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ADMINISTRAÇÃO DE CAPITAL DE GIRO B277 Barros, Samuel de Jesus Monteiro de Administração do Capital de Giro / Samuel de Jesus Monteiro de. – Rio de Janeiro: Grupo Ibmec Educacional, 2016. 110 p.; 20x26 cm Inclui bibliografia 1. Administração do Capital de Giro 2. Diagnóstico Financeiro de curto Prazo 3. Projeção de curto prazo e gestão de tesouraria 4. Políticas operacionais de curto prazo I. Barros, Samuel de Jesus Monteiro de II. Ibmec Online III. Título. CDD 658.15244 SUMÁRIO Mensagem do professor ......................................................................................................5 Introdução .............................................................................................................................6 Objetivos ...............................................................................................................................7 MÓDULO 1: INTRODUÇÃO À ADMINISTRAÇÃO DO CAPITAL DE GIRO .....................................8 Unidade 1: Principais decisões de finanças .....................................................................11 Unidade 2: Demonstrativos financeiros elementares ....................................................14 Unidade 3: Origem do capital de giro ...............................................................................25 Unidade 4: Boa gestão de capital de giro .........................................................................26 RESUMO ................................................................................................................................28 MÓDULO 2: DIAGNÓSTICO FINANCEIRO DE CURTO PRAZO ....................................................29 Unidade 1: Análise elementar dos demonstrativos financeiros, dos índices de rentabi- lidade e do endividamento .................................................................................................32 Unidade 2: Capital de giro líquido .....................................................................................38 Unidade 3: Situação financeira: índices de liquidez, prazos e ciclos ............................43 Unidade 4: Necessidade de capital de giro ......................................................................52 Unidade 5: Saldo de tesouraria e efeito tesoura ............................................................55 RESUMO ................................................................................................................................59 MÓDULO 3: PROJEÇÃO DE CURTO PRAZO E GESTÃO DE TESOURARIA ..................................61 Unidade 1: Elaboração do orçamento de caixa ...............................................................64 Unidade 2: Efeito da sazonalidade no investimento em capital de giro .....................72 Unidade 3: Síndromes do capital de giro .........................................................................74 Unidade 4: Gestão de tesouraria ......................................................................................76 RESUMO ................................................................................................................................81 MÓDULO 4: POLÍTICAS OPERACIONAIS DE CURTO PRAZO ......................................................8 3 Unidade 1: Estratégias operacionais de curto prazo ......................................................8 6 Unidade 2: Políticas de crédito, de estoque e atividades de compras .........................8 7 Unidade 3: Estratégias integradas de curto prazo ........................................................ 1 0 5 RESUMO .............................................................................................................................. 1 0 9 REFERÊNCIAS ................................................................................................................................ 1 1 0 MENSAGEM DO PROFESSOR Caro(a) aluno(a), Durante a sua história profissional, você já deve ter percebido que a maior parte das angús- tias existentes na relação com o dinheiro está na ligação com o curto prazo. Isso pode ser observado em contextos pessoais (finanças pessoais) ou em contextos empresariais, salva- guardando sempre as devidas proporções. Dessa forma, é inegável a importância da compreensão da administração de capital de giro para a boa gestão financeira. Podemos ter ainda mais certeza dessa relevância ao observar que, segundo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), a maior parte das pequenas empresas que quebram nos primeiros anos de vida apresenta proble- mas sérios na gestão do capital de giro. Assim, entender as formas com que o gestor e suas equipes podem equilibrar as necessidades de liquidez com a rentabilidade é condição bási- ca para o sucesso nos negócios. Acreditamos que este curso será capaz de apresentar o ferramental necessário para toma- das de decisão na área da administração financeira de curto prazo, assim como lhe permiti- rá compreender os modos como o capital de giro se comporta em diversas situações. Entendemos que isso lhe trará clareza sobre pontos da gestão financeira, que, por vezes, assustam ou não recebem a devida atenção de muitos empresários. Assim, suas análises, suas projeções e seu raciocínio serão conduzidos para uma visão mais límpida e clara de como as estratégias financeiras de curto prazo poderão gerar impacto positivo na empresa. Sua vontade e coragem são essenciais para o sucesso nesta etapa do aprendizado. Boa sorte e divirta-se com o assunto! Bons estudos! Equipe Ibmec Online Alexandre Realce INTRODUÇÃO Não há como se pensar em gestão financeira sem pensar em capital de giro. Isso ocorre porque a gestão de curto prazo é a que, na maioria das corporações, mais toma o tempo dos gestores, principalmente quando o assunto se passa nas cadeias financeiras. A relevância do assunto vai muito além da área financeira, transpassando por elementos que competem ao setor comercial, à área de suprimentos, ao setor de produção e planeja- mento, entre outros. Em resumo, quando se fala de capital de giro, entende-se que a visão estratégica do assunto é essencial para evolução positiva dos negócios. Tal certeza vem da forma como as contas financeiras se comportam, gerando, assim, maiores potencialidades (ou perigos) às opera- ções, de acordo com as decisões estratégicas tomadas e as percepções dos gestores. Pensando assim, a disciplina Administração do Capital de Giro tem como objetivo primário apresentar os principais conceitos e aplicações das teorias de capital de giro, assim como desenvolver a capacidade de projetar orçamentos de caixa, permitindo que sejam enten- didos os impactos relacionados com as principais contas circulantes existentes: contas a pagar, contas a receber, estoques e seus respectivos prazos. Com isso, será possível o apro- fundamento de um raciocínio holístico que se fará presente ao traçar estratégias financeiras de curto prazo e transformá-las em algo possível. OBJETIVOS Após concluir o estudo da disciplina Administração de Capital de Giro, você será capaz de: ■ Entender os conceitos gerais de capital de giro. ■ Compreender as relações entre os prazos das contas cíclicas e os resultados ope- racionais. ■ Resolver questões referentes à administração financeira de curto prazo. ■ Projetar orçamento de caixa com base na estrutura de prazos e ciclos. ■ Apresentar pensamento holístico sobre as estratégias financeiras de curto prazo. INTRODUÇÃO À ADMINISTRAÇÃO DO CAPITAL DE GIRO Módulo 1 INTRODUÇÃO DO MÓDULO Neste primeiro módulo, será apresentada a origem do termo “capital de giro” e as suas primei- ras aplicações, assim como serão mostradas as principais decisões de finanças, que, por sua vez, servirão de base parao prosseguimento do assunto. Como existe uma grande interseção entre as disciplinas de capital de giro e de contabilidade financeira, os principais demonstrativos contábeis serão apresentados de forma sintética com o objetivo de alinhar o raciocínio para o tema a ser debatido. Como fechamento do módulo, serão abordadas as questões que servirão de pilares para a construção de administração de capital de giro nos próximos módulos, tais como os elemen- tos da boa gestão do capital de giro, alguns dos seus comportamentos e a função do gestor financeiro perante o desafio da gestão financeira de curto prazo. OBJETIVOS DO MÓDULO Ao completar este módulo de estudo, você estará apto a: ■ Reconhecer importantes decisões de finanças voltadas para o curto prazo. ■ Relatar a história e a origem do termo “capital de giro”. ■ Identificar os principais demonstrativos contábeis. ■ Perceber a utilidade da gestão do capital de giro como peça de uma boa administração. ESTRUTURA DO MÓDULO Para melhor compreensão das questões que envolvem o capital de giro, este módulo está dividido em: ■ Unidade 1 – Principais decisões de finanças ■ Unidade 2 – Demonstrativos financeiros elementares ■ Unidade 3 – Origem do termo “capital de giro” ■ Unidade 4 – O que é uma boa gestão do capital de giro 11 INTRODUÇÃO À ADMINISTRAÇÃO DO CAPITAL DE GIRO UNIDADE 1 PRINCIPAIS DECISÕES DE FINANÇAS Toda empresa existe para agregar valor aos acionistas e stakeholders, no entanto a percep- ção de valor depende de um conjunto significativo de fatores, que podem ser: ■ expectativa de geração de fluxo de caixa. ■ expectativa de retorno sobre o investimento. ■ tolerância a risco. ■ tempo de retorno do investimento etc. Assim, para minimizar a discrepância de compreensão, finanças tratam de valor como uma medida vinculada ao processo de geração de riqueza por meio da atividade e da operação de um negócio e/ou projeto. Dessa forma, podemos compreender que, para finanças, valor e/ou riqueza significa dinhei- ro, ou seja, a capacidade de acumular dinheiro e gerar divisas para os sócios e agentes inte- ressados na atividade empresarial. Indo para uma visão mais corporativa, é possível entendermos que as empresas empregam diversos insumos para gerar produtos, que, por sua vez, deverão produzir vendas e, por fim, um resultado (positivo = lucro ou negativo = prejuízo). Shutterstock Alexandre Realce 12 INTRODUÇÃO À ADMINISTRAÇÃO DO CAPITAL DE GIRO Os lucros gerados deverão ser superiores aos encargos de capital1 específicos da atividade para que esta tenha criado valor. Assim, é uma atividade bastante sacrificante para o gestor, principalmente se for levada em questão a competição existente entre as organizações que, normalmente, ocorre por fatias de mercado, condicionando metas de lucratividade cada vez mais desafiantes de serem atingidas. Essa criação de valor também tem se tornado relevante para os demais stakeholders, pois, segundo Assaf Neto e Silva (2012), companhias com boa reputação em qualidade de produ- tos e serviços, desenvolvimento, atração e retenção de talentos e responsabilidade socioam- biental tendem a apresentar desempenhos acima da média de mercado, garantindo sua permanência e solvência no mercado. No mundo financeiro corporativo, de forma geral, três macrodecisões serão responsáveis por gerar ou destruir valor, são elas: ■ Onde investir? – decisão de investimento. ■ Como financiar? – decisão de fonte de financiamento. ■ Como gerir o capital de curto prazo? – decisão de gestão do capital de giro. Shutterstock Visto isso, podemos perceber que cabe ao gestor financeiro observar e analisar de forma clara e precisa, por meio de ferramentas de análises de investimento como orçamento de ca- pital – para chegar a conclusões de taxa interna de retorno (TIR), valor presente líquido (VPL), 1 Encargo de capital é encontrado pela conta: investimento na empresa multiplicado pelo custo de capital adequado. Ele representa o quanto no mínimo o empresário deveria ter obtido de retorno financeiro na operação investida. Alexandre Realce 13 INTRODUÇÃO À ADMINISTRAÇÃO DO CAPITAL DE GIRO payback, entre outros critérios –, se vale investir em determinado ativo e/ou escolher entre diferentes projetos de investimento. Assim, poderá responder à questão “Onde investir?”. Quanto a “Como financiar?”, um sólido conhecimento das linhas de crédito do mercado, assim como seus custos e prazos, combinado com a preparação de uma estruturação de capital adequada, calculando os riscos e o custo da operação a ser financiada, tais como o Ke (modelo CAPM, custo de capital para o acionista), o Kd (custo do capital de terceiros) e o WACC (custo médio ponderado de capital), geram arcabouços necessários para embasar uma boa decisão capaz de gerar valor para os acionistas. Por fim, para responder a “Como gerir o capital de curto prazo?”, é necessário o trabalho junto às políticas operacionais de estoque, compras, vendas, relação de tesouraria, opera- ções de crédito e políticas de gestão de caixa. Tudo isso com o objetivo bem claro de garantir uma relação harmônica entre liquidez, rentabilidade e risco. Somente com esse equilíbrio mantido se é capaz de gerar valor em curto prazo. PARE PARA PENSAR Como o gestor financeiro pode ajudar a empresa a gerar riqueza? Observe que a área de finanças não é responsável pelo processo produtivo nem pela atividade de vendas e não responde pela entrega do produto nem pela criação de peças publicitárias capazes de atrair o cliente. Então, o setor financeiro deve focar três decisões: ■ Onde investir? – escolhendo os projetos que apresentam o melhor resultado fi- nanceiro para a empresa. ■ Como financiar? – encontrando a estrutura ótima de capital da empresa. ■ Como gerir o capital de curto prazo? – buscando incessantemente o equilíbrio entre liquidez, rentabilidade e risco. Alexandre Realce 14 INTRODUÇÃO À ADMINISTRAÇÃO DO CAPITAL DE GIRO Decisão Ferramental Objetivo desejado Onde investir? Orçamento de capital Escolher os melhores projetos Como financiar? Estrutura de capital Minimizar o custo de capital Como gerir o capital de curto prazo? Políticas operacionais Gerar relação harmo- niosa entre liquidez, rentabilidade e risco UNIDADE 2 DEMONSTRATIVOS FINANCEIROS ELEMENTARES Esta unidade tratará do assunto contabilidade financeira com objetivo de preparar o leitor a identificar as contas de curto prazo nos demonstrativos contábeis. Princípios de contabilidade A contabilidade é, por definição, uma metodologia concebida para captar, registrar, acumu- lar, resumir e interpretar os fenômenos que afetam as situações patrimoniais, financeiras e econômicas de uma empresa. Assim, a contabilidade tende a ser para o gestor um conjunto de informações (painel de controle) para embasar as decisões empresariais. O processo contábil passa necessariamente pelo fato ou evento econômico financeiro, que precisa ser registrado no momento de sua ocorrência para que seja possível a criação dos demonstrativos financeiros, com os quais, usando técnicas de análise, o gestor poderá to- mar alguma decisão. Fatos/ eventos econômico financeiros Processo contábil Demonstra- tivos financeiros Técnicas de análise Informações para tomada de decisão 15 INTRODUÇÃO À ADMINISTRAÇÃO DO CAPITAL DE GIRO Para que seja possível a organização em demonstrativos e que as análises sejam compará- veis, a contabilidade se cerca de um conjunto de regras conhecida por princípios da conta- bilidade. Tais princípios são a espinha dorsal das demonstrações contábeis. Confira a seguir alguns princípios relevantes: ■ Princípio da entidade – reconhece o patrimônio como objeto da contabilidade e afir- ma a autonomia patrimoniale a necessidade de diferenciação de um patrimônio par- ticular no universo dos patrimônios existentes. Assim, garante que o patrimônio do sócio não seja confundido com o da empresa. ■ Princípio da continuidade – pressupõe que a entidade continuará em atividade no futuro. Assim, as demonstrações são construídas como se houvesse o interesse de entrar em liquidação, sem provocar redução material na escala de atividades. ■ Princípio da oportunidade – aponta o processo de mensuração e apresentação dos componentes patrimoniais para produzir informações íntegras e tempestivas. A au- sência desse princípio provocará perda de relevância no demonstrativo. ■ Princípio do registro pelo valor original – determina que os patrimônios sejam regis- trados pelo valor original das transações, expressos em moeda nacional. ■ Princípio da competência – determina que os efeitos das transações e outros even- tos sejam reconhecidos e registrados nos períodos a que se referem, independente- mente se houve movimentação financeira (pagamento ou recebimento). Shutterstock 16 INTRODUÇÃO À ADMINISTRAÇÃO DO CAPITAL DE GIRO Demonstrativos financeiros Para melhor entendimento, denominamos de demonstrações financeiras o conjunto de de- monstrativos produzidos pela contabilidade formal. Essas demonstrações seguem as regras contábeis, atendendo, assim, um pré-requisito essencial para qualquer análise financeira: a possibilidade de comparação. Dessa forma, por definição, as demonstrações contábeis são uma representação monetá- ria estruturada da posição patrimonial e financeira em determinada data e das transações realizadas por uma entidade no período findo nessa data (NPC 27 – Abracon), tendo como objetivo fornecer informações sobre a posição patrimonial e financeira, o resultado e os flu- xos financeiros de uma empresa, projeto ou negócio. Tais informações são úteis para uma gama bastante significativa de usuários na tomada de decisão. Como características de demonstrativos contábeis se destacam: compreensibilidade, rele- vância, materialidade, confiabilidade, primazia da essência sobre a forma, prudência, inte- gralidade, comparabilidade, tempestividade e equilíbrio entre custo e benefício. Existe um conjunto bastante completo de demonstrativos financeiros. Entre os mais co- muns, destacam-se: ■ balanço patrimonial; ■ demonstrativo de resultado do exercício (DRE); ■ demonstrativo de fluxo de caixa; ■ demonstrativo de origem e aplicação de recursos; ■ demonstrativo de mutação do patrimônio líquido etc. Desses demonstrativos descritos, o balanço patrimonial e o DRE são os mais comuns e essenciais. Em um processo de análise de empresa, é sobre eles que recai a maior ênfase dos estudos. Com isso, consideraremos esses demonstrativos como elementares, constituindo- se na base para a evolução dos nossos estudos sobre capital de giro. 17 INTRODUÇÃO À ADMINISTRAÇÃO DO CAPITAL DE GIRO Shutterstock A seguir, estão apresentados o balanço patrimonial e o DRE de forma individual e mais apro- fundada. Balanço patrimonial O balanço patrimonial é a relação do conjunto de contas de origem (passivos e patrimônio líquido) e do conjunto de contas de aplicação (ativos) de recursos. Dessa forma, apresenta a posição patrimonial da empresa em determinado período, com o conjunto de bens e direi- tos e obrigações que a entidade possui. Podemos definir origem de recursos como a totalidade das entradas de dinheiro ou bens aportados pelos sócios, acionistas, fornecedores, instituições financeiras e governo. As ori- gens também podem ser oriundas das vendas de mercadorias, de produtos e de serviços. Definimos aplicação de recursos como recursos obtidos pela empresa aplicados em seus ativos, isto é, aplicados pelas contas bancárias, estoque de mercadoria ou produtos, bens e Alexandre Realce Alexandre Realce 18 INTRODUÇÃO À ADMINISTRAÇÃO DO CAPITAL DE GIRO direitos do ativo imobilizado e outros. Podem também ser consideradas aplicações os cus- tos e os gastos incorridos nas origens de recursos. Em sua demonstração gráfica, o balanço patrimonial apresenta, do seu lado direito, o con- junto de origens (passivo) e, do seu lado esquerdo, o conjunto de aplicações (ativo), como pode ser observado a seguir. Ativo Passivo Circulante ■ Caixa ■ Duplicatas a receber ■ Estoques Não circulante ■ Investimentos ■ Permanente ■ Imobilizado ■ Máquinas Circulante ■ Fornecedores ■ Empréstimos ■ Contas a pagar Não circulante ■ Exigível do longo prazo Patrimônio líquido ■ Capital social ■ Lucros acumulados O balanço patrimonial é dividido em: ■ Ativos – recursos controlados pela empresa como resultado de eventos passados e do qual se espera que benefícios econômicos futuros fluam para a organização, ou seja, o conjunto de aplicação de recursos. Os ativos são divididos em circulantes e não circulantes. ■ Ativos circulantes – conjunto de bens e direitos que a empresa possui que serão convertidos em dinheiro em até um exercício fiscal (360 dias). ■ Ativos não circulantes – conjunto de bens e direitos que a empresa possui que serão convertidos em dinheiro em período superior a um exercício fiscal (360 dias) ou que não se pretenda transformar em dinheiro por ser necessário no processo produtivo. ■ Passivos – conjunto de obrigações atuais da entidade como resultado de eventos ocor- ridos, cuja liquidação se espera que resulte na saída de recursos econômicos. Também podemos definir os passivos como o conjunto de aplicação de recursos aportados na operação. Os passivos são divididos em circulantes e não circulantes. Alexandre Realce 19 INTRODUÇÃO À ADMINISTRAÇÃO DO CAPITAL DE GIRO ■ Passivos circulantes – conjunto de obrigações que deverão ser liquidadas até a conclusão do exercício fiscal (360 dias). ■ Passivos não circulantes – conjunto de obrigações que deverão ser liquidadas em período superior à conclusão do exercício fiscal (360 dias). ■ Patrimônio líquido – conjunto de capital aportado pelos sócios na atividade da em- presa, assim como os valores apurados pelos resultados da operação que, por desti- nação, deverão ser distribuídos para os acionistas seja em forma de dividendos, seja em forma de prejuízo. Shutterstock Em resumo, o balanço patrimonial é uma fotografia da situação patrimonial da empresa na data de encerramento do exercício social, demonstrando o que a organização possui de bens e direitos, assim como obrigações exclusivamente naquela data. 20 INTRODUÇÃO À ADMINISTRAÇÃO DO CAPITAL DE GIRO Demonstrativo de resultado do exercício (DRE) De nada adiantaria entender a situação patrimonial da empresa, se não for possível perce- ber sua capacidade de geração de resultado. Para cumprir essa função existe o demonstra- tivo de resultado do exercício (DRE). Conceitualmente, o DRE é um relatório contábil que apresenta as receitas, os custos, as despesas, as perdas e os ganhos aferidos pela empresa, assim como os resultados de suas atividades, apresentando lucros ou prejuízos em determinando período. Diferentemente do balanço patrimonial, o DRE não se apresenta como uma fotografia de uma única data, e sim como o acumulado das operações da empresa durante todo o exer- cício social apurado. Esta é a estrutura básica do DRE: RECEITAS BRUTAS (FATURAMENTO) (-) DEDUÇÕES SOBRE RECEITAS (IMPOSTOS SOBRE RECEITA E DEVOLUÇÕES) (=) RECEITAS LÍQUIDAS (-) CUSTOS (DE SERVIÇOS PRESTADOS, DE MERCADORIAS, DE PRODUTOS) (=) LUCRO BRUTO (-) DESPESAS (OPERACIONAIS, COMERCIAIS, ADMINISTRATIVAS) (-/+) OUTRAS DESPESAS/RECEITAS OPERACIONAIS (=) RESULTADO OPERACIONAL (LAJIDA ou EBITDA – Earnings Before Interest, Taxes, De- preciation and Amortization) (-) DEPRECIAÇÃO (=) RESULTADO OPERACIONAL APÓS DEPRECIAÇÃO (EBIT) (+/-) RECEITAS/DESPESAS FINANCEIRAS (JUROS)(+/-) RECEITAS/DESPESAS NÃO OPERACIONAIS (=) LUCRO ANTES DE IMPOSTOS SOBRE RESULTADO (-) IMPOSTO DE RENDA (-) CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE LUCRO LÍQUIDO (=) LUCRO LÍQUIDO ■ Receitas brutas (faturamento) – consistem no valor obtido da execução das ativi- dades da empresa, normalmente pela venda de produtos e/ou prestação de serviços. ■ Deduções sobre receitas – conjunto de deveres com que a empresa deve arcar, em virtude da aferição de renda por meio das receitas. É constituído por descontos, im- postos diretos sobre receitas (como ICMS, ISS, IPI, entre outros) e por devoluções a clientes. Alexandre þÿ 21 INTRODUÇÃO À ADMINISTRAÇÃO DO CAPITAL DE GIRO ■ Receita líquida – valor das receitas que efetivamente poderá ser utilizado para paga- mento dos gastos da operação e para aferição do lucro. ■ Custos – consistem nos gastos consumidos na produção de bens ou serviços que se- rão destinados à venda, ou seja, é todo o dinheiro que foi desembolsado para se ter o produto fabricado ou para realização da prestação do serviço. Exemplo: na construção de uma cadeira de madeira, os pregos, a madeira, a cola, o tempo do operário que a construiu são considerados custos. ■ Lucro bruto – primeiro resultado operacional da empresa. Representa o quanto de dinheiro ainda resta ao pagar os custos de produção. ■ Despesas – conjunto de gastos referentes às atividades acessórias da empresa. Essas atividades têm por objetivo maximizar receitas ou reduzir custo e, normalmente, são compostas pelo setor financeiro, pela área de marketing, pelo setor de manutenção predial, entre outros. ■ Depreciação – valor a ser abatido das rendas da atividade empresarial com intuito de constituição de reserva para aquisição de novo equipamento no futuro. A depreciação também é conhecida com a perda de valor temporal (ou por utilização) de determina- do investimento em ativo fixo. ■ Despesas/receitas financeiras – conjunto de juros aferidos ou pagos pela empresa em virtude de aplicações financeiras realizadas com excedentes de caixa ou emprésti- mos realizados para manutenção da atividade empresarial. ■ Receitas/despesas não operacionais – valor proveniente de eventos não atribuídos à atividade principal da empresa. Normalmente, é oriundo de alienação de ativos per- manentes. ■ Imposto de renda e contribuição social sobre lucro líquido – tributos aferidos so- bre o resultado da empresa. ■ Lucro líquido – última linha do DRE tem por métrica apresentar se a operação gerou lucro ou prejuízo no ano observado. Havendo lucro, este poderá ser disponibilizado para distribuição de dividendos. 22 INTRODUÇÃO À ADMINISTRAÇÃO DO CAPITAL DE GIRO NA PRÁTICA A Jonsons e Silva S.A. é uma empresa focada no ramo varejista, mais especificamente em moda feminina e masculina para um público das classes sociais B e C. Em seus mais de 20 anos de mercado, tem apresentado sólidos crescimentos e se estabilizado como uma das marcas de maior valor agregado na visão do consumidor. Tal demonstração de valor pode ser verificada nos resultados que apresenta. A se- guir, podem ser observados o balanço patrimonial e o demonstrativo de resultado do exercício da Jonsons e Silva dos anos 0000, 0001 e 0002. LOJAS JOHNSONS E SILVA Ativo 31/12/0002 31/12/0001 31/12/0000 Ativo Total 3.762.000 2.973.000 2.590.000 Ativo Circulante 2.492.000 2.032.000 1.869.000 Caixa e equivalentes de caixa 683.000 578.000 683.000 Contas a receber 1.310.000 1.022.000 893.000 Estoques 452.000 402.000 275.000 Tributos 47.000 30.000 18.000 Ativo realizável a longo prazo 1.270.000 941.000 721.000 Investimentos 168.000 138.000 97.000 Imobilizado 846.000 599.000 411.000 Intangível 256.000 204.000 213.000 23 INTRODUÇÃO À ADMINISTRAÇÃO DO CAPITAL DE GIRO Passivo 31/12/0002 31/12/0001 31/12/0000 Passivo Total 3.762.000 2.973.000 2.590.000 Passivo Circulante 1.719.000 978.000 897.000 Obrigações sociais e trabalhistas 189.000 67.000 72.000 Fornecedores 456.000 429.000 318.000 Obrigações fiscais 244.000 211.000 146.000 Empréstimos e financiamentos 670.000 172.000 279.000 Outros 160.000 99.000 82.000 Passivo não circulante 739.000 762.000 457.000 Patrimônio Liquido 1.304.000 1.233.000 1.236.000 Capital social realizado 461.000 421.000 408.000 Reservas de capital 207.000 271.000 245.000 Reservas de lucros 636.000 541.000 583.000 DRE 0002 0001 0000 Receita líquida de vendas e/ou serviços 3.762.000 3.238.000 2.751.000 Custo de bens e/ou serviços vendidos -1.634.000 -1.396.000 -1.209.000 Resultado bruto 2.228.000 1.842.000 1.542.000 Despesas com vendas -929.000 -775.000 -641.000 Despesas gerais e administratvas -293.000 -250.000 -211.000 24 INTRODUÇÃO À ADMINISTRAÇÃO DO CAPITAL DE GIRO Perdas pela não recuperabilidade de ativos -126.000 -109.000 0 Outras receitas operacionais 34.000 15.000 13.000 Outras despesas operacionais -354.000 -249.000 -209.000 Resultado operacional 560.000 474.000 494.000 Receitas ou despesas financeiras -51.000 -2.000 -3.000 Resultado antes tributação/participações 509.000 472.000 491.000 Provisão para IR e contribuição social -169.000 -140.000 -136.000 Lucro liquído 340.000 332.000 355.000 Definições elementares A organização dos demonstrativos financeiros acontece sempre do período mais próximo ao presente para o período mais distante. Assim, a organização fica aparentemente em or- dem decrescente temporal. ■ Perda – recurso consumido de forma anormal e involuntária. ■ Investimento – gasto criado com intuito de gerar benefícios futuros ou para a criação de ativos fixos – aumento da capacidade produtiva. ■ Gastos – dispêndio de recurso financeiro. Contabilidade e capital de giro A contabilidade é peça fundamental para a compreensão correta do assunto capital de giro. Isso se dá pelo fato de as principais métricas utilizadas para definição de elementos de ad- ministração financeira de curto prazo estarem presentes nos demonstrativos contábeis. Para a mais adequada aplicação dos assuntos que serão apresentados a seguir, é impor- tante o conhecimento prévio e elementar dos itens que compõem a contabilidade, suas funções e atividades. A partir deste ponto, os conhecimentos elementares da contabilidade serão de extrema im- portância para o prosseguimento das atividades. Alexandre þÿ Alexandre þÿ Alexandre þÿ 25 INTRODUÇÃO À ADMINISTRAÇÃO DO CAPITAL DE GIRO Antes de entrarmos na parte matemática e de diagnóstico financeiro de curto prazo, ainda apresentaremos a origem do termo “capital de giro” assim como, na visão do gestor, o que deve ser compreendido como uma boa gestão do capital de giro. Shutterstock UNIDADE 3 ORIGEM DO CAPITAL DE GIRO O termo “capital de giro” data de muito antes de se pensar em operações financeiras modernas. Segundo Brigham e Weston (2000), esse era o nome que os mascates ianques davam às mercadorias que vendiam durante o período da tomada do oeste americano pelos colonizadores. O que podemos encontrar de registro é que esses mascates abasteciam suas carroças com mercadorias e seguiam para o interior dos Estados Unidos para realizar as vendas. Os pro- dutos que por ora compunham suas mercadorias e com a venda geravam lucro eram conhe- cidos por capital de giro, pois giravam (os mascates vendiam e compravam mais produtos), maximizando os resultados. Dessa forma, para melhor compreender o termo, o cavalo e a carroça seriam os ativos fi- xos, adquiridos com capital próprio, garantindo a base para a existência da atividade. Já as mercadorias eram adquiridas por meio de financiamentos com os bancos, conhecidos como empréstimos para capital de giro. 26 INTRODUÇÃO À ADMINISTRAÇÃO DO CAPITAL DE GIRO Os empréstimos para capital de giro deveriam ser quitados ao fim de cada viagem para assegurar a manutenção docrédito, permitindo ao mascate ter novos produtos e recursos para a próxima empreitada do ano que viria. Naquela época esse capital que financiava as mercadorias era de vital importância para a manutenção das atividades econômicas do interior americano. Ele representava parte signi- ficativa das atividades, seja dos fazendeiros, seja dos mascates, pois era destinado à manu- tenção dos negócios regionais. Shutterstock Na literatura financeira mais contemporânea, convencionou-se denominar capital de giro todo e qualquer recurso financeiro de curto prazo com objetivo de garantir as operações da em- presa. Assim, compreendemos curto prazo como um período inferior a 365 dias, ou um ano. UNIDADE 4 BOA GESTÃO DE CAPITAL DE GIRO Em virtude de sua origem e de serem ajustadas as premissas financeiras modernas, a gestão do capital de giro tende a envolver, em última análise, a resolução das questões relaciona- das às contas cíclicas da empresa, como fornecedores, estoque e contas a receber. 27 INTRODUÇÃO À ADMINISTRAÇÃO DO CAPITAL DE GIRO A boa gestão do capital de giro inclui acompanhamento e controle de atividades de rotina da empresa, envolvendo: ■ transição de recursos em caixa e bancos; ■ aquisição de mercadores de fornecedores e seus pagamentos; ■ transformação de matéria-prima em produto acabado; ■ controle do estoque pré-operacional, operacional e pós-operacional; ■ venda e entrega de mercadorias aos clientes; ■ controle de contas a pagar; ■ controle de contas a receber; ■ estratégias de financiamento e gerenciamento dos elementos operacionais; ■ controle das operações de tesouraria. Em uma definição mais simplificada, acreditamos que a boa gestão do capital de giro busca a rápida conversão dos elementos operacionais em elementos financeiros, podendo, assim, gerar mais financiamento para outros elementos operacionais, ou seja, a rápida conversão (rotação) das contas de curto prazo (cíclicas). Caixa Fornecedores CICLO FINANCEIRO Estoques CompraVendas PagamentoRecebimento Clientes Alexandre þÿ 28 INTRODUÇÃO À ADMINISTRAÇÃO DO CAPITAL DE GIRO RESUMO Neste módulo, você pôde aprender um pouco mais sobre a origem do capital de giro assim como entender o que busca o gestor financeiro moderno. Da mesma forma, foi possível observar que, para realizar uma boa gestão do capital de giro, invariavelmente, é preciso ter um bom conhecimento de contabilidade financeira. Na primeira etapa deste módulo, foi apresentado que o gestor financeiro, muito mais que lucro, busca geração de riqueza, que, na visão de finanças, se resume a dinheiro. Você tam- bém viu que o caminho pelo qual se deve passar para se capaz de gerar esse valor é o das três principais questões de finanças: “onde investir?” (decisão de longo prazo); “como finan- ciar?” (decisão de financiamento e risco); e “como gerir o capital de curto prazo?” (decisão operacional de curto prazo). Na segunda etapa, foram apresentados os conceitos elementares da contabilidade finan- ceira, com intuito de agregar um pouco mais de arcabouço teórico sobre um tema que é extenso e complexo. Assim, após rápidos informes da base teórica da contabilidade, o assunto caminhou para os demonstrativos financeiros mais usuais em gestão do capital de giro. Nesse momento, o balanço patrimonial e o demonstrativo de resultados do exercício foram apresentados e discorridos. Assim, você poderá se sentir mais confortável com esses demonstrativos para uma futura utilização deles. Na terceira etapa, foi mostrada a origem do nome “capital de giro”, para melhor exemplificar suas aplicações e utilizações, inclusive nos dias de hoje. A terminologia é antiga e se aplica de forma bastante assertiva, inclusive nos contextos mais modernos, garantindo a compreen- são clara do que vem a ser o termo. Na quarta e última etapa, você aprendeu que a boa gestão do capital de giro passa por um controle e uma manutenção dos processos elementares da empresa, com objetivo de garantir a operacionalização das atividades. Assim, podemos observar que, para uma boa gestão financeira de curto prazo, os controles de estoque, as contas a pagar e a receber, o controle do caixa e o controle dos processos produtivos devem estar bem ajustados. Concluindo, este primeiro módulo apresentou uma rápida visão de tudo que será visto adiante. Nos próximos módulos, você verá como realizar um diagnóstico financeiro de curto prazo, como projetar o orçamento de caixa e controlar o curto prazo. Para finalizar o assun- to, trataremos das políticas operacionais de capital de giro. DIAGNÓSTICO FINANCEIRO DE CURTO PRAZO Módulo 2 INTRODUÇÃO DO MÓDULO No segundo módulo, trataremos das questões ligadas à identificação dos componentes do capital de giro na busca da melhor compreensão dos seus comportamentos, assim como no diagnóstico da situação da empresa no viés de curto prazo. Para tanto, desenvolveremos os índices econômicos, financeiros e de endividamento pela óti- ca contábil, migrando posteriormente para uma ótica mais operacional. Assim, é possível en- contrar vieses nas operações e nos índices para melhor atender a compreensão do todo e sua aplicação na boa gestão financeira de curto prazo. OBJETIVOS DO MÓDULO Ao completar este módulo de estudo, você estará apto a: ■ Descrever o processo de diagnóstico financeiro de curto prazo. ■ Esclarecer o que é capital de giro líquido e a necessidade de capital de giro. ■ Compreender a aplicação dos índices contábeis na gestão financeira de curto prazo. ■ Identificar a necessidade do equilíbrio entre liquidez e rentabilidade. ■ Compreender melhor e explicar a abordagens de gestão de saldo de tesouraria. ESTRUTURA DO MÓDULO Para melhor compreensão das questões que envolvem o diagnóstico financeiro de curto prazo, este módulo está dividido em: ■ Unidade 1 – Análise elementar dos demonstrativos financeiros, dos índices de renta- bilidade e do endividamento ■ Unidade 2 – Capital de giro líquido ■ Unidade 3 – Índices de liquidez, prazos e ciclos ■ Unidade 4 – Necessidade de capital de giro ■ Unidade 5 – Saldo de tesouraria 32 DIAGNÓSTICO FINANCEIRO DE CURTO PRAZO UNIDADE 1 ANÁLISE ELEMENTAR DOS DEMONSTRATIVOS FINANCEIROS, DOS ÍNDICES DE RENTABILIDADE E DO ENDIVIDAMENTO Para a abordagem financeira relacionada com a prática operacional cotidiana da empresa, é necessário observar o comportamento das diversas contas contábeis. Para isso, perceber as formas de análise e como utilizá-las como instrumento de aferição e controle é essencial para evolução adequada das estratégias. As primeiras análises, e as mais simples, são: ■ Análise horizontal – comparação da evolução de determinada conta patrimonial (no caso de trabalhar com o balanço patrimonial) ou de resultado (no caso do DRE) de um ano para outro. Na análise horizontal, sempre é definido com base, em geral, em um dado período para ser o primeiro. ■ Análise vertical – comparação de dentro do período. Faz-se uma relação de peso de cada conta com o total dos ativos, no caso do balanço patrimonial ou no caso do DRE em relação às receitas brutas. As análises horizontais e verticais contribuem para levantar questionamentos. Percebemos por meio delas que determinada conta se comportou de forma mais agressiva que outras com crescimentos acima ou abaixo dos demais itens ou podemos observar que certa despe- sa ou custo se tornou mais relevante em relação à receita em algum momento. Esses questionamentos devem ser respondidos por análises mais profundas, e, por vezes, por meio de questionamentos a áreas específicas da empresa. Como opção de análises mais profundas, podemos elencá-las por meio de índices e seg- mentá-las em três grandes grupos: as análises de situação econômica, que englobam índi- ces de rentabilidade, deliquidez, de atividade e de endividamento; as análises da situação financeira, que compreendem os índices de liquidez, os prazos e os ciclos; e as análises de risco de insolvência, compostas de análises de endividamento e inadimplência. Inicialmente, serão tratadas as análises de situação econômica e de insolvência. Em seguida, em um item à parte, será estudada a questão da análise financeira, que é mais focada em curto prazo, portanto, apresenta uma relação mais íntima com o capital de giro. Alexandre Realce Alexandre Realce Alexandre Realce Alexandre Realce Alexandre þÿ Alexandre þÿ Alexandre þÿ 33 DIAGNÓSTICO FINANCEIRO DE CURTO PRAZO Situação econômica A situação econômica é constituída pelo estudo da perenidade do ativo, buscando, assim, aná- lises sobre lucratividade/rentabilidade e margens e giro do ativo para perceber a capacidade da operação de se manter viável e gerando retornos adequados à expectativa dos acionistas. Começando pelos índices de rentabilidade, temos: ■ Retorno sobre os ativos (return on assets – ROA) – é uma medida de lucro por unidade monetária de ativo total. Normalmente é definido por: ROA = lucro líquido ativo total Análise: para cada um dinheiro investido em ativos totais, o quanto a empresa gerou de rentabilidade para o acionista. ■ Retorno sobre o patrimônio líquido (return on equity – ROE) – é uma medida de como os acionistas se saíram durante o ano. É considerada a verdadeira medida de desem- penho de lucro, segundo Ross, Westerfield e Jordan (2013). ROE = lucro líquido patrimônio líquido Análise: para cada um dinheiro investido pelos sócios na empresa, o quanto ela gerou rentabilidade. O ROA e o ROE são medidas bastante comuns e comentadas devido à sua praticidade de modelagem e facilidade de compreensão. Por serem medidas de rentabilidade, são comu- mente utilizadas como instrumentos comparativos entre resultados de empresas similares no mercado, podendo, assim, aferir qual é a mais rentável para o acionista. Em análise, é possível tirar algumas conclusões por meio do estudo desses dois índices. Inicialmente, se for percebido que o ROA apresenta resultados inferiores ao ROE, podemos inferir que a empresa faz uso de capitais de terceiros em sua estratégia de financiamento (alavancagem financeira), ou seja, em algum momento haverá pagamento de juros. O próximo conjunto de indicadores são as margens, que se constituem em índices de con- trole de desempenho operacional e têm por objetivo guiar em que ponto das atividades da empresa pode haver algum gargalo quando utilizadas para análise longitudinal. As margens são basicamente três: Alexandre Realce Alexandre Realce Alexandre Realce Alexandre Lucro líquido = DRE Ativo total = BP Alexandre Lucro líquido = DRE Patrimônio líquido = BP Alexandre þÿ 34 DIAGNÓSTICO FINANCEIRO DE CURTO PRAZO Margem bruta (MB) – apresenta o quanto de recurso, para cada R$ 1,00 de receita, manteve- -se na operação após o pagamento das deduções e dos custos, ou seja, o quanto de recursos há disponível para o pagamento de despesas, impostos, juros e distribuição aos acionistas. MB = receitas de vendas – custo das mercadorias vendidas = lucro bruto receita líquida receita líquida Margem operacional (MO) – apresenta o quanto de recurso, para cada R$ 1,00 de receita, manteve-se na operação após o pagamento das deduções, dos custos e das despesas, ou seja, o quanto de recursos há disponível para o pagamento de impostos, juros e distribuição aos acionistas. MO = lucro operacional receita líquida Margem líquida (ML) – apresenta o quanto de recurso, para cada R$ 1,00 de receita, manteve- -se na operação após o pagamento das deduções, dos custos e das despesas, ou seja, o quanto de recursos há disponível para o pagamento de impostos, juros e distribuição aos acionistas. ML = lucro líquido receita líquida Em índices de atividade, que medem a velocidade com que diversas contas se convertem em vendas ou caixa, podemos destacar o giro do ativo. Adiante, estudaremos os índices de prazos e ciclos. O giro do ativo (GA) permite o entendimento de quanto de receita é gerado para cada real investido em ativos. Esse indicador é considerado uma medida de eficiência operacional. Sua formula é: GA = receita líquida ativo total Obs.: o índice de giro de estoques será abordado no Módulo 3, Unidade 2. Alexandre Realce Alexandre þÿ Alexandre þÿ Alexandre þÿ Alexandre þÿ Alexandre þÿ 35 DIAGNÓSTICO FINANCEIRO DE CURTO PRAZO NA PRÁTICA Analisando a empresa Jonsons e Silva S.A., vista no módulo anterior e que seguirá conosco até o final do curso, ela apresentou os seguintes índices de rentabilidade, margens e de giro do ativo. Indicadores 0002 0001 0000 Econômicos ROA 9,04% 11,17% 13,71% ROE 26,07% 26,93% 28,72% Margem Bruta 57,69% 56,89% 56,05% Margem Operacional 14,50% 14,64% 17,96% Margem Líquida 8,80% 10,25% 12,90% Giro do Ativo 1,03 1,09 1,06 Arquivo XLS – Jonsons e Silva – Empresa do material Como é possível verificar, existe uma perda nas rentabilidades da empresa, apresen- tando uma queda de 5 pontos percentuais no ROA e 7 pontos percentuais no ROE em dois anos. Ainda analisando as rentabilidades, vemos que há utilização de capital de terceiros para financiamento das atividades, notada por meio da diferença exis- tente entre ROA e ROE. Ao analisarmos as margens, vemos uma melhoria no desempenho dos custos (mar- gem bruta crescente). No entanto, o aumento de despesas percentual acaba por gerar impacto negativo nas margens operacionais e margem líquida em pouco mais de 3 pontos percentuais. A melhora de desempenho produtivo é corroborada pelo resultado do giro do ativo, que apresenta um suave crescimento no período entre 0000 e 0002. 36 DIAGNÓSTICO FINANCEIRO DE CURTO PRAZO Mesmo com a melhoria operacional, a empresa está perdendo rentabilidade. O que será que está acontecendo com a empresa? O que ela está priorizando? O que ocorre para as melhorias operacionais não refletirem em rentabilidade? Antes de respondermos a essas questões, precisamos evoluir nas análises e observar questões de fonte de financiamentos. Risco de insolvência Os índices de insolvência têm um objetivo bastante prático, que é o de analisar se a empresa é capaz de cumprir suas obrigações com endividamento de longo prazo ou, de modo geral, sua alavancagem financeira. Também podem ser conhecidos como índices de alavancagem. ■ Índice de dívida total (IDT) – considera em sua análise a totalidade das obrigações como todos os vencimentos para os credores. Sua fórmula é: IDT = ativo total – patrimônio líquido ativo total Seu resultado é analisado em percentual, ou seja, que percentual do ativo é composto de obrigações com terceiros. O fato de o resultado se apresentar como elevado ou baixo depende da estrutura de capital adotada pela empresa. ■ Índice de cobertura de juros (ICJ) – mede a capacidade da empresa de cumprir suas obrigações com juros por meio dos seus resultados operacionais. A sua análise é feita pelo número de vezes. ICJ = lucro antes de impostos juros Obs.: Por ser um índice de endividamento, o ICJ só faz sentido em análise se a empresa paga juros. No caso de a organização não possuir endividamento oneroso, esse índice se torna irrelevante. Alexandre Realce Alexandre Realce Alexandre þÿ Alexandre þÿ 37 DIAGNÓSTICO FINANCEIRO DE CURTO PRAZO NA PRÁTICA Continuando a análise da empresa Jonsons e Silva S.A., é possível observarmos os seguintes resultados dos índices de insolvência: Indicadores 0002 0001 0000 Inadimplência IDT 65,34% 58,53%52,28% ICJ 10,980 237,000 164,667 Arquivo XLS – Jonsons e Silva – Empresa do material O IDT apresenta que a influência das obrigações para com terceiros tem diminuído no tempo, mesmo ainda sendo superior a 50%, representando que mais da metade dos ativos da empresa está comprometido com algum tipo de endividamento. No entanto, o ICJ mostra uma capacidade de pagamento dos juros bastante confortável, com aproximadamente 11 vezes de disponibilidades em relação aos juros pagos em 0002. Se analisarmos o ano 0000, percebemos que essa capacidade era de 164 vezes. Vale ressaltar que essas análises têm seu foco nas operações de longo prazo. Para o estudo de capital de giro, compreender a situação da empresa em longo prazo é bastante importante por ajudar a compreender as macropolíticas adotadas pelos gestores. Dessa forma, poderemos traçar estratégias para corrigir algumas falhas e melhorar as performances de longo prazo por meio de operações de curto prazo. De nada adianta a compreensão dos índices econômicos se não formos capazes de analisar o curto prazo. Para isso, esses estudos serão iniciados pelo foco do capital de giro líquido. 38 DIAGNÓSTICO FINANCEIRO DE CURTO PRAZO UNIDADE 2 CAPITAL DE GIRO LÍQUIDO A terminologia “giro” normalmente se refere às contas cíclicas, ou seja, contas de curto pra- zo. Desse modo, ao pensarmos nos giros, necessariamente pensamos com um foco mais imediatista das operações, mesmo sabendo que isso representa um período de 360 dias na visão contábil. Em uma visão mais clássica, o capital de giro pode ser representado pelo ativo circulante, isto é, pelo conjunto de aplicações, disponibilidades, estoques, contas a receber etc. O capi- tal de giro, assim, representará, em um sentido mais amplo, os recursos demandados por uma entidade para financiar suas necessidades operacionais. Em última instância, podemos definir que o capital de giro existe para financiar a operação da empresa, ou seja, o tempo que ela demora para transformar matéria-prima em dinheiro, considerando que precisa pagar fornecedores, impostos etc. Isso ocorre por não existir, normalmente, sincronicidade entre as atividades de produção, vendas, cobrança e compras. Para dimensionar de maneira correta o capital de giro, é neces- sário um sólido conhecimento das atividades da empresa de forma integrada. Considerando que as atividades operacionais da empresa não são estáticas, o capital de giro pode ser segmentado em: ■ Fixo – conjunto mínimo de ativos circulantes necessários para manter a empresa em funcionamento. ■ Sazonal – necessidades adicionais de recursos, tais como compras antecipadas de es- toque, dificuldades de recebimento de clientes etc. A administração do capital de giro, por definição, é a administração das contas de curto prazo, garantindo a manutenção das atividades da empresa e a boa relação entre as contas de giro (de ativo e passivo), na busca por manter o equilíbrio entre liquidez e rentabilidade. Sabendo que o capital de giro é por vezes definido com o ativo circulante, a métrica que reflete a folga financeira da empresa, em uma relação entre recursos de longo prazo e finan- ciamentos de curto prazo, é o capital de giro líquido (CGL). O CGL também pode ser definido como o montante de recursos de longo prazo destinados a financiar as atividades de curto prazo da empresa. A sua fórmula é definida pela subtração dos ativos circulantes pelos passivos circulantes. CGL = ativo circulante – passivo circulante Alexandre Realce Alexandre Realce Alexandre Realce Alexandre þÿ Alexandre þÿ Alexandre þÿ Alexandre þÿ 39 DIAGNÓSTICO FINANCEIRO DE CURTO PRAZO Como resultados, o CGL pode ser positivo ou negativo. Sendo positivo, podemos intuir que a empresa financia seu capital de giro com recursos de longo prazo; sendo negativo, inferimos que ela financia seu capital de giro com recursos de curto prazo. Demonstração gráfica AC R$ 600.000 Ativos Passivos PC R$ 450.000 Caixa R$ 60.000 Dívidas CP R$ 50.000 Contas a receber R$ 300.000 Fornecedor R$ 400.000 Estoque R$ 240.000 CGL R$ 150.000 AC R$ 600.000 Ativos Passivos PC R$ 750.000 Caixa R$ 60.000 Dívidas CP R$ 350.000 Contas a receber R$ 300.000 Fornecedor R$ 400.000 Estoque R$ 240.000 CGL (R$ 150.000) Além do capital de giro líquido, podemos observar o capital de giro próprio (CGP), que revela a origem dos recursos de longo prazo que se encontram financiando as atividades circulan- tes. Sua formula é: CGP = patrimônio líquido – ativo não circulante Alexandre Realce Alexandre þÿ Alexandre þÿ 40 DIAGNÓSTICO FINANCEIRO DE CURTO PRAZO NA PRÁTICA Prosseguindo o diagnóstico da empresa Jonsons e Silva S.A., vamos verificar em que condições o capital de giro se apresenta. Em uma análise mais superficial, notamos que a empresa possui ativos circulantes para os anos resultados crescentes. No ano 0000, apresentava um capital de giro de R$ 1,9 milhão no ano 0002 estava com um capital de giro de quase $ 2,5 milhões. 3.000.000 2.500.000 2.000.000 1.500.000 1.000.000 500.000 31/12/0002 31/12/0001 Ativo circulante 31/12/0000 0 Na análise do capital de giro líquido, com intuito de observar de onde vem o financia- mento do capital de giro, podemos perceber que há uma redução nas disponibilida- des de curto prazo, assim como um menor financiamento desse capital de giro com recursos de longo prazo. 1.200.000 1.000.000 800.000 600.000 400.000 200.000 0002 0001 CGL 0000 0 41 DIAGNÓSTICO FINANCEIRO DE CURTO PRAZO Por meio desses dados, é possível verificarmos que a empresa está com uma evolu- ção no seu capital de giro, no entanto não está mantendo as mesmas composições de origens, provocando, assim, uma queda no capital de giro líquido. Em última aná- lise, podemos acreditar que a organização está fazendo uso de maior quantidade de recursos de curto prazo para financiar o seu capital de giro, como pode ser demons- trado pelo CGP no gráfico a seguir. 600.000 500.000 400.000 300.000 200.000 100.000 0002 0001 CGP 0000 0 42 DIAGNÓSTICO FINANCEIRO DE CURTO PRAZO ? VOCÊ SABIA? A empresa apresentar capital de giro líquido negativo significa que ela possui desequilíbrio financeiro? Resposta: Não necessariamente. Vai depender da composição dos passivos de curto prazo. Caso estes sejam compostos de contas não onerosas, a empresa não se en- contra em desequilíbrio. No entanto, se a maior parte desse passivo for oriunda de dívidas onerosas, podemos considerar que a situação financeira da companhia está em situação delicada. Para termos certeza nesse caso, é importante a análise dos índices de liquidez. Ativos Passivos Ativos Passivos Caixa R$ 60.000 Dívidas CP R$ 50.000 Caixa R$ 60.000 Dívidas CP R$ 50.000 Contas a receber R$ 300.000 Fornecedor R$ 400.000 Contas a receber R$ 300.000 Fornecedor R$ 700.000 Estoque R$ 240.000 CGL R$ 150.000 Estoque R$ 240.000 CGL (R$ 150.000) 43 DIAGNÓSTICO FINANCEIRO DE CURTO PRAZO UNIDADE 3 SITUAÇÃO FINANCEIRA: ÍNDICES DE LIQUIDEZ, PRAZOS E CICLOS Nesta unidade, serão trabalhados os índices de liquidez, que apresentam a capacidade de pagamento de obrigações de curto prazo da empresa, além dos prazos e ciclos que demons- tram as políticas operacionais de curto prazo adotadas pela organização. O conjunto desses índices representa a situação financeira na análise de indicadores. Índices de liquidez Os índices de liquidez apresentam a base da situação financeira da empresa, ou seja, apon- tam a capacidade de pagamento das obrigações das contas de curto prazo. Em princípio, a análise dos índices de liquidez tende a atender a premissa de quanto maior melhor. Entre os índicesde liquidez, o mais abrangente é o índice de liquidez corrente (ILC), que tem como fórmula a divisão entre ativos circulantes por passivos circulantes e apresenta em seu resultado uma relação de quanto a empresa possui de ativos circulantes para cada R$ 1,00 de passivo circulante. ILC = ativo circulante passivo circulante Por ser o índice mais abrangente, o ILC tende a apresentar seu resultado mascarado por itens que compõem o ativo circulante e que não necessariamente tem sua transformação em dinheiro de forma rápida ou simplificada. Esses itens são o estoque, alguns impostos e as despesas antecipadas. Assim, para corrigir esse viés, existe o índice de liquidez seca (ILS), que mede o quanto de dívidas de curto prazo poderá ser quitado com uso de ativos de maior liquidez (normalmente, disponibilidades e contas a receber). ILS = caixa + aplicações financeiras + contas a receber passivo circulante O ILS apresenta um resultado bem mais fidedigno e pode ser analisado da mesma forma que o ILC, contudo considerando que os ativos apresentados são bem mais líquidos. Vale ressaltar que na visão de capital de giro não basta observar única e exclusivamente os re- sultados de curto prazo, também devemos considerar a capacidade de pagamento imediata. Alexandre Realce Alexandre þÿ Alexandre þÿ Alexandre þÿ Alexandre þÿ 44 DIAGNÓSTICO FINANCEIRO DE CURTO PRAZO Para isso, temos disponível o índice liquidez imediata (ILI), que considera apenas as disponibi- lidades (caixa + aplicações financeiras) para o pagamento das obrigações de curto prazo. ILI = disponibilidades passivo circulante NA PRÁTICA Mantendo a análise da Jonsons e Silva S.A., ao fazermos os cálculos dos índices de liquidez encontramos os resultados a seguir: Indicadores 0002 0001 0000 Índice de liquidez corrente 1,45 2,08 2,08 Índice de liquidez seca 1,16 1,64 1,76 Índice de liquidez imediata 0,49 0,59 0,76 É possível observar uma deterioração significativa na liquidez da empresa. Ao ques- tionar os sócios sobre o movimento que os resultados financeiros da companhia tem tomado, o senhor Wilson Jonsons, sócio majoritário e atual CEO, declarou que, no ano 0002, a Jonsons e Silva adquiriu um dos seus concorrentes, tendo, assim, um impacto bastante pesado em sua liquidez. Isso serve como justificativa para a queda significativa, principalmente na liquidez imediata. Contudo, para se ter certeza de que somente esse fato foi responsável por tal perda, é necessário estudar as políticas operacionais adotadas até então e, para tanto, verificar os prazos e ciclos se torna fundamental. Prazos e ciclos Como já apresentado anteriormente, a boa gestão do capital de giro visa à rápida conversão de elementos operacionais em outros elementos do mesmo grupo e à consequente recon- versão, provocando, assim, uma alta rotação das contas cíclicas. Alexandre þÿ Alexandre þÿ Alexandre þÿ 45 DIAGNÓSTICO FINANCEIRO DE CURTO PRAZO Vendas Prazos de recebimentoCDG Prazos de pagamento Giro de estoque Ao entender que, para haver uma boa gestão do capital de giro, é necessária essa veloci- dade, é possível interpretar que, quanto menor for o tempo de conversão, melhor será a administração do capital de giro. Para apresentar os ciclos que influenciam as conversões, é preciso compreendermos os prazos individuais que afetam os comportamentos operacionais, assim como os efeitos das políticas adotadas em cada um desses elementos. O primeiro prazo a ser trabalhado é o prazo médio de estoque (PME). Aparentemente, é o mais simples de ser entendido na ótica financeira, contudo, pelo viés operacional, é o que apresenta maior quantidade de variações. O PME, na visão financeira, corresponde ao tempo médio em dias que o produto ficou no estoque da empresa antes de ser vendido, ou seja, o tempo necessário para a matéria-prima se tornar venda. Contudo, o que poucos percebem é que uma visão mais operacional, o PME, é a soma de diversos prazos de estoque menores. Assim, podemos entender que o PME é o resultado do prazo médio de estoque de matéria-prima (tempo que a matéria-prima espera para entrar em produção), somado com o prazo médio de estoque de produto em produção (tempo que o produto demora a ficar pronto na linha de produção da fábrica) e com o prazo médio de estoque de produto acabado (tempo que o produto acabado demora para ser vendido). PME = PMEmp + PMEpp + PMEpa Alexandre Realce Alexandre þÿ Alexandre þÿ 46 DIAGNÓSTICO FINANCEIRO DE CURTO PRAZO Mesmo assim, vale ao gestor financeiro apenas a fórmula macro do prazo médio de esto- que. Para ele, a perspectiva financeira é suficiente para a gestão das contas de giro. Só é necessário se lembrar da importância do trabalho junto ao setor operacional para evitar prazos extensos nos estoques intermediários. Assim, a fórmula do PME é: PME = estoques x 360 custo ? VOCÊ SABIA? Na visão financeira, todos os prazos têm a multiplicação por 360 no final, pois utili- zam em sua fórmula um elemento de balanço patrimonial, que representa um dia no ano, e um elemento de DRE, que representa o ano inteiro. O número 360 existe para equilibrar a fórmula. Se estiver trabalhando com períodos menores que um ano, deve tomar cuidado com o ajuste. Para demonstrativos trimestrais deverá utilizar 90 no lugar de 360, por exemplo. Na maioria dos casos empresariais, as vendas não têm sua contrapartida financeira aconte- cendo no ato da saída do estoque, assim é possível observar que existe um descasamento entre a venda e o recebimento. Esse tempo em que se espera para o cliente realizar o paga- mento é conhecido como prazo médio de recebimento (PMR). O PMR é o tempo médio em dias que o cliente demora a pagar pelos produtos que adquiriu. Em caso de venda à vista, o PMR é igual a 0. O PMR varia de acordo com a política de crédito de cada empresa. Uma organização com políticas de crédito mais frouxas tende a possuir PMR mais elásticos. A fórmula do PMR, assim como a do PME, comunga elementos do balanço patrimonial e do DRE, como pode ser observado a seguir: PMR = contas a receber x 360 receitas Obs.: Na fórmula clássica do PMR, considera como divisor as receitas brutas, contudo, na ausência da informação delas, é possível utilizar as receitas líquidas como substituto. Alexandre Realce Alexandre þÿ Alexandre þÿ Alexandre þÿ 47 DIAGNÓSTICO FINANCEIRO DE CURTO PRAZO Assim, tendo o PME e o PMR, podemos determinar o tempo médio que a empresa demora a converter as matérias-primas em dinheiro propriamente dito. Esse tempo se chama ciclo operacional (CO). O CO é responsável pela compreensão dos efeitos provocados pelas políticas de estoque e de crédito juntas. Um ciclo operacional mais elástico pode determinar que a empresa esteja demorando demais para transformar seus investimentos em matéria-prima em recursos financeiros, ficando, assim, com muito capital “empatado” na operação. Graficamente, podemos perceber que: Ciclo operacional Chegada da mercadoria PME PMR Venda Recebimento Assim, a fórmula do CO é: CO = PME + PMR No entanto, além de vender e receber, a empresa também precisa pagar aos seus forne- cedores as matérias-primas compradas. Para isso, por vezes, os fornecedores concedem à organização um prazo para realizar esses pagamentos, que se chama prazo médio de pagamentos (PMP). O PMP é o tempo médio em dias que os fornecedores (incluídos os de matéria-prima, gover- no, fornecedores de serviços e salários) concedem à empresa para que ela pague. A fórmula é: PMP = passivos de giro x 360 desembolsos operacionais Dessa forma, ao compreender o PMP, podemos observar outro elemento importante naestrutura de prazos e ciclos. Notamos que o CO inicia na aquisição da matéria-prima e que o PMP também tem seu start nesse momento. Assim, terão duas estruturas temporais cami- nhando paralelamente, uma com objetivo de receber dinheiro, outra com intuito de pagar os fornecedores. Alexandre Realce Alexandre þÿ Alexandre þÿ Alexandre þÿ Alexandre þÿ Alexandre POCP x 360 / Custo dos Proutos Vendidos Alexandre þÿ Alexandre þÿ 48 DIAGNÓSTICO FINANCEIRO DE CURTO PRAZO Ciclo operacional Chegada da mercadoria Fornecedor PME PMP PMR Venda Recebimento Ao alinharmos as estruturas, é possível observar se há ou não um descasamento entre o tempo em que se demora a receber e o que se é concedido para pagar. Esse descasamento é conhecido como ciclo financeiro (CF). Quando o PMP é menor que o CO, dizemos que a empresa precisa financiar os seus clien- tes, utilizando capital (seja financiado por dívida ou por sócio) para garantir o tempo que o cliente ainda não pagou. No caso contrário, os fornecedores estão financiando os clientes; assim, a empresa teoricamente não precisaria colocar capital para financiar as operações. A fórmula do CF é: CF = CO – PMP O cliente precisa ser financiado pela empresa (CF positivo). Ciclo operacional Ciclo financeiro Chegada da mercadoria Fornecedor PME PMP PMR Venda Recebimento Alexandre þÿ Alexandre þÿ Alexandre þÿ 49 DIAGNÓSTICO FINANCEIRO DE CURTO PRAZO O cliente é financiado pelo fornecedor (CF negativo). Ciclo operacional Ciclo financeiro Chegada da mercadoria Fornecedor PME PMP PMR Venda Recebimento NA PRÁTICA Continuando o diagnóstico da empresa Jonsons e Silva S.A., já analisamos que a empresa perdeu rentabilidade e resultados operacionais nos últimos três anos assim como, por meio do estudo da liquidez, notamos que do ano de 0001 para 0002 houve uma queda significativa da capacidade pagamento de curto prazo. Os sócios alegam que essa perda vem da decisão estratégica de comprar um concorrente, fato esse que se consolidou entre os anos 0001 e 0002. Para confirmar que os efeitos da perda de capacidade de pagamento de curto prazo (liquidez) são efetivamente dessa decisão estratégica, é necessário analisarmos os prazos e ciclos, observando se não houve nenhuma mudança estrutural nas políticas adotadas pela empresa. 50 DIAGNÓSTICO FINANCEIRO DE CURTO PRAZO Assim, ao realizarmos os cálculos, temos: 0002 0001 0000 PME 101 dias 104 dias 83 dias PMR 123 dias 114 dias 117 dias CO 224 dias 218 dias 200 dias PMP 101 dias 111 dias 95 dias CF 123 dias 107 dias 105 dias Graficamente, obtemos: Ano 0000 Ciclo operacional Ciclo financeiro Chegada da mercadoria Fornecedor PME PMP PMR Venda 83 dias 200 dias 95 dias 105 dias Recebimento 51 DIAGNÓSTICO FINANCEIRO DE CURTO PRAZO Ano 0001 Ciclo operacional Ciclo financeiro Chegada da mercadoria Fornecedor PME PMP PMR Venda 104 dias 218 dias 111 dias 107 dias Recebimento Do ano 0000 para o ano 0001, houve uma variação de dois dias no ciclo financeiro, evento que pode ser considerado desprezível nas análises. Ano 0002 Ciclo operacional Ciclo financeiro Chegada da mercadoria Fornecedor PME PMP PMR Venda 101 dias 224 dias 101 dias 123 dias Recebimento 52 DIAGNÓSTICO FINANCEIRO DE CURTO PRAZO Já para o ano 0002 houve um alinhamento entre o PME e o PMP, provocando, assim, a necessidade de financiamento da totalidade do PMR por parte da empresa, o que de- monstra uma mudança nas estratégias operacionais no período. Do ano 0000 ao ano 0002, a organização teve um aumento no seu CF de 18 dias, o que representa um cres- cimento de mais de 50% de um mês em custo aplicado no financiamento a clientes. Além de apresentar em dias o tempo de descasamento, os prazos e os ciclos, tem aplicações na definição do nível de atividades, que, por sua vez, ajuda a determinar financeiramente o quanto a empresa precisará investir em capital de giro. UNIDADE 4 NECESSIDADE DE CAPITAL DE GIRO Os volumes de investimento em capital de giro variam conforme o giro das contas cíclicas (ativos e passivos operacionais de curto prazo) e do nível de atividade da empresa. Dessa forma, maiores volumes de vendas implicam aumento de volumes de estoque, de contas a receber e, possivelmente, de compras de mercadorias junto a fornecedores. Então, se uma empresa aumenta sua média de vendas, esse crescimento estará demons- trado também nas contas de estoque e contas a receber na mesma proporção. Do mesmo modo, se houve mudança nas políticas de prazo para os clientes, os efeitos desse ato provo- caram maior necessidade de investimentos em capital de giro, assim como, se o fornecedor modificar sua política de prazos, o efeito pode ser benéfico ou prejudicial aos investimentos em capital de giro. Por exemplo, se uma empresa vende R$ 100 mil por mês e concede aos clientes, em média, 90 dias de PMR, terá constantemente um volume de R$ 300 mil aplicado em contas a rece- ber; se o custo for de R$ 70 mil ao mês e apresentar um PME de 90 dias, terá constantemen- te um volume de R$ 210 mil em estoque; e, se os fornecedores concedem em média 150 dias de PMC, a empresa terá constantemente R$ 350 mil em fornecedores. Alexandre Realce 53 DIAGNÓSTICO FINANCEIRO DE CURTO PRAZO Receita 1.200.000 ano CMV 840.000 ano Ativos operacionais Contas a receber R$300.000 Estoque R$210.000 Fornecedor R$350.000 Passivos operacionais PMR = 90 PMC = 150 PME = 90 Graficamente, é possível observar que a totalidade dos ativos operacionais de curto prazo não está coberta pelos passivos operacionais de curto prazo. Assim, podemos definir que a empresa possui necessidade de capital de giro (NCG). A NCG representa o montante de investimentos em ativos de operacionais de curto prazo (AOCP) não cobertos por passivos operacionais de curto prazo (POCP), ou seja, o montante de dinheiro que a empresa precisa para financiar as suas operações por determinado período. A fórmula do NCG é: NCG = AOCP – POCP Ou NCG = ACO (ativo circulante operacional) – PCO (passivo circulante operacional) Para uma compreensão mais simplificada, podemos reclassificar os ativos e os passivos cir- culantes em operacionais ou financeiros. ■ Ativos ou passivos operacionais – a totalidade dos ativos e passivos que apresentam relações diretas com os prazos, assim como elementos que tragam fontes naturais de financiamento para operação. Exemplos: ativos: contas a receber, estoque, impostos a recuperar; passivos: fornecedores, salários, impostos a pagar, contas a pagar. ■ Ativos ou passivos financeiros – a totalidade dos ativos e passivos que são dinheiro propriamente dito (caixa e aplicações financeiras) ou apresentam relação com os re- sultados da operação, possuem ônus (pagamento de juros, tal como financiamento e empréstimos) e não podem ser classificados como operacionais (conta outros). Alexandre Realce Alexandre Realce Alexandre þÿ Alexandre þÿ Alexandre þÿ 54 DIAGNÓSTICO FINANCEIRO DE CURTO PRAZO Com a separação dos itens, é possível analisar se a NCG está sendo coberta por recursos onerosos ou não onerosos por meio do resultado obtido com a fórmula. Nesse caso, toda vez que o resultado for maior que 0, os recursos utilizados para financiar os ACO (AOCP) são de origem onerosa; caso contrário, sendo o NCG negativo, o PCO (POCP) é que é responsável pelo financiamento dos outros ativos, ou seja, recursos não onerosos. NCG > 0, recursos (onerosos) para financiar o ACO NCG < 0, PCO (não onerosos) financiando outros ativos NCG = 0, zero de financiamento para ACO ACO PCO PCO ACO ACO PCO NA PRÁTICA Nocaso da Jonsons e Silva S.A., para ver o montante de recursos que precisaram ser aplicados em capital de giro, realizamos os cálculos da NCG e encontramos os se- guintes resultados: 0002 0001 0000 NCG R$ 920.000 R$ 747.000 R$ 650.000 É possível observar um aumento da NCG, o que corrobora as análises anteriores, em que já observamos que a empresa está perdendo liquidez, tem apresentado renta- bilidade decrescente, o CGL tem mostrado decréscimo, além de uma CF crescente, o que provoca uma maior necessidade de investimento em capital de giro (NCG) com passivos onerosos. 55 DIAGNÓSTICO FINANCEIRO DE CURTO PRAZO UNIDADE 5 SALDO DE TESOURARIA E EFEITO TESOURA Para concluir o diagnóstico financeiro de uma operação com foco em capital de giro, é ne- cessário medir o risco de curto prazo da empresa, utilizando o saldo de tesouraria (ST). Separadas as contas de natureza operacional que compõem a NCG, as demais contas do ati- vo e passivo circulante são denominadas de financeiras, ou contas de tesouraria. A diferença entre essas contas é o que define o ST. Assim, a fórmula mais clássica do ST é: ST = AFC (ativo financeiro circulante) – PFC (passivo financeiro circulante) No entanto, por ser uma medida de risco de curto prazo, o ST tende a ser um número mais completo, podendo ser calculado por outras formas e tendo em sua estrutura o fechamento das demais fórmulas básicas de capital de giro. Assim, podemos calcular o ST por meio do CGL e do NCG na seguinte fórmula: ST = CGL – NCG Isso ocorre porque o CGL é a subtração do AC pelo PC e o NCG é a subtração dos AOCP pelos POCP, restando apenas o AFC e os PFC. Em imagem, podemos definir que: ACO CGL NCG STST ST PCO AC PC- - - - - - = = = = == Como análise, é possível observarmos o seguinte: Toda vez que o ST é positivo possuindo um NCG positivo, podemos afirmar que as opera- ções são financiadas por elementos de longo prazo. ACO CGL NCG ST PCO ACF PCF AC ACF PCF PCOACO AF D+S LP PC 600 150 140 10 450 540 400 60 50 - - - = = = = = = Alexandre þÿ Alexandre þÿ Alexandre þÿ Alexandre þÿ Alexandre þÿ 56 DIAGNÓSTICO FINANCEIRO DE CURTO PRAZO Toda vez que o ST é positivo possuindo um NCG negativo, afirma-se que as operações são financiadas por passivos circulantes operacionais. ACO CGL NCG ST PCO ACF PCF AC ACF PCF PCOACO AF D+S LP PC 600 (150) (160) 10 750 540 700 60 50 - - - = = = = = = Toda vez que o ST é negativo, podemos afirmar que as operações estão sendo financiadas por passivos financeiros de curto prazo (dividas onerosas de curto prazo). ACO CGL NCG ST PCO ACF PCF AC ACF PCF PCOACO AF D+S LP PC 600 (150) 140 (290) 750 540 400 60 350 - - - = = = = = = Também é possível observarmos que, em caso de manutenção de ST negativo por um perí- odo de tempo, ou seja, um ST cronicamente negativo, isso indica que a empresa corre risco de insolvência (falência). Outro elemento que podemos observar por meio do ST é o efeito tesoura. Efeito tesoura Segundo Vieira (2008), o efeito tesoura é um efeito gráfico que representa uma evolução das contas operacionais comparativamente aos elementos de financiamento da empresa. Assim, aumento de receitas e mudanças nas políticas de curto prazo podem provocar o crescimento das necessidades de investimento de capital de giro, que, por sua vez, reduzirá o saldo de tesouraria, obrigando a empresa a procurar novas fontes de financiamento, nor- malmente advindas de dívidas de curto prazo. Alexandre þÿ Alexandre þÿ Alexandre þÿ 57 DIAGNÓSTICO FINANCEIRO DE CURTO PRAZO Graficamente podemos definir o efeito tesoura da seguinte forma: CDG Receita ST < 0 ST > 0 CGL (AC - PC) NCG (ACO - PCO) Limites de crédito Na prática, o que ocorre é uma incapacidade da empresa de operar com a sua própria capa- cidade de financiamento, ou seja, há um descontrole na atividade, dependente de emprés- timos de curto prazo para subsistir. Com a identificação do efeito tesoura, fica como questão como evitá-lo ou como corrigir as operações para se encontrar um equilíbrio e permitir uma folga financeira adequadas aos negócios. Entre as possibilidades de correção, é possível sugerir: ■ redução da necessidade de capital de giro (reduzindo prazo médio de recebimento e prazo médio de estoque ou aumentando o prazo médio de compras); ■ captação de recursos financeiros de longo prazo; ■ captação de recursos financeiros de curto prazo com taxas inferiores ao retorno obtido; ■ liquidação de ativos fixos para capitalização da empresa; ■ redução das vendas (mais drástico). Alexandre þÿ 58 DIAGNÓSTICO FINANCEIRO DE CURTO PRAZO NA PRÁTICA Já observamos que a Jonsons e Silva S.A., em virtude da compra de um concorrente de mercado, apresentou no ano 0002 resultados bastante ruins na visão de capital de giro, mas será que esses resultados foram suficientemente ruins para provocar um efeito tesoura? Será que a empresa está operando acima de sua capacidade de financiamento? Para responder ao questionamento, realizamos os cálculos do ST e encontramos: 0002 0001 0000 CGL R$ 773.000 R$ 1.054.000 R$ 972.000 NCG R$ 920.000 R$ 747.000 R$ 650.000 ST R$ -147.000 R$ 307.000 R$ 322.000 Graficamente, temos: ST - 0002 0001 747.000773.000 920.000 1.054.000 972.000 650.000 0000 CGL NCG Por meio do gráfico, podemos afirmar que a Jonsons e Silva S.A. apresenta um pri- meiro estágio de efeito tesoura, com um saldo de tesouraria negativo no ano 0002. 59 DIAGNÓSTICO FINANCEIRO DE CURTO PRAZO ? VOCÊ SABIA? Uma empresa pode quebrar por excesso de vendas? Resposta: Sim. O excesso de vendas sem planejamento pode provocar um aumen- to descontrolado da NCG que por sua vez provocará um ST negativo, obrigando o empresário a conseguir fontes de financiamento de curto prazo, normalmente mais onerosas que as de longo prazo. RESUMO Neste módulo, vimos as métricas de análise mais elementares, como a análise horizontal e vertical. Essas técnicas nos ajudam a encontrar questionamentos na estrutura financeira apresentada pelos demonstrativos contábeis. Após analisarmos essas técnicas elementares, aprofundamos nossos conhecimentos sobre análise dos demonstrativos pelos índices de rentabilidade, margens e giro do ativo, que re- presentam a situação econômica da empresa, e sobre análise de insolvência com o ICJ e IDT. Assim, verificamos se a empresa tem capacidade de manter os resultados obtidos e se não existe superendividamento, o que inviabilizaria a operação. Depois, seguimos para uma análise mais de curto prazo apresentando o capital de giro em uma visão clássica, que representa a totalidade dos ativos circulantes e trabalhamos o capi- tal de giro líquido (CGL), que pode ser considerado o excedente do capital de giro financiado pelas fontes de longo prazo da empresa, quando apresenta seu resultado positivo. Do CGL, partimos para a análise da situação financeira, que corresponde ao estudo dos ín- dices de liquidez, da análise dos prazos (PMR, PME e PMP) e dos ciclos (CO e CF), podendo compreender, de forma mais assertiva, se a empresa apresenta resultados de curto prazo adequados à sobrevivência ou se está com dificuldades de honrar suas obrigações. Ao falarmos dos prazos, aproveitamos para apontar seus efeitos nas políticas de financia- mento, impactando, assim, na necessidade de capital de giro (NCG), que vem a ser o mon- tante de recursos necessários para a manutenção das atividades operacionais. Alexandre þÿ 60 DIAGNÓSTICO FINANCEIRO DE CURTO PRAZO Para finalizar o módulo, apresentamos o saldo de tesouraria (ST), que representa o
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