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Transformada de Laplace Controle 1 Prof. Paulo Roberto Brero de Campos 0.1 Introduc¸a˜o O estudo de um objeto ou sistema f´ısico pode ser feito atrave´s das relac¸o˜es f´ısicas que descrevem o comportamento deste sistema. As relac¸o˜es que descrevem um sistema dinaˆmico resultam em equac¸o˜es diferenciais. Para se entender como um sistema funciona, na maioria dos casos deve-se resolver as equac¸o˜es diferenciais que o descrevem, o que normalmente na˜o e´ uma tarefa simples. Para contornar este problema e´ poss´ıvel utilizar uma transformac¸a˜o em que func¸o˜es diferenciais e integrais sa˜o transformadas em simples equac¸o˜es alge´bricas. Esta trans- formac¸a˜o chama-se Transformada de Laplace. 0.2 Transformada de Laplace A transformada de Laplace transforma func¸o˜es no tempo, cuja varia´vel e´ representada por (t), em func¸o˜es de frequeˆncia complexa, cuja varia´vel e´ representada por (s), chamada de varia´vel complexa. t→ s onde s = σ + jω A definic¸a˜o da transformada de Laplace e´: £[f(t)] = F (s) = ∫∞ 0 e −stf(t)dt Exemplos: Calcular a transformada de Laplace para as func¸o˜es: a) f(t) = e−at 1 F (s) = ∫∞ 0 e −stf(t)dt = ∫∞ 0 e −ste−atdt F (s) = ∫∞ 0 e −(a+s)tdt = −1 (a+s) e−(a+s)t|∞0 F (s) = −1 (a+s) [e−∞ − e0] = 1 (a+s) F (s) = 1 (a+s) b) Func¸a˜o degrau unita´rio [ u(t) = 1 ] F (s) = ∫∞ 0 e −stu(t)dt = ∫∞ 0 e −st1dt F (s) = −1 s e−st|∞0 F (s) = −1 s [e−∞ − e0] F (s) = 1 s 0.3 Teoremas da transformada de Laplace 1) Linearidade Se £[f1(t)] = F1(s) e £[f2(t)] = F2(s) Enta˜o £[af1(t) + bf2(t)] = aF1(s) + bF2(s) 2) Derivada £[df dt ] = sF (s)− f(0+), sendo que f(0+) representa as condic¸o˜es iniciais da func¸a˜o 3) Derivada ene´sima £[ dnf dtn ] = snF (s)− n−1∑ k=0 sn−k−1 dkf(t) dtk |t=0 £[d nf dtn ] = snF (s)− sn−1f(0)− sn−2 df(t) dt |t=0 − sn−3 d2f(t)dt2 |t=0 + ... Exemplo: Resolva a equac¸a˜o, supondo condic¸o˜es iniciais nulas d3y(t) dt3 + 3d 2y(t) dt2 + 5d y(t) dt + 6y(t) = u(t) £[d 3y(t) dt3 ] = s3Y (s)− s2y(0)− sdy(t) dt |t=0 − d2y(t)dt2 |t=0 £[d 3y(t) dt3 ] = s3Y (s)− s2y(0)− sy˙(0)− y¨(0) Devido a` suposic¸a˜o de condic¸o˜es iniciais nulas: £[d 3y(t) dt3 ] = s3Y (s) £[d 2y(t) dt2 ] = s2Y (s)− sy(0)− y˙(0 2 Resultando em: £[d 2y(t) dt2 ] = s2Y (s) £[dy(t) dt ] = sY (s)− y(0) Resultando em: £[dy(t) dt ] = sY (s) A transformada da equac¸a˜o diferencial resulta em: s3Y (s) + 3s2Y (s) + 5sY (s) + 6Y (s) = U(s) Que pode ser escrita, colocando Y(s) em evideˆncia, como: Y (s)[s3 + 3s2 + 5s+ 6] = U(s) Y (s) = U(s) s3+3s2+5s+6 Sendo que Y (s) e´ a soluc¸a˜o da equac¸a˜o diferencial, mas no plano complexo s. Func¸a˜o de Transfereˆncia – chama-se func¸a˜o de transfereˆncia G(s) a relac¸a˜o da sa´ıda pela entrada, para condic¸o˜es iniciais nulas. G(s) = Y (s) U(s) , sendo Y(s) a transformada de Laplace da varia´vel de sa´ıda e U(s) a transformada de Laplace da varia´vel de entrada. No exemplo anterior a func¸a˜o de transfereˆncia e´ dada por: G(s) = Y (s) U(s) = 1 s3+3s2+5s+6 4) Transformada da Integral £[ ∫ t 0 f(τ)dτ ] = F (s) s 5)Teorema do valor inicial O valor inicial da func¸a˜o f(t), isto e´, f(0), cuja transformada de Laplace e´ F (s), e´ dado por: f(0) = lim t→0 f(t) = lims→∞ sF (s) 6) Teorema do valor final O valor final da func¸a˜o f(t), isto e´, f(∞), cuja transformada de Laplace e´ F(s) e´ dado por: f(∞) = lim t→∞ f(t) = lims→0 sF (s) 7) Teorema da convoluc¸a˜o A convoluc¸a˜o de duas func¸o˜es e´ dada por: 3 f1(t) ∗ f2(t) = ∫ t 0 f1(τ)f2(t− τ)dτ A transformada de Laplace da convoluc¸a˜o e´ dada por: £[f1(t) ∗ f2(t)] = F1(s)F2(s) Obs: para um sistema caracterizado por sua func¸a˜o peso g(t), a resposta temporal deste sistema y(t) devido uma excitac¸a˜o u(t), e´ dada por: y(t) = g(t) ∗ u(t) = ∫ t 0 u(τ)g(t− τ)dτ Isto significa que trabalhando no domı´nio do tempo, so´ e´ poss´ıvel obter a resposta de um sistema dinaˆmico calculando a integral de convoluc¸a˜o entre o sinal de entrada e a func¸a˜o peso do sistema. Func¸a˜o peso - a func¸a˜o que representa as propriedades f´ısicas do sistema. Se for aplicada a transformada de Laplace, obte´m-se Y (s) = G(s)U(s) mostrando que no plano s a resposta do sistema e´ o produto entre as transformadas do sinal de entrada e da func¸a˜o que caracteriza o sistema, chamada func¸a˜o de transfereˆncia do sistema. Esta e´ uma grande vantagem em se trabalhar no plano s, pois analisar a resposta de um sistema no plano s envolve apenas operac¸o˜es alge´bricas. Exemplo: Dado o filtro passa-baixo mostrado na figura 1: R d d d d C vovi Figura 1: Filtro passa-baixa a) calcule a resposta para um excitac¸a˜o degrau unita´rio. Pelas leis de Kirchhoff obte´m-se: vi = Ri+ 1 c ∫ idt A tensa˜o de sa´ıda e´ a tensa˜o sobre o capacitor: vo = vc = 1 c ∫ idt Aplicando a transformada de Laplace nestas duas equac¸o˜es, obte´m-se: VI(s) = RI(s) + 1 c I(s) s vo = 1 c I(s) s A func¸a˜o de transfereˆncia e´ dada por: G(s) = Vo(s) VI(s) Substituindo Vo e VI na equac¸a˜o de G(s), obte´m-se: 4 G(s) = 1 CRs+1 = 1 RC s+ 1 RC Para uma entrada degrau unita´rio u(t), a transformada de Laplace e´: U(s) = 1 s . Da func¸a˜o de transfereˆncia, obte´m-se a equac¸a˜o de sa´ıda no plano s: Vo(s) VI(s) = 1 CRs+1 Vo(s) = 1 CRs+1 VI(s) Vo(s) = 1 CRs+1 1 s Que e´ a resposta na sa´ıda do filtro, no plano s. b) Calcule o valor de vo(t) para o sistema em regime vo(t)t→∞ = lim s→0 sVo(s) = lims→0 s 1 s 1 (sCR + 1) vo(∞) = 1 0.4 Transformada Inversa de Laplace (anti- transformada) E´ a obtenc¸a˜o da func¸a˜o no tempo, a partir da func¸a˜o no plano s. f(t) = £−1[F (s)] A forma mais simples de encontrar a transformada inversa e´ partindo de F (s) procu- rar em tabelas a func¸a˜o f(t) correspondente. Se a func¸a˜o desejada na˜o estiver tabelada, a te´cnica consiste em reescrever F (s) como uma soma de func¸o˜es mais simples, resul- tando em uma soma de frac¸o˜es. Estas frac¸o˜es mais simples sa˜o tabeladas e a partir delas encontra-se f(t). 0.4.1 Expansa˜o em frac¸o˜es parciais a) Po´los reais simples Se a func¸a˜o F (s) for composta apenas por po´los reais simples, ela pode ser escrita como um somato´rio de frac¸o˜es parciais: F (s) = P (s) Q(s) = A1 s+a1 + A2 s+a2 + A3 s+a3 + ... sendo que a1, a2, a3, ..., correspondem aos po´los da func¸a˜o F (s). Para encontrar os coeficientes A1, A2, A3, ..., utiliza-se a seguinte regra: O valor de Ak e´ dado por: 5 Ak = [(s+ ak) P (s) Q(s) ]s=−ak = [ P (s) Q′(s) ]s=−ak OBS: Q′(ak) = dQ(s) ds |s=−ak = [ Q(s)s+ak ]s=−ak Exemplo: Dado F (s), encontre f(t) F (s) = 1 s(s+1)(s+2) Escrevendo na forma de frac¸o˜es parciais: F (s) = A1 s + A2 s+1 + A3 s+2 A1 = sF (s)|s=0 = s 1s(s+1)(s+2) |s=0 = 1(s+1)(s+2) |s=0 = 12 A2 = (s+ 1)F (s)|s=−1 = (s+ 1) 1s(s+1)(s+2) |s=−1 = 1s(s+2) |s=−1 = −1 A3 = (s+ 2)F (s)|s=−2 = (s+ 2) 1s(s+1)(s+2) |s=−2 = 1s(s+1) |s=−2 = 12 F (s) = 1 2s − 1 s+1 + 1 2(s+2) A transformada inversa de Laplace resulta em: f(t) = 1 2 − e−t + 1 2 e−2t b) Po´los reais mu´ltiplos Dado F (s) = P (s) Q(s) . Quando aparecerem po´los reais e repetidos, utiliza-se a seguinte fo´rmula para calcular o valor dos coeficientes Ak: Aq(r−k) = { 1k! d k dsk [(s− sq)r P (s)Q(s) ]}s=sq r – ordem do po´lo mu´ltiplo q – nu´mero do po´lo k – variando de 0 ate´ (r − 1) Exemplo: F (s) = 1 (s+2)3(s+3) = A13 (s+2)3 + A12 (s+2)2 + A11 s+2 + A2 s+3 Como a ordem do po´lo e´ 3, k = 0, k = 1 e k = 2 A13 = (s+ 2) 3F (s)|s=−2 = (s+ 2)3 1(s+2)3(s+3)|s=−2 = 1s+3 |s=−2 = 1 A12 = d ds [(s+ 2)3 1 (s+2)3(s+3) ]s=−2 = d ds [(s+ 3)−1]s=−2 = −1(s+ 3)−2|s=−2 = −1(s+3)2 |s=−2 = −1 A11 = 1 2 d2 ds2 [(s+ 2)3 1 (s+2)3(s+3) ]s=−2 = 12 d2 ds2 [(s+ 3)−1]s=−2 = 12 2 (s+3)3 |s=−2 = 1 O u´ltimo po´lo recai no primeiro caso, po´los simples: A2 = (s+ 3)F (s)|s=−3 = 1(s+2)3 |s=−3 = −1 F (s) pode ser escrita como: 6 F (s) = 1 (s+2)3 − 1 (s+2)2 + 1 (s+2) − 1 (s+3) Calculando a anti-transformada de laplace, obtem-se func¸a˜o no tempo: f(t) = t 2 2 e−2t − te−2t + e−2t − e−3t c) Po´los complexos Os po´los complexos resultam das ra´ızes de uma equac¸a˜o de segundo grau, em que acontece a raiz quadrada de um nu´mero negativo. Assim eles aparecem em pares comple- xos conjugados. Por exemplo, dada a equac¸a˜o: s2 + 6s+ 13. As ra´ızes sa˜o: s1 = −3 + j2 e s2 = −3− j2. Na figura 2 estes po´los sa˜o plotados no plano complexo s. - σ 6 jω x- - - x- - - Figura 2: Po´los complexos A equac¸a˜o de segundo grau, que resulta nestes po´los complexos pode ser escrita de forma padronizada como: s2 + 2ξωns+ ω 2 n A func¸a˜o de transfereˆncia na forma padronizada e´ escrita como: F (s) = ω 2 n s2+2ξωns+ω2n As ra´ızes do denominador sa˜o: s1,2 = −ξωn ± jωn √ 1− ξ2 Assim, separando em frac¸o˜es parciais obte´m-se: A transformada inversa e´ dada por: f(t) = A1e −ξωn+jωn √ 1−ξ2 + A2e−ξωn−jωn √ 1−ξ2 Sendo que A1 e A2 sa˜o complexos conjugados. Exemplo: calcule a anti-transformada de Laplace F (s) = 1 s2+2ξωns+ω2n Como os po´los sa˜o distintos, recai-se no primeiro caso. F (s) = A1 s+ξωn−jωn √ 1−ξ2 + A2 s+ξωn+jωn √ 1−ξ2 7 A1 = s+ξωn−jωn √ 1−ξ2 s2+2ξωns+ω2n | s=−ξωn+jωn √ 1−ξ2 = 1 s+ξωn+jωn √ 1−ξ2 |s=−ξωn+jωn√1−ξ2 A1 = 1 2jωn √ 1−ξ2 A2 = s+ξωn+jωn √ 1−ξ2 s2+2ξωns+ω2n | s=−ξωn−jωn √ 1−ξ2 = 1 s+ξωn−jωn √ 1−ξ2 |s=−ξωn−jωn√1−ξ2 A2 = 1 −2jωn √ 1−ξ2 F (s) = 1 2jωn √ 1−ξ2 1 s+ξωn−jωn √ 1−ξ2 − 1 2jωn √ 1−ξ2 1 s+ξωn+jωn √ 1−ξ2 f(t) = 1 2jωn √ 1−ξ2 e (−ξωn+jωn √ 1−ξ2)t − 1 2jωn √ 1−ξ2 e (−ξωn−jωn √ 1−ξ2)t f(t) = e −ξωnt ωn √ 1−ξ2 [ ejωnt √ 1−ξ2−e−jωnt √ 1−ξ2 2j ] f(t) = e −ξωnt ωn √ 1−ξ2 sin(tωn √ 1− ξ2) Exerc´ıcio: sendo dados ξ = 0, 2 e ωn = 5rad/s obtenha graficamente a resposta f(t). a) Fac¸a graficamente; b) Fac¸a usando o programa Matlab. 0.5 Plano complexo – mapa po´los-zeros Dada uma func¸a˜o de transfereˆncia: F (s) = N(s) D(s) = (s+a1)(s+a2) (s+b1)(s+b2) Os valores de s que anulam a func¸a˜o de transfereˆncia sa˜o chamados de zeros de F (s), que sa˜o os valores s = −a1 e s = −a2. Os valores de s que fazem a func¸a˜o de transfereˆncia tender ao infinito sa˜o denominados de po´los de F (s), que sa˜o os valores s = −b1 e s = −b2. Exemplo: para F (s) = (s+2)(s+3) (s+7)(s+10) , os zeros sa˜o s = −2 e s = −3 e os po´los sa˜o s = −7 e s = −10. No plano complexo s = σ + jω, o po´lo e´ representado como um x e o zero como um c´ırculo (◦), como mostrado na figura 3. -σ 6 jω d−2d−3x−7x−10 Figura 3: Plano s 8 0.6 Interpretac¸a˜o gra´fica dos coeficientes da ex- pansa˜o em frac¸o˜es parciais Ja´ foi visto que para se obter os coeficientes de uma expansa˜o em frac¸o˜es parciais de uma func¸a˜o, como por exemplo, F (s) = (s+3)(s+2) (s+4)(s+7) = A1 s+4 + A2 s+7 , calcula-se: A1 = (s+ 4)F (s)|s=−4 = (s+3)(s+2)s+7 |s=−4 A1 = (−4+3)(−4+2) −4+7 = (−1)(−2) 3 = 2 3 Isto equivale graficamente a desenhar vetores de todos os po´los e zeros para o po´los s = −4. -σ 6 jω d−2d−3x−4x−7 ff −2 ff−1-3 Figura 4: Interpretac¸a˜o gra´fica para ca´lculo de A1 Para A2 obte´m-se: A2 = (s+ 7)F (s)|s=−7 = (s+3)(s+2)s+4 |s=−7 A2 = (−7+3)(−7+2) −7+4 = (−4)(−5) −3 = −20 3 -σ 6 jω d−2d−3x−4x−7 ff −5 ff −4 ff −3 Figura 5: Interpretac¸a˜o gra´fica para ca´lculo de A2 Exerc´ıcio: Para a func¸a˜o F (s) = s+3 (s+4+j5)(s+4−j5) , separe em frac¸o˜es parciais e fac¸a a interpretac¸a˜o gra´fica dos coeficientes. 9 Introdução Transformada de Laplace Teoremas da transformada de Laplace Transformada Inversa de Laplace (anti-transformada) Expansão em frações parciais Plano complexo – mapa pólos-zeros Interpretação gráfica dos coeficientes da expansão em frações parciais
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