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Anestesiologia Veterinária

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA 
CENTRO DE CIÊNCIAS RURAIS 
DEPARTAMENTO DE CLÍNICA DE PEQUENOS ANIMAIS 
 
 
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 
 
Caderno Didático 
 
Prof. Dr. André Vasconcelos Soares 
 
Colaboradores: 
Esp. Camila Giglio; Dra. Gabrielle Coelho Freitas; MSc. Liandra Cristina Vogel; MSc.. Sabrina Bäumer 
 
 3ª edição 
 
Santa Maria, 2015 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“…Àqueles animais, vítimas solicitadas pela 
ciência, para o benefício da humanidade, 
que com os seus olhos humildes, falavam 
de sua vontade de viver: o nosso respeito e 
nossa eterna gratidão...” 
(autor desconhecido) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 "Sedare Dolorem Opus Divinum Est" 
"Sedar a Dor é obra Divina" 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO 1 
INTRODUÇÃO 
 
A palavra anestesia é de origem grega, e significa “insensibilidade”, ou 
“sem sensação”, e foi aparentemente utilizada pela primeira vez por Bailey em 
1721. 
A anestesiologia veterinária é uma ciência que vêm crescendo muito nos 
últimos anos. A consciência de bem estar animal, e seguridade em 
procedimentos com os mesmos, vêm se difundindo muito entre as pessoas, e 
justamente neste ponto o Médico Veterinário apresenta o objetivo de fomentar 
e concretizar este crescente avanço da ciência, que aliado a uma maior 
consciência de bem estar animal, poderá proporcionar aos pacientes, melhor 
qualidade de vida e, segurança em procedimentos cirúrgicos ou mesmo 
naqueles em que uma simples analgesia, tranquilização ou sedação se faça 
necessária. 
 
Definições 
 
Anestesia: Perda total da sensibilidade em todo o organismo, ou ainda 
em parte dele, geralmente induzida pela administração de agentes que 
deprimem a atividade dos tecidos nervosos periféricos ou centrais. Desta forma 
torna-se como objetivo a imobilidade e/ou perda de função motora que pode vir 
acompanhada de perda sensitiva ou não. 
Tranqüilização: É um estado de mudança comportamental, onde o 
paciente se encontra relaxado e muitas vezes indiferente à dor e estímulos de 
baixa intensidade. 
Sedação: Grau leve de depressão central, onde o paciente está 
acordado, mas calmo. A sedação exigirá um grau maior de depressão do 
sistema nervoso central, quando comparada à tranquilização. 
Anestesia geral: Perda da consciência, além da perda da sensibilidade. 
Para uma anestesia geral ser considerada ideal deve ser acompanhada ainda 
de analgesia, hiporreflexia, relaxamento muscular e hipnose. A anestesia geral, 
pode ser obtida através da anestesia intravenosa (ex. propofol, tiopental, 
etomidato, etc) ou inalatória (ex. halotano, isofluorano, etc). 
Anestesia Dissociativa: Estado de anestesia, obtida através da classe 
de fármacos específicos, que não são capazes de levar a inconsciência total, 
sendo que nesta, se mantém presentes reflexos protetores como por exemplo 
os palpebrais. 
Anestesia Local: Diminuição dos sentidos em uma determinada área, 
produzida pela administração de anestésicos específicos para tal finalidade 
(anestésicos locais), que produzirão perda da sensibilidade dolorosa (sensitiva) 
associada a perda motora, através do bloqueio da condução nervosa 
reversível. 
Hipnose: Sono artificial (induzido), ou transe que se assemelha ao sono 
natural, do qual o indivíduo pode acordar por estímulos externos. 
Analgesia: Perda de sensibilidade à dor, produzida por diversas classes 
farmacológicas, conforme seus mecanismos de ação variados. 
Hipoalgesia: Diminuição da sensibilidade dolorosa. 
Hiperalgesia: Aumento da sensibilidade dolorosa a determinado 
estímulo. 
Alodinia: Sensibilidade dolorosa mesmo sem estimulo nociceptivo lesivo. 
Medicação pré-anestésica (MPA): Aplicação de algum fármaco que 
produz tranqüiliza ou sedação, minimizando a quantidade de outros 
anestésicos, e também provocando uma anestesia balanceada além da 
redução do estresse e conseqüente menor liberação de catecolaminas. 
Anestesia Balanceada: Aplicação de dois ou mais fármacos que gerem 
anestesia geral, onde cada um contribui com um efeito farmacológico, visando 
também a diminuição da quantidade de cada anestésico, produzindo 
sinergismo de efeitos tanto benéfico quanto adversos. 
Manutenção anestésica: Processo de manutenção do plano anestésico, 
podendo ser utilizados fármacos inalatórios ou injetáveis. 
Monitorização anestésica: Conjunto de ferramentas ou dispositivos 
utilizados durante o período anestésico, que possibilita monitorar e avaliar 
adequadamente a condição fisiológica e metabólica dos pacientes, objetivando 
sempre a segurança da anestesia. 
Recuperação anestésica: período que compreende desde o termino da 
administração de fármacos anestésicos até a plena recuperação do paciente, 
estando este, já em estado de vigília, livre de qualquer risco. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO 2 
DISPOSITIVOS BÁSICOS UTILIZADOS NA ANESTESIA 
 
 
 
Alguns dispositivos utilizados na anestesiologia veterinária, são de uso 
exclusivo para a anestesiologia, porém alguns são comuns a outras áreas. 
Entre eles, destacam-se: 
 
 
SCALP 
 Dispositivo metálico, utilizado para infusão intravenosa. As numerações 
são diversas, sendo que quanto menor for a numeração, mais calibroso se 
torna o dispositivo. Comumente chamado de dispositivo Butterfly. 
 
Scalp ou Butterfly 
 
 
 
 
 
CATETERES VENOSOS 
 
Dispositivo composto de mandril (metálico) e porção siliconizada, 
utilizado para infusão intravenosa. As numerações são diversas, sendo que 
quanto menor for a numeração, mais calibroso se torna o dispositivo. 
 
 
Cateteres intravenosos 
 
 
EQUIPOS DE INFUSÃO 
 
Dispositivos utilizados para fluidoterapia, os quais, permitem o calculo da 
quantidade de fluídos administrados ao paciente, bem como sua taxa 
aproximada de infusão. Apresentam dois tipos de vazão (maior ou menor), 
sendo então chamados de equipos macro ou micro-gotas respectivamente. 
 
 
Equipo Macro gotas Equipo Micro gotas 
 
 
 
SOLUÇÕES PARENTERAIS 
 
 Soluções cristalóides ou coloidais, utilizadas e administradas pela via 
intravenosa, com a finalidade de reidratação, fluidoterapia de manutenção, ou 
mesmo reposição volêmica, quando necessário. Entre eles, destacam-se 
soluções cristalóides de Cloreto de Sódio 0,9%, Cloreto de Sódio 0,45%, 
Cloreto de Sódio 20%, Cloreto de Sódio 7,5%, Ringuer Simples, Ringuer 
Lactato de Sódio e; as soluções coloidais, as quais visam normalmente 
reposição protéica e/ou volumétrica bem como as gelatinas, dextranos, 
hidroxietilamidos, entre outros. São dispositivos descartáveis. 
 
BOMBAS DE INFUSÃO VOLUMÉTRICAS 
 
 Dispositivos eletrônicos, utilizados com a finalidade de precisar o volume 
e a taxa de infusão das soluções parenterais e/ou enterais, administradas aos 
pacientes. Estes dispositivos normalmente necessitam de equipos especiais. 
 
 
Bomba de infusão peristática 
 
 
SERINGAS 
 
Existem hoje no mercado uma grande variedade disponível de marcas e 
tipos de seringas para uso humano e veterinário. Os volumes são medidos em 
ml (mililitros) sendo utilizadas para as mais diversas situações tanto clínicas 
quanto anestésicas. Os volumes mais utilizados hoje, em medicina veterinária 
são os de seringas de 1ml, 3ml, 5ml, 10ml, 20ml, 50ml e 60ml. São dispositivos 
descartáveis. 
 
 
Seringas de 1ml, 3ml,5ml, 10ml, 20ml e 60 ml respectivamente. 
 
 
AGULHAS HIPODÉRMICAS 
 
 Assim como as seringas, as agulhas hipodérmicas disponíveis no 
mercado apresentam uma variação bastante grande, facilitando muitas vezes 
sua utilização em determinados animais, bem como para tipos específicos de 
fármacos, sendo estes mais ou menos oleosos, muitas vezes. Normalmente 
possuem bisel trifacetado, o que tende a diminuir a dor do paciente, no 
momento de punção, seja pela via intramuscular, subcutânea ou mesmo 
intravenosa. O seu “canhão” colorido padrão, auxilia na identificação de seu 
comprimento e calibre, sendo que estão disponíveis nas dimensões 13x4,5mm, 
20x5,5mm, 25x6mm, 25x7mm, 25x8mm, 30x7mm, 30x8mm, 40x12mm e 
40x16mm. São dispositivos descartáveis e após o uso, devem sem 
encaminhados a lixo específico de materiais perfurocortantes e contaminados. 
 
 
Agulhas hipodérmicas 
 
SERINGAS DE VIDRO 
 
 Assim como as seringas descartáveis, estas possuem volumes 
disponíveis no mercado, bastante variáveis. Porém, sua principal característica 
é a falta de resistência produzida entre o embulo e a seringa propriamente dita. 
Desta forma, esta característica a torna muito utilizada como teste de “falta de 
resistência à administração de ar” na anestesia epidural. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO 3 
VIAS DE ADMINISTRAÇÃO 
 
Diferentes vias podem ser utilizadas para administração de soluções 
parenterais (fármacos ou não), no entanto, cada uma apresenta vantagens e 
desvantagens estando sujeitas à interferência de diferentes fatores. 
Normalmente o tipo de solução e a condição do paciente ditam a via de 
reposição. As vias mais utilizadas são as seguintes: 
 
ORAL 
É a via mais fisiológica e a que apresenta menor risco de alterações 
fisiológicas. É a mais adequada para reposição calórica. Quando o paciente 
não aceitar voluntariamente, ou estiver inconsciente poderá ser forçado através 
da boca ou por tubo de faringostomia ou gastrostomia. Nos casos de alteração 
gastrintestinal está contra-indicada. 
 Em anestesiologia veterinária, é pouco utilizada, devido a dificuldade 
muitas vezes de se administrar medicamentos por via oral em animais e por 
apresentar um período de latência bastante prolongado. 
 
SUBCUTÂNEA 
Esta via apresenta limitações quanto ao tipo e quantidade de solução. 
Soluções sem sódio, como o soro glicosado, ou hipotônicas são absorvidas 
lentamente por esta via e, dependendo do estado geral, podem piorar o quadro 
clínico do paciente. Isto ocorre porque ao serem introduzidas no tecido 
subcutâneo atraem sódio orgânico e conseqüentemente líquido intersticial até 
haver isonatremia. O mesmo pode ser dito das soluções hipertônicas 
relativamente à atração osmótica da água. No paciente hipotenso a absorção é 
lenta ou não ocorre. 
Em anestesiologia esta via torna-se impraticável devido a lenta absorção 
dos fármacos anestésicos e, por sua vez, prolongado início de ação dos 
medicamentos. 
 
VENOSA 
A via venosa ou intravenosa é a mais indicada para reposição de 
grandes quantidades de volume. Além disso permite rápida reposição sendo a 
via ideal para o paciente hipotenso ou com desidratação acima de 8%. Deve 
ser a via preferencial para transfusão de sangue, derivados ou expansores do 
plasma. 
Nos casos em que houver dificuldade para venóclise deve ser procedida 
punção ou cateterização da veia jugular mediante abordagem cirúrgica. 
É via de administração preferencial para a indução a anestesia geral 
injetável, uma vez que os fármacos utilizados para esta finalidade devem ser 
administrados única e exclusivamente pela via venosa. 
 
PERITONEAL 
Esta via tem sido indicada para cães novos nos quais seja difícil a 
punção venosa ou em caso de hipotensão, nos animais adultos. Apresenta, no 
entanto, algumas limitações. Nos pacientes com hipotensão ou anemia crônica 
tem conduzido a óbito. Isto parece estar relacionado ao poder coloidosmótico 
do sangue administrado na cavidade peritoneal o qual, sendo maior, atrairá 
líquido para si em detrimento dos volumes intersticial e intravascular. 
Este fenômeno ocorre também com soluções hipertônicas, em relação 
ao forte efeito osmótico. Esta via tem sido utilizada para administração de 
fármacos com propriedades anestésicas basicamente em animais de 
laboratório. 
 
INTRAOSSEA 
Esta via apresenta como limitações, a dificuldade de se acessar a via, 
bem como o grande risco de levar contaminação ao canal medular, podendo 
ser responsável pelo desenvolvimento de infecções localizadas ou mesmo 
sepse. 
Porém, estudos recentes demonstram que esta via apresenta efeito 
muito similar a utilizada rotineiramente em anestesia geral (intravenosa), desde 
que devidos cuidados de assepsia sejam tomados. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPITULO 4 
AVALIAÇÃO PRÉ ANESTÉSICA, CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO RISCO 
ANESTÉSICO E PREPARO DO PACIENTE 
Prof. Dr. André Vasconcelos Soares 
M.v Especialista. Sabrina Baümer 
Introdução 
 O sucesso da anestesia está estreitamente relacionado à acurada 
avaliação pré-anestésica. Por isso, antes de qualquer procedimento anestésico 
deve haver uma interação entre o proprietário do animal e o profissional 
anestesiologista, procurando se obter informações importantes sobre a vida do 
paciente. Para isso é feita a avaliação clínica completa e minuciosa, pois dessa 
forma o profissional pode prever problemas que poderão ocorrer e planejar 
tratamentos na sua ocorrência. O objetivo principal desta avaliação é a 
possibilidade de classificação do paciente quanto ao risco de anestesia e desta 
forma proporcionar uma maior segurança anestésica. Esta avaliação envolve: 
 Resenha 
 Anamnese 
 Exames físico 
 Exames complementares 
Somado a isso, o proprietário deve estar ciente quanto de como será a 
anestesia, suas possíveis complicações e riscos; para tal é necessário devida 
autorização por parte deste em termo de ciência dos riscos anestésicos e real 
condição do paciente. 
 
1. Resenha 
1.1 Espécie 
 Sabendo que a medicina veterinária comporta uma grande variedade de 
espécies, e que estas por sua vez apresentam particularidades inerentes com 
diferenças anatômicas, fisiológicas, metabólicas e bioquímicas, a espécie é 
muito importante no momento da escolha do protocolo anestésico. Entre 
algumas particularidades, destaca-se: 
- Felinos: 
 Felinos são animais que na maioria das vezes são de difícil contenção 
sendo necessária neste momento uma adequada sedação do paciente. Mas 
em contrapartida, devido à deficiência de glicuronização hepática desta 
espécie, deve-se ter cuidado na utilização de alguns fármacos: 
 A cetamina tem excreção renal de forma ativa, logo deve ser usada com 
cautela em felinos, pois além de não biotransformá-la de forma 
adequada também há dificuldade de excreção em casos de obstrução 
urinária ou com doença renal. Deve-se sempre submeter o paciente a 
fluidoterapia e promovendo diurese para correta eliminação do fármaco; 
 O propofol também deve ser utilizado com precaução devido ao mesmo 
motivo e por apresentar composto fenólico em sua formulação. Uma 
vem que felinos podem apresentar predisposição genética a oxidação de 
hemoglobina quando expostos a composto fenólicos. 
 
- Eqüinos e Ruminantes: 
 Deve-se levar em consideração a sensibilidade a determinados 
fármacos, bem como seu tamanho. O protocolo anestésico bem como todo o 
procedimento deve ser exaustivamente planejado, pois intercorrências como 
excitação, podem levar ao fracasso doprocedimento, bem como por em risco a 
equipe anestésica e cirúrgica. 
 
- Répteis e anfíbios: 
 É necessário conhecimento aprofundado de sua anatomia, fisiologia e 
metabolismo, uma vez que são completamente diferente das demais espécies. 
Apresentam quando comparados aos mamíferos um metabolismo 
extremamente reduzido, o que pode denotar uma taxa de eliminação de 
fármacos extremamente lenta. Consequentemente a recuperação anestésica 
torna-se tardia. 
 
- Aves e pequenos roedores: 
 Merecem especial atenção, devido ao metabolismo extremamente 
acelerado, bem como pouca tolerância a perda de temperatura. A fisiologia 
respiratória deve ser muito bem estudada e avaliada. 
 
- Espécies Silvestres e Selvagens: 
 Deve-se ter cautela, planejando o precedimento, pois o estresse para 
estes pacientes podem ser fatais. O conhecimento da fisiologia e hábitos de 
cada espécie é fundamental. 
 
1.2 Raça 
Devido a presença de determinadas particularidades que afetam o 
procedimento anestésico, o estabelecimento e conhecimento das raças é 
fundamental: 
- Cães da raça Schnauzer miniatura (especialmente as fêmeas) algumas 
vezes apresentam arritmias cardíacas que requerem exames mais detalhados 
como ECG; 
- Cães da raça Greyhouns e outros galgos são mais suscetíveis a 
complicações se anestesiados com tiobarbitúricos (recuperação prolongada e 
excitação); devido a baixa composição de gordura corporal. 
- Na raça Boxer deve-se evitar o uso de derivados fenotiazínicos, pois estes 
são mais suscetíveis aos seus efeitos indesejáveis; tais como hipotensão e 
possibilidade de desenvolvimento de convulsões. 
- Nas raças braquicefálicas (Buldgue, Pug, Pequinês, Shitzu, Persas) deve-se 
evitar o uso de fármacos que deprimem a função respiratória, pois a anatomia 
destas raças já as predispõe a obstruções das vias aéreas superiores; 
principalmente o retorno da anestesia geral. 
- Cães da raça Dobermann pinscher tem deficiência do fator de Won 
Willebrand e frequentemente apresentam problemas de coagulação. Desta 
forma, devem ser tratados com acetato de desmopressina intranasal cerca de 
30 minutos antes do procedimento cirúrgico. 
 Ainda deve-se levar em consideração que cada raça possui um tipo de 
temperamento, que influenciará na escolha do protocolo anestésico. Por 
exemplo, yorkshires e pinschers são naturalmente agitados e se estressam 
facilmente; Labradores, Boxers, Collies, Cockers geralmente são calmos e 
dóceis; Rottweilers, Filas e Pit Bulls normalmente são agressivos e isto acaba 
dificultando a avaliação pré-anestésica. Isto somado ao estresse da contenção 
pode aumentar os riscos anestésicos. 
 1.3 Sexo 
 O sexo geralmente é indiferente para o procedimento anestésico, porém, 
fêmeas no cio, prenhes ou com infecções uterinas requerem maiores cuidados. 
Porém, novos estudos sugerem algumas particularidades sexuais quanto a 
metabolização e potencia de determinados fármacos. 
1.4 Idade 
Pacientes neonatos, pediátricos ou idosos inspiram cuidados como: 
evitar jejum prolongado (neonatos e pediáticos), redução da dose dos 
fármacos, evitar hipotemia e hiperhidratação. Deve ser considerado a 
possibilidade de doenças características com a idade. Lembrar ainda, que 
animais neonatos, mantém o débito cardíaco exclusivamente através da 
manutenção da freqüência cardíaca. 
 
1.5 Peso e condição corporal 
 Deve-se ter especial atenção aos extremos. Tanto animais obesos 
quanto caquéticos devem receber maiores cuidados. É importante o real peso 
do paciente, uma vez que o cálculo dos fármacos é realizado através do peso 
corporal conforme segue: 
 
 Volume a ser administrado (ml) = Peso (kg) x Dose (mg/kg) 
 Concentração (mg/ml) 
 
 
2. Anamnese 
Após a resenha, deve-ser realizar a anamnese, que nada mais é do que 
uma conversa minuciosa e detalhada com o proprietário do animal, utilizando 
perguntas que exigem respostas completas, procurando obter informações 
sobre: 
 Sinais e sintomas nos últimos dias; 
 Patologias que acometeram o paciente anteriormente ou atualmente; 
 Anestesias anteriores (se foi anestesiado alguma vez, qual o protocolo, 
como se recuperou); 
 Se está em tratamento com algum medicamento, se teve alergia a 
algum fármaco, etc. 
Na amamnese deve-se também investigar detalhadamente todos os 
sistemas do paciente, com perguntas voltadas a estes: 
 Sistema cardiopulmonar (se faz exercícios ou caminhadas; se cansa 
facilmente; se tosse e com que frequência; se tem secreção, etc) 
 Sistema neurológico (procurar saber se o animal já desmaiou alguma 
vez, se tem convulsões) 
 É importante também obter informações sobre ingestão de água e 
alimentos, ocorrência de vômito, aparência e quantidade da urina e das 
fezes. 
 
3. Exame físico 
 Condição geral do paciente 
o Estado de hidratação 
o Estado de nutrição (hipoproteinemia ou excesso de peso) 
 
 Após, deve-se realizar uma avaliação completa dos sistemas orgânicos do 
paciente, priorizando: 
 Sistema cardiovascular: 
o Auscultação cardíaca, pulso arterial, tempo de preenchimento 
capilar 
 Cão 70 - 120 bpm 
 Gato 110 -130 bpm 
 Equino 32 – 44 bpm 
 Aves >120 bpm 
 
 Sistema pulmonar 
o Ausculta pulmonar, presença de secreções e estertores 
 Cão f 15 - 30 mrm 
 Gato f 20 – 30 mrm 
 Equino f 8 – 16 mrm 
 Aves f >20 mrm 
 
 Sistema hepático e renal (palpação abdominal, por exemplo) 
 Sistema digestório, tegumentar, sistema nervoso, metabólico/endócrino 
e por último o sistema músculo-esquelético. 
 
4. Exames complementares 
Exames complementares são imprescindíveis para a avaliação pré-
anestésica. O ideal é que eles sejam recentes, com no máximo 7 dias de 
antecedência, sendo que em alguns casos, estes devem ter menos de 24 
horas, pois alguns deles como proteínas plasmáticas totais, gases sanguíneos 
e hematócrito em casos de patologias agudas alteram-se rapidamente. 
Os principais exames complementares a serem solicitados para 
qualquer paciente submetido ao procedimento anestésico são: 
 Hematológicos 
- Hemácias e hemoglobina 
- Hematócrito 
- Proteínas plasmáticas totais (PPT) 
- Leucócitos 
- Plaquetas 
- Tempo de protrombina (coagulação) 
 
 Bioquímicos 
- Avaliação hepática (ALT e FA) 
- Avaliação renal (Uréia e creatinina) 
- Glicose e eletrólitos 
 
 Hemogasometria (avaliação de gases sanguíneos e Ph) 
 Eletrocardiografia 
 Exames de imagem (Raio-X e Ultra-som) 
 
5. Classificação do paciente 
 Após a realização da anamnese, exame físico, exame clínico e obtenção 
dos resultados dos exames laboratoriais, o paciente deve ser enquadrado em 
um dos estados físicos estabelecidos pela classificação da Associação 
Americana de Anestesiologistas (American Society of Anesthestesiologists -
ASA). Esta indicará diretamente o risco anestésico ao qual o paciente será 
submetido. 
 
Estado físico Condição do paciente 
 
ASA I 
 
Paciente normal, hígido 
 
ASA II 
 
Patologia localizada ou sistêmica leve 
 
ASA III 
 
Patologia sistema grave que limita 
atividade, mas não incapacitante 
 
ASA IV 
 
Patologia sistêmica incapacitante que 
é ameaça constante à vida 
 
ASA V 
 
Risco de morte iminente, expectativa 
de vida não ultrapassa 24 horas com 
ou sem cirurgia (emergência) 
E Emergência (I –V) 
 *ASA (American Society of Anesthesiologists) 
 
 
 
6. Preparação do paciente 
 
 A preparação do paciente envolve as seguintes etapas: 
 Hospitalização/estabilização 
De preferência o paciente deve ser hospitalizado no diaou na noite 
anterior ao procedimento, ou pelo menos no turno anterior. Tem por finalidade 
a adaptação ao ambiente hospitalar e também proporcionar uma melhor 
avaliação do anestesiologista, além da possibilidade de instituir alguma terapia 
que seja necessária para a estabilização fisiológica prévia do paciente, como 
no caso de animais que necessitem de hidratação, transfusão sanguínea, etc. 
O profissional anestesiologista precisa ter em mente quais os efeitos 
farmacocinéticos e farmacodinâmicos dos fármacos anestésicos e que estes 
podem causar alterações importantes no organismo do animal como 
hipotensão, bradicardia, taquicardia, etc. Em alguns casos há necessidade de 
estabilização e até mesmo adiamento da cirurgia, entre eles: 
o Anemia por perda aguda de sangue; 
o Desidratação grave, hipoproteinemia; 
o Desequilíbrio ácido-básico e eletrolítico; 
o Disfunções cardíacas, respiratórias ou renais; 
o Defeitos hemostáticos; 
o Controle da temperatura corporal; 
o Analgesia e terapia de apoio a animais politraumatizados ou com 
outras afecções graves; 
o Antibioticoterapia preventiva. 
 
 Jejum 
A presença de conteúdo gástrico aumenta o risco de vômito e/ou 
regurgitação durante o ato anestésico, podendo haver aspiração via traqueal e 
consequentemente o desenvolvimento de um quadro de pneumonia por 
aspiração. Para cães e gatos o jejum alimentar deve ser de 6 a 12 horas e 
hídrico de 4 a 6 horas. Nos pacientes em aleitamento (lactentes) o jejum não é 
recomendado devido ao esvaziamento gástrico ser extremamente rápido. Aves, 
pequenos mamíferos e animais neonatos podem desenvolver rapidamente 
hipoglicemia. Em neonatos (cães e gatos com menos de 8 semanas) o jejum 
não é necessário. E quando realizado, não deve ultrapassar a 2 horas. Nestes 
pacientes o acompanhamento pré, trans e pós anestésicos com avaliação de 
glicemia sérica é necessário. 
Após esta etapa, é realizada a escolha dos fármacos que seguirão as 
etapas seguintes. 
 
Referências 
CARREGARO, A. B. Aulas de anestesiologia veterinária: Anestesiologia-introdução. 
Disponível em: 
http://www.anestesia.vet.br/index.php?option=com_weblinks&view=category&id=37&It
emid=64 Acesso em 20/07/2011. 
FUTEMA, F. Avaliação pré-anestésica. In: FANTONI, D.T.; CORTOPASSI S.R.G. 
Anestesia em cães e gatos. Roca, São Paulo, 2009. Cap. 5, p.73-82. 
MASSONE, F. Considerações gerais. In: Anestesiologia veterinária farmacologia e 
técnicas. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, 2008. Cap. 1, p. 1-12. 
MUIR, W. W., HUDBBELL, J. A. E., BEDNARSKI, R. M. Evaluación y preparación del 
paciente. In: Manual de anestesia veterinaria. Elsevier Mosby: Madrid, 2008. Cap. 2, 
p. 24. 
NATALINI, C. C. Introdução a anestesiologia veterinária. In: Teoria e técnicas em 
anestesiologia veterinária. Porto Alegre: Artmed, 2007. Cap. 1, p. 20. 
NETO, F. J. T., LUNA, S. P. L. Avaliação pré-anestésica e preparo do paciente. In: 
Apostila da disciplina de anestesiologia veterinária. Universidade Estadual 
Paulista, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia. Botucatu, 2009. p.129. 
THURMON, J. C., TRANQUILLI, W. J. Consideraciones generales sobre la 
anestesia. In: Fundamentos de anestesia y analgesia. Barcelona: Masson, 2003. Cap. 
1, p.1. 
CAPÍTULO 5 
FLUIDOTERAPIA NA ANESTESIA 
 
Dr. Alceu Gaspar Raiser; Dr. André Vasconcelos Soares 
 
No pré-operatório além dos cuidados rotineiros, que antecedem a 
cirurgia, está indicada a estabilização hidroeletrolítica. Para estimar a 
quantidade de solução a repor é necessário avaliar o grau de espoliação que o 
indivíduo apresenta. A avaliação clínica permite uma estimativa subjetiva, 
porém suficiente para evitar reposição excessiva ou muito aquém das reais 
necessidades do paciente. É conveniente lembrar que nos animais obesos ou 
caquéticos estes sinais podem estar mascarados. Desnutrição não é sinônimo 
de desidratação e obesidade não significa boa condição física. 
Nas cirurgias eletivas o cirurgião e o anestesista podem dar-se ao luxo 
de corrigir completamente a desidratação antes da intervenção. A emergência 
e o custo podem tornar-se limitantes. No primeiro caso não se pode esperar 
muito para intervir, perdendo um tempo precioso à sobrevivência, no entanto, 
pode-se iniciar a reposição enquanto se faz o exame clínico e estão sendo 
tomadas as medidas pré-operatórias de rotina. No segundo caso, o custo da 
internação e das soluções pode ser anti econômico. Em se tratando de 
pequenos animais geralmente predomina o valor afetivo. 
A escolha da solução de reposição é fator importante na hidratação. A 
maioria dos animais desidratados requer relativamente mais água que 
eletrólitos. Quando for associada uma solução eletrolítica com outra glicosada, 
ambas isotônicas, a glicose é metabolizada restando a água que é distribuída 
pelo organismo ou eliminada pela urina. Com raras exceções a maioria dos 
fármacos tranqüilizantes e anestésicos são hipotensores. Daí a necessidade de 
preparação pré-operatória, aliada a uma escolha criteriosa do tipo de anestesia 
no animal com patologia aguda. Durante a cirurgia ocorrem perdas de grau 
proporcional ao tempo e severidade da agressão cirúrgica. Quando da diérese 
de tecidos ocorre resposta inflamatória imediata com formação de exsudato, o 
que resulta em mobilização dos líquidos para a área lesionada. 
Além da perda de volume circulante (hemorragia) há redução do líquido 
extracelular devido ao seqüestro para o chamado “terceiro espaço” (que inclui o 
edema de dissecação extensa, fuga de líquido para o lúme ou parede de 
órgãos ocos e cavidade peritoneal); para o meio externo por evaporação (na 
superfície corporal, trato respiratório, vísceras expostas); por lesão celular. 
A diminuição ou elevação dos níveis de sódio extracelular e potássio 
intracelular está ligada a aumento ou diminuição dos líquidos orgânicos. A 
utilização de uma solução eletrolítica balanceada durante as intervenções 
cirúrgicas traz benefícios inquestionáveis. Além de facilitar a suplementação de 
anestésico venoso, quando necessário, e a suplementação de fármacos em 
caso de emergência hemodinâmica, oferece compensação para as perdas de 
líquido orgânico. É recomendada a solução de Ringer lactato de sódio, em 
dose de 10 a 20 ml/kg/h, para pequenos e 6 a 8 ml/kg/h para grandes animais. 
Esta dose pode ser aumentada ou diminuída, durante a cirurgia, dependendo 
da reação do paciente. 
Além de fazer a reposição hidroeletrolítica o Ringer lactato de sódio tem 
ação alcalinizante devido ao incremento na perfusão tecidual, filtração renal e 
metabolização do lactato em bicarbonato. Deve ser considerado, no entanto, 
que o lactato é metabolizado em 2 a 3 horas pelo fígado. Assim, nos casos de 
severa acidose láctica e/ou patologia hepática, é recomendado usar o 
bicarbonato e sódio na dose de 2 a 4 mEq/kg, diluído em 500 ml de solução 
salina e administrado por gotejamento venoso em 4 a 6 horas. 
O pós-operatório tem como prioridade principal a rápida recuperação da 
capacidade de auto-manutenção pelo paciente. Quando for feito um pré 
operatório cuidadoso e cirurgia atraumática, mesmo compensando as perdas 
trans-operatórias, mas houver falha no acompanhamento pós-cirúrgico, haverá 
grande possibilidade de insucesso. Nesta fase, portanto, deve ser procedida 
avaliação clínica cuidadosa da dinâmica circulatória, registrando o aporte e as 
perdas de líquido diariamente. Para isso canis metálicos com calhas coletoras 
permitem medir a quantidade de líquido perdido pela urina e eventual vômito ou 
diarréia. Anotar também o volume administrado no trans-operatório e lembrar 
que as perdas para o “terceiro espaço” comumente ainda prosseguem apósa 
cirurgia. 
A avaliação dos sinais físicos permite uma estimativa aproximada da 
condição geral. Pacientes de traumatismo tendem a reter água e sódio. A 
retenção hídrica é conseqüente à secreção aumentada e prolongada do 
hormônio antidiurético (ADH). Há também contribuição do mecanismo renina-
angiotensina-aldosterona. Inicialmente há retenção de líquido como edema nos 
tecidos lesionados que atuam a semelhança de esponjas. Mais tarde, o líquido 
retido por ação do hormônio anti-diurético move-se do leito vascular para o 
interstício e célula. Ocorre paralelamente retenção de sal, mas em menor 
escala e sobrevem hiponatremia dilucional. A hiponatremia e excreção 
reduzida de sódio após procedimentos cirúrgicos prolongam a recuperação do 
paciente. 
Na fase de estresse pelo trauma cirúrgico ocorre gliconeogênese 
principalmente às expensas de aminoácidos. O catabolismo protêico está 
aumentado na fase de regeneração tecidual. Desta forma, no pós-operatório 
imediato a fluidoterapia deve constar de uma solução hidroeletrolítica 
balanceada, como o Ringer lactato de sódio, à qual pode ser associada outra 
contendo aminoáciodos e não glicose. O volume de ao menos 50 ml/kg/dia 
para o cão, 70 ml/kg/dia para o gato e 40 ml/kg/dia para grandes animais 
evitará a oligúria e hiponatremia dilucional. Quantidades maiores ou menores 
de soluções ou a escolha de diferentes tipos ficam na dependência de 
cuidadosa avaliação clínica. 
Pode acontecer de o paciente ter sofrido severa agressão 
comprometendo sua volemia. São exemplos as lesões com hemorragia 
abundante e as queimaduras extensas. Os sinais físicos indicadores de 
hipotensão incluem: pulso filiforme ou ausente, colabamento de veias 
periféricas, diminuição no débito urinário, bulhas cardíacas mais fracas à 
auscultação e variação na coloração das mucosas e tempo de reperfusão 
capilar. 
Estes casos de hipovolemia requerem a reposição de volume com 
soluções contendo moléculas que não passam facilmente através da parede 
capilar e permaneçam no leito vascular exercendo pressão coloidosmótica. 
Estas soluções são conhecidas como coloidais. Assim, as soluções salinas, 
como a de Ringer ou Ringer lactato, por não manterem pressão 
coloidosmótica, podem causar edema nestas situações por passarem 
rapidamente para o meio intersticial. 
Experimentalmente comprovou-se que é necessário um volume três a 
quatro vezes superior ao de sangue perdido, quando for substituído por 
solução salina. Assim, a associação entre soluções hidratantes e expansores 
da volemia deve estar numa proporção de 3:1 para que seja corrigido o déficit 
hidroeletrolítico e a hipotensão. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO 6 
MEDICAÇÃO PRÉ-ANESTÉSICA 
 
 Medicação pré-anestésica (MPA): Aplicação de algum fármaco que 
produz tranquilização ou sedação, minimizando a quantidade de outros 
anestésicos, e também provocando uma anestesia balanceada além da 
redução do estresse e conseqüente menor liberação de catecolaminas. Em 
medicina veterinária, geralmente é necessária a aplicação combinada de dois 
ou mais fármacos, pois NÃO existe um único fármaco que inidividualmente 
produza os efeitos desejados para que se obtenha os objetivos de uma MPA, 
sejam eles: 
- Tranquilizar ou sedar os animais, conforme necessidade individual, 
principalmente o temperamento; 
- Potencializar os efeitos dos fármacos indutores da anestesia geral e/ou de 
manutenção da anestesia; 
- Reduzir os efeitos autonômicos adversos dos fármacos indutores da 
anestesia geral e/ou de manutenção; 
- Reduzir os efeitos indesejados de alguns procedimentos (Rx contrastado, 
manipulação de vísceras, manipulação de globo ocular, etc); 
- Previnir ou induzir a vômito, conforme necessidade; 
- Reduzir secreções das vias aéreas e fluido gástrico; 
- Tornar os períodos de indução, manutenção e recuperação anestésicas com 
menores probabilidades de intercorrências adversas. 
 
De uma forma geral, considera-se o fármaco aplicado de 15 a 45 
minutos antes do procedimento anestésico, como fármaco pertencente a MPA, 
sendo que alguns fatores devem ser respeitados no momento da escolha do (s) 
fármaco (s) a ser (em) utilizado (s) na MPA, como por exemplo: 
- Temperamento do paciente 
- Necessidade ou não de analgesia 
- ASA 
- Efeitos farmacológicos desejados, bem como o tempo de ação 
de cada fármaco utilizado. 
 
Fármacos Utilizados em MPA 
 
 Os fármacos que comumente são utilizados para esta finalidade, 
compõe os grupos de fármacos anticolinérgicos, fenotiazínicos, 
benzodiazepínicos, butirofenonas, agonistas alfa dois adrenérgicos e derivados 
opióides. 
 
A) DERIVADOS ANTICOLINÉRGICOS OU ANTIMUSCARÍNICOS 
 
 Os fármacos anticolinérgicos, por agirem competitivamente e inibirem os 
receptores parassimpáticos colinérgicos muscarínicos a nível pós-gangliônico, 
são indicados em doses clínicas para produzirem bloqueio dos efeitos da 
acetilcolina nos receptores muscarínicos, sem o menor efeito nos receptores 
nicotínicos, desta forma, espera-se: 
 - Produção de taquicardia sinusal; 
 - Diminuição das secreções nas vias aéreas e da salivação (cuidado em 
ruminantes!); 
 - Diminunição da motilidade gastrintestinal (cuidado em eqüinos!) 
 - Previne Vômito e diarréia. 
 - Broncodilatação. 
 Desta forma, estes fármacos são utilizados em medicina veterinária, 
sempre que se necessita destes efeitos específicos. As indicações são: 
 - Animais com bradicardia pré-existente; 
 - Doenças cardíacas que cursem com bradicardia; 
 - Uso de doses altas de derivados opióides e agonistas alfa dois 
adrenérgicos; 
 - Manipulação de regiões que possam produzir estímulo vagal: vísceras 
abdominais, região cervical e globo ocular. 
 Dentre os derivados colinérgicos conhecidos e utilizados, tem-se a 
escapolamina, sulfato de atropina e brometo de glicopirrolato. 
 
Escopolamina (bromidrato de escopolamina) 
Possui ações midriática, antiespasmódica e anti-secretora, semelhantes 
ou discretamente superiores à da atropina, porém de efeito mais fugaz. Possui 
ainda maior ação sobre glândulas salivares, brônquicas e sudoríparas que a 
atropina, produzindo porém, uma taquicardia mais discreta. 
Produz sonolência, comprovando ação sobre o SNC (depressão) e 
demonstrando vantagem de seu uso em MPA. 
Doses mais altas podem provocar emese, alucinação e ataxia. 
Dose: 0,01 a 0,02 mg/kg 
 
Sultato de Atropina 
 Derivado anticolinérgico que após sua administração parenteral (SC, IM, 
IO ou IV) apresenta metabolização pelo sistema hepático e eliminação renal, 
em aproximadamente uma hora e meia a duas horas com 30 a 50% da 
totalidade de sua dose administrada sem metabolização. Em virtude de sua 
capacidade de ultrapassagem das barreiras hematoencefálica e placentária, 
deve se ter especial atenção no seu uso em fêmeas gestantes devido ao seu 
efeito no feto ser diretamente proporcional ao efeito na gestante. 
 Em leporinos e roedores a atropina é metabolizada rapidamente, devido 
a presença de esterases hepáticas e enzimas especificas plasmáticas 
(atropinesterases) nestas espécies. 
 A dose indicada varia de 0,022 a 0,05 mg/kg, dependendo da via de 
administração. 
 
Brometo de glicopirrolato 
 É um anticolinérgico sintético, que não atravassa as barreiras 
placentária e hematoencefálica, produzindo efeitos menos acentuados do que 
os vistos quando da administração em doses eqüipotentes do sulfato de 
atropina.Seu efeito pode perdurar por até 5 horas. São indicadas doses de 0,05 
a 0,02 mg/kg. Não comercializado no Brasil.B) DERIVADOS FENOTIAZÍNICOS (Tranquilizantes) 
 
Agem no sistema nervoso bloqueando importante fração de 
neurotransmissores como serotonina e dopamina e ainda gerando depressão 
do sistema reticular. Produzem tranquilização porém sem hipnose ou 
analgesia, diminuindo o limiar convulsivo. De uma forma geral são 
considerados como antipsicóticos ou nerolépticos, antihistaminicos e ainda 
possuem potencial antiemético. Quando utilizados na MPA conferem 
tranquilização sem analgesia, portanto em protocolo que será usado para 
procedimento anestésico/cirúrgico, haverá necessidade de utilização de 
analgésico concomitante, onde irão portencializar o efeito destes analgésicos. 
O principal efeito adverso periférico é a vasodilatação, que pode ser tão 
acentuada conforme a dose utilizada, podendo produzir diminuição significativa 
da pressão arterial. Este efeito é se dá por bloqueio dos receptores alfa 1 
adrenérgicos. 
Cães braquicefálicos apresentam uma maior predisposição aos efeitos 
adversos destes fármacos, devendo ser evitados, assim como em garanhões 
por haver relatos de bloqueio de inervação adrenérgica do músculo retrator do 
pênis. 
 
MALEATO DE ACEPROMAZINA 
A Acepromazina é o principal fenotiazínico utilizado em Medicina 
Veterinária, e é um potente neuroléptico com baixa toxicidade. 
Sabe-se que o aumento da dose não melhora os sinais desejáveis 
(efeito teto), apenas predispõe aos sinais adversos, que podem ser hipotensão 
arterial resultante dos bloqueios dos receptores alfa-1 adrenérgicos periféricos, 
onde doses clinicamente recomendadas podem diminuir em 15 a 20 mmHg em 
relação aos valores basais. Essa redução é dose dependente e pode gerar 
taquicardia reflexa. Outros efeitos adversos relacionados são citados como 
depressão cardíaca, aumento da perfusão cutânea e visceral. 
Possui ainda ação em centro termorregulador, afetando a capacidade de 
regulação de temperatura. No sistema respiratório, em doses terapêuticas, a 
existência de efeitos colaterais são quase desprezíveis, podendo apenas gerar 
efeito aditivo em fármacos que levam a depressão respiratória. Dependendo 
ainda da dose, no SCV pode ocorrer diminuição da FC, bloqueio 
atrioventricular e bloqueio sinoatrial. 
As doses recomendadas são de 0,01mg/kg até 0,2mg/kg sendo a 
aplicação pelas vias subcutânea (SC), intramuscular (IM) ou intravenosa (IV), 
com inicio de enfeito entre 15 e 45 minutos por um período de 3 a 6 horas. 
A DL 50 em ratos pode chegar a 70 mg/kg. 
 
LEVOMEPROMAZINA e CLORPROMAZINA 
São fenotiazinicos menos utilizados em medicina veterinária que 
apresentam menor potência de tranquilização quando comparados à 
acepromazina, porem com mesmos efeitos adversos. 
 
 
C) DERIVADOS BENZODIAZEPÍNICOS (Tranquilizantes) 
 
Os Benzodiazepínicos (BZD) detêm efeitos ansiolíticos, hipnóticos, 
miorrelaxantes e geram amnésia. O efeito hipnótico é marcadamente visto em 
humanos. Todos eles apresentam esses fatores, alguns em maior ou menor 
escala, existindo diferenças apenas em duração e intensidade dos efeitos 
porém não são capazes de produzir analgesia. 
Os BZD mais comumente utilizados em medicina veterinária são o 
diazepam e o midazolam, os quais agem potencializando o ácido gama-
aminobutiríco (GABA), neurotransmissor inibitório do Sistema Nervoso Central 
(SNC). É o responsável por 30% a 40% das sinapses inibitórias, por isso tem 
efeito anticonvulsivante, limitando a continuação das crises e elevando o limiar 
convulsivo e ainda com a capacidade de deprimir os reflexos espinhais com 
relaxamento muscular. 
São metabolizados no fígado e excretados pelos rins. Apresentam 
metabólitos ativos, sendo os metabólitos do midazolam eliminados mais 
rápidos que os do diazepam, devido á sua vida média mais curta. 
Dentre os efeitos adversos dos benzodiazepínicos, pode-se citar a 
possibilidade de excitação paradoxal, principalmente se aplicados em animais 
em alerta e com ausência de outros fármacos depressores. Além de existir a 
possibilidade de não se obter os efeitos desejados em pacientes sadios, pois 
produzem respostas individuais variáveis. Comumente não causam alterações 
significativas na freqüência cardíaca e freqüência respiratória, porém em fetos 
pode provocar marcada depressão respiratória, verificada em neonatos recém 
nascidos apresentando cianose. 
A dose de ambos que pode ser utilizada varia entre 0,1 a 1mg/Kg. 
O flumazenil é um antagonista específico dos tranqüilizantes 
benzodiazepínicos, apresentando uma grande afinidade por estes receptores e 
revertendo todos os efeitos do SNC induzidos por diazepam e midazolam, 
quando administrado na dose de 0,02 a 0,1mg/Kg IV. 
 
D) BUTIROFENONAS (Tranquilizantes) 
 
 Os efeitos farmacológicos das butirofenonas, como o droperidol e o 
azaperone, são conseguidos através de seu efeito de inibição dopaminérgica a 
nível de sistema nervoso central. Possuem os efeitos tranqüilizantes muito 
semelhantes ao produzidos pelos derivados fenotiazínicos porém com risco de 
excitação e desenvolvimento de agressividade em pequenos animais, 
principalmente na espécie canina. Porém não poduzem efeito antiemético, 
antiarrítmico ou antihistamínico à comparação dos fenotiazínicos. Seus efeitos 
perduram por até 6 horas, sendo então metabolizados pelo sistema hepático e 
eliminados pelos rins. 
 As doses de droperidol e azaperone em pequenos animais e suínos é de 
0,5 mg/kg e 2,2 mg/kg respectivamente, com efeito de até 6 horas. 
 
E) AGONISTAS ALFA DOIS ADRENÉRGICOS (Sedativos) 
 
 Também chamados de simpaticomiméticos ou adrenomiméticos ou 
apenas adrenérgicos, constituem os fármacos que estimulam direta ou 
indiretamente os receptores adrenérgicos ou adrenoreceptores. O efeito de um 
fármaco agonista adrenérgico administrado em determinado tipo de célula 
efetora depende da seletividade desta droga pelos receptores, assim como, 
das características de resposta das células efetoras, e, do tipo predominante 
de receptor adrenérgico encontrado nas células. 
 São conhecidos cinco grupos de adrenoceptores ou receptores 
adrenérgicos: Alfa 1 – alfa 2 – beta 1 – beta 2 - beta 3. Estes adrenoceptores 
quando são ativados apresentam os seguintes efeitos: 
Alfa 1: Vasoconstrição – aumento da resistência periférica – aumento da 
pressão arterial – midríase – estimulo da contração do esfíncter superior da 
bexiga – secreção salivar – glicogenólise hepática – relaxamento do músculo 
liso gastrintestinal. 
Alfa 2: Inibição da liberação de neurotransmissores, incluindo a noradrenalina – 
inibição da liberação da insulina – agregação plaquetária – contração do 
músculo liso vascular. 
Beta 1: Aumento da freqüência cardíaca (taquicardia) – aumento da força 
cardíaca (da contratilidade do miocárdio) – aumento da lipólise. 
Beta 2: Broncodilatação – vasodilatação – pequena diminuição da resistência 
periférica – aumento da glicogenólise muscular e hepática – aumento da 
liberação de glucagon – relaxamento da musculatura lisa uterina – tremor 
muscular. 
 Beta 3 - Termogênese e lipólise. 
Os principais fármacos pertencentes a esta classe, são a xilazina, 
detomidina, medetomidina, dexmedetomidina, romifidina e clonidina. 
São sedativos clássicos, pois produzem sedação dose dependente, 
causam depressão dose-dependente pela estimulação dos receptores alpha-2 
adrenérgicos tanto em SNC como em periférico, diminuindo a liberação de 
norepinefrina central e periférica. Seu uso está indicado então, para a 
promoção de analgesia visceral, sedação e/ou relaxamento muscular. 
Dentre os efeitos dos alpha-2 agonistas, pode-se encontrar além da 
bradicardia e bloqueio atrioventricular, reduçãodo débito cardíaco, aumento 
inicial da pressão arterial, seguido de hipotensão, diminuição da pressão 
parcial de oxigênio, queda na freqüência respiratória e volume minuto. 
Possuem importante efeito sedativo agindo em um único tipo de 
receptor: os adrenoreceptores pré e pós-sinápticos localizados em diferentes 
pontos cerebrais, podendo ser central ou periférico. Os receptores pré-
sinapticos regulam a liberação de noradrenalina e ATP, apresentando um 
mecanismo de retro-alimentação negativo; impedindo, desta maneira, a 
liberação de noradrenalina quando ativados, por ativação da proteína G 
(proteína ligante nucleotídeo guanina) presente na face citoplasmática, com 
inibição da enzima adenil ciclase e promovendo diminuição do AMP cíclico 
intracelular. Quando os receptores alfa 2 são ativados, inibem a enzima 
adenilato ciclase, que realiza a hiperpolarização da membrana celular e 
supressão da descarga neuronal mais a inibição de neurotransmissores. A 
clonidina tem sido utilizada como medicação pré-anestésica devido a menores 
alterações hemodinâmicas durante a intubação endotraqueal, além de diminuir 
utilização de halogenados reduzindo também os níveis de catecolaminas 
circulantes. 
 
XILAZINA 
Apesar de ação analgésica e sedativa, a xilazina se caracteriza pela 
grande ação miorrelaxante central devido a inibição da transmissão interneural 
na medula espinhal. Produz também um estado de sonolência e moderada 
ação analgésica nas diferentes espécies animais. Em cães produz ação 
parassimpatomimética e produz arritmia sinusal e até bloqueio atrioventricular 
de segundo grau acompanhado de bradicardia. 
A recomendação de atropina preempitiva à utilização de xilazina, é fator 
de muitas controvérsias, pois alguns autores demonstraram que a atropina 
causa um curto período de elevação dos batimentos cardíacos em coelhos não 
anestesiados, e que este fármaco não detêm efeitos benéficos no aumento dos 
batimentos cardíacos em coelhos. Em bovinos a xilazina é muito eficiente, mas 
em eqüinos tem efeito imprevisível. A dosagem para bovinos é de 0,1 a 0,2 
mg/kg, via IM, e em cães e gatos a dosagem recomendada é de 0,2 mg/kg via 
IV e até 1 mg/kg via IM. Em gatos a dosagem recomendada é de 0,5 a 0,8 
mg/Kg via IM. O período de efeito perdura até aproximadamente 30 a 40 
minutos. 
 
MEDETOMIDINA 
Agonista alfa dois adrenérgico que possui 50 a 100 vezes maior 
potência que xilazina, com período de efeito de 2 a 3 horas. Não é indicado o 
uso em eqüinos devido acentuado relaxamento muscular e possibilidade de 
levar estes animais a queda. As doses indicadas são de 10 – 40 µg/Kg para 
caninos; 40 – 80 µg/Kg para felinos e de 30 a 80 µg/Kg para suínos. 
 
DETOMIDINA 
Fármaco que assim como os demais possui efeito dose-dependente, 
com período de até 3 horas. Torna-se uma boa alternativa para eqüinos 
agressivos, pelo fato de que possibilita adequada sedação para procedimentos 
em estação. Isto ocorre devido ao fato de que a detomidina quando comparada 
à medetomidina apresenta menor efeito de relaxamento muscular, 
apresentando então menor risco de levar estes pacientes à queda. 
As doses indicadas são de 5 a 20 µg/Kg para caninos e de10 a 40 µg/Kg 
para eqüinos, dependendo da via a ser utilizada, lembrando sempre que doses 
menores devem ser usadas pela via intravenosa. 
 
 
ROMIFIDINA 
Possui efeito dose dependente muito parecido com detomidina, porém 
com menor potência por um periodo também menor, de 30 a 60 minutos. As 
doses comumente vinculadas a equinos são de 30 a 80 µg/Kg. 
CLONIDINA 
A utilização da clonidina teve inicio na década 60 sendo um composto 
imidazolínico lipossolúvel, devido a presença de um núcleo imidazóico em sua 
composição, possuindo alta seletividade para interação dos receptores alfa (α1 
e α2A, α2B e α2C) sendo a relação α2: α1 de 300 para 1. Os efeitos 
cardiovasculares proporcionados pela clonidina são hipotensão e bradicardia, 
resultantes da ação em auto-receptores em centros cardiovasculares no 
sistema nervoso central. Também estimula o fluxo parassimpático, contribuindo 
na redução da frequência cardíaca em consequência dos tônus vagal. O efeito 
anti-hipertensivo proporcionado pela clonidina ocorre devido a ativação de 
receptores alfa 2 pré-sinápticos, diminuindo a liberação de noradrenalina nas 
terminações nervosas periféricas. As concentrações periféricas de 
noradrenalina reduzem á queda da pressão obtida. Entretanto, a clonidina pode 
apresentar efeito hipertensor transitório na utilização intravenosa, através dos 
estímulos dos receptores pós-sinápticos alfa-2-adrenérgico da musculatura lisa 
dos vasos. A clonidina possui ação analgésica com metade do tempo de 
duração sedativa, pois as ligações com as proteínas plasmáticas são de 30 a 
40% e sua distribuição tecidual é rápida e ampla, atravessando a barreira 
hematoencefalica e placentaria. Pesquisas recentes demonstraram que a 
clonidina apresenta inibição da condução nervosa através das fibras A- e C, 
promovendo uma importante função na modulação da dor. Quando 
administrada por via sistêmica e subaracnóidea possui propriedade analgésica 
importante durante a anestesia. As doses utilizadas variam amplamente, sendo 
normalmente usadas doses de aproximadamente 15 microgramas por quilo de 
peso. 
DEXMEDETOMIDINA 
Os agonistas específicos dos receptores adrenérgicos do tipo α-2 
possuem farmacologia bastante complexa, diferindo da maioria dos outros 
fármacos de uso rotineiro, por apresentarem potentes efeitos clínicos agindo 
especificamente em um único tipo de receptor. 
A dexmedetomidina é um D-isômero com alta especificidade por 
receptores α-2 (10 vezes mais, quando comparada à xilazina), que somada à 
levomedetomidina, o L-isômero, produz a mistura racêmica conhecida por 
medetomidina, descrita há 16 anos. A levomedetomidina, considerada um 
ingrediente inativo, antagoniza as respostas hipnóticas do seu isômero, 
ligando-se a receptores α-1. O mecanismo de ação da dexmedetomidina dá-se 
pelo acoplamento aos receptores α-2, principalmente pós-sinápticos e 
respectiva ativação das proteínas-G (proteínas ligadas à guanina) que agem 
diretamente nos canais iônicos de potássio aumentando sua condutância e 
hiperpolarizando a célula nervosa. 
Esse fármaco possui grande afinidade pelas proteínas plasmáticas 
(94%), e após sofrer extensivo metabolismo hepático, é eliminado como um 
conjugado do ácido glicurônico pelos rins (95%) não apresentando vestígios 
plasmáticos 10 horas após sua administração inicial por via intravenosa. Sua 
meia vida de eliminação, determinada em homens sadios, é de 
aproximadamente 2,3 horas. As doses variam amplamente de 0,1 a 20 
microgramas por quilo de peso. 
 
ANTAGONISTAS ALFA DOIS ADRENERGICOS 
Estes fármacos apresentam capacidade de reversão parcial ou total dos 
efeitos dos agonistas alfa dois adrenérgicos. Estes podem produzir aumento da 
frequência cardíaca quando usados pela via endovenosa, muito embora esta 
seja a principal indicação pelo fato de que os efeitos muitas vezes devem ser 
revertidos imediatamente, sendo eles: 
Atipemazole 
- Fármaco que possui a capacidade de antagonizar os 
efeitos da medetomidina, nas doses de 30 – 40 µg/Kg 
Tolazolina 
- Fármaco que possui a capacidade de antagonizar os 
efeitos da xilazina, porém nao disponivel no Mercado 
nacional. 
Ioimbina 
- Fármaco que possui a capacidade de antagonizar os 
efeitos de todos os agonistas alfa dois adrenergicos, sendo 
usada na dose 0,1 a 0,4 mg/kg. 
CAPÍTULO 7 
 DOR E ANALGESIA 
 
Segundo a Associacão Internacional do Estudo da Dor (IASP), a dor e 
uma experiência sensorial e emocional desagradávelassociada ao dano 
tecidual ou o potencial para causá-lo. A dor acompanha diversas doenças e 
está associada a condições traumáticas e intervenções cirúrgicas. No entanto, 
a demonstração da dor não é sempre óbvia. 
A dor fisiológica é causada pela ativação de neurônios aferentes 
primários, denominados nociceptores. A dor pós-cirurgica é um exemplo de dor 
fisiológica. Nocicepção é o termo utilizado para descrever a transmissão e 
sensação de dor. Este se refere à recepção, condução e processamento de 
sinais nervosos gerados por meio de estímulos de nociceptores. A transdução 
e o processo celular no qual estímulos nocivos são traduzidos em energia 
elétrica necessária para transmitir a dor. A transmissão do impulso da periferia 
até o corno dorsal da medula espinhal se da por meio de fibras C, não-
mielinizadas, de pequeno diâmetro e condução lenta, e fibras A-ƒÂ, 
mielinizadas, de maior diâmetro e condução rápida. Já a modulação se refere a 
inibição e alteração da dor em nível do corno dorsal, por meio de liberação de 
substâncias, como opioides endógenos, serotonina e norepinefrina, os quais 
inibem a transmissão do estimulo nocivo por vias descendentes, resultando em 
analgesia. Por final, a percepção e o resultado da atividade neural da 
transdução, transmissão e modulação da dor, sendo também influenciada por 
fatores comportamentais e emocionais. Sugere-se que a percepção da dor 
ocorra nas estruturas corticais cerebrais. 
Recentemente tem se dado maior ênfase a analgesia multimodal. Esta 
se refere à combinação múltipla de classes de fármacos ou de técnicas 
analgésicas, interferindo em diferentes pontos ao longo da via da dor. Esta 
modalidade toma vantagem dos efeitos analgésicos aditivos ou sinérgicos e 
reduz as doses necessárias de fármacos analgésicos que são normalmente 
necessárias quando utilizados individualmente. 
Assim, a analgesia multimodal otimiza a analgesia, melhora o conforto 
do paciente e reduz o potencial de apresentação de efeitos adversos 
associados ao tratamento. 
Dentre os fármacos comumente utilizados para o controle ou prevenção 
(analgesia preventiva) da dor, destacam-se os derivados opióides que 
pertencem à classe de fármacos sedativos (MPA), derivados agonistas alfa 
dois adrenérgicos (já mencionados no capítulo 6), antiinflamatórios não 
esteroidais, antiinflamatórios atípicos entre outros. 
 
A) Derivados Opióides 
 
Este grupo farmacológico está indicado tanto para a produção de 
analgesia pré, trans quanto pós operatória. Ainda indicados para a produção de 
sedação quando utilizados clinicamente ou na MPA. Os opióides ligam-se de 
modo reversível a receptores específicos no SNC e medula espinhal, pré e 
pós-sinapses alterando a percepção dolorosa. Já no SNC, os opióides ativam 
as vias descendentes que modulam a nocicepção, via liberação de serotonina 
e, segundo estudos, também pela norepinefrina. Ainda, no sistema límbico, 
afetam os componentes emocionais da dor, mas em adição à analgesia 
causam sedação ou em alguns casos euforia e excitação. 
Uma das grandes vantagens da utilização dos opióides como medicação 
anestésica é a redução do requerimento dos anestésicos gerais. 
Os opióides têm ação, potência e latência de acordo com seus 
respectivos receptores e agem através de combinação reversível com os 
receptores específicos. Os receptores chamados de μ (Mi) ou OP3 são 
responsivos por euforia, sedação, analgesia e depressão respiratória. Os 
receptores κ (Kappa) ou OP2, respondem pela analgesia e sedação, os 
receptores δ (sigma), disforia, exitação, efeitos alucinógenos e ainda os 
receptores Δ (delta), que são poucos conhecidos. 
Estes fármacos são classificados como agonistas, agonistas-
antagonistas ou antagonistas. Os agonistas (morfina, meperidina, 
hidroximorfona, metadona, oximorfona, alfentanil, sulfentanil, e fentanil), 
ocupam os sítios receptores opióides mu (OP3) e dependendo da dose, da 
droga, e da espécie animal podem produzir respostas fisiológicas variadas; 
sendo chamados de agonistas puros. 
Os antagonistas-agonistas (butorfanol, nalorfina e nalbufina), são 
agonistas ou agonistas parciais em um ou mais receptores opióides (kappa) e 
são antagonistas ou antagonistas parciais em outros sítios receptores opióides 
(mu). Podendo antagonizar parcialmente os efeitos de agonistas opióides puros 
(mu). Os chamados agonistas parciais (buprenorfina) produzem agonismo em 
diversos tipos de receptores (kappa e mu). Os antagonistas totais (naloxona e 
naltrexona) são fármacos que impedem que outros opióides se liguem aos 
sítios receptores, revertendo os efeitos de qualquer um dos derivados opióides. 
Dentre os opióides mais utilizados em medicina veterinária, a morfina, 
metadona, a meperidina, o tramadol, o fentanil e em menor escala o butorfanol 
são os mais empregados em medicações pré-anestésicas como no trans-
operatório. 
MORFINA 
A Morfina, é o protótipo dos analgésicos opióides, produz boa analgesia 
pelo fato de apresentar afinidade pelos receptores μ, a dose recomendada é de 
0,1 a 1 mg/Kg, via intramuscular com efeito entre 4 a 6 horas nessa dosagem. 
Dentre os efeitos colaterais, podem-se citar a liberação de histamina em 
aplicação intravenosa rápida, náusea e vômitos que estão relacionados às 
zonas deflagradoras dos quimiorreceptores localizados no terceiro ventrículo 
do SNC. A utilização deste opióide é ampla, podendo ser empregado na 
medicação pré-anestésica, como analgésico para dor profunda e ainda para 
analgesia em espaço epidural, onde a dose é de 0,05 a 0,1mg/kg e alcançando 
um efeito que pode durar por 24 horas dependendo do paciente. 
A morfina é o mais importante derivado alcalóide do ópio, apesar de 
seus efeitos adversos como depressão respiratória, vômitos, náuseas, 
sialorréia, defecações e excitação em gatos, (o que é um mito, pois se utilizada 
na dose correta promovem um ótimo efeito analgésico sem excitação). É o 
opióide de eleição para cirurgias onde haja a necessidade de uma forte 
manutenção anestésica. As doses da morfina variam de 0,05 a 1 mmg/kg, 
conforme a via a ser empregada, assim como a metadona. 
 
FENTANIL 
Os analgésicos opióides geram analgesia intensa, possibilitando o a 
redução das concentrações dos anestésicos inalatórios e diminuindo a 
depressão cardiovascular que ocorre durante a anestesia. Vários opióides 
podem ser empregados na anestesia, sendo que dentre os mais potentes, o 
fentanil, o sufentanil e o alfentanil são os mais freqüentemente administrados 
no transoperatório. O fentanil, que é um opióide μ (OP3) agonista, de estrutura 
sintética, e até 100 vezes mais potente que a morfina, porém com efeito 
passageiro, que perdura por 20 a 30 minutos, quando administrado via 
parenteral. Apresenta efeitos como depressão respiratória, analgesia, sedação 
e ataxia. Apresenta bradicardia sinusal profunda, que pode ser antagonizada 
pela atropina. Sua dose varia de 1 a 5 µ/kg em dose bolus ou 0,4 até 0,7 
μg/kg/min em infusão contínua precedida da dose bolus. Já seus congêneres 
(sufenta, remifentanil e alfentanil) possuem efeito muito fugaz, sendo utilizados 
em infusão continua intravenosa. 
MEPERIDINA (Petidina) 
A Meperidina é um agonista narcótico sintético que apresenta um 
décimo da potência da morfina, apresentando também menor depressão 
cardiovascular e respiratória. A duração do efeito é de uma a duas horas. Sua 
dose varia de 1 a 5 mg/kg pela via intramuscular. Merece especial atenção, 
pois mesmo em subdoses, quando administrada pela via intravenosa, pode 
ocasionar liberação de histamina endógena. 
 
TRAMADOL 
O tramadol, análogo sintético da codeína, detém baixa afinidade por 
receptoresμ, cerca de 6000 vezes menor que a morfina e, portanto, sua 
analgesia é menor, mas quando utilizada em doses equipotentes produz boa 
analgesia devido ao mecanismo de ação diferente que além da ligação aos 
receptores opiáceos inibe a captação de norepinefrina promovendo liberação 
de serotonina e bloqueando os impulsos da medula espinhal. Devido a este 
fato, o tramadol não é um opióide totalmente reversível com a naloxona, mas 
pode ter seus efeitos minimizados pela ioimbina. A dosagem varia de 1 a 5 
mg/kg, apresentando período médio de efeito de 6 horas. 
 
BUTORFANOL 
Derivado opióide antagonista-agonista que apresenta analgesia 5 vezes 
maior que a morfina com poucas alterações nos SR e SCV, sendo considerado 
um bom sedativo. Porém doses maiores causa intense efeito cardiodepressor, 
sendo necessário o uso de antagonistas. Apresenta period de efeito por 3 a 5 
horas, nas doses de 0,1 a 0,4 mg/kg. 
 
 
NALBUFINA 
Derivado opióide antagonista-agonista que apresenta analgesia 
comparada à da morfina no tocante ao tempo de início da ação analgésica e 
maior duração, deprimindo a respiração tanto quanto a morfina, porém a 
readministração não produz depressão respiratória adicional, o que a morfina 
causa. Este opióide não altera a pressão arterial média e tem efeito benéfico, 
tanto no fluxo sangüíneo, quanto na circulação periférica. 
 
BUPRENORFINA 
Derivado opióide agonista parcial que apresenta analgesia 30 vezes 
maior que a da morfina. Sendo que as alterações SR e SCV em cães são mais 
discretas do que a morfina. Possui um período de efeito que varia entre 6 a 12 
horas, nas doses de 5 a 10 µg/kg. 
 
NALOXONA e NALTREXONA 
São fármacos capazes de deslocar os derivados opióides, quais forem, 
de seus receptores, proporcionando antagonismo competitivo, revertendo 
assim todos os efeitos do agonista anterios, sendo eles, sedação ou analgesia. 
As doses usualmente recomendadas são de 0,04 mg/kg, perdurando por 
um perido que compreende 1 a 2 horas. 
 
 
 Uma nova força que cada vez ganha mais espaço na Medicina 
Veterinária é a neuroleptoanalgesia, ou seja, a associação entre uma droga 
neuroléptica, (um tranqüilizante), associado a um opióide ou outro fármaco que 
gere analgesia, sendo amplamente utilizado e demonstrando bons resultados. 
Apenas a morfina era utilizada no início, mas hoje já se utilizam mais de 10 
associações, desde acepromazina com morfina, acepromazina com tramadol, 
midazolam com meperidina dentre outros muitos outros. A combinação destes 
agentes pode gerar apnéia ou hipopnéia, bradicardia, defecação, flatulência e 
emese. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO 8 
ANESTESIA DISSOCIATIVA 
 
 É o tipo de anestesia capaz, de maneira seletiva, dissociar o córtex 
cerebral causando analgesia e “desligamento”, sem perda dos reflexos 
protetores. Esta dissociação ocorre por bloqueio dos nervos sensitivos no 
tálamo, concomitantemente a estimulação de áreas límbicas, (levando a 
episódios de epilepsia). 
Os anestésicos dissociativos de maior utilização em medicina veterinária 
são a cetamina e a tiletamina, sendo esta apenas encontrada associada ao 
zolazepam, um benzodiazepínico, na intenção de gerar relaxamento muscular. 
Os aminoácidos excitatórios (AEE), são neurotransmissores primários do 
SNC que ao se ligarem aos receptores causam liberação de canais, resultando 
em potencial pós-sináptico excitatório, despolarizando a membrana neuronal, 
mediada pela entrada de cálcio. A cetamina, além de reduzir a resposta dos 
neurônios centrais aos aminoácidos excitatórios também pode estar envolvida 
em parte ao antagonismo com os receptores NMDA (N-metil-D-aspartato), por 
interferir nas sinapses excitatórias do SNC, ação gabaérgica indireta, bloqueio 
da captação das catecolaminas, agonismo dos receptores opióides e 
antagonismo dos receptores muscarínicos. 
As características de ação da cetamina são rápido período de latência e 
a recuperação da anestesia é causada pela redistribuição da droga para outros 
tecidos, sendo que uma única dose de cetamina, sem medicação pré-
anestésica, dura em torno de 10 a 20 minutos. 
Após aplicação, os anestésicos dissociativos são redistribuídos 
rapidamente e metabolizados pelo fígado gerando subprodutos, alguns com 
ação anestésica como a norcetamina e que detém um terço da potência da 
cetamina. A duração da anestesia com medicação anestésica é de 30 a 40 
minutos, dependendo do tipo de MPA utilizada. Atualmente existe 
comercialmente a versão pura em forma de isômero S(+), com maior poder 
anestésico e com menores reações adversas. O isômero S(+) parece ter maior 
afinidade aos receptores NMDA e sendo eliminado mais rapidamente. 
A analgesia gerada pela cetamina pode ocorrer até em subdoses (0,05 a 
0,1 mg/kg). A analgesia é mais somática do que visceral, mas apresentando 
efeito visceral, em gatos semelhante ao butorfanol. A explicação dessa 
necessidade baixa de cetamina para produzir analgesia é pelo fato de que as 
doses necessárias para bloquear os receptores NMDA são consideravelmente 
menores que aquelas responsáveis para gerar anestesia. 
Dentre os efeitos observados na aplicação de cetamina observa-se uma 
taquicardia pelo efeito simpaticomimético. Ela tem sido recomendada em 
pacientes críticos, apesar de predispor o risco de depressão cardíaca e 
respiratória, entretanto, a pressão sanguínea é mais bem mantida em animais 
com manutenção anestésica com cetamina pelo resultado do efeito 
vasoconstritor e concentração arterial de lactato aumentada do que em animais 
com baixa pressão sanguínea anestesiados com um anestésico volátil. A 
cetamina não deprime respostas ventilatórias apresentando apenas efeitos 
mínimos em trocas gasosas. A apnéia de indução é dose dependente. 
Aumenta a salivação e secreção de muco no trato respiratório e também do 
tônus de musculatura extra ocular. A cetamina produz profunda anestesia 
operatória em gatos com doses de até 10 mg/kg e para indução, para 
pequenos procedimentos ou para intubação a dose de 2 a 6 mg/kg, IM oferece 
de 15 a 20 minutos de anestesia dissociativa. 
Os efeitos da tiletamina são semelhantes à cetamina sendo mais 
potentes. Seus efeitos variam entre as espécies também e aumentam a 
freqüência cardíaca, provavelmente devido ao estímulo direto no SNC, e 
ocasionam aumento no tônus simpático e possível diminuição no tônus vagal. 
Inicialmente a pressão arterial decresce seguida de retorno às condições 
normais. Os efeitos respiratórios são semelhantes ao da cetamina, ou seja, 
baixas doses geram efeitos mínimos podendo potencializar drogas depressoras 
do aparelho respiratório. Em cães a dose IM varia de 6,6 até 13,2 mg/kg e em 
gatos de 8,8 a 15,4 mg/kg, sendo para essas duas espécies a duração de 20 a 
40 minutos de anestesia. Em cães a dose total, ou seja, a dose inicial mais 
repiques de meia dose, não deve ultrapassar no total a 22 mg/kg e em gatos 55 
mg/kg. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO 9 
ANESTÉSICOS INJETÁVEIS 
 
 São os fármacos utilizados unicamente pela via intravenosa, com 
finalidade de indução a anestesia geral. Sou seja, possuem a capacidade de 
produzir hipnose quando administrados em doses terapêuticas. Basicamente, 
para esta finalidade em medicina veterinária, tem-se três grupos de fármacos, 
sendo eles: Derivados barbitúricos, Propofol e Etomidato. Estes fármacos 
juntamente com os inalatórios (ver capitulo 10), por serem capazes de produzir 
anestesia geral, pode-se avaliar o plano anestésico de acordo com os reflexosprotetores, posição de globo ocular, entre outros. 
 
Fármacos Utilizados para a Indução Anestésica 
 
1 – DERIVADOS BARBITÚRICOS 
 
Os derivados barbitúricos são classificados quanto ao seu tempo de 
ação ou efeito: 
- Longa duração de ação: Fenobarbital sódico (8-12 horas) 
- Curta duração de ação: Pentobarbital sódico (1-2 horas) 
- Ultra curta duração de ação: Tiopental sódico (5-15 minutos) 
 
Os barbitúricos são ácidos fracos, logo se apresentam sob a forma 
ionizada e não ionizada. É sabido que existem diferenças entre as formas 
ionizadas e não ionizadas, sendo a segunda, farmacologicamente ativa e que 
se difunde prontamente para o interior das células produzindo então seus 
efeitos farmacológicos. É interessante frisar então, que o pH arterial interfere 
nessa proporção ionizada. Em um estado normal, aproximadamente 61% do 
tiopental estarão sobre a fração ativa do fármaco e nos casos de acidose, a 
concentração de barbitúricos aumenta e, conseqüentemente, a quantidade de 
drogas ativas encontra-se em maior disponibilidade. O oposto também é 
verdadeiro, pois em alcalose um menor número da forma ativa se encontra 
disponível para gerar o efeito anestésico 
Os barbitúricos ligam-se de modo reversível às proteínas plasmáticas, 
especialmente a albumina, e não conseguem atravessar a membrana celular e, 
portanto, tornam-se farmacologicamente inativos. A capacidade destes 
fármacos de se ligarem as proteínas plasmáticas é variável e o pH influi muito 
na ligação, pois quando decresce reduz a capacidade de ligação e 
conseqüentemente mais barbituratos ativos encontram-se livres. 
Dentre os barbitúricos, o tiopental sódico é sem dúvida o mais difundido 
e utilizado dos anestésicos injetáveis. Seu uso como anestésico geral para 
cães e gatos, iniciou em meados da década de 40. Apesar do conhecimento de 
seus efeitos colaterais e de seus riscos de utilização, demonstra ainda hoje ser 
um ótimo anestésico injetável. Entretanto, é recomendado apenas para indução 
anestésica ou procedimento não cruento em que não se ultrapassem 30 
minutos, não devendo ser utilizado para manutenção anestésica devido a 
questões éticas e desconforto na recuperação anestésica perante o 
proprietário. 
Classificado como um barbitúrico de ultra-curta duração, (5 a 15 
minutos), o tiopental pode gerar todos os níveis de alteração da consciência no 
sistema nervoso central até o do coma anestésico. Deprimem minimamente a 
pressão sanguínea central e a pressão intracraniana, mas a pressão de 
perfusão cerebral é aumentada. 
A administração de tiopental deprime os aparelhos cardiovascular e 
respiratório, sendo que inicialmente ocorre uma redução na freqüência 
respiratória e no volume tidal (volume inspirado a cada respiração). Pode 
induzir também a arritmias ventriculares e administração de lidocaína pode 
reduzir a incidência destas arritmias, mas mesmo assim o uso não é 
recomendado para pacientes com problemas cardíacos. 
Após a aplicação de tiopental intravenoso a concentração máxima no 
cérebro ocorre em 45 segundos, devido ao grande percentual do débito 
cardíaco para esse órgão. A redistribuição de barbitúricos ocorre de acordo 
com o seguinte gráfico: 
 
Fonte: (THURMON 1999 p.145) 
 
A dose recomendada para indução anestésica com o tiopental é de 10 
até 25 mg/kg via IV. O Tiopental é desaconselhado em pacientes com 
alterações cardíacas, hepáticas e renais e também nos casos em que ocorra 
distensão abdominal, seja por torção gástrica, intussuscepção ou ainda vólvulo, 
pois é provável a ocorrência de acidose metabólica e respiratória o que, devido 
ao fato já explicado anteriormente, poderia interferir na distribuição do tiopental, 
podendo levar o paciente ao óbito. 
 
 
2 - PROPOFOL 
 
O propofol é um alquil fenol diluído em uma solução (emulsão) contendo 
óleo de soja glicerol e clara de ovo fosfatada e purificado, tornando-se uma 
solução de aspecto leitoso. Esta solução devido ao conteúdo protéico torna-se 
um excelente meio de cultura para microorganismos, devido a isto, após 
violação do frasco ou ampola deve ser descartado. É um anestésico injetável 
de ultra-curta duração, encontrado sob a forma de emulsão, 10 mg/ml, com a 
dosagem recomendada de 4 a 6 mg/kg quando devidamente premedicados. 
 Recentemente foi lançado no mercado nacional, uma nova formulação 
para a linha veterinária. Nesta o propofol está veiculado em emulsão lipídica 
transparente, objetivando menor risco de contaminação. 
Uma única dose de propofol gera 10 minutos de anestesia em plano 
anestésico com recuperação para cães e gatos em torno de 20 a 30 minutos. A 
rápida ação do propofol se deve a imediata elevação de sua concentração no 
SNC e sua recuperação à rápida redistribuição da droga do cérebro para os 
outros tecidos e órgãos. Sendo ainda rápida a metabolização, por meio 
principalmente de conjugação especialmente no fígado. Sua eliminação 
plasmática excede o fluxo sangüíneo hepático sugerindo que outros órgãos 
como, por exemplo, o pulmão e rim, também estejam envolvidos. Os 
metabólitos não são reativos e são eliminados via renal. 
O propofol causa depressão no SNC, pelo fato de diminuir a atividade 
metabólica cerebral e por exacerbar os efeitos dos neurotransmissores GABA. 
Dentre os efeitos colaterais que devem ser relatados, as pressões 
sangüínea, intracraniana e ocular e ainda o débito cardíaco diminuem quando 
da aplicação de propofol, mas a freqüência cardíaca dificilmente diminui. O 
propofol aumenta a sensibilidade do tecido cardíaco às catecolaminas, mas 
não induz arritmias cardíacas. Curtos períodos de apnéia são comuns após a 
indução, deste modo, indica-se indução anestésica lenta (aproximadamente 40 
a 60 segundos). Há relatos ainda de que possa gerar dor quando injetado por 
via intravenosa. 
A utilização de propofol tem sua vantagem na recuperação tranqüila e 
nas propriedades não-cumulativas, podendo então ser empregado em 
pacientes de alto risco com a recuperação isenta de reações adversas ou em 
infusão contínua para manutenção da anestesia geral em doses que variam de 
0,2 a 0,8 mg/kg/min. 
 
3 - ETOMIDATO 
 
O etomidato é um derivado imidazólico, primariamente utilizado em 
indução anestésica em humanos, apresentando concentração de 2 mg/ml e 
sua aplicação gera inconsciência por 8 a 21 minutos aproximadamente, 
dependendo da dose (1,5 e 3,0 mg/kg respectivamente). Em alguns animais 
nota-se indução e recuperação rápida com leves movimentos de mioclonia 
ocorrendo somente no início desse período, devido a este fato, está indicado 
seu uso com associação de algum fármaco relaxante muscular, como os 
benzodiazepínicos, por exemplo. 
O etomidato é um seguro indutor anestésico, pois não deprime os 
aparelhos cardiovascular e respiratório e nem leva a liberação de histamina. 
Não interfere na freqüência cardíaca, pressão sanguínea e funcionamento 
cardíaco, apenas interferindo no metabolismo cerebral e consumo de oxigênio 
e pode também ter efeitos protetores em casos de isquemias associadas à 
paradas cardíacas. 
 Rapidamente distribuído no cérebro e outros órgãos como fígado, baço, 
intestinos, a sua duração anestésica está ligada a essa velocidade de 
distribuição e também a capacidade de hidrólise no fígado. Não tem efeito 
cumulativo, produz bom relaxamento muscular durante a anestesia e as 
mioclonias ocorrem durante a indução e recuperação. 
Uma aplicação única pode gerar inibição da produção de esteróides pela 
glândula adrenal, por até três horas, suprimindo o aumento de cortisol no 
plasma durante o procedimento cirúrgico. As infusões contínuas ou as 
administrações prolongadas não são recomendadas

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