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CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE MINAS GERAIS CIÊNCIA DOS MATERIAIS ENGENHARIA DE PRODUÇÃO CIVIL / 4º PERÍODO AULA PRÁTICA ENSAIOS MECÂNICOS DE TRAÇÃO EM BARRAS DE AÇO Ana Luiza Gomes Madureira – Grupo 02 BELO HORIZONTE, 01 DE MAIO DE 2015. 1.1 – Introdução Um ensaio mecânico tem a finalidade de prever o real desempenho mecânico de um material, fornecendo parâmetros essenciais para a caracterização e especificação dos materiais. Os ensaios mecânicos mais comuns são os de compressão e os de tração. O ensaio de tração consiste, basicamente, em tracionar uma amostra (corpo de prova) até a sua ruptura ou até um determinado nível de deformação, gerando uma curva de carregamento capaz de fornecer diversos parâmetros mecânicos. Entre eles, tem-se: Módulo de Elasticidade (E): Parâmetro que mede a rigidez do material, ou seja, o quanto o material é resistente à deformação. Pela Lei de Hooke, 𝜎 = 𝐸. ɛ Tensão de escoamento (σe): É o valor de tensão a partir do qual as deformações reversíveis se tornam permanentes, o que caracteriza a transição entre o regime elástico e plástico. Resistência à tração (σu): É o valor máximo de tensão obtido na curva de carregamento. Deformação na ruptura (εf): É o parâmetro de ductilidade correspondente à deformação acumulada pelo material até o momento da falha. Resiliência (Ur): É a energia absorvida na fase elástica. Na curva de carregamento, corresponde à área abaixo da curva no trecho que corresponde à fase elástica, isto é, área de um triângulo com vértices correspondentes à origem, tensão de escoamento (σe) e deformação de escoamento (εe) . 1.2 - Objetivo Determinar os parâmetros mecânicos do aço utilizado baseado em dois ensaios de tração, em que um deles faz uso de um dispositivo, denominado clip-gauge, diferenciando as duas curvas de carregamento obtidas. Logo após, comparar os valores obtidos e discutir a respeito da influência do uso do clip-gauge sob os resultados. 1.3 – Material utilizado Computador com interface para registrar ponto a ponto os valores de carga aplicada e alongamento da barra Paquímetro Máquina universal de ensaios mecânicos Dois corpos de prova - barras de aço estrutural cilíndricas Extensômetro do tipo “clip-gauge”. 1.4 – Parte experimental O experimento feito no laboratório próprio para a realização de ensaios mecânicos se dividiu em duas partes: Inicialmente, utilizou-se uma barra de aço como corpo de prova para realizar o ensaio de tração em uma Máquina universal de ensaios mecânicos, alongando a amostra até a sua ruptura. O comprimento inicial da amostra utilizado para os cálculos é dado pela dimensão do corpo de prova que se localiza no espaço entre os mordentes. Além disso, o diâmetro da barra também pôde ser medido através de um paquímetro. Para esse corpo de prova, 𝑙0 = 98,00 𝑚𝑚 e 𝑑0 = 10,03 𝑚𝑚. Durante o ensaio, houve um controle de deslocamento, em que a velocidade vertical do travessão da máquina era constante e igual a 5 mm/min. Para a obtenção da curva da primeira parte do ensaio, considerou-se que o alongamento do corpo de prova é igual ao deslocamento do travessão. Na segunda parte do ensaio, um corpo de prova de mesmo material e diâmetro foi tracionado até pouco antes de sua ruptura a fim de preservar o dispositivo, denominado clip- gauge, acoplado ao corpo de prova. O objetivo do acessório é considerar o deslocamento ocorrido apenas entre dois pontos do corpo de prova, desconsiderando os movimentos do travessão provenientes do escorregamento da peça. Neste caso, o comprimento inicial a ser considerado deve ser a dimensão da peça que estará fixa entre as extremidades do clip-gauge. Portanto, 𝑙0 = 25,00 𝑚𝑚. 1.5 – Resultados dos ensaios A partir dos gráficos gerados durante cada ensaio mecânico, é possível determinar diversos parâmetros para comparar a influência das duas configurações sobre os resultados obtidos. 1) Ensaio mecânico com ruptura: Inicialmente, a curva obtida através da interface com o computador relaciona as variáveis ‘força’ e ‘alongamento’, medidas, respectivamente, em Newtons e milímetros: Gráfico 1: Força (N) x Alongamento (mm) para o corpo de prova que sofreu a ruptura 0 10000 20000 30000 40000 50000 60000 70000 0 5 10 15 20 25 fo rç a (N ) alongamento (mm) Para realizar uma análise inicial dos pontos registrados no gráfico, é necessário transformar a curva de alongamento (mm) x força (N) para uma de tensão (Mpa) x deformação utilizada na engenharia. Para isso, temos que dividir os valores de força pela área da seção transversal do aço e os alongamentos pelo comprimento inicial considerado na barra, que já foi determinado anteriormente. Portanto, o cálculo da área da seção transversal inicial é o que falta para obtermos a curva de carregamento de engenharia necessária para encontrar os parâmetros mecânicos do material, sem distorções devido à influência da geometria da peça. 𝐴0 = 𝜋. (0,01003) 2. 1 4 = 7,9012𝑥10−5𝑚2 = 79,01 𝑚𝑚2 Após as devidas transformações, obtêm-se o gráfico 2: Gráfico 2: Tensão (Mpa) x Deformação para o corpo de prova que sofreu a ruptura Parâmetros mecânicos: Módulo de elasticidade, E: Gráfico 3: Tensão (MPa) x Deformação ao longo da reta que define a fase elástica -100 0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25 T e n s ã o ( M p a ) Deformação y = 13900x - 626,56 0 100 200 300 400 500 600 0 0,02 0,04 0,06 0,08 0,1 T e n s ã o ( M p a ) Deformação Regime elástico do aço durante a tração Através do coeficiente angular da reta que define a fase elástica, é possível determinar o módulo de elasticidade. Logo, E = 13900 Mpa = 13,9 Gpa Tensão de escoamento, 𝝈𝒆: Através de uma análise visual do gráfico, sabe-se que a tensão de escoamento, ou seja, o valor limite de tensão em que o material deixa o regime elástico para entrar no regime plástico, pode ser estimado em: 𝜎𝑒 = 540 𝑀𝑝𝑎 Resistência à tração, 𝝈𝒖: Sabe-se que a resistência à tração do material aparece na curva de carregamento como sendo a tensão máxima do gráfico. Analisando o gráfico 1, estima-se que: 𝜎𝑢 = 807 𝑀𝑝𝑎 Deformação na ruptura, ɛ𝒇: Como o ensaio é interrompido no momento em que o corpo de prova sofre a ruptura, sabe-se que a deformação na ruptura é a abscissa correspondente ao último ponto da curva. Sendo assim, pode-se estimar que: ɛ𝑓 = 0,236 Em outras palavras, o corpo de prova, no momento exatamente anterior à ruptura, deformou-se cerca de 23,6%, de acordo com os dados do gráfico 2. Resiliência, 𝑼𝒓: A resiliência, ou seja, a energia de deformação por unidade de volume absorvida pelo material na fase elástica é dada pela área do gráfico que está contida sob o regime elástico. Logo, 𝑈𝑟 = 1 2 . ɛ𝑒. 𝜎𝑒 Porém, sabe-se que, no regime elástico, a lei de Hooke é sempre válida. Portanto, ɛ𝑒 = 𝜎𝑒 𝐸⁄ . Logo, a resiliência também é dada por 𝑈𝑟 = 𝜎𝑒 2 2𝐸 ⁄ . 𝑈𝑟 = (540𝑥106𝑃𝑎)2 2. (13,9𝑥109𝑃𝑎) ⁄ 𝑈𝑟 = 10,5 𝐽 𝑚3 ⁄ 2) Ensaio mecânico com clip-gauge: Realizando um procedimento análogo ao do primeiro ensaio mecânico, tem-se, inicialmente, a curva força (N) x alongamento (mm) do ensaio mecânico de tração: Gráfico 4: Força (N) x Alongamento (mm) para o corpo de prova acoplado ao clip-gauge Para transformaro gráfico 4 em uma curva de carregamento utilizada na engenharia, os valores de força serão divididos pela mesma área da seção transversal do aço no ensaio em que ocorreu a ruptura, já que o diâmetro da barra é o mesmo. Já os alongamentos serão divididos pelo comprimento inicial considerado no clip-gauge, como discutido anteriormente. Logo, 𝐴0 = 79,01 𝑚𝑚 2 e 𝑙0 = 25,00 𝑚𝑚 Após as devidas transformações, obtêm-se o gráfico 5: Gráfico 5: Tensão (Mpa) x Deformação para o corpo de prova acoplado ao clip-gauge Parâmetros mecânicos: Módulo de elasticidade, E: Através do coeficiente angular da reta que define a fase elástica, é possível determinar o módulo de elasticidade: 0 10000 20000 30000 40000 50000 60000 -0,05 0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25 0,3 0,35 0,4 0,45 fo rç a (N ) alongamento (mm) 0 100 200 300 400 500 600 700 800 -0,005 0 0,005 0,01 0,015 0,02 T e n s ã o ( M P a ) Deformação Gráfico 6: Tensão (MPa) x Deformação ao longo da reta que define a fase elástica Portanto, E = 185759 Mpa = 185,8 Gpa Tensão de escoamento, 𝝈𝒆: Através de uma análise visual do gráfico, sabe-se que a tensão de escoamento, ou seja, o valor limite de tensão em que o material deixa o regime elástico para entrar no regime plástico, pode ser estimado em: 𝜎𝑒 = 520 𝑀𝑝𝑎 Resiliência, 𝑼𝒓: A resiliência, ou seja, a energia de deformação por unidade de volume absorvida pelo material na fase elástica é dada pela área do gráfico que está contida sob o regime elástico. Como detalhado anteriormente, sabe-se que a resiliência é dada por 𝑈𝑟 = 𝜎𝑒 2 2𝐸 ⁄ . Portanto, 𝑈𝑟 = (520𝑥106𝑃𝑎)2 2. (185,8𝑥109𝑃𝑎) ⁄ 𝑈𝑟 = 7,28 𝑥 10 5 𝐽 𝑚3 ⁄ 1.6 – Conclusão Os ensaios mecânicos de tração do aço foram realizados em duas condições diferentes, uma levando o corpo de prova à ruptura e outra encerrando o ensaio antes da ruptura, com o uso de um clip-gauge. Ao comparar os gráficos obtidos, principalmente em relação à escala dos eixos, percebe-se que o primeiro ensaio relatou um alongamento muito maior que o segundo. Também foi possível verificar que o primeiro ensaio extrapolou o valor real do alongamento, através de uma comparação entre o comprimento total da peça após a ruptura e outra amostra semelhante ao corpo de prova inicial. Isso ocorre porque, durante a tração, a y = 185759x + 137,99 0 100 200 300 400 500 0 0,0005 0,001 0,0015 0,002 T e n s ã o ( M p a ) Deformação Regime elástico - Com clip-gauge peça costuma escorregar entre os apoios, distorcendo os valores de alongamento medidos, já que estes consideram apenas o movimento do travessão. Já o segundo ensaio apresentou alongamentos significativamente menores, pois pôde obter uma medida mais precisa, desconsiderando os efeitos de escorregamento da peça. Assim sendo, a deformação no corpo de prova em cada ensaio, por ser diretamente dependente do alongamento medido, sofreu grandes variações, influenciando na medida do módulo de elasticidade do material, devido à sua relação com a lei de Hooke. Apesar da grande influência do uso do clip-gauge sob a deformação do material, o acessório não interfere nas medidas de força e, consequentemente, de tensões registradas. No primeiro ensaio, o módulo de elasticidade encontrado foi de 13,9 GPa e a resiliência foi 10,5 𝐽 𝑚3 ⁄ . Já com o uso do clip-gauge, o módulo de elasticidade foi 185,8 GPa e a resiliência foi 728.000 𝐽 𝑚3 ⁄ . A grande diferença entre os valores obtidos nos permite afirmar que o segundo ensaio apresentou resultados mais precisos e fiéis à realidade, pois o alongamento apontado pela curva é mais próximo ao verificado na prática e o módulo de elasticidade registrado é compatível com os valores conhecidos para um modelo de aço estrutural.
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