nesse sentido escolheu-se o racismo enquanto fenômeno social para se 
analisar, tendo como sujeitos de pesquisa meninas negras com base em sua etapa vital e 
seu gênero. 
 A construção teórica deste trabalho requereu primeiramente uma reflexão sobre 
a importância do reconhecimento do racismo como um fenômeno da sociedade 
brasileira, refutando assim o mito da democracia racial. Além disso, coube uma reflexão 
sobre as novas formas de expressão do racismo, que, no Brasil, tem se dado de maneira 
sutil e indireta. Todas essas reflexões são necessárias, pois além de uma decisão teórica 
baseada na defesa dos direitos humanos, corresponde também a uma tentativa de 
chamar a atenção para um problema muitas vezes negligenciado e/ou mistificado. 
 Durante a infância, diferentes fatores influenciam a construção da identidade e 
da subjetividade dos sujeitos. Nesta pesquisa, o recorte foi sobre os contos infantis, 
sobretudo no que se refere ao referencial estético, levando em consideração a 
importância desse referencial na atualidade e o forte apelo, sobretudo ao gênero 
feminino. 
 O objetivo do experimento realizado foi verificar se o referencial de beleza 
apresentado pelos contos infantis, sobretudo os que apresentam uma princesa na 
história, influenciam o conceito de beleza e o ideal estético de meninas negras. 
Encontramos indícios que constatam essa influência. Esse resultado é importante para 
pensar a responsabilidade social em torno de práticas que, em última instância, podem 
ser consideradas discriminatórias por meio da negação da diversidade e do desrespeito a 
corporalidade de sujeitos negros. 
 A eleição de um padrão de beleza excludente tem sido observada em diversas 
práticas que limitam as possibilidades de liberdade de corporalidade de mulheres 
negras. Esse é um aspecto presente desde a infância e que chega as vias da 
discriminação propriamente dita de maneira direta ou indireta, por meio de mecanismos 
32 
 
como apelidos, zombações, depreciações e etc. O padrão estético eurocêntrico pode 
influenciar de maneira negativa a construção da auto-imagem, da auto-estima e a 
potencial auto-afirmação de meninas negras. 
A auto-estima e a auto-imagem são aspectos importantes no desenvolvimento 
pessoal e profissional dos sujeitos sociais, pois tem relação com a forma das pessoas se 
vêem e se percebem no mundo através da relação de alteridade na qual, o olhar do outro 
é importante. Os resultados da pesquisa em questão indicam que a auto-estima e a auto-
imagem são afetadas pela ideologia do racismo como um todo e por vivências de 
discriminação. Sendo assim, entende-se que a construção da subjetividade, sobretudo no 
que tange as representações sociais e a construção da identidade é influenciada pelas 
desigualdades sociais. 
 Cabe ressaltar que esta pesquisa não tem o objetivo de fazer uma análise 
determinista, no sentido de caracterizar todas as meninas negras como crianças com 
baixa auto-estima e como sujeitos com possibilidades de vida e auto-afirmação 
limitadas pela discriminação racial. Entende-se que os sujeitos não são passivos aos 
processos sociais e em sua interação com os mesmos podem inclusive assumir uma 
postura de empoderamento e protagonismo na transformação social. Todavia uma 
análise do potencial negativo do racismo é pertinente para pensar, na perspectiva dos 
direitos humanos, os impactos subjetivos aos quais as crianças negras estão 
injustamente sujeitas ao longo de suas vidas. 
Os resultados da pesquisa em questão confirmam a hipótese de que o racismo 
tem um impacto na subjetividade das meninas (crianças) negras, sobretudo nos seus 
padrões estéticos. As falas das participantes, reveladoras e até impactantes em alguns 
momentos, servem para pensar de que maneira vem sendo construídas a auto-imagem e 
a auto-estima dessas crianças. Além disso, permite-se perceber além da assimilação de 
um padrão estético eurocêntrico, um sofrimento inerente a esse processo e a vivência 
dessa problemática, sobretudo no âmbito escolar. 
Sabe-se que a auto-estima assim como a auto-imagem e a identidade continuam 
sendo construídas ao longo da vida e, portanto, essas crianças podem construir 
representações positivas dos traços fenotípicos negros a partir de suas experiências e 
interações. Ainda assim, cabe a sociedade proporcionar esse contexto de valorização da 
33 
 
diversidade e não deixar que a criança sozinha deva ser resiliente a está situação de 
inferioridadeestética a qual está muitas vezes sujeita. 
O debate em torno do racismo fica muitas vezes centrado nas questões objetivas 
do fenômeno, mas pensar os prejuízos subjetivos dessa violência auxilia na 
compreensão dos aspectos não-ditos e, portanto, invisíveis. O sofrimento inerente às 
vivências de discriminações raciais diretas ou indiretas são muitas vezes invisibilizadas. 
Por vezes nem o negro que luta por uma aparência mais branca sabe dos processos 
psíquicos e sociais implicados em suas escolhas. Para eles o sofrimento inerente a 
vivencia de práticas discriminatórias não tem nome, ele não sabe de onde vem ou o que 
é. 
 A pertinência do tema bem como os resultados da pesquisa, em um nível macro, 
pode proporcionar reflexões no sentido das políticas de ações afirmativas, sobre o 
controle social sobre os corpos, sobre a atuação da Psicologia em relação às relações 
raciais, sobre os aspectos subjetivos implicadas nas relações raciais, sobre a importância 
de defender os direitos das crianças (independente da cor) e sobre a importância da 
atuação política frente a essa problemática. Enfim, as possibilidades são múltiplas e 
certamente este trabalho não responde perguntas ou encerra verdades, pois se configura 
em um esforço de análise sobre um fenômeno complexo e multideterminado que se 
encontra em interação com outras questões sociais tais como desigualdade social e de 
gênero. A partir do trabalho pode-se inferir a necessidade de maior aprofundamento 
teórico e metodológico sobre o tema. Mais produções acadêmicas e científicas 
ajudariam a desvelar melhor esse fenômeno e propor sugestões de intervenções sociais. 
 Embora tenha alcançado os seus objetivos, os instrumentos e métodos da 
pesquisa poderiam ser melhorados com vistas a um melhor aproveitamento dos sujeitos. 
Aspectos como a padronização dos desenhos, a maneira de apresentar a história aos 
sujeitos (MP4) e a presença de familiares durante a entrevista seriam repensados no 
caso de replicação da pesquisa. Embora as opções metodológicas possam em algum 
ponto ter limitado as possibilidades de exploração e aproveitamento não retiram o 
mérito dos resultados alcançados, mas servem para reflexões sobre as opções 
metodológicas a serem adotadas. 
 Por fim, fica a importância da estética não como uma camisa de força, mas como 
uma experiência existencial que pode abarcar a diversidade humana, sendo motivo de 
34 
 
valorização e reconhecimento e não de vivências de inferioridade. A construção de um 
novo imaginário coletivo em relação à estética é possível e um dos principais caminhos 
é o trabalho junto ao imaginário infantil, sem reprodução de padrões. 
 A literatura é uma arte e enquanto tal deve sempre estar a serviço do crescimento 
e desenvolvimento da humanidade. Um mundo mais justo exige que crianças negras 
possam interpretar princesas e se ver como uma, que seus cabelos crespos ou cacheados 
também sejam bonitos e principalmente que elas se reconheçam e se valorizem como 
negras e bonitas. Para tanto, dentre muitas coisas, espera-se “que a arte nos aponte uma 
resposta, mesmo que ela não saiba. E que ninguém a tente complicar porque é preciso 
simplicidade para fazê-la florescer” (Osvaldo Montenegro, Metade). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
35 
 
Referencias Bibliográficas 
ACEVEDO, Claudia Rosa; NOHARA, Jouliana Jordan Interpretações sobre os retratos 
dos afro-descendentes na mídia de massa. Rev. adm. contemp., vol.12, nº.spe, p.119-
146, 2010. 
ARAÚJO, Joel Zito. O negro na dramaturgia, um caso exemplar da decadência do mito 
da democracia racial brasileira. Rev. Estud. Fem., vol.16, nº.3, p.979-985, Dez. 2008 
ARBOLEYA, Valdinei José. O negro na literatura infantil: apontamentos para uma 
interpretação da construção adjetiva e da representação imagética de personagens 
negros. Rev. África e Africanidades, Ano I, n. 3, Nov. 2008a. 
______. Papéis e representações socioculturais na literatura infantil - imagem, adjetivo 
e dimensão estética do personagem negro em obras infantis. In: VIII Seminário 
Nacional de Literatura, História e Memória: Literatura e Cultura na América 
Latina. Cascavel - PR, 2008b. 
BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2009. 
BRASIL. CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE. Resolução 196/96. Brasília. 1996. 
BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. 3.ed. Rio de Janeiro: 
Editora Paz e Terra, 1980. 
CARVALHO, Marília. Quem é negro, quem é branco: desempenho escolar e 
classificação racial de alunos. Rev. Bras. Educ., nº. 28, p.77-95, Abr. 2005 
DAHIA, Sandra Leal de Melo. A mediação do riso na expressão e consolidação racismo 
no Brasil. Soc. estado, vol.23, no.3, p.697-720, Dez 2008. 
DOISE, W. Social representations, inter-group experiments and levels of analysis. In: 
R. Farr & S. Moscovici (dir.). Social representations. (p. 255-266). Cambridge/UK: 
Cambridge University Press – Paris/França: MSH, 1984. 
FRANÇA, D. X. e MONTEIRO, M. B. A expressão das formas indirectas de racismo 
na infância. Análise Psicológica. Vol. 4 n° 22, p.705-720, 2004. 
36 
 
GOLDENBERG, Mirian. Gênero e corpo na cultura brasileira. Psicol. clin. [online], 
vol.17, n.2, p. 65-80, 2005. 
GAULEJAC, Vincent de. As Origens da Vergonha; tradução de Maria Beatriz de 
Medina. São Paulo, SP: Via Lettera, 2006. 
GUIMARÃES, Antonio Sérgio Alfredo. Combatendo o racismo: Brasil, África do Sul e 
Estados Unidos. Rev. bras. Ci. Soc., vol.14, n.39, p.103-115. Fev. 1999 
LIMA, Marcus Eugênio Oliveira and VALA, Jorge. As novas formas de expressão do 
preconceito e do racismo. Estud. psicol. (Natal), vol.9, nº.3, p.401-411, Dez 2004a. 
______. Sucesso social, branqueamento e racismo. Psic.: Teor. e Pesq., vol.20, nº.1, 
p.11-19, Abr 2004b. 
MARTINS, Roseli Figueiredo Martins. A identidade de meninas negras: o mundo de 
faz de contas, 2006. 165 f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade 
Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, São Paulo, 2006. 
MENEZES, W. O Preconceito Racial e suas Repercussões na Instituição Escolar. 
Fundação Joaquim Nabuco, n. 147, p. 1-21, Ago. 2002. 
MISKOLCI, R. Corpos elétricos: do assujeitamento do sujeito à estética da existência. 
Estudos Feministas, Florianópolis, v. 14, n.3, p. 681-693, 2006. 
OLIVEIRA, M. L. P; MENEGHEL, S. N; BERNARDES, J. S. Modos de subjetivação 
de mulheres negras: efeitos da discriminação racial. Psicol. Soc. [online] vol.21, n.2, p. 
266-274, 2009. 
POLANGANA, I. P. Desenvolvimento e aprendizagem em Piaget e Vigotski: a 
relevância do social. 3 ed. São Paulo: Summus, 2001. 
POMPEU, T. G. Corpo Humano e a Alienação Estética no Nosso Tempo. Cadernos de 
Psicologia (PUC-MG), v. 6, p. 82-90, 1999. 
VALVERDE, Danielle Oliveira; STOCCO, Lauro. Notas para a interpretação das 
desigualdades raciais na educação. Rev. Estud. Fem. [online]. vol.17, n.3, p. 909-920, 
2009. 
37 
 
VILHENA, Junia de. A violência da cor: sobre o racismo, alteridade e intolerância. 
Rev. Psicol. Polít., vol. 6, nº12, p. 1-25, jul.-dez. 2006.

Outros materiais