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DIREITO - PSICOLOGIA - PRIMEIRO SEMESTRE - O sujeito de direito e o aparato psíquico

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O sujeito de direito e o aparato psíquico: lei, comportamento história e inconsciente
 Lei, cultura e subjetividade
 Quando refletimos sobre o que nos faz humanos e sobre a importância do direito para isso, podemos constatar que o ser humano é imerso na cultura. Não somos simples animais, somos, como já dizia Aristóteles, animais sociais. Vivemos  em sociedade e somos, portanto, obrigados a atender a suas normas.   Sem exagero podemos dizer que as normas nos fazem humanos.  Mas, que normas são esses? Ora, normas não são necessariamente leis. Existem os costumes, existe a moral  e existem outras normas que nos obrigam a guardar os limites eu a cultura humana nos impõe.  Assim, o ser humano, desde que nasce, deve apreender  a falar. Toda cultura se expressa pela fala e pelo fato de que a criança, desde que nasce, é falada e deve apreender a decifrar as palavras que lhe são dirigidas. Não só isso. A criança vai apreender, aos poucos, a falar ao invés de agir.
Mais ainda, o fato de sermos como humanos seres da fala, nos confere uma identidade, no sentido jurídico e psíquico. Ter um nome  é fundamental para uma criança.  É um direito tão elementar que  nas mais diversas culturas há um rito para se dar um nome ao ser humano que acaba de nascer. O nome identifica a família à qual pertence e, numa sociedade patriarcal identifica o pertencimento ao pai.   “O nome de um homem,” diz Sigmund Freud em sua obra Totem e Tabu, “é o componente principal  de sua personalidade, talvez mesmo uma parte de sua alma.”[1] Ser humano significa receber os benesses da cultura, mas também seus limites.  Como juristas estudamos o conjunto de normas e princípios que formas os limites  de nosso ser como humanos. A questão como a cultura nos influencia na nossa maneira de pensar, sentir, agir e como, mais ainda, contribui para a constituição e o funcionamento de nosso aparato psíquico, é abordada pelas diversas teorias no campo do saber que constitui a psicologia.   Apresentamos, no que segue, três linhas teóricas  a respeito da psique humana que são bastante difundidas no Brasil,  o seja: o behaviorismo (Burrhus Frederic Skinner), a psicologia sócio-histórica (Lev Vygotsky) e a psicanálise (Sigmund Freud).
Burrhus Frederic Skinner e o comportamento como ponto de partida do estudo da psique:  behaviorismo
O estudo do comportamento (do inglês behavior) é o cerne de uma corrente na psicologia que estuda a psique  humana baseando-se num método  científico experimental.  A intensão de John B Watson, fundador do behaviorismo,  era dar à psicologia um estatuto de objetividade, separando-a da filosofia.  Objeto da psicologia é, portanto, o comportamento “entendido como interação entre indivíduo e ambiente”.[2] O cientista mais importante dessa escola da psicologia é Burrhus Frederic Skinner,  conhecido suas experiências sobre as possibilidades de modificação do comportamento.
O behaviorismo distingue o comportamento basicamente entre comportamento respondente e comportamento operante. Quem corta uma cebola e, consequentemente, chora, recebeu um estímulo que provocou um reflexo. Chorar cortando cebola é um comportamento não apreendido, reflexo ou  respondente .  Diferentemente, o comportamento operante provoca efeitos sobre o mundo em redor. Ele permite que o ambiente se modifique.  O comportamento operante visa o aprendizado, sobre tudo pela  satisfação. Embora as penas também modifiquem o comportamento, consideradas contraproducentes são pouco preconizadas.
Há, para os behavioristas, portanto,  a possibilidade de uma modificação do comportamento pela modificação cognitiva.  As terapias cognitivo-comportamentais identificam e corrigem certos padrões de pensamento para modificar o comportamento.  Algumas ações do indivíduo são mantidas ou não, de um lado, pelo reforço, e, de outro lado, pela punição. Os reforços podem ser primários (água, alimento, afeto) ou secundários (dinheiro, reconhecimento social).   Para a corrente behaviorista, a modificação do comportamento pela punição pode provocar a esquiva e a fuga.  Vale lembrar que, por essa razão, o behaviorismo, muito discutido e aplicado na educação, foi responsável pela abolição das penas vexatórias nas escolas dos Estados Unidos. O estudo do behaviorismo pode também contribuir para uma crítica do sistema penal.
Lev Vygotsky e a História 
Para o psicólogo russo Lev Vygotsky que viveu e atuou durante a  Revolução Russa, no início do século XX,   não há uma natureza humana.  A biologia de nosso corpo é superada pela cultura. Vivemos todos, portanto,  dentro de uma condição humana histórica e cultural que vai ser fundamental para nossa formação psíquica.  A cultura nos permite construirmos nossos  instrumentos de satisfação e nossa realidade psíquica é construída a partir da linguagem, é, portanto cultural.  Os animais não tem vida social e cultural, porque não vivem em sociedade e não falam.  No entanto, não há para Vygotsky uma só linguagem e uma só possibilidade do pensamento humano. Dependem da classe social, na qual vivemos,  e da situação histórica na qual nos encontramos. Consciência e comportamento são intimamente ligados e se inserem na história que está em constante transformação. Assim,  as mudanças  que cada um pode sofrer ou provocar na vida dependem de suas condições de vida. 
Há uma diferença, por exemplo, se vivemos numa comunidade abastada ou não.  As condições sociais são diferentes e, portanto,  também nossas condições culturais.  A transformação dessas condições depende de categorias que para a psicologia sócio histórica são fundamentais: 
Atividade. O ser humano  transforma o mundo ativamente.  Transformando o mundo, transforma a si mesmo.
Consciência.  A consciência representa a reflexão que o ser humano faz sobre a vida, enquanto ele a transforma.
Identidade. A identidade “reúne na consciência as ações, os projetos, as relações as noções e os julgamentos sobre si.”[3]
Relações sociais. Como foi dito acima, somos afetados pelas relações sociais. Seus símbolos e suas imagens contribuem para a formação e a transformação de nossa consciência.
Vale lembrar que a psicologia sócio histórica é a base teórica de inúmeros projetos culturais presentes na periferia das cidades brasileiras que visam,  pela ação cultural, transformar a consciência e o ambiente  principalmente dos jovens que moram nessas comunidades.
Sigmund Freud e o inconsciente
 Quando Sigmund Freud,  médico neurologista que praticava a medicina em Viena, na Austria, no final do século XIX, começou a atender seus primeiros pacientes, percebeu que estes  apresentavam sintomas para os quais a medicina não tinha explicação.  Pacientes com dores no corpo, falta de ar ou  comportamentos estranhos  o procuravam muitas vezes, quando não havia mais cura  pelos métodos convencionais da medicina.   Foi uma paciente de Joseph Breuer, seu amigo e supervisor, quem inventou o que ele chama de “método catártico”. O paciente fala ao médico de seus problemas e assim descobre a origem de seus sintomas  nos conflitos amorosos  de sua infância.
Primeira tópica
A partir de sua clínica, Freud descobre que nossos   amores e ódios reprimidos nos adoecem, porque não são vividos, mas sim, recalcados  no que  chama de inconsciente.    Nos primeiros anos a partir da descoberta do inconsciente , Freud  distingue entre a consciência, como percepção da realidade por imagens e símbolos e o inconsciente, lugar do  “recalque” de experiências traumáticas, desejos reprimidos e pulsões que buscam satisfação.  Esses  desejos reprimidos “voltam” do  inconsciente desfigurados para serem percebidos .  
Para Freud existem basicamente  quatro maneiras  como o inconsciente se manifesta, quatro formações do inconsciente:  Os sonhos, os atos falhos, os chistes e os sintomas.
Segunda tópica                                                                                       
Mais tarde, já no século XX,  Freud vai refinar  seu “mapa” do inconsciente, distinguindo entre o  “eu”,  lugar da  consciência, o id,  o inconsciente  e o “superego”,a instância moral  que reside tanto na consciência  quanto no inconsciente. O superego é o representante da autoridade paterna.   Formamos  o superego para  evitar desprazer , pois o recalque não é capaz de  manter nossos desejos recalcados  sob controle.   A segunda tópica de Freud e o  superego será objeto de outra aula. 
 Questão dissertativa: Como cada uma das três teorias apresentadas  sobre o aparato psíquico vê a relação do ser humano com a realidade? 
 [1] FREUD, S. Totem e Tabu. 1912-13) Obras completas. Vol. 13. Rio de Janeiro: Imago, 2006. Cap. IV. O retorno infantil do totemismo. Disponível em: <http://www.planonacionaldeleitura.gov.pt/clubedeleituras/upload/e_livros/clle000164.pdf>,   Acesso em 30.08.2012
 [2] BOCK, A.M.B., e.a.  Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 59.
[3] Bock, A.M.B., e.a.  Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 80
MÓDULO 2 - Família e cultura:  sexualidade   e  Complexo de Édipo 
Para o antropólogo Claude Levi-Strauss, a família é constitutiva para a sociedade humana. E, tendo um núcleo, a família permite uma rede de laços sociais assentados em trocas materiais e de mulheres e, a partir dessa mudança, vem a sobrevivência do ser humano como ser cultural. Daí deriva a importância social da proibição de incesto, pois  permite o estabelecimento dos laços socais, para além do grupo familiar baseada em diferenças sexuais. Assim, a proibição do incesto aparece como uma espécie de norma-mãe constitutiva para a convivência humana, garantida não somente pela força da lei, como também pela educação que os pais e as pessoas que se colocam no lugar dos pais dispensam aos filhos.  A educação contribui, assim, segundo Sigmund Freud, para a formação do que chama  de “Super Ego”, via identificação.
A família burguesa constitui o contexto histórico da psicanálise. Para Sigmund Freud o neurótico é personagem de um verdadeiro romance familiar que, não por coincidência, guarda uma semelhança com a tragédia Édipo Rei, escrita pelo dramaturgo grego Sófocles em torno de 427 a.C.
Édipo, o filho que, sem saber, mata o pai, torna-se marido da mãe e rei de Thebas, infringindo com seu ato incestuoso a lei que garante a estrutura social, biológica, política e familiar daquela sociedade, embaralhando a ordem e descobrindo a verdade. Por esse motivo sente uma culpa inconsciente que vai si tornar verdadeira sina da humanidade. O desejo pela mãe e o desejo da morte do pai geram no sujeito uma culpa tão insuportável que deve ser recalcada. Responsável pelo recalque do complexo de Édipo, cuja teoria perpassa a obra de Freud, é o Super-Ego.
Como o filho, diz Freud, não pode tomar o lugar do pai, mas, por outro lado deve identificar-se com ele, resolve esse conflito interno, mediante a criação de uma instância paterna  no inconsciente, o super-ego.   
Na teoria psicanalítica de Sigmund Freud, o pai é, portanto, uma figura central inscrita no inconsciente.  Ele representa a cultura que, por sua vez,  só é possível se há  a lei. Assim, enquanto Édipo vive o drama do assassinato do pai e adquire a consequente culpa por tê-lo matado como tragédia individual, os filhos assassinos do pai da horda – em Totem e Tabu –constroem a parir do ato assassino a cultura que tem , por assim dizer, como espinha dorsal a lei.
O assassinato do pai, possuidor de todas as mulheres, gera duas normas fundamentais: a proibição de matar o totem, o animal que é simbolicamente colocado no lugar do pai, e a proibição do incesto, a abstinência em relação a todas as mulheres do mesmo clan de irmãos.
Cientes do perigo que corre qualquer um quando se coloca no lugar do pai, os irmãos fazem um pacto: criam laços sociais a partir da lei que manda “ Não matarás”.. Em outras palavras, não há cultura sem essa renúncia convencionada pela sociedade dos “irmãos”. Não há sociedade sem o direito como uma das formas de regulação da renúncia civilizada, como escreve Freud na obra O mal estar na civilização.
A renúncia à satisfação das pulsões, exigida pela convivência em sociedade, tem um preço alto para o indivíduo. Gera a neurose que uns conseguem sublimar na cultura, criando ciência, arte, idéias, enquanto que outros, não. A repressão e o recalque que a cultura exige como preço da convivência podem ser a causa de agressões, de uma inimizade latente na sociedade.
Enquanto Freud construía a psicanálise centrada na figura do pai, a revolução do feminino transformava a sociedade do século XX. Sinal visível estava na moda lançada pelas mulheres que, após a Primeira Guerra Mundial, dispensaram o aperto do espartilho, inventaram o sutien e começaram, entre as duas grandes guerras, a administrar famílias, empresas e o Estado. Assim, aos poucos, o trabalho feminino vira a regra.
Com os novos e mais eficazes métodos de contracepção, conseguem separar o sexo da reprodução. E, emancipando-se, as mulheres desmancham a família patriarcal, usam as possibilidades do divórcio, questionam a autoridade paterna, enfim deixam a função do pai inócua.
Parte da função providencial do pai passa para o Estado do bem-estar social, não por acaso chamado de Estado Providência que, sobretudo, durante o século XX, é intermediário no pacto social entre o capital e o trabalho. Não é por acaso também que, por exemplo, no Brasil, o chefe de Estado Getúlio Vargas era chamado de “pai dos pobres”. Hoje, no Brasil, o Estado é “destinado a assegurar. [...] o bem-estar [...]”, como rege o Preâmbulo da Constituição Federal.
A revolução feminina do século XX culmina na já citada mudança cultural da pós-modernidade, consequência da própria modernidade. Em toda parte, o movimento da “destruição criativa”, característico para o capitalismo moderno, acentua-se na pós-modernidade (ou na hiper-modernidade). Ator da modernidade é o sujeito em busca de algo além de seu alcance, “além do princípio do prazer”, do “sujeito do gozo”.
Ator da pós-modernidade aquele que, diante da crise das grandes instituições sociais, do Estado, da família, da igreja, da empresa, está angustiado com a multiplicidade de possibilidades que a globalização lhe oferece.
A valorização da subjetividade na pósmodernidade está intimamente ligada a uma segunda revolução feminina. Para Simone de Beauvoir, autora de “O segundo sexo”, uma mulher não nasce, uma mulher se faz. A partir dessa constatação que se tornou um aforismo no fim do século XX, há uma separação entre o sexo feminino, ligado à corporeidade da mulher, e ogênero feminino, construído pela cultura estruturada pelo masculino. Essa distinção é significativa para a família, finalmente desvinculada da questão da procriação. Novas constelações familiares surgem a partir daí: o casamento e a família homossexuais, as redes familiares compostas por pais e filhos de várias uniões e a sucessão de pactos nupciais. Concomitantemente com o desenvolvimento das novas formas de se conviver em família, surge na psicanálise o questionamento do complexo de Édipo como princípio ordenador da família burguesa.
Em razão do fato de que nascemos prematuros, tanto para o menino, quanto para a menina, a mãe é o primeiro amor.  O menino logo vai perceber que ele tem na figura do pai um poderoso rival. Ele se sente impotente diante do pai, quando esta deixa claro que ele é o amante da mãe.  O menino é barrado em seu desejo sexual infantil que não pode realizar, porque existe a lei da proibição do incesto. Como é o pai quem instaura essa lei, declarando “essa mulher é minha!”, o menino odeia o pai inconscientemente. Édipo não sabe que o homem que matou era seu pai!
Paradoxalmente, o menino sente ódio pelo seu rival e ama  o pai por ser  seu o ideal.   Esse conflito que não se resolve é recalcado.  Permanece no inconsciente e volta nos sonhos, nos chistes, atos falhos e, principalmente nos sintomas psicopatológicos e também físicos.  A saída do  complexo de Édipo  para o menino é  crescer, passar pela adolescência, escolher uma mulher (uma que não é a mãe) e ser pai.
Para a meninao  Complexo de Édipo é mais complicado. Sigmund Freud diz que a menina, quando cresce, percebe-se castrada porque não tem o que têm o pai e o irmão: um pênis.   Sente-se castrada e culpa a mãe por esse “defeito” físico.  Tenta se aliar ao pai, porque este tem o que ela fantasia não ter e porque este “ter” implica poder.  Ela também vai, certo dia, ouvir “Sua mãe é minha mulher”, isto é, vai ser barrada em seu desejo incestuoso pelo pai.   Vai crescer, escolher seu amante e ter um filho que vai substituir o falo que ela tanto almeja.
Por isso, Jacques Lacan  vai mais além do Complexo de Édipo de Sigmund Freud, quando diz do desejo materno de manter a criança perto de si.  O pai, ou quem exerça  sua função,  desempenha o papel de separar o filho ou a filha da mãe.  Essa separação precisa ser simbolizada.   Ela é entendida como sendo uma lei, a lei da proibição do incesto, matriz de todas as leis.  Essa lei gera um mal estar.  Sigmund Freud tratou desse Mal estar na civilização, do Unbehagen in  der Kultur.   Como seres humanos só podemos sentir satisfação dentro da ordem cultural, respeitando  a lei. No entanto,  não nos permite a satisfação plena.  Para Jacques Lacan, a lei paterna cria a cultura, pela linguagem e a possibilidade do ser humano expressar o  “que ele pode dizer do seu desejo”. [1]  A função paterna de dar ao filho acesso ao mundo é exercida  não unicamente pelo pai , mas pela  própria cultura que exige, por exemplo, que a mãe volte ao trabalho depois da licença maternidade.
 Questão dissertativa: O Complexo de Édipo era tido durante muitos anos como chave de compreensão do inconsciente. Qual é o papel do pai nesse complexo? 
 [1] FORBES, J. Inconsciente e responsabilidade: psicanálise do século XXI. São Paulo: Manole, 2012., p. 39. 
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 MÓDULO: 3 - Freud, o Ego, o Id e o Superego: a tradição da moral e da Lei
 Para os estudiosos do direito talvez a parte mais interessante da psicanálise seja a metapsicologia.   Sigmund Freud  percebia , principalmente  depois da Primeira Guerra Mundial, que havia necessidade de  refinar a distinção entre consciência e inconsciente e criar o que se convenciona chamar de  Segunda Tópica.  Freud passava a atender pessoas traumatizadas pelas cenas de violência presenciadas na Primeira Guerra Mundial e se questionavas porque os seres humanos,  que aparentemente deveriam  buscar  prazer,   se envolvem  em guerras.    Chegou à conclusão de que o ser humano obedecia inconscientemente a duas pulsões: a  pulsão de vida e de morte.   Freud chama a  pulsão de vida ( ligada à sexualidade e a reprodução) de Eros, a de morte (ligada à agressividade e destruição)  de Tânatos . Com procura repetir experiências prazerosas, o ser humano busca também  experiências desprazerosas ,  no limite a  agressividade e morte, numa tentativa de resolver um conflito inconsciente.
As nossas pulsões são forças anárquicas e buscam a realização.  Atuam no que Freud chama de “Id” (nem feminino, nem masculino, como “it” em inglês), algo sobre o qual não temos controle. Dizemos muitas vezes, quando agimos sem pensar: “foi mais forte que eu”. Daí a necessidade da lei  de manter as pulsões  sob controle.  Para que haja a convivência numa sociedade civilizada, a imposição da lei, a  castração,  procura, portanto, não somente regular a sexualidade como  também impedir que a agressividade se manifeste.   Podemos chamar o Ego, o eu,  grosso modo,  com a consciência.   Pelo Ego estamos ligados à realidade, o mundo, no qual vivemos  cujas limitações somos obrigados a aceitar.  
No entanto, Ego não é suficiente para segurar as pulsões. O que mantém as pulsões  sob controle é para  Freud o que chama de Superego que se “localiza” entre o Ego  e o Id.
Para quem estuda a lei, o superego é especialmente interessante, porque o Superego representa a lei no inconsciente.   Como para Freud a lei é instaurada pelo pai,  o Superego é a instância paterna no inconsciente.   Não se trata do pai, no sentido natural, mas no sentido cultural, simbólico.   Pai, padre, juiz, patrão  e outras figuras paterna são representantes de uma cultura orientada na figura do pai.  Obedecer ao Superego evita a frustração de ser chamado à ordem o tempo todo.    Cabe ainda dizer que “a lei” no sentido freudiano, não é a lei no sentido técnico jurídico.  O que chama de lei são as normas da civilização que podem ser encontradas também na moral.
Obedecer a lei é importante para manter a violência sob controle. Mas tem outro lado: a lei delimita nossa sexualidade. Como vimos na abordagem do Complexo de Édipo, há a interdição da mãe ou do pai.   Além disso, existe uma moral sexual que, dependendo da sociedade na qual vivemos nos impõe limites à maneira como vivemos nossa sexualidade.   Cabe ainda dizer que Freud diz que a tradição da lei  ocorre via Superego de geração para geração.  É uma herança cultural subjetiva  que a cada geração é questionada e modificada, pois cada geração tem sua chance de se reposicionar diante da lei, modificando-a, criando uma cultura mais rica ... ou mais agressiva.
Lidar com as pulsões, a realidade, a consciência e o Superego gera no ser humano sentimentos confusos. Essa confusão se expressa nas nossas doenças psíquicas.  Freud chega a dizer que, o ser humano “é um animal doente”. 
Questão dissertativa: 
1.    O superego é a instância da lei do pai no inconsciente.  Como ele se constitui ao longo da primeira infância?

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