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Escola Clássica da Criminologia

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Estudar criminologia significa, em última análise, estudar as Escolas Criminológicas.
1.Escola Clássica da Criminologia
A Escola Clássica da Criminologia teve em CesareBeccaria (1738-1794) sua maior e principal referência e seu maior e principal expoente. 
Para estudar a Escola Clássica, precisamos nos situar historicamente dentro do contexto em que a Escola Clássica se coloca, ou seja, a Escola Clássica se insere dentro de um contexto histórico em que antes existia a ideia dominante dos SUPLÍCIOS MEDIEVAIS como pena principal aos crimes cometidos. 
Antes da implementação da Escola Clássica, havia no seio da sociedade medieval, como principal forma de punição, os suplícios medievais. 
E diferentemente do que possa parecer, os suplícios medievais não tinha um modo desenfreado de fazer sofrer, pois obedecia, ao que poderíamos dizer, a uma “matemática” da dor. 
Tinha, por assim dizer, toda uma ritualística em torno da qual os suplícios se estruturavam. 
Os suplícios medievais faziam parte de uma “teatralidade”, de uma “encenação”, de uma “coreografia” da dor, do sofrimento e da tortura, que eram ostentado ao público para um “deleite cartático” daquele povo, sedento por sangue, sedento por sofrimento. 
Então, diferentemente do que se possa imaginar em um primeiro momento os suplícios medievais não era uma forma desenfreada de se fazer sofrer. 
Não, não, eles eram calculados aritmética e milimetricamente, para estabelecer a forma de como eram executados os suplícios. 
Cada um daqueles “personagens” dentro daquele “teatro” social tinha um papel importante, próprio: o supliciado, o carrasco, o Estado, a multidão que assistia ao “espetáculo”. 
Enfim, todos ali envolvidos faziam parte e participavam ativamente daquele tipo de punição, daquele “código jurídico” da dor. 
Em outras palavras, os suplícios para aquele contexto histórico medieval tinham determinadas funções: 
a primeira delas era a “função divina”, que era antecipar o castigo divino a que o indivíduo se submeteria depois de ter praticado o crime; 
a segunda função era a “função política”, ou seja, reafirmar a soberania do Estado que havia sido momentaneamente estremecida pelo crime; 
e por último a “função militar” do suplício, isto é, que consistia em subjugar o criminoso a uma condição de inferioridade perante o Estado, mostrando para o povo que o Estado era soberano, superior e poderoso, que o “Príncipe” não cedia ao fenômeno do crime. 
Havia também uma justificativa para os suplícios, porque num primeiro momento pode se afigurar um tanto quanto controverso para o Estado mostrar a sua soberania por meio dos suplícios para determinadas pessoas. 
E o Estado justificava estes suplícios afirmando que a repugnância não era do suplício em si, mas sim do crime e do criminoso. 
Então, tudo que o Estado fazia era refletir essa repugnância não no castigo infringido, mas no crime e no criminoso. Era que como se apresentasse um espelho ao criminoso e a repugnância era refletida contra ele e não contra os suplícios. 
Ainda dentro desse contexto medieval, desse contexto histórico, desse contexto histórico e político, existia ainda a questão da TORTURA. 
Ela tinha uma natureza jurídica híbrida, ambígua, dual, ou seja, servia tanto quanto MEIO DE PROVA, quanto como MEIO DE PUNIÇÃO, COMO PENA. 
Entretanto, numa determinada altura histórica, começou a haver um “medo político” (Michel Foucault usa essa expressão) das ambiguidades desse ritual, porque o povo que assistia a esse ritual se compadecia diante do sofrimento do supliciado. 
O povo muitas vezes se solidarizava com o sofrimento do supliciado, de modo que, não raras vezes, a multidão invadia o cadafalso, afastava o condenado do castigo e matava o carrasco, fazendo com que aquela ritualística, aquela liturgia, fosse quebrada, interrompida, ou seja, a população executava o carrasco para salvar o supliciado, que era, às vezes, considerado um mártir, um herói e, portanto, era dignificado pela massa popular. 
Dessa forma, diante desse medo político que as ambiguidades que essa forma de punição (a tortura) traziam dentro de si, o Estado houve por bem abolir os suplícios. Historicamente, portanto, esse era o contexto em que se insere a Escola Clássica da Criminologia, muito bem representada por CesareBonesana ou Marques de Beccaria e muito bem retratada por Michel Foucault em seu livro “Vigiar e Punir”.
Pois bem, diante desse “medo político” que o Estado passou a ter diante das ambiguidades geradas pelo espetáculo do suplício, surgiu a necessidade de se mitigar as penas, de se humanizar as penas. 
Daí nasce então a Escola Clássica da Criminologia. 
A ideia Iluminista de se humanizar as penas. 
Michel Foucault, de uma forma até certo ponto irônica, usa o conceito de “HUMANIZAÇÃO” (entre aspas), pois é uma “humanização” muito conveniente, de ocasião, oportuna, porque se tratou de humanizar as penas justamente nesse momento histórico em que os suplícios entram em decadência, em crise, em virtude principalmente da intervenção da massa popular que assistia àqueles espetáculos.
I – Introdução ao estudo da Criminologia.
1.                  Conceito. Nomenclatura.
A Criminologia está diretamente relacionada ao Direito Penal. Inegável que ambos possuem o mesmo objeto de estudo, o crime; porém o abordam sob ângulos diferentes. É o Direito Penal, ciência normativa, enquanto a Criminologia se trata de ciência causal-explicativa. O primeiro estabelece condutas vedadas, sob a cominação abstrata de uma pena; a segunda, por sua vez, busca observar cada conduta de infração da lei penal enquanto fenômeno humano, biopsicosocial, observando a criminalidade como um todo também, e através do domínio cognitivo sobre as motivações do crime, encontrar sua melhor profilaxia, na tentativa de debelar a criminalidade, bem como tem por finalidade o estudo dos meios mais eficazes de intervenção na personalidade do delinqüente,reabilitando-o ao convívio social, tudo sem perder de vista a figura da vítima, quer como personagem também principal no cenário do delito, quer como e quando mediante seu comportamento, aparece como fator delitógeno coadjuvante (comportamento vitimizante), e bem ainda sob o ponto de vista da necessidade de recomposição ou minimização dos danos ( materiais, morais) que o delito lhe impõe.
Etimologicamente, o termo criminologia possui derivação mista : latim crimen (delito) + grego logos (tratado). Garófalo apresenta o termo criminologia com a constituição seguinte: latina crimino(de crimen – criminis) + grega log(o) + ia.
Eis alguns dos conceitos da Criminologia, elaborados por consagrados estudiosos da matéria:
“É o estudo experimental do fenômeno do crime, para pesquisar-lhe a etiologia e tentar a sua debelação por meios preventivos ou curativos”. ( Nelson Hungria).
“Uma ciência pré-jurídica; a sua matéria de estudo é o homem, o seu viver social, as suas ações, toda a sua evolução, como espécie e como indivíduo. Ela pretende ser uma ciência de informação, manifestando-se sobre as causas (conhecidas ou a pesquisar) e os efeitos ( próximos ou remotos) das ações anti-sociais; e pretende chegar lá através das ciências do homem, da Antropologia lato sensu, em sua maior amplitude, que se dilatará como o próprio desenvolvimento dos acervos científicos acumulados”.(Hilário Veiga de Carvalho)[iii].
“A Criminologia como ciência independente, natural(humana) e social, com objeto, método e fins próprios na análise científica da problemática geral da criminalidade, do fenômeno delituoso, numa visão superior que não a confunde com outras ciências que acidentalmente ou secundariamente – e não primacialmente ou propriamente por seu objeto- também estudam a delinqüência. A Criminologia é etiologia criminal ( estudo das causas do delito), é dinâmica criminal ( estudo do processus delituoso em suas formas – motivação, exteriorização, etc.), servindo para a prevenção da criminalidade e o tratamento dos criminosos, sendo indispensável para o Direito Penal e a Política Criminal”. (Roque de BritoAlves)
“Criminologia é um conjunto de conhecimentos que estudam o fenômeno e as causas da criminalidade, a personalidade do delinqüente, sua conduta delituosa e a maneira de ressocializá-lo”. ( Edwin H. Sutherland).
“Criminologia é a ciência que estuda o fenômeno criminal, a vítima, as determinantes endógenas e exógenas, que isolada ou cumulativamente atuam sobre a pessoa e a conduta do delinqüente, e os meios labor-terapêuticos ou pedagógicos de reintegrá-lo ao grupamento social”. ( Newton Fernandes; Valter Fernandes).
Destarte, apresentando-se a Criminologia, como a ciência que se dedica ao estudo do crime enquanto fenômeno humano e social, investigando seus fatores geradores e da criminalidade como um todo, buscando analisar o ser humano delinqüente, assim como a vítima, trata-se de ciência causal-explicativa, que busca, no domínio fenomenológico do delito, encontrar propostas para o eficiente combate à criminalidade, bem como para o tratamento e ressocialização do delinqüente.
No concernente à nomenclatura, Afrânio Peixoto chegou a tecer críticas, sugerindo que fosse a epigrafada disciplina, denominada de CRIMINOGRAFIA, ao invés de CRIMINOLOGIA, justificando que “a grafia vem antes do conhecimento, como em muitos outros ramos do saber, e ainda hoje se faz. Os nossos estudos, até agora, seriam antes de criminografia- caracteres, classificação, costumes, gíria, hábitos, aparências, sistemáticas…dos criminosos e, portanto, grafia ou descrição deles”[vii]. Entretanto, como se busca não somente descrever, mas compreender e explicar esse verdadeiro sistema fenomenológico que precede e enseja o crime, preferível a adoção da denominação mundialmente consagrada, e hoje já sem oposição, qual seja CRIMINOLOGIA.
Trocando em miúdos,e visando a compreensão do publico leito leigo em Direito, é importante concluir que, enquanto o Direito Penal enumera e define, ou seja prevê as condutas que serão consideradas criminosas e atribui ao seu autor  a aplicaç~çao de uma pena (exemplo: aqui se estabelece que matar alguém é crime e que o autor desse crime de homicídio sofrerá pena de 6 a 20 anos de reclusão , se na sua forma simples, ou de 12 a 30 anos de reclusão se na sua forma qualificada-art. 121 do Código Penal), a Criminologia objetiva estudar as causas do delito, seus métodos de prevenç~çao e modos de recuperação do criminoso (ou seja , como exemplo, que fatores contribuem poara que o ser humano venha a matar outro ser humano, como combater esses fatores para evitar novos delitos de homicídio e como intervir na personalidade desse criminoso através da pena para que ele não volte a matar). Aplicando-se esse objetico a qualquer espécie de criminalidade.

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