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Apostila Fisiologia Digestiva cães e gatos

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FISIOLOGIA DA DIGESTÃO EM CÃES E 
GATOS 
 
Cláudio Scapinello1; Nancy Lorena Montaño Rivera2, Marcelino Bortolo2, Ana 
Paula Vaz Nunes3
 
1- Professor Titular do Departamento de Zootecnia- Universidade Estadual de Maringá- UEM 
2- Doutorandos no Programa de Pós- Graduação em Zootecnia –UEM- Maringá – PR 
3- Mestranda no Programa de Pós- Graduação em Zootecnia –UEM- Maringá – PR 
 
 
Introdução 
 
Os processos de digestão implicam em ações que permitem a absorção de 
nutrientes e da energia dos alimentos ingeridos e sua disponibilidade na corrente 
sanguínea, para a utilização nos processos fisiológicos e metabólicos das células 
do organismo. 
Em cães e gatos, este processo, envolve quatro componentes: 
► As condições tecnológicas da apresentação dos alimentos que permita a 
normal apreensão e ingestão; 
► A digestão mecânica que permita a redução do tamanho das partículas do 
alimento ao ponto que possibilite a normal passagem pelo trato digestório e 
o aumento da superfície de contato com as enzimas; 
► A digestão química ou enzimática que consiste na quebra de ligações 
químicas de nutrientes complexos, reduzindo seu peso molecular, 
mediante processo de hidrólise, catalisado por ação conjunta de enzimas e 
outras substância produzidas no trato digestório e órgãos anexos, como o 
fígado e o pâncreas e que permita sua passagem através das paredes do 
trato ao sangue ou ao sistema linfático e 
► A excreção, através da fezes, de substâncias indisponíveis nos processos 
da digestão ou de produtos do metabolismo. 
 
 Para completar o seu trabalho, o sistema digestório realiza ainda a função 
de coordenar atividades secretoras de células e glândulas anexas, cujos 
hormônios atuam nos eventos digestórios. Conjuntamente ao sistema humoral, 
também atua nesta coordenação o sistema nervoso por meio de fibras aferentes 
e eferentes do nervo vago e o centro vagal no hipotálamo, assim como vasos 
sanguíneos e linfáticos. 
Com relação ao comportamento alimentar, os animais domésticos podem 
ser divididos em três grandes categorias: 
• Herbívoros: animais que apresentam um trato digestório bastante complexo, 
com processos de digestão química e fermentativa, com elevada 
capacidade de armazenamento de alimentos e que são consumidoras de 
alimentos de origem vegetais; 
• Carnívoros: espécies de animais que apresentam um trato digestório muito 
simples de tamanho relativamente reduzido, com processo de digestão, 
basicamente, químico, cuja alimentação está baseada no consumo de 
carne ou de outros animais; 
• Onívoros: espécies animais que consomem tanto vegetais quanto carne. 
Dentro da classificação zoológica, tanto cães quanto os gatos pertencem a 
Ordem carnívora, no entanto, são de famílias diferentes: Felidae para os gatos e 
Canidae para os cães. 
No processo de evolução das diferentes espécies classificadas na ordem 
carnívora ocorreram diferenciações, onde animais incluídos na superfamília 
Feloidea continuam sendo carnívoros estritos como é o caso dos gatos. No 
entanto, as espécies incluídas na superfamília Canoidea apresentam hábitos 
alimentares desde Onívoros, como é o caso dos cães, até Herbívoros no caso 
dos Pandas. 
Esta condição leva a significativas diferenças anatômicas no trato digestivo 
de cães e gatos, destacando-se, entre elas: 
- Uma das mais importantes e a maior relação entre o comprimento 
do intestino/comprimento do corpo para cães (4,5m/0,75m) que 
indica um maior tempo de permanência do alimento no trato digestivo 
destes animais, compatível com animais onívoros. Em Gatos esta 
relação é de (2,1m/0,5m), 
- o distinto número de dentes em adultos (30 para gatos e 42 para 
Cães, ainda que possa existir algumas diferenças entre raças) e 
- a grande sensibilidade olfativa de cães, três vezes superior aos 
gatos. 
 
Entre as diferenças no comportamento alimentar deve-se salientar que os 
cães consumem o alimento vorazmente e se adaptam a ingeri-los em diferentes 
horários impostos pelos proprietários. Apesar do maior número de dentes 
molares nos cães compatível com animais onívoros o processo de mastigação 
praticamente não ocorre nestes animais, enquanto gatos, carnívoros por 
excelência, mastigam melhor os alimentos antes da deglutição. 
No entanto, os gatos mostram uma refinada sensibilidade organoléptica e 
ingerem alimentos em pequenas quantidades e por várias vezes ao dia (8 a 16 
 
vezes) e são indiferentes a sabores doces. Finalmente os cães são animais com 
maior instinto de sociabilidade, por isso quando mantidos em baias com mais de 
um indivíduo sentem-se estimulados a consumir mais alimentos. Já os gatos, em 
casos de mudança de alimentos, ou alimentos frios ou muito quentes (ideal 30 a 
40oC) levam a redução do consumo e até a refuga do alimento e anorexia. Assim, 
os gatos preferem consumir alimentos já conhecidos, além do que, consomem 
alimento tanto de dia como à noite. Por isso devem ter alimento disponível à 
vontade. Em gatos o estabelecimento de preferências por diferentes alimentos 
ocorre entre a 6a semana e a 24a semana de vida, é interessante que neste 
período sejam oferecidas variedades de dietas, com diferentes sabores e textura. 
Associadas a todas estas diferenças anatômicas do trato digestivo e de 
comportamento alimentar também ocorrem diferenças significativas em aspectos 
nutricionais destas duas espécies: No caso de cães, considerados de habito 
alimentar onívoro, com grandes diferenças de tamanho entre raças, podem 
apresentar riscos de enfermidades esqueléticas nos indivíduos de raças grandes 
e gigantes. Já os gatos, embora as diferenças de tamanho entre raças não sejam 
tão grandes, por outro lado, há que se considerar que são animais carnívoros por 
excelência e por isso necessitam, obrigatoriamente, consumir elevados níveis de 
proteína de origem animal, tendo em vista que não sintetizam o aminoácido 
taurina, o acido graxo araquidônico, e as vitamina A e Niacina, todos presentes 
nos tecidos de origem animal. 
 
ANATOMIA DO TRATO DIGESTIVO DE CÃES E GATOS 
 
O sistema digestório é constituído de um tubo que vai da boca ao ânus, 
sendo relativamente simples nos cães e gatos. O canal digestório compreende os 
seguintes segmentos: boca e anexos (dentes, língua e glândulas salivares), 
esôfago, estômago, intestino delgado (duodeno jejuno e íleo), intestino grosso 
(ceco, colon e reto) e anus. Também devem ser considerados o fígado e o 
pâncreas como órgãos anexos ligados aos processos de digestão (Figuras 1, 2 e 
3). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 1 – Representação esquemática do trato gastrintestinal do gato. 
 
 
 
 
 
Figura 2 – Representação esquemática do trato gastrintestinal do cão. (König e 
Liebich, 2004) 
 
 
 
 
 
Figura 3 – Representação esquemática do trato gastrintestinal do cão. (König e 
Liebich, 2004) 
 
As Tabelas 1 a 4 mostram a capacidade relativa dos diferentes segmentos 
do trato digestivo de cães e gatos e uma comparação com outras espécies. 
TABELA 1. Comparação entre a capacidade relativa dos vários segmentos do 
sistema digestório de algumas espécies. 
Capacidade relativa (%)Espécie
Estômago Intestino 
Delgado 
Ceco Colo e reto 
Cães 63 23 1 13 
Gatos 69 15 --- 16 
Suínos 29 33 6 32 
Homem 17 67 --- 17 
Fonte: Borges e Nunes (1998). 
 
Tanto em cães como gatos apresentam o estômago como o principal 
compartimento do trato digestório. O intestino delgado de cães apresenta-se com 
maior capacidade relativa baseado no hábito alimentar onívoro em relação aos 
gatos que são carnívoros por excelência. 
 
TABELA 2.Volumes e comprimentos relativos de segmentos gastrintestinais dos 
cães e gatos 
Espécie Segmento do Tubo Digestivo 
Volume 
Relativo 
( % ) 
Volume 
Absoluto 
(L) 
Comp. corpo/ 
Comp. 
Intestino. 
Início e fimda excreção 
do alimento 
 CÃO 
Estômago 
Intestino 
Delgado 
Ceco 
Cólon e Reto 
62,3 
23,3 
 
1,3 
13,1 
 
4,33 
1,62 
 
0,09 
0,91
6,95 
1/6 
Início – 13hs 
Fim - 1-2 dias
 GATO 
Estômago 
Intestino 
Delgado 
Intestino Grosso 
69,5 
14,6 
 
15,9 
0,341 
0,114 
 
0,124
0,579 
1/4 
Início – hs 
Fim – 1-2 
dias 
Fonte: Adaptado de www.medvet.hpg.ig.com.br. 
 
 
TABELA 3. Peso vivo e características intestinais de cães Beagle em diferentes 
idades 
Idade 0h 24hs 21d 42d 63d adultos
PV (kg) 0,32 0,30 1,19 2,12 3,89 11,5 
Compr.Intest. (cm) 77 93 145 183 238 294 
Peso Intest. (g) 7,8 13,3 58 119 182 237 
Área Intest. (cm2) 54 83 306 465 747 1005 
 
 
 
TABELA 4. Peso vivo e características intestinais de gatos Shorthaired em 
diferentes idades 
Idade 1 d 7 d 21 d 42 d 63 d 
PV (kg) 0,13 0,19 0,37 0,54 0,96 
Compr. Intest. (cm) 50 54 67 76 116 
Peso Intest. (g) 7,3 8,5 12,8 17,6 44,4 
Área Intest. (cm2) 62 57 94 124 282 
 
HISTOLOGIA DO TRATO DIGESTÓRIO 
 
Histologicamente, este tubo é composto por quatro camadas ou túnicas, 
independente dos seus segmentos e da espécie, desde o esôfago ao anus, cujo 
conhecimento auxilia na compreensão das particularidades dos processos 
digestivos que ocorrem em cada compartimento. A partir da luz do intestino, são 
denominadas de túnica mucosa, túnica submucosa, túnica muscular e 
externamente, a túnica serosa ou adventícia (Figura 4): 
 
 
Figura 4 – Representação esquemática da constituição da parede do tubo do 
trato digestivo 
 
1) Túnica mucosa: A mucosa consiste em três camadas concêntricas. 
A partir da luz do intestino para fora, estas camadas compreendem 
o epitélio de revestimento, o tecido conjuntivo subjacente, 
denominado lâmina própria, e uma camada de músculo liso, 
denominado muscular da mucosa. 
a) Epitélio de revestimento 
- Epitélio de revestimento estratificado pavimentoso queratinizado no 
esôfago de carnívoros e canal anal. 
- Epitélio de revestimento simples prismático mucíparo na mucosa 
estomacal. 
- Epitélio de revestimento simples prismático com borda estriada, 
intercalado com células caliciformes nos intestinos. 
b) Lâmina própria constituída por tecido conjuntivo frouxo, bem 
vascularizado (vasos sangüíneos e linfáticos), com fibras musculares 
esparsas, formações linfóides, podendo conter glândulas. 
c) Muscular da mucosa com feixes musculares lisos formando uma ou mais 
camadas (longitudinais e circulares). Essa camada separa a mucosa da 
submucosa. 
2) Túnica submucosa: Esta é uma camada de tecido conjuntivo frouxo a 
moderadamente denso, rico em vasos sangüíneos e linfáticos, com ou 
sem glândulas submucosas e que se situa entre a muscular da mucosa e 
a túnica muscular. Presença de plexo nervoso submucoso (ou de 
Meissner) o qual é responsável pela inervação da muscular da mucosa e 
glândulas. 
3) Túnica muscular: Na maioria das partes do trato digestório, essa túnica é 
formada por duas camadas de fibras musculares a mais interna disposta 
circularmente ao tubo e a externa disposta longitudinalmente. 
Dependendo do segmento, pode ser lisa, estriada, ou uma mistura de 
ambos. A contração da camada circular interna comprime e mistura o 
conteúdo do trato digestório ao fazer a constrição da luz. A contração das 
fibras musculares da camada longitudinal externa impulsiona o conteúdo 
da luz em sentido caudal ao encurtamento do tubo. As ondas de 
contrações lentas e rítmicas da muscular externa, são denominadas 
ondas peristálticas e movimentam o conteúdo digestivo ao longo do trato 
intestinal. As ondas peristálticas estão sob controle do sistema nervoso 
entérico (SNE). O plexo mientérico (plexo de Auerbach) é um 
componente importante do SNE e situa-se na camada de tecido 
conjuntivo frouxo localizado entre as duas camadas musculares. Vasos 
sanguíneos e linfáticos também estão presentes neste tecido conjuntivo. 
4) Túnica externa, serosa ou adventícia. A serosa é a camada da superfície 
externa do trato digestório que fica suspensa na cavidade peritoneal, já a 
adventícia cobre as partes que são fixas. A serosa consiste em tecido 
conjuntivo frouxo (contendo vasos e troncos nervosos e uma quantidade 
considerável de tecido adiposo), recoberto por um epitélio simples 
pavimentoso, o mesotélio (peritônio visceral no estômago e intestinos). As 
partes do trato digestório que não possuem uma serosa estão presas às 
estruturas que as envolvem por tecido conjuntivo frouxo, a adventícia, 
que se funde com o tecido conjuntivo geral da região. A adventícia cobre 
o esôfago, porção distal do reto e canal anal. 
 
 A mucosa se apresenta com diferente estrutura nos diferentes 
compartimentos do trato digestório, de acordo com as funções que desempenha, 
como pode ser observado na Figura 6. 
 
 
 
 
FIGURA 6- Estrutura da mucosa nos diferentes compartimentos do trato 
digestório de animais 
 
REGULAÇÃO DAS FUNÇÕES GASTRINTESTINAIS 
 
 O sistema gastrintestinal é regulado em dois níveis: 
- Pelo Sistema Nervoso Central e Endócrino, semelhantemente às ações 
em outros sistemas 
- Por Componentes intrínsicos nervosos e endócrinos localizados no 
Trato digestório, desde o esôfago até o anus. 
O controle das funções gastrintestinais pelo Sistema Nervoso Central 
ocorre, principalmente, de forma indireta, atuando sobre o sistema intrínsico que, 
por sua vez, regula diretamente as funções do trato digestório. 
 
 
 
 
 
Sistema Nervoso 
Gastrintestinal 
 
 
Sistema Nervoso 
Central 
 Trato Digestório 
 
 
Sistema 
Endócrino 
Gastrintestinal 
 
O sistema de controle intrínsico permite que o trato gastrintestinal regule 
de maneira autônoma, suas funções com base nas condições em cada 
compartimento, a presença de alimentos e nutrientes. 
Os principais componentes do sistema nervoso intrínsico estão dispostos 
em dois plexos de neurônios localizados na parede do trato digestório do esôfago 
até o anus: 
- Plexo mioentérico ou de Auerbach localizados entre as camadas 
musculares circulares e longitudinais da Túnica Mucosa e exerce 
primeiramente o controle sobre a motilidade 
- Plexo submucoso ou de Meissner localizado na camada submucosa e 
seus principais papéis estão relacionados com o ambiente sensitivo 
dentro do lúmen do trato digestório. Este plexo regula o fluxo de sangue 
e a função da célula epitelial. Em regiões onde estas funções são 
pouco evidentes, pode aparecer de forma reduzida. 
Fazem parte destes plexos três tipos de neurônios: 
1- Neurônios sensoriais: respondem a estimlos mecânicos, térmicos, 
osmóticos e químicos. 
2- Neurônios motores: controlam a motilidade, secreção e 
possivelmente absorção. Atuam no músculo liso, células 
secretoras (parietais, principais, mucosas, enterócitos e células 
exócrinas do pâncreas). 
3- Interneurônios: Integram a atividade dos dois grupos anteriores. 
Existem dois tipos de neurônios eferentes: estimuladores e os inibidores. 
Boa parte dos neurônios estimuladores ou excitadores são COLINÉRGICOS, 
tendo a Acetil Colina como o neurotransmissor estimulando a contração do 
 
músculo liso, aumentando a secreção intestinal, liberando hormônios entéricos e 
dilatando vasos sanguíneos. 
Por sua vez os neurônios inibidores têm, entre os principais 
neurotransmissores, o Peptídio Intestinal Vasoativo (VIP) e a Somastotatina. 
O sistema nervoso entérico (intrínsico) além de funcionar de forma 
autônoma, também tem ação de forma conjunta, em conexão com o Sistema 
Nervoso Central (Simpático e Parassipático). 
Os principais estímulos do Sistema Simpático são: 
- inibição da secreção do Trato Digestório, 
- inibição da atividade motora, 
- Contração dos esfíncteres e 
- Contração dos vasos sanguíneos. 
As fibras do Sistema NervosoSimpático que entram no intestino são 
primordialmente Pós-Ganglionares que surgem de células nos gânglios pré-
vertebrais. Algumas destas fibras simpáticas fazem sinapse em neurônios do 
sistema intrínsico, enquanto outras exercem efeito direto sobre os músculos e 
glândulas gastrintestinais. Estas fibras que exercem efeito direto o fazem de 
maneira semelhante às fibras intrínsicas, liberando o neurotransmissor 
(NOREPINEFRINA) nas adjacências das células visadas. 
Por sua vez o Sistema Nervos Central Parassimpático tem funções 
contrárias ao anterior. A grande parte do Trato Digestório recebe inervação 
parassimpática via NERVO VAGO, exceto as partes terminais do cólon que 
recebem inervação parassimpática do plexo sacro via nervo pélvico. A ACETIL 
COLINA é o neurotransmissor entre as fibras nervosas parassimpáticas pré-
ganglionares e os neurônios intrínsicos. 
Além do controle nervoso, ás funções do trato digestório são controladas 
também por hormônios. 
 
CONTROLE HORMONAL DO TRATO DIGESTÓRIO 
 
O sistema digestório apresenta um grande número e variedade de células 
endócrinas (produtoras de hormônio), distribuídas entre as células da mucosa do 
trato gastrintestinal, tanto nas áreas secretoras como nas áreas de absorção. São 
células que tem um formato triangular com a base mais larga contendo 
armazenado “grânulos secretores” e o ápice mais estreito e voltado para o lúmen 
do trato digestório, permitindo, assim, que tenham informações do conteúdo 
luminal. Os hormônios, todos protéicos, são liberados na submucosa, onde são 
capturados pelo sistema vascular e transportados, via sanguínea, quando as 
células alvo estão distantes dos locais de produção do hormônio (atividade 
endócrina) ou podem atuar em células alvo muito próximas do local de produção 
do hormônio (atividade parácrina). Neste caso, o hormônio liberado alcança a 
célula alvo via difusão local. Também utiliza-se a expressão “atividade autócrina” 
quando o alvo de ação do hormônio é na própria célula que o produziu. Assim, 
atividades endócrina, parácrinas ou autócrinas, ou ainda todas as três formas de 
ação em células alvo podem ocorrer ao longo do trato gastrintestinal. 
Finalmente, deve-se observar que cada célula endócrina tem distribuição 
característica dentro dos diferentes compartimentos do trato digestório, a exceção 
do hormônio “Enteroglucagon” e Colecistoquinina que é produzido por células que 
se distribuem ao longo do intestino delgado. 
Os locais de produção e de ação dos principais hormônios reguladores do 
trato gastrintestinal estão arrolados no Quadro 5. 
 
LOCAL DE 
HORMÔNIO PRODUÇÃO AÇÃO 
FATORES DO 
ESTÍMULO 
Gastrina Parte distal do 
estomago 
Primária:estimula secreção de 
ácido clorídrico e pepsinogênio 
no estomago. 
Secundária: estimula a motilidade 
gástrica e o cresc. do epitélio 
estomacal. 
Presença de pH 
elevado no estomago, 
proteína no 
estomago, 
estimulação vagal. 
Secretina Duodeno Primária:estimula a síntese e 
secreção de bicarbonato pelo 
pâncreas. 
Secundária: estimula a secreção 
e liberação da bílis. 
Entrada de quimo 
ácido e gordura no 
duodeno. 
Colecistoquinina/ 
Pancreozimina 
Duodeno até o íleo, 
principalmente no 
duodeno 
Primária: estimula a secreção 
enzimática do pâncreas e a 
contração da vesícula biliar. 
Secundária:inibe o esvaziamento 
gástrico 
Presença de 
proteínas 
aminoácidos e 
gorduras no intestino. 
Polipeptídio 
inibidor gástrico 
(GIP) 
Duodeno e parte 
superior do jejuno. 
Primária: Inibe a motilidade 
gástrica e a secreção de ácido 
clorídrico no estômago. 
Secundária: estimula a secreção 
de insulina. 
Presença de CHOs, 
proteína e gordura no 
intestino delgado. 
Peptídio 
Intestinal 
Vasoativo (VIP) 
 -Estimula a secreção de HCO3, 
eletrólitos e água pelo pâncreas. 
-Inibe a secreção de ácido 
gástrico, pepsinogênio e fator 
intrínsico no estômago. 
 
Somastotatina Células gama do 
pâncreas 
 Tem ação no estômago, intestino 
e pâncreas e Inibe a produção de 
hormônios endócrinos (gatrina, 
PP e Peptídio YY) 
Gorduras e proteinas 
Polipeptídio 
Pancreático (PP) 
 Atua inibindo proteína e HCO3 
pelo pâncreas 
Proteína, CCK 
Substância P Duodeno e jejuno -Estimula liberação de 
pepsinogênio, 
Estimula secreção de enzimas 
pancreáticas 
Acidez no estômago 
 
Estimula a peristalse intestinal 
Motilina Duodeno e Jejuno Primária:regula o padrão da 
motilidade intestinal no período 
entre as refeições. 
Secundária:regula o tônus do 
esfíncter esofágico inferior. 
Acetilcolina 
Adaptado do NRC of dogs and cats (2006). 
 
Além dos hormônios acima citados, existe uma série de outros PEPTÍDIOS 
com ações no trato gastrintestinal como substâncias endócrinas, neurócrinas e/ou 
parácrinas, conforme listado abaixo: 
 
PEPTÍDIOS ENDÓCRINOS PEPTÍDIOS NEURÓCRINOS PEPTÍDIOS PARÁCRINOS 
Enteroglucagon Peptídio liberador de 
gastrina 
Peptídio YY* 
Neurotensina Opióides 
Peptídio YY* Substância P 
Urogastrona Neuropeptídio Y 
 Neurotensina 
 Peptídio HM 
 Pancreastatina 
 Galanina 
 Peptídio YY* 
 
Os peptídios reguladores do Trato Gastrintestinal influenciam várias 
funções intestinais e, em muitas circunstâncias, formam parte das alças de 
retroalimentação reguladoras. 
Todos os produtos de células endócrinas como as demais substâncias 
neurorreguladoras do trato gastrintestinal consistem em peptídios e tem modos 
de ação endócrino, parácrino, autócrino e/ou neurócrino. Qualquer que seja o 
modo de ação, ao se ligarem a um receptor na membrana da célula alvo, as 
respostas são eliciadas na célula. Embora a listagem deste compostos é extensa, 
esta é uma área de intensas pesquisas com descobertas freqüentes de novas 
substâncias, assim como em relação às ações principais de cada uma destas 
substâncias. 
 
PARTICULARIDADES, SECREÇÕES E PROCESSO DE DIGESTÃO NOS 
DIFERENTES COMPARTIMENTOS DO TRATO GASTRINTESTINAL 
 
1- BOCA 
 
A boca, com seus órgãos anexos, atua: 
- introduzindo os alimentos no corpo. 
- iniciando o processo de digestão mecânica, naquelas espécies em que 
ocorre a mastigação, 
- na mistura dos alimentos à saliva, importante para formação do bolo 
alimentar no processo da deglutição, a solubilização de substâncias 
que estimulam as papilas gustativas responsáveis pela sensação do 
sabor dos alimentos e 
- o início da digestão química de carboidratos solúveis (amido), nas 
espécies que apresentam a enzima amilase salivar. Cães e gatos, no 
entanto, não apresentam a enzima α-amilase salivar. Esta adaptação 
reflete a condição de animais típicamente predadores (carnívoros). 
A capacidade de abertura da boca nas espécies carnívoras é maior do que 
os herbívoros e roedores, haja vista a utilização dos dentes para conter a presa 
ou o uso dos dentes em casos de lutas. 
A cavidade bucal está recoberta por uma mucosa de epitélio plano 
estratificado. 
Os Lábios servem de órgãos de sucção, apreensão e toque. No gato, que 
capta o alimento com os dentes ou com a língua, os lábios são finos e com pouco 
movimento. No cão, os lábios se afastam dos dentes somente em casos de 
ameaça, não se movimentando, no entanto, quando abocanha o alimento. 
A língua apresenta várias funções como as de apreensão do alimento, o 
lamber, a captação de água, o deslocamento do alimento durante a mastigação e 
na deglutição. Atua também como órgão sensorial de gustação, tato, dor, troca de 
calor no controle de temperatura (no cão). No cão, a língua apresenta um 
evidente sulco mediano (Figura 5). 
 
 CÃO GATO 
Figura 5- Língua com laringe do cão e do gato (König e Liebich, 2004) 
 
De importância específica para a língua, destacam-se a captação de 
alimentos e a sensibilidade gustativa. Neste sentido, ocorrem, na superfície dalíngua, as elevações da mucosa na forma de papilas linguais que se diferenciam 
entre as espécies em tamanho, número e classificação. De acordo com sua 
função, as papilas diferenciam-se em: 
 a) Papilas mecânicas: - papilas filiformes 
- papilas cônicas 
- papilas marginais 
- papilas lentiformes 
 
 b) Papilas gustativas: - papilas fungiformes 
- papilas valadas 
- papilas foliáceas. 
As papilas mecânicas ocorrem em maior número e são representadas, 
particularmente pelas filiformes. As papilas cônicas, de maior tamanho em 
relação às primeiras, de tecido queratinizado, dão à língua do gato o aspecto 
rugoso e áspero. As papilas marginais são desenvolvidas nos carnívoros recém-
nascidos, formam o limite lateral da língua e auxiliam na sucção do leite. As 
demais, são as papilas gustativas, descritas segundo a forma e contém no seu 
epitélio os botões gustativos. Junto a estas estruturas vertem as secreções das 
glândulas serosa de limpeza, as quais dissolvem as partículas dos alimentos no 
líquido salivar para possibilitar as sensações sensoriais (Figura 6). 
Figura 6- Secção da mucosa da língua demonstrando as diferentes papilas 
FORMAÇÃO DA SALIVA E SEU CONTROLE AUTONÔMICO 
 
Tanto em cães como em gatos, a saliva representa a secreção de quatro 
pares de glândulas, liberada na cavidade bucal: 
- Glândulas Parótidas localizadas logo à frente de cada uma das orelhas, 
- Glândulas Mandibulares ou submaxilares, localizadas de cada lado e 
atrás do maxilar inferior, 
- Glândulas Sublinguais, localizadas abaixo da língua e 
- Glândulas Zigomáticas, localizadas logo abaixo dos olhos. 
As glândulas menores, produtoras de uma secreção serosa, encontram-se 
em grande número na mucosa dos lábios, das bochechas, da língua, das 
gengivas e na região pré-frenular do assoalho da cavidade oral. Nos cães e gatos 
também ocorrem um grupo de glândulas na parte superior da boca denominadas 
de zigomáticas, encontradas somente nos carnívoros. 
A maior produção de saliva ocorre pelas glândulas maiores (parótida, 
mandibular e sublingual monostomática e polistomática), cujas secreções são do 
tipo seromucoso (Figuras 7 e 8). Entretanto, o tipo de alimento e o teor de 
umidade afetam o volume e a composição de saliva produzida. 
As secreções das glândulas poderão ser do tipo seroso, mucoso ou misto. A 
glândula Parótida secreta um fluído do tipo seroso. Por sua vez as glândulas 
parótidas secretam um fluído mais mucoso. 
 Uma secreção serosa é um fluído claro e aquoso quando comparado ao 
muco, que é um material pegajoso e viscoso. Os principais compostos 
inorgânicos na saliva são: Sódio, Potássio e Cloro, derivados do plasma, e o 
bicarbonato secretado pelas células glandulares. Além deste componentes estão 
presentes na saliva cálcio, fósforo inorgânico, tiocianato e fluoreto. Deve-se 
salientar que a água representa 99,5% do volume. 
Em condições de alta produção de saliva em cães e gatos a osmolaridade e 
a relação Na:K é similar a do sangue. Contudo, nesta condição, a relação 
bicarbonato: Cloro e o pH na saliva são maiores do que no sangue. O pH médio 
da saliva dos cães é de 7,56, com variação de 7,34 a 7,80. 
Tanto o cão como gatos não têm presente nestas secreções a α- amilase 
salivar. Portanto, sua função no processo de digestão está restrita ao 
- controle de pH do alimento ingerido, 
- umedecimento e lubrificação do alimento formando o bolo alimentar 
facilitando a deglutição, 
- permite que os receptores do paladar sejam estimulados pelos diferentes 
compostos encontrados nos alimentos 
 
- controle de bactérias com a presença de lisozima, que causam a lise 
bacteriana, a Lactoferrina, que remove da saliva o ferro livre necessário 
para o crescimento de algumas bactérias e a Sialoperoxidase, que oxida 
o tiocianato em hipotiocianato, um potente agente antibacteriano. 
Uma importante função da saliva em cães é no controle da temperatura 
corporal por meio da evaporação na exposição da língua. 
 
 
 
Figura 7 – Representação esquemática das salivares do cão( König e Liebich, 
2004) 
 
 
Figura 8 – Representação esquemática das salivares do cão comparado ao suíno 
(König e Liebich, 2004) 
 
A saliva é formada como uma secreção primária nos ácinos e é então 
modificada durante a passagem através dos ductos (Figura 9). O NaCl é 
secretado no ácino com água seguindo um gradiente osmótico, glicoproteínas 
são adicionadas a este líquido por exocitose. Após ligação do neurotransmissor 
com seu respectivo receptor, os íons sódio sofrem reabsorção ativa pelos ductos 
salivares, enquanto os íons potássio são ativamente secretados em troca de 
sódio. Desta forma, a concentração de sódio da saliva torna-se acentuadamente 
reduzida, enquanto a concentração de íons potássio aumenta. Todavia, verifica-
se um excesso de reabsorção de sódio em relação à do potássio criando um 
potencial elétrico negativo nos ductos salivares. Isso, por sua vez, determina a 
reabsorção passiva dos íons cloreto. Os íons bicarbonato são secretados pelo 
epitélio ductal na luz do ducto. Esta secreção é, pelo menos em parte, causada 
pela troca de bicarbonato por íons cloreto, mas também pode resultar, em parte, 
de um processo secretor ativo. 
O resultado final desses processos de transporte é que, em condições de 
repouso, as concentrações de íons sódio e cloreto na saliva são apenas 1/10 de 
suas concentrações no plasma. Por outro lado, a concentração dos íons potássio 
é sete vezes maior que no plasma e a concentração de íons bicarbonato 
representa cerca de duas vezes a do plasma. 
 
 
FIGURA 9. Segmento de glândula salivar (Cunningham, 1999). 
 
A produção de saliva, ao contrário de outras secreções exócrinas digestivas, 
está unicamente sobre controle neural, e as glândulas salivares são inervadas por 
nervos simpáticos e parassimpáticos. A norepinefrina liberada pelos nervos 
simpáticos promove um aumento na produção protéica mas causa uma 
vasoconstrição diminuindo a produção de saliva. A estimulação parassimpática, 
mediada pela acetilcolina causa vasodilatação e aumenta a salivação. A 
substância P e o polipeptideo intestinal vasoativo também promovem aumento da 
salivação. 
As glândulas salivares contêm receptores β-adrenérgicos que podem ser 
ativados pelas catecolaminas circulantes, além da estimulação nervosa simpática. 
É provável que essa forma de estimulação tenha pequena relação com a 
atividade digestiva normal, porém está relacionada com a salivação e o 
gotejamento de saliva observados em carnívoros que se preparam para atacar. 
 
DENTIÇÃO 
 
Apesar de ambas as espécies de cães e gatos, serem classificados como 
carnívoros, um exame dos dentes apresenta importantes diferenças entre as 
espécies (Tabela 5). 
Os molares de todos os animais domésticos, assim como o primeiro pré-molar do 
cão e do suíno, não tem predecessores nos dentes de leite. 
Ainda que os cães e gatos apresentem o mesmo número de incisivos e 
caninos, os cães apresentam mais dentes pré-molares e molares em relação aos 
gatos. 
 
Tabela 5- Fórmula dentária de diferentes espécies de animais domésticos (König 
e Liebich, 2004) 
Dentes de leite Dentes permanentes Espécie Arcada 
I C PM I C PM M 
Sup. 6 2 6 6 2 6 (8)6 Eqüinos 
Inf. 6 2 6 6 2 6 6 
Sup. - - 6 - - 6 6 Ruminantes 
Inf. 6 2 6 6 2 6 6 
Sup. 6 2 6 6 2 8 6 Suínos 
Inf. 6 2 6 6 2 8 6 
Sup. 6 2 6 6 2 8 4 Cão 
Inf. 6 2 6 6 2 8 6 
Sup. 6 2 6 6 2 6 2 Gato 
Inf. 6 2 4 6 2 4 2 
I=incisivos; C= caninos; PM=pré-molares; M= molares 
Comparados com a grande maioria das espécies domésticas, 
particularmente de ruminantes, que mastigam profundamente os alimentos, os 
cães e gatos deglutem grandes bolos com escassa ou nula mastigação, 
particularmente os cães. 
O gato apresenta dentes Hipsodontes (simples). Faltam osPM1, M2 e M3 
no maxilar, assim como os PM1, PM2 e M2 e M3 na mandíbula. No ato da 
mastigação, os dois dentes carniceiros, PM4 no maxilar e M1 na mandíbula, 
deslizam um sobre o outro no fechamento da mandíbula, como uma tesoura 
(arcada dentária sercodonte). 
Os dentes do gato são pouco característicos para a determinação da idade. 
Os dentes de leite já estão todos presentes aos 15 dias de idade. Entre o 18o e 
19o dia, surgem os dentes caninos e os pré-molares entre o 24o e o 39o dia. A 
troca dos dentes inicia-se aos três meses e meio e termina aos sete meses. 
A idade do cão, da mesma forma que em gatos, dificilmente pode ser 
determinada pela dentição, tendo em vista as variações individuais e específicas 
de raças. O cão tem uma arcada dentária sercodonte, ou seja, os dois dentes 
carniceiros (PM4 no maxilar e M1 na mandíbula) agem como uma tesoura no 
fechamento da boca. 
 
No cão com idade aproximada de quatro semanas nos cães, surgem os 
dentes de leite incisivos. Quase ao mesmo tempo (3a a 5a semana de vida), 
surgem os caninos de leite e, no máximo, com seis semanas completa-se a 
dentição com os pré-molares de leite (PM2, PM3 e PM4). O PM1 não tem 
predecessor e surge, por isso, somente uma vez, entre o 4o e o 5o mês de vida. 
Entre o 3o e o 7o mês de vida , os dentes de leite dos cães são substituídos e 
surgem os molares. A determinação da idade após este período torna-se 
imprecisa. 
Cães e gatos apresentam o mesmo número de dentes incisivos, 
proeminentes caninos e carniçais. Contudo, gatos apresentam dentes 
premolares e molares em menor número e não possuem lábios fissurados os 
quais são uma marca de animais onívoros. 
A mandíbula de gatos também apresenta um limitado movimento 
lateromedial e craniocaudal, limitando, assim, a habilidade de mastigação. No 
entanto, a ação de cesilhamento dos dentes carniçais é ideal para imobilizar ou 
matar a presa. 
 
Figura 10- Arcada dentária superior do cão (König e Liebich, 2004) 
 
 
 
Figura 11- Arcada dentária inferior do cão (vista caudolateral) (König e Liebich, 
2004) 
 
 
 
Figura 12- Vista lateral da arcada dentária de um cão com a polpa dentária aberta 
e o espaço alveolar abertos (König e Liebich, 2004) 
 
 
 
PROCESSO DE APREENSÃO DE ALIMENTOS 
 
A apreensão dos alimentos varia de acordo com as espécies de animais, 
utilizando, em diferentes graus, os dentes, lábios, língua, cabeça e, 
eventualmente as extremidades dos membros anteriores. 
Cães e gatos fazem a apreensão de alimentos sólidos, utilizando os dentes 
caninos e incisivos e rasgam ou mordem pedaços de alimento. Através de 
movimentos da cabeça e mandíbula, o alimento é levado para dentro da cavidade 
oral e, no caso de cães, é engolido sem mastigação prévia. Quando necessário, 
tanto cães como gatos utilizam as extremidades dos membros anteriores para 
segurar o alimento. 
Alimentos pastosos e líquidos são introduzidos na cavidade oral utilizando 
a língua. Os cães dão forma de colher à extremidade anterior da língua e, deste 
modo, transportam os líquidos para a cavidade oral. 
Gatos, por sua vez, ao mergulhar a língua, o líquido permanece retido 
entre as inúmeras papilas e é levado para a boca, quando a língua é recolhida 
novamente. 
 
MASTIGAÇÃO 
 A mastigação é um fenômeno reflexo, que pode receber influências do 
córtex cerebral e tem como finalidade reduzir o tamanho das partículas dos 
alimentos e misturá-los à saliva, facilitando, assim a deglutição. Ela pode ser 
interrompida voluntariamente e, partículas indesejáveis podem ser retiradas da 
boca. 
A estrutura do maxilar, assim como a forma e propriedades dos dentes, 
estão de acordo com as exigências alimentares de cada espécies animal. Nos 
carnívoros, o maxilar inferior e superior são igualmente longos e os dentes 
molares possuem estrutura simples em sua superfície mastigatória, sendo 
utilizados apenas para diminuir o tamanho dos ossos ingeridos. Com os 
movimentos do maxilar inferior destes animais, em plano vertical, seus dentes 
apenas cortam e esmagam o alimento. 
Os animais carnívoros, mastigam muito escassamente os alimentos, antes 
da deglutição. Os cães, comparativamente aos gatos, mastigam bem menos os 
alimentos, deglutindo-os tão logo são introduzidos na cavidade oral. 
 
DEGLUTIÇÃO 
Na deglutição, os alimentos sólidos e líquidos são propelidos da boca para o 
estomago. Neste transporte participam, além da língua e dos músculos da 
faringe, a parede do esôfago. 
O processo de deglutição (Figura 10) ocorre em duas fases, uma voluntária 
e outra involuntária. A primeira fase, voluntária, corresponde a passagem do 
alimento até ultrapassar o istmo das fauces. Para isto o alimento é transportado 
até a parte posterior da língua, na posição de deglutição, com auxilia da 
musculatura da própria língua. A seguir, com a boca fechada, a ponta e o dorso 
da língua são pressionados contra o palato duro num movimento progressivo, da 
frente para trás, seguindo-se a projeção da base da língua para trás e para cima, 
lançando o bolo alimentar com muita força até a faringe. 
A segunda fase, reflexa, é bastante curta e corresponde a passagem do 
bolo alimentar pela faringe. Nesta fase o bolo alimentar é impedido de retorna a 
boca, em virtude da manutenção da contração dos músculos da faringe e da 
elevação da base da língua, que fecha a passagem para a cavidade oral. Nesta 
fase a epiglote bloqueia a entrada da laringe, com conseqüente bloqueio 
respiratório, o palato mole é elevado e os músculos constritores da faringe 
contraem-se rapidamente em uma onda no sentido rosto caudal. A entrada do 
alimento no esôfago é facilitada pelo relaxamento prévio da musculatura da 
faringe. Após o término do ato da deglutição, a respiração é restabelecida. 
FIGURA 10- Posição das estruturas da laringe e faringe durante a respiração (em 
cima) e durante a deglutição (embaixo) (Cunningham, 1999). 
 
2- ESÔFAGO 
O esôfago dá continuidade ao canal alimentar da faringe ao estômago. A 
musculatura do esôfago de cães é estriada em toda sua extensão, enquanto em 
gatos, a partir do terço final, correspondente ao nível do coração, há predomínio 
de musculatura lisa. 
A mucosa é recoberta por um epitélio estratificado e na camada submucosa, 
em cães ocorrem glândulas produtoras de muco em toda sua extensão, enquanto 
em outras espécies ocorrem mais no início do tubo. 
Em gatos a mucosa do esôfago se apresenta com pregas longitudinais que 
aumenta a capacidade de dilatação durante a passagem do alimento em direção 
ao estômago. 
O transporte do alimento até o estômago, ocorre de várias maneiras, de 
acordo com a consistência da massa deglutida. A propulsão de alimentos de 
consistência sólida ou semi-sólida ocorre por movimentos peristálticos do 
esôfago, classificados como primários, que se inicia com a contração da 
musculatura do esôfago acima do bolo alimentar propelindo-o para frente. Esse 
transporte em direção ao estômago é facilitado pela onda de relaxamento da 
musculatura logo a frente do alimento que está sendo impulsionado para o 
estômago (Figura 11). 
FIGURA 11- Movimento anelar de constrição luminal causada pela contração da 
musculatura circular, seguido de uma área de distensão luminal causado pela 
dilatação da musculatura longitudinal na propulsão do bolo 
alimentar(Cunningham, 1999). 
3- ESTÔMAGO 
O estômago representa um segmento dilatado do aparelho digestório, com 
músculos esfinctéricos na entrada gástrica “Cardia” e na saída “piloro”. Os 
processos de digestão em cães e gatos têm início a partir deste órgão. 
Como os gatos apresentam maior freqüência de ingestão de alimentos, o 
estômago é menos importante como órgão armazenador em relação ao 
estômago de cães. Assim o estômago de gatos é mais simples em relação a cães 
não apenas em relação ao tamanho como também apresentaa região do fundus 
glandular menor e menor capacidade de distensão da parte proximal em relação 
ao estomago de cães (Figuras 12 a 14). 
 
FIGURA 12- Estomago de um cão (vista externa) (König e Liebich, 2004) 
 
 
FIGURA 13- Estomago de um cão (vista interna) (König e Liebich, 2004) 
 
FIGURA 14- Estomago de um gato (vista externa) (König e Liebich, 2004) 
À semelhança de outras espécies não ruminantes, os cães e gatos 
apresentam um estômago revestido em sua superfície interna por uma mucosa 
glandular, diferenciada em três regiões com distintas constituições(Figuras 15 
e16): 
- Região cárdica com glândulas cárdicas 
- Região fúndica ou corpo com glândulas fúndicas e 
- Região pilórica com Glândulas pilóricas. 
 
Figura 15- Desenho esquemático de estômagos de diferentes espécies, 
mostrando regiões glandulares e aglandulares (König e Liebich, 2004) 
 
GL. CÁRDICAS GL. FÚNDICAS GL. PILÓRICAS 
 
FIGURA 16– Corte histológico da mucosa do estômago de cães mostrando as 
glândulas das regiões cárdica, fundica e pilórica ((konig e Liebich, 2004) 
 
SECREÇÕES GÁSTRICAS 
 
As secreções do epitélio gástrico e glândulas associadas, que vertem para o 
lúmen do estômago incluem água, muco, ácido clorídrico, enzimas (pepsinogênio 
e lípase gástrica) e íons inorgânicos. Além destas substancias que fazem parte 
do suco gástrico, na região pilórica existem células endócrinas (células G) 
produtoras do hormônio Gastrina, componente importante na regulação das 
secreções gástricas. O muco alcalino. 
Cada região da mucosa do estômago contém glândulas compostas de 
diferentes células produtoras dos componentes do suco gástrico. Na região 
cárdica as glândulas são formadas basicamente por células mucosas que 
secretam muco que forma uma camada sobre a superfície da mucosa gástrica 
para protege-la do pH ácido presente neste compartimento. Nas regiões do corpo 
e fundo do estômago as glândulas contêm células parietais ou oxínticas que 
secretam ácido clorídrico e as células principais ou zimogênicas que secretam 
pepsinogênio e lipase. Na região pilórica, além de células produtoras de enzimas 
e ácido clorídrico, as glândulas apresentam, em maior número, células 
produtoras de gastrina. 
 
Uma representação da estrutura anatômica das glândulas da região fúndica 
do estômago mostrando as diferentes células produtoras dos componentes do 
suco gástrico é apresentada na Figura 17. 
 
 
FIGURA 17 – Ilustração anatômica das glândulas da região fúndica do estômago 
mostrando as diferentes células produtoras dos componentes do suco gástrico 
(Cunningham, 1999). 
 O controle das secreções gástricas ocorre em três fases: 
1- Fase cefálica 
2- Fase gástrica e 
3- Fase intestinal. 
Na fase cefálica, estímulos reflexos a partir da visão do alimento, o cheiro 
e o próprio condicionamento dos animais a determinados horários de 
fornecimento de alimento são captados por quimiorreceptores localizados nos 
órgãos do sentido e transmitidos até o hipotálamo (Centro Vagal), que elaboram 
uma resposta, transmitida por fibras eferentes do nervo vago até as células de 
glândula gástricas, estimulando-as a secretarem gastrina, ácido clorídrico. Assim, 
mesmo antes da ingestão dos alimentos este compartimento do trato digestório 
prepara-se para iniciar os processos de digestão. 
A estimulação durante a fase cefálica representa cerca de 30% da resposta 
total à alimentação. O vago atua diretamente sobre as células parietais para 
estimulo da secreção ácida. Também atua sobre as células produtoras de 
gastrina aumentando a liberação deste hormônio. O neurotransmissor nas células 
parietais é a acetilcolina (Ach) e nas células de gastrina é o peptídeo liberador 
de gastrina (PLG) ou bombesina. 
Na fase gástrica a origem do estímulo para a secreção ocorre a partir da 
presença do alimento no estômago. A secreção ácida durante a fase gástrica 
representa 50% da resposta total do alimento. A distensão deste órgão e a 
presença de sustâncias químicas como proteína e gordura servem de estímulos, 
captados por terminações nervosas da parede do estomago, que por fibras 
aferentes do nervo vago são transmitidos até o hipotálamo (Centro Vagal), que 
elaboram uma resposta, por sua vez transmitida por fibras eferentes do próprio 
nervo vago até as células de glândula gástricas, estimulando-as a secretarem 
gastrina, ácido clorídrico e enzimas. À medida em que o pH se torna cada vez 
mais ácido, este meio passa a exercer um controle de retroalimentação, 
reduzindo os estímulos de produção de gastrina e conseqüente secreções 
gástricas. 
 Finalmente a fase intestinal do controle da secreção gástrica caracteriza-
se pela retroalimentação negativa com inibição das secreções do suco gástrico. 
Neste momento, à medida em que o quimo adentra no duodeno, a acidez deste 
conteúdo é captado por terminações nervosas localizadas na parede desta 
porção incial do intestino delgado e, da mesma forma que a fase anterior, por 
fibras aferentes do nervo vago são transmitidos até o hipotálamo (Centro Vagal), 
que elaboram uma resposta, por sua vez transmitida por fibras eferentes do 
próprio nervo vago até as células S do duodeno que secretam o hormônio 
Secretina, inibindo o processo de secreção gástrica e, ao mesmo tempo, 
estimulando a secreção e liberação de bílis e de substância rica em água e sais 
de bicarbonato pelo pâncreas com o objetivo inicial de elevar o pH do conteúdo 
que adentrou no duodeno, protegendo a sua mucosa dos danos provocados pela 
acidez acentuada e também para melhor atuação das enzimas pancreáticas e 
intestinais na continuação do processo de digestão no intestino delgado. No 
gato, a colecistoquinina (CCK) liberada pela mucosa duodenal e jejunal também 
parece estar envolvida; a CCK é um agonista total da gastrina na secreção de íon 
H nesta espécie. Entretanto, no cão a CCK é um agonista parcial e inibidor 
competitivo da gastrina na secreção do íon H. 
 A secreção gástrica pode também ser inibida por ativação do sistema 
nervoso simpático. Potenciais de ação nas terminações de nervos simpáticos que 
inervam o estômago liberam noradrenalina, que inibe tanto a secreção como o 
esvaziamento gástricos. 
Existem evidencias de que vários hormônios podem atuar sobre a inibição 
da secreção gástrica. Estes hormônios são liberados pela mucosa do duodeno 
 
por estimulo ácido, presença de ácidos graxos ou soluções hiperosmoticas e 
coletivamente são chamados de enterogastronas. Freqüentemente eles inibem o 
esvaziamento gástrico e a secreção ácida. O peptídeo inibidor gástrico é liberado 
por estimulo de ácidos graxos e atua na célula parietal inibindo a secreção ácida. 
A secretina também é conhecida como uma enterogastrona por inibir a secreção 
ácida. Como comentado anteriormente a CCK também inibe a secreção ácida em 
cães. 
 
SECREÇÃO GÁSTRICA 
 
 
FASE CEFÁLICA 
(30-40% da secreção) 
FASE GÁSTRICA 
(50-60% da secreção) 
FASE INTESTINAL 
(10% da secreção) 
 
 
Cheiro, gosto e visão do 
alimento, horário de 
alimentação... 
Estímulos mecânicos: 
(presença do alimento no 
estômago, distensão do 
estômago...) 
entrada do quimo no 
duodeno (pH ácido, 
proteína, lipídios...) 
 
 
Sistema Nervoso Central 
Núcleo vagal 
Nervo Vago- ACh 
Peptídio liberador de 
gastrina 
Produção de HCl 
Liberação de Gastrina 
Produção de pepsina 
Enterogastronas 
Secretina 
 
 
SECREÇÃO DE ACIDO CLORÍDRICO 
O mecanismo pelo qual as células parietais ou oxínticas secretam HCl é 
mostrado na Figura 18. A hidratação do CO2 nas células parietais é responsável 
pela produção contínua de íons H e HCO3. Essa reação é catalizada pela enzima 
anidrase carbônica presente em altas concentrações nessas células. 
Os íons hidrogênios são transportados para o lúmen por um mecanismo 
ativo de bomba acopladoao metabolismo celular. O cloreto é secretado para o 
lúmen por um mecanismo que pode ser acoplado de algumas maneiras à bomba 
de H, porquanto a estequiometria de H e Cl secretados é de 1:1. 
Os íons cloro disponíveis para transporte parecem ser derivados da 
operação de um mecanismo de troca Cl-HCO3 na membrana contraluminal. 
Assim para cada íon H secretado para o lúmen, difunde-se um íon HCO3 para o 
sangue em troca de um cloro. Essa alcalose metabólica que ocorre durante a 
secreção ativa após alimentação é conhecida como maré alcalina. Normalmente, 
ocorre reversão da maré alcalina quando o bicarbonato existente no sangue é 
consumido indiretamente durante a neutralização de secreções gástricas à 
medida que entram no intestino. 
Assim, com base no corpo inteiro, a produção de ácido gástrico resulta em 
alterações apenas pequenas e transitórias no pH sanguíneo, no entanto, em 
estados mórbidos nos quais as secreções gástricas ficam impedidas de entrar no 
intestino ou se perdem do corpo por causa de vômitos, o pH do sangue pode 
elevar-se para valores perigosamente altos. 
A histamina também é um potente estimulador da secreção das células 
parietais. Há evidencias de que a liberação de histamina é regulada pela gastrina 
na maioria dos mamíferos. 
 
FIGURA 18. Secreção de HCl pelas células parietais do estômago 
 
A histamina estimula a secreção ácida por meio dos receptores H2, a 
acetilcolina por meio dos receptores muscarínicos M1 e a gastrina pelos 
receptores de gastrina das membranas das células parietais. Os receptores H2 
aumentam a concentração intracelular de AMPc, enquanto os muscarínicos e os 
 
de gastrina exercem seus efeitos aumentando a concentração intracelular de 
cálcio livre (Figura 19). Os mecanismos intracelulares interagem, de forma que a 
ativação de um tipo de receptor potencializa a estimulação do outro. A histamina 
deriva das células da mucosa semelhante a mastócitos, a acetilcolina é liberada 
das terminações colinérgicas pós-ganglionares que inervam as células parietais e 
a gastrina chega até as células produtoras de acido através da circulação. 
 
 
 
SECREÇÃO DE PEPSINOGÊNIO 
A pepsina é a única enzima proteolítica presente suco gástrico. Deriva do 
pepsinogênio, armazenado como grânulo de zimogênio nas células principais das 
glândulas fúndicas e do corpo do estômago. O pepsinogênio é ativado, quando 
ao entrar em contato com o meio ácido do estômago, transforma-se em pepsina 
ativa. Por sua vez a pepsina ativa, atua sobre outras moléculas de pepsinogênio 
e produz novas moléculas de pepsina. 
O principal estimulante da secreção de pepsinogênio é a acetilcolina. A 
ativação vagal durante as fases cefálica e gástrica da secreção gástrica resulta 
em significante secreção de pepsinogênio. 
A gastrina é um hormônio que igualmente estimula a secreção de 
pepsinogênio. Seu efeito se faz através da estimulação da secreção de H+ e 
subseqüente ativação do reflexo colinérgico local. 
 
SECREÇÃO DE LIPASE GÁSTRICA 
 
 Ambos, cães e gatos produzem lípases gástrica no estômago. No entanto, 
comparado à atuação da atividade da lipase pancreática, a ação da lipase 
gástrica sobre a digestão de gordura é pouco expressiva. 
A lípase gástrica tem sua atuação otimizada em pH ao redor de 4,0 e 
apresenta-se 13 vezes mais ativa sobre a liberação de ácidos graxos de cadeia 
longa em relação a liberação de ácidos graxos de cadeia curta dos triacilgliceróis. 
Por isso, sua atuação ocorre mais intensamente na região cárdica, reduzindo à 
medida em que o alimento se desloca em direção a região pilórica, onde o pH se 
apresenta cada vez mais ácido. Desta forma esta enzima é inativada, 
irreversivelmente, em pH ácido ao redor de 1,5 e também não efeito em pH 
superior a 7,0. 
 
PROCESSO DE DIGESTÃO NO ESTÔMAGO 
 
Considerando que a pequena ação da lípase gástrica permite a digestão 
pouco expressiva sobre as gorduras, o processo de digestão mais importante no 
estômago ocorre sobre as proteínas. Inicialmente, ligações iônicas, covalentes e 
pontes de Hidrogênio encontradas entre as fitas de polipeptídios que permitem a 
estabilidade na estrutura da molécula protéica são quebradas pelo presença de 
ácido clorídrico, deixando a molécula protéica mais aberta e sujeita à ação da 
pepsina. Em seguida, a pepsina, uma endoenzima, atua no interior da cadeia 
polipeptídica da proteína, quebrando-a em polipeptídios com peso molecular 
menor que a cadeia original. Isto significa que, nesta fase, ainda não são 
produzidos aminoácidos na digestão e este processo permite uma ação mais 
eficiente das enzimas no intestino delgado que continuarão a digestão das 
proteínas, reduzindo seu peso molecular a ponto de serem absorvidas na forma 
de aminoácidos, dipeptídios e tripeptídios 
 
 
 
 
4- INTESTINO DELGADO 
 
 O intestino delgado de cães e gatos, representa, respectivamente, 23 e 
15% da capacidade do trato digestório, composto pelo duodeno, jejuno e íleo, 
local onde ocorre a maior parte do processo de digestão da proteína, carboidratos 
e gordura a partir de secreções produzidas pelo fígado, da parte exócrina do 
pâncreas e do próprio intestino. 
 Entre as várias funções do fígado, parte de sua estrutura funciona como 
uma glândula com células que secretam os componentes que constituirão a bílis, 
com importante papel na digestão de gorduras. Os hepatócitos se apresentam 
como camadas de células, uma ao lado da outra, formando canalículos entre elas 
( como ácinos longos e estreitos) que se conectam formando ductos que 
transportam os componentes que farão parte da bílis até a vesícula biliar (Figura 
20). 
 
 
FIGURA 20- Estrutura anatômica do fígado onde é produzida a Bilis (Cunningham, 
1999). 
A secreção biliar é necessária para os processos de digestão e absorção de 
lipídeos. Esta secreção também tem um papel importante na eliminação de vários 
produtos endógenos como, por exemplo, colesterol e pigmentos biliares, além de 
substancias químicas administradas ao organismo. 
Os ácidos biliares são sintetizados no fígado a partir do colesterol sob a 
ação da enzima 7α-hidroxilase. A atividade da enzima é inversamente 
proporcional à quantidade de sais biliares presentes. Portanto, quando a 
concentração de sais biliares que perfundem o fígado cai, ocorre aumento na 
atividade da enzima. 
Os sais biliares formados no fígado são chamados primariamente ácidos 
biliares e usualmente são os ácidos cólico e quenodesoxicólico. Eles são 
conjugados com taurina ou glicina para formar os ácidos taurocólico e glicocólico. 
Os ácidos primários têm um pK de cerca de 6,0. Os conjugados de glicina têm 
um pK de aproximadamente 4,0 e os conjugados da taurina possuem um pK de 
2,0. Portanto, a conjugação baixa o pK e forma complexos com carga no lúmen 
intestinal, que tem um pH de cerca de 6,0. Isto assegura que os sais biliares 
não sejam passivamente absorvidos em nenhum trecho do intestino superior mas 
sejam retidos no lúmen para o processo de digestão das gorduras e sua 
absorção. No intestino inferior, entretanto, esses sais biliares são ativamente 
reabsorvidos. 
Os sais biliares secundários desoxicólico e litocólico resultam da 
desconjugação bacteriana e desidroxilação de sais biliares não absorvidos no íleo 
e são excretados nas fezes. 
Os sais biliares são transportados ativamente dos hepatócitos para dentro 
dos canalículos biliares por um processo dependente de energia. Os cátions e a 
água seguem passivamente, de modo que a bile se torne ososmótica. Isto é 
conhecido como o fluxo de bile dependente dos sais biliares e resulta da 
recirculação dos sais do intestino. Assim, esse fluxo dependente de sais biliares 
será maior quando os sais biliares forem absorvidos do intestinoe transportados 
de volta ao fígado para nova secreção. O segundo componente canalicular é uma 
fração que não depende dos sais biliares do fluxo biliar que se acredita ser 
mediada por transporte ativo de sódio. Nos ductos e dúctulos biliares há 
componentes secretórios e reabsorventes de íons e água que modificam, 
 
posteriormente, a composição da bile canalicular. O componente secretório está 
sob o controle da secretina e sua função é liberar um fluido rico em bicarbonato 
para o intestino. 
No íleo ocorre um transporte ativo de sais biliares, e pelo menos 90% deles 
são reabsorvidos nesse segmento (Figura 21). Sob condições normais, a síntese 
hepática iguala-se à perda fecal, mas isto não é o bastante para que ocorra a 
digestão das gorduras, e os sais biliares devem ser recirculados. Este processo é 
conhecido como circulação êntero-hepática. Se este processo for interrompido, as 
gorduras e as vitaminas lipossolúveis apresentarão má absorção. 
 
 
FIGURA 21- Circulação enterohepática dos ácidos biliares (Cunningham, 1999). 
 
O pâncreas exócrino é uma glândula cujas extremidades terminais, ou 
ácinos, estão conectadas por um sistema ramificado de ductos, de maneira que, 
em termos conceituais, a glândula lembra um cacho de uvas. Estas glândulas são 
compostas por ácinos, cujas células acinares contêm grande quantidade de 
reticulo endoplasmático rugoso nos quais são sintetizadas grandes quantidades 
de proteínas secretoras, as enzimas digestivas e por células centroacinares e as 
células de revestimento dos ductos perto da junção dos ácinos que produzem 
uma secreção rica em água e bicarbonato de sódio. 
 O estímulo mais importante para que ocorra a liberação das secreções 
envolvidas no processo de digestão nesta porção do trato digestório acontece 
com a entrada no duodeno do quimo ou digesta vinda do estômago. 
 Como descrito anteriormente, a elevada acidez deste conteúdo e a 
presença de substâncias químicas, principalmente proteína e gordura, são 
percebidas por quimiorreceptores presentes na porção inicial da parede do 
duodeno, informações estas que são transmitidas para o núcleo vagal, no sistema 
nervoso central, via fibras aferentes do nervo vago. Naquele núcleo as 
informações são processadas e a resposta é enviada, via fibras eferentes do 
próprio nervo vago, tendo como neurotransmissor a acetil colina, estimulando as 
células S no duodeno, a produzir o hormônio Secretina. Este hormônio atua 
estimulando a secreção de bílis pelos hepatócitos no fígado, a liberação da bílis 
para dentro do duodeno por meio da contração da vesícula biliar e relaxamento 
do esfíncter de oddi e também a secreção de uma solução rica em água e sais de 
bicarbonato pelas células centroacinares e as células de revestimento dos ductos 
no pâncreas. 
Estas substâncias, vertidas no lúmen do intestino, são importantes para a 
neutralização do pH da digesta, impedindo possíveis danos (ulcerações) à 
mucosa duodenal e também para que as enzimas produzidas pelo pâncreas e 
pelo intestino tenham um ambiente ótimo de ação no processo da digestão 
intestinal, com pH próximo a neutralidade (6,5 a 6,8). 
 Em seguida, particularmente, com a presença de substâncias químicas 
como proteína e gordura na digesta, pelo mesmo mecanismo acima, servem de 
estímulo inicial para produção do hormônio colecistoquinina/pancreozimina, 
responsável pelo estímulo da secreção de uma substância rica em enzimas pelas 
células acinares do pâncreas exócrino. 
As enzimas pancreáticas que atuarão no processo de digestão de 
proteínas, carboidratos e da gorduras são as seguintes: 
Endoenzimas proteolíticas:
- Tripsina 
- Quimiotripsina 
- Elastase 
Endoenzimas proteolíticas: 
- Carboxipeptidases A e B 
Enzima que atua sobre carboidratos solúveis:
- Amilase pancreática 
 
Enzima que atua sobre gordura 
- Lípase pancreática 
As enzimas proteolíticas são liberadas pelas células acinares do pâncreas 
na forma inativa (zimogênios) e sua ativação, no duodeno, ocorre com a liberação 
da enzima “enteroquinase” por células da mucosa duodenal que ativa, 
inicialmente, o tripsinogênio em seu correspondente ativo, a tripsina. Por sua vez 
a tripsina autocalisa a ativação de mais moléculas de tripsinogênio, assim como é 
responsável também pela ativação das demais enzimas proteolíticas produzidas 
pelo pâncreas, reduzindo o peso molecular ( Figura 22) 
 
FIGURA 22- Ativação de zimogênios pancreáticos proteolíticos (Cunningham, 
1999). 
Outros componentes enzimáticos da secreção pancreática incluem a 
fosfolipase, colesterolestarase, ribonucleases e desoxirribonucleases. 
 
PROCESSOS DE DIGESTÃO E ABSORÇÃO DE COMPONENTES LIPÍDICOS 
 
Tendo em vista que o processo de digestão consiste na redução do peso 
molecular de moléculas complexas por hidrólise e por isso estas substâncias 
devem estas dissolvidas em água para que as enzimas do trato digestório 
possam exercer sua função adicionando moléculas de água nas ligações que 
serão rompidas. 
Neste sentido, a digestão da gordura exige inicialmente que passe por um 
processo de emulsificação permitindo, que se dissolva em água. Para isso, a 
elevação da temperatura dos alimentos ingeridos, ao adentrarem no trato 
digestório contribui para este processo, no entanto, a bílis tem um papel chave 
com sua ação detergente, permitindo a emulsificação das gorduras e sua 
dissolução em água, para que, em seguida, as enzimas lípase possam atuar com 
maior eficiência. 
Os lipídios constituem parte considerável das dietas de carnívoros, entre 
eles cães e gatos. O principal lipídio dietético é o triglicerídio, tanto de fontes 
vegetais como animais. Outras substâncias lipídicas estão presentes nas dietas 
como: colesterol, ésteres de colesterol, fosfolipídios, lipoproteínas, além das 
vitaminas lipossolúveis A, D, E e K, que são absorvidos juntamente, fazendo 
parte das micelas. 
Assim, para que estas substâncias sejam absorvidas, são necessárias 
quatro fases: 
- emulsificação, 
- hidrólise ou digestão, 
- formação de micelas e 
- absorção. 
A emulsificação consiste na redução de gotículas de lipídios que permita 
sua dissolução em água. Este processo se inicia no estômago, com a elevação 
da temperatura do alimento ingerido à temperatura corporal e a intensa ação de 
mistura neste compartimento. 
Ao sair do estômago para o duodeno, a bílis completa o processo de 
emulsificação com sua ação detergente, reduzindo o tamanho das gotículas e, em 
seguida, os sais biliares, mantendo sua porção hidrofílica para fora, recobrindo 
estas gotículas, permitindo, assim, que se dissolvam em água e sejam 
hidrolisadas pelas enzimas. Deve-se acrescentar que a redução do tamanho das 
partículas de gordura, além de permitir sua dissolução em água, aumenta a 
superfície de contato com as enzimas, otimizando o processo de digestão (Figura 
23). 
 
A hidrólise de triglicerídios, o principal elemento lipídico dietético, ocorre 
pela ação combinada de duas enzimas: co-lipase e a lípase. A co-lipase tem a 
função de retirar os sais biliares que recobrem as gotículas de gordura, 
permitindo, assim que a lípase atue, quebrando os triglicerídios tendo como 
produtos da digestão o glicerol, monoglicerídios e ácidos graxos (Figura 24). 
Outras enzimas pancreáticas que digerem lipídios incluem a colesterol-esterase e 
fosfolipase, tem como produtos da sua ação, ácidos graxos não-esterificados e 
lisofosfolipídios. Todo este processo ocorre no lúmen do intestino e à medida que 
os produtos da digestão são produzidos, tomam direção às paredes, próximo à 
mucosa. 
 
 
 
 
 
FIGURA 23- Representação do processo de emulsificação, digestãoe absorção 
de gorduras (Cunningham, 1999). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FIGURA 24- (A): Sais biliares circundando uma gotícula emulsificada de gordura 
permitindo sua solubilização em água. (B): Formação da micela a 
partir dos produtos da digestão dos triglicerídios pela ação das 
enzimas co-lipase e lipase pancreática, somados a outros 
compostos lipídios presentes na dieta (Cunningham, 1999). 
 
Formação de micelas: Neste momento os produtos da digestão dos 
triglicerídios , alem de outras substâncias lipídicas como colesterol, esteres de 
colesterol, lisofofolipidios, vitaminas lipossolúveis, lipoproteínas, juntam-se, 
formando uma estrutura denominada “micela” que apresentam tamanho 
consideravelmente menor que as gotículas de gordura emulsificadas e rodeadas 
por sais biliares. 
 
Absorção: Ao alcançarem a membrana apical do enterócito (célula 
absortiva), os componentes destas micelas, à exceção dos sais biliares, se 
dissolvem pela membrana, adentrando no enterócito, onde ocorre uma re-
esterificação de moléculas de ácidos graxos, monoglicerídios e/ou glicerol, dando 
origem, novamente, a triglicerídios que, por sua vez, juntam-se aos demais 
componentes lipídicos absorvidos, dando origem às “micelas”. Neste momento as 
micelas se dissolvem pela membrana baso-lateral do enterócito e, por vasos 
linfáticos, as substâncias lipídicas são transportadas até o ducto torácico, onde se 
misturam ao sangue (Figura 25) 
Uma pequena parte de ácidos graxo, particularmente, de cadeia curta e 
também de glicerol podem adentrar no enterócito, sem tomarem parte de micelas. 
 
FIGURA 25- Representação do sistema de absorção de lipídios e formação de 
quilomicrons na passagem pela membrana basolateral do 
enterócito para o sistema linfático. 
 
Os sais biliares permanecem na luz do intestino e, ao alcançarem o íleo 
encontram-se em um estado relativamente livres. Nesta porção do intestino 
delgado há um sistema específico de absorção dos sais biliares, utilizando o 
sódio como co-transportador e, pelo sistema porta, retornam ao fígado, tomando 
parte, novamente da bílis. Desta forma, a grande parte dos sais biliares do 
organismo circulam através do intestino várias vezes ao dia. 
 
PROCESSOS DE DIGESTÃO E ABSORÇÃO DE PROTEINA NO INTESTINO 
 
Como descrito anteriormente, a digestão da proteína inicia-se no 
estômago, pela ação do ácido clorídrico, quebrando ligações entre as fitas de 
polipeptídios que estabilizam a molécula protéica, deixando, assim a fita mais 
aberta. Em seguida, a pepsina, uma endoenzima, inicia o processo de digestão 
propriamente dito, quebrando a molécula protéica em polipeptídios com peso 
molecular menor que o original. 
No intestino, a digestão protéica ocorre em duas fases: luminal (com ação 
de enzimas pancreáticas) e membranosa (com ação de enzimas produzidas pelo 
próprio intestino, que finalizam o processo de digestão, permitindo a absorção de 
aminoácidos e alguns oligopeptídios como di e tripeptídios). 
Na fase luminal da digestão protéica, uma ação conjunta de endoenzimas 
(tripsina, quimiotripsina, elastase), que atuam no interior da cadeia polipeptídica e 
de exoenzima (carboxipeptidases A e B), que atuam nas extremidades da cadeia 
polipeptídica, produzem aminoácidos e oligopeptídios. À medida que este 
processo transcorre, por movimentos de mistura do intestino, os produtos da 
digestão tomam direção às paredes do intestino, se aproximando das estruturas 
de absorção. Próximo à mucosa inicia-se a fase membranosa da digestão de 
proteína, onde enzimas produzidas pelo intestino (oligopeptidases, 
aminopeptidases, di e tripeptidadeses) encontram-se no glicocálise ou ligadas a 
membrana da célula absortiva (enterócito) ou ainda dentro do enterócito (di e 
tripeptidases) que finalizam o processo de digestão de proteínas originando 
aminoácidos. Considerando que algumas enzimas oligopeptidases como 
dipeptidases e tripeptidases podem atuar dentro do enterócito, isto indica a 
possibilidade de absorção pela membrana apical do enterócito, de moléculas com 
dois ou três aminoácidos ligados. No entanto, a ação destas oligopeptidases no 
 
interior do enterócito fazem com que somente aminoácidos passem pela 
membrana basolateral do enterócito, adentrando na circulação sanguínea do 
sistema porta. (Figura 26) 
 
 
FIGURA 26- Representação dos processos de digestão e absorção de proteína 
no intestino delgado (Cunningham, 1999). 
 
Os aminoácidos são absorvidos, num processo ativo com gasto de 
energia, ligados a transportadores presentes na membrana apical do enterócito, 
com sítios de ligação específicos para cada grupo de aminoácidos (básicos, 
ácidos e neutros) e o sódio. Uma vez dentro do enterócitos, os aminoácidos 
passam pela membrana basolateral do enterócito para o sistema porta por 
difusão e diferença de concentração. 
 
 
 
PROCESSOS DE DIGESTÃO E ABSORÇÃO DE CARBOIDRATOS NO 
INTESTINO 
 
Os carboidratos presentes na dieta podem ser classificados em duas 
categorias: solúveis (amido e açucares) e estruturais (componentes da fibra). A 
utilização de carboidratos estruturais depende de enzimas produzidas por 
microorganismos presentes no intestino grosso, particularmente no ceco. Assim, 
para animais carnívoros, entre eles os cães e gatos, os carboidratos das dietas, 
basicamente, são solúveis, tendo em vista as características anatômicas do trato 
digestório e a incapacidade de fermentação de componentes fibrosos. 
O amido é o principal carboidrato das dietas de cães e gatos e a sua 
utilização digestiva inicia-se no intestino delgado, uma vez que estes animais não 
apresentam amilase salivar. O processo de digestão de carboidratos é 
semelhante ao descrito para proteínas com uma fase luminal, onde o amido é 
quebrado, principalmente, em oligossacarídios pela amilase pancreática e uma 
fase membranosa, em que enzimas intestinais finalizam o processo de digestão 
produzindo monossacarídios que serão absorvidos. As diferenças entre os 
processos da digestão de carboidratos e proteínas são: 
- na fase luminal da digestão de carboidratos, o pâncreas secreta apenas 
a enzima α-amilase, enquanto a digestão luminal de proteínas utiliza 
um maior número de enzimas (endo e exoenzimas); 
- A absorção de carboidratos somente é possível após digestão completa 
a monossacarídios, enquanto para proteínas pode ocorrer absorção de 
di e tripeptídios e este passam a ser quebrados até aminoácidos no 
interior do enterócito. 
 Considerando o amido como o principal carboidrato em dietas de cães e 
gatos, este polissacarídio é composto de unidades de glicose ligadas entre si por 
ligações α1-4 e α1-6. Assim, as ligações α1-4 são hidrolisadas pela α-amilase 
mas não as ligações α1-6, como conseqüência disto, os produtos finais da 
digestão pela α-amilase, na fase luminal são: maltose, maltotriose e α-destrina. 
Na fase membranosa da digestão dos carboidratos, as oligossacaridases 
intestinais (maltase, isomaltase, dextrinase), situadas na porção externa da 
 
membrana das células da mucosa, são responsáveis pela finalização da digestão 
produzindo, tendo como produto a glicose. 
Deve-se salientar a presença de outras oligossacaridases intestinais que 
atuam também na fase membranosa da digestão como a lactase, responsável 
pela quebra da lactose em moléculas de glicose, galactose e a enzima sacarase, 
responsável pela digestão da sacarose, tendo como produtos desta digestão 
moléculas de glicose e de frutose. 
O esquema da digestão dos carboidratos pode ser observado na Figura 27. 
 
 
FIGURA 27- Digestão dos carboidratos nas fases luminal e membranosa do 
intestinoe os produtos absorvidos (Cunningham, 1999). 
 
 
 Os monossacarídeos resultantes da digestão luminal e membranosa, 
devem ser transportados ao interior do enterócito. As hexoses e pentoses são 
rapidamente absorvidas, utilizando um sistema de transporte ativo dependente de 
um bomba ATPase sódio dependente. 
O transporte de alguns açúcares é modificado pela quantidade de sódio no 
conteúdo intestinal; uma concentração elevada de sódio na superfície mucosa 
das células facilita o fluxo de glicose para as células epiteliais. Isto ocorre porque 
o sódio e a glicose compartem o mesmo transportador. 
O sódio intracelular é escasso e por isso se desloca nesse sentido por 
diferença de concentração. A glicose é transportada juntamente com o sódio e 
liberada na célula. O sódio é transportado para os espaços intercelulares e a 
glicose se difunde no interstício e daí para os capilares. A energia necessária 
para o transporte de glicose é proporcionada indiretamente pelo transporte ativo 
de sódio para fora da célula. Este processo mantém um gradiente de 
concentração através da borda celular, de forma que entra mais sódio e, 
conseqüentemente, mais glicose (Figura 28). O mecanismo para a glicose 
também transporta a galactose. A frutose utiliza um transportador diferente e sua 
absorção não depende do transporte de sódio, sendo realizada por difusão 
facilitada. Alguma frutose pode ser convertida em glicose na célula da mucosa. 
As pentoses são absorvidas por difusão simples. 
 
FIGURA 28- Mecanismo de transporte ativo da glicose para o enterócito 
(Cunningham, 1999). 
 
 
 
ABSORÇÃO DE ÁGUA E ELETRÓLITOS 
O suprimento de água e eletrólitos, principalmente de sódio, potássio, 
cloreto e bicarbonato é fundamental para manter o equilíbrio corporal e a 
manutenção da vida. O intestino desempenha papel importante nesse processo, 
não apenas para a reposição de nutrientes e manutenção do equilíbrio corporal, 
como estes componentes concorrem diretamente nos processos de absorção. 
Além destes aspectos, distúrbios digestivos causam perdas de água e eletrólitos, 
com implicações clínicas graves, inclusive a morte do indivíduo. 
A seguir, é apresentado uma rápida discussão sobre a manutenção do 
equilíbrio dos principais eletrólito. 
Sódio: 
O sódio é transportado por meio de três mecanismos(Figura 28): 
a) Co-transporte de sódio juntamente com glicose e aminoácidos 
b) Difusão simples 
c) Acoplado ao transporte de cloro. No interior da célula se forma HCO3- e 
prótons por ação da anidrase carbônica, os quais são trocados por Cl e 
Na, respectivamente. 
No duodeno e jejuno, a absorção de sódio se realiza fundamentalmente 
pelos mecanismos de difusão e sistema de co-transporte de sódio, uma vez que 
nestas regiões existe uma grande concentração de sódio e nutrientes na luz 
intestinal. No íleo e cólon, o transporte mais importante está acoplado ao 
transporte de Cl. 
 
Cloro: 
O cloro é absorvido três mecanismos (Figura 28 e 29): 
a) sistema acoplado ao sódio, como descrito anteriormente 
b) troca com HCO3-, aumenta o pH intestinal 
c) transporte paracelular , associado ao sistema de co-transporte de sódio 
(glicose, aminoácidos, etc). O transporte de sódio induz um gradiente 
eletroquímico (pela troca de 3 sódios por 2 potássios), de maneira que se 
forma uma polaridade positiva nos espaços laterais com relação à luz 
intestinal. O cloro atravessa entre as uniões laterais dos enterócitos. 
Potássio: 
O potássio é absorvido por um mecanismo de difusão passiva paracelular 
pois se encontra em elevadas concentrações na luz intestinal proveniente do 
alimento. Isto ocorre principalmente no íleo e no cólon. 
 
 
 
 
 
FIGURA 28- Mecanismos de absorção de sódio no trato digestivo (Cunningham, 
1999). 
 
Bicarbonato: 
A maior parte do HCO3- secretado na saliva, pâncreas e bílis serve para 
neutralizar o HCl gástrico. Neste processo, o bicarbonato reage com HCl e 
produz água, CO2 e cloreto de sódio. Entretanto, permanece boa parte de 
bicarbonato no intestino que deve ser recuperado com a sua reabsorção a nível 
de íleo e cólon por um mecanismo de troca iônica (Figura 30). 
 
 
 
 
 
 
 
FIGURA 29- Mecanismos de absorção de cloreto no trato digestivo (Cunningham, 
1999). 
 
FIGURA 30- Absorção de bicarbonato facilitada pela troca com sódio- hidrigênio na 
membrana apical do enterócito. O íon HCO3 é regenerado pela ação da enzima anidrase 
carbônica ( Cunningham, 1999) 
 
Absorção de Água: 
A água acompanha os eletrólitos em seus movimentos tanto por vias 
paracelulares como transcelulares. Sendo a mucosa permeável à água, esta se 
desloca livremente influenciada pela pressão osmótica, de forma que também 
pode passar para a luz intestinal se a pressão osmótica da mesma aumenta 
(Figura 31). 
 
 
FIGURA 31- Movimentos da água por vias paracelulares como transcelulares no 
trato digestório ( Cunningham, 1999) 
 
A secreção de água é produzida tanto por difusão passiva com por 
transporte ativo. O primeiro caso acontece no duodeno quando a digestão luminal 
dos alimentos promove uma elevação da pressão osmótica ocorrendo passagem 
 
de água dos vasos sanguíneos para o lúmen intestinal até que as pressões se 
igualem. 
A medida que os nutrientes vão sendo absorvidos, a pressão osmótica na luz 
intestinal vai sendo reduzida e como conseqüência a água é absorvida. Este 
processo é muito importante na digestão do amido que produz rápida formação 
de oligossacarídeos osmoticamente ativos. O processo ativo de secreção de 
água se produz nas criptas de Lieberkuhn, que bombeiam Cl e Na para a luz 
intestinal, por um sistema inverso a aquele produzido nas vilosidades. 
 
PROCESSOS FISIOLÓGICOS NO INTESTINO GROSSO 
As principais funções do intestino grosso incluem a absorção de água e 
eletrólitos, o armazenamento de fezes e o desenvolvimento de processos de 
fermentação da matéria orgânica não degradada previamente. Os carnívoros 
apresentam um cólon simples, sendo os processos fermentativos de pouca 
importância para estas espécies. 
O esfíncter íleo cecal impede o refluxo do conteúdo do cólon para o intestino 
delgado e atua como válvula que somente permite o transito no sentido íleo-
cecal. 
Os movimentos do cólon podem ser de três tipos: 
a) contrações de segmentação: ocorrem por contração das saculações que 
exercem uma função de mistura do conteúdo. 
b) Movimentos peristálticos e antiperistálticos: nos carnívoros estes 
movimentos se iniciam na região de transição entre o cólon transverso e 
o descendente. O controle destes movimentos é realizado pelo sistema 
nervoso intrínseco. Os movimentos se iniciam numa região chamada 
marcapasso e seguem em direção proximal e distal. 
c) Movimentos de massa: tem como funcionalidade, em cães e gatos, 
promover a contração intensa do cólon permitindo a propulsão do 
conteúdo para o reto. 
10 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 
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BORGES, F. M. O.; NUNES, I. J. Nutrição e manejo alimentar de cães na saúde e 
na doença. Cadernos Técnicos da Escola de Veterinária da UFMG. n. 23, 1998. 
103p. 
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de Janeiro, 528p, 1999. 
GUYTON A. C.; HALL, J. E. Tratado de Fisiologia Médica. 9a ed. Guanabara-
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HAND, M.S.; THATCHER, C.D.; REMILLARD, R.L.; ROUDEBUSH, P. Small 
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KÖNIG, H.E.; LIEBICH, H.G. Anatomia dos animais domésticos. Artmed Editora, 
Porto Alegre, Vol.2, 1999. 399 p. 
NUNES, I. J. Nutrição Animal Básica, FEP – MVZ Editora, Belo

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