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Ariadne FICHAMENTO-metodologia II

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CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA
METODOLOGIA DA PESQUISA II
Professora da Disciplina:
Profª. Drª. Marta Iris Camargo Messias Da Silveira 
FICHAMENTO PROJETO DE PESQUISA
VIVÊNCIAS DE CAPOEIRA NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA NA TURMA 6º ANO B DA ESCOLA DE ENSINO FUNDAMENTAL DO COMPLEXO MARÍLIA SANCHOTENE FELICE
Acadêmico (a) do Curso de Licenciatura em Educação Física:
Ariadine Rodrigues Barbosa
3º Semestre, 2013/1
Uruguaiana
Tema:
A importância da capoeira como conteúdo da/na Educação Física Escolar
Problema:
Qual a contribuição das aulas de Capoeira na Educação Física Escolar?
TÓPICOS:
Origem e histórico da Capoeira
Capoeira: Dança, Luta, Jogo e Arte
Inserção na Educação Física Escolar 
Lei Federal 10.639/03-citar a lei completa!!!
OBS: Fazer um link dos tópicos relacionado-os entre na escrita da revisão de literatura.
Bibliografia
Autor: Ricardo Martins Porto Lussac, Manoel José Gomes Tubino
Artigo: CAPOEIRA: A HISTÓRIA E TRAJETÓRIA DE UM PATRIMÔNIO CULTURAL DO BRASIL
Publicação: (local, data, cidade): DOI: 10.4025/reveducfis.v20i1.5815
A HISTÓRIA DA CAPOEIRA: PRESSUPOSTO PARA UMA ABORDAGEM NA PERSPECTIVA DA CULTURA CORPORAL
Autor: MELLO, André da Silva
HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA
André Marcos de Paula e Silva
Editora Expoente-2ª Ed. Curitiba 2008
Autor: José Eduardo Segala de Medeiros, Luís Sérgio Peres
Artigo: A CAPOEIRA NA ESCOLA: PERSPECTIVAS PARA A EDUCAÇÃO FISICA ESCOLAR – UMA ABORDAGEM TEORICA E PRATICA
Publicação:
Autor: Mônica Caldas Ehrenberg , Rita de Cassia Fernandes-
Artigo: A CAPOEIRA NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: VIVÊNCIAS E POSSIBILIDADES NO ENSINO FUNDAMENTAL
Publicação: (local, data, cidade) XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas – 2012
Autor: LUCIANO JANNUZZI
Artigo: “NAS VOLTAS QUE O MUNDO DEU, NAS VOLTAS QUE O MUNDO DÁ” CAPOEIRA: DANÇA, LUTA, JOGO, ARTE OU EDUCAÇÃO FÍSICA?
Publicação: (local, data, cidade) Centro Regional Universitário de E. S. do Pinhal-Curso de Educação Física
Autor: Laércio Schwantes Iório, Suraya Cristina Darido 
Artigo: EDUCAÇÃO FÍSICA, CAPOEIRA E EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: POSSÍVEIS RELAÇÕES
Publicação: (local, data, cidade) Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte – 2005, 4(4):137-143
Autor: Sérgio Augusto Rosa de Souza, Amauri A. Bássoli de Oliveira
Artigo: ESTRUTURAÇÃO DA CAPOEIRA COMO CONTEÚDO DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO
Publicação: (local, data, cidade): Revista da Educação Física/UEM Maringá, v. 12, n. 2, p. 43-50, 2. sem. 2001
Autor: Silane Maria Silva, Hellena Camilo Assumpção, José Francisco Ribeiro Taglialegna, Michelle Drumond Caldeira, Carlos Magno Alvarenga 
Artigo: EDUCANDO COM A CAPOEIRA 
Publicação: (local, data, cidade)
Autor: PAULA CRISTINA DA COSTA SILVA
Artigo: CAPOEIRA NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA: ALGUNS APONTAMENTOS SOBRE PROCESSOS DE ENSINO-APRENDIZADO DE PROFESSORES
Publicação: Rev. Bras. Ciênc. Esporte, Florianópolis, v. 33, n. 4, p. 889-903, out./dez. 2011
Autor: Genilson César Soares Bonfim
Artigo: A PRÁTICA DA CAPOEIRA NA EDUCAÇÃO FÍSICA E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A APLICAÇÃO DA LEI 10.639 NO AMBIENTE ESCOLAR: A CAPOEIRA COMO MEIO DE INCLUSÃO SOCIAL E DA CIDADANIA
Publicação: (local, data, cidade)
Disponível: http://www.rbceonline.org.br/congressos/index.php/conece/3conece/paper/viewFile/2379/975
Autor: Autores, Coletivo de. 
Livro: Metodologia de Ensino de Educação Física. 
Publicação: Editora Cortez, 1992
Campos, Hélio-Mestre Xaréu. 
Capoeira Regional: a escola de Mestre Bimba. 
Salvador EDUFBA, 2009
Educação Física-Ensino Médio / vários autores. 
 Curitiba: SEED-PR 2ª edição, 2006.
LEI FEDERAL 10.639/2003
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.639.htm
Acessado em: 22 de setembro de 2013
FICHAMENTO:
Autor: Ricardo Martins Porto Lussac, Manoel José Gomes Tubino
Artigo: CAPOEIRA: A HISTÓRIA E TRAJETÓRIA DE UM PATRIMÔNIO CULTURAL DO BRASIL
Publicação: (local, data, cidade): DOI: 10.4025/reveducfis.v20i1.5815
*Pesquisa de enfoque histórico com procedimento metodológico: pesquisa bibliográfica e documental, tendo realizado revisão de literatura e análise qualitativa das fontes.
O presente artigo tem como objetivo narrar à trajetória de um patrimônio cultural imaterial do Brasil: a capoeira. Procurou-se compor o cenário do desenvolvimento da capoeira durante toda a sua existência, desde a sua verificação em fatos históricos. No entanto, é necessário compreender que a capoeira, como luta ou jogo, não operou nem se manifestou da mesma forma durante todo o período e em todas as regiões onde era encontrada a sua prática. Procedimento metodológico a pesquisa bibliográfica e documental, tendo-se realizado revisão de literatura e análise qualitativa das fontes que foram interpretadas durante a investigação. 
		
A capoeira, enquanto prática corporal, começou a ser documentada na primeira década do século XIX no Rio de Janeiro, designando também seu praticante.
Por volta do segundo quartel do século XIX e início do XX, podemos verificar documentos e evidências que apontam o surgimento da capoeira em outros Estados do Brasil: na Bahia (ABREU, 2005; PIRES, 2004), na região metropolitana de Pernambuco (ARAÚJO, 2005b; ARAÚJO; JAQUEIRA, 2004; OLIVEIRA, 1971), na cidade de São Luís, capital do Estado do Maranhão (ARAÚJO; JAQUEIRA, 2004; DA COSTA, 2006, p. 3-26), na cidade de Belém no Estado do Pará (LEAL, 2005; LOPES, 2002), na cidade de São Paulo (VIEIRA, 1995) e em cidades do interior do Estado de São Paulo (ARAÚJO, 2004).
Desde o final do século XIX, alguns intelectuais da época, observando o viés positivo da prática da capoeira sob um olhar patriótico e acompanhando o movimento inicial de esportivização e institucionalização dos esportes e jogos pelo mundo, defendiam esta como uma ginástica e luta nacional, de origem brasileira, que deveria ser incentivada como prática regrada e aproveitada nos meios militares e na formação física dos jovens. Embora se possam encontrar referências no início do século XX que abordavam a capoeira de diferentes formas (CAMPOS, 1906; BARRETO, 1908), pode-se afirmar que o marco da iniciativa mais expressiva em promover a luta brasileira como esporte, defesa pessoal e ginástica foi a publicação da obra O Guia do Capoeira ou Ginástica Brasileira (OFEREÇO, DEDICO E CONSAGRO, 1907).
As mudanças advindas da criação da Luta Regional Baiana na Bahia por Mestre Bimba geraram um novo movimento de capoeiristas naquela região, onde iriam denominar a capoeira praticada por eles como Capoeira Angola (LUSSAC, 2004), influenciados por pesquisadores da época que, por sua vez, pautaram seus estudos em autores que firmavam um exclusivismo banto na formação étnica brasileira (ARAÚJO;JAQUEIRA, 2004).
Este movimento seria uma oposição às mudanças na capoeira realizadas por Bimba, somadas às reivindicações socioculturais e identitárias de seus praticantes. Tanto a Capoeira Regional como a Capoeira Angola mais tarde viriam a compor grande parte das matrizes irradiadoras da capoeira pelo Brasil e pelo mundo. Um dos fatores que impulsionaram a irradiação da capoeira baiana para fora da Bahia, conquistando novas fronteiras, foi seu caráter lúdico.
O que muitos não sabem é que o berimbau nem sempre acompanhou a capoeira. Antigamente ele era utilizado por ambulantes, vendedores e outras expressões culturais. Foi somente no início do século XX que tal instrumento musical foi incorporado à capoeira da Bahia (ABREU, 2005, p. 59; ARAÚJO, 2002, p. 111).
No Rio de Janeiro, ao final da primeira metade do século XX, Inezil Penna Marinho publica Subsídios para o estudo da metodologia do treinamento da capoeiragem (1945), sendo a última obra específica da metodologia da capoeira carioca, com a intenção de revitalizar a arte-luta. Inezil dedicou essa obra aos capoeiras do Brasil, em especial a Zuma e ao “velho Sinhozinho”, por tanto estarem trabalhando para que a capoeiragem não desaparecesse.
Acapoeira, de origem brasileira, hoje incentivada, protegida e amparada por lei federal, é considerada uma das práticas esportivas mais complexas e completas da humanidade (BRASIL, 1988). Em 2008 foi reconhecida pelo IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - como patrimônio cultural imaterial do Brasil, através do registro das Rodas de Capoeira no Livro das Formas de Expressão e do Ofício dos Mestres de Capoeira no Livro dos Saberes, e certamente o seu próximo passo é ser candidata a patrimônio da humanidade pela Unesco. Outras características são seus aspectos multifacetados e polivalentes, pois a capoeira é compreendida como arte, dança, cultura, luta, arte marcial, jogo, esporte, música, folclore e filosofia. Essa polivalência faz com que seja possível trabalhar amplos aspectos, como jogo, esporte, artesanato, música, história, entre outros (CAMPOS, 1998; LUSSAC, 2004).
A HISTÓRIA DA CAPOEIRA: PRESSUPOSTO PARA UMA ABORDAGEM NA PERSPECTIVA DA CULTURA CORPORAL
Autor: MELLO, André da Silva
Mello em seu artigo “A HISTÓRIA DA CAPOEIRA: PRESSUPOSTO PARA UMA ABORDAGEM NA PERSPECTIVA DA CULTURA CORPORAL” relata que os negros eram vistos como uma mercadoria submetidos às vontades de seus senhores e utilizados para todo tipo de trabalho. “Suas atividades se davam na pecuária, na mineração, na agricultura, e nos centros urbanos. A situação do negro urbano era diferenciada do negro do campo, esses últimos, grande maioria (90%), tinham um trabalho mais árduo e a violência empregada contra eles era mais intensa e constante”.
Os negros foram oprimidos e marcados pela violência, castigos, torturas, humilhações e o medo, Ribeiro (1996) apud Mello traz a nossa recordação como eram a vida destes cidadãos: 
.... sua rotina era sofrer o castigo diário das chicotadas soltas, para trabalhar atento e tenso. Semanalmente vinha um castigo preventivo, pedagógico, para não pensar em fuga, e, quando chamava a atenção, recaía sobre ele o castigo exemplar, na forma de mutilação de dedos, do furo dos seios, de queimaduras com tição, de ter todos os dentes quebrados criteriosamente, ou dos açoites do pelourinho, sob trezentas chicotadas de uma vez, para matar, ou cinquenta chicotadas diárias, para sobreviver.
Independente de suas origens, a capoeira nasceu como forma de resistência à escravidão, a luta contra a opressão e pela liberdade desse povo, mas ela também é considerada um movimento de resistência cultural, de uma necessidade do negro reconstruir sua identidade, de se fazer humano (Mello).
Teixeira apud Mello disserta que “as características da capoeira já existiam de forma isolada em outras manifestações africanas (danças, movimentos corporais, instrumentos musicais, etc.” que complementa-se com as palavras de Vieira citado por Mello:
.... é preciso considerá-la como parte da dinâmica constante da cultura afro-brasileira... A capoeira surgiu no Brasil como luta de resistência de uma comunidade que trazia uma imensa bagagem cultural de sua terra de origem e que precisou desenvolver um conjunto de técnicas corporais em virtude da situação de opressão que viviam durante a escravidão.
Mello “provavelmente a capoeira foi criada no século XVII. A dificuldade em precisar os fatos e datas relativos à origem da capoeira é decorrente de atitudes como a do então ministro das finanças da República Rui Barbosa que ordenou a incineração de uma vasta documentação sobre a escravidão. A capoeira teve origem no meio rural. Sua passagem para os centros urbanos ocorreu no século XIX. O principais centros onde a capoeira desenvolveu-se foram as cidades do Recife, Salvador e Rio de Janeiro. Quando a prática atingiu os meios urbanos houve adesão de outras classes da sociedade, como ex-escravos, estrangeiros e até mesmo membros de elite, com essa principalmente na cidade do Rio de Janeiro, foi a formação das "maltas" de capoeira
 Com a instalação do governo republicano provisório, os capoeiristas foram severamente perseguidos, sendo um dos principais alvos de repressão policial no início da república, recebendo, na revisão do Código de 1890, por meio do Decreto n.º 847, sob o título "Dos Vadios e Capoeiras", a seguinte sanção:
"art. 402. Fazer nas ruas ou praças públicas exercícios de destreza corporal conhecido
pela denominação de capoeiragem. Pena de 2 a 6 meses de reclusão.
Parágrafo Único.
É considerado circunstância agravante pertencer o capoeira à alguma banda ou malta. Aos chefes ou cabeças impor-se-á a pena em dobro."
Apesar da proibição a capoeira não desapareceu, embora tivesse sido bastante erradicada a presença das maltas e a violência promovida por elas, sua prática continuava na clandestinidade.
Paralelamente à proibição e à perseguição a capoeira foi ganhando espaços na sociedade, principalmente nos meios intelectuais e militares que "... preocupados com a própria viabilidade da nação brasileira e informados pelos princípios da medicina higienista, que propugnava a ginástica como meio profilático para a regeneração da raça" (Reis, 97), viram na capoeira uma luta "autenticamente nacional", uma "excelente ginástica".
A legalização da capoeira só ocorreu na década de 30, do século XX. Apesar das primeiras tentativas de legalizar esta prática tenham vindo do Rio de Janeiro, este fato somente ocorreu na Bahia. A descriminalização da capoeira ocorreu através da sua esportização. Como demonstra Castelani Filho apud Falcão:
A capoeira não é - como nos desejam fazer crer - uma técnica de luta apenas, nem tão somente outra manifestação esportiva. Ela, enquanto técnica, enquanto forma de luta, vista de forma restrita a esses dois elementos, acaba por matar tudo o que a fez nascer, crescer e sobreviver ao longo de toda uma época(...) Ao separarmos a capoeira de sua história, nós a destruímos enquanto elemento de cultura brasileira e a transformamos em mais um elemento de alienação através da prática esportiva. (p.22).
HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA
André Marcos de Paula e Silva
Editora Expoente-2ª Ed. Curitiba 2008
Silva (2008, pág 30) discorre sobre a escravização africana “aprisionados em sua própria terra, os africanos eram acorrentados e marcados com ferro em brasa para identificação e, então, vendidos aos comerciantes que se estabeleciam no litoral da África.” Ainda segundo Silva, os escravos partiam da África nos “tumbeiros” acorrentados nos porões para evitar revoltas e conflitos, o espaço era reduzido, o calor insuportável, água e alimentos eram escassos, ao chegarem ao Brasil eram vendidos nos portos, em leilões. [1: Tumbeiros: denominação dada aos navios que faziam translado de negros do continente africano para a América. O tamanho, bem como divisão interna, variam ao longo dos séculos (...) geralmente os negros vinham amontoados no porão sem as mínimas condições de higiene. Ali faziam suas necessidades fisiológicas e a falta de ar puro facilitava a proliferação de doenças, especialmente infecto-contagiosas, como varíola.]
Autor: José Eduardo Segala de Medeiros, Luís Sérgio Peres
Artigo: A CAPOEIRA NA ESCOLA: PERSPECTIVAS PARA A EDUCAÇÃO FISICA ESCOLAR – UMA ABORDAGEM TEORICA E PRATICA
Publicação:
O presente estudo teve como objetivo a necessidade de discutir, debater e refletir sobre conceitos metodológicos utilizados pelos profissionais da área e o interesse em estabelecer parâmetros que tornem o ensino da Educação Física Escolar, verdadeiramente justo e democrático. O mesmo caracterizou-se do tipo descritivo exploratório. Os estudos desse projeto de pesquisa estão concentrados nas concepções metodológicas do ensino da Educação Física, tendo como objeto específico, a diferenciação entre a teoria estudada no meio acadêmico e a prática pedagógica utilizada na escola.
“Educação Física, que faz parte de um contexto de ciências, onde norteia os conhecimentos necessários para formar um sujeito completo e reflexivo e neste contexto poderia pensar a Educação Física também como Educação. 
(...) sendo um ensino que contemple a todos, com um universo cada vez maiorde atividades físicas e mobilidade humana, para ampliar o vocabulário motor, se deve basear-se numa concepção extremamente técnica, onde se pode ganhar, por um lado, “alunos/atletas, alunos/dançarinos”, em potencial e, por outro lado, “alunos/pseudo qualquer coisa”, com sentimentos de frustração, fracasso e discriminação, por não atingirem as mesmas metas daqueles mais habilidosos.”
A discussão em torno de uma nova teoria geral para a Educação Física, passa sempre sobre a perspectiva de duas abordagens: a primeira aborda o esporte como campo de estudo disciplinar e é denominada por Bento (1994) e Sobral (1992), apud Nascimento (2002), como Ciências do Esporte ou Ciência do Esporte (Amádio, 1993; Gaya, 1994 a e b; Marques, 1990; apud Nascimento, 2002. p.34).
A segunda abordagem, tem como seu campo de estudo disciplinar, a atividade física e o movimento humano (motricidade humana), chamada de Ciência do Movimento Humano, por Arnold (1994), Coetzee (1994), Lawson & Morford (1979), Newel (1990a, b, c), Renson (1990) e Teixeira (1993), apud Nascimento (2002), ou ainda, segundo Cavalcanti (1996) e Sérgio (1987) apud Nascimento (2002), Ciência da Motricidade Humana.
Surgiu então, vinda do exterior, uma Educação Física que parecia atender às necessidades de desenvolvimento das habilidades básicas naturais da criança, sem envolvê-las num processo precoce de iniciação esportiva. Era a psicomotricidade. A finalidade da psicomotricidade era a de trabalhar o indivíduo integral, em sua totalidade, sendo que seu processo de apreensão do conhecimento se dava através do ensino pelo movimento.
Para Hurtado (1983, p. 195), o ensino deveria partir sempre das experiências e conhecimentos que o aluno trás consigo. Dessa forma, a distância entre sua cultura e o conhecimento sistematizado a ser apreendido, não seria tão grande, estimulando-o a se interessar em aprender.
Considera também, que cada aluno é um ser distinto, por isso deve ter suas necessidades, interesses e aptidões respeitadas, para que possa desenvolver toda sua potencialidade, sendo a Educação Física na escola, a disciplina que reúne as melhores condições para esse desenvolvimento.
Há que se pensar numa educação Física que questione essas posturas, que quebre paradigmas, tomando atitudes mais críticas com relação a essas realidades e, sem dúvidas, esse processo de mudanças deve passar por uma grande reflexão junto à formação do profissional de Educação Física.
Essa reflexão, contudo, não significa que devamos abandonar, jogar fora o que foi elaborado ao longo dos anos, pelo contrário, é com uma análise crítica dessas posturas, que se vão construir novos conceitos. Não se pode esquecer que a história de uma prática pedagógica é construída por fatos sociais, os quais formam uma cultura, que por sua vez, não se modifica da noite para o dia, como mágica, num estalar de dedos.
Capoeira: Um Pouco de sua História
Luta, dança, jogo, manifestação cultural de um povo sofrido e injustiçado, que teve seu direito à liberdade caçado pela cobiça e prepotência de uma sociedade preconceituosa e desumana. Os povos da África foram trazidos à força para o Brasil, com o objetivo de serem escravizados e, portanto, trabalharem, produzirem riquezas sem serem pagos pelos serviços prestados. Não bastasse a violência de terem suas famílias sendo separada pela escravidão, também sua cultura tentou-se escravizar, impondo-os novos conceitos de sociedade, religião, costumes alimentares, vestuários entre outros. Diante dessa nova situação, os africanos, mantinham suas tradições e culturas através de atos disfarçados. Seus rituais religiosos foram transformando-se lentamente em festas, onde havia a possibilidade de tocarem seus batuques, orar em forma de dança para seus deuses – orixás – que, diga-se de passagem, foram associados aos santos católicos para serem adorados de maneira mais livre e aberta.
Muitos estudiosos pesquisaram e continuam pesquisando sobre a origem da capoeira, preconizando e atribuindo sua criação como sendo genuinamente brasileira, entre eles, um professor austríaco chamado Gerhard Kubic (Silva –1995), o qual sempre estranhou o fato de ser chamada Capoeira de Angola, pois não existe nada naquele País que se assemelhe ao fato. Waldeloir do Rego (1968), afirma que a Capoeira foi criada no Brasil pelos negros africanos, posição reforçada por Edson Carneiro (1936), que diz que “a Capoeira de Angola é assim denominada porque era praticada pelos negros de Angola em seus rituais místicos, utilizando inclusive instrumentos de percussão para embalar sua ginga e seus saltos”.
(...)capoeira passou a ser mais perseguida e proibida pelo Código Penal de 1890, tendo que sobreviver precariamente. Com a repressão da prática da capoeira, outras lutas e artes marciais orientais ganharam espaço, dentre as quais o jiu-jitsu, o judô, o karatê, o aikidô e o tae-kon-dô. Além daqueles que usavam a capoeira de forma errada, havia também grandes mestres que amavam a capoeira e foram estes que deram a sua continuidade. Dentre estes mestres destacam-se o Mestre Pastinha e o Mestre Bimba. Este último, por volta de 1932, fundou a primeira Academia de Ensino de Capoeira, dando-lhe com isso maior ascensão social.
A historicidade da capoeira persiste, porém seus conceitos originais voltam a ser discutidos e trabalhados de forma teórica e prática, nas Academias, Escolas e Universidades, com o objetivo de resgatar e resguardar a importância cultural desta manifestação, como parte importante de nossa história, (...)
A Educação Física e a Capoeira na Escola
Mais uma vez se constata a importância de utilizar o jogo da capoeira como elemento viabilizador das intenções de socialização e desenvolvimento afetivo do educando, transformando-o em protagonista de sua própria história e não em um mero coadjuvante.
Isso quer dizer, que tudo o que se faz deve ter um sentido, um significado e, em se tratando de educação e ainda, de Educação Física, não se pode ignorar o fato de a aprendizagem levar em conta os aspectos motores, cognitivos e afetivosociais do indivíduo, porém, trabalhados em conjunto, como um todo e não fragmentados.
A Capoeira, inserida na Escola através dos pressupostos da Educação Física, encaixa-se perfeitamente em todos os aspectos que a norteiam seus fundamentos permitem o desenvolvimento do educando, daí a razão para Mestre Xaréu ser um grande defensor da capoeira na escola, pois ele acredita na sua prática dentro de um sistema globalizado, aberto, dinâmico, que estimule a criatividade, integrando-se com a proposta pedagógica da escola.
Mestre Xaréu (Campos – 1996), diz ainda ser a capoeira, um método de ginástica genuinamente brasileira, porém, para que a mesma não perca sua identidade, deve-se trabalhá-la em suas diversas formas:
- Capoeira luta;
- Capoeira dança e arte;
- Capoeira folclore;
- Capoeira educação;
- Capoeira como lazer;
- Capoeira como filosofia de vida
Para que o aluno possa vivenciar todo esse contexto da capoeira, o professor deverá, no decorrer do processo de ensino-aprendizagem, trabalhar a seqüência dos fundamentos, o jogo, o toque dos instrumentos e o canto, como forma de estimular, motivar e envolvê-los de uma forma mais natural com a capoeira.
Contextualizando a Capoeira
Desde sua criação, a capoeira tem atravessado por fases distintas, sendo definida como dança, luta, jogo, manifestação místico-religiosa, sempre atendendo a propósitos definidos, ora por seus praticantes, ora pela ideologia da classe ominante do período vivido, a qual sempre teve por objetivo a manutenção e a conquista do poder.
Perspectiva Interdisciplinar
Santos e Oliveira (2001), abordam a importância da inclusão da capoeira na Educação Física Escolar, expondo os vários aspectos que justificam essa inclusão, como por exemplo: a origem afro-brasileira e toda a sua expressão cultural; o seu surgimento através de uma luta de classes; o combate a códigos culturais dominantes, entre outros.
Outros aspectos apresentados são as múltiplas formas que a capoeira pode ser explorada,ou seja, como forma de luta, dança, jogo, arte, esporte, educação, lazer e o folclore, sempre trabalhando interdisciplinarmente, integrando-se com as outras disciplinas incluídas na proposta pedagógica da escola.
Como parte integrante no processo de inclusão da Capoeira na Escola, até mesmo para atender ao disposto na Lei nº 10.639/2003, sobre o ensino da temática “História e Cultura Afro-Brasileira” nas escolas públicas e particulares do Brasil, faz-se necessária uma conduta interdisciplinar da Educação Física, com as demais áreas do conhecimento (...)
Proposta de Atividades
1 - Ginga: Principal Fundamento; é a alma da Capoeira; sem aprender a ginga, não há jogo.
2 - Cocorinhas: Movimento básico de defesa.
3- Exercícios Combinados: Repetir os movimentos da Ginga e do cocorinhas, juntos, para memorização;
4- Aú: Movimento acrobático bastante conhecido. Assemelha-se à roda (estrela) da ginástica de solo.
5- Meia-Lua de Frente: Movimento de ataque caracterizado pelo lançamento da perna, por sobre o oponente, descrevendo um giro, no sentido de fora para dentro.
6- Exercícios Combinados:- Ginga/Aú/Meia-Lua de Frente /Cocorinhas (individual; dois a dois)
Atividade 2: Pesquisa e Descoberta
1 – Propor aos alunos que descubram outros golpes, tanto de ataque como de defesa, para serem trabalhados;
2 – Trabalhar as músicas de Capoeira; como são as melodias e o que dizem as letras;
Autor: Mônica Caldas Ehrenberg , Rita de Cassia Fernandes-
Artigo: A CAPOEIRA NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: VIVÊNCIAS E POSSIBILIDADES NO ENSINO FUNDAMENTAL
Publicação: (local, data, cidade) XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas – 2012
 
O seguinte artigo aborda o seguinte: “A intenção deste estudo foi analisar a possibilidade de aplicação da capoeira como conteúdo nas aulas de Educação Física escolar enfocando a formação humana e a capacitação do aluno acerca desse rico elemento da cultura corporal através de uma pesquisa 10 escolas da rede Estadual, Municipal e Particular da cidade de Votorantim/ SP com coleta de dados o questionário de perguntas abertas e fechadas”. Dos resultados encontrados o autor citou nas suas conclusões: “a grande maioria dos professores tanto da rede pública quanto da particular de ensino, não trabalham com o conteúdo capoeira em suas aulas. E os motivos podem ser vários, desde a falta de espaço e materiais adequados até mesmo o desinteresse na busca de novos conhecimentos.”
Do referencial utilizado pelos autores destaco os parágrafos:
Na atualidade, entendemos a Educação Física escolar como componente curricular que tem seu objeto de estudo fundamentado na diversidade da cultura corporal (jogos, lutas, danças, esportes, ginásticas entre outras práticas) em seus múltiplos significados, buscando educar o homem como ser integral, crítico e preparado para exercer sua cidadania, além de se propriar criticamente dessa cultura corporal. No entanto, o que se tem visto ainda é uma prática pedagógica que privilegia apenas uma parcela da cultura corporal, por exemplo, os esportes coletivos, tal fato que preocupa pois consideramos que a Educação Física escolar possui dois grandes objetivos educacionais: a formação humana que envolve o ensino e aprendizagem das normas e regras que servem de base para a organização de um grupo social e a capacitação entendida como a aquisição de habilidades e capacidades de ação (PEREZ GALLARDO, 2003). Posto isso, buscamos no ambiente escolar, diversificar o leque de conteúdos vivenciados, refletidos e ressignificados.
Neste sentido, a capoeira deve também ser tratada pela área da Educação Física como conteúdo da cultura corporal, respaldada pela Lei nº. 10.639 que torna obrigatório nos estabelecimentos de Ensino Fundamental e Médio, oficiais e particulares o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira, valorizando nossas raízes e a identidade cultural do povo brasileiro com sua riqueza como nos afirma Adorno (1987).”
 (...) “Contudo, para que a capoeira esteja efetivamente inserida no âmbito educacional, o professor deve buscar para além da vivência, a contextualização, a fundamentação teórico – crítica, a fim de que seus alunos possam refle ir sobre ela, identificando aspectos políticos, econômicos e sociais do contexto que os cercam.”
(...) “Fica evidente que a prática de capoeira nas aulas não pode ser moldada nos princípios do rendimento atlético. Em outras palavras como nos sugere Falcão (2001, p.61): 
em vez de apenas copiar gestos, rituais e fundamentos, professor e alunos são desafiados a ampliar os conhecimentos em relação à capoeira e ao mundo, através de processos didáticos-pedagógicos críticos que questionam a adaptação e a submissão e visem ao esclacerimento, à competência e à autonomia.”
(...) “No entanto, mesmo com a legislação em vigor, a inserção da capoeira ainda se encontra distante do que desejamos. É possível ir ainda mais longe, pois como manifestação cultural oferece possibilidades reais para ser trabalhada não só em ações sociais com caráter instrumental, mas fundamentalmente como conteúdo de ensino nas aulas de Educação Físca escolar em projetos interdisciplinares”
(...) podemos dizer que ao desenvolver o conteúdo capoeira poderemos facilitar a sociabilização, ou seja, uma “capoeira da escola” que “sem perder as suas características originais e essenciais, é reconstruída e reinventada a partir dos referenciais educacionais”. (SILVA; HEINE, 2008). Portanto, para acontecer o ritual da roda, necessitamos da colaboração de muitas pessoas que representam papéis diferenciados, cantadores, jogadores, pessoas para bater palma e responder o coro entre outras. 
A capoeira como jogo traz aspectos de ludicidade por ser uma ação voluntária de quem joga, pois o “jogador” tem a liberdade de escolher se joga ou não, com quem e quando joga tendo limites de tempo e de espaço, respeitando a simbologia dos instrumentos (o berimbau em especial) e os demais colegas (NASCIMENTO, 2005).
Portanto, tão ou mais importante quanto a decisão de ensinar ou não um determinado conteúdo ou modalidade de esporte, dança, jogo, ginástica, seria refletirmos sobre os sentidos e significados que atribuimos a eles. Ao escolhermos a capoeira como conteúdo fugimos dos conteúdos dito tradicionais e proporcionamos novos significados socioculturais. (SOUZA; OLIVEIRA, 2001)
Autor: LUCIANO JANNUZZI
Artigo: “NAS VOLTAS QUE O MUNDO DEU, NAS VOLTAS QUE O MUNDO DÁ” CAPOEIRA: DANÇA, LUTA, JOGO, ARTE OU EDUCAÇÃO FÍSICA?
Publicação: (local, data, cidade) Centro Regional Universitário de E. S. do Pinhal-Curso de Educação Física
No presente trabalho foi realizada uma pesquisa bibliográfica sobre a capoeira, conceituando suas dimensões através da análise histórico-filosófica, dividindo seus tratamentos em Dança, Luta, Jogo, Arte e Educação Física considerando suas características como tais e estudando suas possibilidades para assimilar cultura, enumerando assim as contribuições para a área da Educação Física, ou seja, para o âmbito da Educação.
Capoeira é Dança?
Segundo Adorno (1999) a expressão corporal nos ensina há milênios uma linguagem sem palavras que permite a comunicação, estabelece a fraternidade nos gestos comuns, a dança revela os sentimentos e evidencia idéias. Era disso que se serviam os escravos, protestando e reivindicando seus direitos e desejos, expressando a linguagem do corpo na revolta, na insubordinação às regras escravocratas, fugindo de seus senhores, formando quilombos, afirmando sua cultura. 
Essa busca de afirmação cultural até hoje está viva, as danças afro-brasileiras permanecem acopladas na pluralidade da capoeira, estas que serviram como pilar de sustentação, camuflando a luta libertina e enganando a sociedade feudal.
Atualmente a capoeira é considerada como uma das mais expressivas e conhecidas manifestações da cultura brasileira, pois no período da escravidão houve a necessidade de camuflar a luta em dança, para que os opressores não a represarem. 
Nesta dança, instrumentos depercussão de diversas origens foram utilizados, o berimbau -principal também acompanhado pelo atabaque, pelos pandeiros, agogô e reco-reco, formando assim um conjunto de instrumentos a serviço desta arte. 
Dentre as composições poéticas elaboradas pelos capoeiristas, destacamos as chulas, corridos e ladainhas. Reis (2001, p. 85) afirma que: “a dança parece ser um elemento de extrema importância para a compreensão do que é capoeira”.
Um dos aspectos que mais a aproximam da dança é a ginga, onde esta é conduzida pelo ritmo da bateria, como afirma Carneiro (1975, p. 5): “A ginga do capoeira, sublinhada pelas chulas ao som de berimbaus e pandeiros, dá ao jogo uma aparência de dança”. Para Reis (1997, p. 129) “A ginga é ritmada ao som do berimbau. Por intermédio dela, o corpo dos capoeiristas descreve círculos no espaço circular da roda, o corpo dança, aproximando a capoeira do lúdico”.
A dança é uma parte integrante do jogo: há uma relação de participação direta, quase de identidade essencial. “A dança é uma forma especial e especialmente perfeita do próprio jogo” (HUIZINGA, 2000, p. 184).
A dança na capoeira, imbricada no jogo, expressa-se no gingado em que o corpo todo se embala ao som de berimbaus, pandeiros, atabaque, cantos e palmas, descrevendo círculos no espaço da roda e fazendocom que o sujeito lute dançando e dance lutando (FALCÃO, 2004, p. 154).
Capoeira é Luta? 
Desde a criação da capoeira a dimensão de luta sempre esteve presente, formando um dos pilares desta manifestação cultural. O escravo criou a capoeira como uma forma de resistência à sua condição de vida, na época da escravatura. 
Diversos autores acreditam que a capoeira surgiu do processo de aculturação do negro africano no Brasil, do advento da escravidão, tornando-se assim uma resistência cultural na manifestação e disseminação da cultura afro-brasileira no processo de formação da identidade do nosso país (REIS, 2001).
Para Iório; Darido (2005) a capoeira nos seus primórdios (escravidão) e no período logo após a libertação dos escravos, apresentava características de luta, podendo utilizar como exemplos: a luta dos escravos fugitivos, a luta de sobrevivência dos quilombos e os combates entre as maltas -grupos de capoeiristas foras da lei -e a polícia.
“Capoeira-Luta -representa a sua origem e sobrevivência através dos tempos na sua forma mais natural, como instrumento de defesa pessoal genuinamente brasileiro” (CAMPOS, 1990, p. 15).
Algranti (1988) citado por Soares (2004, p. 74) diz: “é difícil distinguir onde termina a arte marcial e começa a brincadeira ou “folguedo”, para utilizar a linguagem de outrora”. 
Podemos analisar nestas tentativas de conceituar a capoeira como luta, que em quase todas elas existe uma associação com a dançaeojogo, acarretando assim em uma pluralidade estética. Outra característica predominante nos capoeiristas é a mandinga, ou seja, a magia existente em momentos de sua luta.
a capoeira é reconhecida como única luta no mundo em que seus lutadores se confrontam ao som de cânticos executados pelos demais componentes. Além disso, é possível afirmar que os cânticos de capoeira representam o mais significativo espaço de representação dosconflitos gerados no contexto desta arte-luta (FALCÃO, 1996, p. 108).
Capoeira é Jogo?
O jogo é uma atividade voluntária, exercida dentro de determinados limites de tempo e de espaço, segundo regras definidas pelos próprios jogadores, acompanhado de sentimentos como alegria, tristeza e de uma consciência de ser diferente da vida quotidiana (HUIZINGA, 2000, p. 33).
E era jogando capoeira que se serviam os escravos, praticando-a em momentos de ócio tendo esta manifestação como divertimento. No jogo da capoeira tudo é possível e a combinação de elementos: a música, os instrumentos, a interação dos que estão presentes, os jogadores e observadores se integram formando um momento único. O jogo sempre estabeleceu uma nova realidade, tornando-se uma proposta de divertimento, alegria e interação.
Na capoeira, o jogo sempre foi a peça principal para sua sobrevivência, desde a época da escravidão onde os escravos tinham que camuflar seus costumes, rituais e ideários, servindo disto que as manifestações culturais sobreviveram ao poder repressivo.
Capoeira é Educação Física?
Outros autores defendem a capoeira como forte conteúdo a ser ministrado na escola, como Graça (1987), afirmando que a capoeira enquanto instrumento de educação, apresenta-se com amplas possibilidades quanto à formação do homem contemporâneo, principalmente no que se refere à integração dos aspectos físicos, psicológicos e sociais, bem como quanto a transnacionalidade, indispensável ao exercício crítico da cidadania. 
Campos (1990) afirma que a capoeira é um valioso instrumento para formação integral do aluno pois interliga aspectos como cultura, história e arte. Reis (2001) descreve que professores de educação física, pedagogos e educadores estão tentando legitimar a capoeira como instrumento de educação, onde esta colabore com a visão ampliada de um processo educacional crítico, reflexivo e contextualizado com ideais de promoção de cidadania.
De comum acordo com Souza; Oliveira (2001) a capoeira é um conteúdo que pode ser contemplado na escola devido a multiplicidade de enfoques como luta, dança, arte, jogo, folclore e educação. 
Utilizando a capoeira como educação, além de estarmos valorizando nossa cultura, ou seja, criando um possível referencial nacional, podemos possibilitar que a história se inverta, onde no início da Educação Física no Brasil ocorreu a importação dos conteúdos a serem ministrados, pois nosso país foi colonizado, existindo a necessidade dessa importação, num futuro próximo podemos estar exportando conhecimentos, a fim da busca de educação, como já está acontecendo com a globalização da capoeira.
Autor: Laércio Schwantes Iório, Suraya Cristina Darido 
Artigo: EDUCAÇÃO FÍSICA, CAPOEIRA E EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: POSSÍVEIS RELAÇÕES
Publicação: (local, data, cidade) Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte – 2005, 4(4):137-143
A metodologia utilizada neste artigo e a revisão bibliográfica ou pesquisa bibliográfica.
A Educação Física, em seu trajeto histórico, percorreu diversas fases com diferentes pensamentos influenciados pelo contexto na qual existia, ou seja, a Educação Física manteve relações profundas com o pensamento politico-ideologico de cada época vivida. Alguns exemplos seriam as tendências eugenista, higienista e esportivista que foram reflexos do pensamento do inicio do século XX, da década de 30 e 70, respectivamente.
Da mesma maneira, a Educação Física escolar enquanto disciplina refletiu o pensamento vigente de cada época, transformando sua pratica pedagógica, seus objetivos, estratégias e discursos conforme a política adotada. Como exemplos, podemos citar a utilização dos métodos ginásticos europeus (inicio do século XX), do método desportivo generalizado (década de 40-60) e do esporte na escola (década de 60-70), correspondentes aos pensamentos políticos adotados em cada época.
Encontramos, também, na Capoeira (manifestação popular afro-brasileira), muitas transformações/ressignificações decorrentes do sistema político adotado na época, por exemplo, a Capoeira escrava no século XVII e XVIII, a marginalidade no século XVIII, a proibição em 1888, a liberação de sua pratica em 1932, a criação da Capoeira Regional na década de 30, a Capoeira-esporte, a criação da Confederação em 1992.
Estas três temáticas podem ser inter-relacionadas.
Dentro desta concepção de ginástica, provinda da instituição militar, aparecem as primeiras propostas de transformar a Capoeira em ginástica nacional. Em 1907 e lançado o texto com o título Guia do capoeira ou ginástica brasileira, escrito por um oficial identificado por O.D.C., no qual defendia a Capoeira como uma forma de defesa nacional (Silva, 2001). Começa, assim, neste período, uma tentativa de se aproximar a Capoeira da Educação Física.
Inezil Penna Marinho (1956) propõe a criação de um MétodoNacional de Educação Física, uma Ginástica Brasileira: a Capoeira, com o objetivo de valorizar o sentimento de patriotismo de seus praticantes. De acordo com Reis (1997):
O autor predetermina os objetivos da capoeira nos currículos escolares e mais uma vez, demonstra a mesma visão equivocada dos antigos protagonistas dos objetivos da educação física escolar brasileira [...] o autor, infelizmente, reforçou a visão superficial e ingênua de que cada brasileiro deveria abraçar com bravura, obediência e resignação, na sua função patriótica de colocar o Brasil e sua população engajados no processo desenvolvimentista e orquestrados por um governo antidemocrático e militarista [...]. Esta consciência pela busca da cidadania não poderia advir de uma proposta equivocada a fim de incluir a capoeira nos currículos escolares, (p.73-74).
A Capoeira deveria, assim, estabelecer relações com a Educação Física e a escola, a fim de contribuir com a formação cívica dos alunos, desvinculando-se de suas origens, para tornar-se instrumento de adestramento e condicionamento físico.
Entre 1930 e 1945 a Educação Fisica escolar, na opinião de Betti (1991), sofre influencias do pensamento higienista, preocupado com a saude fisica, e tambem com o aperfeicoamento das qualidades fisicas. Este era um modelo de ensino centrado na producao de mao de obra para industria. Vale lembrar que nesta epoca Getulio Vargas era o presidente e acabava de liberar as manifestações populares, como a Capoeira (que havia sido colocada no Codigo Penal de 1890, pelo Marechal Deodoro da Fonseca).
Paralelamente, aproveitando-se do fato, Mestre Bimba cria a Luta Regional Baiana (futuramente chamada de Capoeira Regional), preocupada, tambem, com a melhoria da saude. Areias (1984) afirma que: “Naquele mesmo ano (1936) a capoeira é oficializada pelo governo como instrumento de Educação Fisica [...]” (p.68). 
A Capoeira, mesmo vinculada a este ideal nao consegue atingir o campo da Educacao Fisica Escolar, mantendo, assim, certa distancia entre elas. Notamos que tanto a Capoeira quanto a Educacao Fisica e a escola nao conseguem superar os ideais eugenistas e higienistas desta epoca.
Entre as decadas de 40 e 60, de acordo com Betti (1991), a Educacao Fisica sofre de influencias do pensamento voltado para a “- Melhora fisiologica, psiquica, social e moral” (p. 131), atraves da adocao do Metodo Desportivo Generalizado. Durante este periodo a pratica da Capoeira Angola e da Capoeira Regional, foi, de acordo com Silva (2001): “[...] realizada predominantemente nas academias, perdendo sua caracteristica de manifestacao de rua [...]” (p. 138). Este “deslocamento” sofrido pela Capoeira nao influencia a sua pratica nas aulas de Educacao Fisica escolar, permanecendo distantes (desvinculadas).
Assim, na decada de 80, a Capoeira toma dois caminhos distintos. E importante ressaltar, que mesmo com a tentativa de esportivizar a Capoeira, ela se manteve distante da Educacao Fisica escolar.
A Capoeira Angola volta seus olhares para os “Mestres da antiga” (termo usado pelos capoeiristas para se referir aos Mestres que sao mais idosos, muito proximos aos Mestres que aprenderam com os ex-escravos), valorizando, ainda, suas raizes e caracteristicas. Eventos sao promovidos, os Mestres viajam o Brasil e o mundo, como o Mestre Joao Grande que esta nos Estados Unidos ha muito tempo, como Mestre Joao Pequeno, Lua de Bobo, Pele da Bomba, Boca Rica e outros.
A Capoeira Regional torna-se alvo das academias de ginastica, “[...] iniciando uma luta pelo mercado consumidor de atividades fisicas” (Silva, 2001, p.139). A Capoeira (Angola e Regional) tambem e encontrada na universidade, como disciplina curricular, de alguns poucos cursos de graduacao em Educacao Fisica. Mas, e na escola?
Surgem novos ideais em relacao a Educacao Fisica com perspectivas de mudancas sociais, atraves de uma formacao critica dos alunos.
Ha a preocupacao com os conceitos, com as vivencias, com as atitudes e com a reflexao critica dos alunos, levando-os a inserir-se na esfera da cultura corporal de movimento (Betti, 1992). A cultura corporal ou cultura corporal de movimento e citada por alguns autores que destacam que a insercao dos alunos nela, representada na Educacao Fisica pelos esportes, pelos jogos, pelas lutas, pelas ginasticas, pelas dancas. Betti (1992) destaca que a Educacao Fisica deve ter a funcao:
[...] de integrar e introduzir o aluno [...] no mundo da cultura fisica, formando o cidadao que vai usufruir, partilhar, produzir, reproduzir e transformar as formas culturais da atividade fisica (o jogo, o esporte, a danca, a ginastica...). (p.285).
Autor: Sérgio Augusto Rosa de Souza, Amauri A. Bássoli de Oliveira
Artigo: ESTRUTURAÇÃO DA CAPOEIRA COMO CONTEÚDO DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO
Publicação: (local, data, cidade): Revista da Educação Física/UEM Maringá, v. 12, n. 2, p. 43-50, 2. sem. 2001
A partir de vinte de dezembro de 1996, com a aprovação da nova Lei de Diretrizes e Bases (LDB) da Educação – Lei n. 9.394/96, a educação brasileira sofreu novas e significativas mudanças, com destaque para a liberdade atribuída aos conselhos de educação, às escolas e aos professores, a fim de que pudessem organizar e estruturar o ensino, diferenciando-o de região para região e de escola para escola. Um ponto importante da Lei nº 9.394/96 e, em especial à Educação Física, é que a mesma passa a ser valorizada como componente curricular, posição esta solicitada há muito tempo pelos professores da área.
capoeira, manifestação esportivo-cultural genuinamente brasileira, nascida como luta da classe dominada contra o regime de escravidão, foi institucionalizada como modalidade esportiva em 1972 pelo Conselho Nacional de Desportos (CND). Está presente em diversas escolas e universidades brasileiras, e também em vários países.
Destaca-se, aqui, alguns pontos importantes sobre a origem e desenvolvimento da capoeira, pois os mesmos auxiliam na justificativa da sua inclusão e estruturação como conteúdo da Educação Física escolar. São eles:
- a capoeira tem origem afro-brasileira - diferentemente das modalidades inseridas nas escolas que trazem expressões das culturas européia e americana;
- é oriunda de movimentos comunitários e lutas de classes;
- a capoeira transgrediu, por muitos anos, os códigos das culturas dominantes;
- é rica em conteúdos significativos históricosociais.
A capoeira é um conteúdo que pode ser contemplado na escola pelos seus múltiplos enfoques, que possibilitam, a luta, a dança e a arte, o folclore, o esporte, a educação, o lazer e o jogo. A sua prática na escola possibilita o desenvolvimento de conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais, como autonomia, cooperação e participação social, entre outros... No aspecto motor, especificamente, a capoeira deve ser reconhecida como uma alternativa rica para o desenvolvimento das estruturas da criança, como esquema corporal, lateralidade, equilíbrio, orientação espaço-temporal, coordenação motora etc.
Soares et al. (1992) argumenta que a Educação Física brasileira precisa resgatar a capoeira enquanto manifestação cultural, ou seja, trabalhar a sua historicidade, não desencarná-la do movimento cultural e político que a gerou.
Na roda da capoeira, essa autonomia é proporcionada aos alunos no próprio jogo, no qual o “jogador” tem a liberdade de se expressar com movimentos livres, sem a obrigatoriedade de soltar movimentos pré-determinados. A criatividade também é trabalhada, a roda faz com que o jogador crie movimentos, conforme a necessidade do andamento do jogo. Na parte musical, a criatividade também é despertada, pois, às vezes, o cantador cria as músicas conforme o acontecimento do jogo.
Na prática da capoeira, o equilíbrio é uma das qualidades mais trabalhadas. Vários autores classificam o equilíbrio em estático, dinâmico e recuperado. O estático refere-se à habilidade de manter o equilíbrio enquanto parado, na capoeira “é bastante evidenciado nas paradas de mão, cabeça e até mesmo nas esquivas por poucasfrações de segundos. O equilíbrio dinâmico é a habilidade de manter o equilíbrio em movimento, na capoeira podemos evidenciá-lo quando há deslocamentos em posições invertidas e na própria ginga. O equilíbrio recuperado é evidenciado em posições invertidas, combinações de movimentos em um, dois ou três apoios e golpes giratórios.
Plano de aula-sugestão:
Histórico da capoeira
Ginga
Cocorinha
Meia Lua de Frente
Aú simples
Base do macaco
Músicas: Paranauê e Navio Negreiro
Roda de capoeira
Autor: Silane Maria Silva, Hellena Camilo Assumpção, José Francisco Ribeiro Taglialegna, Michelle Drumond Caldeira, Carlos Magno Alvarenga 
Artigo: EDUCANDO COM A CAPOEIRA 
Publicação: (local, data, cidade)
Este trabalho embasa o projeto de extensão Educando com a Capoeira da UFLA que oferece aulas de capoeira, duas vezes na semana, para crianças com idade entre 08 e 14 anos no município de Larvas.
“A capoeira manifesta-se como jogo, como luta e como dança, sem assumir efetivamente nenhuma destas características isoladamente, mas sendo todas ao mesmo tempo. Ela reúne, portanto, grandes instrumentos para a educação escolar, como a música, o ritual, a expressão, a harmonia e sua pluralidade de manifestações corporais e culturais. São muitas as possibilidades do corpo humano através da capoeira” (Medeiros ET AL., 2004) 
Observando as três dimensões que envolvem o esporte, “esforço físico orientado e constante, submissão a regras organizativas, próprias, e objetivos de competição, mesmo que o esporte se faça praticar com objetivos puramente recreativos, os benefícios proporcionados à formação total do indivíduo são inerentes” (Leite,1990)
O aluno/atleta deve ser levado a se conscientizar que “é um corpo em movimento, o qual é passível de ser conhecido, conhecer-se e dominar-se”. (Tolkmitt, 1993)
Autor: PAULA CRISTINA DA COSTA SILVA
Artigo:CAPOEIRA NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA: ALGUNS APONTAMENTOS SOBRE PROCESSOS DE ENSINO-APRENDIZADO DE PROFESSORES
Publicação: Rev. Bras. Ciênc. Esporte, Florianópolis, v. 33, n. 4, p. 889-903, out./dez. 2011
Este trabalho teve como objetivo discutir possibilidades do ensino-aprendizado da capoeira na educação física escolar compreendendo-a como uma linguagem corporal na qual sua gestualidade, sua musicalidade, seus aspectos históricos e sua ritualidade compõem um acervo a ser apropriado pelos alunos.
Considerando a educação física, a partir dos pressupostos da metodologia crítico-superadora, como uma disciplina escolar que trata pedagogicamente do que denominamos de manifestações da cultura corporal (SOARES et al., 1992) podemos pensar que o seu ensino é muito mais do que apenas executar exercícios corporais repetitivos e sem sentido. Neste caso busca-se estudar as manifestações da cultura corporal procurando compreender seus aspectos históricos, técnicos, sociológicos, antropológicos, biológicos, enfim, situando-os no contexto social no qual encontram-se inseridos e instigando os alunos a realizarem uma leitura de sua realidade.
No processo de ensino-aprendizado da capoeira devemos levar em consideração a ambiguidade desta manifestação cultural. As pessoas lutam, jogam, brincam, dançam capoeira e isso faz do seu aprendizado algo bastante enriquecedor. Além disso, deve-se levar em conta sua historicidade contextualizando-a socialmente, pois se trata de uma produção cultural. “[...] A Educação Física brasileira precisa, assim, resgatar a capoeira enquanto manifestação cultural, ou seja, trabalhar com sua historicidade, não desencarná-la do movimento cultural e político que a gerou [...]” (SOARES et al., 1992, p. 76).
Autor: Genilson César Soares Bonfim
Artigo: A PRÁTICA DA CAPOEIRA NA EDUCAÇÃO FÍSICA E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A APLICAÇÃO DA LEI 10.639 NO AMBIENTE ESCOLAR: A CAPOEIRA COMO MEIO DE INCLUSÃO SOCIAL E DA CIDADANIA
Publicação: (local, data, cidade)
Disponível: http://www.rbceonline.org.br/congressos/index.php/conece/3conece/paper/viewFile/2379/975
Esta pesquisa busca uma abordagem bibliográfica através de um enfoque nos fatores pedagógicos do uso da capoeira na educação física escolar.
A sanção da Lei 10.639/2003 e da Resolução CNE/CP/2004 é um passo inicial rumo à reparação humanitária do povo negro brasileiro, pois abre caminho para a nação adotar medidas para corrigir os danos materiais, físicos e psicológicos resultantes do racismo e de formas conexas de discriminação. Diante da publicação da Lei, o Conselho Nacional de Educação aprovou o parecer CNE/CP 3/2004, que institui as Diretrizes Curriculares para a Educação das Relações Étnico-Raciais e o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africanas a serem executadas pelos estabelecimentos de ensino de diferentes níveis e modalidades, cabendo aos sistemas de ensino, no âmbito de sua jurisprudência, orientar e promover a formação de professores e supervisionar o cumprimento das Diretrizes.
O resgate da cultura é fundamental em qualquer lugar. Resgatar e valorizar, dar valor, à sua cultura, suas origens, é, sobretudo no Brasil atual, uma necessidade premente. Através da capoeira, ao resgatarmos nossas origens; povo mestiço, Ribeiro (1997), por excelência, que somos, valoramos a nós mesmos (criamos um sentido de ser) e nesse valorar passamos a significar de forma admirativa. Admirar significa “olhar de certa distância”.
Na sua prática filosófica, Carneiro (1977), a capoeira identifica e forma o cidadão através dos seus princípios, a roda um local democrático, nela destacam-se o cantor, o publico em geral, os jogadores, não necessariamente precisam ser bons de capoeira para participar da roda, nem tão pouco se discrimina gênero, classe social, raça ou religiosidade, isso afirma neste espaço a igualdade entre as pessoas, basta ser capoeirista, sentir correr no sangue a expressão da arte afro-brasileira. “Capoeira é para homem, menino e mulher” Mestre Pastinha (1988).
Recentemente a capoeira foi reconhecida pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como patrimônio histórico nacional. O registro da Capoeira como patrimônio histórico imaterial ocorreu no dia 15 de julho de 2008 em Salvador, pelo Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural do Iphan. O acontecimento desse fato reforça a importância de considerá-la como expressão cultural que deve ser privilegiada. Nesse sentido, a capoeira enriquece a formação, especialmente por sua expressão como manifestação cultural afrodescendente, conjunto de sentidos, transmitidos historicamente, incorporados e expressos em formas simbólicas cheias de significado.
A pessoa indivíduo, principalmente o brasileiro, ao praticar Capoeira, tem a oportunidade de vivenciar o contato com sua própria cultura, na medida em que passa a apropriar-se da história desta arte-dança-luta-jogo de raiz africana, mas de origem brasileira.
A Capoeira foi inspirada em danças e rituais dos negros africanos, os quais foram trazidos como escravos para os engenhos de açúcar, no Período Colonial brasileiro. Originou-se e desenvolveu-se aqui, todavia, como uma forma encontrada pelos negros escravos, de lutar contra e resistir às injustiças da escravidão, pela sobrevivência física e cultural de seu povo. A Capoeira apresenta-se, principalmente, como uma forma que o Negro encontrou para buscar sua liberdade.
Aprender Capoeira, então, é aprender sobre a formação cultural do povo brasileiro, praticar Capoeira é uma forma de manter vivo o jeito de ser do nosso povo, é trabalhar nossa identidade cultural. Quando uma pessoa conhece e pratica a Capoeira, entra em contato com a riqueza cultural brasileira, com um modo genuíno e peculiar de ser-no-mundo. Na Capoeira, enfim, o indivíduo tem a oportunidade de vivenciar uma aprendizagem significativa, onde aprendiz envolve-se como um todo (o corpo é a alma e a arma), tirando lições extremamente ricas para a vida.
Nos cursos de educação física, poucas universidades ministram a disciplina de capoeira (por falta de professores universitários habilitados na área e também por descaso), e aquelas que a ministram resumema formação na área há um semestre ou um ano (num ritmo de duas horas semanais), o que é insuficiente para um saber tão diversificado e complexo, cujo domínio exige uma vivência prolongada. Por isso é difícil encontrarem-se professores de educação física habilitados para ministrar aulas de capoeira, pois a falta de vivência veda-lhes esta possibilidade.
Esta situação faz com que seja difícil a introdução generalizada da oferta da capoeira ao nível das escolas, pois se, por um lado, aqueles que estão habilitados a educar (professores de educação física) não estão habilitados para ensinar capoeira: por outro aqueles que estão habilitados par ensinar capoeira (capoeiristas formados num contexto extra-educacional) não estão habilitados para educar ao nível escolar.
Autor: Autores, Coletivo de. 
Livro: Metodologia de Ensino de Educação Física. 
Publicação: Editora Cortez, 1992
Na perspectiva da reflexão sobre a cultura corporal, a dinâmica curricular, no âmbito da Educação Física, tem características bem diferenciadas das da tendência anterior. Busca desenvolver uma reflexão pedagógica sobre o acervo de formas de representação do mundo que o homem tem produzido no decorrer da história, exteriorizadas pela expressão corporal: jogos, danças, lutas, exercícios ginásticos, esporte, malabarismo, contorcionismo, mímica e outros, que podem ser identificados como formas de representação simbólica de realidades vividas pelo homem, historicamente criadas e culturalmente desenvolvidas.
Nessa perspectiva o Esporte, enquanto tema da cultura corporal, é tratado pedagogicamente na Escola de forma crítico-superadora, evidenciando-se o sentido e o significado dos valores que inculca e as normas que o regulamentam dentro de nosso contexto sócio-histórico.
Nessa perspectiva da reflexão da cultura corporal, a expressão corporal é uma linguagem, um conhecimento universal, patrimônio da humanidade que igualmente precisa ser transmitido e assimilado pelos alunos na escola.
Educação Física brasileira precisa, assim, resgatar a capoeira enquanto manifestação cultural, ou seja, trabalhar com a sua historicidade, não desencarná-la do movimento cultural e político que a gerou. Esse alerta vale nos meios da Educação Física, inclusive para o judô que foi, entre nós, totalmente despojado de seus significados culturais, recebendo um tratamento exclusivamente técnico.
Campos, Hélio-Mestre Xaréu. 
Capoeira Regional: a escola de Mestre Bimba. 
Salvador EDUFBA, 2009
Existem contravérsias sobre a origem da capoeira e várias são as hipóteses, porém, duas fortes correntes se confrontam: “uma afirma que a capoeira teria vindo para o Brasil trazida pelos escravos, e a outra considera a capoeira como uma invenção dos escravos no Brasil” (CAMPOS, 1990, P.17).
Outras discussões aparecem quando se trata do termo capoeira. O vocábulo capoeira tem sido utilizado por vários estudiosos, sendo registrado pela primeira vez em 1712, por Rafael Bluteau (1712, p129) seguido por Moraes, em 1813.
Entende-se também capoeira como um jogo atlético de ataque e defesa cheio de mandiga, malandragem e muito eficiente. Para Soares a “capoeira era uma espécie de jogo atlético, que consistia em rápidos movimentos de mãos, pés e cabeça, em certas desarticulações do tronco, e particularmente na agilidade de saltos para frente, para trás, para os lados, tudo em defesa e ataque, corpo a corpo” (1994,p.13).
O que é Capoeira segundo os mestres, reportagem veiculada na Revista Capoeira (1998, p.28-30):
Mestre Camisa, Rio de Janeiro/RJ: Capoeira é uma arte que engloba várias artes em uma só arte: é um trabalho, é uma luta, uma arte, uma dança. É poesia. Tudo isto tem seu momento, ou seja, ela é o que o momento determinar. É uma luta nacional brasileira, filosofia de vida. Como consequência, o capoeira compreende a vida de uma maneira diferente: com mais jogo de cintura. Dessa forma consegue melhorar suas dificuldades e vivenciar com mais objetividade seus sentimentos.
Mestre Burguês, Curitiba/PR: A Capoeira é uma luta, arte, cultura, folclore, poesia, esporte, filosofia de vida, liberdade, expressão corporal, profissão, educação física; tradição de um povo e muito mais: é o ar que respiro.
A CAPOEIRA NA ESCOLA
Para Falcão, a inclusão da capoeira nas instituições de ensino representa uma situação inusitada (1995, p.10).... essa conquista deve-se principalmente à aproximação da capoeira com a educação física.
A capoeira na escola tem se configurado como um instrumento diferenciado, no sentido de promover a educação dos jovens escolares, de acordo com o grau de motivação que esses jovens estudantes apresentam, decorrente possivelmente do estímulo instigante de que os mesmos possam ver, fazer, contextualizar sua prática, tornando-se sujeitos na construção de sua história. Outra perspectiva realmente significativo é a possibilidade da total liberdade de participação e expressão.
A capoeira, nos programas de educação física, foi introduzida praticamente de três formas: na primeira, sendo incluída nos métodos de ginástica tradicional;na segunda, como conteúdo diferenciado da ginástica escolar; e, na terceira, como disicplina esportiva de caráter optativo.
Educação Física-Ensino Médio / vários autores. 
Curitiba: SEED-PR 2ª edição, 2006.
“Um dos significados de luta, segundo o dicionário Aurélio, é lutar no sentido de obter o que deseja, ir à vida. Neste caso, a liberdade”. (Ferreira , 2005)
O desenvolvimento do capoeirista, ou seja, o seu aprendizado, é expresso pelos seus movimentos na roda de capoeira, que são sincronizados e organizados, de acordo com a música do berimbau, atabaque e pandeiro.
O capoeirista participa da roda de capoeira jogando com muita vivacidade e escomprometimento dos movimentos, os quais podem ser técnicos ou não.
Por isso, a Capoeira é uma modalidade que pode ser vivida dentro e fora da escola, como uma atividade da cultura corporal, pois: “A capoeira, como educação física, faz parte da nossa história; contribui na formação de valores das crianças, jovens e adultos [...]” (SANTOS, 1990, p. 29).
Luta, jogo, dança? A pergunta continua no ar, enquanto a capoeira, aplaudida, perseguida, cultivada, ultrajada, vai atravessando os anos. A execução requer uma roda, quase sempre um semicírculo, e uma orquestra de berimbaus, com seus caxixis e pandeiros, acrescida por reco-recos, agogôs e atabaques” (VIANNA, 1981, p. 27)
AMPLIANDO OS CONHECIMENTOS
LEI Nº 10.639, DE 9 DE JANEIRO DE 2003
Mensagem de veto Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”, e dá outras providências.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA faz saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1o A Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar acrescida dos seguintes artigos.
26-A, 79-A e 79-B: “Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira”.
§ 1º O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil.
§ 2º Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística, de Literatura e História Brasileiras.
 Fonte: <http://www.ensinoafrobrasil.org.br> Acesso em: 16 Jul. 2005
LEI FEDERAL 10.639/2003
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.639.htm
Acessado em: 22 de setembro de 2013
Presidência da República
Casa Civil
Subchefia para Assuntos Jurídicos
LEI No 10.639, DE 9 DE JANEIRO DE 2003.
	Mensagem de veto
	Altera aLei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira", e dá outras providências.
        O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
        Art. 1o A Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar acrescida dos seguintes arts. 26-A, 79-A e 79-B:
"Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira.
§ 1o O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil.
§ 2o Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras.
§ 3o (VETADO)"
"Art. 79-A. (VETADO)"
"Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como ‘Dia Nacional da Consciência Negra’."
        Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
        Brasília, 9 de janeiro de 2003; 182º da Independência e 115º da República.
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

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