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FACULDADE DE JAGUARIÚNA INSTITUTO BRASILEIRO DE PÓS-GRADUAÇÃO E EDUCAÇÃO CONTINUADA KARINA GRISIELA DA SILVA ARAÚJO ANESTESIA E ANALGESIA PERIDURAL EM EQÜINOS: REVISÃO DE LITERATURA SÃO PAULO 2008 2 KARINA GRISIELA DA SILVA ARAÚJO ANESTESIA E ANALGESIA PERIDURAL EM EQÜINOS: REVISÃO DE LITERATURA Monografia apresentada para obtenção do título de Especialista Lato Sensu em Anestesiologia Veterinária da Faculdade de Jaguariúna em convênio com o Instituto Brasileiro de Pós- Graduação e Educação Continuada, sob orientação do Prof. Dr. Paulo César Carvalho Ferreira. SÃO PAULO 2008 3 ANESTESIA E ANALGESIA PERIDURAL EM EQÜINOS: REVISÃO DE LITERATURA KARINA GRISIELA DA SILVA ARAÚJO Monografia apresentada para obtenção do título de Especialista Lato Sensu em Anestesiologia Veterinária pela Faculdade de Jaguariúna em convênio com o Instituto Brasileiro de Pós-Graduação e Educação Continuada, sob orientação do Prof. Dr. Paulo César Carvalho Ferreira, São Paulo, 2008. BANCA EXAMINADORA _________________________________________ Rodrigo Luiz Marucio Mestre / INBRAPEC _________________________________________ Francisco Teixeira Neto Doutor / UNESP - Botucatu _________________________________________ Eduardo Raposo Monteiro Doutor / UNIGRANRIO CONCEITO FINAL: ____________ DATA: ______ / ______ / _______ 4 RESUMO ARAÚJO, K.G.S. Anestesia e analgesia peridural em eqüinos: revisão de literatura. São Paulo, 2008. 51 f. Monografia apresentada para obtenção do título de Especialista Lato Sensu em Anestesiologia Veterinária pela Faculdade de Jaguariúna em convênio com o Instituto Brasileiro de Pós-Graduação e Educação Continuada, sob orientação do Prof. Dr. Paulo César Carvalho Ferreira, São Paulo, 2008. A via peridural tem se mostrado uma via de administração coadjuvante na profilaxia e manutenção da dor perioperatória e pós-traumática em eqüinos, a exemplo dos cães e humanos. A abordagem peridural caudal (Co1-Co2) nos cavalos é um método simples e de fácil acesso. A anestesia proporciona analgesia pela produção de bloqueio sensorial, assim como relaxamento muscular, pela produção de bloqueio motor; já a analgesia consiste na perda da sensibilidade a dor. Diferentes princípios ativos são de grande valia pela via peridural como opióides, alfa 2 agonistas, quetamina, tramadol, anestésicos locais, ou a combinação destes fármacos. O enfoque em apenas um mecanismo de ação para terapia analgésica, sem a associação de vias de administração medicamentosa e fármacos, reflete a necessidade da associação destes para resolução ou amenização da dor através de diferentes mecanismos de ação e vias com conseqüente diminuição do volume total de fármaco administrado, diminuição dos efeitos colaterais e toxicidade dos fármacos utilizados na terapia e aumento da potencia e durabilidade da analgesia, proporcionando analgesia de qualidade. A profilaxia da dor e a manutenção da analgesia nos mamíferos têm ganhado um enfoque cada vez maior na medicina mundial, para maior conforto, qualidade de vida e maior eficácia na resolução da morbidade do paciente. Assim, a via peridural é um acesso de qualidade às terapias anestésicas e analgésicas, desde que o correto princípio ativo ou associação seja selecionado para a determinada necessidade, e cuidados com assepsia no acesso desta via e manutenção de cateteres sejam tomados para que complicações não ocorram. Palavras-chave: espaço epidural, eqüino, analgesia, anestesia, SNC. 5 ABSTRACT ARAÚJO, K.G.S. Epidural analgesia and anesthesia in horses: review of literature. São Paulo, 2008. 51 f. Monograph presented for attainment of the heading of specialist Lato Sensu in Veterinary Anesthesiology of the Faculty of Jaguariúna in accord with the Brazilian Institute of Post-Graduation and Continuous Education, under orientation of DVM, MS, Paulo César Carvalho Ferreira, São Paulo, 2008. The peridural route has proven to be an adjunct route of administration for prophylaxis and maintenance of perioperative and post-traumatic pain in horses, like the dogs and humans, mainly. The approach peridural flow (Co1-Co2) in horses is a simple and easy method. The anesthesia provides analgesia for the production of sensory block, as well as muscle relaxation, for the production of motor block, while the analgesia is the loss of sensitivity to pain. Different drugs are of great value through peridural rout as opioids, alpha 2 agonists, ketamine, tramadol, local anesthetics, or combination of these drugs. The focus on only one mechanism of action for analgesic therapy without the combination of routes of drug administration and drugs reflects the need of the association of these for resolution or alleviating of pain by different mechanisms of action and routes with a consequent reduction in the total volume of drug administered, reduction of side effects and toxicity of drugs used in therapy and increased power and durability of analgesia, providing analgesia of quality. The prophylaxis of pain and maintenance of analgesia in mammals have gained an increasing focus on the medical world for comfort, quality of life and greater efficiency in resolving the morbidity of the patient. In this manner, the peridural rout is a quality access for anaesthetic and analgesic therapies since the correct drug or combination are selected for that specific need, and care in asepsis in accessing and maintenance of catheters in this route are taken so that no complications occur. Key-words: epidural space, equine, analgesia, anesthesia, SNC. 6 LISTA DE FIGURAS FIGURA 1A - Divisão embriogênica do encéfalo: Telencéfalo, Diencéfalo, Mesencéfalo, Metencéfalo e Mielencéfalo. .................................................. 13 FIGURA 1B - Divisão anatômica do cérebro: Cérebro, Tronco encefálico e Cerebelo ..................................................................................................................... 13 FIGURA 2 - Cérebro e medula espinhal de um porco neonato.................... 14 FIGURA 3 - Diagrama da secção transversal da medula espinhal demonstrando áreas relativas (“volumes”) da substância cinzenta, substância branca e espaço subaracnóide. (Modificado de Braun) .......................................................... 15 FIGURA 4 - Estruturas de uma vértebra torácica e sua relação com os componentes da medula espinhal ...................................................................................... 16 FIGURA 5 - Medula espinhal caudal (cauda eqüina). Segmentos medulares posicionados cranialmente às suas vértebras numéricas com conseqüente percurso caudal dos nervos espinhais às suas respectivas vértebras........................ 17 FIGURA 6 - Desenho esquemático das estruturas das meninges. (O vaso sangüíneo, localizado no espaço subaracnóide, é acompanhado pela pia-mater em toda sua extensão) ...................................................................................... 18 FIGURA 7 - Desenho esquemático da medula espinhal demonstrando as membranas meníngeas pia mater, aracnóide e dura mater; o ligamento denticulado; e fibras nervosas espalhadas em modo de leque e unidas dorsolateralmente à medula espinhal numa série linear que convergem lateralmente e formam a raiz dorsal ........................................................................................................... 19 FIGURA 8 - Localização anatômica da articulação Co1-Co2;geralmente o espaço articular é sentido quando a cauda é movimentada em alavanca. .............. 23 FIGURA 9 - Posicionamento de agulha espinhal entre vértebras Co1 e Co2 no eqüino (ilustração superior) e posicionamento de agulha espinhal entre vértebras Co2 e Co3 no burro (ilustração inferior) ...................................................... 24 FIGURA 10 - Vista sagital das vértebras sacrais e coccígeas e angulações de posicionamento da agulha espinhal no espaço articular intercoccígeo Co1-Co2 ..................................................................................................................... 25 FIGURA 11 - Kit epidural: agulha Tuohy com mandril, cateter epidural, canhão acoplador e seringa. Detalhe da agulha de “Tuohy”: ponta curva ................ 27 7 FIGURA 12 - Colocação do cateter epidural através da agulha de inserção “Thuony” ..................................................................................................................... 28 FIGURA 13 - Retirada da agulha “Tuohy” após inserção do cateter epidural até a posição desejada ......................................................................................... 29 FIGURA 14 - Fixação do cateter epidural à pele depois de posicionado ..... 29 LISTA DE TABELAS TABELA 1 - Segmentos medulares funcionais da medula espinhal do eqüino ..................................................................................................................... 14 TABELA 2 - Condições de injuria e conseqüente uso de fármacos via cateter epidural fixado em 43 eqüinos...................................................................... 22 TABELA 3 - Condições de injúria e resposta a administração de fármacos analgésicos e / ou anestésicos administrados pela via epidural em 43 eqüinos ..................................................................................................................... 41 TABELA 4 - Doses recomendadas (dose única) e principais fármacos e associações para utilização pela via epidural para analgesia e anestesia em eqüinos. ... 42 8 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ......................................................................................... 10 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.................................................................... 11 2.1. Generalidades do Sistema Nervoso...................................................... 11 2.1.1. O cérebro ........................................................................................... 12 2.1.2. A medula espinhal.............................................................................. 13 2.1.3. As meninges x espaços do SNC ........................................................ 17 2.2. A via epidural e suas utilidades ............................................................. 20 2.3. Barreiras anatômicas ao acesso do espaço epidural caudal................. 22 2.4. Técnicas de acesso ao espaço epidural ............................................... 23 2.4.1. Passos de preparação em comum para a administração de solução com Agulha e Cateter .......................................................................................... 23 2.4.2. Acesso do espaço epidural para administração de dose única de solução com agulha .......................................................................................................... 25 2.4.3. Acesso do espaço epidural para administração de solução com posicionamento de cateter ........................................................................... 26 2.4.4. Meios de verificação do correto acesso ao espaço epidural .............. 30 2.4.4.1. Sensação de crepitação .................................................................. 30 2.4.4.2. Pressão Negativa no espaço peridural............................................ 30 2.4.4.3. Perda de resistência........................................................................ 30 2.4.4.4. Aspiração ........................................................................................ 30 2.4.4.5. Teste da bolha vigiada .................................................................... 31 2.5. Dose única x Cateterização................................................................... 31 2.6. Farmacologia aplicável à via epidural .................................................. 31 2.6.1. Volume de administração................................................................... 32 2.6.2. Farmacocinética dos princípios ativos administrados via epidural ..... 33 2.6.2.1. Princípios ativos lipossolúveis ......................................................... 33 2.6.2.2. Princípios ativos hidrofílicos ............................................................ 34 2.6.3. Fármacos comumente utilizados nos eqüinos.................................... 34 2.6.3.1. Anestésicos locais ........................................................................... 35 2.6.3.1.1. Lidocaína 2%................................................................................ 35 2.6.3.2. Analgésicos ..................................................................................... 35 9 2.6.3.2.1. Opióides ....................................................................................... 35 2.6.3.2.1.1. Morfina ..................................................................................... 36 2.6.3.2.1.2. Butorfanol .................................................................................. 37 2.6.3.2.1.3. Meperidina................................................................................. 37 2.6.3.2.1.4. Fentanil ..................................................................................... 38 2.6.3.2.1.5. Metadona .................................................................................. 38 2.6.3.2.2. Tramadol ...................................................................................... 38 2.6.3.2.3. Alfa 2 agonistas............................................................................ 38 2.6.3.2.3.1. Xilazina...................................................................................... 38 2.6.3.2.3.2. Detomidina ................................................................................ 39 2.6.3.2.4. Quetamina.................................................................................... 39 2.6.3.3. Associações de fármacos para administração epidural................... 40 2.6.3.3.1. Morfina + Alfa 2 agonista.............................................................. 40 2.6.3.3.2. Lidocaína + Alfa 2 agonistas ........................................................ 41 2.7. Complicações associadas ao acesso epidural ...................................... 44 2.7.1. Complicações relacionadas ao cateter epidural e seus componentes ... ..................................................................................................................... 45 2.7.2. Complicações relacionadas ao paciente ........................................... 45 2.7.2.1. Efeitos adversos devido à má assepsia ......................................... 45 2.7.2.2. Efeitos adversos aos fármacos ....................................................... 46 2.7.2.2.1. Lidocaína...................................................................................... 46 2.7.2.2.2. Morfina ......................................................................................... 46 2.7.2.2.3. Quetamina.................................................................................... 47 2.7.2.2.4. Morfina + Alfa 2 agonistas........................................................... 47 2.7.2.2.5. Anestésico local + Alfa 2 agonista................................................ 47 2.8. Cuidados de conduta como eqüino e proteção do veterinário.............. 47 3 . CONCLUSÕES....................................................................................... 48 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................ 49 10 1. Introdução A analgesia preventiva, peri-operatória e pós-traumática no eqüino pode ser fornecida com diferentes princípios ativos administrados por diferentes vias. A "analgesia multimodal", combinação de diferentes métodos de analgesia tem-se revelado altamente eficaz em diversas espécies incluindo os eqüinos. As associações de analgésicos que agem através de diferentes mecanismos de ação produzem efeitos sinérgicos ou aditivos e têm a vantagem de ampliar a analgesia sem toxicidade adicional quando são metabolizados e excretados por vias distintas (TAYLOR, P.M., 2007). As técnicas epidurais têm sido úteis em uma ampla variedade de espécies. Em grandes animais, a administração epidural de agentes anestésicos locais, agonistas alfa-2 ou opiáceos são úteis para a analgesia perioperatória, procedimentos cirúrgicos em estação e obstetrícia (KRUSE-ELLIOTT, K., 2002). A anestesia peridural caudal trata-se de uma técnica de anestesia regional que proporciona excelente analgesia pela produção de bloqueio sensorial, assim como bom relaxamento muscular, pela produção de bloqueio motor. A lidocaína, a bupivacaína e a ropivacaína são semelhantes em termos de perfil anestésico, quando utilizados em um bloqueio peridural (OTERO, P., 2006). A deposição de anestésicos locais no espaço epidural via articulações sacrococcígea ou intercoccígea foram nos primórdios da técnica epidural, utilizada na prática, e são atualmente abordagens convenientes que proporcionam perda completa das funções sensoriais e motoras da cauda e períneo em eqüinos em estação, evitando muitos riscos da anestesia geral e decúbito (ROBINSON, E.P., NATALINI, C.C., 2002). Segundo MUIR et al. (2001), a analgesia consiste na perda da sensibilidade a dor. Fármacos analgésicos como a morfina têm sido utilizados via peridural para o tratamento de uma variedade de condições dolorosas agudas e crônicas (OTERO, P., 2006). A grande variedade de fraturas intra-articulares encontradas com freqüência em cavalos jovens e, por outro lado, as doenças degenerativas das articulações que atingem os eqüinos de todas as idades, são os problemas mais freqüentes e comuns que ocorrem nos animais de competição, com considerável prejuízo econômico, sendo situação de rotina em que possam ser utilizadas técnicas de analgesia epidural como opção terapêutica (POLYDORO, A.S.,2006). 11 O alívio da dor para procedimentos cirúrgicos ou em condições álgicas agudas ou crônicas associadas a traumatismos ou doenças inflamatórias dos membros posteriores ou pelve nos cavalos são indicações de administração epidural de opióides, alfa 2 agonistas, quetamina, tramadol ou a combinação destes fármacos (SYSEL et al., 1996). A analgesia epidural ainda não foi bem aceita em eqüinos como um coadjuvante na anestesia geral, diminuindo o consumo de agentes inalantes, assim como para o controle da dor trans e pós- operatória, mas o uso perioperatório da analgesia epidural em eqüinos tende a aumentar no futuro como recentes estudos tem demonstrado nas vantagens de utilização concomitante de ambas as técnicas (ROBINSON, E.P.,NATALINI, C.C., 2002). Esta monografia tem como objetivo evidenciar as utilidades da via epidural assim como o seu acesso para a complementação de anestesia inalatória, procedimentos cirúrgicos em estação e terapias analgésicas de curto e longo prazo, já que a analgesia em eqüinos tem sido um tema negligenciado por grande parte dos veterinários cirurgiões e clínicos. 2. Revisão Bibliográfica 2.1. Generalidades do Sistema Nervoso O sistema nervoso é o sistema mais complexo e diferenciado do organismo, sendo o primeiro a se diferenciar embriologicamente e o último a completar o seu desenvolvimento (CORDEIRO, J.M.C., 1996). Este sistema, assim como o sistema endócrino, são sistemas de integração para coordenação de funções dos vários órgãos especializados do corpo animal. O tecido nervoso está distribuído pelo organismo interligando-se e formando uma rede de comunicações que constitui o sistema nervoso (JUNQUEIRA & CARNEIRO, 1999). Apesar de não poder ser distintamente dividido anatômica e nem fisiologicamente, foi definido em Sistema Nervoso Central (SNC) e Sistema Nervoso Periférico (SNP) (GETTY, R., 1975). O cérebro, contido e protegido pela caixa craniana, e a medula espinhal, parte do sistema nervoso caudal ao cérebro contida e protegida pelo canal vertebral, compõe o SNC. Este é envolvido por três membranas de tecido conjuntivo denominadas meninges. Da membrana mais externa a mais interna são: dura-mater, aracnóide e pia-mater (DELLMAN, H.D.; MCCLURE, R.C., 1975). 12 O SNP do eqüino é formado por nervos e gânglios conectados ao SNC. No eqüino, os nervos consistem nos doze pares de nervos cranianos e normalmente quarenta e dois pares de nervos espinhais que são classificados de acordo com sua relação com a coluna vertebral: oito pares cervicais, dezoito pares torácicos, seis pares lombares, cinco pares sacrais e geralmente cinco pares caudais ou coccígeos (GHOSHAL, N.G., 1975). Os SNC e os órgãos da sensibilidade e efetores (músculos, glândulas) fazem comunicação através dos nervos aferentes ou sensitivos, eferentes ou motores e mistos. Os nervos aferentes são compostos por fibras que levam informações do interior do corpo e do ambiente aos centros nervosos, os nervos eferentes são compostos por fibras que conduzem impulsos dos centros nervosos aos órgãos efetores e os nervos mistos, em maioria presente no organismo vivo, possuem ambos os tipos de fibras (JUNQUEIRA & CARNEIRO, 1999). 2.1.1. O cérebro O cérebro ou encéfalo é a porção mais rostral e alargada do SNC que está situado e adaptado em área e forma a cavidade craniana, que por sua vez tem a função de proteção (DELLMAN, H.D.; MCCLURE, R.C., 1975). De acordo com CORDEIRO, J.M.C. (1996) existem três diferentes maneiras de subdividir o encéfalo que consistem em divisão embriogênica, divisão anatômica e divisão clínica. A divisão embriogênica do encéfalo consiste em cinco estruturas (Fig.1A): o Telencéfalo composto pelos dois hemisférios cerebrais e suas interconexões, Diencéfalo, Mesencéfalo, Metencéfalo composto pelas pontes e cerebelo e Mielencéfalo que consiste na medula oblonga (CORDEIRO, J.M.C., 1996). Na divisão anatômica são observadas três estruturas principais (Fig.1B), o cérebro, o tronco encefálico e o cerebelo (CORDEIRO, J.M.C., 1996). As divisões do encéfalo relacionadas às regiões clinicamente úteis consistem em Cérebro anterior (Telencéfalo e Diencéfalo) que determina o estado mental, o movimento voluntário e a visão; e Cérebro posterior (Metencéfalo e Mielencéfalo) relacionada ao Cerebelo, a síndromes vestibulares, e a déficits de nervos (CORDEIRO, J.M.C., 1996). 13 A B FIGURA 1A - Divisão embriogênica do encéfalo: Telencéfalo (rosa), Diencéfalo (azul), Mesencéfalo (laranja), Metencéfalo (amarelo) e Mielencéfalo (verde). FIGURA 1B - Divisão anatômica do cérebro: Cérebro (rosa), Tronco encefálico (amarelo claro) e Cerebelo (amarelo ouro). Fonte: http://vanat.cvm.umn.edu/neurLab3/divisions.html As cavidades internas do cérebro são denominadas ventrículos e formam o sistema ventricular que apresentam uma continuidade caudal com o canal central da medula espinhal (DELLMAN, H.D.; MCCLURE, R.C., 1975). O sistema ventricular estarelacionado à circulação de liquido cefalorraquidiano por todo o SNC, pois os ventrículos são preenchidos com líquor e comunicam-se através de duas aberturas no quarto ventrículo com a cavidade subaracnóide situada entre as membranas aracnóide e dura-mater ao longo da medula espinhal (DELLMAN, H.D.; MCCLURE, R.C., 1975). O líquido cefalorraquidiano é um fluido claro, incolor que rodeia e permeia todo o sistema nervoso central, e consequentemente protege, suporta e nutre-o. É produzido constantemente pelo plexo coróide, circula para o espaço subaracnóideo e é absorvido pelos seios venosos, havendo uma movimentação contínua deste líquido (BUCCA, S., 2008). 2.1.2. A medula espinhal A medula espinhal é a continuação caudal da medula oblonga (Fig.1A), a partir do forame magno do crânio. É a principal via de comunicação entre o encéfalo e as extremidades, cavidades e vísceras do organismo (CORDEIRO, J.M.C., 1996). 14 No eqüino, a parte final caudal da medula espinhal localiza-se na metade caudal da segunda vértebra sacral (BLYTHE & ENGEL, 1999) e seu comprimento total pode chegar a quase 2 metros de comprimento em um cavalo de 500 kg (MAYHEW, I.G.J.,1999) conforme a Tabela 1. Tabela 1 - Segmentos medulares funcionais da medula espinhal do eqüino Segmentos medulares funcionais Comprimento (cm) C1–5 55 C6–T2 33 T3–L3 88 L4–S4 18 S5–Co1 6 Total 200 Fonte: MAYHEW, I.G.J. (1999) Esta confinada e protegida numa estrutura óssea, a coluna vertebral, que é composta por estruturas ósseas individuais denominadas vértebras. As vértebras estão unidas entre si por processos articulares, ligamentos e um sistema de amortecimento denominado disco intervertebral (CORDEIRO, J.M.C., 1996). A medula espinhal consiste em um longo cilindro de tecido nervoso (Fig.2) com duas dilatações (intumescências) (Fig.3), uma na região cervical e outra na região lombar. As intumescências são conseqüentes ao aumento do número de células nervosas e fibras nestas regiões, onde originam o plexo braquial (inervação dos membros locomotores torácicos) e o plexo lombossacral (inervação dos membros locomotores pélvicos) (DELLMAN, H.D., MCCLURE, R.C., 1975). Figura 2 – Cérebro e medula espinhal de um porco neonato. Fonte: http://vanat.cvm.umn.edu/neurLab2/SpCdGross.html 15 A medula espinhal pode ser dividida em substancia cinzenta, a qual é predominante nos corpos celulares dos nervos e localiza se mais internamente à medula, e substância branca, localizada mais superficialmente à medula e composta principalmente por fibras nervosas (DELLMAN, H.D., MCCLURE, R.C., 1975) (Fig.3). Figura 3 - Diagrama da secção transversal da medula espinhal demonstrando áreas relativas (“volumes”) da substância cinzenta (em preto), substância branca (em branco) e espaço subaracnóide (em cinza). (Modificado de Braun). Fonte: MAYHEW, I.G.J. (1999) Cada segmento medular (cervical, torácico, lombar, sacral e coccígeo) da origem a um par de nervos espinhais. Individualmente o nervo espinhal é formado pela união de uma raiz dorsal, e seu respectivo gânglio, a uma raiz ventral, que emergem da medula espinhal e forma após deixar o forame intervertebral, um nervo espinhal típico, o nervo periférico (Fig.4) (BLYTHE & ENGEL, 1999; CORDEIRO, J.M.C., 1996; GHOSHAL, N.G., 1975). O gânglio espinhal é composto por corpos celulares de neurônios sensitivos (CORDEIRO, J.M.C., 1996). A raiz dorsal é composta por fibras que são axônios das células do gânglio espinhal e remete impulsos ao SNC, portanto é geralmente sensorial ou aferente, e inerva a pele e músculos dorsais. A raiz ventral é formada por fibras que são axônios das grandes células das colunas cinzentas ventrais da medula espinhal, portanto é motora ou eferente, remete impulsos para a periferia e inerva a musculatura lateral, ventral e as extremidades, assim como a pele (GHOSHAL, N.G., 1975). Os 16 principais tipos de fibras nervosas que compõem a medula espinhal são simpática, sensorial, e motora (KLIDE, A.M., 1992). Figuras 4 - Estruturas de uma vértebra torácica e sua relação com os componentes da medula espinhal. Fonte: http://vanat.cvm.umn.edu/neurLab2/SpCdGross.html No último estagio embrionário, os segmentos da medula espinhal situam-se ao nível de seu respectivo forame intervertebral. Como resultado do crescimento diferencial entre a medula espinhal e a coluna vertebral, a maioria dos segmentos da medula espinhal se posiciona cranialmente às suas vértebras correspondentes, principalmente a partir de L5. Os dois últimos segmentos lombares (L5 e L6), os segmentos sacrais (S1 a S5) e caudais (Cd 1 a Cd5) do eqüino estão localizados cranialmente as suas respectivas vértebras numéricas e por esta razão a medula espinhal finaliza como um cone medular na metade caudal da segunda vértebra sacral (Fig.5). Após este limite não há corpos celulares neuronais (DELLMAN, H.D.; MCCLURE, R.C., 1975; BLYTHE & ENGEL, 1999). Devido ao deslocamento cranial da medula vertebral, os nervos espinhais são obrigados a percorrer um trajeto caudal, paralelo e juntamente à medula de seus segmentos originários até seus respectivos forames intervertebrais, onde saem do canal vertebral (DELLMAN, H.D.; MCCLURE, R.C.,1975). Portanto os nervos espinhais são curtos nas áreas cervical e tóraco-lombar, e longos nas regiões 17 lombar caudal, sacral e caudal (VERNAU, K., 2005). O cone medular e as raízes espinhais sacrais e caudais e seus trajetos formam a configuração denominada cauda eqüina (Fig.5) (DELLMAN, H.D.; MCCLURE, R.C., 1975). Figura 5 – Medula espinhal caudal (cauda eqüina). Segmentos medulares posicionados cranialmente às suas vértebras numéricas com conseqüente percurso caudal dos nervos espinhais às suas respectivas vértebras. Fonte: GETTY, R., 1975. O diâmetro do canal vertebral provavelmente depende do tamanho do compartimento ou saco dural, assim como a quantidade de espaço subaracnóide e dural podem depender da extensão de movimento dorso-ventral e lateral em cada segmento (MAYHEW, I.G.J., 1999) (Fig.3). 2.1.3. As meninges x espaços do SNC As meninges são três membranas de tecido conjuntivo que envolvem o sistema nervoso central para sua proteção e manutenção fisiológica (JUNQUEIRA & CARNEIRO, 1999). A medula espinhal e as raízes espinhais são envolvidas pelas três camadas de meninges (Fig.6) (BUTLER, D. S., 2003). A dura mater, também chamada de teca, é a camada meníngea mais externa e resistente. Na caixa craniana esta intimamente unida ao periósteo desta mesma cavidade, enquanto que ao longo do canal vertebral, envolve a medula espinhal e está separado do periósteo das vértebras, sendo formado entre ambos o espaço epidural (ou peridural) (JUNQUEIRA & CARNEIRO, 1999). 18 Figura 6 - Desenho esquemático das estruturas das meninges. (O vaso sangüíneo, localizado no espaço subaracnóide, é acompanhado pela pia-mater em toda sua extensão). Fonte: JUNQUEIRA & CARNEIRO, 1999. A composição da dura mater consiste em fibras colágenas e alguma elastina, alinhadas no eixo longitudinal em camadas. Apresenta grande resistência axial e menor resistência na direção transversa. É capaz de mudar sua capacidade e forma rapidamente em resposta a mudanças na pressão intra-craniana, intra-abdominal e intra-torácica. Estas alterações estão relacionadas com a pressão do plexo vascular epidural (BUTLER, D. S., 2003). O espaço peridural espinhal contém veias de parede muito delgada, tecido conjuntivo frouxo e uma quantidade variável de tecido adiposo. Na cavidade craniana, a dura-máter e o periósteo fundem-se e, portanto o espaço peridural não existe (JUNQUEIRA & CARNEIRO, 1999). Independente da condição corporal do paciente há uma determinadaquantidade de tecido adiposo presente no espaço epidural (KLIDE, A.M., 1992). O espaço subdural está situado entre as membranas dura mater e aracnóide e contém uma pequena quantidade de fluido seroso que permite o deslizamento entre ambas as meninges (BUTLER, D. S., 2003). Este espaço não existe em condições normais (JUNQUEIRA & CARNEIRO, 1999). 19 A membrana aracnóide é formada por tecido conjuntivo sem vasos sangüíneos e está situada abaixo da dura mater. Apresenta duas partes, uma em forma de membrana e em contato com a dura mater, e outra constituída por traves que a ligam a pia mater (membrana mais interna) e formam o espaço subaracnóide, que contém líquido cefalorraquidiano e não tem comunicação com o espaço subdural (JUNQUEIRA & CARNEIRO, 1999). Em animais vivos, o contato entre a dura-máter e a aracnóide é mantido devido à pressão exercida pelo líquido cefalorraquidiano dentro do espaço subaracnóide (CORDEIRO, J.M.C., 1996). Figura 7 - Desenho esquemático da medula espinhal demonstrando as membranas meníngeas pia mater, aracnóide e dura mater; o ligamento denticulado; e fibras nervosas espalhadas em modo de leque e unidas dorsolateralmente à medula espinhal numa série linear que convergem lateralmente e formam a raiz dorsal. Fonte: http://vanat.cvm.umn.edu/neurLab2/SpCdGross.html A pia mater e a aracnóide são chamadas de leptomeninges e são meninges muito delicadas formadas por uma malha de fibras colágenas que permite alongamento e alguma compressão sem distorções. O líquido cefalorraquiano que circula no espaço subaracnóideo nutre e auxilia a medula em sua biomecânica fornecendo uma proteção hidráulica durante o movimento (BUTLER, D. S., 2003). A pia mater, a membrana mais interna, é muito vascularizada e se adere ao tecido nervoso da medula espinhal e nervos espinhais sem um contato direto com as células ou fibras nervosas, pois os astrócitos apresentam prolongamentos que 20 formam uma camada muito delgada que se une à face interna da pia mater (JUNQUEIRA & CARNEIRO, 1999). Bilateralmente, o colágeno da pia mater é espessado, a meio caminho entre os ramos dorsal e ventral dos nervos espinhais, e forma os ligamentos denteados (Fig.7). Estes ligamentos suspendem bilateralmente a medula espinhal e a mantém centralizada no espaço subaracnóide, rodeada por líquido cefalorraquidiano dentro do tubo da dura mater (Fig.4) (DELLMAN, H.D.; MCCLURE, R.C., 1975). 2.2. A via epidural e suas utilidades A via epidural tem sido utilizada por muitos anos na prática da analgesia e anestesia na espécie humana e em pequenos animais, pois existem receptores específicos no corno dorsal da medula espinhal que podem ser mais facilmente acessados por meio desta via (ROBINSON, E.P., NATALINI, C.C., 2002). A via epidural é uma via de acesso direta ao sistema nervoso central de relativa facilidade e conveniência de acesso para a infusão de uma variedade de fármacos para uma resposta relacionada à analgesia ou anestesia de acordo com o principio ativo infundido e a resposta desejada (BALL, M. A. et al, 1998). O acesso a esta via oferece a possibilidade de manejo da dor da metade caudal do corpo, pois a infusão de agentes no espaço epidural via espaço intercoccígeo Co1-Co2, envolve os nervos caudais além dos três últimos pares de nervos sacrais (NANNARONE, S., 2008). As infusões anestésicas entre Co1 e Co2 são úteis na anestesia do períneo, ânus, da genitália (vestíbulo, vagina, vulva), de vísceras pélvicas (reto, uretra e bexiga) (NANNARONE, S., 2008; MOENS, Y.PS., 2007; ROBINSON, E.P., NATALINI, C.C., 2002; GÓMEZ DE SEGURA, I.A. et al., 1998), cauda (BURNHAM, S.L., 2002; ROBINSON, E.P., NATALINI, C.C., 2002), pênis (GÓMEZ DE SEGURA, I.A. et al., 1998) e durante manipulações obstétricas, havendo o devido cuidado nas dosagens e volumes para não haver a perda do controle motor dos membros pélvicos (NANNARONE, S., 2008; WOODIE, B., 2006). BURNHAM, S.L. (2002) indica a anestesia epidural no eqüino para procedimentos cirúrgicos como amputação de cauda, correção de reto prolapsado, fístula reto-vaginal, sutura de Caslick, e alívio sintomático da dor durante manipulação obstétrica; já nos em asininos a indicação da anestesia epidural inclui prolapso retal ou vaginal e tratamento de melanomas na cauda e região perineal. ROBINSON, E.P. & 21 NATALINI, C.C. (2002) também indicam este procedimento para fetotomias, correção de torção uterina, criptorquidectomia via laparoscopia e uretrotomia via perineal nos casos de urolitíase. A via pode ser utilizada no tratamento de dores crônicas ou severas associadas a condições ortopédicas dolorosas tais como artrodeses, fraturas, ferimentos graves, artrites sépticas, laminites (NANNARONE, S., 2008; TAYLOR, P.M., 2007). Sua utilização pode reduzir a CAM de halogenados em cirurgias na porção distal de membros pélvicos e as doses de AINEs necessárias no controle da dor, assim como a toxicidade relacionada a estes fármacos (NANNARONE, S., 2008). A analgesia epidural é comumente utilizada como coadjuvante na analgesia perioperatória de cirurgias, principalmente em membros locomotores posteriores (particularmente bilateral), com uma única administração de morfina ou associação de morfina com detomidina. Esta terapia tem maior benefício antes da indução da dor, pois ganha todos os benefícios da analgesia preventiva. Também pode ser apropriada para laparotomia, já que a via epidural produz analgesia do peritônio (TAYLOR, P.M., 2007). MARTIN, C.A. et al (2003), num estudo retrospectivo (1998 a 2001) do uso clínico de cateteres epidurais para repetidas administrações de fármacos em 43 eqüinos, concluíram que a razão mais comum para a utilização de um cateter epidural foi a manutenção contínua da analgesia (86%). As condições que acometiam os 43 eqüinos neste estudo retrospectivo (1998 a 2001) são demonstradas na tabela 2. GÓMEZ DE SEGURA et. al. (1998) relatam que estas técnicas têm sido citadas para promover analgesia efetiva em injúrias ortopédicas ou em tecidos moles em muitas espécies. A fixação de um cateter epidural através do espaço epidural caudal permite a administração de repetidas doses de analgésicos imediatamente após procedimentos cirúrgicos nos membros posteriores ou pelve, ou alternativamente, durante dias a semanas durante a recuperação do eqüino à lesão dolorosa (ROBINSON, E.P., NATALINI, C.C., 2002). A analgesia epidural provavelmente é a técnica que produziu o impacto mais benéfico em analgesia eqüina nos últimos 5-10 anos. Agora é mundialmente utilizada na rotina de muitas clínicas de eqüinos (TAYLOR, P.M., 2007). 22 Tabela 2 – Condições de injuria e conseqüente uso de fármacos via cateter epidural fixado em 43 eqüinos. ___________________________________________________________________ Localização da lesão Condição Nº. de eqüinos Membros torácicos Membros pélvicos Fratura Falange média 3 0 3 Falange proximal 3 2 1 Sesamóides proximais 2 1 1 Terceiro metacarpiano 2 2 SA Pelve 2 SA 2 Escápula 1 1 SA Laceração ou Ferida 7 0 7 Artrite ou Osteíte séptica 6 1 5 Celulite ou Tenosinovite 6 0 6 Laceração retal ou reto-vaginal 5 SA SA Prolapso retal 1 SA SA Edema periretal 1 SA SA Abscesso periretal 1 SA SA Miosite 1 SA SA Nefrite 1 SA SA Cálculo vesicular 1 SA SA SA = sem aplicabilidade. Fonte: MARTIN, C.A. et al, 2003. 2.3. Barreiras anatômicas ao acesso do espaço epidural caudal O processo espinhoso do primeiro osso coccígeo (Co1), e caudalmente a primeira articulação intercoccígea (Co1-Co2), podem ser palpados em eqüinos mais magros. Quando a cauda é levantada, a articulação Co1-Co2 se apresentana porção caudal das pregas cutâneas formadas, que podem ser vistas de ambos os lados da cauda. O trajeto da agulha romperia as seguintes barreiras para alcançar o espaço epidural: pele, variável quantidade de gordura, tecido conectivo situado entre os processos vertebrais espinhosos Co1-Co2, e o Ligamento Flavo (ROBINSON, 23 E.P., NATALINI, C.C., 2002). O espaço epidural estará situado entre o periósteo da vértebra e a meninge dura-mater (JUNQUEIRA & CARNEIRO, 1999). No nível Co1- Co2 , o espaço epidural contém os nervos da cauda eqüina, seios venosos e gordura epidural (ROBINSON, E.P., NATALINI, C.C., 2002) 2.4. Técnicas de acesso ao espaço epidural 2.4.1. Passos de preparação em comum para a administração de solução com Agulha e Cateter A melhor localização anatômica para uma abordagem epidural é o primeiro espaço de ampla movimentação em alavanca da cauda do eqüino (NANNARONE, S., 2008; MOENS, Y.PS., 2007; WOODIE, B., 2006;BALL, M. A. et al, 1998), cerca de 5 centímetros acima da origem dos pêlos de cauda, o que normalmente corresponde a articulação Co1-Co2 ou à articulação sacrococcígea (S5-Co1) (NANNARONE, S., 2008; ROBINSON, E.P., NATALINI, C.C., 2002; BALL, M. A. et al, 1998) (Fig.8). Figura 8 – Localização anatômica da articulação Co1-Co2; geralmente o espaço articular é sentido quando a cauda é movimentada em alavanca. Fonte: McMURPHY, R.M. (2003) O acesso com localização entre a última vértebra sacral e a primeira vértebra coccígea podem encontrar-se fundidas (ROBINSON, E.P., NATALINI, C.C., 2002). O acesso através do espaço lombossacro (L6-S1) apresenta maior dificuldade de 24 execução devido à profundidade de acesso a este espaço (em média 15-20 cm) (NANNARONE, S., 2008). Em asininos, acesso epidural difere do acesso conhecido nos eqüinos, pois existem diferenças anatômicas relevantes. Dentre outras alterações anatômicas, comumente a primeira vértebra coccígea é fundida às vértebras sacrais havendo oclusão do espaço sacrococcígeo, as vértebras coccígeas dos asininos são mais desenvolvidas comparadas a dos cavalos, o primeiro espaço intercoccígeo é mais reduzido que o segundo, portanto, o segundo espaço intercoccígeo (Co2-Co3) é o local de acesso ao espaço epidural, pois há um grande intervalo entre a segunda e a terceira vértebra coccígea (BURNHAM, S.L., 2002) (Fig.9). Figura 9 - Posicionamento de agulha espinhal entre vértebras Co1 e Co2 no eqüino (ilustração superior) e posicionamento de agulha espinhal entre vértebras Co2 e Co3 no burro (ilustração inferior). Fonte: BURNHAM, S. L., 2002. Os pêlos de uma área com cerca de 12 a 15 x 12 a 15 cm são tricotomizados, e a área é preparada assepticamente. (NANNARONE, S., 2008; BALL, M. A. et al, 1998). A contenção do eqüino fica na dependência de seu comportamento. Pode haver a necessidade de sedá-lo ou havendo um bom ajudante, este poderá realizar uma adequada contenção deste animal (NANNARONE, S., 2008). BALL, M.A. et al. (1998) sugere que o cavalo seja sedado com 5 a 6 mg de detomidina após o preparo da área, pois a colocação do cateter parece ser relativamente dolorosa em alguns cavalos, e a dose de sedativo deverá ser ajustada de acordo com a sensibilidade demonstrada. 25 A infusão de um botão anestésico com 2 a 3 ml de lidocaína 2% nos tecidos mais profundos antes do final da assepsia é recomendada para maior conforto do paciente (NANNARONE,S.,2008;MOENS,Y.PS.,2007). O uso de luvas estéreis é obrigatório e devem ser assepticamente colocadas (NANNARONE, S., 2008; BALL, M. A. et al, 1998). 2.4.2. Acesso do espaço epidural para administração de dose única de solução com agulha A agulha espinhal, 5.0 a 7,5 cm de comprimento e 18G de diâmetro, pode ser posicionada sobre a linha mediana no centro da articulação intercoccígea com o bisel direcionado rostralmente sendo avançada perpendicular à pele (ângulo de 90°) (Fig.10) até uma espécie de "pop" ser sentido, momento em que a agulha penetra o Ligamento Flavo (NANNARONE, S., 2008; MOENS, Y.PS., 2007). Se o piso do canal vertebral é tocado, a agulha deve ser retirada cerca de 0,5 cm (NANNARONE, S., 2008; WOODIE, B., 2006) para evitar a administração de soluções dentro do disco intervertebral (SKARDA, 1991). Éguas submetidas a administrações epidurais prévias podem desenvolver uma cicatriz de tecido fibroso sobre o espaço intercoccígeo, tornando a inserção da agulha difícil (WOODIE, B., 2006). Figura 10 – Vista sagital das vértebras sacrais e coccígeas e angulações de posicionamento da agulha espinhal no espaço articular intercoccígeo Co1-Co2. Fonte: McMURPHY, R.M. (2003). Como segunda opção de acesso com agulha espinhal, há o posicionamento na porção caudal da articulação Co1-Co2, angulando – a aproximadamente 30° (NANNARONE, S., 2008; WOODIE, B., 2006) ou 45° (MOENS, Y.PS., 2007; 26 BURNHAM, S.L., 2002) (Fig. 10) com a pele e seu deslizamento ocorre de modo horizontal e cranial acompanhando o canal vertebral. Esta abordagem é recomendada aos eqüinos que apresentam fibrose junto às articulações vertebrais (NANNARONE, S., 2008; WOODIE, B., 2006). Em um caso clínico após amputação de membro em uma égua, VALVERDE, A. et al.(1990) acessaram o espaço epidural caudal através do espaço sacrococcígeo (S5-Co1) com uma agulha espinhal de calibre 20 G e 6,3 cm de comprimento, em um ângulo de 60° com o plano horizontal, sobre a linha mediana. Após a sensação sentida com a agulha penetrando o ligamento intervertebral, a agulha foi avançada cranialmente por aproximadamente 2 cm. Nos asininos, o segundo espaço intercoccígeo (Co2-Co3) é o local de melhor acesso ao espaço epidural, sendo a agulha espinhal direcionada em um ângulo de 30 ° a partir da horizontal (BURNHAM, S.L.,2002) (Fig. 10). Testes devem ser realizados para verificar o bom posicionamento da agulha. A administração de fármacos no espaço peridural deve ser lenta, paciente, em média durante um período de 1 a 2 minutos, sem resistência. A quantidade de agente a ser infundido é determinada considerando o tamanho e conformação do cavalo, o tipo de droga e o grau de efeito regional do fármaco desejado (NANNARONE, S., 2008). Após o procedimento e conclusão deste, a agulha deve ser removida (WOODIE, B., 2006). 2.4.3. Acesso do espaço epidural para administração de solução com posicionamento de cateter O posicionamento e fixação de cateteres epidurais em eqüinos ganhou maior aceitação recentemente, o que permitiu a administração múltipla de fármacos para o controle prolongado da dor (ROBINSON, E.P., NATALINI, C.C., 2002). O cateter utilizado vem em um kit preparado comercialmente para uso em humanos e inclui uma agulha de inserção do cateter com mandril, caracterizada por um bisel ligeiramente curvo (agulha de “Tuohy”) (Fig.11) que auxilia no direcionamento do cateter cranialmente; o cateter em si, que é um tubo de poliamida ou plástico medindo aproximadamente 90 cm, com uma graduação na extremidade final que funciona como um guia de profundidade de inserção e é demonstrada por traços pretos intercalados em seu comprimento, além possuir três orifícios laterais na mesma porção final deste; e o pedaço final do cateter, um canhão acoplador que 27 é anexado por um sistema de rosqueamento e apreensão ao cateter após a remoção da agulha de inserção (BALL, M.A. et al., 1998) (Fig.11). As agulhas de “Tuohy” com calibre 17 ou 18 G e 7,5 cm de comprimento são de melhor utilização para o acesso do espaço epidural. A vantagem destas agulhas é sua ponta ser romba, e assim haver uma menor probabilidade de lesão nervosa comparada à agulha espinhal regular (ROBINSON, E.P., NATALINI, C.C., 2002). VALVERDE, A. et al. (1990) utilizaram agulha de “Tuohy” com calibre 16 G e 8 cm de comprimento para acessodo espaço epidural via espaço sacrococcígeo. Figura 11 - Kit epidural: agulha “Tuohy” com mandril, cateter epidural, canhão acoplador e seringa. Detalhe da agulha de “Tuohy”: ponta curva. Fonte: http://www.bd.com/brasil/acesso/fami07.asp Ao palpar o espaço intercoccígeo Co1 – Co2 é realizada uma pequena incisão com uma lâmina de bisturi n°15 (BALL, M.A. et al., 1998), principalmente nos eqüinos com pele espessa (ROBINSON, E.P., NATALINI, C.C., 2002). A agulha é inserida com a curvatura do bisel voltada dorso-cranialmente. A passagem através do ligamento espinhal dorsal da vértebra caudal impõe alguma resistência que está relacionada à maior ou menor centralização no espaço intervertebral. Dependendo do tamanho e condição corporal do cavalo, a inserção da agulha por 5 a 8 cm é um indicativo de que o procedimento esta sendo executado corretamente (BALL, M.A. et al., 1998). Se a agulha avançar bem até esta profundidade, o mandril da agulha de inserção pode ser removido e a verificação de posicionamento no espaço epidural deve ser realizada (BALL, M.A. et al., 1998). A extremidade graduada do cateter, de calibre 19 ou 20 G (ROBINSON, E.P.,NATALINI, C.C., 2002), é inserida através da luz da agulha de inserção e uma ligeira resistência pode ser sentida durante a progressão do cateter no espaço 28 epidural (Fig.12). O cateter pode ser inserido até as regiões sacral a lombo-sacral (BALL, M.A. et al., 1998), aproximadamente 12 cm através do espaço epidural até a porção média da região sacral (GÓMEZ DE SEGURA et. al., 1998). Geralmente não é recomendada a inserção do cateter epidural em mais de 30 cm de comprimento para dentro do espaço peridural, pois isto evita a torção, dobradura do cateter (ROBINSON, E.P. ,NATALINI, C.C., 2002). Figura 12 – Colocação do cateter epidural através da agulha de inserção “Tuohy”. Fonte: McMURPHY, R.M. (2003). A agulha de inserção é eliminada após o cateter estar no lugar desejado, o canhão de acoplamento é anexado ao final da extremidade livre do cateter e este conjunto deve ser fixado da maneira mais asséptica possível (BALL, M.A. et al., 1998) (Fig. 13). O cateter deve ser fixado de modo seguro e protegido na pele com o uso de uma fita em borboleta suturada à pele (Fig.14). O filtro bacteriano deve ser conectado ao conector do cateter e o local de penetração do cateter à pele deve ser coberto com uma pasta iodada. A região deve ser coberta com gaze, compressas e adesivos estéreis (ROBINSON, E.P.,NATALINI, C.C., 2002). Após a cada administração de fármaco necessária na terapia, solução salina 0,9% ou heparina (10 UI/ml) com salina 0,9% deve ser instilada no cateter para sua manutenção. A inspeção do cateter e limpeza da pele com produto anti-séptico fazem parte dos cuidados diários (ROBINSON, E.P., NATALINI, C.C., 2002). 29 Figura 13 - Retirada da agulha “Tuohy” após inserção do cateter epidural até a posição desejada. Fonte: McMURPHY, R.M. (2003). Figura 14 – Fixação do cateter epidural à pele depois de posicionado. Fonte: McMURPHY, R.M. (2003). Segundo BALL, M.A. et al. (1998), o maior tempo de permanência de um cateter epidural posicionado sem complicações é de três semanas. GÓMEZ DE SEGURA, I.A. et al. (1998), mantiveram cateteres epidurais posicionados em seu experimento por 4 a 5 semanas. MARTIN, C.A. et al (2003) observaram que a duração média de cateteres epidurais em cavalos internados foi de 96 horas (4 dias) podendo chegar até 480 horas (20 dias). 30 2.4.4. Meios de verificação do correto acesso ao espaço epidural 2.4.4.1. Sensação de crepitação Sensação de leve crepitação (“pop”), momento em que o Ligamento Flavo é transpassado (GÓMEZ DE SEGURA et. al., 1998); esta sensação nem sempre esta presente e é mais consistente com agulha de maior calibre (Tuohy) (MOENS, Y.PS., 2007). 2.4.4.2. Pressão Negativa no espaço peridural Baseia - se na presença de pressão negativa no espaço peridural. É colocada uma gota de solução salina no canhão da agulha que deve ser sugada devido à pressão negativa (NANNARONE, S., 2008; MOENS, Y.PS., 2007; WOODIE, B., 2006; BALL, M.A. et al., 1998). Este evento ocorre muitas vezes, mas não é obrigatório (MOENS, Y.PS., 2007). 2.4.4.3. Perda de resistência Baseia - se na "perda de resistência" durante a administração de ar ou fármaco. Faz – se a cuidadosa tentativa de infiltrar 0.5 a 1 ml (NANNARONE, S., 2008; MOENS, Y.PS., 2007), ou 5 ml totais de ar (GÓMEZ DE SEGURA et. al., 1998; VALVERDE, A. et al., 1990),caso o embolo da seringa mostre resistência, a agulha é reposicionada para uma nova tentativa. Neste teste deve-se tomar cuidado para que ar em excesso não seja injetado, pois quantidades excessivas no espaço peridural tendem a deslocar o fármaco para além do local de ação desejado. Tratando-se de fármacos anestésicos serão observados bloqueios anestésicos irregulares, déficits neurológicos e até mesmo embolia aérea (NANNARONE, S., 2008). Segundo MOENS, Y.PS. (2007), este método é muito subjetivo. 2.4.4.4. Aspiração Após o teste de confirmação de adequado posicionamento da agulha, a seringa com o fármaco podem ser acoplados e o próximo passo importante é a aspiração. Existe a possibilidade de a agulha estar posicionada na luz de uma veia e esta iria também produzir perda de resistência ao ar ou a solução salina, mas não demonstraria retorno sangüíneo no canhão da agulha devido à pressão negativa neste mesmo vaso sangüíneo (NANNARONE, S., 2008). WOODIE, B. (2006) relata 31 que ocasionalmente sangue poderá surgir. Caso seja aspirado sangue, a agulha deve ser removida e substituída (NANNARONE, S., 2008; WOODIE, B., 2006). A aspiração sempre deve ser realizada para se ter a certeza de que os seios venosos não tenham sido penetrados (ROBINSON, E.P.,NATALINI, C.C., 2002). Fármacos administrados acidentalmente nos plexos venosos podem ocasionar alta concentração plasmática deste mesmo fármaco, com conseqüente toxicidade (KLIDE, A.M., 1992). 2.4.4.5. Teste da bolha vigiada Para o momento de administrações de fármacos no espaço peridural e certeza da manutenção da agulha neste local. Esta técnica se baseia na presença de uma pequena bolha de ar na seringa juntamente com o medicamento. Este é administrado e a bolha é vigiada, qualquer evidência de compressão da bolha significa que a colocação da agulha deve ser reverificada (NANNARONE, S., 2008). Mesmo um profissional experiente tem um considerável percentual de insucesso no adequado acesso ao espaço epidural (MOENS, Y.PS., 2007). 2.5. Dose única x Cateterização Dose única de analgésicos ou anestésicos é indicada em casos de cirurgias perineais, reto - vaginais, vaginais, retais, reposicionamentos de prolapsos vaginais ou retais ou manipulação de distocias (BALL, M. A. et al, 1998). A colocação do cateter epidural é indicada quando a terapia planejada for prolongada, e uma agulha espinhal especial "Tuohy" é necessária (MOENS, Y.PS., 2007). Casos em que se torna necessário o controle da dor em longo prazo (inclusive nos casos supracitados que necessitem de analgesia continua) como dores pélvicas crônicas, artrodeses, fraturas, feridas severas, artrites sépticas dos membros pélvicos. A utilização da cateterização epidural e uso de analgésicos e anestésicos por esta via têm como vantagem a redução das doses e concentrações dos princípios ativos utilizados, assim como a redução dos efeitos colaterais de fármacos coadjuvantes no controle da dor como os antiinflamatórios não esteroidais (BALL, M. A. et al, 1998). 2.6. Farmacologia aplicável à via epidural 32 2.6.1. Volume de administração A migração cranial de agentes administrados na região epidural caudal são presumidos com base em fatoresque incluem a idade, peso corporal, e comprimento medular occipito–sacro-coccígeo. A migração de agente infundido pode ser influenciada pelo tamanho do espaço epidural, gravidade, postura, comprimento da medula espinhal, e volume de infusão (KRUSE-ELLIOTT, K., 2002). Um cavalo maduro pesando 450 a 500 kg pode exigir uma quantidade total de 5 a 7 ml de lidocaína 2% para alcançar analgesia do períneo à S2 sem risco de ataxia. Menores doses são necessárias em pacientes geriatras, pois o canal espinhal nestes é fisiologicamente reduzido; em éguas gestantes, que pelo ingurgitamento dos seios venosos, possuem um canal raquidiano reduzido; e em cavalos obesos, cujo canal raquidiano poderá tanto estar reduzido quanto medir o mesmo que em um eqüino em condição corporal adequada (NANNARONE, S., 2008). KRUSE-ELLIOTT, K. (2002) definiram o efeito do volume de infusão / kg de peso corporal na migração cranial após infusão epidural do corante marcador azul de metileno em caprinos, bezerros, porcos jovens e cavalos. Em eqüinos, a administração dos volumes 0,02 ou 0,1 ml / kg de corante demonstraram uma migração de extensão de 6 ou 11 a 14 espaços espinhais, respectivamente. O volume total de administração epidural, baseado em volumes clinicamente utilizados, foi obtido pela equação 3,4 + (peso em kg x 0,013) ml (GÓMEZ DE SEGURA, I.A. et al., 1998), mas segundo SKARDA & MUIR (1983), o volume tipicamente recomendado para uma injeção epidural em eqüinos varia de 10 a 15ml, independentemente do fármaco ou associações de fármacos utilizadas. HENDRICKSON et al. (1998), comentam que grandes volumes de fluídos injetados no interior do espaço epidural, podem induzir ataxia dos membros posteriores devido à compressão das terminações nervosas sacrais e lombares. Em humanos, maiores volumes de diluição aumentaram a propagação da solução no espaço epidural resultando na abrangência de um maior número de receptores opiáceos com conseqüente redução do período de latência para a analgesia com fentanil e, portanto, aumentaram a velocidade de início de conforto do paciente, pois houve um aumento da taxa de difusão de fentanil no sistema nervoso central. A explicação para estes achados pode estar relacionada à alta lipossolubilidade do fentanil (BIRNBACH, D.J. et al., 1989). MARTIN, C.A. et al (2003) diluíram morfina 33 (0,04 a 0,26 mg/kg) em NaCl 0,9% e administraram um volume total de 10 a 40 ml para lesões localizadas na pelve ou membros pélvicos, e 20 a 100 ml para lesões localizadas nos membros torácicos. É importante notar que diferentes farmacocinéticas irão causar variação na migração epidural cranial, particularmente a lipofilia e período de ação do fármaco administrado nesta via (KRUSE-ELLIOTT, K. 2002). Fatores que podem influir na extensão e área envolvida pela administração epidural de fármacos são posicionamento da ponta da agulha, capacidade do espaço epidural, captação neural, absorção vascular ou linfática e eliminação do fármaco (GÓMEZ DE SEGURA, I.A. et al., 1998). 2.6.2. Farmacocinética dos princípios ativos administrados via epidural Acredita-se que em muitos casos o efeito do fármaco administrado via epidural dura mais tempo quando comparado às outras vias de administração medicamentosa, pois a captação do fármaco à circulação e desta ao fígado é relativamente lenta (TAYLOR, P.M., 2007). 2.6.2.1. Princípios ativos lipossolúveis HANSDOTTIR, V. et al. (1995) comenta que os opióides lipofílicos como fentanil, sufentanil, produzem um rápido e eficaz alivio da dor devido a sua acelerada difusão para áreas lipidicamente ricas da medula espinhal e, portanto, efeitos como depressão respiratória tardia, em humanos, apresentam menor probabilidade de ocorrência, pois as quantidades disponíveis para a migração via fluxo passivo para o liquido cefalorraquidiano estariam reduzidos. Mas de acordo com NATALINI, C.C., ROBINSON, E.P.(2000), os opióides altamente lipossolúveis difundem-se rapidamente do espaço epidural para o espaço subaracnóide e ao plasma após administração epidural. DOHERTY, et al. (1997), sugerem que a ação de um princípio ativo altamente lipossolúvel, a exemplo da quetamina, ocorra por uma rápida difusão do espaço epidural aos seios venosos contidos neste. KLIDE, A.M., (1992) relata que quanto maior a quantidade de tecido adiposo no espaço epidural, maior efeito cranial do princípio ativo lipossolúvel. A circulação cefálica de opióides lipossolúveis é limitada pela captação do fármaco pela medula espinhal, após a transferência do fármaco para o espaço subaracnóide (NATALINI, C.C., ROBINSON, E.P., 2000). 34 2.6.2.2. Princípios ativos hidrofílicos Princípios ativos hidrofílicos como a morfina são preferenciais à exposição de uma ampla extensão de segmentos medulares como lesões torácicas ou nos membros locomotores anteriores (MARTIN, C.A. et al .,2003). O fármaco lipossolúvel tende a ligar-se aos receptores na medula espinhal após atravessar a dura mater enquanto que o fármaco hidrofílico tende a permanecer no líquido cefalorraquidiano (NATALINI, C.C., ROBINSON, E.P., 2000). 2.6.3. Fármacos comumente utilizados nos eqüinos O fármaco ou a associação de fármacos eleita para a utilização da via epidural como meio de anestesia e/ou analgesia em um eqüino deve idealmente apresentar alta margem de segurança, alta eficácia e ser desprovida de efeitos adversos. Os efeitos colaterais devem ser reversíveis com uma droga antagonista e o período de ação do fármaco administrado via epidural deve ser compatível com o procedimento a ser realizado (ROBINSON, E.P.,NATALINI, C.C., 2002). Analgesia espinhal pode ser obtida com diferentes fármacos (SKARDA, R.T. & MUIR, W.W., 1996; GOMEZ DE SEGURA et al., 1998; ROBINSON, E.P.,NATALINI, C.C., 2002), pois existem receptores nervosos para diferentes tipos de fármacos na medula espinhal e cérebro como opióides mu, kappa, delta, sigma; penciclidinas e receptores alfa 2 adrenérgicos (KLIDE, A.M., 1992). O desejo nestas últimas décadas de se encontrar fármacos com efeitos sensoriais sem concomitante paralisia de nervos motores, que promovessem controle da dor nos membros pélvicos, sem levar o animal ao decúbito, levou ao avanço da técnica epidural em eqüinos e investigação de fármacos que administrados via epidural demonstraram efeitos analgésicos úteis como os opióides, alfa 2 agonistas e drogas dissociativas (ROBINSON, E.P.,NATALINI, C.C., 2002). A membrana espinhal pode ser afetada por várias categorias de drogas como anestésicos locais, opióides agonistas, agonistas alfa 2 adrenérgicos e quetamina, sendo dependente do mecanismo de ação, efeitos colaterais e resposta de acordo com o fármaco administrado (KLIDE, A.M., 1992). No momento da escolha de princípio ativo ou associação destes para uma analgesia epidural, devem ser considerados a dose e volume de administração, além do potencial de ataxia e de decúbito (WOODIE, B., 2006). 35 2.6.3.1. Anestésicos locais Bloqueio motor e sensorial deve ser esperado com o uso de anestésicos locais. Inicialmente o uso de anestésicos locais por via epidural caudal limitou os veterinários a realizar procedimentos cirúrgicos e manipulações apenas nas áreas de cauda e períneo (ROBINSON, E.P., NATALINI, C.C., 2002). Fibras nervosas de menor diâmetro são bloqueadas por uma menor concentração de anestésico local, assim em ordem crescente de dependência de concentração de anestésico local para bloqueio, fibras simpáticas são sensibilizadas com uma menor concentração, fibras sensoriais com uma concentração intermediária e fibras motoras com uma maior concentração (KLIDE, A.M., 1992). A perda do tônus do esfíncter anal é comum na anestesia peridural. O tipo de bloqueio (motor e/ou sensorial) e a duração do efeito são dependentes do tipo e volume de medicamento(s)administrado. Anestésicos locais devem produzir bloqueio motor e sensorial enquanto outras classes de medicamentos levam apenas a perda do estímulo sensorial (WOODIE, B., 2006). Agentes anestésicos locais como a lidocaína, a mepivacaína, ou de efeito mais prolongado, a bupivacaína, podem ser utilizados para prover analgesia epidural em eqüinos. Estas drogas promovem anestesia local e regional, portanto é de fundamental importância na utilização destes fármacos o conhecimento do volume total de administração, mais que a dose individual do fármaco anestésico e ser empregado (TAYLOR, P.M., 2007). 2.6.3.1.1. Lidocaína 2% A técnica epidural com lidocaína 2% é utilizada para a obtenção de uma anestesia regional do ânus, reto, vagina, vulva, uretra e bexiga. No entanto uma previsão exata do deslocamento cranial e lateral esquerda e direita, além da duração de ação não é possível predizer (MOENS, Y.PS., 2007). O volume total de 7 a 8 ml de uma solução a 2% de lidocaína produz bloqueio da região perineal de um eqüino de 500 kg por 1 a 2 horas (TAYLOR, P.M., 2007). 2.6.3.2. Analgésicos 2.6.3.2.1. Opióides 36 A analgesia epidural com opióides é uma boa opção de uso no manejo de dores agudas e mais crônicas originárias dos membros locomotores pélvicos e terço posterior do corpo, pois apresenta poucos efeitos colaterais (MOENS, Y.PS., 2007). A administração de pequena quantidade de opióide via epidural pode produzir analgesia sem os efeitos sistêmicos provocados por doses mais elevadas administradas sistemicamente (KLIDE, A.M., 1992). Os opióides são utilizados com sucesso na analgesia epidural em cavalos sem produzir bloqueio motor e proporcionando analgesia que se estende da região coccígea à dermátomos torácicos (MOENS, Y.PS., 2007). 2.6.3.2.1.1. Morfina A administração de morfina, um opióide µ agonista, pela via epidural pode ser classificada como a de eleição para esta droga já que sua solubilidade se apresenta adaptada a esta via, fornece analgesia e reduz simultaneamente os efeitos sistêmicos indesejáveis como excitação muculo-esquelética e hipomotilidade intestinal (TAYLOR, P.M., 2007). Sua utilização apresenta vantagens na administração epidural como duração prolongada de analgesia sem prejuízo ou alterações na freqüência cardíaca ou pressão arterial (MARTIN, C.A. et al. 2003). A morfina (0,1 mg / kg diluída em solução salina com volume total de até 20 ml) possui um período de ação maior comparado a metadona (no máximo 18 horas), mas, seu período de latência é prolongado (1 a 8 horas) (MOENS, Y.PS., 2007). VALVERDE, A. et al. (1990) consideram a morfina peridural (0,1 mg/kg diluídos em 30 ml de solução salina) uma alternativa viável para o alívio da dor não responsiva a outras técnicas de analgesia em pacientes eqüinos, já que provou ser eficaz em produzir profunda e duradoura (8 a 16 horas) analgesia, com período de latência variando entre 20 e 40 minutos. Relaxamento da musculatura cervical com abaixamento da cabeça tem sido descrito como evidência de sedação em cavalos após receberem morfina (0,05 e 0,1mg/kg) pela via epidural (ROBINSON & NATALINI, 2002). ROBINSON (1994) comprovou que a utilização de 0,05 a 0,1mg/kg de morfina epidural produziu analgesia segmentar, caracterizada por sedação sem ataxia em eqüinos, sendo que a dose mais elevada produziu rápido início de ação, longa duração e difusão cranial, atingindo mais dermátomos craniais do que doses mais 37 baixas. Os ramos nervosos dorsais do plexo lombo-sacro foram mais afetados do que os ramos ventrais por ambas as doses de morfina avaliadas. Segundo o estudo experimental controlado realizado por DOHERTY, et al. (1997), morfina epidural decresceu a concentração alveolar mínima (CAM) do halotano em pôneis quando um estímulo nocivo foi aplicado aos membros pélvicos, porém, não reduziu a CAM quando o estímulo foi aplicado nos membros torácicos. NATALINI & ROBINSON (2000), comparando a morfina a outros opióides administrados pela via epidural caudal em eqüinos observaram que esta teve um período de latência prolongado (4 a 6 horas) para a região sacral, perineal, lombar, respectivamente e (8 horas) para região torácica. O tempo de analgesia variou de 8 a 19 horas, sendo que obtiveram analgesia mais pronunciada nos dermátomos próximos ao sítio de administração, e analgesia menos intensa nos dermátomos lombares e torácicos. Tais autores sugerem que o efeito de diluição deste opióide no líquido cérebro-espinhal seja um dos efeitos que resulte em um número reduzido de moléculas de morfina disponíveis para ligação com os receptores opióides na região lombar e torácica da medula espinhal. A morfina apresenta vantagem sobre os agentes anestésicos locais e agonistas alfa-2, pois não afeta a condução nervosa responsável pelo controle motor muscular esquelético (TAYLOR, P.M., 2007). 2.6.3.2.1.2. Butorfanol O butorfanol é um opióide agonista-к parcial e antagonista-µ, lipossolúvel e o mais utilizado sistemicamente em eqüinos, mas sua ação pela via epidural não demonstrou analgesia resultante (NATALINI & ROBINSON, 2000). A administração caudal epidural de 0,05 mg/kg de butorfanol no estudo realizado por DOHERTY, et al. (1997), demonstrou o não decréscimo na CAM do halotano quando houve estimulação dolorosa nos membros pélvicos. ROBINSON, E.P. & NATALINI, C.C. (2002) recomendam o uso de drogas altamente lipofílicas como fentanil ou butorfanol quando um cateter epidural caudal (Co1-Co2) for utilizado em terapias analgésicas. 2.6.3.2.1.3. Meperidina A meperidina administrada via epidural em éguas demonstra analgesia perineal e decréscimo do tônus muscular da cauda e do esfíncter anal, efeitos 38 semelhantes aos proporcionados pelos anestésicos locais. Leve sedação e ataxia também são observados (ROBINSON, E.P. & NATALINI, C.C., 2002). 2.6.3.2.1.4. Fentanil O fentanil é um potente opióide µ-agonista de relativa curta duração de ação que não tem sido amplamente utilizado em cavalos (TAYLOR, P.M., 2007). 2.6.3.2.1.5. Metadona A metadona (0,1 mg / kg diluída em solução salina com volume total de até 20 ml) produz analgesia em até 15 minutos após sua administração, com efeito, que atinge a porção cranial da 13 ª costela, e tem duração de até 5 horas (MOENS, Y.PS., 2007). 2.6.3.2.2. Tramadol O tramadol hidroclorido é um fármaco analgésico sintético 4-fenil-piperidina, análogo a codeína, com mecanismo de ação opióide e não opióide que causa a ativação central do mecanismo de inibição da dor (NATALINI & ROBINSON, 2000). NATALINI & ROBINSON (2000), administraram por via epidural caudal de 1,0 mg/kg de tramadol diluídos em 20 ml de solução salina 0,9% e observaram sua ação analgésica (6,5 horas) após um período de latência de 20 minutos nas regiões perineal e sacral. A analgesia nas regiões lombar e torácica foi obtida após 3 horas e perdurou por 5 horas. NATALINI & ROBINSON (2000) concluíram que o tramadol em eqüinos é 10 vezes menos potente que a morfina e apresentou analgesia mais intensa nos dermátomos das regiões perineal e sacral comparada às regiões lombar e torácica. 2.6.3.2.3. Alfa 2 agonistas 2.6.3.2.3.1. Xilazina A xilazina possui propriedades alfa-2 agonista adrenérgica e também alguma ação anestésica local (MOENS, Y.PS., 2007). Em geral os alfa-2 agonistas produzem analgesia regional e muito pouca interferência na função motora (ataxia) (MOENS, Y.PS., 2007; WOODIE, B., 2006). A reabsorção sistêmica causa certo grau de sedação, mas inferior à administração endovenosa (MOENS, Y.PS., 2007). 39 A dose de xilazina recomendada é 0,17 mg/kg (diluída em um volume total de 6 a 10 ml de NaCl 0,9%), havendo início de ação em 10 a 30 minutos e duração do efeito de analgesia por 2.5 a 4 horas (WOODIE,B., 2006). 2.6.3.2.3.2. Detomidina A detomidina é um fármaco de boa aceitação para utilização pela via epidural. O seu efeito analgésico tem maior durabilidade por esta via, apesar de haver absorção sistêmica e o cavalo torna-se sedado. Este último efeito pode ser revertido com administração sistêmica de atipamezole, deixando intacto o efeito analgésico (TAYLOR, P.M., 2007). A administração epidural de detomidina (30-60 µg/kg) fornece analgesia por um período de 2 a 3 horas, mas produz sedação e ataxia (WOODIE, B., 2006). 2.6.3.2.4. Quetamina A quetamina, classificada como uma penciclidina é comumente utilizada como agente anestésico indutor ou de manutenção anestésica em eqüinos (GÓMEZ DE SEGURA, I.A. et al., 1998). Os efeitos farmacológicos da quetamina quando administrada por via sistêmica são caracterizados por estado de anestesia dissociativa, atividade simpatomimética com importante efeito adverso alucinógeno e excessivo aumento da pressão arterial e freqüência cardíaca (OLESKOVICZ, N. et al., 2006). A quetamina é um antagonista não competitivo de receptores N-methyl-D- aspartato canais de Ca²+ (NMDA) e interage com receptores opióides, receptores monoaminérgicos, receptores muscarínicos e canais voltagem-sensíveis de Ca²+. Este princípio ativo inibe de modo não competitivo (o receptor deve estar vazio) os receptores NMDA canais de Ca²+, bloqueando estes receptores a estímulos excitatórios (HIROTA, K., LAMBERT, D.G., 1996). Os receptores de NMDA estão distribuídos por todo eixo medular nervoso e estão associados aos processos fisiológicos relacionados aos estados de dor aguda e crônica (GÓMEZ DE SEGURA, I.A. et al., 1998). Quando o antagonista de receptores NMDA é administrado antes do trauma cirúrgico, este pode inibir o estímulo nociceptivo facilitando o controle da dor pós- operatória (OLESKOVICZ, N. et al., 2006). 40 A quetamina administrada por via epidural em eqüinos nas doses 0,5 mg/kg, 1 mg/kg e 2 mg/kg, produziu analgesia caudal de duração e intensidade dose- dependente com efeito sedativo suave a moderado e efeitos cardio-pulmonares mínimos. Ataxia foi observada com a dose por via epidural de 2 mg/kg (GÓMEZ DE SEGURA, I.A. et al., 1998). O período de latência após da administração de quetamina, independente da dose, ocorreu em 5 a 10 minutos, com efeito analgésico total em 10 a 15 minutos que perdurou por até 75 minutos (GÓMEZ DE SEGURA, I.A. et al., 1998). 2.6.3.3. Associações de fármacos para administração epidural 2.6.3.3.1. Morfina + Alfa 2 agonista As vantagens da administração epidural de opióides e α 2 agonistas adrenoceptores, em comparação com as vias endovenosa ou intramuscular, incluem a prorrogação da duração da analgesia e redução na incidência e severidade de sedação (SKARDA, R.T. & MUIR, W.W., 1996). A associação de morfina a detomidina resulta em profunda analgesia dos membros posteriores com moderado grau de sedação nos eqüinos, o que torna esta associação mais interessante à administração apenas de morfina (MARTIN, C.A. et al. 2003). No tratamento de claudicações crônicas e debilitantes nos membros posteriores, como infecções de bainhas tendíneas, artrites sépticas e similares, com conseqüente dor intensa e severa, a analgesia epidural por cateterização e terapia com morfina ou morfina e detomidina infundidos 2 a 3 vezes ao dia, contribuem substancialmente com o bem-estar e melhor resposta ao tratamento do eqüino (TAYLOR, P.M., 2007). Associação para uso epidural de morfina com detomidina foi utilizada para o tratamento de sinovite tarso-crural induzida por anfoterecina-B em um modelo de dor articular em eqüinos. Os autores concluíram que houve um significativo decréscimo nos escores de dor avaliados após o tratamento com morfina e detomidina epidural, sugerindo que a associação produz profunda analgesia (SYSEL et al., 1996). Esta associação apresenta um efeito sinérgico. Ambos os fármacos são geralmente infundidos em um volume de 10 ml para estimular a disseminação cranial dos analgésicos (TAYLOR, P.M., 2007). 41 Esta associação é provavelmente a mais usada na rotina clínica eqüina atualmente (TAYLOR, P.M., 2007). 2.6.3.3.2. Lidocaína + Alfa 2 agonistas Os efeitos mediados pelo bloqueio dos canais de sódio na transmissão nervosa ocasionados pela administração epidural de lidocaína e ativação dos receptores alfa 2 adrenérgicos pela xilazina via epidural, demonstraram analgesia perineal (SKARDA, R.T. & MUIR, W.W., 1996), que foi prolongada (totalizando aproximadamente 5 horas) com a associação de ambas (SKARDA, R.T. & MUIR, W.W., 1996; WOODIE, B., 2006) 0,22 mg/kg de lidocaína e 0,17 mg/kg xilazina demonstrando apenas leve ataxia, quando comparado ao uso isolado de ambos agentes (WOODIE, B., 2006). A xilazina e a detomidina aumentam a intensidade, a segurança e a duração de anestésicos locais, mas a ataxia e decúbito são possíveis complicações (ROBINSON, E.P., NATALINI, C.C., 2002). A resposta positiva a analgesia epidural no estudo retrospectivo (1998 a 2001) de MARTIN, C.A. et al (2003), 34 de 43 eqüinos, à terapia contínua com morfina, xilazina, lidocaína, associação de morfina com detomidina e lidocaína com xilazina administrados pela via epidural e as condições que acometiam estes eqüinos são demonstrados na tabela 3. Tabela 3 - Condições de injúria e resposta a administração de fármacos analgésicos e / ou anestésicos administrados pela via epidural em 43 eqüinos. Resposta à administração epidural Condição de injúria Nº. de eqüinos + - S/a ? Fratura Falange média 3 3 (M-D) Falange proximal 3 2 (M) 1(M-D) Sesamóides proximais 2 1 (M) 1 (M) Terceiro metacarpiano 2 1 (M) 1 (M) Pelve 2 1 (M) 1 (M) Escápula 1 1 (M) Laceração ou Ferida 7 6(M);1(M-D) 42 Continuação Tabela 3 Resposta à administração epidural Condição de injúria Nº. de eqüinos + - S/a ? Artrite ou Osteíte séptica 6 3(M);2(M-D) 1 (M) Celulite ou Tenosinovite 6 3(M);2(M-D) 1 (M) Laceração retal ou reto-vaginal 5 3(L);2(M-D) Prolapso retal 1 1 (X) Edema periretal 1 1 (X) Abscesso periretal 1 1 (M) Miosite 1 1 (M) Nefrite 1 1 (M) Cálculo vesicular 1(L-X) (+): Positiva; (-): Negativa; S/a: sem alteração; ?: Inconclusivo; M: Morfina; D: Detomidina; L: Lidocaína; X: Xilazina. Fonte: MARTIN, C.A. et al, 2003. Tabela 4 – Doses recomendadas (dose única) e principais fármacos e associações para utilização pela via epidural para analgesia e anestesia em eqüinos. Fármaco Dose Período de latência Duração Efeitos adversos Lidocaína 0.22 a 0.35 mg/kg 5 a 20 min. 60 a 90 min. Ataxia ou decúbito em altas doses Lidocaína 2% 5 a 8ml para 450 kg Mepivacaína 2% 0.22 a 0.35 mg/kg 5 a 7 ml para 450 kg 10 a 30 min. 90 a 120 min. 43 Continuação Tabela 4 Fármaco Dose Período de latência Duração Efeitos adversos Xilazina 0.17 mg/kg em 10 ml NaCl 0,9 % para 450kg 10 a 30 min 2 a 4 h Edema perineal e sudorese Xilazina 0,35 mg/kg 10 a 20 min 3 a 5 h Leve ataxia Detomidina 30 a 60 µg/kg em 10 ml NaCl 10 a 15 min 2 a 3 h Sedação, ataxia, depressão cardiovascular, bloqueio atrioventricular de 2º grau, diurese Romifidina 80 µg/kg 10 a 20 min ? Analgesia perineal inadequada, bradicardia Xilazina + Lidocaína 2% 0.17 mg/kg + 0,22 mg/kg 5 a 15 min. 5 h Ataxia ou decúbito, sudorese perineal Morfina 0.1 mg/kg 4 a 6 h 8 a 18 h. Edema cutâneo circunscrito, sedação Metadona 0.1 mg/kg em 20 a 30 ml (450 kg) 15 min 5 h. Morfina
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