Buscar

desvendando os mistérios dos porqês

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

DESVENDANDO OS MISTÉRIOS DOS “PORQUÊS”
 Gleris Suhett Fontella
	
	As anotações que ora nos propomos a fazer acerca dos “porquês” são fruto de pesquisas e reflexões sistemáticas em busca de detalhes esclarecedores que venham facilitar o entendimento dos alunos a respeito de mais esse ponto, considerado por muitos um dos nós da ortografia portuguesa. 
	Por mais que os usuários e teóricos entusiastas da língua queiram negar a afirmação geral de que “a língua portuguesa é muito difícil”, em alguns casos, temos de nos render às suas complexidades e concordar com o poeta Carlos Drummond de Andrade, quando diz, no poema Aula de Português, que “o português são dois: o outro... mistério...”
	Supomos que essa face misteriosa aludida pelo poeta refere-se à modalidade escrita da língua, em seus vários aspectos: seja ortográfico, fonético-fonológico, morfológico, sintático, semântico ou lexical, devido à riqueza expressional de nosso idioma. 
	Tomemos como exemplo o vocábulo porque/porquê e a expressão que lhe homônima homofônica por que/ por quê. 
	Não se tem notícia de que algum usuário da língua tenha se deparado com qualquer dificuldade no momento de utilizá-los em seus enunciados orais. Entretanto, no momento em que se faz necessária a expressão escrita, vemos até os mais cuidadosos, em alguns casos, pararem, refletirem e, por fim, manifestarem também suas dúvidas acerca de algumas dessas representações, embora quase todos aprendam, desde as primeiras séries do ensino fundamental que a expressão “por que”é a aplicada nas perguntas, enquanto o vocábulo “porque” refere-se às respostas. 
	No entanto, há de se convir que o entendimento desse assunto não se resolve dessa maneira tão simplista. Essa distinção limita-se ao recurso didático aplicado aos iniciantes da aprendizagem da escrita, devendo, pois, ser ampliado gradativamente até se chegar ao domínio pleno não só da questão ortográfica, como também ao entendimento acerca da identidade gramatical de cada expressão, a fim de que seu emprego seja acompanhado do conhecimento consciente que poderá elucidar quaisquer possíveis dúvidas. 
	Passemos, pois, à análise das expressões em pauta:
	Inicialmente, diríamos que a análise se fará em torno das cinco expressões: por que/por quê; por que; porque e porquê. 
	Em se tratando do par por que/ por quê, temos aí a expressão interrogativa, constituída morfologicamente da preposição “por” mais o pronome interrogativo “que” átono, ou “quê” tônico, respectivamente. 
	No primeiro caso, a expressão apresenta-se no sintagma oracional em posição inicial ou medial, não seguida por qualquer sinal de pontuação, indicador de qualquer pausa. Logo, sua pronúncia se faz num continuum sonoro, no qual se identifica a sequência sonora [ki], por ser átona. Exemplo.: Por que você não veio à festa? [ puRkivosenãwveiuafesta?]. No segundo caso, embora as gramáticas do português sejam praticamente unânimes em afirmar que essa expressão só ocorre em final de frase, como no exemplo “Você não veio à festa por quê?, chamamos a atenção para o fato de que, no caso de a construção sintática apresentar um termo intercalado, entre duas vírgulas, como um vocativo, por exemplo, a expressão poderá aparecer no início ou no meio do sintagma, seguida de uma vírgula, logo a pronúncia do “que” se fará tônica. Atente-se, pois, para os exemplos: Por quê, Pedro, você não veio à festa? [puRkê pedru vose nãwveiuafesta?], em frase interrogativa direta, ou ainda: Gostaria de saber por quê, Pedro, você não veio à festa., em frase interrogativa indireta. 
	Esclarecidos, pois, esses aspectos fonético- sintáticos, restam ainda outros aspectos sintáticos, semânticos ou lexicais que podem auxiliar o escrevente na elucidação de suas dúvidas. 
	Resta, entretanto, talvez o maior entrave quanto ao uso dessa expressão interrogativa. Trata-se do entendimento, talvez nunca abordado na escola, de que as orações interrogativas podem ser Diretas ou Indiretas. No primeiro caso, o usuário da língua não terá a menor dificuldade, uma vez que essas orações apresentam, na fala, a entoação ascendente-descendente, e, na escrita, tal entoação é registrada pelo ponto de interrogação final, em português. Torna-se, pois, fácil identificar que se trata de uma pergunta. Entretanto, no segundo caso, embora interrogativa, a oração apresenta, na fala, a entoação semelhante à das frases declarativas, numa sequência sonora quase linear, ressalvadas as elevações de intensidade características da intensidade das sílabas tônicas e subtônicas dos vocábulos que a compõem. 
	Para facilitar, os professores propõem alguns “macetes” que permitem ao estudante ficar mais atento e driblar as dificuldades aí apresentadas. Vejamos:
	Se a expressão por que/por quê vier seguida de um substantivo, basta substituí-la pela expressão equivalente “por qual”. Exemplo: Por que time você torce? Por qual time você torce? Gostaria de saber por que time você torce. Gostaria de saber por qual time você torce.
	Se a expressão em tela não vier seguida de um substantivo explícito, verifique se lhe cabe o acréscimo do vocábulo “motivo”. Exemplo: Por que você faltou à aula? Por que (+ motivo) você faltou à aula? Igualmente ocorrerá nas interrogativas indiretas. 
	Passemos agora ao segundo “por que”. Essa expressão é formada pela preposição “por” mais o pronome relativo “que”. Logo, trata-se de uma expressão relativa, cujo segundo elemento retoma o substantivo que a antecede, haja vista que é essa a função do pronome relativo. Vejamos o exemplo: As razões por que faltei são justas. 
	Neste caso, o “macete” será a substituição da expressão "por que" pela expressão equivalente pelo qual, ou flexões, uma vez que o pronome relativo “que” equivale a "o qual, a qual, os quais e as quais". Tal substituição resultará na seguinte frase: As razões pelas quais faltei são justas. 
	Quanto ao vocábulo “porque”, este trata-se da conjunção que pode ser coordenativa explicativa ou subordinativa adverbial causal, uma vez que introduz orações com os valores semânticos de explicação ou de causa, respectivamente. Em ambos os casos, o vocábulo poderá ser substituído pelo seu equivalente “pois”. 
	E por fim, temos o “porquê” referente à conjunção acima citada que, pelo processo de Derivação Imprópria, assume o status de substantivo pela anteposição de um termo que normalmente o acompanha, a saber: um artigo, um numeral, um adjetivo ou um pronome adjetivo. Embora nossas gramáticas refiram-se apenas à anteposição do artigo à conjunção substantivada, nada impede que venhamos nos deparar com frases do tipo: Havia muitos porquês por trás da renúncia de Collor; Existem dois porquês para a minha partida; A demissão do chefe foi motivada por um grande porquê. Como recurso facilitador, os professores costumam recomendar aos alunos que substituam esse porquê pelo vocábulo motivo. 
	Esperamos que essas anotações tenham cumprido o papel a que nos propomos, de trazer alguns esclarecimentos sobre mais esse percalço, considerados por muitos, de nossa ortografia.

Outros materiais